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Associação entre sintomas de disfunção temporomandibular e fatores demográficos, odontológicos e comportamentais em idosos: um estudo transversal de base populacional

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:

Avaliar a gravidade dos sintomas de disfunção temporomandibular e seus fatores em idosos de uma cidade do sul do Brasil.

MÉTODOS:

Estudo observacional transversal de domicílios residenciais, com amostra probabilística por conglomerado, entrevistou e examinou 287 idosos, com idade entre 65 e 74 anos da cidade Cruz Alta, estado do Rio Grande do Sul, Brasil. O Índice Anamnésico de Fonseca foi utilizado para avaliação da disfunção temporomandibular, além de um questionário estruturado para condições socioeconômicas e um exame clínico de saúde bucal. As associações entre a variável dependente e a independente foram avaliadas pelos testes de Qui-quadrado ou Mann-Whitney, apresentadas por meio da distribuição de frequências. As análises uni e multivariada foram realizadas para verificar a associação entre a disfunção temporomandibular e as variáveis exploratórias. Para todas as análises, o nível de significância foi de 5%.

RESULTADOS:

A prevalência de sintomas de disfunção temporomandibular foi de 55,1%. No modelo multivariado final, a idade ≥70 anos (RP=0,674; 95% IC: 0,516 - 0,881) apresentou-se como fator de proteção para disfunção temporomandibular e a média de perda dentária (RP=1,022; 95% IC: 1,004 - 1,039) apresentou-se como fator de risco para disfunção temporomandibular em relação a seus respectivos controles.

CONCLUSÃO:

Os resultados demonstraram alta prevalência de sintomas de disfunção temporomandibular. A idade e a média de perda dentária foram associadas à disfunção temporomandibular. Os resultados sugerem melhorias nas condições de saúde bucal dos idosos e a importância de estudos epidemiológicos sobre disfunção temporomandibular nessa população.

Descritores:
Envelhecimento; Fatores de risco; Prevalência; Saúde bucal; Síndrome da disfunção da articulação temporomandibular

ABSTRACT

BACKGROUND AND OBJECTIVES:

To assess the prevalence of temporomandibular dysfunction symptoms and the associated factors in the elderly of a city in southern Brazil.

METHODS:

A cross-sectional observational study performed in residential homes, with probabilistic cluster sample, interviewed and examined 287 seniors aged from 65 to 74 years in the city of Cruz Alta, state of Rio Grande do Sul, Brazil. The Fonseca Anamnestic Index was used for temporomandibular dysfunction analysis, as well as a structured questionnaire for socioeconomic conditions and an oral health clinical examination. Either Chi-square or Mann-Whitney tests assessed associations between the dependent and independent variables and presented by frequency distribution. Uni- and multivariate analyses were performed to verify the association between temporomandibular dysfunction risk and explanatory variables. For all statistical analyses, a 5% significance level was adopted.

RESULTS:

The prevalence of temporomandibular dysfunction symptoms was 55.1%. In the final multivariate model, age ≥70 years (RP=0.674; 95% CI: 0.516 - 0.881) showed as a protection factor against temporomandibular dysfunction, and the average of tooth loss (RP=1.022; 95% CI: 1.004 - 1.039) showed as a risk factor for temporomandibular dysfunction in relation to their respective controls.

CONCLUSION:

The findings of the present study showed a high prevalence of temporomandibular dysfunction symptoms. Age and tooth loss were associated with higher risk of temporomandibular dysfunction. The results suggested the need for improvement in oral health conditions of the elderly and the importance of further epidemiological studies about temporomandibular dysfunction in this population.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o envelhecimento populacional deixou de ser uma característica apenas dos países desenvolvidos. Nesse sentido, a Organização Mundial de Saúde (OMS)11 Organização Mundial da Saúde. Guia Global das Cidades Amigas das Pessoas Idosas. 2007. Disponível em: <http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/43755/3/9789899556867_por.pdf>. Acesso em: 19 de novembro de 2016.
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estima que o Brasil terá a sexta maior população de idosos em um curto período. Portanto, é fundamental observar as particularidades inerentes a esse ciclo de vida22 Fechine BR, Trompieri N. O processo de envelhecimento: as principais alterações que acontecem com o idoso com o passar dos anos. Rev Cient Int. 2012;1(7):106-94., pois elas efetivamente representam um grande impacto socioeconômico para o país e um desafio para os gestores de políticas públicas33 Gregersen FA. The impact of ageing on health care expenditures: a study of steepening. Eur J Health Econ. 2014;15(9):979-89.

4 Sánchez-García S, Heredia-Ponce E, Cruz-Hervert P, Juárez-Cedillo T, Cárdenas-Bahena A, García-Peña C. Oral health status in older adults with social security in Mexico City: latent class analysis. J Clin Exp Dent. 2014;6(1):e29-35.
-55 Boscato N, Schuch HS, Grasel CE, Goettems ML. Differences of oral health conditions between adults and older adults: a census in a Southern Brazilian city. Geriatr Gerontol Int. 2016;16(9):1014-20..

Com o avanço do processo do envelhecimento, as mudanças morfofisiológicas acontecem no organismo de forma mais acelerada, o que aumenta a predisposição a doenças. Essas alterações também podem afetar o sistema estomatognático (SE), incluindo as articulações temporomandibulares (ATM). Dentre essas mudanças estão as disfunções temporomandibulares (DTM), que compõem um grupo de doenças que afeta os músculos mastigatórios e demais estruturas relacionadas ao SE. Alguns estudos reportam a DTM como a segunda maior causa de lesões musculoesqueléticas, com um papel importante na ocorrência de dor orofacial (DOF) e na incapacitação das atividades diárias66 Armijo-Olivo S, Pitance L, Singh V, Neto F, Thie N, Michelotti A. Effectiveness of manual therapy and therapeutic exercise for temporomandibular disorders: systematic review and meta-analysis. Phys Ther. 2016;96(1):9-25.. A etiologia das DTM é multifatorial e dinâmica. Isso inclui estresse emocional, interferências oclusais, perda dentária, má posição dos dentes, atividades parafuncionais, distúrbio dos músculos mastigatórios e até mesmo uma combinação de um ou mais fatores77 Okeson JP. Evolution of occlusion and temporomandibular disorder in orthodontics: past, present, and future. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2015;147(5 Suppl):S216-23.,88 De Giorgi I, Castroflorio T, Sartoris B, Deregibus A. The use of conventional transcutaneous electrical nerve stimulation in chronic facial myalgia patients. Clin Oral Investig. 2017;21(1):275-80.. Os sinais e sintomas mais comuns da DTM são dor nos músculos mastigatórios ou na ATM, ruídos articulares, sensibilidade em toda a musculatura do SE e cervical, cefaleia, capacidade limitada dos movimentos mandibulares e desvios nos padrões de movimento. A dor é o sintoma mais frequente da DTM, com maior prevalência na musculatura mastigatória do que nas articulações. Em relação aos idosos, cerca de 12% apresentam dor muscular, e 5% dor articular, sendo que a DOF pode comprometer a funcionalidade e pode impactar a qualidade de vida (QV)99 Marković D, Jeremic-Knezević M, Milekic B, Djurović-Koprivica D. The effect of age on distribution and symptomatology of craniomandibular dysfunction. Serbian Dent J. 2010;57(3):149-53.,1010 Rener-Sitar K, Celebić A, Mehulić K, Petricević N. Factors related to oral health related quality of life in TMD patients. Coll Antropol. 2013;37(2):407-13..

Ao longo do tempo, foram conduzidos estudos para avaliar a etiologia, a prevalência e as formas de tratamento das DTM1111 Cavalcanti MO, Lima CM, Lima JM, Gomes I, Goldim JR. Prevalência da disfunção temporomandibular em idosos não institucionalizados. Estud Interdiscipl Envelhec. 2015;20(2):551-66.

12 Riffel CD, Flores ME, Scorsatto JT, Ceccon LV, Conto F, Rovani G. Association of temporomandibular dysfunction and stress in university students. Int J Odontostomat. 2015;9(2):191-7.

13 Viana MO, Olegario NB, Viana MO, Silva GP, Santos JL, Carvalho ST. Effect of a physical therapy protocol on the health-related quality of life of patients with temporomandibular disorder. Fisioter Mov. 2016;29(3):507-14.
-1414 Sampaio NM, Oliveira MC, Ortega AO, Santos LB, Alves TD. Temporomandibular disorders in elderly individuals: the influence of institutionalization and sociodemographic factors. Codas. 2017;29(2):e20160114.. No entanto, parece não existir um consenso, especialmente com relação à sua prevalência. Isso pode ser atribuído às metodologias aplicadas, aos métodos de diagnóstico utilizados e a outros motivos1515 Boscato N, Almeida RC, Koller CD, Presta AA, Goettems ML. Influence of anxiety on temporomandibular disorders--an epidemiological survey with elders and adults in Southern Brazil. J Oral Rehabil. 2013;40(9):643-9.,1616 Alzarea BK. Temporomandibular disorders (TMD) in edentulous patients: a review and proposed classification (Dr. Bader’s Classification). J Clin Diagn Res. 2015;9(4):ZE6-9.. Diante disso, alguns instrumentos foram desenvolvidos para avaliar, diagnosticar e estimar a prevalência da DTM, dentre os quais está o Índice Anamnésico de Fonseca (IAF)1717 Fonseca DM, Bonfante G, Valle AL, Freitas SF. Diagnóstico pela anamnese da disfunção craniomandibular. Rev Gaucha Odontol. 1994;42(1):23-8.. Trata-se de um instrumento desenvolvido no Brasil, validado e utilizado com frequência em estudos epidemiológicos brasileiros. Ele é útil em estudos epidemiológicos conduzidos em grandes populações1818 Vasconcelos BC, Silva ED, Kelner N, Miranda KS, Silva A. Meios de diagnóstico das desordens temporomandibulares. Rev Cir Traumat Buco-Maxilo-Facial. 2002;2(1):49-57. por sua simplicidade e seu menor tempo de aplicação.

Os estudos com base domiciliar demonstram prevalência da DTM entre 331919 Rios AC, Rocha PV, Santos LB. Estudo comparativo entre Índice Anamnésico de Disfunção Temporomandibular e Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) em mulheres idosas. Odontol Clín-Cient. 2012;11(3):221-7.,2020 Ribeiro JA, de Resende CM, Lopes AL, Farias-Neto A, Carreiro Ada F. Association between prosthetic factors and temporomandibular disorders in complete denture wearers. Gerodontology. 2014;31(4):308-13. e 63%2121 Moura C, Cavalcante FT, Catão MH, Gusmão ES, Soares RS, Santillo PM. Fatores relacionados ao impacto das condições de saúde bucal na vida diária de idosos, Campina Grande, Paraíba, Brasil. Pesq Bras Odontoped Clin Integr. 2011;11(4):553-9.,2222 Camacho JG, Oltramari-Navarro PV, Navarro Rde L, Conti AC, Conti MR, Marchiori LL, et al. Signs and symptoms of temporomandibular disorders in the elderly. Codas. 2014;26(1):76-80., e um dos principais fatores determinantes é a condição de saúde bucal. No Brasil, as condições de saúde bucal dos idosos são precárias, com alta média de perda dentária, bem como o percentual de idosos com necessidade de reabilitação com prótese2323 Brasil. Projeto SB BRASIL 2010. Pesquisa Nacional de Saúde Bucal. Resultados Principais. Ministério da Saúde. 2012. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pesquisa_nacional_saude_bucal.pdf>. Acesso em: 17 de janeiro 2018.
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. Isso pode causar um desequilíbrio no funcionamento do sistema mastigatório e acarretar DTM2424 Dallanora AF, Grasel CE, Heine CP, Demarco FF, Pereira-Cenci T, Presta AA, et al. Prevalence of temporomandibular disorders in a population of complete denture wearers. Gerodontology. 2012;29(2):e865-9.,2525 Di Paolo C, Costanzo GD, Panti F, Rampello A, Falisi G, Pilloni A, et al. Epidemiological analysis on 2375 patients with TMJ disorders: basic statistical aspects. Ann Stomatol (Roma). 2013;4(1):161-9.. Além disso, existem outros fatores associados à DTM em idosos, como precárias condições socioeconômicas e de saúde geral2626 De Rossi SS, Greenberg MS, Liu F, Steinkeler A. Temporomandibular disorders: evaluation and management. Med Clin North Am. 2014;98(6):1353-84.

27 Peltzer K, Hewlett S, Yawson A, Moynihan P, Preet R, Wu F, et al. Prevalence of loss of all teeth (edentulism) and associated factors in older adults in China, Ghana, India, Mexico, Russia and South Africa. Int J Environ Res Public Health. 2014;11(11):11308-24.
-2828 Barbato PR, Peres MA, Höfelmann DA, Peres KG. Contextual and individual indicators associated with the presence of teeth in adults. Rev Saude Publica. 2015;49(27):1-10. Erratum in: Rev Saude Publica. 2015;49.. Deve-se destacar as grandes diferenças regionais em relação à saúde bucal observadas no Brasil2323 Brasil. Projeto SB BRASIL 2010. Pesquisa Nacional de Saúde Bucal. Resultados Principais. Ministério da Saúde. 2012. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pesquisa_nacional_saude_bucal.pdf>. Acesso em: 17 de janeiro 2018.
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. Nesse contexto, é importante conhecer a gravidade dos sintomas de DTM e seus fatores de risco entre os idosos das diferentes regiões brasileiras.

O objetivo do presente estudo foi avaliar a prevalência de sintomas de DTM e seus fatores associados em idosos de uma cidade da região Sul do Brasil.

MÉTODOS

Estudo observacional transversal de domicílios residenciais, que entrevistou e examinou idosos com idade entre 65 e 74 anos2929 Organization WH. Oral Health Surveys: Basic Methods. 4th ed. (Organization WH, ed.). Geneva; 1997. na área urbana de Cruz Alta. O município está localizado no norte do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. A cidade conta com uma população de aproximadamente 62.821 habitantes3030 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010: Características da população e domicílios - resultados gerais. 2011. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/93/cd_2010_caracteristicas_populacao_domicilios.pdf>. Acesso em: 19 de novembro de 2016.
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. Desses, 3.730 enquadram-se na faixa etária entre 65 e 74 anos, sendo 42% do sexo masculino e 58% do sexo feminino. Mais de 95% da população vive na área urbana. O Índice de Gini, em 2010, foi 0,54193131 DATASUS. Ministério da Saúde. Índice de Gini da renda domiciliar per capita - Rio Grande do Sul, 2010. 2010. Disponível em: <http://tanet.datasus.gov.br/cgi/ibge/cnv/ginirs.def>. Acesso em: 19 de novembro de 2016.
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.

Realizou-se um cálculo amostral levando em consideração a população de idosos de 65 a 74 anos, assumindo um erro alfa de 5%, a um nível de confiança de 95%, uma expectativa de prevalência da DTM moderada/grave de 19%2121 Moura C, Cavalcante FT, Catão MH, Gusmão ES, Soares RS, Santillo PM. Fatores relacionados ao impacto das condições de saúde bucal na vida diária de idosos, Campina Grande, Paraíba, Brasil. Pesq Bras Odontoped Clin Integr. 2011;11(4):553-9. e uma taxa de atrição de 15%, totalizando um número amostral de 273 idosos.

Uma amostra probabilística por conglomerado foi conduzida para visitar 300 domicílios. A cidade, que possui 68 bairros ou vilas, foi dividida em cinco áreas, numeradas de zero a 4, conforme o número de habitantes idosos de cada bairro ou vila e o percentual de idosos na área. Um total de 17 bairros ou vilas foi sorteado (25%), de forma aleatória, de acordo com o número de vilas ou bairros constantes na área, obedecendo à proporcionalidade de idosos (Tabela 1). Cada vila ou bairro sorteado foi dividido em quarteirões, que foram numerados. Os quarteirões foram sorteados de forma aleatória simples. As esquinas dos quarteirões sorteadas foram numeradas de um a quatro, e um novo sorteio foi conduzido para determinar o ponto de partida da primeira entrevista. Após a primeira entrevista, as visitas seguiram no sentido horário até a conclusão do trabalho previsto. Quando necessário, novos quarteirões foram sorteados para contemplar o número aproximado de domicílios a ser visitado.

Tabela 1
Número de habitantes idosos de cada bairro

Os critérios adotados para inclusão no estudo foram os de indivíduos com idade entre 65 e 74 anos e residentes nos domicílios dos bairros ou vilas sorteados. O presente estudo incluiu indivíduos com condição física, médica e mental que possibilitassem sua realização. Se no domicílio houvesse mais residentes que se enquadrassem nos critérios de elegibilidade, também seriam incluídos no estudo. Edifícios residenciais poderiam incluir apenas um apartamento no estudo. No caso de ausência no dia do levantamento de dados, duas novas tentativas seriam realizadas por domicílio. Foram excluídos do estudo domicílios comerciais e desabitados, pessoas visitantes no domicílio e Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI).

Foi aplicado um questionário estruturado que incluiu dados sociodemográficos, comportamentais, dentre outros, obtidos por meio da utilização de blocos de perguntas do instrumento PCATool-SB Brasil3232 Brasil. Ministério da Saúde. Manual do Instrumento de Avaliação da Atenção Primária à Saúde: Primary Care Assessment Tool PCATool-Brasil. 2010. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_avaliacao_atencao_primaria.pdf>. Acesso em: 19 de novembro de 2016.
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. O instrumento utilizado para avaliação da DTM foi o IAF1717 Fonseca DM, Bonfante G, Valle AL, Freitas SF. Diagnóstico pela anamnese da disfunção craniomandibular. Rev Gaucha Odontol. 1994;42(1):23-8.. As condições de saúde bucal foram avaliadas pela contagem de dentes e pela verificação do uso e da necessidade de prótese dentária. Os exames clínicos de contagem de dentes e do uso e da necessidade de prótese foram realizados com o auxílio de espátula de madeira, sem o uso de iluminação artificial e sem o auxílio de espelhos. A contagem dos dentes foi realizada excluindo-se o terceiro molar.

Os indivíduos foram examinados e entrevistados nos meses de julho e agosto de 2016, por equipes compostas de um entrevistador e um examinador de saúde bucal. Os examinadores foram previamente treinados para garantir a uniformidade na coleta de dados. O treinamento consistiu em aulas teóricas e discussão sobre as perguntas do questionário, bem como em explicações sobre os exames de saúde bucal. Antes da coleta de dados foi realizado um treinamento com a aplicação do questionário e com o exame de saúde bucal em pacientes nas clínicas da Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo (UPF). A reprodutibilidade interexaminador do exame clínico foi verificada em 5% dos examinados, escolhidos por sorteio aleatório. O índice Kappa para a necessidade de prótese e para a contagem de dentes foi de 1 e de 0,85, respectivamente.

A variável dependente foi prevalência de sintomas de DTM, por meio do instrumento IAF. O instrumento classifica os indivíduos pela gravidade dos sintomas como: sem DTM, DTM leve, DTM moderada e DTM grave. Para a análise dos dados, os idosos foram categorizados em três grupos: sem DTM, DTM leve e DTM moderada/grave. As variáveis independentes incluíram condições sociodemográficas, aspectos comportamentais e condições de saúde bucal e geral.

A idade foi dicotomizada em dois grupos, um com idade ≤69 anos e outro com idade ≥70 anos. Essa divisão foi baseada na mediana da idade encontrada nessa amostra. A etnia/cor da pele foi categorizada como branca ou não branca. O grupo não branco incluiu os idosos que se referiram como sendo da cor negra, amarela, parda ou indígena. O nível educacional foi categorizado como escolaridade baixa, que inclui idosos com, no máximo, ensino fundamental completo, incluindo os analfabetos; escolaridade média, para aqueles com ensino médio incompleto ou completo; e escolaridade alta, para os idosos com ensino superior incompleto ou completo.

A necessidade de prótese foi categorizada em sim, para necessidade de algum tipo de prótese, e não, para os idosos sem nenhuma necessidade de prótese. O uso de prótese em edêntulos foi categorizado da seguinte maneira: dentados, os idosos que possuíam dentes independentemente do uso de próteses parciais, edêntulos usuários de duas próteses totais e edêntulos usuários de apenas uma prótese total ou não usuários de prótese total. O item fumo foi categorizado em dois grupos, um com idosos sem nenhum histórico com fumo e outro com idosos que atualmente fumam ou que já fumaram. Os problemas de saúde foram categorizados em dois grupos, um com idosos que referiram não ter ou não saber se tinham problemas de saúde e outro grupo com idosos que disseram ter algum problema de saúde. O uso de fármacos foi categorizado em dois grupos, um com idosos que relataram o uso de um ou mais fármacos e outro que referiram não fazer uso.

O presente estudo foi revisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Passo Fundo (UPF). Todos os idosos leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) antes de participarem do estudo.

Análise estatística

A análise dos dados foi realizada com o uso do pacote estatístico SPSS 21 (SPSS Inc., Chicago, Estados Unidos). As associações entre a variável dependente e as independentes foram avaliadas pelos testes de Qui-quadrado ou Mann-Whitney, apresentadas por distribuição de frequências. As análises uni e multivariadas foram realizadas utilizando-se regressão de Poisson com variância robusta para verificar a associação entre a variável dependente e as variáveis independentes. Apenas aquelas variáveis que apresentaram p<0,20 na análise univariada foram incluídas no modelo multivariado. A manutenção das variáveis independentes no modelo final foi determinada pela combinação de valor de p<0,05 e análise de modificações de efeito. As análises de multicolinearidade entre as variáveis independentes foram realizadas e nenhuma foi observada.

RESULTADOS

Um total de 287 idosos foram entrevistados e examinados em 260 domicílios, dos 292 domicílios visitados. A taxa de resposta do presente estudo foi de 89,04%. Em 32 domicílios houve recusa de participação no estudo (Figura 1). A média de idade da amostra foi de 69,30±3,52 anos, dos quais 102 (35,5%) foram do sexo masculino e 185 (64,5%) do sexo feminino. Quanto à etnia/cor da pele, 196 (68,3%) declararam-se brancos e 91 (31,7%) relataram ser não brancos. Em relação ao nível educacional, 190 (62,6%) apresentaram baixa escolaridade, sendo que, desses, 17 (5,9%) declararam-se analfabetos. Cerca de 60% dos idosos eram casados, enquanto cerca de 40% estavam divididos entre solteiros, divorciados ou viúvos. Declararam-se aposentados 76,3% dos idosos. Algum tipo de problema de saúde foi observado em 86,4% dos idosos, além disso, aproximadamente 42% reportaram histórico de exposição ao fumo (Tabela 2).

Figura 1
Fluxograma do estudo
Tabela 2
Características demográficas da amostra e distribuição de frequência das exposições em relação ao desfecho disfunção temporomandibular entre idosos com idade entre 65 e 74 anos, Cruz Alta, 2016

Foram diagnosticados 158 (55,1%) idosos com sintomas de DTM, sendo que desses, 120 (41,8%) com DTM leve, 29 (10,1%), moderada e 9 (3,2%) grave. Para a análise dos resultados, 129 (44,9%) idosos foram considerados sem DTM, 120 (41,8%) com DTM leve e 38 (13,3%) com DTM moderada/grave. A idade (p=0,036) e o relato de algum problema de saúde geral (p<0,001) (Tabela 2) foram significativamente associados com DTM. Não apresentaram significância estatística com sintomas de DTM o sexo (p=0,392), a cor da pele (p=0,429), o nível educacional (p=0,236), a necessidade de prótese (p=0,246) e o acesso ao dentista nos últimos 12 meses (p=0,281) (Tabela 3).

Tabela 3
Modelo de análise univariada associando exposições em relação à disfunção temporomandibular entre idosos com idade entre 65 e 74 anos, Cruz Alta, 2016

A idade esteve significativamente associada com maior razão de prevalência de DTM leve. A idade mais elevada (≥70 anos) demonstrou ser um fator protetor para DTM leve quando comparada com indivíduos sem DTM. Idosos com idade ≥70 anos tiveram uma razão de prevalência de 28,5% menor quando comparado com idosos com até 69 anos (p=0,014). Nenhuma das variáveis independentes apresentou-se significativamente associada com DTM moderada/grave (Tabela 4).

Tabela 4
Modelo de análise multivariada associando exposições em relação à disfunção temporomandibular entre idosos com idade entre 65 e 74 anos, Cruz Alta, 2016

As seguintes variáveis foram incluídas no modelo multivariado inicial: idade, escolaridade, estado civil, aposentadoria, média de perda dentária, necessidade de prótese e uso de prótese em edêntulos. No modelo final, apenas a idade e a média de perda dentária permaneceram associados à DTM leve. Idade elevada (≥70 anos) demonstrou ser um fator protetor contra DTM leve. Os idosos com idade mais avançada tiveram 32,6% menor razão de prevalência quando comparado com idosos com até 69 anos (p=0,004). A perda dentária demonstrou ser um fator de risco para DTM leve quando comparada a idosos sem DTM. A cada dente perdido, o indivíduo apresenta 2,2% maior razão de prevalência (p=0,013). Nesse modelo, nenhuma associação estatisticamente significativa foi observada para DTM moderada/grave.

DISCUSSÃO

A avaliação dos sintomas da DTM é importante, pois torna possível o reconhecimento precoce dos portadores, o que pode ajudar na prevenção e/ou no controle da sua cronicidade e possíveis degenerações. Isso é particularmente importante nos idosos, pois essa faixa etária vem aumentando nas últimas décadas. Além disso, os dados do presente estudo podem auxiliar no planejamento de políticas de saúde pública.

Em 158 (55,1%) idosos foi detectado algum sintoma de DTM. Os resultados deste estudo demonstraram alta prevalência de sintomas de DTM e tiveram características semelhantes a outras pesquisas que utilizaram o IAF, tanto em estudos com base domiciliar1111 Cavalcanti MO, Lima CM, Lima JM, Gomes I, Goldim JR. Prevalência da disfunção temporomandibular em idosos não institucionalizados. Estud Interdiscipl Envelhec. 2015;20(2):551-66.,1515 Boscato N, Almeida RC, Koller CD, Presta AA, Goettems ML. Influence of anxiety on temporomandibular disorders--an epidemiological survey with elders and adults in Southern Brazil. J Oral Rehabil. 2013;40(9):643-9. quanto em outros desenvolvidos em universidades ou centros de convivência1919 Rios AC, Rocha PV, Santos LB. Estudo comparativo entre Índice Anamnésico de Disfunção Temporomandibular e Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) em mulheres idosas. Odontol Clín-Cient. 2012;11(3):221-7.,2020 Ribeiro JA, de Resende CM, Lopes AL, Farias-Neto A, Carreiro Ada F. Association between prosthetic factors and temporomandibular disorders in complete denture wearers. Gerodontology. 2014;31(4):308-13.,3333 Jorge JH, Silva Junior GS, Urban VM, Neppelenbroek KH, Bombarda NH. Desordens temporomandibulares em usuários de prótese parcial removível: prevalência de acordo com a classificação de Kennedy. Rev Odontol UNESP. 2013;42(2):72-7., nos quais existe uma tendência de prevalência ao redor de 50%, independentemente da gravidade. Do mesmo modo, estudos transversais que utilizaram outros instrumentos e/ou exames clínicos também reportaram prevalências semelhantes2020 Ribeiro JA, de Resende CM, Lopes AL, Farias-Neto A, Carreiro Ada F. Association between prosthetic factors and temporomandibular disorders in complete denture wearers. Gerodontology. 2014;31(4):308-13.,2222 Camacho JG, Oltramari-Navarro PV, Navarro Rde L, Conti AC, Conti MR, Marchiori LL, et al. Signs and symptoms of temporomandibular disorders in the elderly. Codas. 2014;26(1):76-80.,3434 Shetty R. Prevalence of signs of temporomandibular joint dysfunction in asymptomatic edentulus subjects: a cross-sectional study. J Indian Prosthodont Soc. 2010;10(2):96-101.

35 Almagro Céspedes I, Castro Sánchez AM, Matarán Peñarocha GA, Quesada Rubio JM, Guisado Barrilao R, Moreno Lorenzo C. [Temporomandibular joint dysfunctions, disability and oral health in a Community-dwelling elderly population]. Nutr Hosp. 2011;26(5):1045-51. Spanish.
-3636 Nguyen MS, Jagomägi T, Nguyen T, Saag M, Voog-Oras Ü. Symptoms and signs of temporomandibular disorders among elderly Vietnamese. Am J Orthod Dentofac Orthop. 2015;147(5):S216-23.. Em geral, independentemente do desenho do estudo e dos instrumentos utilizados, a prevalência da DTM revelou-se elevada entre os idosos.

Os estudos epidemiológicos apontaram alta prevalência da DTM. No entanto, estima-se que o número de pessoas que realmente necessitam de algum tipo de tratamento gire em torno de 10 a 15%. Esse percentual abrange, em geral, as pessoas portadoras de sintomas de DTM moderada/grave77 Okeson JP. Evolution of occlusion and temporomandibular disorder in orthodontics: past, present, and future. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2015;147(5 Suppl):S216-23.,1717 Fonseca DM, Bonfante G, Valle AL, Freitas SF. Diagnóstico pela anamnese da disfunção craniomandibular. Rev Gaucha Odontol. 1994;42(1):23-8.. No presente estudo, a prevalência de sintomas de DTM moderada/grave foi de 13,3%. Esses resultados são semelhantes a outros trabalhos, independentemente do instrumento utilizado1515 Boscato N, Almeida RC, Koller CD, Presta AA, Goettems ML. Influence of anxiety on temporomandibular disorders--an epidemiological survey with elders and adults in Southern Brazil. J Oral Rehabil. 2013;40(9):643-9.,1919 Rios AC, Rocha PV, Santos LB. Estudo comparativo entre Índice Anamnésico de Disfunção Temporomandibular e Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) em mulheres idosas. Odontol Clín-Cient. 2012;11(3):221-7.,2222 Camacho JG, Oltramari-Navarro PV, Navarro Rde L, Conti AC, Conti MR, Marchiori LL, et al. Signs and symptoms of temporomandibular disorders in the elderly. Codas. 2014;26(1):76-80.. Esses indivíduos deveriam estar em algum tipo de tratamento com o objetivo de reduzir a dor, aumentar a amplitude articular, prevenir novas lesões, reduzir morbidades e melhorar a QV3737 Gonzalez-Perez LM, Infante-Cossio P, Granados-Nunez M, Urresti-Lopez FJ, Lopez-Martos R, Ruiz-Canela-Mendez P. Deep dry needling of trigger points located in the lateral pterygoid muscle: efficacy and safety of treatment for management of myofascial pain and temporomandibular dysfunction. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 2015;20(3):e326-33.,3838 Calixtre LB, Moreira RF, Franchini GH, Alburquerque-Sendín F, Oliveira AB. Manual therapy for the management of pain and limited range of motion in subjects with signs and symptoms of temporomandibular disorder: a systematic review of randomised controlled trials. J Oral Rehabil. 2015;42(11):847-61.. As más condições de saúde bucal estão entre as principais causas da DTM. No presente estudo, a perda dentária foi associada ao maior risco da DTM leve. De fato, algumas pesquisas confirmam que a perda dos dentes naturais tem sido considerada como um dos principais fatores de risco para DTM2424 Dallanora AF, Grasel CE, Heine CP, Demarco FF, Pereira-Cenci T, Presta AA, et al. Prevalence of temporomandibular disorders in a population of complete denture wearers. Gerodontology. 2012;29(2):e865-9.,2525 Di Paolo C, Costanzo GD, Panti F, Rampello A, Falisi G, Pilloni A, et al. Epidemiological analysis on 2375 patients with TMJ disorders: basic statistical aspects. Ann Stomatol (Roma). 2013;4(1):161-9.,3939 Alzarea B. Prevalence of temporomandibular dysfunction in edentulous patients of Saudi Arabia. J Int Oral Heal. 2017;9(1):1-5., visto que vários problemas bucais se relacionam diretamente com a falta de dentes naturais. Dados do último levantamento nacional demonstraram que os idosos com idade entre 65 e 74 anos apresentaram uma média de 25,29 dentes perdidos e uma prevalência de 54% de edentulismo2323 Brasil. Projeto SB BRASIL 2010. Pesquisa Nacional de Saúde Bucal. Resultados Principais. Ministério da Saúde. 2012. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pesquisa_nacional_saude_bucal.pdf>. Acesso em: 17 de janeiro 2018.
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. Além disso, a maioria dos idosos brasileiros ainda necessita de reabilitação com algum tipo de prótese4040 Peres MA, Barbato PR, Reis SC, Freitas CH, Antunes JL. [Tooth loss in Brazil: analysis of the 2010 Brazilian Oral Health Survey]. Rev Saude Publica. 2013;47(Suppl 3):78-89. Portuguese.. Embora não tenha havido associação estatisticamente significativa com DTM, a necessidade de prótese é resultado direto das perdas dentárias, e provavelmente um dos fatores associados com DTM.

Da mesma forma, a idade foi estatisticamente associada à prevalência de sintomas de DTM. Ter idade ≥70 anos foi um fator de proteção para DTM leve. Esses resultados foram semelhantes a outras investigações que associaram a idade mais avançada como um fator protetor para DTM1919 Rios AC, Rocha PV, Santos LB. Estudo comparativo entre Índice Anamnésico de Disfunção Temporomandibular e Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) em mulheres idosas. Odontol Clín-Cient. 2012;11(3):221-7.,2222 Camacho JG, Oltramari-Navarro PV, Navarro Rde L, Conti AC, Conti MR, Marchiori LL, et al. Signs and symptoms of temporomandibular disorders in the elderly. Codas. 2014;26(1):76-80.. Com relação à idade, acredita-se que as pessoas mais velhas tendem a desenvolver melhor resiliência no SE, adequando-se às alterações decorrentes do envelhecimento55 Boscato N, Schuch HS, Grasel CE, Goettems ML. Differences of oral health conditions between adults and older adults: a census in a Southern Brazilian city. Geriatr Gerontol Int. 2016;16(9):1014-20.,4141 Manfredini D, Poggio CE. Prosthodontic planning in patients with temporomandibular disorders and/or bruxism: A systematic review. J Prosthet Dent. 2017;117(5):606-13.. Além disso, no decorrer do processo de envelhecimento, os idosos, na sua maioria, tendem a se conformar com a deterioração de sua saúde e, dessa forma, acreditam que os problemas bucais são uma consequência inevitável do envelhecer44 Sánchez-García S, Heredia-Ponce E, Cruz-Hervert P, Juárez-Cedillo T, Cárdenas-Bahena A, García-Peña C. Oral health status in older adults with social security in Mexico City: latent class analysis. J Clin Exp Dent. 2014;6(1):e29-35.,4242 Miotto MH, Almeida CS, Barcellos LA. Impacto das condições bucais na qualidade de vida em servidores públicos municipais. Ciên Saúde Coletiva. 2014;19(9):3931-40.. No presente estudo, apenas indivíduos idosos com idade entre 65 e 74 anos foram incluídos, tendo por base os critérios recomendados pela OMS para estudos epidemiológicos em saúde bucal2929 Organization WH. Oral Health Surveys: Basic Methods. 4th ed. (Organization WH, ed.). Geneva; 1997.. Essa estratégia é recomendada, pois permite comparações entre diversos estudos, além de tornar a estratégia amostral viável.

Em contrapartida, a presente pesquisa não encontrou associação estatisticamente significativa entre sexo e sintomas de DTM. Esses resultados foram semelhantes aos de outras pesquisas que observaram que as diferenças de sexo em relação à DTM não foram tão importantes para os grupos etários mais velhos2424 Dallanora AF, Grasel CE, Heine CP, Demarco FF, Pereira-Cenci T, Presta AA, et al. Prevalence of temporomandibular disorders in a population of complete denture wearers. Gerodontology. 2012;29(2):e865-9.,4343 Unell L, Johansson A, Ekbäck G, Ordell S, Carlsson GE. Prevalence of troublesome symptoms related to temporomandibular disorders and awareness of bruxism in 65- and 75-year-old subjects. Gerodontology. 2012;29(2):e772-9.. Alguns estudos têm associado o nível educacional e a renda com DTM1111 Cavalcanti MO, Lima CM, Lima JM, Gomes I, Goldim JR. Prevalência da disfunção temporomandibular em idosos não institucionalizados. Estud Interdiscipl Envelhec. 2015;20(2):551-66.,1414 Sampaio NM, Oliveira MC, Ortega AO, Santos LB, Alves TD. Temporomandibular disorders in elderly individuals: the influence of institutionalization and sociodemographic factors. Codas. 2017;29(2):e20160114., embora o nível educacional não tenha, neste trabalho, sido associado com DTM. No entanto, a perda dentária pode ser utilizada como um proxy do nível educacional e da renda. É importante ponderar que a escolaridade e a renda estão inseridas entre os principais fatores determinantes da perda dentária. Com relação aos condicionantes socioeconômicos, deve-se destacar o baixo nível educacional dos idosos da cidade de Cruz Alta. A média entre homens e mulheres, a média de indivíduos brancos e não brancos e o nível educacional dos idosos neste estudo são semelhantes aos observados no último censo nacional para essa cidade3030 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010: Características da população e domicílios - resultados gerais. 2011. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/93/cd_2010_caracteristicas_populacao_domicilios.pdf>. Acesso em: 19 de novembro de 2016.
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. Além disso, os examinadores foram treinados para coleta dos dados de modo a respeitar um padrão.

Com relação ao IAF1717 Fonseca DM, Bonfante G, Valle AL, Freitas SF. Diagnóstico pela anamnese da disfunção craniomandibular. Rev Gaucha Odontol. 1994;42(1):23-8., a literatura demonstrou algumas vantagens, entre elas, a simplicidade para a avaliação baseada na percepção, o menor tempo de aplicação, um menor custo, sendo útil para utilização em estudos epidemiológicos envolvendo grandes populações1818 Vasconcelos BC, Silva ED, Kelner N, Miranda KS, Silva A. Meios de diagnóstico das desordens temporomandibulares. Rev Cir Traumat Buco-Maxilo-Facial. 2002;2(1):49-57.. O IAF não é um instrumento de diagnóstico, é utilizado para fazer um rastreamento da DTM, permitindo classificar o indivíduo ainda em estágio precoce, como portador de sintomas compatíveis com a DTM. De outro lado, esta pesquisa apresentou algumas limitações. A primeira delas refere-se ao desenho transversal, que não permite avaliar a temporalidade das associações entre DTM e as variáveis exploratórias. Além disso, não foram clinicamente avaliados os sinais e os sintomas da DTM e a capacidade mental de resposta dos idosos. Apesar das limitações, o delineamento do estudo permite a generalização de dados para comparações com outros estudos com base domiciliar com amostra representativa.

O interesse em conhecer a prevalência da DTM na população idosa vem aumentando, principalmente nas últimas décadas. Isso ocorre porque a DTM tem um papel importante na ocorrência de DOF e na incapacitação das atividades diárias66 Armijo-Olivo S, Pitance L, Singh V, Neto F, Thie N, Michelotti A. Effectiveness of manual therapy and therapeutic exercise for temporomandibular disorders: systematic review and meta-analysis. Phys Ther. 2016;96(1):9-25.. Embora a literatura disponibilize vários estudos epidemiológicos, não existe um consenso quanto à sua prevalência e os seus fatores de risco. Essas diferenças na prevalência podem ser causadas pelo delineamento dos estudos, pela heterogeneidade dos métodos de diagnóstico, pela falta de representatividade das amostras, entre outras razões1515 Boscato N, Almeida RC, Koller CD, Presta AA, Goettems ML. Influence of anxiety on temporomandibular disorders--an epidemiological survey with elders and adults in Southern Brazil. J Oral Rehabil. 2013;40(9):643-9.,1616 Alzarea BK. Temporomandibular disorders (TMD) in edentulous patients: a review and proposed classification (Dr. Bader’s Classification). J Clin Diagn Res. 2015;9(4):ZE6-9.. De qualquer forma, um dos aspectos importantes deste trabalho se traduz no melhor entendimento da relação entre o envelhecimento e a saúde bucal, especialmente em relação à DTM.

CONCLUSÃO

No presente estudo, verificou-se alta prevalência de sintomas de DTM, com predomínio do grau leve. A idade e as perdas dentárias foram associadas com a DTM. Os resultados sugerem a necessidade da melhoria nas condições de saúde bucal dos idosos e evidenciam a importância de mais estudos epidemiológicos sobre a prevalência da DTM nessa população.

  • Fontes de fomento: não há.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2018

Histórico

  • Recebido
    22 Jan 2018
  • Aceito
    22 Jun 2018
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