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A TRAJETÓRIA DE LÍCIA DO PRADO VALLADARES E A CONSTITUIÇÃO DO CAMPO DOS ESTUDOS URBANOS NO BRASIL

LÍCIA DO PRADO VALLADARES’S TRAJECTORY AND THE CONSTITUTION OF THE URBAN STUDIES FIELD IN BRAZIL

LA TRAJECTOIRE DE LÍCIA DO PRADO VALLADARES ET LA CONSTITUTION DU DOMAINE DES ÉTUDES URBAINES AU BRÉSIL

Resumos

Este trabalho analisa a trajetória da socióloga Lícia Valladares e sua contribuição para o campo dos estudos urbanos, em que exerceu papel de liderança. Ela pesquisou os temas favela, habitação, pobreza urbana, movimentos sociais e infância pobre. Nos anos 2000, passa a estudar a Escola de Sociologia de Chicago, contribuindo para a formação de um pensamento social-urbano no Brasil, em diálogo com as sociologias francesa e norte-americana. Destaque-se seu papel no registro e na divulgação de trabalhos sobre o urbano, mediante a criação do banco de dados Urbandata, que viabilizou balanços bibliográficos sobre os temas de suas pesquisas, o que veio ao encontro de sua postura epistemológica, que preconizava o conhecimento aprofundado do estado da arte do objeto de cada investigação. A trajetória de Lícia Valladares revela diferentes facetas dos estudos urbanos no Brasil, incluindo temas de natureza micro e macro, relevantes para a constituição de uma agenda de pesquisas. A socióloga teve atuação destacada para a criação de redes de pesquisas transnacionais e para a formação de novos pesquisadores.

Palavras-chave:
Lícia Valladares; Estudos Urbanos; Favelas; Políticas Habitacionais; Urbandata


This work analyzes the trajectory of the sociologist Lícia Valladares and her contribution to the field of urban studies, where she played a leading role. She researched the themes of favelas, housing, urban poverty, social movements. and poor childhood. In the 2000s, she began to study the Chicago School of Sociology, contributing to forming a social-urban thinking in Brazil, in dialogue with French and North American sociologies. Note her role in registering and disseminating works on the urban by the creation of the UrbanData database, which made vast bibliographic balances on the themes of her research possible, meeting her epistemological stance, which advocated in-depth knowledge of the state of the art of each subject of investigation. Lícia Valladares’ trajectory reveals different facets of urban studies in Brazil, including themes of a micro and macro nature, relevant to the constitution of a research agenda. The sociologist played an outstanding role in creating transnational research networks, and in training new researchers.

Keywords:
Lícia Valladares; Urban Studies; Favelas; Housing Policies; UrbanData


Ce travail analyse la trajectoire de la sociologue Lícia Valladares et sa contribution au domaine des études urbaines, où elle a joué un rôle de premier plan. Elle a fait des recherches sur les thèmes des favelas, du logement, de la pauvreté urbaine, des mouvements sociaux et de l'enfance pauvre. Dans les années 2000, elle a commencé des études sur l’École de Sociologie de Chicago, contribuant à la formation de la pensée socio-urbaine au Brésil, en dialogue avec les sociologies françaises et nord-américaines. Son rôle dans l'enregistrement et la diffusion des travaux sur l'urbain est mis en évidence par la création de la base de données UrbanData, qui a permis des bilans bibliographiques sur les thèmes de ses recherches, répondant à sa posture épistémologique, qui prônait une connaissance approfondie de l’état de l'art de l'objet de chaque enquête. La trajectoire de Lícia Valladares révèle différentes facettes des études urbaines au Brésil, y compris des thèmes de nature micro et macro, pertinents pour la constitution d'un programme de recherche. Elle a aussi joué un rôle remarquable dans la création de réseaux de recherche transnationaux et la formation de nouveaux chercheurs.

Mots-clés:
Lícia Valladares; Études Urbaines; Favelas; Politiques du Logement; UrbanData


Tratar dos rumos e caminhos de um campo disciplinar remete a pontos de partida situados no passado recente, uma vez que um olhar retrospectivo permite identificar agendas de pesquisas já realizadas e outras a serem feitas. Para tanto, é preciso conhecer como se constituiu esse campo disciplinar, o que, por sua vez, dependeu da formação de comunidades de pesquisadores, da publicização dos resultados de suas pesquisas e da atuação de figuras que assumem a liderança nesse processo. Tal foi o caso da socióloga Lícia do Prado Valladares,1 1 Lícia do Prado Valladares nasceu em 19 janeiro de 1946, em Salvador (BA), mas fez sua carreira acadêmica no Rio de Janeiro e na França. Faleceu em 28 de novembro de 2021. cuja trajetória lança luz sobre a constituição do campo da sociologia urbana e dos estudos urbanos no Brasil, abarcando desde os anos 1960 até as primeiras décadas do século XXI. A menção a esse marco temporal não implica a ideia de um caminho unilinear, conectando etapas entre o início e o término, como na concepção criticada por Bourdieu (1996BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, J. et al. Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Ed. da FGV, 1996.) em relação à história de vida, método não utilizado neste trabalho. A trajetória de Lícia Valladares não foi pré-direcionada, mas um olhar retrospectivo permite identificar elos entre as opções e os produtos, e as atividades delas decorrentes.

Não há espaço, aqui, para analisar todas as contribuições de Lícia Valladares para os estudos urbanos no Brasil,2 2 Outras informações sobre a trajetória de Lícia Valladares podem ser conferidas em: Cunha et al. (2018); Freire-Medeiros (2022); Freire, Oliveira e Valladares (2008); Pereira (2022); Santana (2019); e Valladares (2005a). além das transcrições de depoimentos em eventos em homenagem à socióloga (EVENTO…, 2019a, 2019b, 2019c) e das entrevistas realizadas pela Autora em 2017 e 2018, no âmbito de pesquisa apoiada pelo CNPq. as quais se deram em diálogo com as produções latino-americana, francesa e anglo-saxã, promovendo a articulação de diferentes campos disciplinares que tratam do urbano, como a sociologia, a antropologia, a geografia, o urbanismo e o planejamento urbano, entre outros. Neste artigo, foram selecionados aspectos da trajetória da socióloga mais relevantes para entender questões que se colocam para sociologia urbana contemporânea e, mais além, para os estudos urbanos: formulação de agendas de pesquisa, institucionalização e constituição de redes transnacionais, e formação de novas gerações de pesquisadores.

PLURALIDADE TEMÁTICA E AGENDAS DE PESQUISA

O primeiro tema: a favela

A carreira de Lícia Valladares é exemplar para identificar agendas de pesquisas sobre temas plurais, como será visto, ainda que ela tenha ficado mais conhecida por suas pesquisas sobre a favela. A escolha deste último tema ocorreu ainda no curso de Sociologia e Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), onde Lícia Valladares ingressou em 1964. Durante sua graduação, ela teve oportunidade de estagiar no setor de documentação do Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais (Clapcs), onde, com outras colegas, estava encarregada de fazer resumos do acervo bibliográfico da instituição. É provável que tenha nascido aí o interesse de Lícia Valladares pela organização de levantamentos bibliográficos e pelo trabalho em arquivos (Freire-Medeiros, 2022FREIRE-MEDEIROS, B. Bionotas: Lícia Valladares. Sociedade Brasileira de Sociologia, Porto Alegre, [2022]. Disponível em: https://www.sbsociologia.com.br/project/licia-do-prado-valladares/. Acesso em: 9 jul. 2022.
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), que ela aprofundaria ao longo de sua carreira. O trabalho no Clapcs colaborou, indiretamente, para a formação de Lícia Valladares como etnógrafa, graças à sua participação em pesquisa coordenada pelo sociólogo Carlos Alberto Medina, diretor da instituição. Tratava-se de uma investigação sobre religiosidade nas favelas, encomendada pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na qual Medina concedeu à jovem estudante ampla liberdade para escolher a metodologia e o lócus do trabalho, que recaiu sobre a Rocinha, favela próxima à PUC. Ressalte-se que a proximidade física pode ser enganosa por criar a ilusão de que, para conhecer um fenômeno, basta debruçar-se sobre suas manifestações empíricas, como se o objeto fosse “uma espécie de coisa que se impõe ao cientista” (Cardoso, 2006CARDOSO, A. Metamorfoses da pobreza. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, n. 75, p. 213-217, jul. 2006., p. 213). Para que os encontros empíricos frutifiquem, é necessário um trabalho de construção do objeto, direcionado pelos interesses e perspectivas do pesquisad or, em um longo e árduo processo (Gondim, 2021GONDIM, L. M. P. A prática da pesquisa artesanal: instrumentos, estratégias e narrativas. Curitiba: CRV, 2021.). Igualmente árduas são as escolhas metodológicas, mormente quando a pesquisadora é inexperiente e não domina métodos e técnicas de pesquisa qualitativa, como era o caso, então, de Lícia Valladares. Ousadamente, ela optou pela observação participante, método pouco usado, na época, na sociologia, e que não constava das disciplinas ofertadas no curso de graduação na PUC, que não incluíam metodologias qualitativas (Valladares, 2005aVALLADARES, L. P. A invenção da favela. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005a.). Para superar essas limitações, foi importante a orientação de Medina, que acompanhava a progressão do trabalho, mesmo sem estar no campo. Ele já acumulara experiência em pesquisas sobre favelas, tendo participado do estudo Aspectos humanos das favelas cariocas, realizado pela Sociedade para Análises Gráficas e Mecanográficas Aplicadas aos Complexos Sociais (Sagmacs, 1960SOCIEDADE PARA ANÁLISES GRÁFICAS E MECANOGRÁFICAS APLICADAS AOS COMPLEXOS SOCIAIS (SAGMACS). O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 1-40, 13 abr. 1960. Suplemento Especial.), criada pelo padre dominicano francês Louis-Joseph Lebret, dentro dos princípios do movimento Economia e Humanismo (Valladares, 2005aVALLADARES, L. P. A invenção da favela. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005a.). O estudo da Sagmacs, bastante influente nos anos posteriores à sua publicação, caiu no esquecimento e somente meio século depois de sua realização receberia a devida atenção, sendo objeto de um colóquio do qual resultou uma coletânea (Mello et al., 2012). O olvido de Aspectos humanos das favelas cariocas é tanto mais lamentável quando se tem em conta sua abordagem multifacetada das favelas, que pode ser vista como uma ruptura, avant la lettre, de representações equivocadas que afirmam a unicidade da favela, contestada por Lícia Valladares (2005aVALLADARES, L. P. A invenção da favela. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005a.).

Além da orientação de Medina, foi decisivo para a formação de Lícia Valladares o compartilhamento com outros pesquisadores de experiências e leituras sobre pobreza urbana, habitação e favelas na América Latina, durante seminários na residência do antropólogo norte-americano Anthony Leeds, que viria a ser responsável pelo primeiro curso de antropologia urbana ministrado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia do Museu Nacional do Rio de Janeiro (Velho, 2011VELHO, G. Antropologia urbana: interdisciplinaridade e fronteiras do conhecimento. Mana, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 161-185, 2011.). Participavam dos seminários, entre outros brasileiros, o sociólogo Luis Antonio Machado da Silva e o arquiteto e urbanista Carlos Nelson Ferreira dos Santos, que viriam a dar contribuições de relevo para os estudos urbanos. Entre os estrangeiros, merecem destaque Elizabeth Leeds, que se tornaria colaboradora das pesquisas de Anthony Leeds (com quem viria a se casar), e Janice Pearlman, que publicaria O mito da marginalidade (1977), obra que colocou em xeque a ideia de que os favelados não estariam integrados à sociedade moderna e capitalista. Registre-se, ainda, a participação de integrantes do Peace Corps, programa assistencialista do governo norte-americano, alguns dos quais desenvolveriam interesses acadêmicos (Valladares, 2005aVALLADARES, L. P. A invenção da favela. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005a.).

Um legado valioso de Leeds foi a concepção de favela como “localidade”, termo condizente com a desconstrução do que, no futuro, Lícia Valladares chamaria de “dogma” da especificidade da favela (Valladares, 2005aVALLADARES, L. P. A invenção da favela. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005a.). Nas palavras da socióloga,

Essa categoria [localidade] parte de uma perspectiva relacional do lugar com a cidade, não adotando a perspectiva isolacionista do conceito de comunidade. Para ele [Leeds], as favelas enquanto localidades inserem-se na cidade, constituindo-se por relações urbanas, integrando-se ao mercado e à economia capitalistas. […] Favela é simplesmente um qualificativo de lugar e uma forma de moradia, constituindo-se em uma resposta aos problemas enfrentados pelos trabalhadores de baixa renda (Valladares, 2018aVALLADARES, L. P. Anthony Leeds: o esquecimento e a memória. Sociologia e Antropologia, Rio de Janeiro, v. 8 n. 3, p. 1027-1058, 2018a., p. 1031).

A obra de Anthony Leeds, após a década de 1970, foi relativamente esquecida, tanto é que seu livro em coautoria com Elizabeth Leeds, A sociologia do Brasil urbano (Leeds; Leeds, 2015LEEDS, A.; LEEDS, E. A sociologia do Brasil urbano. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2015.) somente foi reeditado em 2015. Ele deixou um rico acervo de textos e fotografias, que sua viúva legou à Fundação Oswaldo Cruz, em evento para o qual Lícia Valladares (2018aVALLADARES, L. P. Anthony Leeds: o esquecimento e a memória. Sociologia e Antropologia, Rio de Janeiro, v. 8 n. 3, p. 1027-1058, 2018a.) escreveu artigo sobre esquecimento e memória.

Sem subestimar a contribuição de Leeds e de Medina para a formação metodológica de Lícia Valladares, muito do êxito do trabalho de campo na Rocinha deveu-se à sua capacidade de estabelecer relações de confiança com os moradores, fundamental para a obtenção de informações, como ela destacaria, anos depois, na resenha de Sociedade de esquina (Valladares, 2007VALLADARES, L. P. Os dez mandamentos da observação participante. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 22, p. 153-155, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092007000100012&script=sci_arttext&tlng=es. Acesso em: 26 fev. 2018.
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). Ao longo dos nove meses em que morou na Rocinha, o interesse de Lícia Valladares se expandiu para abarcar todo o cotidiano dos moradores, incluindo suas relações durante a remoção de parte da favela, para dar lugar a um túnel. Esaa observação não planejada se revelaria premonitória, confirmando que, muitas vezes, o campo apresenta ao pesquisador objetos imprevistos (Gondim, 2021GONDIM, L. M. P. A prática da pesquisa artesanal: instrumentos, estratégias e narrativas. Curitiba: CRV, 2021.). Tanto é que, para sua tese de doutorado, Lícia Valladares escolheu a política de remoção de favelas, implementada pela Cohab, tomando como campo de pesquisa o conjunto habitacional Cidade de Deus, para onde parte dos moradores da Rocinha havia sido removida.

O intenso e extenso trabalho de campo realizado na Rocinha teve como frutos um relatório de pesquisa (Medina; Valladares, 1968MEDINA, C. A.; VALLADARES, L. P. Favela e religião: um estudo de caso. Rio de Janeiro: Ceris, 1968. (Datilografado).) e dois artigos (Valladares, 1968MEDINA, C. A.; VALLADARES, L. P. Favela e religião: um estudo de caso. Rio de Janeiro: Ceris, 1968. (Datilografado)., 1977VALLADARES, L. P. Associações voluntárias na favela. Ciência e Cultura (SBPC), São Paulo, v. 29, n. 12, p. 1390-1403, 1977.), não ensejando, de imediato, nenhuma obra mais robusta. Mas a observação em primeira mão do universo dos favelados seria chave para os rumos da carreira de Lícia Valladares, culminando com a publicação de sua obra magna, A invenção da favela (2005a).

Da favela à política habitacional

Durante sua primeira visita à Cidade de Deus, acompanhando um morador da Rocinha, a socióloga observou placas com os dizeres “Passa-se uma casa”, indicativas de “venda” das casas, prática proibida no programa de remoções. Diante disso, Lícia Valladares considerou o estudo de caso como método mais adequado à investigação, pois, diferentemente dos surveys, propiciaria condições para estabelecer relações de confiança com os informantes (Valadares, 1979VALLADARES, L. P. Passa-se uma casa: análise do programa de remoção de favelas no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.). Durante oito meses, ela fez visitas diárias ao conjunto, onde coletou e tabulou dados sobre moradores no escritório local da Cohab,3 3 Após a fusão dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, em 1975, a COHAB-GB passou a ser denominada CEHAB-RJ. colheu depoimentos e observou a ocupação de um bloco de apartamentos. Ademais, ela obteve outras informações nos órgãos envolvidos com as remoções e, como material complementar, recorreu a reportagens e artigos publicados na imprensa, o que evidencia a versatilidade da socióloga ao combinar diferentes tipos de fontes, lançando mão de dados quantitativos e qualitativos. O resultado desse esforço foi a tese Opération de relogement et réponse sociale: le cas des favelado de Rio de Janeiro, defendida em 1974, e que seria publicada no Brasil em 1978 com o título de Passa-se uma casa: análise do programa de remoção de favelas no Rio de Janeiro (Valladares, 1979VALLADARES, L. P. Passa-se uma casa: análise do programa de remoção de favelas no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.), que se tornou um clássico para os estudos sobre habitação.

Lícia Valladares fez doutorado na Universidade de Toulouse (1969-1974), sob a orientação de Raymond Ledrut que, ao saber que ela passaria um período de tempo na Inglaterra, recomendou-lhe que procurasse a socióloga Ruth Glass, na Universidade de Londres. Lícia Valladares, então, teve oportunidade de adentrar nos temas da pobreza e da filantropia, estudados por Ruth Glass, e sobre os quais Lícia se debruçaria no futuro. Além disso, teve acesso a obras de autores da Escola de Sociologia de Chicago, cuja recepção no Brasil se tornaria um de seus temas de pesquisa anos depois.

Consolidação e expansão dos temas de pesquisa

Habitação, movimentos sociais, pobreza, reestruturação produtiva

Em 1980, Lícia Valladares ingressou como docente no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), da Universidade Cândido Mendes, a convite do sociólogo Luis Antonio Machado da Silva.4 4 Antes, Lícia Valladares teve outras experiências profissionais (Freire et al. 2008; Freire-Medeiros, 2022). Contudo seu ingresso no Iuperj foi o ponto mais importante de sua carreira, ao lado da Universidade de Lille, onde ingressaria em 2011. Durante 20 anos, ela ofertou disciplinas de sociologia urbana e metodologia qualitativa e teve oportunidades de consolidar e expandir seus temas de interesse, a começar pelo tema da habitação, sobre o qual organizou coletâneas e realizou levantamentos bibliográficos (Valladares, 1981VALLADARES, L. P. Habitação em questão. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.; 1983bVALLADARES, L. P. (org.). Repensando a habitação no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1983b.; Valladares; Figueiredo, 1987VALLADARES, L. P.; FIGUEIREDO, A. Habitação no Brasil: uma introdução à literatura recente. In: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS. O que se deve ler em ciências sociais no Brasil. São Paulo: Cortez, 1987. p. 38-78.). Em um deles, ela faz um balanço da produção sobre o tema no Brasil até o início dos anos 1980 e identifica subtemas que, à época, não haviam sido suficientemente pesquisados: mercado imobiliário e produção da habitação; habitação de classe média; habitação em áreas rurais, entre outros (Valladares, 1983bVALLADARES, L. P. (org.). Repensando a habitação no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1983b.). Não cabe, aqui, verificar até que ponto tais lacunas foram preenchidas; importa destacar o alcance da visão de Lícia Valladares sobre a importância da questão habitacional, cuja centralidade permanece atual, quando se aprofundam a pobreza e a desigualdade nas cidades brasileiras, tornando urgente uma agenda de pesquisa que priorize o direito à cidade.

Ainda nos anos 1980, Lícia Valladares pesquisa os movimentos sociais que eclodiam nas periferias das grandes cidades brasileiras (Valladares, 1983aVALLADARES, L. P. Housing in Brazil: an introduction to recent literature. Bulletin of Latin American Research, Oxford, v. 2, n.2, p. 69-91, 1983a.), tema que ensejou farta literatura e que continua despertando o interesse dos sociólogos (Alonso, 2009ALONSO, A. As teorias dos movimentos sociais: um balanço do debate. Lua Nova, São Paulo, v. 76, p. 49-86, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ln/a/HNDFYgPPP8sWZfPRqnWFXXz/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 22 fev. 2016.
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; Cardoso, 1996CARDOSO, R. C. A trajetória dos movimentos sociais. In: DAGNINO, E. (org.). Anos 90: política e sociedade no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1996. p. 81-90.). Outro tema que Lícia Valladares estudou foi o da criança pobre no Brasil (Alvim; Valladares, 1988cVALLADARES, L. P. et al. 1001 teses sobre o Brasil urbano. Rio de Janeiro: Anpur, 1988c.; Valladares, 1990aVALLADARES, L. P. Family and child work in the favela. In: DATTA, S. (org.). Third world urbanization? Reappraisals and new perspectives. Stockholm: Swedish Council for Research in the Humanities and Social Sciences, 1990a. p. 149-167.). Na contramão dos estudos sobre violência e criminalidade em famílias faveladas, a socióloga indaga sobre as estratégias das mães para evitar que seus filhos ingressem na carreira do crime. Ela desconstrói a representação dualista de crianças no mundo do trabalho versus crianças na criminalidade, pois elas trafegam entre trabalho, lazer e escola – vendendo comidas produzidas pelas mães, pausando para um jogo de bola e, eventualmente, frequentando escola, havendo evasão quando o trabalho requer mais tempo (Valladares, 1990aVALLADARES, L. P. Family and child work in the favela. In: DATTA, S. (org.). Third world urbanization? Reappraisals and new perspectives. Stockholm: Swedish Council for Research in the Humanities and Social Sciences, 1990a. p. 149-167., 2008VALLADARES, L. P. Favelas e a crise do urbanismo modernista – depoimento. In: FREIRE, A.; OLIVEIRA, L. L. (org.). Novas memórias do urbanismo carioca. Rio de Janeiro: FGV, 2008. p. 155-187.). Anos mais tarde, ela voltaria seu olhar para a relação entre educação formal e ascensão social de jovens universitários na favela (Valladares, 2010bVALLADARES, L. P. Educação e mobilidade social nas favelas do Rio de Janeiro: o caso dos universitários (graduandos e graduados) das favelas. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, [s. l.], v. 2, p. 153-172, 2010b.).

No início da década de 1990, Lícia explicita mais um tema em sua agenda de pesquisa: a pobreza urbana, já abordada implicitamente nos trabalhos anteriores, agora considerada do ponto de vista de suas representações ao longo do processo de formação do Brasil como nação moderna e capitalista (Valladares, 1991VALLADARES, L. P. Cem anos pensando a pobreza urbana no Brasil. In: BOSCHI, R. (org.). Corporativismo e desigualdade: a construção do espaço público no Brasil. Rio de Janeiro: Rio Fundo, 1991. p. 81-112.). Sobre esse tema, ela publica um de seus trabalhos mais importantes na avaliação de diversos autores (Freire-Medeiros, 2022FREIRE-MEDEIROS, B. Bionotas: Lícia Valladares. Sociedade Brasileira de Sociologia, Porto Alegre, [2022]. Disponível em: https://www.sbsociologia.com.br/project/licia-do-prado-valladares/. Acesso em: 9 jul. 2022.
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) e da própria Lícia Valladares. Ainda que o texto não aborde a questão para além dos anos 1980, é relevante para entender a construção de representações sobre fenômenos sociais, perpassada pelo contexto socioeconômico e político de cada época. Desse modo, contempla uma dupla historicidade: no plano do imaginário e no plano material. Essa perspectiva traduz a postura epistemológica de Lícia Valladares que exige a fundamentação de toda pesquisa em levantamento bibliográfico e documental do conhecimento acumulado sobre o objeto pesquisado, não só no âmbito da academia, como também nos meios técnicos, nas políticas sociais, no jornalismo, na literatura e mesmo no senso comum, de modo a fazer a história social dos objetos de pesquisa (Bourdieu, 1989BOURDIEU, P. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989.). Tal postura se faz presente na iniciativa de publicar balanços bibliográficos que vão além de seus temas de pesquisa para abarcar o campo dos estudos urbanos no Brasil e na América Latina, publicados em francês, inglês e espanhol: La Recherche Urbaine au Brésil: um état de la question (Valladares, 1988aVALLADARES, L. P. La recherche urbaine au Brésil: un état de la question. Bordeaux: CEGET, 1988a.); Urban sociology in Brazil (Valladares, 1988bVALLADARES, L. P. Urban sociology in Brazil: a research report. International Journal of Urban and Regional Research, Londres, v. 12, n. 2, p. 285-302, 1988b.); Urban research in Latin America (Valladares, 1995VALLADARES, L. P. Urban research In Latin America. MOST – Discussion Paper Series, [s. l.], n. 4, p. 2-39, 1995.); e La Investigación urbana en América Latina: tendências actuales y recomendaciones (Valladares, 1996VALLADARES, L. P. La investigación urbana en América Latina: tendências actuales y recomendaciones. Cadernos IPPUR, Rio de Janeiro, ano 10, n. 1, p. 103-141, 1996.).

A inserção do urbano em processos de mudança econômica global foi um tema incluído na agenda de pesquisas de Lícia Valladares no final da década de 1980. Nesse sentido, ela promoveu no Iuperj, com o apoio da International Sociological Association (ISA), a Conferência sobre reestruturação urbana, no Rio de Janeiro, em 1988, evento que ela coordenou juntamente com o sociólogo Edmond Prétéceille, e que trouxe dos Estados Unidos e da Europa pesquisadores de diversas áreas que estudam o urbano, como sociólogos, geógrafos, economistas e outros, incluindo-se aí representantes da sociologia urbana francesa, como Edmond Préteceille, Christian Topalov, Jean Lojkine e Isaac Joseph. Um dos frutos do evento foi o acordo de cooperação técnica entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes) e o Comité Français d’Évaluation de la Coopération Universitaire et Scientifique avec le Brésil (Cofecub), para realização da pesquisa Espaço público, conflitos e democracia em uma perspectiva comparada, a qual tinha como referência teórica e metodológica a Escola de Sociologia de Chicago (Valladares, 2005bVALLADARES, L. P. Louis-Joseph Lebret et les favelas de Rio de Janeiro (1957-1959): enquêter pour l'action. Genèses, Paris, v. 60, p. 31-56, 2005b.), que se tornou um dos temas preferenciais de Lícia Valladares.

A Escola de Sociologia de Chicago (EC)

A Escola de Sociologia de Chicago reuniu pesquisadores do Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago de 1915 a 1935 (Primeira Escola de Chicago). Teria havido uma Segunda Escola de Chicago no pós-guerra, porém sua existência é contestada por vários autores (Fine, 1995FINE, G. (org.). A second Chicago School? The development of a postwar American Sociology Chicago and London. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.). Os principais representantes da Primeira Escola de Chicago, do ponto de vista de sua contribuição intelectual e institucional, foram Albion Small (1892-1925), William Thomas (1895-1918), Robert Park (1914-1934), Ernest Burgess (1916-1952), Ellsworth Faris (1920-1939), Louis Wirth (1926-1952), William Ogburn (1927-1932), Herbert Blumer (1928-1952) e Everett Hughes (1938-1961) (Abbott, 1997). A composição da Segunda Escola de Chicago é mais fluida, pois há quem tenha participado das duas Escolas, como Burgess, Louis Wirth, Blumer e Hughes, juntamente com outros posteriormente admitidos, como Howard Becker e Erving Goffman (Fine, 1995FINE, G. (org.). A second Chicago School? The development of a postwar American Sociology Chicago and London. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.).

A EC foi pioneira no estudo de temas como imigração, segregação socioespacial, desorganização social, criminalidade, relações raciais e trabalhadores intermitentes (hobos). Foi pioneira também em termos metodológicos, utilizando fontes como observação participante, entrevistas, histórias de vida e documentos pessoais (cartas, diários, autobiografias), nos quais se baseou o clássico estudo The polish peasant in Europe and America, de William Thomas e Florian Sznanieki, publicado em cinco volumes entre 1918 e 1920. Estatísticas também estavam presentes nos trabalhos dos pesquisadores, destacando-se a produção dos Local Community Facts, antecessores dos anuários estatísticos atuais (Valladares, 2005bVALLADARES, L. P. Louis-Joseph Lebret et les favelas de Rio de Janeiro (1957-1959): enquêter pour l'action. Genèses, Paris, v. 60, p. 31-56, 2005b.). Em sua segunda fase, a Escola de Chicago foi integrada por orientandos de professores da Primeira Escola de Chicago, destacando-se Howard Becker e Erwin Goffman, cujas pesquisas tiveram como foco principal os temas do desvio (Becker, 2008BECKER, H. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.), instituições totais (Goffman, 2019GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva, 2019.) e relações interpessoais (Goffman, 2014GOFFMAN, E. A representação do eu na vida cotidiana. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2014., 2011GOFFMAN, E. Ritual de interação: ensaios sobre o comportamento face a face. Petrópolis: Vozes, 2011.). Ambos tiveram como opção metodológica principal a observação participante, numa perspectiva microssociológica, sendo que Becker publicou várias obras sobre pesquisa qualitativa (Becker, 1993BECKER, H. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo: Hucitec, 1993., 2007BECKER, H. Segredos e truques da pesquisa. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.).5 5 Essas referências são das traduções das obras para o português, que mantiveram seus títulos originais, exceto o influente livro de Goffman, intitulado Asylams, que em português foi intitulado Manicômios, prisões e conventos.

Em 1999, durante encontro anual da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs), Lícia Valladares promoveu Mesa Redonda sobre Os impactos da Escola de Chicago no Brasil e na França,6 6 Participaram da mesa redonda Juarez Brandão Lopes, Mário Eufrásio, Gilberto Velho e Isaac Joseph. da qual resultou uma coletânea, onde a organizadora expõe a recepção, nos dois países, da EC (Valladares, 2005bVALLADARES, L. P. Louis-Joseph Lebret et les favelas de Rio de Janeiro (1957-1959): enquêter pour l'action. Genèses, Paris, v. 60, p. 31-56, 2005b.). No Brasil, a EC foi trazida por Donald Pierson, que fizera sua tese sobre relações raciais na Bahia sob a orientação de Park, e integrou o corpo docente da Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP) de São Paulo de 1939 a 1957. Pierson teve atuação profícua no ensino, na pesquisa e em publicações durante os 18 anos que passou na ELSP, tendo contribuído para a formação de destacados pesquisadores, como Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro e Oracy Nogueira (Corrêa, 1987CORRÊA, M. História da antropologia no Brasil (1930-1969). São Paulo: Vértice, 1987.). Entretanto o legado de Pierson mereceu pouca atenção em anos subsequentes, o mesmo tendo ocorrido com o conjunto de trabalhos da Escola de Chicago, o que tem se refletido na escassez de material bibliográfico disponível em português. É possível que a pouca aceitação das contribuições da EC no Brasil tenha sido decorrente do preconceito com relação às ciências sociais norte-americanas nas décadas de 1950 a 1970, quando o clima político era marcado por discussões sobre realidade brasileira, imperialismo e modo de produção capitalista. (Valladares, 2005bVALLADARES, L. P. Louis-Joseph Lebret et les favelas de Rio de Janeiro (1957-1959): enquêter pour l'action. Genèses, Paris, v. 60, p. 31-56, 2005b.; Velho, 2005VELHO, G. Reflexões sobre a Escola de Chicago. In: VALLADARES, L. P. (org.), A escola de Chicago: impacto de uma tradição no Brasil e na França. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. p. 53-68.). À época, as ciências sociais no Brasil sofriam forte influência da sociologia marxista francesa, sobretudo de Manuel Castells (1972CASTELLS, M. La question urbain. Paris: François Maspero, 1972.), que concebia os problemas urbanos como fruto de contradições que permeavam as relações entre o Estado e as classes sociais, dando lugar à emergência de um novo ator social, os movimentos sociais urbanos. A influência desse paradigma, contudo, não impediu que ocorresse nova recepção de Escola de Chicago no Brasil, nos anos 1970, promovida no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional do Rio de Janeiro por Gilberto Velho, que ministrava disciplinas e orientava trabalhos na perspectiva teórica e metodológica de Goffman e Becker, que participaram de seminários naquela instituição, da qual Becker foi professor visitante (Velho, 2011VELHO, G. Antropologia urbana: interdisciplinaridade e fronteiras do conhecimento. Mana, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 161-185, 2011.). Ele esteve presente, também, no Iuperj, a convite de Lícia Valladares, de quem ele se tornaria amigo e incentivador da pesquisa sobre Robert Park, que ela realizou nos arquivos da Universidade de Chicago, em 2008 (Valladares, 2010aVALLADARES, L. P. A Visita do Robert Park ao Brasil: o homem marginal e a Bahia como laboratório. Caderno CRH, Salvador, v. 23, p. 35-49, 2010a., 2018bVALLADARES, L. P. (org.). A sociologia urbana de Robert Park. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2018b.). Desse trabalho resultou um artigo sobre uma pouca conhecida visita de Robert Park ao Brasil, em 1937, para supervisionar o trabalho de seu orientando Donald Pierson (Valladares, 2010aVALLADARES, L. P. A Visita do Robert Park ao Brasil: o homem marginal e a Bahia como laboratório. Caderno CRH, Salvador, v. 23, p. 35-49, 2010a.), e uma coletânea de textos de Park, que ela organizou (Valladares, 2018bVALLADARES, L. P. (org.). A sociologia urbana de Robert Park. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2018b.), suprindo, assim, uma grande lacuna, já que não havia, até então, nenhum livro em português do sociólogo americano.

De volta à favela: o Urbandata e uma nova agenda de pesquisa

Um marco da contribuição de Lícia Valladares para registrar e difundir a produção na área de estudos urbanos foi a criação, no final dos anos 1980, do banco de dados Urbandata. Empresa arrojada, numa época anterior à disseminação de ferramentas de busca pela internet e à existência de bancos de dados bibliográficos, como o Google Scholar, a SciELO e o Scopus, presentes, hoje, no cotidiano dos pesquisadores. Para além das limitações operacionais, destaque-se a dificuldade de demarcar um campo heterogêneo e multidisciplinar, começando pela própria definição do que seria o urbano como objeto de pesquisa. Trata-se de um longo debate, que é frutífero quando se considera não a pesquisa sobre as cidades em si mesmas, mas “sobre o que as cidades revelam acerca da vida social” (Frehse; Leite, 2010FREHSE, F.; LEITE, R. P. Espaço urbano no Brasil. In: MARTINS, C. Horizontes das Ciências Sociais no Brasil: Sociologia. São Paulo: Anpocs, 2010. p. 203-254., p. 204). Donde a opção, no Urbandata, por agrupar os trabalhos por áreas disciplinares, tais como a sociologia, a antropologia, a geografia a história e o urbanismo, sem esquecer as áreas multidisciplinares, como planejamento urbano, patrimônio, meio ambiente, turismo e outras. Tal classificação envolveu intenso diálogo da equipe do Urbandata como especialistas de cada área, como Celso Lamparelli (urbanismo) e Pedro Geiger (geografia) (Pereira, [2022PEREIRA, M. Licia do Prado Valladares (1946-2021): a observação social como modo de vida. Espace et Societés, [s. l.], [2022?]. No prelo.?]). O banco de dados foi coordenado por Lícia Valladares até 2003, quando ela ingressou na Universidade Lille 1, na França. Dessa época até o início da década seguinte, a crise financeira pela qual passou o Iuperj repercutiu sobre o Urbandata, acarretando dificuldades operacionais e desatualização do acervo (Freire-Medeiros; Magalhães, 2019FREIRE-MEDEIROS, B.; MAGALHÃES, A. O urbano paulista em foco: sete décadas de reflexões produzidas no contexto da pós-graduação do Estado de São Paulo. In. CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA, 19., 2019, Florianópolis. Anais […]. Florianópolis: UFSC, 2019.).

Por volta de 2013, o Urbandata passou a ser vinculado à Fundação Getúlio Vargas, agora com a coordenação de Bianca Freire-Medeiros, ex-aluna de Lícia Valladares, e em 2015 foi transferido para a Universidade de São Paulo (USP), onde sua coordenadora ingressou como docente. Três anos depois, o Urbandata foi transferido para o Centro de Estudos da Metrópole (CEM), onde passou por ajustes operacionais que resultaram em um novo site (Universidade de São Paulo, [201-?])7 7 Disponível em: https://urbandatabrasil.fflch.usp.br/. Acesso em: 6 jun. 2022. divulgado em evento que homenageou sua fundadora (Evento…, 2019EVENTO “Celebrando Lícia Valladares” – Mesa 1: “Favelas, Periferias e Habitação”. [S. l.: s. n.], 2019a. 1 vídeo (84 min). Publicado pelo canal UrbanData-Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GcGf-BXvJ1Y. Acesso em: 11 jun. 2022.
https://www.youtube.com/watch?v=GcGf-BXv...
).

Desde sua criação no Iuperj, em fins da década de 1980, o Urbandata contribuiu para a consolidação do campo dos estudos urbanos no Brasil, registrando e divulgando a produção existente em universidades, centros de pesquisa e órgãos públicos ou privados, incluindo teses, dissertações, artigos, livros, relatórios técnicos e outros, inclusive não publicados, por vezes de difícil acesso. O acervo do banco de dados seria crucial para o rumo das investigações de Lícia Valladares sobre favelas; tanto é que um “mergulho” na produção catalogada sobre esse tema, no período de 1906 a 2000 (Valladares, 2000VALLADARES, L. P. A gênese da favela carioca: a produção anterior às Ciências Sociais. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 15, n.44, p. 5-34, 2000.; Valladares; Medeiros, 2003VALLADARES, L. P.; MEDEIROS, L. Pensando as favelas do Rio de Janeiro: 1906-2000; uma bibliografia analítica. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003.), indicou que o objeto de pesquisa não deveria ser as favelas em si, mas as representações sobre elas construídas em contextos socioeconômicos diversos, por aqueles que as estudaram ou que propuseram intervenções para resolver o que viam como “problema”. Em suma, cabia mudar o foco “da sociologia da favela à sócio-história dos pensadores da favela” (Valladares, 2005aVALLADARES, L. P. A invenção da favela. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005a., p. 21).

Coerente com sua postura epistemológica, a autora se contrapõe à tendência, comum entre os estudiosos do fenômeno, de fazer tabula rasa do conhecimento produzido sobre as favelas desde as primeiras décadas do século XX por médicos, jornalistas, engenheiros e assistentes sociais e sociólogos, os quais ela identifica no seu próprio trabalho de “escavação” de fontes bibliográficas, documentais, hemerográficas e iconográficas. Aliado a isso, ela retornou ao campo, ficando durante dez dias na Rocinha em 1997 (Valladares, 2005aVALLADARES, L. P. A invenção da favela. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005a.).

Os resultados da investigação foram apresentados em 2001 na Universidade Lumière-Lyon 2, na França, em forma de tese de Habilitation à diriger des recherches, um dos requisitos para ingressar no sistema universitário francês, o que ocorreu em 2003, na Université des Sciences et Technologies de Lille. A tese foi publicada como livro em português (Valladares, 2005aVALLADARES, L. P. A invenção da favela. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005a.), francês (Valladares, 2006VALLADARES, L. P. La favela d'un siècle à l'autre: mythe d'origine, discours scientifiques et représentations virtuelles. Paris: Éditions de la Maison des Sciences de l’Homme, 2006.) e inglês (Valladares, 2019VALLADARES, L. P. The invention of the favela. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2019.), sempre com revisões e, na edição em inglês, um prefácio da autora.

Não cabe, aqui, sintetizar o conteúdo da obra, o que já foi feito em resenhas (Cardoso, 2006CARDOSO, A. Metamorfoses da pobreza. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, n. 75, p. 213-217, jul. 2006.; Gondim, 2005GONDIM, L. M. P. A invenção da favela (Resenha). Caderno CRH, Salvador, v. 18, p. 485-488, 2005.; Telles, 2006TELLES, V. S. Favela, favelas: interrogando mitos, dogmas e representações. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 31, n. 62, p. 141-143, 2006.). Vale a pena, contudo, salientar as críticas ao que a socióloga chama de “dogmas”, concepções fundamentadas em evidências frágeis, estereotipadas e, com frequência, não explicitadas. Um deles é tomar as favelas como local típico de moradia dos pobres, visão equivocada, pois a pobreza pode ser encontrada em outros espaços, como conjuntos habitacionais, loteamentos irregulares e bairros periféricos. Outro dogma, que tampouco se sustenta, é a visão homogeneizadora das favelas, já que elas divergem quanto a tamanho, localização, disponibilidade de serviços e equipamentos urbanos etc. Quanto a estes, o exemplo da Rocinha é instrutivo: a localidade dispõe, hoje, de “rede de TV a cabo exclusiva, agências bancárias, vídeo locadoras, lojas de eletrodomésticos, clínicas particulares, laboratórios, escritórios de advocacia, agências imobiliárias” (Valladares, 2005aVALLADARES, L. P. A invenção da favela. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005a., p. 187). Um fato que contraria o estereótipo da favela como produtora apenas de violência, tráfico de drogas ou manifestações culturais peculiares (samba, rap, religiões afro-brasileiras) é a ascensão social de jovens favelados que obtêm diplomas universitários ou mesmo de pós-graduação – marcando a emergência de “doutores da favela” ao lado dos “doutores em favela” (Valladares, 2005aVALLADARES, L. P. A invenção da favela. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005a., 2010bVALLADARES, L. P. Educação e mobilidade social nas favelas do Rio de Janeiro: o caso dos universitários (graduandos e graduados) das favelas. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, [s. l.], v. 2, p. 153-172, 2010b.). Lícia Valladares ressalta a favela como realidade virtual (a edição francesa menciona a existência de 18 sítios sobre favelas na internet), bem como sua inclusão no circuito turístico (Exotic Tours, Favela Tour e outros), o que indica sua integração ao mundo globalizado, reforçada pelo fenômeno da musealização: em 2005, cria-se um museu a céu aberto no Morro da Providência, a primeira favela do Rio de Janeiro. Destaque-se, ainda na edição francesa, o acréscimo ou a expansão de temas mencionados en passant no texto em português: o tráfico de drogas e a disseminação da violência, que estão na base da representação da “favela como um campo de batalha”; e a explicitação de outros atores com interesses subjacentes à permanência dos “dogmas”, como as mídias e os promotores imobiliários (Valladares, 2006VALLADARES, L. P. La favela d'un siècle à l'autre: mythe d'origine, discours scientifiques et représentations virtuelles. Paris: Éditions de la Maison des Sciences de l’Homme, 2006., p. 171).

O profundo conhecimento de Lícia Valladares sobre favelas, proveniente de mais de 30 anos de experiência no campo e extenso conhecimento sobre a produção relativa ao tema, autorizaram a socióloga a afirmar que tal tema deveria sair da agenda dos estudos urbanos, como afirmou logo após o lançamento de A invenção da favela, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo: “deixem as favelas em paz. A quantidade de trabalhos [existentes] mostra que há muito material sobre o qual se pode trabalhar. O momento é de reflexão” (Sucursal do Rio, 2003SUCURSAL DO RIO. Tráfico limitou circulação, diz socióloga. Folha de S. Paulo, São Paulo, 25 maio 2003. Cotidiano. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2505200311.htm. Acesso em: 16 jul. 2022.
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). Há aí um exemplo instrutivo de temas que não deveriam ser pesquisados por já estarem esgotados, a menos que se proceda a sua revisão e seu aprofundamento. Essa tarefa tem sido facilitada pelas inúmeras bases de dados atualmente existentes, mas não custa lembrar a iniciativa visionária de Lícia Valladares ao criar o Urbandata no final dos anos 1980, ferramenta que ainda hoje se mantém, com os devidos ajustes, para o registro e a difusão da produção científica em todas as subáreas dos estudos urbanos, em universidades, centros de pesquisa, bibliotecas, órgãos públicos ou privados, incluindo monografias, dissertações, teses, artigos, livros, relatórios e outras produções técnicas, inclusive não publicadas e, por vezes, de difícil acesso.

CRIANDO REDES, FORJANDO ELOS

A institucionalização e internacionalização dos estudos urbanos

A contribuição de Lícia Valladares para o campo dos estudos urbanos vai além de aportes temáticos, registros e difusão de pesquisas, pois teve efeitos para a institucionalização daquele campo. Nesse sentido, ela contribuiu para a consolidação de programas de pós-graduação, a exemplo de sua participação no Mestrado em Sociologia do Iuperj, o primeiro a ser criado no Rio de Janeiro, e do seu apoio à inserção em redes internacionais de pesquisa de programas de pós-graduação que, à época, não estavam consolidados, como foi o caso da entrada do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) em um dos acordos Capes-Cofecub (janeiro 1998 a fevereiro de 2002), do qual Lícia Valladares esteve à frente pelo lado brasileiro (Santana, 2019SANTANA, G. C. A. A sociologia da favela no rio de janeiro: círculos e configurações sociais a partir de Lícia do Prado Valladares. 2019. Tese (Doutorado em Sociologia Política) – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Rio de Janeiro, 2019.). Ela também teve atuação importante em fóruns de programas de pesquisa e pós-graduação, como a Associação dos Programas de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs) e Associação dos Programas de Pesquisa e Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional (Anpur). Tratava-se de uma profissional que “acreditava nas ações institucionais e trabalhava a partir delas e com elas” (Pereira, [2022PEREIRA, M. Licia do Prado Valladares (1946-2021): a observação social como modo de vida. Espace et Societés, [s. l.], [2022?]. No prelo.?] no prelo).

O protagonismo de Lícia Valladares para a internacionalização dos estudos urbanos se revelou quando ela, ainda doutoranda, participou, como assistente de Ruth Glass, de um congresso da International Sociological Association (ISA), realizado em Grenoble, França, onde estavam presentes membros do recém-criado Reseach Committee 21 (RC21), em sua maioria europeus, notadamente franceses e ingleses. Ao longo de sua carreira acadêmica, Lícia Valladares atuou no sentido de fomentar a participação de brasileiros e outros latino-americanos nos congressos e na diretoria da ISA, incentivando-os, também, a publicar no periódico International Journal of Urban Research, tendo ela própria publicado um artigo dois anos antes de ingressar definitivamente na carreira acadêmica, no Iuperj (Valladares, 1978VALLADARES, L. P. Working the system: squatter responses to resettlement in Rio de Janeiro. International Journal of Urban and Regional Research, Londres, v. 2, n. 1, p. 12-25, 1978.).

Na década de 1990, cresceu a visibilidade de Lícia Valladares como referência na área de estudos urbanos, dentro e fora do Brasil, expressa em convites para participar do quadro docente de diversas universidades, como conferencista ou professora visitante: Institut Français d'Urbanisme da Université de Paris 8 (1996), Institut Universitaire d’Études du Développement (1997), Institut d'Urbanisme de Paris da Université de Paris 12 (1998-2001) e Université de Paris X-Naterre (2001) (Pereira, [2022PEREIRA, M. Licia do Prado Valladares (1946-2021): a observação social como modo de vida. Espace et Societés, [s. l.], [2022?]. No prelo.?] no prelo). Licia Valladares seria recebida, mais recentemente, como pesquisadora convidada também de universidades dos Estados Unidos, como a The Texas University, em Austin (2008), e a Brown University (2012). Vale citar, ainda, a participação da socióloga como consultora em instituições internacionais, como a Fundação Ford e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Uma pedagogia para a formação de pesquisadores

Para além de vínculos institucionais, os que conheceram Lícia Valladares testemunham sua generosidade em compartilhar seus conhecimentos, sua experiência, sua biblioteca. Em suas residências, no Rio de Janeiro e em Paris, recebia todos os que a buscavam como orientadora, colaboradora e sujeito de pesquisa, não se furtando de conceder longas entrevistas para aqueles ou aquelas que se propunham a estudar sua obra (Santana, 2019SANTANA, G. C. A. A sociologia da favela no rio de janeiro: círculos e configurações sociais a partir de Lícia do Prado Valladares. 2019. Tese (Doutorado em Sociologia Política) – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Rio de Janeiro, 2019.).

Na reconstituição de trajetórias, a colaboração entre pares tem sido realçada com frequência, bem como a influência que os autores ou autoras receberam de seus predecessores. O mesmo não ocorre quando se trata da relação de um autor ou autora com quem foi formado por ela – seus sucessores ou continuadores. No caso de Lícia Valladares, entretanto, foi diferente. Ela aglutinava grupos e redes de pesquisa, ao mesmo tempo em que criava vínculos afetivos com seus pares e seus alunos e alunas – aspecto que os registros acadêmicos costumam subestimar, quando não ignorar, malgrado sua importância para o êxito de acordos e convênios de cooperação técnica. Desdenhar os laços afetivos interpessoais e “esconder” afinidades eletivas, sempre presentes no trabalho científico, por natureza colaborativo, indica uma estreita visão positivista da ciência, tanto mais perniciosa quando se trata de pesquisas com – e não sobre – seres humanos. Felizmente, para o êxito do processo de demarcação do campo dos estudos urbanos, a trajetória de Lícia Valladares mostrou que o reconhecimento dos afetos tem muito a dizer para o trabalho intelectual.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O percurso intelectual de Lícia Valladares evidencia uma expansão do foco substantivo de seu trabalho, articulada a interesses metodológicos. De início, os temas foram a favela e a política habitacional, tendo como locus a Rocinha e a Cidade de Deus. Seguiram-se temas mais amplos, como políticas habitacionais em perspectiva comparativa, a questão urbana associada ao estudo de movimentos sociais e as representações sobre pobreza. Lícia Valladares também pesquisou temas mais específicos, como infância e juventude, que seria retomado anos mais tarde, com a pesquisa sobre os universitários da favela (Valladares, 2010bVALLADARES, L. P. Educação e mobilidade social nas favelas do Rio de Janeiro: o caso dos universitários (graduandos e graduados) das favelas. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, [s. l.], v. 2, p. 153-172, 2010b.). A socióloga foi pioneira no trabalho de registrar e divulgar a produção acadêmica e técnica na área dos estudos urbanos, por meio do Urbandata. A partir das informações catalogadas, ela produziu, sozinha ou com colaboradores, balanços sobre a pesquisa urbana na América Latina e no Brasil, bem como levantamentos sobre favelas no Rio de Janeiro. O Urbandata serviu de base, também, para uma revisão aprofundada da produção sociológica brasileira sobre o espaço urbano, publicada em data mais recente (Frehse; Leite, 2010FREHSE, F.; LEITE, R. P. Espaço urbano no Brasil. In: MARTINS, C. Horizontes das Ciências Sociais no Brasil: Sociologia. São Paulo: Anpocs, 2010. p. 203-254.).

A partir de 1999, Lícia Valladares se debruçou sobre as ideias e os métodos da Escola de Sociologia de Chicago e sua circulação no Brasil e na França, contribuindo, assim, para um proveitoso diálogo entre as sociologias brasileira, francesa e norte-americana. O interesse da socióloga pela história e circulação de ideias tem seu ápice em A invenção da favela (Valladares, 2005aVALLADARES, L. P. A invenção da favela. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005a.).

A trajetória de Lícia Valladares revela diferentes facetas do campo da sociologia e dos estudos urbanos no Brasil, os quais incluem temas de natureza micro e macro, que permanecem relevantes e atuais. Contribuiu, assim, para a delimitação de um campo perpassado por diferentes disciplinas, cujos limites são menos importantes do que as convergências. Outra lição que sobressai na trajetória de Lícia Valladares são os vínculos afetivos que ela desenvolveu ao longo da formação de redes transnacionais de pesquisadores, vínculos estes que se revelavam na generosidade com que a socióloga acolhia as novas gerações, que ela ajudou a formar. Este legado está presente em todos os testemunhos feitos nos eventos que homenagearam Lícia Valladares e permanecerá no futuro da sociologia e dos estudos urbanos.

  • 1
    Lícia do Prado Valladares nasceu em 19 janeiro de 1946, em Salvador (BA), mas fez sua carreira acadêmica no Rio de Janeiro e na França. Faleceu em 28 de novembro de 2021.
  • 2
    Outras informações sobre a trajetória de Lícia Valladares podem ser conferidas em: Cunha et al. (2018CUNHA, J. B. et al. Encontros com Lícia do Prado Valladares: biografia, trajetória acadêmica e reflexões sobre o seu trabalho de campo na Rocinha em 1967-1968. Antropolítica, Niterói, v. 44, p. 282-313, 1º sem. 2018.); Freire-Medeiros (2022FREIRE-MEDEIROS, B. Bionotas: Lícia Valladares. Sociedade Brasileira de Sociologia, Porto Alegre, [2022]. Disponível em: https://www.sbsociologia.com.br/project/licia-do-prado-valladares/. Acesso em: 9 jul. 2022.
    https://www.sbsociologia.com.br/project/...
    ); Freire, Oliveira e Valladares (2008FREIRE, A. et al. Entrevista concedida em 26 de janeiro de 2004. In: FREIRE, A.; OLIVEIRA, L. L. (org.). Novas memórias do urbanismo carioca. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008. p. 155-187.); Pereira (2022PEREIRA, M. Licia do Prado Valladares (1946-2021): a observação social como modo de vida. Espace et Societés, [s. l.], [2022?]. No prelo.); Santana (2019SANTANA, G. C. A. A sociologia da favela no rio de janeiro: círculos e configurações sociais a partir de Lícia do Prado Valladares. 2019. Tese (Doutorado em Sociologia Política) – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Rio de Janeiro, 2019.); e Valladares (2005aVALLADARES, L. P. A invenção da favela. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005a.). além das transcrições de depoimentos em eventos em homenagem à socióloga (EVENTO…, 2019aEVENTO “Celebrando Lícia Valladares” – Mesa 1: “Favelas, Periferias e Habitação”. [S. l.: s. n.], 2019a. 1 vídeo (84 min). Publicado pelo canal UrbanData-Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GcGf-BXvJ1Y. Acesso em: 11 jun. 2022.
    https://www.youtube.com/watch?v=GcGf-BXv...
    , 2019bEVENTO “Celebrando Lícia Valladares” – Mesa 2: “UrbanData-Brasil/CEM”. [S. l.: s. n.], 2019b. 1 vídeo (154 min). Publicado pelo canal UrbanData-Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3jxnYUtRa2M. Acesso em:14 jun. 2022.
    https://www.youtube.com/watch?v=3jxnYUtR...
    , 2019cEVENTO “Celebrando Lícia Valladares” – Mesa 3: “Redes e Interacionalização”. [S. l.: s. n.], 2019c. 1 vídeo (106 min). Publicado pelo canal UrbanData-Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6eoqHdFcNgM. Acesso em: 24 abr. 2022.
    https://www.youtube.com/watch?v=6eoqHdFc...
    ) e das entrevistas realizadas pela Autora em 2017 e 2018, no âmbito de pesquisa apoiada pelo CNPq.
  • 3
    Após a fusão dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, em 1975, a COHAB-GB passou a ser denominada CEHAB-RJ.
  • 4
    Antes, Lícia Valladares teve outras experiências profissionais (Freire et al. 2008FREIRE, A. et al. Entrevista concedida em 26 de janeiro de 2004. In: FREIRE, A.; OLIVEIRA, L. L. (org.). Novas memórias do urbanismo carioca. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008. p. 155-187.; Freire-Medeiros, 2022FREIRE-MEDEIROS, B. Bionotas: Lícia Valladares. Sociedade Brasileira de Sociologia, Porto Alegre, [2022]. Disponível em: https://www.sbsociologia.com.br/project/licia-do-prado-valladares/. Acesso em: 9 jul. 2022.
    https://www.sbsociologia.com.br/project/...
    ). Contudo seu ingresso no Iuperj foi o ponto mais importante de sua carreira, ao lado da Universidade de Lille, onde ingressaria em 2011.
  • 5
    Essas referências são das traduções das obras para o português, que mantiveram seus títulos originais, exceto o influente livro de Goffman, intitulado Asylams, que em português foi intitulado Manicômios, prisões e conventos.
  • 6
    Participaram da mesa redonda Juarez Brandão Lopes, Mário Eufrásio, Gilberto Velho e Isaac Joseph.
  • 7
    Disponível em: https://urbandatabrasil.fflch.usp.br/. Acesso em: 6 jun. 2022.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    21 Jul 2022
  • Aceito
    15 Ago 2022
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