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Construções concessivas intensivas com ‘por mais que’: uma abordagem discursivo-funcional

Concessive constructions with ‘por mais que’: a functional-discourse approach

RESUMO

Amparado nos pressupostos teórico-metodológicos do modelo da Gramática Discursivo-Funcional (doravante GDF), de Hengeveld e Mackenzie (2008)Hengeveld, K., & Mackenzie, M. (2008). Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press. http://dx.doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001
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, este artigo propõe uma descrição de construções concessivas intensivas articuladas pela conjunção por mais que. Com base em ocorrências de uso do português contemporâneo, extraídas do Corpus do Português (Davies & Ferreira, 2016Davies, M., & Ferreira, M. (2016). Corpus do Português: 45 millionwords, 1300s-1900s. Disponível online em http://www.corpusdoportugues.org.
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), esta investigação se desenvolve a partir de dois objetivos específicos: (i) precisar o estatuto de por mais que tendo em vista o conjunto de trabalhos que, à luz da GDF, tem discutido o estatuto lexical e/ou gramatical de conjunções adverbiais; e (ii) mapear, com base nos níveis e nas camadas que estruturam a GDF, a natureza da(s) relação(ões) concessiva(s) instaurada(s) na articulação entre orações por meio de por mais que. Os resultados aqui apresentados revelam que por mais que é uma Conjunção Lexical, analisada, no Nível Representacional, como uma Propriedade Configuracional de um-lugar, e que articula três tipos de relações concessivas: concessivas factuais, concessivo-condicionais e concessivas restritivas.

Palavras-chave:
concessão; conjunção; conjunção lexical

ABSTRACT

Following Functional Discourse Grammar model principles (Hengeveld & Mackenzie, 2008Hengeveld, K., & Mackenzie, M. (2008). Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press. http://dx.doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001
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), this paper describes concessive constructions with the conjunction por mais que. Using contemporary Portuguese data, from Corpus do Português (Davies & Ferreira, 2016Davies, M., & Ferreira, M. (2016). Corpus do Português: 45 millionwords, 1300s-1900s. Disponível online em http://www.corpusdoportugues.org.
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), this investigation pursues two specific objectives: (i) determining the status of por mais que considering a set of FDG proposals concerning the lexical/grammatical status of adverbial conjunctions; and (ii) mapping, based on FDG levels and layer, the different concessive relations signaled by this conjunction in articulating clauses. It is argued that por mais que is a Lexical Conjunction, analyzed, at Representational Level, as a one-place Configurational Property, and that it articulates three types of concessive relations: factual concessive, conditional-concessive and restrictive concessive.

Keywords:
concession; conjunction; lexical conjunction

1. Introdução

Ao tratar de conjunções concessivas, como o faz este artigo, é importante reconhecer, com base em König (1985aKönig, E. (1985a). On the history of concessive connectives in English, diachronic and synchronic evidence. Lingua, 66 (1), 1-19. https://doi.org/10.1016/S0024-3841(85)90240-2
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; 1985bKönig, E. (1985b). Where do concessives come from? On the development of concessive connectives. In J. Fisiak (Ed.). Historical semantics. Historical Word-formation (pp. 263-282). New York: Mounton de Gruyter. ; 1986König, E. (1986). Conditionals, concessive conditionals and concessives: areas of contrast, overlap and neutralization. In E. C. Traugott, A. Ter Meulen, J. S. Reilly & C. A. Ferguson (Eds.). On conditionals (pp. 229-246). Cambridge: Cambridge University Press. ), duas de suas particularidades, em comparação a outras classes de conjunções. A primeira diz respeito a sua etimologia e composição: conjunções concessivas são normalmente complexas, formadas pela combinação de itens já disponíveis na língua, de maneira que seus componentes, além de serem relacionados a outro(s) significado(s), podem ser identificados em sua forma e em seu significado. A segunda toca sua emergência na história das línguas, geralmente tardia e fruto de processos de mudança linguística, envolvendo reanálise e fixação de estruturas sintagmáticas e/ou perifrásticas.

Isso se aplica à classe de conjunções concessivas do português, que abriga desde a conjunção prototípica embora, cuja constituição estrutural mais fixada escamoteia sua composição complexa (a partir da reanálise estrutural e da redução fonológica do sintagma em boa hora), até conjunções que mantêm mais transparentemente a base de sua formação, como ainda que, mesmo que, a pesar de que, por mais que, etc. Este trabalho recorta, como objeto de estudo, a conjunção concessiva por mais que e oferece uma descrição, pautada nos princípios da Gramática Discursivo-Funcional (doravante GDF), de Hengeveld e Mackenzie (2008Hengeveld, K., & Mackenzie, M. (2008). Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press. http://dx.doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001
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), de construções concessivas articuladas por essa conjunção, exemplificas em (1).

(1) A sede continuava a dominá-lo. Por mais que desviasse a atenção, sentia a língua seca, a garganta ardendo. (19:Fic:Br:Louzeiro:Pixote)

Estruturas como (1) são comumente tratadas como construções concessivas intensivas (vd. Bechara, 2001Bechara, E. (2001). Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna.; Rosario, 2014Rosario, I. da C. (2014). Mesoconstruções concessivas intensivas de base adjetival. Revista Prolíngua, 9 (2), 78-86.; Garcia & Amorim, 2017Garcia, T. S., & Amorim, C. R. (2017). Estruturas concessivas intensivas no espanhol falado: um olhar discursivo-funcional. Entretextos (UEL), 17, 37-60. https://doi.org/10.5433/1519-5392.2017v17n1p37
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), em que, além do significado concessivo, instaura-se um matiz semântico de intensidade, de quantificação em grau superior. A concessão, em (1), não envolve o simples cotejo de dois fatos incompatíveis entre si, mas reside na asseveração de se sentir a língua seca, a garganta ardendo independentemente da intensidade com que se desenvolve o evento de desviar a atenção.

Esses dois significados (concessão e quantificação/intensidade) implicados no uso de por mais que gera um desafio para a abordagem da GDF. Conforme esse modelo, o significado concessivo de uma construção como (2), articulada pela conjunção embora, mapeia-se, no Nível Representacional, a partir da atribuição da função semântica Concessão (Conc) ao Conteúdo Proposicional concessivo (pj). Esse tipo de representação, entretanto, não é capaz de especificar adequadamente o valor quantificacional/intensivo pareado à construção concessiva com por mais que. Assim, a pergunta central que aqui se faz é: quais meios e/ou mecanismos são oferecidos pela GDF para abordar a associação entre esses dois significados (concessão e quantificação) subjacentes ao uso de por mais que?

(2) Embora a linguagem seja bem poética, o livro é bastante trágico. (19Or:Br:Intrv:Ta)

(pi: - o livro é bastante trágico - (pi): (pj: - a linguagem seja bem poética - (pj)Conc) (pi))

Dois objetivos guiam, então, esta investigação. O primeiro busca precisar o estatuto de por mais que tendo em vista a discussão que se tem feito em torno ao estatuto lexical e/ou gramatical de conjunções (vd. Hengeveld & Wanders, 2007Hengeveld, K., & Wanders, G. (2007). Adverbial conjunctions in Functional Discourse Grammar. In M. Hannay & G. Steen (Eds.). Structural-functional studies in English grammar: In honor of Lachlan Mackenzie (pp. 211-227). Amsterdam: Benjamins. ; Pérez Quintero, 2006Pérez Quintero, M. J. (2006). On the Lexical/Grammatical Status of Adverbial Conjunctions in FDG. In J. I. Oliva, M. Mcmahon & M. Brito (Eds.). On the Matter of Words: In Honor of Lourdes Divasson Cilveti (pp. 329-339). La Laguna: Servicio de Publicaciones.; 2013Pérez Quintero, M. J. (2013). Grammaticalization vs. Lexicalization: the Functional Discourse Grammar view. Revista Canaria de Estudios Ingleses, 67, 97-121.; Oliveira, 2008Oliveira, T. P. (2008). Conjunções e orações condicionais no português do Brasil [Tese de doutorado em Linguística e Língua Portuguesa]. Universidade Estadual Paulista.; 2012Oliveira, T. P. (2012). As conjunções condicionais na Gramática Discursivo-Funcional. In E. R. F. Souza (Org.). Funcionalismo linguístico: análise e descrição (pp. 119-146). São Paulo: Contexto.; 2014Oliveira, T. P. (2014). Conjunções adverbiais no português. Revista de Estudos da Linguagem, 22, 45-66. http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.22.1.45-66
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). A hipótese é a de que por mais que pode ser tratada como Conjunção Lexical.

O segundo objetivo está em mapear, com base nos níveis e nas camadas que estruturam o modelo da GDF, a natureza da(s) relação(ões) concessiva(s) instaurada(s) na articulação entre orações por meio de por mais que. Precisamente, a ideia é entender de que modo a defesa do estatuto lexical da conjunção sob estudo interfere na descrição e na formalização das mais diversas relações concessivas articuladas por essa conjunção.

Para tanto, recorre-se, enquanto material de análise, a ocorrências de uso de por mais que extraídas do banco de dados do Corpus do Português (Davies & Ferreira, 2016Davies, M., & Ferreira, M. (2016). Corpus do Português: 45 millionwords, 1300s-1900s. Disponível online em http://www.corpusdoportugues.org.
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), em suas versões histórico/gênero e web/dialetos, centrando-se em dados do português contemporâneo (séculos XX e XXI).3 3 Disponível online em <www.corpusdoportugues.org> Este texto se estrutura em duas grandes seções. A primeira apresenta os fundamentos teórico-metodológicos que embasam a investigação, e a segunda seção traz a proposta de análise em torno à conjunção por mais que e às construções concessivas por ela articuladas. As considerações finais encerram o artigo com uma síntese dos principais resultados apresentados.

2. Fundamentos teórico-metodológicos

O primeiro ponto a se desenvolver, nesta seção, é uma apresentação dos princípios mais gerais que arquitetam o modelo teórico-metodológico que fundamenta a análise a ser apresentada, no caso a GDF.

A Gramática Discursivo-Funcional

A GDF é “um modelo de intenções e conceitualizações codificadas” (Hengeveld, 2004Hengeveld, K. (2004). Epilogue. In J. L. Mackenzie & N. de los A. Gómez-González (Eds.). A new architecture for Functional Grammar (pp. 365-378). Berlin/ New Cork: Mouton de Gruyter. , p. 366), isto é, um modelo que busca descrever, sob perspectiva funcionalista, fatos gramaticalmente codificados nas línguas em geral. Enquanto Componente Gramatical de uma teoria mais geral da interação verbal, a GDF apresenta uma arquitetura descendente (top-down), em que aspectos pragmáticos e semânticos de uma expressão linguística determinam (ou restringem) sua realização formal, em termos morfossintáticos e/ou fonológicos.

Hengeveld e Mackenzie (2008Hengeveld, K., & Mackenzie, M. (2008). Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press. http://dx.doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001
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) arquitetam a GDF a partir do reconhecimento de quatro níveis de análise (Interpessoal, Representacional, Morfossintático e Fonológico), e cada um desses níveis se organiza, internamente, em camadas hierarquicamente ordenadas. Em (3), dispõe-se uma formalização geral das camadas que compõem os níveis da GDF.

(3) (π v1: [núcleo (v1)Ф]: [σ (v1)Ф])

A variável v1 representa a camada relevante para descrição linguística. Os níveis e as camadas da GDF contam com um conjunto de primitivos, blocos construtores combinados conforme as regras de formulação e de codificação da língua. Assim, v1 pode ser restringida por primitivos de natureza lexical, como um núcleo ou um modificador (σ), ou pode ser especificada por primitivos de natureza gramatical, como um operador (π) ou uma função (Φ). Modificadores (σ) são estratégias lexicais empregadas pelo falante para restringir a denotação ou a evocação de uma camada, já operadores (π) correspondem a expressões gramaticais que especificam o conteúdo designado ou evocado por uma camada, e, por fim, funções (Φ) equivalem a estratégias altamente gramaticais que vinculam e/ou relacionam (semântica ou pragmaticamente) unidades linguísticas de mesmo estatuto.

Para a formulação de uma expressão linguística, contribuem os níveis Interpessoal e Representacional: enquanto o Nível Interpessoal abriga as ações estratégicas (retóricas e/ou pragmáticas) acionadas pelo falante ao formular sua mensagem, tendo em vista a atenção dispensada ao ouvinte, o Nível Representacional captura estratégias semânticas que envolvem a designação de entidades do mundo extralinguístico.

As camadas que estruturam o Nível Interpessoal estão dispostas em (4): o Movimento (M), camada mais alta, contém um (ou mais) Ato Discursivo (A); o Ato pode ser constituído de uma Ilocução (F), dos Participantes (P) - Falante ((P1)S) e Ouvinte ((P2)A) - e de um Conteúdo Comunicado (C), que, por sua vez, contém Subatos de Referência (R) e/ou de Atribuição (T).

(4) ( M 1 : [ ( A 1 : [ ( F 1 ) ( P 1 ) S ( P 2 ) A ( C 1 : [ ( T 1 ) Ф ( R 1 ) Ф ] ( C 1 ) Ф ) ] ( A 1 ) Ф ) ] ( M 1 ) )

Já o Nível Representacional se organiza como em (5): o Conteúdo Proposicional (p) designa qualquer construto mental do falante; o Episódio é um conjunto de Estados-de-Coisas tematicamente coerentes, apresentando unidade de Tempo (t), Locação (l) e Indivíduos (x); o Estado-de-Coisas € descreve eventos e/ou estados localizáveis no tempo e no espaço.

(5) ( p 1 : [ ( e p 1 : [ ( e 1 : [ ( f c 1 : [ ( f 1 ) n ( x 1 ) Ф . . . ( x 1 + n ) Ф ] ( f c 1 ) ) ] ( e 1 ) ) ] ( e p 1 ) ) ] ( p 1 ) )

Um Estado-de-Coisas pode ser estruturado em termos de uma Propriedade Configuracional (fc), que corresponde aos esquemas de predicação de uma língua. Na GDF, a predicação envolve uma relação entre um predicado (verbal, adjetival ou adverbial) e seu(s) argumento(s), ao(s) quais se atribuem funções semânticas (como Ator, Inativo, Locativo e Referência). Além disso, esse núcleo pode conter Propriedades Lexicais (f), ou Lexemas, que fornecem as informações descritivas necessárias para se designar as entidades e podem ser nominais (como casa), verbais (como comprar), adjetivais (como esperto) e/ou adverbiais (como rápido).

As informações advindas dos níveis Interpessoal e Representacional são processadas pela operação de codificação nos níveis Morfossintático e Fonológico. O Nível Morfossintático estrutura tais informações em termos de unidades morfossintáticas como (6): Expressão Linguística (El), Oração (Cl), Sintagma (Xp), que pode ser Nominal (Np), Adjetival (Adjp), Verbal (Vp) ou Adverbial (Advp), e/ou Palavra (Xw), que pode ser Lexical (Lw) ou Gramatical (Gw). O Nível Fonológico, por fim, encarrega-se de oferecer representações fonêmicas baseadas em oposições fonológicas binárias.

(6) ( E l 1 : [ C l 1 : [ ( X w ) ( X p 1 : [ ( X w ) ( X p 2 ) ( C l 2 ) ] ( X p 1 ) ) ( C l 3 ) ] ( C l 1 ) ) ] ( E l 1 ) )

A partir dessa visão geral do modelo da GDF, faz-se necessário traçar duas importantes discussões que embasam a análise: (i) o modo como a GDF tem tratado a classe das conjunções adverbiais, e (ii) o modo como o modelo permite descrever e representar diferentes tipos de relações concessivas.

O estatuto lexical e/ou gramatical das conjunções adverbiais

A GDF distingue Conjunções Gramaticais e Conjunções Lexicais, e essa proposta parte essencialmente do trabalho de Hengeveld e Wanders (2007Hengeveld, K., & Wanders, G. (2007). Adverbial conjunctions in Functional Discourse Grammar. In M. Hannay & G. Steen (Eds.). Structural-functional studies in English grammar: In honor of Lachlan Mackenzie (pp. 211-227). Amsterdam: Benjamins. ), que classificam as conjunções adverbiais do inglês com base em dois parâmetros: composição, que pode ser simples (como until) ou complexa (como in the event that), e estatuto, que pode ser lexical (como before) ou gramatical (como in case). Para distinguir Conjunções Gramaticais e Lexicais, os autores se valem de dois critérios de ordem formal: a possibilidade de modificação e a possibilidade de combinação entre conjunções.

Em relação à modificabilidade, pontuam os autores que somente Conjunções Lexicais podem ser modificadas por outros elementos lexicais (como advérbios). Em (7), as conjunções before e in the event that são suscetíveis de modificação e, assim, são Conjunções Lexicais; until e in case, por outro lado, não podem ser modificadas, o que as caracteriza como Conjunções Gramaticais.

(7) a She called him three hours before she left.

b *She stayed home three hours until the meeting began.

c In the unlikely event that smallpox were introduced into Australia, it would be rapidly controlled.

d*I’ll bring him some water in unlikely case he gets thirsty.

(Hengeveld & Wanders, 2007Hengeveld, K., & Wanders, G. (2007). Adverbial conjunctions in Functional Discourse Grammar. In M. Hannay & G. Steen (Eds.). Structural-functional studies in English grammar: In honor of Lachlan Mackenzie (pp. 211-227). Amsterdam: Benjamins. , p. 214)

Já quanto à combinatória entre conjunções, Hengeveld e Wanders (2007Hengeveld, K., & Wanders, G. (2007). Adverbial conjunctions in Functional Discourse Grammar. In M. Hannay & G. Steen (Eds.). Structural-functional studies in English grammar: In honor of Lachlan Mackenzie (pp. 211-227). Amsterdam: Benjamins. ) assinalam que só se combinam conjunções de estatutos distintos (não se pode, por exemplo, combinar duas conjunções gramaticais), permitindo-se unicamente a ordem conjunção gramatical-conjunção lexical, como em (8): until three hours after consiste na descrição complexa de um ponto temporal, e until determina a porção temporal dispensada até tal ponto; uma combinação inversa (vd. (8b)) não é possível.

(8) a She stayed until three hours after she left.

b *She stayed after three hours until she left.

(Hengeveld & Wanders, 2007Hengeveld, K., & Wanders, G. (2007). Adverbial conjunctions in Functional Discourse Grammar. In M. Hannay & G. Steen (Eds.). Structural-functional studies in English grammar: In honor of Lachlan Mackenzie (pp. 211-227). Amsterdam: Benjamins. , p. 215)

Uma série de críticas (vd. Pérez Quintero, 2006Pérez Quintero, M. J. (2006). On the Lexical/Grammatical Status of Adverbial Conjunctions in FDG. In J. I. Oliva, M. Mcmahon & M. Brito (Eds.). On the Matter of Words: In Honor of Lourdes Divasson Cilveti (pp. 329-339). La Laguna: Servicio de Publicaciones.; 2013Pérez Quintero, M. J. (2013). Grammaticalization vs. Lexicalization: the Functional Discourse Grammar view. Revista Canaria de Estudios Ingleses, 67, 97-121.; Oliveira, 2008Oliveira, T. P. (2008). Conjunções e orações condicionais no português do Brasil [Tese de doutorado em Linguística e Língua Portuguesa]. Universidade Estadual Paulista.; 2012Oliveira, T. P. (2012). As conjunções condicionais na Gramática Discursivo-Funcional. In E. R. F. Souza (Org.). Funcionalismo linguístico: análise e descrição (pp. 119-146). São Paulo: Contexto.) são feitas à proposta de Hengeveld e Wanders (2007Hengeveld, K., & Wanders, G. (2007). Adverbial conjunctions in Functional Discourse Grammar. In M. Hannay & G. Steen (Eds.). Structural-functional studies in English grammar: In honor of Lachlan Mackenzie (pp. 211-227). Amsterdam: Benjamins. ). No geral, além do caráter exclusivamente formal desses parâmetros, é apontada sua restrita aplicabilidade: Hengeveld e Wanders (2007)Hengeveld, K., & Wanders, G. (2007). Adverbial conjunctions in Functional Discourse Grammar. In M. Hannay & G. Steen (Eds.). Structural-functional studies in English grammar: In honor of Lachlan Mackenzie (pp. 211-227). Amsterdam: Benjamins. reconhecem que o critério de combinação se aplica apenas à classe de conjunções temporais, e, conforme Pérez Quintero (2006Pérez Quintero, M. J. (2006). On the Lexical/Grammatical Status of Adverbial Conjunctions in FDG. In J. I. Oliva, M. Mcmahon & M. Brito (Eds.). On the Matter of Words: In Honor of Lourdes Divasson Cilveti (pp. 329-339). La Laguna: Servicio de Publicaciones.; 2013Pérez Quintero, M. J. (2013). Grammaticalization vs. Lexicalization: the Functional Discourse Grammar view. Revista Canaria de Estudios Ingleses, 67, 97-121.), conjunções temporais são mais facilmente modificáveis que outros tipos de conjunções. Essas críticas demonstram, então, a fragilidade desses dois critérios para operacionalizar a distinção entre Conjunções Lexicais e Gramaticais (Oliveira, 2008Oliveira, T. P. (2008). Conjunções e orações condicionais no português do Brasil [Tese de doutorado em Linguística e Língua Portuguesa]. Universidade Estadual Paulista.; 2012Oliveira, T. P. (2012). As conjunções condicionais na Gramática Discursivo-Funcional. In E. R. F. Souza (Org.). Funcionalismo linguístico: análise e descrição (pp. 119-146). São Paulo: Contexto.).

Oliveira (2008Oliveira, T. P. (2008). Conjunções e orações condicionais no português do Brasil [Tese de doutorado em Linguística e Língua Portuguesa]. Universidade Estadual Paulista.; 2012Oliveira, T. P. (2012). As conjunções condicionais na Gramática Discursivo-Funcional. In E. R. F. Souza (Org.). Funcionalismo linguístico: análise e descrição (pp. 119-146). São Paulo: Contexto.) analisa as conjunções condicionais no português em dois grupos: (i) um com a conjunção lexicamente vazia se, e (ii) outro formado por conjunções dotadas de significado lexical, como caso, a menos que, desde que, dado que, a não ser que, só se, etc. Para analisar o estatuto léxico-gramatical dessas conjunções, a autora se pauta numa série de critérios de ordem formal e semântico-pragmática, dispostos no Quadro 1.

Quadro 1
Conjunções lexicais vs. Conjunções gramaticais

Com base nesse conjunto de trabalhos, dois posicionamentos devem aqui ser estabelecidos. O primeiro diz respeito ao modo como se considera a classe de conjunções concessivas do português, que, seguindo a proposta de Oliveira (2008Oliveira, T. P. (2008). Conjunções e orações condicionais no português do Brasil [Tese de doutorado em Linguística e Língua Portuguesa]. Universidade Estadual Paulista.; 2012Oliveira, T. P. (2012). As conjunções condicionais na Gramática Discursivo-Funcional. In E. R. F. Souza (Org.). Funcionalismo linguístico: análise e descrição (pp. 119-146). São Paulo: Contexto.), é abordada a partir de dois grupos: (i) um abrigando a conjunção prototípica embora, cuja constituição estrutural interna se mostra mais fixada e cujo uso é mais produtivo para a marcação da concessão; e (ii) um segundo abrigando conjunções como ainda que, mesmo que, apesar de que, se bem que, por mais que, etc., tratadas, aqui, como conjunções concessivas complexas por revelarem, de forma mais transparente, sua composição semântico-estrutural.

O segundo posicionamento toca a determinação do estatuto léxico-gramatical das conjunções adverbiais, que se dará tendo em vista duas questões, uma de natureza discursiva (que diz respeito ao funcionamento semântico-pragmático da conjunção), e outra de natureza formal (que diz respeito à sua constituição estrutural): (i) uma Conjunção Lexical deve agregar, para a relação adverbial, um significado lexical específico (uma Conjunção Gramatical, em contrapartida, serve como marca ‘pura’ da relação adverbial); (ii) decorre de (i) a natureza complexa das Conjunções Lexicais, sendo sua constituição estrutural passível de decomposição, isto é, é possível reconhecer seus componentes e suas fronteiras morfossintáticas. Por conta disso, Conjunções Lexicais são mais propícias à modificação.

Como exemplo, contrastam-se a conjunção temporal simples quando (vd. (9a)) e a conjunção temporal complexa depois que (vd. (9b)):

(9) a A música de Bach cede quando a mãe começa a cantar. (Neves, 2011Neves, M. H. M. (2011). Gramática de usos do português. São Paulo: Editora da UNESP., p. 787)

(ei: - a música de Bach cede - (ei): (ej: - a mãe começa a cantar - (ej)Time) (ei))

b A música de Bach cede depois que a mãe começa a cantar.

(ei: - a música de Bach cede - (ei): (ej: - depois que a mãe começa a cantar - (ej)Time) (ei))

(ej: (fc i: [(fi: depoisAdv (fi)) (ek: - a mãe começa a cantar - (ek)Ref)] (fc i)) (ej))

c A música de Bach cede muito depois que a mãe começa a cantar.

  1. em temos funcionais, quando, em (9a), assinala o Estado-de-Coisas dependente (ej) como marco temporal de realização do Estado-de-Coisas principal (ei); já em (9b), depois que especifica um valor adicional para a relação, o de posterioridade temporal, de modo que a realização do Estado-de-Coisas Principal (ei) se dá num momento temporal posterior ao Estado-de-Coisas dependente (ej);

  2. em termos formais, quando é uma conjunção simples, já depois que é uma conjunção complexa, em que se reconhece o advérbio base (depois) combinado à conjunção que, sendo também possível sua modificação (vd. (9c));

  3. assim, enquanto quando corresponde a uma Conjunção Gramatical, depois que é uma Conjunção Lexical.

Conjunções Gramaticais, na GDF, correspondem a funções, semânticas ou retóricas, a depender de seu nível de representação; no caso de quando, trata-se da função semântica Tempo (Time) atribuída ao Estado-de-Coisas dependente (ej). Por outro lado, conforme Oliveira (2008Oliveira, T. P. (2008). Conjunções e orações condicionais no português do Brasil [Tese de doutorado em Linguística e Língua Portuguesa]. Universidade Estadual Paulista.; 2012Oliveira, T. P. (2012). As conjunções condicionais na Gramática Discursivo-Funcional. In E. R. F. Souza (Org.). Funcionalismo linguístico: análise e descrição (pp. 119-146). São Paulo: Contexto.) e Pérez Quintero (2013Pérez Quintero, M. J. (2013). Grammaticalization vs. Lexicalization: the Functional Discourse Grammar view. Revista Canaria de Estudios Ingleses, 67, 97-121.), Conjunções Lexicais são analisadas, no Nível Representacional, como Propriedades Configuracionais de um-lugar. Assim, no caso de (9b), deve-se especificar a representação do Estado-de-Coisas dependente (ej), analisando sua estrutura interna em termos de uma Propriedade Configuracional (fc) de um-lugar: o predicado adverbial depois, uma Propriedade Lexical (f), toma, como seu argumento, o evento a mãe começa a cantar (ek), que desempenha a função semântica Referência (Ref) em relação ao predicado.

Em síntese, ressalta-se que, no interior da GDF, distinguem-se Conjunções Gramaticais, mapeadas, nos níveis da formulação, como função, e Conjunções Lexicais, mapeadas exclusivamente no Nível Representacional como Propriedades Configuracionais de um-lugar.

Quadro de relações concessivas

Partindo da consideração de que qualquer construção subordinada pode ser classificada conforme as camadas representacionais ou interpessoais que subjazem a sua estrutura (Hengeveld & Mackenzie, 2008Hengeveld, K., & Mackenzie, M. (2008). Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press. http://dx.doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001
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), delineia-se, aqui, o quadro teórico a partir do qual se compreende a concessão e seus diferentes tipos.

Concessivas no Nível Representacional

Uma relação adverbial é descrita, no Nível Representacional, à medida que corresponde a uma estratégia denotativa do falante, articulando conteúdos que designam alguma realidade do mundo. Assim, com base em Neves (1999Neves, M. H. M. (1999). As construções concessivas. In M. H. M. Neves (Org.). Gramática do Português Falado: Novos estudos (pp. 545-591). Campinas: Editora da Unicamp.; 2008Neves, M. H. M. (2008). A difusa zona adverbial: o caso da combinação de orações. Linguistica, 20, 25-47.; 2012Neves, M. H. M. (2012). A gramática passada a limpo. São Paulo: Parábola.) e em Zamproneo (2014Zamproneo, S. (2014). Multifuncionalidade e intersubjetividade em construções concessivas: uma análise em ocorrências do português contemporâneo do Brasil [Tese de doutorado em Linguística e Língua Portuguesa]. Universidade Estadual Paulista.), pode-se afirmar que uma construção concessiva como “embora p, q” é mapeada, no Nível Representacional, (i) ao designar realidades marcadas por um conflito ou por uma incompatibilidade entre os fatos designados por p e q, e (ii) tal conflito se caracteriza, em termos lógico-semânticos, pela negação e/ou frustação de implicações causais e condicionais, isto é, p implica uma expectativa causal e/ou condicional que é negada/contrariada/frustrada por q.

Trata-se, segundo Olbertz, Garcia e Parra (2016Olbertz, H., Garcia, T. S., & Parra, B. G. G. (2016). El uso de ‹aunque› en el español peninsular: un análisis discursivo-funcional. Revista Linguística (Online), 32, 91-111. https://doi.org/10.5935/2079-312X.20160019
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), de concessivas descritivas, casos de modificação adverbial propriamente dita, em que as orações concessivas podem ser caracterizadas e distinguidas quanto a dois parâmetros: a entidade semântica designada e sua factualidade.

As construções concessivas em (10) expressam realidades em que se cotejam eventos incompatíveis entre si, ou melhor, a oração concessiva expressa um Estado-de-Coisas que figura como obstáculo para a realização do Estado-de-Coisas expresso na oração principal; esse obstáculo, entretanto, não é suficiente para impedir a concretização do Estado-de-Coisas principal.

(10) a Embora seja nativa no centro da Bahia, encontramos lindas colheres de pau, feitas de sebastião-de-arruda, em Congonhas do Campo, MG. (Neves, 2011Neves, M. H. M. (2011). Gramática de usos do português. São Paulo: Editora da UNESP., p. 872)

NR: (ei: - encontramos lindas colheres de pau, feitas de sebastião-de-arruda, em Congonhas do Campo, MG - (ei): (ej: - seja nativa no centro da Bahia - (ej)Conc) (e1))

NM: (Cli: [(depClj: - embora seja nativa no centro da Bahia - (depClj)) (Vpi: - encontramos - (Vpi)) (Npi: - lindas colheres de pau, feitas de sebastião-de-arruda - (Npi)) (Adppi: - em Congonhas do Campo, MG - (Adppi))] (Cli))

b Eles tinham onde publicar e eram lidos em todo o País. Ainda que tivesse ocorrido esse boom minei ro, não houve deslocamento para o Sul. (19Or:Br:Intrv:ISP)

NR: (ei: - não houve deslocamento para o Sul - (ei): (hyp ej: - tivesse ocorrido esse boom mineiro - (ej)Conc) (ei))

NM: (Cli: [(depClj: - ainda que tivesse ocorrido esse boom mineiro - (depClj)) (Gwi: - não - (Gwi)) (Vpi: - houve - (Vpi)) (Npi: - deslocamento para o Sul - (Npi))] (Clj))

Em (10a), a oração concessiva expressa um estado (o de ser nativa no centro da Bahia) que figura como obstáculo para a realização do evento designado pela oração principal; esse obstáculo, entretanto, não é suficiente para impedir a concretização do evento principal. Do mesmo modo, em (10b), o potencial evento expresso pela oração concessiva (de ocorrer um boom mineiro) é uma condição desfavorável para a efetivação do evento descrito pela oração principal (de haver deslocamento para o Sul); o evento principal, entretanto, ocorre independente da potencial situação desfavorável expressa na oração concessiva.

No Nível Representacional, então, estabelece-se uma relação núcleo-modificador entre Estados-de-Coisas, de modo que a um deles - o dependente (ej), que traz a circunstância concessiva, apesar da qual se dá o evento principal (ei) - se atribui a função semântica Concessão (Conc).

O que diferencia (10a-b) é a factualidade do Estado-de-Coisas designado pela oração concessiva: enquanto, em (10a), ambos os Estados-de-Coisas ali descritos são reais e, portanto, factuais, em (10b), o Estado-de-Coisas concessivo é marcado por certa eventualidade/potencialidade e, assim, é irreal tendo em vista o marco temporal do evento principal. Assim, em (10a), há o que aqui se denomina de construção concessiva factual, e, em (10b), uma construção concessivo-condicional: uma construção concessiva semifactual, em que se articulam uma oração subordinada de caráter hipotético e uma oração principal de caráter factual (vd. König, 1985aKönig, E. (1985a). On the history of concessive connectives in English, diachronic and synchronic evidence. Lingua, 66 (1), 1-19. https://doi.org/10.1016/S0024-3841(85)90240-2
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; 1985bKönig, E. (1985b). Where do concessives come from? On the development of concessive connectives. In J. Fisiak (Ed.). Historical semantics. Historical Word-formation (pp. 263-282). New York: Mounton de Gruyter. ; 1986König, E. (1986). Conditionals, concessive conditionals and concessives: areas of contrast, overlap and neutralization. In E. C. Traugott, A. Ter Meulen, J. S. Reilly & C. A. Ferguson (Eds.). On conditionals (pp. 229-246). Cambridge: Cambridge University Press. ; Haspelmath & König, 1998Haspelmath, M., & König, E. (1998). Concessive conditionals in the languages of Europe. In Auwera, Johan van der (Org.). Adverbial constructions in the languages of Europe (pp. 563-640). New York: Mouton de Gruyter. ).

Seguindo a proposta de Olbertz, Garcia e Parra (2016Olbertz, H., Garcia, T. S., & Parra, B. G. G. (2016). El uso de ‹aunque› en el español peninsular: un análisis discursivo-funcional. Revista Linguística (Online), 32, 91-111. https://doi.org/10.5935/2079-312X.20160019
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), tal distinção se opera, no Nível Representacional, pela presença de um operador de hipotecidade (hyp) escopando o Estado-de-Coisas concessivo-condicional. Assim, na construção concessivo-condicional em (10b), são articulados dois Estados-de-Coisas, um principal (ei) e outro dependente (ej), de modo que a este, além de se atribuir a função semântica Concessão (Conc), é aplicado o operador hipotético (hyp), marcado pela correlação modo-temporal da construção. No Nível Morfossintático, em ambos os casos, há encaixamento: a Oração concessiva ou concessivo-condicional (depClj), encabeçada pelas conjunções embora ou ainda que, respectivamente, é codificada no interior do padrão da Oração principal (Cli) como um de seus (da Oração principal) constituintes.

As construções concessivas em (11), por sua vez, são apresentadas como passando pelo julgamento do falante, de modo que, conforme propõe Neves (1999Neves, M. H. M. (1999). As construções concessivas. In M. H. M. Neves (Org.). Gramática do Português Falado: Novos estudos (pp. 545-591). Campinas: Editora da Unicamp.; 2011Neves, M. H. M. (2011). Gramática de usos do português. São Paulo: Editora da UNESP.), o falante apresenta, na oração principal, uma proposição incompatível com a conclusão a que se poderia chegar a partir do fato expresso na oração concessiva.

(11) a [O Ministro de Estado das Relações Exteriores] Não precisa ser um funcionário de carreira, embora possa sê-lo. (Neves, 2011Neves, M. H. M. (2011). Gramática de usos do português. São Paulo: Editora da UNESP., p. 873)

NR: (pi:- não precisar ser um funcionário de careira - (pi): (pj: - possa sê-lo - (pj)Conc ) (pi))

NM: (Cli: [(Gwi: - não - (Gwi)) (Vpi: - precisa - (Vpi)) (depClj: - ser um funcionário de carreira - (depClj)) (depClk: - embora possa sê-lo - (depClk))] (Cli)

b De acordo com Landau, ainda que fosse possível medir o que se deverá perder de receita por conta da crise, é correta a manutenção do cronograma já traçado. (19N:Br:Recf)

NR: (pi: - é correta a manutenção do cronograma já traçado - (pi): (hyp pj: - fosse possível medir o que se deverá perder de receita por conta da crise - (pj)Conc) (pi))

NM: (Cli: [(depClj: - ainda que fosse possível medir o que se deverá perder de receita por conta da crise - (depClj)) (Vpi: [(Vwi: - é - (Vwi)) (Adjwi: - correta - (Adjwi))] (Vpi)) (Npi: - a manutenção do cronograma já traçado - (Npi))] (Cli)

Em (11a), a negação da necessidade de ser um funcionário de carreira operada na oração principal entra em conflito com conclusões que se poderiam tirar da afirmação, na oração concessiva, da possibilidade de sê-lo. Em (11b), a possibilidade, cotejada pelo falante, na oração concessiva (de se medir o que se deverá perder de receita por conta da crise) não é suficiente para alterar a crença designada na oração principal (de que é correta a manutenção do cronograma já traçado).

No Nível Representacional, então, articulam-se dois Conteúdos Proposicionais (p), de modo que ao dependente (pj), que traz a proposição concessiva (apesar da qual se dá a proposição principal (pi)), é atribuída a função semântica Concessão (Conc).

A diferença entre (11a-b) também reside na factualidade: em (11a), tem-se um caso de concessiva factual, em que os dois Conteúdos Proposicionais são verdadeiros e, portanto, factuais; já em (11b), articulam-se um Conteúdo Proposicional factual (o nuclear) e um hipotético/potencial e, portanto, não factual (o dependente), o que caracteriza uma construção concessivo-condicional.

Essa distinção se opera, como já dito, pela aplicação de um operador de hipoteticidade (hyp) ao Conteúdo Proposicional concessivo-condicional. No Nível Morfossintático, assim como em (11), a Oração concessiva ou concessivo-condicional (depClj), encabeçada por embora ou ainda que, encaixa-se na posição de modificador da Oração principal (Cli).

Em suma, integram o quadro de construções concessivas do Nível Representacional dois tipos de relação: (i) a construção concessiva factual (em que se articulam dois Estados-de-Coisas ou dois Conteúdos Proposicionais factuais), e (ii) a construção concessivo-condicional, de natureza semifactual (em que se articulam um Estado-de-Coisas/Conteúdo Proposicional factual e um Estado-de-Coisas/Conteúdo Proposicional eventual/hipotético).

Concessivas no Nível Interpessoal

Descrevem-se, no Nível Interpessoal, construções concessivas que correspondem a estratégias retóricas e/ou interativas do falante. Enquanto estratégias retóricas dizem respeito ao modo como o falante ordena e estrutura os componentes de seu discurso, a fim de sustentar sua estratégia comunicativa e, assim, influenciar o ouvinte a aceitar os seus propósitos comunicativos, estratégias interativas são mecanismos que asseguram e mantêm a interação, gerenciando as condições interacionais que permitem o desenrolar de um evento discursivo.

Nesse sentido, construções concessivas, no Nível Interpessoal, não mais sustentam implicaturas causais e condicionais típicas das concessivas no Nível Representacional, dando lugar a funcionalidades discursivamente situadas. De acordo com Olbertz, Garcia e Parra (2016Olbertz, H., Garcia, T. S., & Parra, B. G. G. (2016). El uso de ‹aunque› en el español peninsular: un análisis discursivo-funcional. Revista Linguística (Online), 32, 91-111. https://doi.org/10.5935/2079-312X.20160019
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), as concessivas interpessoais constituem comentários do falante sobre sua própria enunciação, de modo que o segmento concessivo não está diretamente relacionado ao conteúdo do segmento principal, mas se liga às circunstâncias do contexto de comunicação.

Assim, com base em Stassi-Sé (2012Stassi-Sé, J. (2012). Subordinação discursiva no português à luz da Gramática Discursivo-Funcional [Tese de doutorado em Estudos Linguísticos]. Universidade Estadual Paulista.), Zamproneo (2014Zamproneo, S. (2014). Multifuncionalidade e intersubjetividade em construções concessivas: uma análise em ocorrências do português contemporâneo do Brasil [Tese de doutorado em Linguística e Língua Portuguesa]. Universidade Estadual Paulista.) e Olbertz, Garcia e Parra (2016Olbertz, H., Garcia, T. S., & Parra, B. G. G. (2016). El uso de ‹aunque› en el español peninsular: un análisis discursivo-funcional. Revista Linguística (Online), 32, 91-111. https://doi.org/10.5935/2079-312X.20160019
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), pode-se distinguir dois tipos de construções concessivas interpessoais: as concessivas restritivas (vd. (12)), e as concessivas adendo (vd. (13)).

(12) E que vale diante dele o Governador e o Padre Inácio, embora tenham, atrás de si, as armas da Espanha e o poder da Igreja? (Neves, 2011Neves, M. H. M. (2011). Gramática de usos do português. São Paulo: Editora da UNESP., p. 873)

NI: (MI: [(AI: - todo trabalho da universidade em termos de ação comunitária é um trabalho de extensão - (AI)) (AJ: - nem todo trabalho de extensão seja um trabalho de ação comunitária - (AJ)Conc)] (MI))

NM: (Lei: [(Cli: - todo trabalho da universidade em termos de ação comunitária é um trabalho de extensão - (Cli)) (Clj: - embora nem todo trabalho de extensão seja um trabalho de ação comunitária - (Clj))] (Lei))

Em (12), o conteúdo da oração introduzida por embora não representa um obstáculo para a realização do que está descrito na oração anterior, mas sim um obstáculo para a realização do Ato Discursivo anterior: ao questionar sobre a validade da presença do Governador e do Padre diante deles, o falante evoca, na oração concessiva, uma objeção/restrição a seu questionamento. Têm-se, portanto, uma relação de dependência entre dois Atos Discursivos: o primeiro é o Ato nuclear (AI), e outro, o Ato Subsidiário (AJ), ao qual se atribui a função retórica Concessão (Conc). No Nível Morfossintático, não há mais relação de encaixamento entre Orações, mas, no interior da Expressão Linguística (Eli), articulam-se duas Orações (Cli e Clj).

Já em (13), observa-se, conforme Stassi-Sé (2012Stassi-Sé, J. (2012). Subordinação discursiva no português à luz da Gramática Discursivo-Funcional [Tese de doutorado em Estudos Linguísticos]. Universidade Estadual Paulista.), que a construção iniciada por embora insere uma nova informação ao fluxo discursivo da interação e essa nova informação não só preserva, de alguma maneira, a face do falante ao fazer tantas asserções ali na interação, mas traz algum conteúdo mais contrastivo em relação aos outros conteúdos introduzidos pelo falante ao longo de seu discurso.

(13) - eles estão mais equilibrados L. - porque é: é o problema é o ciclo porque ele é inseguro - aí pega uma mulher que é mais segura do que ele ele aí recosta e cada vez - falta nele segurança - é mais inseguro - e cada vez vai depender mais enquanto que pegando uma - sei - mulher mais insegura do que ele - ele tem que se ativar () - ela ele vai ter que se ativar pra segurar ela - sei - () embora eu acho que ela é até muito segura é tão segura que amadureceu - se com ele - e melhorou ele muito - mas ela não transmitiu a ele (19Or:Br:LF:Recf)

NI: (DI: (MI: - e cada vez vai depender mais enquanto que pegando uma - mulher mais insegura do que ele - ele tem que se ativar () - ela ele vai ter que se ativar pra segurar ela - (MI)) (MJ: - eu acho que ela é até muito segura é tão segura que amadureceu - se com ele - e melhorou ele muito - (MJ)Ad) (DI))

NM: (Ti: (Eli: - e cada vez vai depender mais enquanto que pegando uma - mulher mais insegura do que ele - ele tem que se ativar () - ela ele vai ter que se ativar pra segurar ela - (Eli)) (Elj: - eu acho que ela é até muito segura é tão segura que amadureceu - se com ele - e melhorou ele muito - (Elj)) (Ti))

Nesse caso, podemos ver que há duas distintas contribuições para o andamento da interação e, portanto, dois Movimentos. Seguindo a proposta de Stassi-Sé (2012Stassi-Sé, J. (2012). Subordinação discursiva no português à luz da Gramática Discursivo-Funcional [Tese de doutorado em Estudos Linguísticos]. Universidade Estadual Paulista.), pode-se abordar a ocorrência em (13) como uma relação de dependência entre dois Movimentos (M), no interior da camada do Discurso (D): o primeiro Movimento é o nuclear (MI), e o segundo, o Subsidiário (MJ), corresponde a uma estratégia de manutenção do canal interlocutivo, ao qual se atribui a função interativa Adendo (Ad). No Nível Morfossintático, estabelece-se, no interior da camada do Texto (T), uma relação entre duas Expressões Linguísticas (Lei e Lej).

Em síntese, no Nível Interpessoal, integram o quadro de construções concessivas dois tipos de relação: (i) as construções concessivas restritivas (em que se articulam dois Atos Discursivos, um Subsidiário que restringe o efeito performativo do Nuclear), e (ii) as construções concessivas adendo (em que se articulam dois Movimentos, e o Movimento Subsidiário insere um novo comentário ao Discurso, contrastando com conteúdos/expectativas dados contextualmente).

3. Construções concessivas com por mais que

O estatuto léxico-gramatical de ‘por mais que’

O uso da conjunção por mais que revela afinidade entre concessão e quantificação (vd. König, 1985aKönig, E. (1985a). On the history of concessive connectives in English, diachronic and synchronic evidence. Lingua, 66 (1), 1-19. https://doi.org/10.1016/S0024-3841(85)90240-2
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; 1985bKönig, E. (1985b). Where do concessives come from? On the development of concessive connectives. In J. Fisiak (Ed.). Historical semantics. Historical Word-formation (pp. 263-282). New York: Mounton de Gruyter. ), já que, em sua base de formação, encontra-se o quantificador (ou a palavra de grau) mais, tendência encontrada em variadas línguas, como, no inglês, com a conjunção although e, no espanhol, com a conjunção por mucho que.

Segundo Barreto (1999Barreto, T. M. M. (1999). Gramaticalização das conjunções na história do português [Tese de Doutorado em Letras e Linguística]. Universidade Federal da Bahia.), somente em textos do século XVII se encontra a forma mais fixada de por mais que (vd. (14a)), que emerge, conforme defende a autora, a partir da reanálise estrutural e da sintaticização da estrutura por mais Adj que X (vd. (14b)), com apagamento do lexema adjetival e reinterpretação de suas fronteiras morfossintáticas.

(14) a Acho-me com muitas cartas de V.Exa e com mil obrigações em cada uma delas para beijar a mão de V.Exa outras tantas vezes, como nesta faço, sem que os termos de agradecimento, por mais que se multipliquem, possam igualar o número e muito menos a grandeza de tantas e tão excessivas mercês.

b e considereis que não sois tanto pai de vossa filha, por mais caro que vos custe, que não tenha custado mais a que a levou para si.

(Barreto, 1999Barreto, T. M. M. (1999). Gramaticalização das conjunções na história do português [Tese de Doutorado em Letras e Linguística]. Universidade Federal da Bahia., p. 359)

Tal consideração permite abordar por mais que como uma conjunção complexa cuja emergência se dá por meio de um processo cognitivo mais geral, denominado chuncking: uma relação sequencial desenvolvida entre duas ou mais palavras quando usadas frequentemente juntas (vd. Bybee, 2016Bybee, J. (2016 [2010]). Língua, uso e cognição. Trad. Maria Angélica Furtado da Cunha. Rev. téc. Sebastião Carlos Leite Gonçalves. São Paulo: Cortez.). De acordo com Bybee (2016)Bybee, J. (2016 [2010]). Língua, uso e cognição. Trad. Maria Angélica Furtado da Cunha. Rev. téc. Sebastião Carlos Leite Gonçalves. São Paulo: Cortez., o chuncking, ao afetar em grande medida a constituição estrutural interna de unidades complexas, envolve desde alterações fonético-fonológicas, até mudanças em suas estruturas morfossintáticas e semânticas, o que pode ser medido em termos de analisabilidade e de composicionalidade.

Enquanto a analisabilidade diz respeito ao “reconhecimento do usuário da língua das palavras e morfemas individuais de uma expressão assim como de sua estrutura morfossintática” (Bybee, 2016Bybee, J. (2016 [2010]). Língua, uso e cognição. Trad. Maria Angélica Furtado da Cunha. Rev. téc. Sebastião Carlos Leite Gonçalves. São Paulo: Cortez., p. 80), a composicionalidade refere-se ao “grau de previsibilidade do sentido do todo a partir do sentido das partes que o compõem” (Bybee, 2016Bybee, J. (2016 [2010]). Língua, uso e cognição. Trad. Maria Angélica Furtado da Cunha. Rev. téc. Sebastião Carlos Leite Gonçalves. São Paulo: Cortez., p. 79). Para avaliar o grau de analisabilidade e de composicionalidade de por mais que, propõe-se uma comparação entre a construção concessiva com por mais que em (15a) e uma possível paráfrase, em (15b), com a conjunção concessiva prototípica embora.

(15) a Dito mandou que parassem. Por mais que se esforçasse, não conseguia ver o homem outra vez. Chegou a admitir que se enganara. (19:Fic:Br:Lins:Avalovara)

b Embora se esforçasse, não conseguia ver o homem outra vez.

Nas ocorrências em (15), fica assinalada a incompatibilidade entre os fatos ali articulados: o esforço dedicado seria, normalmente, condição suficiente para a efetivação do fato central (a de se conseguir ver o homem outra vez); entretanto, para a realidade ali descrita, isso não se aplica.

Não se pode ignorar, no entanto, que, em construções concessivas com por mais que, está presente, paralelo ao significado concessivo, um segundo elemento de significado, de quantificação (marcado pelo quantificador mais), o que não se aplica a construções concessivas articuladas pelo conectivo embora. Assim, em (15a), mas não em (15b), a incompatibilidade entre os fatos ali veiculados (base para a expressão da concessão) está atrelada à intensidade com que se desenvolve o fato designado na oração concessiva, de modo que a proposição de não conseguir ver o homem outra vez é verdadeira e se sustenta independente da quantidade (ou intensidade) de esforço dispensado.

Tais considerações atestam o alto grau de analisabilidade e de composicionalidade do conectivo complexo por mais que, caracterizado nos seguintes termos:

  1. quanto à analisabilidade, um falante do português, além de ser capaz de reconhecer as palavras individuais que compõem esse conectivo (a preposição por, o quantificador mais e a conjunção que), também ativa os significados individuais de suas formas componentes, assim como qualquer relação discursiva ou morfossintática entre elas, para a interpretação global da perífrase (ao usar o conectivo por mais que, a concessão está atrelada à quantificação/intensidade atribuída por mais ao fato designado pelo predicado da oração concessiva);

  2. já em termos de composicionalidade, pode-se dizer que o significado das partes individuais que compõem o conectivo contribui para o significado do todo (paralelo ao significado concessivo, está o significado de quantificação, de intensidade, próprio ao advérbio mais).

Aliado a isso, é possível encontrar dados como (16), em que o advérbio de intensidade muito modifica o advérbio mais, base da conjunção, corroborando, assim, que a constituição semântico-estrutural da conjunção por mais que não se encontra totalmente reanalisada, já que ainda se percebe a sua base - o advérbio mais - como passível de modificação adverbial.

(16) Caros amigos, a situação não me parece especialmente brilhante, sobretudo do ponto de vista litúrgico; porém, vamos dar o benefício da dúvida ao Papa Francisco, por muito mais que gostássemos de Bento XVI. (danitojayp.com)

Tais considerações permitem, aqui, defender que por mais que corresponde a uma Conjunção Lexical, principalmente levando-se em conta que:

  1. em termos funcionais, por mais que não só marca a relação adverbial concessiva, mas também especifica o significado de quantificação para a relação. É, então, bastante visível que, além de unir duas orações numa relação concessiva, o significado quantificacional próprio à sua base - a palavra mais - participa da construção do significado total da construção. Isso mostra que o conectivo por mais que é passível de decomposição gradual, tem caráter atributivo e significado lexical;

  2. em termos formais, trata-se de um conectivo cuja constituição estrutural interna é altamente complexa, com baixo grau de fusão e/ou fixação e com possibilidade de modificação de sua base adverbial (mais).

Conforme proposta de Oliveira (2014Oliveira, T. P. (2014). Conjunções adverbiais no português. Revista de Estudos da Linguagem, 22, 45-66. http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.22.1.45-66
http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.22....
), por mais que integra um grupo de conjunções que abrigam alto grau de conteúdo lexical, isto é, conjunções que veiculam algum significado lexical mais concreto e em que se verifica pouca mudança a partir do significado original de suas partes componentes. Tendo, então, em vista a defesa de que por mais que é, conforme o modelo da GDF, uma Conjunção Lexical, a próxima seção demonstra de que modo isso implica para a descrição dos diferentes tipos de relações concessivas articuladas pelo conectivo.

Relações concessivas articuladas por ‘por mais que’

A conjunção concessiva complexa por mais que articula orações em três tipos de construções: concessivas factuais, concessivo-condicionais e concessivas restritivas. Passa-se, então, à descrição dessas construções, considerando o estatuto de por mais que como Conjunção Lexical.

Em (17), as construções concessivas factuais assinalam um conflito entre os fatos articulados: em (17a), o evento negativo designado pela oração principal (o de não conseguir relaxar) se desenvolveu independente da intensidade com que se realizava o evento expresso na oração concessiva (de se esforçar); em (17b), por outro lado, a opinião expressa na oração principal (de achar que não era uma coisa justa comigo, com o cliente e nem com o público) se sustenta apesar da preferência expressa na oração concessiva (eu adorar fazer isso).

(17) a Ele encheu os copos, bebeu um bom trago e ficou olhando o horizonte, com uma aparência tranquila, como se já não se lembrasse do que dissera. Por mais que eu me esforçasse, não conseguia relaxar. Meus olhos percorreram o jardim, procurando guardar cada detalhe. (19:Fic:Br:Costa:Sala)

NR: (ei: - não conseguia relaxar - (ei): (ej: - por mais que eu me esforçasse - (ej)Conc) (ei)) → (ej: (fc i: [(fi: maisAdv (fi)) (ek: - eu me esforçasse - (ek)Ref)] (fc i)) (ej))

NM: (Cli: [(Gwi: não (Gwi)) (Vpi: - conseguia relaxar - (Vpi)) (depClj: - por mais que eu me esforçasse - (depClj))] (Cli)) → (depClj: (Adppi: [(Gwi: porAdp (Gwi)) (Lwi: mais (Lwi)) (depClk: - que eu me esforçasse - (depClk))] (Adppi)) (depClj))

b Então, achei que não era legal. Por mais que eu adore fazer isso, achei que não era uma coisa justa comigo, com o cliente e nem com o público, que começa a tomar um porre de você. (19Or:Br:Intrv:Cid)

NR: (pi: - achei que não era uma coisa justa comigo, com o cliente e nem com o público - (pi): (pj: - por mais que eu adore fazer isso - (pj)Conc) (pi)) → (pj: (ei: (fc i: [(fi: maisAdv (fi)) (pk: - eu adore fazer isso - (pk)Ref)] (fc i)) (ei)) (pj))

NM: (Cli: [(depClj: - por mais que eu adore fazer isso - (depClj)) (Vpi: - achei - (Vpi)) (depClk: - que não era uma coisa justa comigo, com o cliente e nem com o público - (depClk))] (Cli)) → (depClj: (Adppi: [(Gwi: porAdp (Gwi)) (Lwi: mais (Lwi)) (depClm: - que eu adore fazer isso - (depClm))] (Adppi)) (depClj))

Enquanto, em (17a), são articulados dois Estados-de-Coisas, em (17b), articulam-se dois Conteúdos Proposicionais. Nos dois casos, o segmento nuclear (ei ou pi) é modificado pelo segmento dependente (ej ou pj), ao qual se atribui a função Concessão (Conc).

Dada a natureza lexical da conjunção por mais que, a representação do segmento concessivo, no Nível Representacional, precisa ser especificada em termos de uma estrutura complexa. Em (17a), o Estado-de-Coisas concessivo (ej) é nucleado por uma Propriedade Configuracional de um-lugar (fc), constituída pelo predicado mais, um Lexema da classe dos Advérbios (fAdv), que toma como argumento o evento (ek) de eu me esforçasse, ao qual se atribui a função semântica Referência (Ref). Em (17b), por outro lado, o Conteúdo Proposicional concessivo (pj) é nucleado por um Estado-de-Coisas (ei), estruturado em termos de uma Propriedade Configuracional (fc) que combina o predicado adverbial mais (fAdv) e seu argumento, a proposição eu adore fazer isso (pk), à qual se atribui a função semântica Referência (Ref).

No Nível Morfossintático, em ambos os casos, tem-se uma Oração dependente (depClj) encaixada na posição de modificador da principal (Cli). A oração concessiva, especificamente, é internamente estruturada conforme o padrão de um Sintagma Adposicional (Adpp), encabeçado pela Preposição por (Gw), que codifica a função semântica Referência, e composto pela Palavra Lexical mais (Lw) e pelas orações completivas que eu me esforçasse ou que eu adore fazer isso (depClk). A conjunção que é parte da oração completiva, sinalizando a relação de dependência entre predicado e argumento.

Já em (18), têm-se casos de construções concessivo-condicionais: em (18a), o evento negativo expresso pela oração principal (de não encontrar nada) se sustenta independentemente da intensidade com que se possa desenvolver a potencial situação desfavorável expressa na oração concessiva (de eles procurar); em (18b), a crença do falante expressa na oração principal (acerca de ser justo citar o nome dela) não se altera ou se dissipa pela hipótese/possibilidade desfavorável levantada na oração concessivo-condicional (de fazer uma coisa e uma pessoa faz por você melhor que você).

(18) a Tudo está agora na minha cabeça. Por mais que eles procurem, não vão encontrar nada. Está tudo na minha cabeça. Ninguém vai responder aos apelos no rádio. (19:Fic:Br:Carvalho:Bebados)

NR: (ei: - não vão encontrar nada - (ei): (hyp ej: - por mais que eles procurem - (ej)Conc) (e1)) → (hyp ej: (fc i: [(fi: maisAdv (fi)) (ek: - eles procurem - (ek)Ref)] (fc i)) (ej))

NM: (Cli: [(Gwi: não (Gwi)) (Vpi: - vão encontrar - (Vpi)) (Npi: - nada - (Npi)) (depClj: - por mais que eles procurem - (depClj))] (Cli)) → (depClj: (Adppi: [(Gwi: porAdp (Gwi)) (Lwi: mais (Lwi)) (depClk: - que eles procurem - (depClk))] (Adppi)) (depClj))

b Todas são pessoas que costumam ficar à parte, ficam anônimos, mas que são superimportantes. Você não vê o nome delas em nenhum lugar, e não sei se é muito justo fazer isso, sabe? Por mais que você possa fazer uma coisa e uma pessoa faz por você melhor que você, é justo citar o nome dela. (19Or:Br:Intrv:Web)

NR: (pi: - é justo citar o nome dela - (pi): (hyp pj: - por mais que você possa fazer uma coisa e uma pessoa faz por você melhor que você - (pj)Conc) (pi)) → (hyp pj: (ei: (fc i: [(fi: maisAdv (fi)) (pk: - você possa fazer uma coisa e uma pessoa faz por você melhor que você - (pk)Ref)] (fc i)) (ei)) (pj))

NM: (Cli: [(depClj: - por mais que você possa fazer uma coisa e uma pessoa faz por você melhor que você - (depClj)) (Vpi: [(Vwi: - é - (Vwi)) (Adjwi: - justo - (Adjwi))] (Vp1)) (depClk: - citar o nome dela - (depClk))] (Cli)) → (depClj: (Adppi: [(Gwi: porAdp (Gwi)) (Lwi: mais (Lwi)) (depClm: - que você possa fazer uma coisa e uma pessoa faz por você melhor que você - (depClm))] (Adppi)) (depClj))

Assim como em (17), estão articulados, em (18), dois Estados-de-Coisas (vd. (18a)) e dois Conteúdos Proposicionais (vd. (18b)), numa relação de modificação entre nuclear (ei ou pi) e dependente (ej ou pj), sendo atribuída, ao dependente, a função semântica Concessão (Conc) e o operador de hipoteticidade (hyp), garantindo-se, assim, a adequada representação do caráter não-factual desse segmento e também da natureza semifactual da construção. Além disso, a constituição mais interna do evento ou da proposição concessivo-condicional envolve as seguintes especificações representacionais: (i) em ambos os casos, os segmentos concessivos (ej ou pj) são nucleados por uma Propriedade Configuracional de um-lugar (fc), em que o predicado (f) - o lexema adverbial (Adv) mais - toma como seu argumento o evento (ek) de eles procurem, no caso de (18a), ou, em (18b), a proposição (pk) de você possa fazer uma coisa e uma pessoa faz por você melhor que você; (ii) ao evento (ek) ou proposição (pk) argumento de mais, é atribuída, então, a função semântica Referência (Ref).

No Nível Morfossintático, assim como em (17), a oração adverbial corresponde ao padrão de um Sintagma Adposicional (Adpp), encabeçado pela preposição por (Gw), que codifica a função semântica Referência, e composto pela Palavra Lexical mais (Lw) e pela oração completiva que eles procurem ou que você possa fazer uma coisa e uma pessoa faz por você melhor que você (depClk).

Em (19), por fim, são trazidos casos de construção concessiva restritiva. Observa-se que, antes de dirigir sua pergunta, em (19a), ou sua diretriz, em (19b), o falante projeta e antecipa possíveis obstáculos ou posicionamentos contrários, o que configura uma estratégia de preservação de sua face.

(19) a - Você comentou sobre jabá - por mais que seja um “ problema “ dos Ministros da Comunicação e da Justiça, você acha que Gil poderia tomar alguma providência? (19Or:Br:Intrv:Web)

NI: (MI: [(AI: - seja um “problema” dos Ministros da Comunicação e da Justiça - (AI)Conc) (AJ: - você acha que Gil poderia tomar alguma providência? - (AJ))] (M1))

NR: (pi: - por mais que seja um “problema” dos Ministros da Comunicação e da Justiça - (pi)) (pj: - você acha que Gil poderia tomar alguma providência? - (pj)) → (pi: (ei: (fc i: [(fi: maisAdv (fi)) (pk: - seja um “problema” dos Ministros da Comunicação e da Justiça - (pk)Ref)] (fc i)) (ei)) (pi))

NM: (Lei: [(Cli: - por mais que seja um “problema” dos Ministros da Comunicação e da Justiça - (Cli)) (Clj: - você acha que Gil poderia tomar alguma providência? - (Clj))] (Lei)) → (Cli: (Adppi: [(Gwi: porAdp (Gwi)) (Lwi: mais (Lwi)) (depClk: - que seja um “problema” dos Ministros da Comunicação e da Justiça - (depClk))] (Adppi)) (Cli))

b Passou, viram-na, mas não houve quem lhe tirasse o chapéu ou sequer a acompanhasse com a vista. Por mais que bramem contra o egoísmo e a maldade destes tempos, olhem que há por aí muitos exemplos de abnegação e de bondade dignos de toda a nossa reverência. (19:Fic:Br:Lopes:Donas)

NI: (MI: [(AI: - bramem contra o egoísmo e a maldade destes tempos - (AI)Conc) (AJ: - olhem que há por aí muitos exemplos de abnegação e de bondade dignos de toda a nossa reverência - (AJ))] (MI))

NM: (Lei: [(Cli: - por mais que bramem contra o egoísmo e a maldade destes tempos - (Cli)) (Clj: - olhem que há por aí muitos exemplos de abnegação e de bondade dignos de toda a nossa reverência - (Clj))] (Lei)) → (Cli: (Adppi: [(Gwi: porAdp (Gwi)) (Lwi: mais (Lwi)) (depClk: - que bramem contra o egoísmo e a maldade destes tempos - (depClk))] (Adppi)) (Cli))

Diferentemente de (17) e de (18), os casos em (19) precisam ser representados em três níveis da GDF. No Nível Interpessoal, representa-se a articulação entre dois Atos Discursivos, sendo que, ao Ato Subsidiário, se atribui a função retórica Concessão: em (19a), o Ato subsidiário é um Ato declarativo (AI), ao qual se atribui a função retórica Concessão (Conc), e o Ato nuclear é um Ato interrogativo (AJ); já em (19b), o Ato subsidiário é um Ato declarativo (AI), ao qual se atribui a função retórica Concessão (Conc), e o Ato nuclear é um Ato imperativo (AJ).

No Nível Representacional, embora não se represente a função semântica Concessão (já representada no Nível Interpessoal como função retórica), é necessário especificar, dada a natureza lexical de por mais que, a constituição interna da proposição concessiva (pi) em termos de uma Propriedade Configuracional de um-lugar, nos moldes de (17) e (18). No Nível Morfossintático, há a combinação, no interior da Expressão Linguística (Le), de duas Orações (Cli e Clj), e a Oração concessiva se constitui de um Sintagma Adposicional (Adpp), nos moldes de (17) e (18).

4. Considerações finais

A temática central deste artigo gira em torno ao estatuto da conjunção por mais que em construções concessivas do português e, desse modo, trata de uma questão bastante discutida acerca da arquitetura do modelo da GDF: sua abordagem em torno às classes de palavras.

Alguns linguistas traçam uma distinção bem nítida entre classes lexicais ou classes de palavras abertas (como substantivos, adjetivos, verbos, advérbios) e classes gramaticais ou classes de palavras fechadas (como pronomes, preposições, conjunções, artigos). A GDF, por outro lado, aproxima-se de abordagens como a de Lehmann (2002)Lehmann, C. (2000). New reflections on grammaticalization and lexicalization. In I. Wischer & G. Diewald (Eds.). New reflections on grammaticalization (pp. 1-18). Amsterdam & Philadelphia: J. Benjamins. e a de Kortmann e König (1992Kortmann, B., & König, E. (1992). Categorial reanalysis: the case of deverbal prepositions. Linguistics, 30, 671-697. https://doi.org/10.1515/ling.1992.30.4.671
https://doi.org/10.1515/ling.1992.30.4.6...
), que concebem cada classe de palavra abrigando tanto membros lexicais como membros gramaticais.

Segundo Hengeveld e Mackenzie (2008Hengeveld, K., & Mackenzie, M. (2008). Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press. http://dx.doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199278107.001.0001
http://dx.doi.org/10.1093/acprof:oso/978...
), a questão das classes de palavras deve ser tratada em dois níveis da GDF: no Nível Representacional, são distinguidas as classes de Lexemas, e, no Nível Morfossintático, distinguem-se as classes de Palavras. Enquanto as classes de Lexemas são funcionalmente definidas em termos dos diferentes papéis que os Lexemas cumprem na construção de configurações interpessoais e representacionais, as classes de Palavras são determinadas por princípios totalmente diferentes, especificamente pela sua distribuição e por características morfossintáticas, de modo que Palavras Gramaticais não são acionadas por informação lexical e codificam, geralmente, operadores ou funções dos níveis Representacional e Interpessoal.

Articulado, então, a esse quadro teórico, este trabalho se pergunta, centralmente, de que modo é possível representar, conforme o modelo da GDF, a associação entre os significados concessivo e intensivo/quantificacional subjacentes ao uso da conjunção por mais que. A proposta, aqui defendida, é a de tomar por mais que como Conjunção Lexical. Enquanto elemento do quadro de relatores, essa conjunção articula Estados-de-Coisas, Conteúdos Proposicionais e Atos Discursivos numa relação de modificação, o que implica na atribuição da função (semântica ou retórica) Concessão ao segmento concessivo. Dada sua natureza lexical, tal conjunção necessariamente precisa ser representada, no Nível Representacional, como uma Propriedade Configuracional de um-lugar que organiza a estrutura interna do Estado-de-Coisas concessivo ou do Conteúdo Proposicional concessivo.

De fato, a organização mais interna do Estado-de-Coisas/Conteúdo Proposicional encabeçado por por mais que parte do reconhecimento de uma relação predicado-argumento, em que mais figura como Lexema (predicado) adverbial, tomando o evento ou a proposição encabeçada por que como argumento, a que se atribui a função semântica Referência, codificada pela preposição por. É, então, nesse ponto que se garante a adequada representação não só da especificação de um valor quantificacional ou intensivo para a relação concessiva, mas também do alto grau de composicionalidade e de analisabilidade que marca a constituição estrutural interna dessa conjunção complexa (Bybee, 2016Bybee, J. (2016 [2010]). Língua, uso e cognição. Trad. Maria Angélica Furtado da Cunha. Rev. téc. Sebastião Carlos Leite Gonçalves. São Paulo: Cortez.).

Tendo em vista o quadro de relações concessivas no português, tal proposta de tratamento e de representação de por mais que se faz bastante produtiva em duas vias:

  1. primeiro, para distinguir, no interior do Nível Representacional, concessivas factuais de concessivo-condicionais, já que, no segundo caso, há a aplicação de um operador de hipoteticidade ao Estado-de-Coisas ou Conteúdo Proposicional concessivo, conforme proposta de Olbertz, Garcia e Parra (2016Olbertz, H., Garcia, T. S., & Parra, B. G. G. (2016). El uso de ‹aunque› en el español peninsular: un análisis discursivo-funcional. Revista Linguística (Online), 32, 91-111. https://doi.org/10.5935/2079-312X.20160019
    https://doi.org/10.5935/2079-312X.201600...
    );

  2. segundo, para distinguir as concessivas representacionais das concessivas interpessoais. Enquanto estas são representadas em ambos os níveis da formulação, no Interpessoal, combinando dois Atos Discursivos, e no Representacional, combinando dois Conteúdos Proposicionais, aquelas envolvem a articulação apenas de entidades do Nível Representacional.

Agradecimentos

O presente trabalho foi parcialmente realizado com apoio da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, por meio de concessão da bolsa de Iniciação Científica, no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (PIBIC).

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  • Contribuição dos autores

    Nós, Michel Gustavo Fontes e José Eduardo Bognola Teixeira, declaramos, para os devidos fins, que não temos qualquer conflito de interesse, em potencial, neste estudo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Set 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    28 Maio 2021
  • Aceito
    06 Set 2022
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