Acessibilidade / Reportar erro

A negação: teoria da checagem e mudança lingüística

Negation: checking theory and linguistic change

Resumos

Esse artigo analisa o fenômeno da concordância negativa de acordo com a teoria da checagem do Programa Minimalista (Chomsky, 1995). Comparando os dados do português brasileiro com os de outras línguas, fomos levados a considerar fatos de natureza diacrônica que foram descritos através da noção de gramaticalização (Hopper & Traugott, 1993). Finalmente, fizemos a hipótese de que as etapas de mudança lingüística previstas por essa noção são "visíveis" para o sistema computacional.

Negação; Programa Minimalista; Teoria da Checagem; Mudança Lingüística; Gramaticalização


This paper proposes an analysis of the negative agreement phenomenon assuming the checking theory of the Minimalist Program (Chomsky, 1995). After comparing Brazilian Portuguese with other languages, it was necessary to consider some diachronic facts described through the notion of grammaticalization (Hopper & Traugott, 1993). Finally, we claim that the stages of linguistic change presupposed by this notion are "visible" to the computational system.

Negation; Minimalist Program; Checking Theory; Linguistic Change; Grammaticalization


A Negação: Teoria da Checagem e Mudança Lingüística

(Negation: Checking Theory and Linguistic Change)* * Quero agradecer às sugestões de dois pareceristas anônimos desta revista que me permitiram, no meu entender, aperfeiçoar o texto. Os erros que persistem são, evidentemente, de minha responsabilidade.

Lorenzo VITRAL

(

Universidade Federal de Minas Gerais)

ABSTRACT: This paper proposes an analysis of the negative agreement phenomenon assuming the checking theory of the Minimalist Program (Chomsky, 1995). After comparing Brazilian Portuguese with other languages, it was necessary to consider some diachronic facts described through the notion of grammaticalization (Hopper & Traugott, 1993). Finally, we claim that the stages of linguistic change presupposed by this notion are "visible" to the computational system.

RESUMO: Esse artigo analisa o fenômeno da concordância negativa de acordo com a teoria da checagem do Programa Minimalista (Chomsky, 1995). Comparando os dados do português brasileiro com os de outras línguas, fomos levados a considerar fatos de natureza diacrônica que foram descritos através da noção de gramaticalização (Hopper & Traugott, 1993). Finalmente, fizemos a hipótese de que as etapas de mudança lingüística previstas por essa noção são "visíveis" para o sistema computacional.

KEY WORDS: Negation; Minimalist Program; Checking Theory; Linguistic Change; Grammaticalization.

PALAVRAS-CHAVE: Negação; Programa Minimalista; Teoria da Checagem; Mudança Lingüística; Gramaticalização.

0. Introdução

Nos últimos anos, têm surgido vários trabalhos que retomam a idéia da necessidade de se levar em conta a influência de aspectos diacrônicos na análise de fatos sincrônicos. Este artigo, que analisa a distribuição de constituintes negativos em português e outras línguas, pretende ser uma contribuição nesse sentido.

O fenômeno da concordância negativa, existente em algumas línguas mas inexistente em outras, será levado em consideração e examinado através da Teoria da Checagem (cf. Chomsky, 1995). Vamos nos valer também da noção de Gramaticalização que, como se sabe, tem sido usada em estudos de sintaxe funcionalista (cf. Hopper & Traugott, 1993). Esta noção nos servirá, num primeiro momento, apenas como recurso descritivo para sistematizar certas observações de natureza diacrônica. Vamos, entretanto, dar um passo adiante e fazer a hipótese de que o sistema computacional, no sentido de Chomsky (1995), reconhece as etapas de mudança lingüística previstas pelo processo de gramaticalização.

1. Polaridade Negativa e Concordância Negativa

A discussão das construções negativas do inglês tem privilegiado o contraste entre, de um lado, a distribuição dos itens de polaridade negativa, isto é, anybody, anything, anywhere, etc., e de outro, o comportamento dos quantificadores negativos, ou seja, palavras como nobody, nothing, etc. O fenômeno da polaridade negativa pode ser definido levando-se em conta os exemplos seguintes:

(1) a. I didn't see anybody.

b. * I saw anybody.

(2) a. Didn't anybody come?

b. * Anybody come.

Os contrastes acima são, geralmente, atribuídos à necessidade de os itens de polaridade negativa serem c-comandados pela partícula negativa not (ver, entre outros, Jackendoff, 1972; Ladusaw, 1979; Laka, 1988; Progovac, 1994). Estes itens podem, entretanto, aparecer em contextos nos quais a partícula negativa está ausente, como por exemplo em frases condicionais, interrogativas, comparativas e construções-too (cf. Progovac, 1994):

(3) If anyone comes, let me know.

(4) Has anyone come?

Who wants any beans?

(5) John is taller than anyone in his class is.

(6) John is too smart to make any mistakes.

Os dados acima mostram assim, que os itens de polaridade negativa não são inerentemente negativos, podendo ser licenciados por not como em (1a) e (2a) ou nos contextos como (3-6).

Os constituintes nomeados de quantificadores negativos, por outro lado, contrariamente ao que se passa em (1a) e (2a) não precisam ser precedidos da partícula negativa nem podem preceder esta partícula:

(7) a. Nobody came.

b. I saw nobody.

c. * Nobody didn't come.

Em português, a oração que inclui a expressão qualquer pessoa parece, quando esta expressão é precedida por não, admitir uma paráfrase contendo ninguém na posição de objeto:

(8) José não viu qualquer pessoa lá.

e também como em inglês, esta expressão não pode ocorrer na posição sujeito, antecedendo a partícula não:1 1 Note-se, entretanto, que a presença de um verbo modal favorece a presença de qualquer pessoa:

(9) * Qualquer pessoa não irá à festa.

O fenômeno ilustrado por (8) não é, porém, produtivo em nossa língua. As orações abaixo mostram que, quando se fazem anteceder por não, as expressões qualquer coisa e qualquer lugar não equivalem a nada e a nenhum lugar:

(10) a. José não comprou qualquer coisa em Miami.

b. Maria não vai viajar para qualquer lugar.

O termo quantificador negativo, por outro lado, tem sido usado em análises do italiano para designar palavras como nessuno e niente. Estas palavras se comportam como nobody e nothing quando se alocam na posição sujeito mas quando aparecem na posição objeto exigem a presença de uma partícula negativa (ver Rizzi, 1982; Longobardi, 1987 e Zanuttini, 1989).

Na nossa língua, os termos que podem ser definidos como quantificadores negativos se comportam da mesma maneira que seus similares italianos, isto é, exigem a presença da partícula não quando se alocam numa posição posverbal mas parecem impedir sua ocorrência quando se encontram numa posição preverbal:

(11) a. Ninguém (*não) conseguiu passar no vestibular.

b. Manuel não viu ninguém no cinema.

c. * Manuel viu ninguém no cinema.

(12) a. Nada (*não) foi feito em favor dos pobres.

b. José não comprou nada em Miami.

c. * José comprou nada em Miami.

(13) a. Nenhum aluno (*não) conseguiu passar no vestibular.

b. Maria não encontrou nenhum aluno na faculdade.

c. * Maria encontrou nenhum aluno na faculdade.

Os contrastes apresentados acima também são observados no comportamento dos advérbios negativos nunca e jamais:

(14) a. o Luís nunca/jamais estava satisfeito.

b. * O Luís nunca/jamais não estava satisfeito.

c. O Luís não estava nunca/jamais satisfeito.

d. * O Luís estava nunca/jamais satisfeito.

Entretanto, como se verá na seção 8, há dialetos do português brasileiro que aceitam a coocorrência de itens como ninguém ou nunca e a partícula não precedendo o verbo. Por razões de exposição, vou chamar os itens de valor negativo como nada, nunca ou ninguém de itens N.2 2 O fato, então, de a ocorrência da partícula não ser obrigatória quando os itens N se encontram numa posição posverbal, isto é, os contrastes em (11-14), é chamado por Zanuttini (1989) e Haegeman e Zanuttini (1991), que analisam dados do italiano e de outras línguas, de concordância negativa (cf. também Milner, 1982; a respeito do francês; e Labov, 1972).

2. A Análise de Pollock (1989)

A distribuição das palavras de valor negativo do francês é um dos fenômenos analisados por Pollock (1989) num artigo que tem como objetivo estabelecer quais são e como se articulam as categorias da frase. A derivação proposta para orações como (15) se vale da representação, em estrutura-S, exposta em (16):

(15) Jean ne mange pas des andouettes.

(16) [ Jean [ ne mange [ pas [ t [ t [ t des...]]]]]]

TP T' NEGP NEG' AGRP VP

Como se vê, Pollock considera que os elementos ne e pas são constituintes de uma categoria negativa que funcionam, respectivamente, como núcleo e especificador. Para obter a ordem desses constituintes em (15), ele supõe que o núcleo ne - considerado como um clítico - se move para uma posição adjunta a T e que, a este núcleo, também se encontra adjunto o verbo mange. O especificador pas, enfim, se mantém na sua posição sendo, portanto, pronunciado depois do verbo.

A análise que Pollock propõe para as ocorrências das expressões negativas ne...rien, ne...personne, ne...jamais e outras difere, em certos aspectos da que foi proposta para ne...pas. Supõe-se que ne...jamais/ point/guère/plus são geradas numa posição adverbial negativa que aparece numa posição inicial do VP; enquanto que ne...rien é um NP negativo que ocupa uma posição-A. Nesses casos, ne é tratado como núcleo e o segundo termo das expressões negativas como especificador. Por outro lado, com personne, ne não forma um constituinte: personne é visto como o núcleo de um NP e ne é o núcleo de uma categoria negativa sem especificador gerada numa posição à esquerda do VP.

Algumas dificuldades aparecem quando tentamos transpor para o português a análise que acaba de ser resumida. Há, primeiramente, a questão de saber se a partícula não pode ser considerada, à semelhança do ne francês, como um clítico. Esta questão foi discutida por Zanuttini (1989) a respeito da partícula non do italiano. Segundo esta autora, uma vez que existe a ênclise no italiano, o fato de pronomes serem clíticos não os obriga a preceder o verbo. Ora, é claro, assim, que a simples hipótese de que non é um clítico não explica porque, em italiano, esta partícula deve preceder o verbo. O argumento, que não é válido para o português brasileiro falado se considerarmos que, quando ocorre neste dialeto, um clítico é sempre proclítico (cf. Kato, 1994), parece, entretanto, ser pertinente para o português de Portugal ou mesmo para registros mais formais do dialeto brasileiro nos quais a ênclise aparece. De toda maneira, se levarmos em conta o conjunto de propostas conhecido por Programa Minimalista (cf. Chomsky, 1995), a hipótese de Pollock pode ser considerada insuficiente na medida em que não nos oferece uma justificativa, baseada em princípios, para o movimento do núcleo da categoria NEGP: na busca constante de adequação explicativa, o movimento de um constituinte, na perspectiva minimalista, é motivado pela necessidade de checagem de traços gramaticais, o que garante uma dependência convergente entre dois constituintes.

No português brasileiro, há, por outro lado, assim como em francês, uma dicotomia entre não e num. Estas duas partículas, da mesma maneira que non e ne (cf. Moignet, 1965), se encontram em distribuição complementar nos contextos abaixo:

(17) a. não/* num pertinente; não/* num fiável.

b. non/* ne pertinent; non/* ne fiable.

Você comprou o carro?

c. Não/* num.

Avez-vous acheté la voiture?

d. Non/* ne.

e. José não/num é inteligente.

f. Jean *non/n'est pas intelligent.

g. Não/*num,o Oto não parou de fumar.

h. Non/*ne, Oto n'a pas arreté la cigarette.

i. Eu não/num vi a Maria não/*num.

Como se verá na seção 8, os contrastes acima reforçam a hipótese de que ne é um clítico. Poder-se-ia pensar, assim, que num é equivalente ao ne francês, embora, como o mostra (17e, f), a distribuição complementar entre a partícula portuguesa e não, contrariamente ao que se passa em francês, deixe de existir diante do verbo flexionado. Mesmo se num puder ser visto como um clítico, restaria explicar, como já foi mencionado, porque esta partícula deve preceder o verbo.

A eventual transposição da análise de Pollock para o português ainda encontra dificuldades em relação a exemplos como os seguintes:

(18) a. José nunca/jamais ganhará na loto.

b. Nunca/jamais o Pedro diria uma coisa dessas.

c. Pedro nada comprará naquela loja.

d. NADA, a Maria devolveu ao Pedro.

e. Nada foi feito por Pedro.

c. Ninguém sai de casa com um tempo desse.

f. ? NINGUÉM, o José encontrou na festa.

A comparação dos dados acima com os de (11-14) nos permite fazer as seguintes observações:

(A) a presença dos itens N em posições preverbais torna as orações bem-formadas. Compare, por exemplo, (14d) com (18a);

(B) os itens N podem ocorrer sem se fazer acompanhar da partícula não.

A observação (A) nos leva a concluir que, em orações negativas do português, na ausência da partícula não, um item N deve, necessariamente, preceder o verbo. Ora, não há nada no sistema de hipóteses de Pollock que justifique esse fato. Não se poderá lançar mão, evidentemente, da idéia de que também os itens N são clíticos.

A observação (B) acima pode servir como um argumento contra a hipótese da existência da categoria NEGP cujo núcleo seria não e cuja função de especificador seria desempenhada pelos itens N. A fim de mantê-la para o português, somos obrigados a considerar que, em orações como (18), NEGP conteria um núcleo não não realizado fonologicamente. Esta hipótese, que parece artificial na forma que acaba de ser enunciada, pode ser plausível caso consigamos justificar porque a presença de itens N em posições preverbais impede a ocorrência da partícula não.

O debate a respeito da existência da categoria NEGP pode tomar, na verdade, três possíveis vertentes: a primeira delas nega, simplesmente, a possibilidade dos elementos de valor negativo poderem se constituir como categoria sintática autônoma; nesta perspectiva, não haveria NEGP mas apenas advérbios ou nomes de valor negativo; a segunda, como acabamos de ver, leva em conta a existência de NEGP que dispõe de um núcleo, como o ne francês, e constituintes, os itens N, que funcionam como especificador e a terceira vertente considera que uma partícula como não é o núcleo de uma categoria NEG que não dispõe de especificador, ou seja, os itens N não teriam esta função. Essas três possibilidades de análise serão discutidas a seguir.

3. O Estatuto Nuclear da Partícula Negativa

Ao analisar construções do italiano e do francês nas quais as partículas negativas se interpõem entre um clítico e seu vestígio, Kayne (1987) conclui que non e ne funcionam como núcleo no sentido da teoria X-barra. A má-formação de construções desse tipo se deve, então, a um efeito de Minimalidade (cf. Rizzi, 1990). No sistema de hipóteses de Chomsky (1995) prefere-se dizer que se tem uma violação da Condição do Elo Mínimo ("Minimal Link Condition").

O fenômeno mencionado acima também ocorre em português:

(19) a. José não os quer ver.

b. José não quer vê-los.

c. * José os quer não ver.

Supõe-se também que, em inglês, a impossibilidade de construções como (20) abaixo é também um efeito de Minimalidade (cf. Chomsky, 1991): not impede o movimento do verbo likes para INFL na sintaxe encoberta (ou para T, de acordo com Chomsky (1995)):

(20) * John not likes Mary.

Há também certos contrastes entre o comportamento dos advérbios e da partícula não que sugerem ser esta partícula não um advérbio usual mas um núcleo no sentido da teoria X-barra.

Note-se inicialmente que um advérbio não impede o movimento de um clítico:

(21) a. Oto (lhe) tinha (lhe) educadamente pedido para sair do recinto.

b. Mané não a tinha ainda observado.

A partícula não, assim como os auxiliares, permitem a ocorrência de um VP elíptico (ou apagamento de VP). Os advérbios, normalmente, não dispõem dessa propriedade:3 3

(22) a. José não tinha visto a Maria no parque mas o Oto tinha.

b. Udo conseguiu o emprego e o Max não.

c. *Max calmamente sorriu para a criança mas/e Maria calmamente/nervosamente.

Observe-se, enfim, que um advérbio pode aparecer à esquerda ou à direita da categoria modificada enquanto que não, que em (24a), como se verá na seção seguinte, encontra-se em relação de dependência com o predicado, só pode ocupar uma posição pré-verbal (ver, no entanto, (17i):4 4

(23) a. (Provavelmente) Oto vai viajar (provavelmente).

b. Pedro modificou (completamente) seus horários (completamente).

(24) a. Udo não encontrou (* não) a Maria.

b. *Udo encontrou não a Maria.

O fato de a negação dever aparecer numa posição preverbal pode ser analisado através de uma Condição de Adjacência que se faz necessária entre núcleos e seus complementos (ver Williams, 1994), Stowell, 1981; Ouhalla, 1991). Williams propõe que os núcleos das categorias lexicais atribuem seus papéis temáticos numa direção particular, à esquerda ou à direita. Também as categorias não lexicais, como a negação, que estabelecem uma relação de "functor" com seus complementos se submetem à direcionalidade. Através de um Parâmetro de Direcionalidade Temática, a direção é vista como uma dimensão de variação entre as línguas (ver também Travis, 1984). Seguindo a mesma linha de análise, Ouhalla (1991) considera que a dependência entre categorias funcionais e seus complementos pode ser tratada através da noção de Seleção que seria, então, de natureza funcional. Não vou discutir aqui a possibilidade de a dependência entre categorias funcionais e lexicais poder ser analisada através da noção de Economia (cf. Chomsky, 1995). Esta perspectiva não me parece promissora devido ao elevado número de virtuais possibilidades combinatórias entre as categorias.

É possível considerar, então, que a partícula não toma uma categoria XP como complemento, sendo portanto um núcleo no sentido da teoria X-barra.

4. O Escopo da Negação

A análise das construções negativas deve estabelecer o que exatamente é negado pelos itens de valor negativo. Propostas recentes têm considerado que há uma relação de dependência, que implica numa coocorrência, entre as categorias da negação e do tempo. Zanuttini (1989) e Haegeman e Zanuttini (1991) propõem que o núcleo da categoria NEGP seleciona a categoria funcional TP, que é então seu complemento (cf. também Laka, 1988).

Esta hipótese encontra dificuldades, no entanto, quando se observam construções como as seguintes:

(25) a. A não demonstração do teorema por parte do professor levou o governo a prendê-lo.

b. José considera o caseiro não condizente com o emprego.

Como se vê, a partícula negativa aparece num constituinte nominal, precedendo um deverbal, em (25a), e anteposto em relação ao núcleo adjetival da mini oração (small clause) em (25b). A negação pode ainda incidir sobre outros constituintes da oração. Em (26), é um quantificador que é negado e, em (27), um advérbio:

(26) a. Os alunos fizeram não muitos trabalhos.

b. * Os alunos fizeram não trabalhos.

(27) Ele falou não claramente.

Na tradição gramatical, associa-se normalmente a negação à presença do verbo (Jespersen (1917:44), por exemplo, diz: "We...always find a strong tendency to attract the negative to the verb"). Vou considerar a hipótese de a negação ter como complemento, no sentido da teoria X-barra,, uma categoria lexical. O núcleo NEG seleciona, então, um VP em orações como (28) abaixo; um NP em sentenças como (25a); e um advérbio, considerado, portanto, de natureza lexical, em orações como (26a) e (27).5 5 (i) Os alunos fizeram não trabalhos, mas cópias!

(28) José não ama Maria.

Vamos propor que, a fim de que a negação possa ter sob seu escopo a categoria selecionada, o núcleo desta última deve ser c-comandado pelo núcleo não ou por um item N. Esta condição encontra-se destacada abaixo (cf. Vitral, 1992):

(29) Um item de valor negativo deve c-comandar um núcleo lexical na sintaxe visível.

A condição acima é compatível com línguas como o italiano e o espanhol e também com o inglês, como se pode ver por meio das orações abaixo:

(30) a. Mary will not help him.

b. John can't do this.

Nossa condição também parece pertinente para explicar o contraste entre orações como (11c), (12c), (13c) e (14d) e orações como (11a,b), (12a,b), (13a,b), (14,c). Repito abaixo os exemplos (12b) e (12c):

(31) a. José nada comprará em Miami.

b. * José comprará nada em Miami.

Em (31a), contrariamente a (31b), o item N nada c-comanda o verbo, obedecendo à condição (29).6 6 (i) a. O fato de ninguém ter saído não incomodou Maria.

Há, entretanto, uma diferença de comportamento entre o inglês e o português no que concerne a frases como (31b). Em inglês, elas são bem-formadas:

(32) a. Mary bought nothing in the shop.

b. John saw nobody at the party.

O problema colocado por (32) à condição (29) parece, no entanto, ser apenas aparente. Considera-se normalmente que, em inglês, o processo de checagem envolvendo o verbo e a categoria T tem lugar na sintaxe encoberta, após "spell-out" (ver Pollock, 1989; Chomsky, 1995). Já que a condição (29) é pertinente na sintaxe visível, o verbo, ocupando sua posição de origem no VP, é c-comandado pelos itens N nothing e nobody em orações como (32). Por outro lado, em português, nada em (31b) não pode c-comandar o verbo se admitirmos que o verbo, diferentemente do inglês, alça a T antes de "spell-out" (cf. Vitral, 1992).

A análise que acabamos de propor encontra, entretanto, algumas dificuldades. A primeira delas diz respeito ao estatuto teórico de uma condição como (29) que determina a posição linear de um item a fim de que ele possa ter uma categoria (ou o seu conteúdo) sob seu escopo. No modelo minimalista, tem-se procurado determinar a ordem dos constituintes através do processo de checagem. Assim, os itens se alocam no domínio de checagem de uma categoria de forma a checar seus traços formais em relação ao traços formais inerentes da categoria funcional que os abriga. É teoricamente desejável, então, que os fatos previstos por meio da noção de escopo possam ser reduzidos à teoria da checagem. O segundo problema da condição (29) é empírico e diz respeito à sua aparente falta de universalidade. Em algumas línguas, como por exemplo, o francês falado e as línguas escandinavas - os exemplos abaixo são, respectivamente, do sueco e do islandês -, a negação pode aparecer numa posição posverbal e, nestas línguas, considera-se que o alçamento do verbo se faz antes de "spell-out" (cf. Pollock, 1989; Holmberg & Platzack, 1988):

(33) Jean achetera pas le bouquin.

(34) a. Köpte Jan inte boken.

b. Keypti Jón ekki bókina.

comprou J. não o livro.

"João não comprou o livro".

Em (33) e (34b), admite-se que o verbo ocupa a posição T e, em (34a), é em C que ele se encontra. Nestas posições, os verbos não podem ser c-comandados pelos elementos negativos, o que viola a condição (29).

Na seção seguinte, os dados descritos pela condição (29) e também os problemas que esta condição levanta serão reconsiderados à luz da teoria da checagem.

5. A Negação e a Teoria da Checagem

Não é nova a idéia de o escopo da negação poder ser determinado através de uma configuração especificador-núcleo, envolvendo uma concordância de traços formais negativos (cf. Rizzi, 1990; Haegeman & Zanuttini, 1991; Zanuttini, 1994). Essa hipótese pode ser aprimorada através da teoria da checagem de Chomsky (1995). Vamos considerar, então, que as construções negativas dispõem de uma categoria funcional negativa inerentemente definida pelo traço [+NEG]. Desde já, pode-se perguntar a respeito da localização desta categoria negativa. Na literatura, há duas hipóteses principais: 1º) o núcleo NEG toma TP como complemento, e 2º) o núcleo T toma NEGP como complemento. A distribuição das partículas negativas, se compararmos línguas como o inglês, o português e o árabe, favorece a segunda hipótese (cf. Benmamoun (1990) sobre o árabe). Além disso, adotá-la nos evita ter de encontrar uma razão para explicar o fato de o sujeito, de acordo com a primeira hipótese, ocupar a posição de especificador de NEGP.

A estrutura da oração negativa é, então, a seguinte (o uso do esquema X-barra é notacional e irrelevante na nossa discussão):

(35) [ [ T [ [ NEG [ DP V DP]]]]]

TP T' NEGP NEG' VP

Vamos considerar, assim, que a presença na numeração da partícula não ou de um item N, que são caracterizados por um traço formal [+NEG], faz surgir uma categoria também definida pelo traço [+NEG], que tem a natureza Forte, isto é, exige a checagem antes de "spell-out". A partícula não é inserida por meio da operação JUNTAR (MERGE) em NEG de forma a checar o traço [+NEG]. Os itens N tais como nada ou ninguém, que se alocam na posição objeto ou, funcionando como argumento externo, na posição de especificador de VP, e nunca e jamais, que aparecem numa posição adverbial adjunta ao VP, se deslocam através da operação MOVER (MOVE) e podem ocupar a posição de especificador de NEGP ou transitar por esta posição. As duas operações permitem a checagem do traço [+NEG]. Quando o deslocamento dos itens N tem lugar na sintaxe visível, a inserção da partícula não é necessária e ter-se-á a geração de orações como (36):7 7

(36) a. José nada encontrou na estante.

b. Ninguém conseguirá passar no vestibular.

c. Pedro nunca estava satisfeito.

Quando a operação JUNTAR insere a partícula não, o deslocamento dos itens N não precisa ser feito de forma que são derivadas frases como (37):

(37) a. Maria não encontrou nada na estante.

b. José não ganhará nunca na Sena.

A má-formação de orações como (38) abaixo se deve ao fato do traço Forte [+NEG] não ter sido checado antes de "spell-out":

(38) a. * José encontrou ninguém na sala.

b. * Maria ganhará jamais na sena.

Vamos admitir então que o traço [+NEG] que define a categoria NEG é interpretável e permanece disponível para o sistema computacional e visível no nível da Forma Lógica mesmo após ter sido checado. Adaptando para as frases negativas do português a análise de Chomsky (1995) para as orações interrogativas do inglês, pode-se dizer que o traço [+NEG] dos itens N também é interpretável e dispensado de checagem. Como vimos, os itens N alçam, então, para o domínio de checagem de NEG apenas se esta opção é selecionada para eliminar o traço Forte de NEG.8 8

A derivação de frases como (36b) supõe, por outro lado, que ninguém transita pela posição de especificador de NEGP antes de se alocar na posição de especificador de TP na qual o traço D de T é checado. Os itens N podem, também, recebendo foco, aparecer numa posição no início da frase, após terem participado da checagem do traço [+NEG]:

(39) NUNCA, o Mané conseguirá ganhar na Loto.

Finalmente, somos levados a concluir que, na nossa língua, o movimento do verbo para T não se faz na sintaxe visível.9 9 (i) * Oto completamente modificou seus horários.

6. A Teoria da Checagem e a Negação Pós-verbal

Como vimos na seção 4, existem línguas, como o francês falado e as línguas escandinavas, nas quais os itens negativos aparecem numa posição posverbal (cf.(33) e (34)).

Em islandês, um advérbio negativo pode ainda aparecer entre o objeto direto e um sintagma preposicionado (cf. Holmberg & Platzack, 1988):

(40) Hann stingur smjörinu aldrei i vasann.

ele coloca manteiga jamais no seu bolso.

"Ele jamais coloca manteiga no seu bolso".

Orações como (33), (34) e (40) têm desafiado as várias análises da negação que procuram estabelecer um eventual caráter universal do escopo dos itens negativos, levando em conta a relação entre a posição desses itens e a posição das categorias T (ou I) e V.

Considerando a análise proposta na seção anterior, pode-se perguntar, então, quais são as previsões feitas pela Teoria da Checagem em relação a orações como (33), (34) e (40). Como foi dito anteriormente, supõe-se que, em orações como (34a), o verbo encontra-se na posição C, o que, aliás, é proposto, normalmente, para as línguas V2. Se, então, NEGP se aloca entre T e o VP, V, ao se mover para C, teria violado a Condição do Elo Mínimo, ao "pular" a posição núcleo de NEGP. Esta conclusão indesejável pode ser evitada se dissermos que itens como ekki e inte não ocupam a posição núcleo de NEGP. Estes itens podem ser analisados como especificadores de NEGP ou como adverbiais gerados na posição de adjunção a VP. A primeira opção é, aliás, admitida por Pollock (op. cit.) para o pas francês. Vou adotar a seguinte análise desses fatos: itens como pas, ekki e inte, através da operação JUNTAR, encontram-se adjuntos ao VP antes de "Spell-Out" e se movimentam para o domínio de checagem de NEG na sintaxe encoberta de forma a checar o traço [+NEG], ou seja, nestas línguas, este traço é Fraco.

A boa-formação de orações como (40) parece mostrar que o item negativo aldrei não ocupa, antes de "Spell-Out", uma posição no domínio de checagem de NEG. Também o fato de o francês falado admitir itens negativos na posição objeto mostra que, nesta língua, o processo de checagem exigido por NEG se faz no componente encoberto:

(41) a. J'ai vu personne dans le cinéma.

b. Paul a acheté rien hier.

A análise desenvolvida até aqui permite, enfim, fazer a seguinte classificação de línguas:

(42) A. Línguas em que NEG é Forte: português, inglês, italiano.

B. Línguas em que NEG é Fraco: islandês, sueco, francês falado.

7. O Ciclo de Jespersen e a Noção de Gramaticalização

A classificação estabelecida em (42) faz surgir, naturalmente, a questão sobre a razão da variação entre as línguas no que concerne à natureza da categoria negativa. O que determina o estatuto Forte/Fraco de NEG?

A fim de tentar responder a esta questão e também analisar certos fatos que se mantêm rebeldes ao tratamento proposto nas seções 5 e 6, parece-me ser de grande valia considerar certos fenômenos de natureza diacrônica, que podem ser descritos através da noção de Gramaticalização.

Sabe-se que a posição da negação em relação ao verbo pode também caracterizar estágios diferentes de uma mesma língua. Observando o inglês e o francês, Jespersen (1917,1971) sistematiza este fato através do seguinte ciclo:

(43) Ciclo de Jespersen Inglês Francês 1º Ic ne secge Jeo ne di 2º I ne seye not Je ne dis pas 3º I say not Je dis pas 4º I do not say 5º I don't say

O ciclo em (43) parece refletir a evolução da expressão da negação em outras línguas além do inglês e do francês: o dinamarquês, cuja partícula negativa ikke, adquiriu sentido negativo historicamente, parece se situar no estágio 3º de (43). O mesmo pode ser dito para o sueco e o islandês analisados na seção anterior (cf. Jespersen, 1971: 480). Acrescente-se ainda ao paradigma inglês de (43) o fato de, em certos contextos, como em I don't know, haver uma redução fonética da partícula negativa, o que é analisado por Zwicky & Pullum (1983) como um fenômeno de cliticização de not.

O ciclo de Jespersen deixa entender que há uma relação entre a redução fonética da partícula negativa preverbal e o aparecimento de itens de valor negativo em posições posverbais, isto é, a redução da partícula preverbal faz surgirem itens negativos em posições posverbais que, por sua vez, adquiriram sentido negativo historicamente. Após o desaparecimento da partícula preverbal, os itens negativos posverbais passam a ser os constituintes que expressam negação e tendem, eles também, a sofrer redução fonética e se comportarem como clítico.

A descrição do ciclo de Jespersen que acabamos de fazer parece poder ser corroborada por dois tipos de fenômenos portugueses.

O primeiro deles diz respeito à possibilidade de se atribuir o estatuto de clítico à partícula negativa num que, assim como foi visto em (17), se encontra em distribuição complementar com a forma não. Em (17), o fato de num não poder aparecer junto ao adjetivo; não poder funcionar como resposta a uma pergunta; nem poder aparecer topicalizado ou numa posição posverbal confirma o estatuto clítico dessa partícula: também um clítico pronominal não ocorre nestes ambientes.

As conclusões a que chega Ramos (1996) também reforçam a hipótese do estatuto clítico de num: 1) num não aparece antes de pausa, o que indica uma contigüidade estrita entre esta forma e o verbo; 2) num liga-se ao constituinte à direita e não ao constituinte à esquerda, o que é compatível com a ausência de ênclise no português brasileiro falado; 3) num não recebe acento contrastivo; 4) num é favorecido quando há um NP quantificado numa posição posverbal, o que permite identificar uma correlação entre a presença de reforço e a redução fonética na posição preverbal; 5) levando-se em conta a faixa etária dos falantes, confirma-se que a variante num é inovadora;10 10 6) as orações subordinadas desfavorecem a variante num, o que é coerente com seu caráter inovador.

A outra evidência da descrição proposta para o ciclo de Jespersen se refere ao fato, amplamente reconhecido, de certas palavras de valor negativo do português atual, e de outras línguas, terem adquirido, através de sua evolução histórica, a possibilidade de exprimir negação. É o caso, por exemplo, da palavra nada que se originou de uma redução da locução rem natam "coisa que exista" e, no português arcaico, tinha, como equivalente, somente a forma rem (cf. Mattoso Câmara, 1979; Nunes, 1945: II 10; Ilari, 1984). Rem deu origem também ao francês rien. Ainda em relação ao francês, pode-se citar os exemplos dos itens negativos personne e pas que, em estágios anteriores, significavam apenas "pessoa" e "passo" (cf. Traugott, 1980; Hock, 1991; Schwegler, 1988). O português atual admite ainda a possibilidade de expressões como um tostão ou um pio em, por exemplo, Eu não tenho um tostão ou Ele não deu um pio , participarem da negação da proposição.

O processo de cliticização envolvendo as partículas não e num parece não ser o único em curso no português brasileiro atual. Em Vitral (1996), propôs-se que a distribuição complementar entre as formas você e mostra ser esta última o resultado de um processo de cliticização que teve como ponto de partida a expressão Vossa Mercê. Admitiu-se, então, que a forma é o penúltimo estágio de um processo de gramaticalização que pode ser descrito por meio das seguintes etapas (cf. Hopper & Traugott, 1993):

(44) a. item lexical > b.item gramatical > c.clítico > d.afixo

As observações feitas a propósito do ciclo de Jespersen parecem indicar que é possível analisar este ciclo de forma a reduzi-lo ao processo de gramaticalização apontado em (44). O desaparecimento das partículas preverbais pode ser visto como o estágio Æ, posterior ao estágio (d) de (44), também previsto por Hopper & Traugott (op.cit.). Vem ao apoio dessa proposta o fato de itens de natureza lexical poderem adquirir valor negativo historicamente e se tornarem, assim, itens gramaticais ou, nos termos da Gramática Gerativa, itens funcionais: é o caso, por exemplo, da palavra nada. Por outro lado, a mudança em curso envolvendo o par não/num, descrita por Ramos (1996), parece incluir apenas as etapas (b) e (c) de (44). Este fato pode ser analisado de duas maneiras: 1) há mais de um ponto de entrada no processo de gramaticalização, isto é, no caso de não/num, ele se inicia no estágio (b); ou 2) o estágio (a) é tão remoto que se torna difícil recuperá-lo: de acordo com Jespersen (1971:479) a forma ne era, em sua origem indo-européia, uma interjeição que exprimia repugnância.

Comparando agora as observações feitas a respeito do ciclo de Jespersen, o processo de gramaticalização e a análise desenvolvida na seção 7, pode-se dizer que a aplicação da operação MERGE e MOVE que, ao distinguirem traços funcionais e lexicais e a natureza Forte/Fraca dos traços funcionais, são responsáveis pelo processo de checagem, leva em conta o estágio de gramaticalização, no que concerne à expressão da negação, em que a língua se encontra.

Vamos detalhar o que acaba de ser dito observando então que, à primeira vista, os itens do estágio (b) de (44) são aqueles que podem participar do processo de checagem por meio da operação MOVE que os aloca na posição de especificador de NEGP. Já os itens do estágio (c) de (44) são aqueles que participam do processo de checagem através da operação MERGE e ocupam a posição núcleo de NEGP. No entanto, a partícula não não é um clítico mas, de acordo com nossa análise, é inserida na posição núcleo. Para entender a razão dessa dificuldade é preciso analisar mais de perto as etapas do processo de Gramaticalização descrito em (44).

Os dois primeiros estágios de (44) são estabelecidos levando-se em conta um critério de tipo semântico: é a "perda de significado" que permite um item lexical se transformar em item gramatical ou funcional.11 11 Por outro lado, a mudança envolvendo os estágios (c) e (d) é determinada através de critério morfo-fonético. Vamos separar estas duas dimensões e propor uma versão extendida do processo de gramaticalização que terá o seguinte esquema:

(45) A. a. Lexical > b.Gramatical

B. a1. p.máxima >b1.p.máxima > b2.núcleo > b3.clítico > b4. afixo.

Vamos admitir então que o processo de gramaticalização funciona em paralelo levando em conta os eixos A e B de (45) e que, além disso, o componente computacional distingue os estágios previstos no eixo (B). Por razões de espaço, não vou me deter aqui a respeito da questão sobre como o componente computacional distingue, por exemplo, os núcleos clíticos dos não clíticos. Em Vitral (em preparação), desenvolve-se a hipótese de o traço [+FOCO] ser o traço formal responsável por essa distinção.12 12

A forma não pode, então, ser classificada como do tipo (b2), assim como os itens non e not; exemplos de (b3) são as partículas num, ne e n't; nunca, pas, ekki, inte, nada são ocorrências de (b1).13 13 Vamos observar, por outro lado, que, nas línguas que dispõem de itens do tipo (b2) e (b3), a categoria NEG é Forte, já para aquelas línguas que só dispõem de itens do tipo de (b1), a categoria NEG é caracterizada como Fraca.

A descrição acima pode se visualizada através do seguinte quadro:

(46)

A análise proposta parece atestar a existência de uma correspondência entre a Teoria da Checagem e o processo de Gramaticalização, que pode ser assim resumida: a Teoria da Checagem determina a ordem dos itens na oração valendo-se da natureza desses itens e esta sofre mutações previstas pelo processo de Gramaticalização. É preciso dizer, no entanto, que o componente computacional reconhece não o processo de Gramaticalização e sim as etapas por ele previstas, o que o faz gerar produtos diferentes.

Lançar mão do processo de Gramaticalização pode ter, enfim, a vantagem de retirar o caráter estipulativo da distinção Forte/Fraco utilizada pela Teoria da Checagem no que concerne ao fenômeno da negação mas introduz a questão de explicar a natureza desse processo tal qual está descrito em (45).

8. Alguns Problemas e a Interpretação da Negação

Nesta seção, vamos fazer algumas especulações e sugestões de análise a respeito de certos fenômenos que se mostram rebeldes em relação à análise proposta.

No dialeto do português brasileiro examinado, a coocorrência de, por exemplo, o item N ninguém na posição sujeito e da partícula não é agramatical mas há dialetos, no entanto, nos quais as frases abaixo são bem formadas:

(47) a. Ninguém num disse isso.

b. Ele nem num fez isso.

Construções como (47) já existiram no português do século XVI como nos mostram os seguintes exemplos de Said Ali (1966) (ver também Matos & Silva, 1990):

(48) a. Nem eu nom vos faço prazer.

b. Nenhum nom lhe soube dizer.

Também em italiano e espanhol, estruturas como (48) eram produtivas (cf. Meillet & Vendryes (1948), e subsistem, como se sabe, no francês escrito:

(49) a. Personne ne crois aux politiciens.

b. Jamais, il ne dirais ça!

Para analisar esse tipo de construção, vamos, inicialmente, fazer algumas considerações a respeito da interpretação das construções negativas.

A interpretação de orações como (50) abaixo pode ser descrita através da expressão em (51) (cf. Rizzi, 1982: 124):

(50) Ninguém quebrou a janela.

(51) Não há x, x = pessoa, tal que x quebrou a janela.

Deve-se observar que embora a negação em (50) incida sobre a posição sujeito, como o mostra a fórmula em (51), ela tem o efeito de uma negação sentencial. Não foi praticada assim a ação de "quebrar a janela". É provável que o correspondente formal dessa interpretação seja, como nossa análise mostrou, a possibilidade de o traço [+NEG] ser checado por ninguém, que também dispõe desse traço.

Pode-se agora especular que no dialeto que aceita ninguém num preverbais, um dos dois itens não contém o traço negativo inerente capaz de checar [+NEG]. Já que, como vimos, os itens ganham valor negativo historicamente, é possível que, no português do século XVI, nenhum não tivesse, ainda, a capacidade de checar o traço [+NEG] (cf. Martins (1997), enquanto que, nos dialetos atuais que admitem (47), talvez a partícula num não seja capaz de checar este traço, se comportando, assim, como um expletivo.14 14

Esta análise parece encontrar apoio nos fatos do francês. Como se sabe, admite-se que a partícula negativa ne do francês seja expletiva ou redudante. A seu respeito, Robert Martin (1972:21) nos diz que se trata de um morfema que

...ne modifie pas le signe de l'énoncé et qui peut être supprimé sans dommage autre pour le sens que celui d'une subtile nuance.

Também segundo Muller (1984), nos contextos em que o ne expletivo aparece, são os verbos (ou as preposições) que retêm o valor negativo do enunciado (ver também Stauf, 1928). Pode-se supor, então, que nos contextos como (49), tenha-se, na verdade, mais uma ocorrência de ne expletivo, isto é, incapaz de checar o traço [+NEG].

As hipóteses levantadas nesta seção podem ainda levar em conta, o que não será desenvolvido aqui por razões de espaço, o comportamento da categoria NEGP em comparação com a categoria CP. O dialeto português examinado nesta seção, contrariamente àquele descrito na seção 1, admite, nos termos da teoria X-barra, o preenchimento simultâneo das posições de núcleo e de especificador de NEGP. É interessante observar que este preenchimento duplo, no que concerne à categoria CP, é a regra em várias línguas e levou Chomsky (1995) a propor a equivalência das operações JUNTAR e MOVER no que concerne à teoria da Checagem. O dialeto português apresentado na seção 1 mostra, no entanto, que se impõe a escolha de uma das duas operações para a checagem de [+NEG].

A comparação com a categoria CP deve ainda considerar os seguintes dados:

(52) a. Nunca, ninguém derrubará o governo.

b. Nada jamais foi feito a seu favor.

As orações acima mostram que não há impedimento de preenchimento múltiplo da posição de especificador de NEGP.15 15 (i) a. *Nada ninguém disse a respeito de Oto. Ora, também neste aspecto, a comparação com a categoria CP é pertinente: como se sabe, em várias línguas, existem construções com múltiplos sintagmas-WH, que foram analisadas através de uma regra de Absorção na posição de especificador de CP (cf. Higginbothan & May, 1981; Aoun, Hornstein & Sportiche, 1981; Moritz & Valois, 1994). Nos termos de Chomsky (1995), podemos dizer que, em (52), o traço [+NEG], que é interpretável, pode ser checado por um item, não ser apagado e permanecer visível para a checagem de outro item.

O segundo problema que vamos examinar diz respeito às frases seguintes do inglês:

(53) a. I see nobody at the party.

b. I buy nothing in the shop.

As orações acima colocam dificuldades para a nossa análise pelas seguintes razões: concluímos que o inglês dispõe de um traço [+NEG] Forte que exige a checagem antes de Spell-out. Ora, as frases acima parecem mostrar o contrário, ou seja, os traços negativos de nothing e nobody, provavelmente, alçam para o domínio de checagem de NEG na sintaxe encoberta. A suposição que se pode fazer é que as orações em (53) pertencem ao estágio 3 do Ciclo de Jespersen descrito em (43), isto é, é provável, mas não será investigado aqui, que orações como (53) conviviam com frases do tipo de I see not Mary. Tratar-se-ia, portanto, de resíduos de uma época em que a categoria NEG do inglês era Fraca. O mesmo pode ser proposto para orações como He is not happy que apresentam verbo cópula.

As observações a respeito de (53) nos permitem concluir que o apelo à noção de gramaticalização pode ainda nos ser útil como critério para decidir se um determinado fato lingüístico é de natureza residual e, assim, localizá-lo em relação aos processos de mudança nos quais a língua se encontra.

(i) a.*Qualquer pessoa foi à festa.

b. Qualquer pessoa pode ir à festa.

Como vamos ver adiante, dispõe de valor negativo o item lexical caracterizado inerentemente pelo traço [+NEG]. Nessa perspectiva, os itens de polaridade negativa não têm valor negativo.

Assim como

não e

num, o advérbio

também tem a propriedade de ocorrer com VP elíptico, o que talvez se deva ao fato de ele indicar, inerentemente, duplicidade. Por outro lado, o advérbio

, que também admite apagamento de VP, pode ser analisado como um aspectual ou um marcador de frase afirmativa.

Em alguns dialetos do português brasileiro, é possível, como se sabe, a ocorrência de

não posverbal, principalmente, como resposta a uma pergunta (mais detalhes sobre negação pós verbal são apresentados na seção 7):

(i) - Você viu o José?

- Vi não (* o José)

O contraste entre (26b) e (25a) parece mostrar que a presença da negação é favorecida quando o núcleo nominal aparece com o seu complemento. Por outro lado, em ambientes contrastivos, é possível a negação do objeto:

O contraste abaixo pode servir de apoio à condição (29) (ver, no entanto, a seção 8 a respeito de (ib)):

b. * Ninguém não incomodou Maria.

Nossa análise deixa entender que a ausência de

não na numeração já predetermina a movimento de itens N antes de "spell-out". A numeração pode não ser, então, apenas um "punhado" de itens do léxico. A formação das frases negativas inglesas, com inserção de

do, nos leva à mesma conclusão. Permitir a inserção de

não (em construções em que esta partícula coocorre com um item N) e

do, que estariam assim ausentes da numeração, num ponto posterior da derivação acarreta, por outro lado, dificuldades em relação à Economia.

Na literatura, há, entretanto, evidências, a respeito de fenômenos de localidade, que nos levam a concluir que itens N, como

nessuno ou

personne, sofrem movimento na Forma Lógica (cf. Rizzi, 1982; Longobardi, 1991; Moritz & Valois, 1994). Dever-se-á supor, assim, que o traço interpretável [+NEG] de itens como

nessumo se encontra no domínio de checagem do núcleo NEG no nível da Forma Lógica.

A agramaticalidade de frases como (i), contrariamente ao que se passa em inglês, em que um advérbio de modo aparece diante do verbo parece ser um contra-exemplo à hipótese do não movimento do verbo, no português brasileiro, na sintaxe visível (cf. Vitral, 1992):

No entanto, um adverbio em mente que permite, além da interpretação de modo, também a leitura "orientado para o sujeito" (ver Jackendoff, 1972), é admitido entre o sujeito e o verbo:

(ii) Mané calmamente sorriu.

A frase (ii) é ambígua, permitindo as duas interpretações mencionadas.

O fato de a posição preferencial para o advérbio, no português brasileiro, ser entre o sujeito e o verbo pode ser também uma evidência da hipótese do não movimento do verbo antes de "spell-out". Em relação ao problema colocado pela frase (i), pode-se, enfim, fazer a previsão de que, provavelmente, um advérbio de modo "puro", como completamente, é mais freqüente em posição final, o que dependerá, evidentemente, de um levantamento estatístico.

A distribuição dos advérbios tem sido, por outro lado, colocada em dúvida como critério para se atestar o movimento do verbo (cf. Chomsky, 1995; Costa, 1996).

Sabe-se, porém, que a forma

num encontra-se atestada em textos medievais (cf. Huber, 1933). Será preciso verificar se o

num medieval se encontra em distribuição complementar com a forma

não e também comparar a freqüência dessas duas formas nesses textos. Talvez a partícula

num medieval não apresente comportamento de clítico e tenha-se um caso de variação estável que, apenas recentemente, no português do Brasil, de acordo com a análise com base em dados do tempo aparente, parece começar a se decidir a favor da forma

num.

Vitral & Ramos (1997) apresentam uma discussão a respeito da natureza da "perda de significado" apontada pelos autores que lidam com a noção de gramaticalização.

Para uma discussão a respeito do confronto entre as perspectivas sintáticas e fonológicas no que concerne à cliticização, pode-se consultar, entre outros, Fontana (1993), Rouveret (1989) e Brandão de Carvalho (1989).

Note-se, porém, que do ponto de vista do eixo A, as formas (b1) não são homogêneas:

nada e

nunca podem adquirir valores semânticos não admitidos, por exemplo, por

pas, que é apenas um marcador negativo. Trata-se de mais uma razão obrigando-nos a precisar a natureza da "perda de significado" mencionada na literatura sobre gramaticalização (cf. Vitral e Ramos, 1997).

Vitral & Ramos (1997) discutem dados de Duarte (1997) que mostram, de forma independente, o uso da forma

você como expletivo.

O preenchimento múltiplo da posição de especificador de NEGP, assim como no caso da posição de especificador de CP, parece porém, sofrer restrições. Observe-se o contraste abaixo:

b. Ninguém nada disse a respeito de Oto.

À primeira vista, a má-formação de (ia) é um problema de superioridade (cf. Rizzi, 1990).

  • AOUN, J., N. HORNSTEIN & D. SPORTICHE (1981) Some Aspects of Wide Scope Quantification. Linguistic Inquiry 18, pp.537-577.
  • BENMAMOUN, A. (1990) Inflectional Morphology: Problems of Derivation and Projection, Ms., USC.
  • BRANDĂO DE CARVALHO, J. B. (1989) Phonological Conditions on Portuguese Clitic Placement: on Syntatic Evidence for Stress and Rhythmical Patters. Linguistics 27, pp.405-436.
  • CHOMSKY, N. (1991) Some Notes on Economy of Derivation and Representation. In: R.Freiden (ed.) Principles and Parameters in Comparative Grammar. Cambridge: The MIT Press.
  • _____ (1995) The Minimalist Program. The MIT Press, Cambridge.
  • COSTA, J. (1996) Adverb positioning and V-Movement in English: Some More Evidence. Studia Linguistica, 501: 22-34.
  • DUARTE, M. E. L. (1997) A Sociolingüística Paramétrica: perspectivas. Comunicaçăo apresentada no 1ş Seminário Nacional de Estudos Lingüísticos, Joăo Pessoa.
  • FONTANA, J. (1993) Phrase Structure and the Syntax of Clitics of Spanish. Ph D dissertation, University of Pennsylvania.
  • HAEGEMAN, L. & R. ZANUTTINI (1991) Negative Heads and Negative Concord, ms., Université de Genčve.
  • HIGGINBOTHAM, J. & R. MAY (1981) Questions, Quantifiers, and Crossing. The Linguistic Review 1: 41-79.
  • HOCK, H. H. (1991) Principles of Historical Linguistics Berlin: Mouton de Gruyter.
  • HOLMBERG, A. & C. PLATZACK (1988) On The Role of Inflection in Scandinavian Syntax. Ms., University of Stockholm.
  • HOPPER, P. & E. TRAUGOTT (1993) Grammaticalization Cambridge: Cambridge University Press.
  • HUBER, J. (1933) Altportugiesiches Elermentrbuch. Carl Winters Universitätsbuchhandlung: Heidlberg. trad. Port. de M. M. G. Delille. Lisboa, Gramática do Portuguęs Antigo, Fundaçăo Caloustre Gulbenkian, 1996.
  • ILARI, R. (1984) Locuçőes Negativas Polares: Reflexőes sobre um Tema de Todo Mundo. Lingüística: Questőes e Controvérsias Série Estudos 10, Uberaba.
  • JACKENDOFF, R. (1972) Semantic Interpretation in Generative Grammar.
  • JESPERSEN, O. (1971) The Philosophie de la Grammaire. Traduçăo francesa de The Philosophy of Grammar. Paris: Editions de Minuit.
  • _____ (1917) Negation in English and other languages Kobenhavn: Bianco Lunos Bogtrykkeri.
  • KATO, M. (1994) Portuguęs Brasileiro Falado: aquisiçăo em contexto de mudança lingüística, ms., Congresso Internacional sobre o Portuguęs, Lisboa.
  • KAYNE, R. (1987) Facets of Romance Past Participle Agreement", ms., MIT.
  • LABOV, W. (1972) Negative Attraction and Negative Concord, Language 48: 773-818.
  • LADUSAW, W. (1979) Polarity Sensitivity as Inherent Scope Relations. Tese de Doutorado, The University of Texas at Austin.
  • LAKA, I. (1988) Constraints on Sentence Negation: the Case of Basque, ms., MIT.
  • LONGOBARDI, G. (1987) The Negation Systems of Romance, Glow Newsletter.
  • _____ (1991) In defense of the correspondence hyphotesis: island effects and parasitic constructions in Logical form. In: Logical Structure and Linguistics Structure, C. T. James Huang and Robert May (eds), 149-196, Dordrecht, Kluwer.
  • MARTIN, R. (1992) La Négation de Virtualité du Moyen Français, Romania, 93, 20-49.
  • MARTINS, A. M. (1997) Aspectos da Negaçăo na História das Línguas Românicas (da Natureza de palavras como nenhum, nada, ninguém). Actas do XII Encontro Nacional da Associaçăo Portuguesa de Lingüística. Lisboa: A. P. L: 170-210.
  • MATOS & SILVA, R. V. (1990) Estruturas Trecentistas: Elementos para uma Gramática do Portuguęs Arcaico Lisboa: Imprensa Nacional, Casa da Moeda.
  • MATTOSO CAMARA JR., J. (1979) História e Estrutura Portuguesa, Padrăo, Rio de Janeiro: Editora Padrăo.
  • MEILLET, A. & J. VENDRYES (1948) Traité de Grammaire Comparée des langues Classiques, 2e éd., Paris: Lib. Honoré Champion.
  • MILNER, J. C. (1982) Ordres et Raisons de Langue, Paris: Le Seuil.
  • MOIGNET, G. (1965) L'Opposition NON/Ne en Ancien Français, Trav. Ling. Litt., Strasbourg,T 3: 41-65.
  • MORITZ, L. & D. VALOIS (1994) Pied-Piping and Specifier-Head Agreement. Linguistic Inquiry, 25, 4, pp.667-707.
  • MULLER,C. (1984) L'Association Négative. Langue Française 62: 59-94.
  • NUNES, J. J. (1945) Compęndio de Gramática Histórica Portuguesa, Lisboa: Livraria Clássica Editora.
  • OUHALLA, J. (1991) Functional Categories and Parametric Variation London: Routledge.
  • POLLOCK, J-Y. (1989) Verb Movement, Universal Grammar, and the Structure of IP, Linguistic Inquiry 20 3 :365-474.
  • PROGOVAC, L. (1994) Negative and Positive Polarity: a Binding Approach Cambridge: Cambridge University Press.
  • RAMOS, J. (1996) A Alternância entre "năo" e "num" no Dialeto Mineiro: um caso de mudança lingüística. Ms., UFMG.
  • RIZZI, L. (1982) Issues in Italian Syntax. Dordrecht: Foris Publications.
  • _____ (1990) Relativised Minimality Cambridge :The MIT Press.
  • ROUVERET, A. (1989) Cliticizaçăo e Tempo em Portuguęs Europeu. Cadernos de Estudos Lingüísticos 17: 9-37.
  • SAID ALI, M. (1966) Gramática Histórica da Língua Portuguesa Rio de Janeiro: Ediçőes Melhoramentos.
  • SCHWEGLER, A. (1988) Word-order Changes in Predicate Negation Strategies in Romance Languages. Diachronica 5: 21-58.
  • STAUF, I. (1928) Recherches sur le "ne" Redondant Paris: Rousseau.
  • STOWELL, T. (1981) Origins of Phrase Structure, PhD dissertation, MIT.
  • TRAUGOTT, E. (1980) Meaning-change in the Development of Grammatical Markers, Language Science 2: 44-61.
  • TRAVIS, L. (1984) Parameters and Effects of Word Order Variation, PhD dissertation, MIT.
  • VITRAL, L. (1992) Structure de la Proposition et Syntaxe du Mouvement en Portugais Brésilien. Thčse de doctorat nouveau régime: Université Paris VIII.
  • _____. (1996) A Forma Cę e a Noçăo de Gramaticalizaçăo, Revista de Estudos da Linguagem 5: 115-124.
  • _____. (em preparação) A Natureza Sintática da Cliticização. UFMG.
  • _____. & J. Ramos (1997) Gramaticalizaçăo de "Vocę": um processo de perda de informaçăo semântica? Ms., UFMG.
  • WILLIAMS, E. (1994) Thematic Structure in Syntax Cambridge: The MIT Press.
  • ZANUTTINI, R. (1989) The Structure of Negative Clause in Romance. Ms., University of Pennsylvania.
  • ZANUTTINI, R. (1994) Re-Examining Negative Clauses. In: G. CINQUE, J. KOSTER, J. -Y POLLOCK, L. RIZZI, R. ZANUTTINI (eds.) Paths Towards Universal Grammar Studies in Honor of Richard Kayne Washington D. C.: Georgetown University Press.
  • ZWICKY, A. & G. PULLUM (1983) Cliticization vs. Inflection: English n't. Language, 59: .502-510.
  • *
    Quero agradecer às sugestões de dois pareceristas anônimos desta revista que me permitiram, no meu entender, aperfeiçoar o texto. Os erros que persistem são, evidentemente, de minha responsabilidade.
  • 1
    Note-se, entretanto, que a presença de um verbo modal favorece a presença de
    qualquer pessoa:
  • 2
  • 3
  • 4
  • 5
    (i) Os alunos fizeram não trabalhos, mas cópias!
  • 6
    (i) a. O fato de ninguém ter saído não incomodou Maria.
  • 7
  • 8
  • 9
    (i) * Oto completamente modificou seus horários.
  • 10
  • 11
  • 12
  • 13
  • 14
  • 15
    (i) a. *Nada ninguém disse a respeito de Oto.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Jan 2000
    • Data do Fascículo
      Fev 1999
    Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP PUC-SP - LAEL, Rua Monte Alegre 984, 4B-02, São Paulo, SP 05014-001, Brasil, Tel.: +55 11 3670-8374 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: delta@pucsp.br