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Categorização, frame e valores sociais em um programa televisivo

Categorization, frame, and social values in a television program

RESUMO

O objetivo deste artigo é discutir o papel da mobilização textual de frames na indicialidade de valores sociais por meio de categorizações a partir da análise de uma situação de conflito interativo no programa de televisão Casos de família. Assume-se uma abordagem sociocognitivo-interacional da Linguística Textual e uma perspectiva dinâmica e discursiva de frames. A metodologia do estudo consistiu em uma análise quantitativa e qualitativa de categorizações textuais e mobilizações de frames de valores sociais. Os resultados indicam a emergência de categorizações depreciativas e não depreciativas que mobilizam frames. Esses frames indiciam valores sociais situadamente mobilizados e entrelaçados, principalmente de Família e Trabalho. Assim, os sentidos sociais de família e de trabalho são, na interação em questão, mobilizados para mediar ou organizar sociocognitiva e valorativamente os participantes copresentes, como (não) sendo “de família” e/ou “de trabalho”. O presente estudo pode colaborar para o entendimento da natureza textual-interativa dos diferentes tipos de situação de explicitação de conflito interacional, bem como para os estudos de impolidez e de violência verbal, relativamente à questão da categorização linguística e da indicialidade de valores sociais.

Palavras-chave:
Categorização; frame; valor social; texto; interação

ABSTRACT

The aim of this article is to discuss the role of textual mobilization of frames in the indexicality of social values by means of categorizations in an interactive conflict situation in the Brazilian television program Casos de Família. A sociocognitive-interactional approach to Textual Linguistics and a dynamic, discursive perspective of frames is assumed here. The methodology consisted of a quantitative and qualitative analysis of textual categorizations and mobilizations of social values frames. Results point to the emergence of depreciative and non-depreciative categorizations that collaborate to index social values mainly by the mobilization of Family and Work frames. Thus, the social meanings of family and work are, in the interaction under analysis, mobilized to mediate or sociocognitively organize the co-present participants as (not) being “family” and/or “workers”. This study may contribute to the understanding of the textual-interactive nature of different types of explicitly conflict interactions, as well as the issues of impoliteness and verbal violence, regarding the social categorization and the indexicality of social values.

Keywords:
categorization; frame; social value; text; interaction

1. Introdução

O presente artigo tem como objetivo discutir o papel da mobilização de frames na indicialidade de valores sociais por meio de categorizações textuais a partir da análise de uma situação de conflito interacional do programa de televisão Casos de família. Este estudo é realizado a partir da abordagem sociocognitivo-interacional da Linguística de Texto (Koch, 2004Koch, I. V. (2004). Introdução à Linguística Textual. Martins Fontes.; Marcuschi, 2008Marcuschi, L. A. (2008). Produção textual, análise de gêneros e compreensão. Parábola.; Bentes & Rezende, 2008Bentes, A. C., & Rezende, R. (2008). Texto: Conceitos, questões e fronteiras [con]textuais. In I. Signorini (Ed.), [Re]discutir: Texto, gênero e discurso (17-46). Parábola.; entre outros). Nessa abordagem, as ações textual-interativas de construção de referentes são consideradas um locus importante (ainda que não único) de observação da categorização entre os interlocutores (ver, por exemplo, Bentes e Rezende, 2017Bentes, A. C., & Rezende, R. (2017). Linguística Textual e Sociolinguística. In E. R. F. de Souza, E. Penhavel & M. R. Cintra (Eds.), Linguística Textual: Interfaces e delimitações (258-301). Cortez.).

Bentes e Rezende (2017Bentes, A. C., & Rezende, R. (2017). Linguística Textual e Sociolinguística. In E. R. F. de Souza, E. Penhavel & M. R. Cintra (Eds.), Linguística Textual: Interfaces e delimitações (258-301). Cortez.), na interface entre a Linguística de Texto e a Sociolinguística, postulam que fenômenos de categorização linguística “funcionariam [assim como os fenômenos de referenciação, de forma geral] como índices de construção de significado social e de estabelecimento de determinados tipos de relações sociais” (Bentes & Rezende, 2017Bentes, A. C., & Rezende, R. (2017). Linguística Textual e Sociolinguística. In E. R. F. de Souza, E. Penhavel & M. R. Cintra (Eds.), Linguística Textual: Interfaces e delimitações (258-301). Cortez., p. 273). Nesse sentido, referir e categorizar seriam atos inevitavelmente sociais.

A categorização, objeto científico fundamental de diferentes abordagens sobre as formas de construção dos sentidos sociais (Bentes & Rezende, 2017Bentes, A. C., & Rezende, R. (2017). Linguística Textual e Sociolinguística. In E. R. F. de Souza, E. Penhavel & M. R. Cintra (Eds.), Linguística Textual: Interfaces e delimitações (258-301). Cortez.), é aqui investigada com a colaboração da perspectiva dinâmica e discursiva dos frames (Fillmore, 1982Fillmore, C. J. (1982). Frame Semantics. In The Linguistic Society of Korea (Ed.), Linguistics in the morning calm (111-137). Hanshin., 1985Fillmore, C. J. (1985). Frames and the semantics of understanding. Quaderni di Semantica, 6(2), 222-254. http://www.icsi.berkeley.edu/pubs/ai/framesand85.pdf (acessado 25, março, 2022).
http://www.icsi.berkeley.edu/pubs/ai/fra...
; Croft & Cruse, 2004Croft, W., & Cruse, D. (2004). Cognitive Linguistics. Cambridge University Press.; Miranda & Bernardo, 2013Miranda, N. S., & Bernardo, F. C. (2013). Frames, discurso e valores. Caderno de Estudos Linguísticos, Campinas, 55(1), 81-97. https://doi.org/10.20396/cel.v55i1.8636596.
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; entre outros). A noção de frame, definida a seguir, pode responder, pelo menos em parte, pela organização sociocognitiva do que Bentes e Rezende (2017Bentes, A. C., & Rezende, R. (2017). Linguística Textual e Sociolinguística. In E. R. F. de Souza, E. Penhavel & M. R. Cintra (Eds.), Linguística Textual: Interfaces e delimitações (258-301). Cortez., p. 276) chamam de “princípios subjacentes de intermediação das relações sociais entre os participantes da interação” envolvidos nos processos de categorização e nas atividades referenciais.

Os frames podem ser vistos como construtos sociocognitivos situacionalmente mobilizados e relativamente compartilhados, que organizam sociocognitivamente experiências e conhecimentos socialmente distribuídos, colaborando para orientar os interlocutores na interação verbal e não verbal, bem como para categorizar e perspectivar entidades humanas e não humanas do mundo por eles acessado. A análise da mobilização textual-interativa de frames, segundo uma abordagem dinâmica e discursiva, a ser apresentada mais adiante, tem sido um empreendimento importante na observação de determinadas relações entre quadros sociointeracionais mais situados e mais amplos, como têm explorado, por exemplo, estudos do Grupo de Pesquisa COGITES (Cognição, Interação e Significação) (Morato, 2010Morato, E. M. (2010). A noção de frame no contexto neurolinguístico: O que ela é capaz de explicar? Cadernos de Letras da UFF, 41, 93-113.; Morato & Bentes, 2013Morato, E. M., & Bentes, A. C. (2013). Frames em jogo na construção discursiva e interativa da referência. Caderno de Estudos Linguísticos, 55(1), 125-137. https://doi.org/10.20396/cel.v55i1.8636599.
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; Morato et al., 2017Morato, E. M. et al. (2017). O papel dos frames na organização do tópico discursivo e na coesividade comunicacional na interação entre afásicos e não afásicos. Caderno de Estudos Linguísticos, 59(1), 91-110. https://doi.org/10.20396/cel.v59i1.8648347.
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; entre outros).

Nessa linha de reflexão, o estudo das categorizações, aliado à análise dos frames por/com elas mobilizados, implica uma compreensão da referenciação como uma atividade “que faz com que reconheçamos as relações sociais que estão na base de um determinado tipo de interação ou de produção textual”, de modo que “a análise das estratégias referenciais constitui um meio importante de compreender as relações entre contexto micro e contexto macro, por exemplo” (Bentes & Rezende, 2017Bentes, A. C., & Rezende, R. (2017). Linguística Textual e Sociolinguística. In E. R. F. de Souza, E. Penhavel & M. R. Cintra (Eds.), Linguística Textual: Interfaces e delimitações (258-301). Cortez., p. 282).

Considerando essas postulações, entende-se que a abordagem sociocognitivo-interacional do texto traz contribuições teórico-analíticas importantes para o estudo de determinadas interações entre quadros sociais mais locais (como a emergência mais situada de categorizações e de frames) e quadros sociais mais amplos (como os que envolvem os valores sociais), uma vez que oferece insumos teórico-analíticos por meio dos quais se podem enfrentar teórica e analiticamente binômios como texto/contexto, micro/macrossocial e cognição/sociedade (Agha, 2007Agha, A. (2007). Language and social relations. Cambridge University Press.; Hanks, 2008Hanks, W. (2008). Língua como prática social: Das relações entre língua, cultura e sociedade a partir de Bourdieu e Bakhtin. Cortez.; van Dijk, 2008Van Dijk, T. (2008). Discourse and context: A sociocognitive approach. Cambridge University Press.). A categorização e a mobilização de frames podem ser consideradas alguns desses insumos. Ambas as noções são mobilizadas aqui como elementos textual-cognitivos de indicialidade de valores sociais.

Para fomentar essa discussão, este estudo analisa um episódio do programa de auditório Casos de família. Selecionou-se este programa como objeto de análise porque se pressupôs que suas exibições tematizariam conflitos familiares, focalizando textualmente, assim, os participantes, suas relações familiares e os valores sociais sobre os quais o trabalho de se referir a esses participantes se assentaria, por meio de categorizações textuais, por exemplo. A hipótese é a de que essas categorizações mobilizam frames que indiciam sociocognitiva e situacionalmente determinados valores sociais. Assim, as categorizações textuais mobilizariam frames ligados a esses valores: o valor de família, por exemplo, associa-se à mobilização do frame Família (definido mais adiante), como em situações em que um modelo sociocognitivo de família é de alguma forma transgredido.

Assim, entende-se o valor social como um princípio sociocultural que guia as avaliações e os julgamentos dos atores sociais em suas interações em relação a ações, práticas e atitudes (cf. Neves, 2018Neves, J. C. T. (2018). Valores sociais, educação e resistência: Fundamentos ontológicos e contradições históricas [Unpublished doctoral master thesis]. Universidade Estadual de Campinas. https://doi.org/10.47749/T/UNICAMP.2018.1079652.
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). Os valores sociais são “[...] os valores morais, objeto da axiologia, conteúdos das valorações, dos julgamentos, das escolhas presentes nas relações sociais” (Neves, 2018Neves, J. C. T. (2018). Valores sociais, educação e resistência: Fundamentos ontológicos e contradições históricas [Unpublished doctoral master thesis]. Universidade Estadual de Campinas. https://doi.org/10.47749/T/UNICAMP.2018.1079652.
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, p. 26). Eles permitem a expectativa de que os agentes de determinada cultura ou sociedade não transgridam os seus princípios idealizados de ação (cf. Oliveira, 2014Oliveira, P. E. de. (2014). Crise de valores: Desafio à sustentabilidade. In C. V. Andreoli & P. L. Torres (Eds.), Complexidade: Redes e conexões do ser sustentável (419-432). SENAR-PR.). Nesse sentido, em algumas culturas, transgredir o valor social relativamente compartilhado ou reconhecido pode se configurar inclusive como uma ruptura moral, ainda que “controlável”, por exemplo, pela recriminação ou pela sanção da transgressão. Os valores representariam também uma necessidade social e/ou um princípio de (sobre)vivência sócio-simbólica. Propõe-se que, no campo da linguagem, o ato de valoração se apresenta também na construção textual perspectivada do referente com a mobilização de frames relacionados a valores sociais.

Em nossa sociedade, por exemplo, por meio do valor social família, mais esperado no programa Casos de família, valoriza-se, segundo uma das principais acepções dicionarizadas do item lexical “família”, as relações de um “conjunto de pessoas, em geral ligadas por laços de parentesco, que vivem sob o mesmo teto”2 1 Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/. Acesso em 30 jan. 2022. . Pode-se dizer que, na verdade, o que se valoriza, mais especificamente, por meio do valor família, são os laços sociais pressupostos no parentesco (pautados no casamento, na relação de sangue ou na adoção): sentimento de coletividade, cooperação, confiança e/ou afeto, principalmente (mas não só) quando se vive “sob o mesmo teto”, de acordo com as descrições apresentadas mais adiante dos frames mais produtivos no programa de televisão. Essa forma social, a família, geralmente considerada uma unidade social, é também uma instituição que, por meio de sua valorização, se busca conservar socialmente, mesmo quando os laços sociais pressupostos no parentesco já possuem dificuldades de se manter, ou mesmo quando nunca chegaram a se estabelecer. Nesse caso, a atitude de conservação desse valor social fundamenta determinado enquadramento das situações familiares que estejam em jogo.

Tendo essas considerações em mente, apresentam-se, de forma relacionada, nas análises a seguir, a noção de categorização e de frame (seção 2), a metodologia adotada (seção 3), informações relevantes sobre o programa Casos de família (seção 4) e os resultados da análise de categorizações e de frames do episódio focalizado (seção 5).

2. Categorias de análise

Categorizações

A abordagem sociocognitivo-interacional do texto tem contribuído fortemente para o estudo da natureza sociocognitiva, interacional e linguístico-textual da categorização (Koch, 2002Koch, I. V. (2002). Desvendando os segredos do texto. Contexto.; 2004Koch, I. V. (2004). Introdução à Linguística Textual. Martins Fontes.; Marcuschi, 2007Marcuschi, L. A. (2007). Cognição, linguagem e práticas interacionais. Lucerna.; Bentes & Rezende, 2017Bentes, A. C., & Rezende, R. (2017). Linguística Textual e Sociolinguística. In E. R. F. de Souza, E. Penhavel & M. R. Cintra (Eds.), Linguística Textual: Interfaces e delimitações (258-301). Cortez.; entre outros). Um pressuposto teórico é o de que os fenômenos linguísticos e cognitivos, que ocorreriam, segundo o cognitivismo estrito, internamente ao indivíduo, estão dialeticamente relacionados com os fenômenos sociais, que também não independem da cognição humana (Koch & Cunha-Lima, 2004Koch, I. V., & Cunha-Lima, M. L. (2004). Do cognitivismo ao sociocognitivismo. In F. Mussalim & A. C. Bentes (Eds.) Introdução à Linguística (251-300). vol.3. Fundamentos epistemológicos. Cortez.; Morato, 2017Morato, E. M. (2017). Linguística Textual e cognição. In E. R. F. de Souza, E. Penhavel & M. R. Cintra (Eds.), Linguística Textual: Interfaces e delimitações (394-430). Cortez.). A partir desse pressuposto teórico, entende-se assim que a indicialidade de valores sociais, questão mais “externa” à linguagem e à cognição (mas não delas independente), pode ser analisada na mobilização de frames por categorizações textuais, processos geralmente tomados como mais “internos” à linguagem e à cognição.

Essa dialética entre valores sociais, frames e categorizações partem teoricamente do entendimento de que as categorizações, no texto e na interação, implicitam pontos de vista ou perspectivas dos interlocutores (Marcuschi, 2007Marcuschi, L. A. (2007). Cognição, linguagem e práticas interacionais. Lucerna.; Mondada & Dubois, 1995Mondada, L., & Dubois, D. (1995). Construction des objets de discours et catégorisation: Une approche des processus de référenciation. TRANEL, 23, 273-302.). Em termos mais linguístico-textuais, a categorização é o uso de uma expressão nominal a partir de determinada perspectiva interacional do interlocutor, com determinados propósitos comunicativos. Ela depende do enquadramento sobre a interação em curso, bem como dos movimentos interativos dos interlocutores ao co-construírem essa interação. Além disso, por meio da categorização, como categoria linguística de análise, junto com processos textual-interativos adjacentes que colaboram para a sua efetivação, pode-se observar a indicialidade de valores sociais em interações como a analisada neste trabalho. Assim, a categorização e a mobilização de frames podem ser fortemente responsáveis por essa indicialidade - ainda que possam não estar sozinhas nessa tarefa.

Frames

O frame é definido pela Semântica de Frames como “um sistema de conceitos relacionados de tal forma que, para entender qualquer um deles, é necessário entender toda a estrutura em que se insere” (Fillmore, 1982Fillmore, C. J. (1982). Frame Semantics. In The Linguistic Society of Korea (Ed.), Linguistics in the morning calm (111-137). Hanshin., p. 111). A Semântica de Frames possui foco teórico no caráter mais léxico-gramatical da noção. Adota-se, nesse estudo, em vez disso, uma abordagem dinâmica e discursiva dos frames (Croft & Cruse, 2004Croft, W., & Cruse, D. (2004). Cognitive Linguistics. Cambridge University Press.; Miranda & Bernardo, 2013Miranda, N. S., & Bernardo, F. C. (2013). Frames, discurso e valores. Caderno de Estudos Linguísticos, Campinas, 55(1), 81-97. https://doi.org/10.20396/cel.v55i1.8636596.
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; Morato & Bentes, 2013Morato, E. M., & Bentes, A. C. (2013). Frames em jogo na construção discursiva e interativa da referência. Caderno de Estudos Linguísticos, 55(1), 125-137. https://doi.org/10.20396/cel.v55i1.8636599.
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; entre outros) a partir da qual os frames podem ser vistos como conjuntos de conceitos interrelacionados, tal como o define Fillmore (1982Fillmore, C. J. (1982). Frame Semantics. In The Linguistic Society of Korea (Ed.), Linguistics in the morning calm (111-137). Hanshin.) acima, mas também como construtos sociocognitivos situacionalmente mobilizados e relativamente compartilhados, que organizam e atualizam sociocognitivamente experiências e conhecimentos socialmente distribuídos, colaborando, quando mobilizados, para orientar os interlocutores nas interações verbais e não verbais, bem como para categorizar e perspectivar determinados referentes em relevo (cf. Morato & Bentes, 2013Morato, E. M., & Bentes, A. C. (2013). Frames em jogo na construção discursiva e interativa da referência. Caderno de Estudos Linguísticos, 55(1), 125-137. https://doi.org/10.20396/cel.v55i1.8636599.
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; Morato et al. 2017Morato, E. M. et al. (2017). O papel dos frames na organização do tópico discursivo e na coesividade comunicacional na interação entre afásicos e não afásicos. Caderno de Estudos Linguísticos, 59(1), 91-110. https://doi.org/10.20396/cel.v59i1.8648347.
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).

A abordagem dinâmica e discursiva do frame considera principalmente a sua face textual-interativa a partir da qual se pode observar como a dinâmica da mobilização de frames se dá por meio de ações textual-interativas (Morato, 2010Morato, E. M. (2010). A noção de frame no contexto neurolinguístico: O que ela é capaz de explicar? Cadernos de Letras da UFF, 41, 93-113.; Bentes & Ferrari, 2011Bentes, A. C., & Ferrari, N. L. (2011). “E agora o assunto é trabalho”: Organização da experiência social, categorização e produção de sentidos no programa Manos e Minas. Diadorim, 10, 75-93. https://doi.org/10.35520/diadorim.2011.v10n0a3936
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; Morato & Bentes, 2013Morato, E. M., & Bentes, A. C. (2013). Frames em jogo na construção discursiva e interativa da referência. Caderno de Estudos Linguísticos, 55(1), 125-137. https://doi.org/10.20396/cel.v55i1.8636599.
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; entre outros). De um ponto de vista sociocognitivo-interacional, Morato (2010Morato, E. M. (2010). A noção de frame no contexto neurolinguístico: O que ela é capaz de explicar? Cadernos de Letras da UFF, 41, 93-113.), Morato e Bentes (2013Morato, E. M., & Bentes, A. C. (2013). Frames em jogo na construção discursiva e interativa da referência. Caderno de Estudos Linguísticos, 55(1), 125-137. https://doi.org/10.20396/cel.v55i1.8636599.
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) e colaboradores do Grupo de Pesquisa COGITES (Cognição, Interação e Significação) têm chamado a atenção para o papel de construções textuais para a mobilização de frames, não entendidos como estritamente semânticos, nem estritamente interativos. Os frames são “evocados ou elaborados tanto por unidades lexicais, quanto por construções textuais” (Morato & Bentes, 2013Morato, E. M., & Bentes, A. C. (2013). Frames em jogo na construção discursiva e interativa da referência. Caderno de Estudos Linguísticos, 55(1), 125-137. https://doi.org/10.20396/cel.v55i1.8636599.
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, p. 126), como as categorizações. Assim, “os frames enquadram e perspectivam os referentes textualmente construídos (Morato et al., 2017Morato, E. M. et al. (2017). O papel dos frames na organização do tópico discursivo e na coesividade comunicacional na interação entre afásicos e não afásicos. Caderno de Estudos Linguísticos, 59(1), 91-110. https://doi.org/10.20396/cel.v59i1.8648347.
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; Marcuschi, 2006)” e “são ativados e mobilizados dinamicamente ao longo do texto e da interação” (Parintins Lima, 2018Parintins Lima, R. J. (2018). Frames em interação e indicialidade social de gênero em entrevistas com Laerte Coutinho. Veredas, 22(2), 37-57. https://doi.org/10.34019/1982-2243.2018.v22.28213.
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, p. 43).

A partir dessa abordagem, Morato e Bentes (2013Morato, E. M., & Bentes, A. C. (2013). Frames em jogo na construção discursiva e interativa da referência. Caderno de Estudos Linguísticos, 55(1), 125-137. https://doi.org/10.20396/cel.v55i1.8636599.
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) também exploram o entendimento de que a linguagem em interação pode ser uma arena de sentidos sociais indiciados, por exemplo, pela dinâmica de frames. Isso ocorre em parte porque construções textuais, como as que realizam categorizações e mobilizam frames, baseiam-se em pressuposições e demandam inferências culturais sobre as relações sociais (Parintins Lima, 2018Parintins Lima, R. J. (2018). Frames em interação e indicialidade social de gênero em entrevistas com Laerte Coutinho. Veredas, 22(2), 37-57. https://doi.org/10.34019/1982-2243.2018.v22.28213.
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), como aquelas relacionadas aos valores sociais compartilhados pelos interlocutores.

3. Metodologia de análise

Para identificar as categorizações textuais na análise da exibição em questão do programa de televisão Casos de família, considera-se a postulação de Koch (2004Koch, I. V. (2004). Introdução à Linguística Textual. Martins Fontes.), segundo a qual as categorizações são, em termos linguísticos, sinalizadas por expressões referenciais típicas, as expressões nominais, com a seguinte materialidade linguística:

Determinante+(Modificador[es])+Nome+(Modificador[es])

Exemplo:

“Uma piriguete na favela”

Determinante: artigo indefinido “uma”

Nome: “piriguete”

Modificador: sintagma preposicionado “na favela”

Segundo essa organização linguística, os Modificadores, cuja presença é alternativa, podem ser adjetivos, um sintagma preposicionado ou uma oração relativa (Koch, 2004Koch, I. V. (2004). Introdução à Linguística Textual. Martins Fontes.). Para esta investigação, realizou-se o levantamento das expressões referenciais que categorizam os interlocutores no dado em questão. Observou-se que essas expressões poderiam ser divididas de acordo com seu endereçamento referencial (categorizações dirigidas direta ou indiretamente a um interlocutor) e com sua valoração (depreciativas ou não depreciativas), como forma de classificar a disposição dos interlocutores ao categorizar o outro e de inferir analiticamente os valores sociais envolvidos, uma vez que os valores colaboram para a perspectivação de um referente de um ponto de vista negativo, positivo ou neutro. Também foram identificados, em uma análise qualitativa, os processos textuais e interacionais que corroboram a identificação de valores sociais indiciados pelas categorizações.

A metodologia utilizada na análise de frames, por sua vez, baseia-se na desenvolvida e descrita em estudos anteriores do Grupo de Pesquisa COGITES (Cognição, Interação e Significação), como Morato et al. (2017Morato, E. M. et al. (2017). O papel dos frames na organização do tópico discursivo e na coesividade comunicacional na interação entre afásicos e não afásicos. Caderno de Estudos Linguísticos, 59(1), 91-110. https://doi.org/10.20396/cel.v59i1.8648347.
https://doi.org/10.20396/cel.v59i1.86483...
), Parintins Lima & Morato (2020Parintins Lima, R. J., & Morato, E. M. (2020). Racismo e violência verbal: a construção textual e sociocognitiva da #SomosTodosMacacos. Revista de Estudos da Linguagem, 28(4), 1637-1666. http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.28.4.1637-1666.
http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.28....
), Ferrari (2018), entre outros. Vale salientar aqui que o frame, enquanto ferramenta analítica, é descrito nesse arcabouço metodológico com a colaboração da formalização de descrições de frames desenvolvida no projeto FrameNet Brasil do Laboratório de Linguística Computacional da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) (Miranda & Bernardo, 2013Miranda, N. S., & Bernardo, F. C. (2013). Frames, discurso e valores. Caderno de Estudos Linguísticos, Campinas, 55(1), 81-97. https://doi.org/10.20396/cel.v55i1.8636596.
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; Miranda & Loures, 2016Miranda, N. S., & Loures, L. F. (2016). Da análise semântica do discurso à ação educativa: Um mapa da crise da sala de aula. Linguagem em (Dis)curso, 16(3), 526-546. https://doi.org/10.1590/1982-4017-160301-0116d.
https://doi.org/10.1590/1982-4017-160301...
; Ishikawa & Miranda, 2017Ishikawa, C. M. L., & Miranda, N. S. M. (2017). Construindo um pacto social em sala de aula de Língua Portuguesa. Letras & Letras, 3(1), 70-92. https://doi.org/10.14393/LL63-v33n1a2017-3.
https://doi.org/10.14393/LL63-v33n1a2017...
). No entanto, como se assinalou em Parintins Lima (2018Parintins Lima, R. J. (2018). Frames em interação e indicialidade social de gênero em entrevistas com Laerte Coutinho. Veredas, 22(2), 37-57. https://doi.org/10.34019/1982-2243.2018.v22.28213.
https://doi.org/10.34019/1982-2243.2018....
), a base de dados disponibilizada pelo projeto FrameNet Brasil ainda não possui uma grande variedade de descrições de frames. Por isso, quando não se encontrou na FrameNet Brasil a descrição de determinado frame, utilizou-se como segunda fonte de descrições as oferecidas pela FrameNet dos Estados Unidos, do International Computer Science Institute da Universidade de Berkeley, adaptando-as para a língua portuguesa do Brasil e para o contexto dos dados linguísticos analisados.

Ainda assim, em relação ao frame Família, por exemplo, embora ele a princípio possa ser definido a partir da descrição presente na FrameNet-EUA do frame Parentesco (Kinship) (definido como “Esse frame contém palavras que denotam relações de Parentesco3 2 Definição adaptada do frame Kinship. Disponível em: https://framenet2.icsi.berkeley.edu/fnReports/data/frameIndex.xml?frame=Kinship. Acesso em 30 jan. 2022. ), essa definição é pouco informativa para as análises. Assim, nesse caso, utilizou-se, para a definição do frame, a consulta ao verbete no dicionário Michaelis, disponível na Internet4 3 Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/. Acesso em 30 jan. 2022. . Apesar de os bancos de frames consultados dos projetos FrameNet terem sido constituídos no contexto teórico da Semântica de Frames, de interesse léxico-gramatical, a análise aqui adotada alinha-se à abordagem dinâmica e discursiva do frame, ao considerar as construções textuais (como as categorizações) como mobilizadoras de frames e não apenas as unidades lexicais e as construções gramaticais.

Os frames identificados na análise da indicialidade de valores sociais da exibição do programa Casos de família em questão foram: Família, Trabalho, Discrição_verbal, Moralidade, Fraternidade, Humanidade, Poder, Afeto, Estética, Limpeza e Civilidade.

Considerando o espaço limitado deste texto, apresentam-se a seguir as definições dos 02 frames mais produtivos e mais tematicamente relevantes de valores sociais: Família e Trabalho. O frame Discrição_verbal, associado a categorizações depreciativas e figurativas como “língua de cobra!” e “língua de víbora!”, também é quantitativamente produtivo, mas não o mais qualitativamente relevante, do ponto de vista da temática da situação de conflito instaurada.

As convenções básicas de definição dos frames consistem, neste estudo, na utilização de letras iniciais maiúsculas e de underline (como em “Discrição_verbal”) na nomeação dos frames e dos seus elementos, que compõem a definição dos frames. Definem-se, na tabela 1 a seguir, os 02 frames de valores sociais mais relevantes no dado em questão:

Tabela 1
Definições dos 02 principais frames mobilizados na transmissão analisada do programa Casos de família

De uma forma geral, os frames que indiciam ou organizam valores sociais podem ser considerados como ordenados por pelo menos um dos seguintes candidatos a superframes (frames mais abrangentes): Pessoas_por_moralidade, Moralidade_avaliação e Conduta. Segundo o frame Pessoas_por_moralidade, atos específicos ou o comportamento geral dos indivíduos são avaliados por padrões de moralidade ou correção5 4 Definição adaptada do frame People_by_morality. Disponível em: https://framenet2.icsi.berkeley.edu/fnReports/data/frameIndex.xml?frame=People_by_morality. Acesso em 30 jan. 2022. . Assim, os frames de valores sociais enquadram justamente pessoas segundo seus atos presumidos e determinadas perspectivas de moralidade. Mais especificamente, quando se considera o processo interativo, pode-se apontar também o frame Moralidade_avaliação6 5 Definição adaptada do frame Morality_evaluation. Disponível em: https://framenet2.icsi.berkeley.edu/fnReports/data/frameIndex.xml?frame=Morality_evaluation. Acesso em 30 jan. 2022. (Morality_evaluation) como um superframe dos frames de valores sociais. Esse (super)frame prevê um Avaliado descrito por um Julgador ou Juiz (Judge), geralmente implícito, que avalia aquele, no que diz respeito à moralidade ou correção do Comportamento. Segundo o frame Conduta (Conduct), por sua vez, “Um Agente age de Maneira geral ou sob algumas Circunstâncias particulares. A conduta pode também ser dirigida diretamente à Parte_afetada (pela Conduta)”7 6 Definição adaptada do frame Conduct. Disponível em: https://framenet2.icsi.berkeley.edu/fnReports/data/frameIndex.xml?frame=Conduct. Acesso em 30 jan. 2022. . Por serem conceptualmente mais gerais e apenas parcialmente relevantes, esses possíveis superframes não foram contabilizados nas análises, mas justificam sociocognitivamente a relevância que se dá à orientação valorativa (positiva, negativa ou neutralizada) da emergência dos frames mais relevantes da análise.

Veja-se, na seção a seguir, a contextualização do dado aqui analisado para exemplificar a discussão sobre a indicialidade de valores sociais por meio de categorizações e de mobilização de frames.

4. Programa Casos de família

O programa Casos de família começou a ser exibido em 2004 e atualmente é levado ao ar de segunda a sexta-feira, às 16h30. Atualmente, a webpage8 7 Disponível em: https://www.sbt.com.br/auditorio/casos-de-familia%23fique-por-dentro. Acesso em 30 jan. 2022. do programa o apresenta da seguinte forma:

Apresentado por Christina Rocha, de segunda a sexta, o programa é baseado em conflitos interpessoais que acontecem entre membros da mesma família, vizinhos e até no ambiente de trabalho. Na atração, os problemas do cotidiano de qualquer pessoa podem ser abordados, independente da classe social.

Anônimos revelam suas histórias e abrem suas vidas supervisionados pela psicóloga Anahy D’amico. “Esse é o único programa do gênero que tem um psicólogo”, explica a apresentadora.

A plateia também participa da atração com opiniões e perguntas sobre as histórias contadas no palco.

As experiências narradas pelos convidados no Casos de Família são sempre verídicas. A alma do programa é a credibilidade que ele tem entre os telespectadores e o público em geral.

A atual apresentadora Christina Rocha (doravante CR) participa do programa desde 2009, quando foi reformulado pela emissora, passando a apresentar cada vez mais cenas de embates verbais entre os sujeitos envolvidos nos casos familiares apresentados. A crítica à ocorrência desses embates provocou ainda novas mudanças no programa, apesar de sua popularização; por exemplo, a retirada dos “jurados” (geralmente celebridades midiáticas), que comentavam os casos familiares apresentados, e a introdução de uma psicóloga, que atualmente também comenta os casos.

Essas mudanças foram realizadas também por conta de algumas polêmicas que o programa despertou, como o envolvimento da própria apresentadora nos conflitos apresentados e a frequente expulsão de convidados do palco por ela. Entende-se que esses embates verbais tornam mais produtiva a ocorrência de categorizações entre os participantes, assumindo a forma de atos de fala como ofensas e ironias, por exemplo. A exibição de 19 de março de 20139 8 Um trecho desse episódio está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PJwiTyM4oRU. Acesso em 30 jan. 2022. aqui apresentada corresponde ao formato de quando o programa tinha jurados.

Pode-se resumir o conflito familiar apresentado nessa exibição da seguinte maneira: a doméstica AL é acusada, pela sua filha RE, de não se dedicar suficientemente à família. RE também acusa o padrasto de não trabalhar o quanto poderia para o sustento familiar. Nessa exibição, CR e PL demonstram fortes sinais verbais e não verbais de rechaço às declarações de AL, que, por sua vez, expressa desprezo pela filha.

Escolheu-se essa exibição como objeto de análise por ser uma das mais conhecidas do programa, tendo tido grande repercussão em outras mídias na época, principalmente nas redes sociais da Internet. Os motivos apontados para a repercussão dessa exibição constituem os próprios eventos recorrentes no programa: a reação da apresentadora, que se destemperou, nesse episódio, por conta das declarações de uma das entrevistadas, seguida da expulsão da convidada do palco. Espera-se que essa exibição apresente uma particular presença de categorizações que mobilizam frames que indiciam valores sociais, considerando o nível de conflito interacional da situação. Da exibição em questão, participam os seguintes interlocutores:

  • CR, apresentadora;

  • AL, uma das entrevistadas, mãe de RE;

  • RE, outra entrevistada, filha de AL;

  • MA, marido entrevistado de AL e padrasto de RE;

  • DE, amiga de RE e entrevistada;

  • PL, plateia;

  • JA, JB e JC, jurados que comentam os conflitos.

Os frames textualmente mobilizados nesse episódio por meio de categorizações depreciativas e não depreciativas colaboram para a indicialidade de valores sociais, conforme se procura mostrar nas análises apresentadas a seguir.

5. Categorizações identificadas

O levantamento quantitativo de categorizações na exibição de 19 de março de 2013 do programa de televisão Casos de família reflete o caráter interacionalmente conflitivo da exibição: das 25 categorizações dirigidas aos interlocutores, a maioria (76%; n=19) é depreciativa/negativa, incluindo categorizações com traço de ironia, como em “te pego, colega” (cujo sentido textualmente construído não é o de coleguismo) e “a beleza” (ver exemplo 1 mais adiante).

As categorizações encontradas na interação em questão foram produzidas pelas participantes AL (principal entrevistada) e CR (apresentadora do programa), em torno das quais ocorre o diálogo. A identificação da valoração (depreciativa ou não) dessas categorizações colabora para a identificação do valor social envolvido, conforme será visto mais adiante.

Como se pode ver na figura 1 abaixo, 18 (dezoito) categorizações foram produzidas pela participante AL, 04 não depreciativas e 14 depreciativas; 07 foram produzidas pela apresentadora CR: 02 não depreciativas e 05 depreciativas.

Figura 1
Número de categorizações encontradas na exibição de 19/03/2013 de Casos de família

Pode-se observar a seguir como algumas dessas categorizações (“colega”, “a beleza” e “uma piriguete na favela”) são empregadas na exibição do programa10 9 A transcrição dos trechos foi realizada com base nas normas utilizadas pelo Sistema de Notação, versão 2011, do Grupo de Pesquisa COGITES (Cognição, Interação e Significação). Esse Sistema foi baseado em Jefferson (1984), Marcuschi (1991) e Mondada (2000). :

(1)

CR: [cê trabalha... cê trabalha de segunda a sexta não é [isso/

AL: [isso\

CR: sua filha falô\

AL: trabalho... te pego coleg[a (dirigindo-se a sua filha)

CR: [até... até peraí até ela te ajudar eu acho que filho quando a mãe trabalha eu acho que tem que ajudar mesmo acho que isso faz parte da família [cê trabalha em quê/ cê trabalha em quê/

AL: [mas aí éh eu trabalho de doméstica

CR: doméstica

AL: é\

CR: e é um serviço pesado claro que eu sei\

AL: e a beleza quer... ficar igual (uma piriguete) na favela...

No exemplo 1, CR indicia valores sociais por meio da mobilização dos frames Família e Trabalho interligados, ao categorizar sua filha RE depreciativamente como “colega” (alguém não pertencente à família) e “(uma piriguete) na favela” (quer dizer, alguém que não se caracteriza como “trabalhadora”) e, além disso, ao recategorizar o trabalho doméstico como “um serviço pesado”.

As categorizações apontadas na figura 1 foram classificadas considerando também o ponto de vista interativo em que elas são proferidas: o endereçamento referencial, que pode ser considerado direto, ao ser dirigido ao próprio interlocutor referido, como nos vocativos (“colega”, por exemplo) e nos xingamentos (“língua de trapo!”); ou indireto, se não for dirigido ao interlocutor de quem se fala. Neste caso, a categorização é um referente textual predicado por meio de item verbal ou é introduzido na predicação, como no exemplo 1 acima: “e a beleza quer ficar igual uma piriguete na favela”. Por meio desse enunciado, a expressão nominal indiretamente endereçada “a beleza” recategoriza depreciativamente o referente anteriormente introduzido, “sua filha”, e é depreciativamente predicado por “quer ficar igual uma piriguete na favela”. Assim, as categorizações de endereçamento indireto consistem nos referentes em posição de tópico frasal (como “a beleza”) e os inseridos em predicações verbais (como “quer ficar igual uma piriguete na favela”). Para os fins deste trabalho, consideram-se predicações verbais as introduzidas por verbos, inclusive os de ligação (cf. Ferrari, 2018; Parintins Lima, 2019Parintins Lima, R. J. (2019). A construção textual e sociocognitiva do racismo nos (des)alinhamentos à hashtag #SomosTodosMacacos [Unpublished doctoral dissertation]. Universidade Estadual de Campinas. https://doi.org/10.47749/T/UNICAMP.2019.1095364.
https://doi.org/10.47749/T/UNICAMP.2019....
).

Vale observar que, dentre as categorizações aqui focalizadas, encontram-se recategorizações; quer dizer, grosso modo, categorizações que se seguem a outras no fluxo textual-interativo tendo o mesmo escopo referencial, como as listadas a seguir, do exemplo 1, que colaboram para a mobilização dos frames Família e Trabalho:

  1. “sua filha”, que recategoriza a menção anterior à filha de AL;

  2. “filho”, que recategoriza “sua filha”;

  3. “a mãe”, que recategoriza a menção anterior a AL;

  4. “a beleza”, que recategoriza a filha de AL;

  5. “um serviço pesado”, que recategoriza “[o trabalho de] doméstica”;

  6. “uma piriguete na favela”, que recategoriza a filha de AL.

Vale notar também que as categorizações observadas não mobilizam frames de valores sociais sozinhas. Há, além das (re)categorizações textuais, marcadores discursivos, como os utilizados por CR, que procuram criar laços interativos e cognitivos de compartilhamento de valores sociais com AL. Esse uso evoca o frame Trabalho: “cê trabalha de segunda a sexta, não é isso?” (marcador discursivo do tipo checker), “[o trabalho doméstico é] um serviço pesado, claro que eu sei” (marcador de ênfase).

Pode-se observar que as predicações verbais de CR também colaboram para a mobilização dos frames dos valores de família e de trabalho: “[cê] trabalha de segunda a sexta”, “[filho] tem que ajudar [a mãe que trabalha]”, [ajudar a mãe que trabalha é algo que] faz parte da família”, junto com a recategorização “um serviço pesado” relativo ao trabalho de “doméstica”. Nota-se também a construção, por meio de predicação verbal (“[filho, quando a mãe trabalha] tem que ajudar mesmo”, [isso] faz parte da família”), da ajuda à mãe pelos filhos, quando ela trabalha, entrelaçando os frames Trabalho e Família. As predicações verbais que podem ser apontadas nesse exemplo são:

  1. “cê trabalha”;

  2. “[eu] trabalho”;

  3. “ela te ajudar”;

  4. “[filho] tem que ajudar mesmo [quando a mãe trabalha fora de casa]”;

  5. “isso faz parte da família”.

Assim, pode-se dizer que as categorizações interacionais dos participantes da situação de conflito analisada são construídas por categorizações textuais, por recategorizações e por predicações verbais, além de marcadores discursivos.

Voltando-se para o foco da análise, as categorizações, observa-se na figura 2 a seguir que, das 25 categorizações encontradas, a maioria (n=16; 64%) consiste em endereçamentos diretos, principalmente vocativos, ironias e xingamentos.

Figura 2
Categorizações de endereçamento direto encontradas na exibição de 19/03/2013 de Casos de família

Observa-se que a maioria dessas categorizações diretamente dirigidas aos interlocutores-referentes atua principalmente como formas depreciativas, de modo a organizar sociocognitivamente o entorno interacional, particularmente os interlocutores, a partir de determinados frames de valores sociais. 09 categorizações (correspondentes a 36% das ocorrências) das 25 encontradas consistem em endereçamentos indiretos. Como se viu, quando em tópico frasal, essas categorizações consistem em referentes que podem ser predicados por meio de itens verbais, como em “a beleza quer ficar igual uma piriguete na favela” (exemplo 1). Podem se referir ao próprio locutor (autocategorização), quando inseridos em predicações verbais, como em “sou trabalhadora” ou a outro referente humano, como no exemplo 1 anteriormente apresentado (“a beleza quer ficar igual uma piriguete na favela”) e no exemplo 2 a seguir (“você merece um cara como esse”).

(2)

CR: VOCÊ EU ACHO QUE PREFERE UM MACHO UM MACHO DO QUE CUIDAR DA SUA FILHA (dirigindo-se a AL). VOCÊ É BAIXA. VOCÊ É BAIXA. (...) PEGA AS TUA COISA E VAZA (...) E VOCÊ MERECE UM CARA COMO ESSE (apontando para MA) ESSA MÃE NÃO TE MERECE (dirigindo-se a RE) E VOCÊ NEM ESSE CARA TRABALHA (dirigindo-se novamente a AL)

No exemplo 2, alternando os alvos de suas categorizações e predicações verbais, a apresentadora CR indicia os valores sociais de família e de trabalho por meio da mobilização interligada dos frames Família e Trabalho, além do frame Pessoas_por_moralidade, nas predicações:

  1. “[você] prefere um macho um macho do que cuidar da sua filha”: por meio dessa predicação, CR atribui a AL uma preferência e mobiliza o frame Família;

  2. “essa mãe não te merece”: CR mobiliza o frame Família por meio da categorização de AL como “mãe”, dirigindo-se a RE;

  3. “você é baixa”: CR mobiliza localmente o frame Pessoas_por_moralidade ao predicar AL como sendo de “baixa moralidade”;

  4. “você nem esse cara trabalha”: CR predica AL e MA, mobilizando o frame Trabalho.

O frame Pessoas_por_moralidade é mobilizado ancorado na mobilização dos frames de valores sociais Família e Trabalho, como na evocação de expectativas em relação à categoria social de mãe, nos itens acima: alguém que deve cuidar dos filhos e trabalhar. Observa-se também a mobilização do frame mais abrangente Pessoas_por_moralidade nas categorizações feitas por CR no exemplo 2, que colaboram para a construção referencial de MA, marido de AL, como alguém de baixa dignidade. Isso é construído por meio das categorizações depreciativas indiretas “um macho”, “um cara como esse” e “esse cara”. Essas categorizações indicam baixa especificidade na construção desse referente, por meio de categorizações de nível mais genérico valoradas negativamente: “um macho” e “um cara”. Essa baixa especificidade referencial é uma estratégia para a construção de distanciamento em relação a MA, indiciado também pelo uso do pronome demonstrativo “esse” (como também na recategorização anterior de AL como “essa mãe”). Essa construção de distanciamento indicia a atribuição de baixa moralidade de MA.

Como se pode observar por meio da apresentação da análise acima focada nas categorizações textuais, elas, as categorizações, em colaboração com outras construções textuais, possuem um importante papel na mobilização de frames de valores sociais, nos dados analisados.

6. Frames mobilizados e valores sociais indiciados

Nesta seção, discutem-se os valores sociais indiciados e organizados sociocognitivamente na forma de frames: para os valores positivos ou neutros (não depreciativos) indiciados por frames mobilizados pelas categorizações, utilizou-se o sinal (+). Para os valores que são negativos, depreciativos, utilizou-se o sinal (-). Assim, por exemplo, a categorização “fia” (filha) na expressão “Oi, fia, boa tarde” indica um valor (+) de Família para o referente humano em questão11 10 A categorização “fia” indica um valor (+) de Família para o referente humano em questão porque é empregada em um ato de saudação. Observa-se que essa categorização possui certo grau de convencionalização comunicativa, por se tratar de um vocativo muito produtivo em algumas variedades do português brasileiro. Nesse caso, considera-se que, embora a noção de família não necessariamente seja relevante nessa categorização, em decorrência do seu uso relativamente convencionalizado como item de saudação, ela, a noção de família, não está totalmente ausente nessa categorização vocativa. . Observa-se, na figura 3 a seguir, as ocorrências de categorizações de acordo com o interlocutor, a valoração da categorização e os frames mobilizados por ela.

Figura 3
Ocorrências de categorizações de acordo com interlocutor, valoração e frames mobilizados

Na situação conflitiva aqui analisada, os interlocutores se categorizam e evocam frames de valores sociais, principalmente valorando de forma negativa os interlocutores diretamente endereçados pela categorização. Na interação analisada, os frames de valores sociais mais mobilizados foram os de Família (n=4), de Trabalho (n=4) e de Discrição_verbal (n=4), conforme mostra a tabela 2 a seguir:

Tabela 2
Mobilizações dos 03 principais frames de valores sociais encontrados

O predomínio desses frames de valores sociais está relacionado com a motivação do conflito: a doméstica AL é acusada, pela sua filha RE, de não se dedicar suficientemente à família; RE também acusa o padrasto MA de não trabalhar o quanto poderia para o sustento familiar. Os frames de valores sociais Família e Trabalho são mais relevantes do ponto de vista temático do que Discrição_verbal, uma vez que está em questão, na motivação do conflito, mais a relação com a família e com o trabalho e menos o princípio de discrição verbal que RE, de acordo com os protestos de AL (na forma de categorizações depreciativas, como “língua de trapo!” e “língua de víbora!”), teria infringido ao fazer acusações à mãe.

Embora os dados não sejam suficientemente numerosos para tal afirmação, pode-se levantar a possibilidade de que há a tendência de que o valor do trabalho, considerando os principais frames de valores mobilizados, foi textualmente mobilizado mais para a valoração positiva dos interlocutores (por exemplo, “sou trabalhadora”, “eu sei que cê é uma mulher trabalhadora”), enquanto o valor da família tendeu a ser utilizado tanto para valoração positiva/neutra (por exemplo, “Oi, fia, boa tarde”, “oi, fio, pode falar”), quanto para valoração negativa (por exemplo, “aonde, fia?”, “por sua culpa, fia”). Possivelmente, isso ocorre porque, qualitativamente falando, o valor de família, pelo menos nesse episódio em particular, tenha maior relevância, apesar de a análise quantitativa não indicar necessariamente isso. Uma forma de testar essa hipótese é realizar futuramente estudos com dados interativos mais representativos.

Para concluir esta seção, pode-se dizer que as relações sociais, como as que se guiam por valores sociais, de caráter macrossocial, embora não apareçam em sua inteireza nas análises linguísticas aqui empreendidas, são encenadas de forma importante na interação em questão, conforme as análises quantitativas e qualitativas das mobilizações de frames de valores sociais por meio de categorizações textuais podem mostrar.

7. Considerações finais

Neste trabalho, identificaram-se processos textuais-interativos locais de indicialidade de valores sociais entrelaçados, por meio da análise da mobilização de frames entrelaçados por categorizações textuais pelos interlocutores de uma exibição do programa de televisão Casos de Família. De uma forma geral, conforme se nota na apresentação dos resultados, na seção anterior, confirma-se empiricamente a hipótese de que, na transmissão do programa de televisão em questão, as categorizações e as mobilizações de frames colaboram fortemente para a indicialidade de valores sociais, na situação conflitiva analisada. As mobilizações textuais de frames indiciam interativa e sociocognitivamente determinados valores sociais que podem ser considerados como compartilhados pelos participantes ao falarem de si e dos outros interlocutores.

A análise salienta dois aspectos importantes das categorizações encontradas: a valoração (depreciativa/negativa e não depreciativa/positiva ou neutralizada) e o endereçamento (direto e indireto). Além disso, indica que a análise das categorizações deve considerar as predicações e as recategorizações textuais, que constroem, na progressão textual, a construção da categorização interacional dos interlocutores referidos na situação comunicativa.

A relevância de determinadas valorações das categorizações reflete o conflito interacional ocorrido nesse episódio interativo: das categorizações dirigidas aos interlocutores, a maioria (76%; n=19) é depreciativa, incluindo categorizações com traço de ironia, como em “te pego, colega”, cujo sentido textualmente construído não é de coleguismo, e “a beleza”, no exemplo 1 apresentado.

Encontraram-se dois frames de valores sociais mais relevantes e entrelaçados: Família e Trabalho. Considera-se que, em nossa sociedade, os valores correspondentes a esses frames baseiam-se, respectivamente, em uma unidade de organização social e em uma atividade humana de sustentação financeira - da própria família, por exemplo. Os sentidos sociais de família e de trabalho são, na interação em questão, mobilizados para mediar ou organizar sociocognitiva e valorativamente os participantes copresentes, como (não) sendo de/da família e/ou trabalhadores.

Na situação investigada, de conflito, o endereçamento direto ou indireto ao outro tende a se valer de categorizações que mobilizam frames de valores sociais de modo a depreciar o interlocutor, enquanto, com ocorrência menor, as categorizações autoendereçadas possuem valorações positivas. Observou-se que as categorizações depreciativas emergem em maior número e que elas mobilizam uma variedade maior de frames de valores sociais, enquanto as categorizações não depreciativas, em menor número, mobilizam frames de valores menos variados e mais convencionalizados, como nas categorizações “fia”, “fio”, “mô”. Pode-se confirmar, em estudos futuros, se as categorizações depreciativas, em situações interativas de conflito como a apresentada neste estudo, realmente tendem a mobilizar uma variedade maior de frames de valores sociais, em comparação com as categorizações não depreciativas.

O presente estudo e os trabalhos a serem dele derivados podem colaborar para o entendimento da natureza textual-interativa dos diferentes tipos de situação de explicitação de conflito interacional, bem como da impolidez e da violência verbal, relativamente à questão da categorização social e da indicialidade de (frames de) valores sociais: os modos por meio dos quais os valores de nossa sociedade, que fazem parte de um nível sociocultural mais “macro”, são postos em funcionamento ou são relativizados nas nossas interações e textos, em nível mais “micro”. Observa-se que, de fato, a noção de frame pode responder, pelo menos em parte, pela organização sociocognitiva do que Bentes e Rezende (2017Bentes, A. C., & Rezende, R. (2017). Linguística Textual e Sociolinguística. In E. R. F. de Souza, E. Penhavel & M. R. Cintra (Eds.), Linguística Textual: Interfaces e delimitações (258-301). Cortez., p. 276) chamam de “princípios subjacentes de intermediação das relações sociais entre os participantes da interação” envolvidos nos processos de categorização e nas atividades referenciais. No caso deste estudo, as relações sociais, como as que se guiam por valores sociais, são atualizadas e encenadas na interação em questão. É dessa forma indiciada, encenada ou atualizada que um processo “macro”, os valores sociais, comparece nos dados linguísticos aqui analisados.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Set 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    30 Maio 2021
  • Aceito
    14 Jan 2022
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