Acessibilidade / Reportar erro

Um modelo piagetiano de ensino como ferramenta para o planejamento do ensino e a avaliação da aprendizagem

Resumo:

O trabalho sintetiza alguns resultados de pesquisa na qual avaliamos um modelo de ensino destinado a dar suporte ao planejamento e avaliação de seqüências didáticas. O modelo consiste na proposição de níveis de entendimento progressivos, baseados nas tríades sucessivas intra, inter e trans-objetais, propostas por Piaget e Garcia (1984). Apresentamos dados de um estudo de introdução à física térmica, junto a uma classe de 8a série (14/15 anos), acompanhando as trajetórias de aprendizagem de dois estudantes. Os resultados preliminares são favoráveis, na medida em que o modelo de ensino permite: a) a diversificação das metas de aprendizagem, de modo a favorecer progressões diferenciadas, conforme os interesses e habilidades dos estudantes; b) a reflexão sobre o ensino, a partir do reconhecimento da evolução das estruturas de pensamento dos estudantes; c) ajustes do ensino às características e necessidades formativas dos estudantes.

Palavras chaves:
ensino de ciências; planejamento e avaliação de sequências de ensino.

Abstract:

This paper summarises some results of a research in which we developed a model of teaching, that facilitates the planning and the assessment of teaching sequences. The model proposes three levels of understanding, according to the triads intra-, inter- and trans-object of Piaget and Garcia (1984). We present data from a study of an introductory thermal physics class for 8th grade students (14/15 years of age) and analyse the learning cases of two pupils, following their progress during the course. We conclude that the model favours: 1. different paths of evolution, respecting pupils' skills and interests; 2. a self-reflection on the teaching process through recognising the development of pupils' structures of thinking; 3. adjustment of teaching to students characteristics and necessities.

Keyword:
science learning; planning and evaluation of classroom leçon.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

  • AGUIAR JR., O. (2001). Modelo de ensino para mudanças cognitivas: um instrumento para o planejamento do ensino e a avaliação da aprendizagem em ciências. Belo Horizonte: Faculdade de Educação, UFMG. (Unpublished doctoral thesis).
  • AGUIAR JR., O., FILOCRE, J. (1999). Modelo de ensino para a mudança cognitiva: fundamentação e diretrizes de pesquisa. Ensaio - Pesquisa em Educação em Ciências v. 1, n. 1, p. 47-67.
  • ANDERSSON, B. (1986). The experiential gestalt of causation: a common core to pupils' preconceptions in science. European Journal of Science Education v. 8, n. 2, p. 155-171.
  • ARNOLD, M., MILLAR, R. (1994). Children's and lay adults' views about thermal equilibrium. International Journal of Science Education v. 16, n. 4, p. 405-419.
  • ARNOLD, M., MILLAR, R. (1996). Learning the scientific 'story': a case study in the teaching and learning of elementary thermodynamics. Science Education v. 80, n.3, p. 249-281.
  • BENLLOCH, M., POZO, J.I. (1996). What changes in conceptual change? From ideas to theories. In: WELFORD, G., OSBORNE, J., SCOTT, P. (Eds.) Research in science education in Europe: current issues and themes London: Falmer Press, p. 200-211.
  • CAFAGNE, A. (1996). Concepções em termodinâmica: o senso comum e o conhecimento científico São Paulo: Faculdade de Educação, USP. (Unpublished doctoral thesis)
  • DUSCHL, R., GITOMER, D. (1991). Epistemological perspectives on conceptual change: implications for educational practice. Journal of Ressearch in Science Teaching v. 28, n. 9, p. 839-858.
  • DYKSTRA JR., D., BOYLE, F., MONARCH, I. (1992). Studying conceptual change in learning physics. Science Educationv. 76, n. 6, p. 615-652.
  • GAUTHIER, C., MARTINEAU, S., DESBIENS, J.F., MALO, A., SIMARD, D. (1998). Pour une théorie de lapédagogie: recherches contemporaines sur le savoir des enseignants Laval: Le Presses de l'Université de Laval.
  • HALBWACHS, F. (1984). La física del profesor entre la física del físico y la física del alumno. Enseñanza de las Cienciasv. 2, n. 1, p. 149-166.
  • KARMILOFF-SMITH, A., INHELDER, B. (1975). If you want to get ahead, get a theory. Cognition v. 3, n. 3, p. 195-212.
  • LEMEIGMAN, G., WEIL-BARAIS, A. (1994). A developmental approach to cognitive change in mechanics. International Journal of Science Education v. 16, n. 1, p. 99-120.
  • LIJNSE, P. (1995). 'Developmental research' as a way to an empirically based "didactical structure' of science., Science Education v. 79, n. 2, p. 189-199.
  • LIMA, M. E. C. (2003). Condilac e o ensino de ciências: que relações podemos encontrar ainda hoje? Ensaiov. 5, n. 1Disponível pela internet: http://www.fae.ufmg.br/ensaio/v5 n1Z513.pdf
    » http://www.fae.ufmg.br/ensaio/v5 n1Z513.pdf
  • MILLAR, R. (1997). Comments on: Experimental facts and common ways of reasoning in thermodynamics, by Laurence Viennot. In: TIBERGHIEN, A., JOSSEM, L., BAROJAS, J. (Eds.). Connecting research in physics education with teacher education. London: ICPE. Available from Internet: http://www.physics.ohiostate.edu/~jossem/ICPE/
    » http://www.physics.ohiostate.edu/~jossem/ICPE/
  • MORTIMER, E. (1995). Conceptual change or conceptual profile change? Science & Education, v. 4, p. 267-285.
  • PERKINS, D., GROTZER, T. (2000). Models and moves: focusing on dimensions of causal complexity to achieve deeper scientific understanding. Paper presented at the American Educational Research Association Annual ConferenceNew Orleans Available from internet: http://pzweb.harvard.edu/Research/UnderCon.htm
    » http://pzweb.harvard.edu/Research/UnderCon.htm
  • PERRENOUD, P. (2000). Pedagogia diferenciada: das intenções à ação Trad. Patrícia C. Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas.
  • PIAGET, J. (1976). A equilibração das estruturas cognitivas Trad. Marion M. Penna. Rio de Janeiro: Zahar Editores.
  • PIAGET, J. (1978). Investigaciones sobre la contradiccion Madrid: Siglo XXI.
  • PIAGET, J., GARCIA, R. (1984). Psicogênesis e historia de la ciencia 2ed. México: Siglo Veintiuno Editores.
  • TIBERGHIEN, A. (1998). Analysis of teaching and learning: how differentiating and relating them. In: MEHEUT, M., REBMANN, G. Theory, methodology and results of research in science education, 4th European Science EducationSummerschool: Marly de Roi: ESERA, p. 32-45.
  • THORLEY, R., WOODS, R. (1997). Case studies of sutdents' learning as action research on conceptual change teaching International Journal of Science Education v. 19, n. 2, p. 229-245.
  • VILLANI, A., ORQUIZA DE CARVALHO, L. (1997). Evolución de las representaciones mentales sobre colisiones. Enseñanza de las Ciencias v.15, n. 1, p. 91-102.
  • VOSNIADOU, S., IOANNIDES, C.(1998). From conceptual development to science education: a psychological point of view International Journal of Science Education v. 20, n. 10, p. 1213-1230.
  • 1
    A fundamentação teórica desse modelo encontra-se desenvolvida mais detalhadamente em outros trabalhos (Aguiar Jr. E Filocre, 1999; Aguiar Jr., 2001).
  • 2
    As "teorias" a que nos referimos incluem as "teorias em ação" (Karmiloff-Smith e Inhelder, 1975) que orientam a atividade da criança e as "teorias implícitas" (Benlloch e Pozo, 1996) que o sujeito utiliza sem que sinta a necessidade de refletir sobre elas, de forma a explicitar seus argumentos ou precisar o sentido de cada uma das noções que utiliza para interpretar o mundo à sua volta.
  • 3
    Esta pesquisa pretende constituir-se em um diálogo aberto e incessante entre dois sistemas, relativamente autônomos, de pensamento: o sistema-professor e o sistema-aluno. Na verdade, essa é uma simplificação, na medida em que as relações pedagógicas são constituídas por interações múltiplas, de um conjunto de sujeitos educandos entre si, com um educador e mediados por objetos de conhecimento. Ao se dar destaque a esses dois elementos, professor e aluno, enquanto sistemas, e ao postular sua autonomia, o que se pretende é enfatizar o fato de que ambos operam com lógicas distintas, com intenções e finalidades próprias, nutrindo expectativas mútuas acerca das ações do outro, de suas possibilidades, deveres e direitos.
  • 4
    Indicadores de aprendizagem são evidências, colhidas por meio de instrumentos de avaliação da aprendizagem, das formas de entendimento dos estudantes. Eles nos oferecem indícios dos modos de pensar dos estudantes e de eventuais obstáculos à aprendizagem. São, ainda, fortemente dependentes do contexto de produção, ou seja, de características da atividade avaliativa e das condições de sua aplicação.
  • 5
    Segundo Gauthier et al (1998, p. 61), o "repertório de conhecimentos é o conjunto de saberes, conhecimentos, habilidades e atitudes de que um professor necessita pra realizar seu trabalho de modo eficaz num determinado contexto de ensino".
  • 6
    Sensualismo é o termo que designa a doutrina da "sensação transformada" de Condilac (1715-1780), segundo a qual encontramos em nossas sensações a origem de todos os nossos conhecimentos e todas nossas faculdades, por um processo de transformação, associação e abstração dos dados sensoriais (Dicionário Básico de Filosofia, H. Jupiassu e P. Marcondes, Rio de Janeiro, Zahar, 1989). No caso da aluna, o sensualismo não se apresenta enquanto doutrina filosófica, mas como crença de que percebemos o mundo tal como ele é e os conceitos podem, então, ser formados com base nas sensações e impressões. Sobre a influência do sensualismo no ensino de ciências, ver Lima (2002).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2004

Histórico

  • Recebido
    20 Dez 2004
  • Aceito
    10 Maio 2005
Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais Av. Antonio Carlos, 6627, CEP 31270-901 Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, Tel.: (55 31) 3409-5338, Fax: (55 31) 3409-5337 - Belo Horizonte - MG - Brazil
E-mail: ensaio@fae.ufmg.br