Acessibilidade / Reportar erro

Seis dimensões da análise entre TV e dispositivos móveis na linguagem telejornalística na cobertura da covid-19

Six dimensions of analysis between broadcast and mobile devices in TV news’ language in covid-19 coverage

Resumo

Este artigo propõe seis dimensões reflexivas sobre as alterações admitidas na linguagem telejornalística na cobertura dos primeiros meses de pandemia de covid-19. O percurso metodológico da pesquisa foi dividido em dois momentos: o primeiro foi de observação, coleta e seleção de reportagens em abril, maio e junho de 2020. Os exemplos ilustrativos foram selecionados qualitativamente por meio do Jornal Nacional, da Rede Globo. No segundo momento, à luz do referencial teórico, de telejornalismo e de jornalismo em dispositivos móveis, e de análise dos dados, foram sistematizadas as seis dimensões, que são a contribuição deste artigo, para pensar a convergência, a imbricação e a hibridização dos meios e linguagens. Como resultado, evidencia-se a dupla remediação, num fenômeno tão radical que por vezes apaga a própria mediação.

Palavras-Chave
jornalismo; telejornalismo; dispositivos móveis

Abstract

This article proposes six dimensions of analysis on TV news’ language in the first months of the covid-19 pandemic. This research’s methodological course was divided into two moments: first, observation, followed by collection and selection of reports in April, May and June 2020. The illustrative examples were qualitatively selected from Jornal Nacional, by Rede Globo. In a second moment, guided by the theoretical framework (from TV news and journalism on mobile devices) we categorized six dimensions of analysis, which are the main contribution of this article to thinking about convergence, imbrication and hybridization of media and languages. As a result, we found that double remediation becomes evident, in such a radical a phenomenon that it sometimes erases mediation itself.

Keywords
journalism; TV news; mobile devices

Introdução

Em março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou estado de pandemia em razão da difusão do coronavírus, causador da doença covid-19. A organização alertava para o contágio caso um paciente infectado tivesse contato físico com outras pessoas. O acontecimento remete à noção de mobilidade de doenças, que integra o paradigma das novas mobilidades (SHELLER; URRY, 2006SHELLER, M.; URRY, J. The new mobilities paradigma. Environment and Planning, v. 38, n. 2, p. 207-226, 2006.). A mobilidade é um conceito com diversas facetas e uma das marcas fundamentais do século XXI, período caracterizado pela cultura da mobilidade (LEMOS, 2005LEMOS, A. Ciber-cultura-remix, 2005. In: Seminário Sentidos e Processos, 2005, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: Itaú Cultural, 2005.), por uma sociedade móvel (AGUADO; MARTÍNEZ, 2008______, J. M.; MARTÍNEZ, I. J. El dispositivo móvil como encrucijada cultural. In: AGUADO, J. M.; MARTÍNEZ, I. (orgs.). Sociedade móvil. Tecnología, identidad y cultura. Madrid: Biblioteca Nueva, 2008.) e uma mediação radical (GRUSIN, 2015GRUSIN, R. Radical mediation. Critical Inquiry, v. 42, n. 1, p. 124-148, 2015.), capaz de ocultar a percepção dos rastros da própria mediação. O telejornalismo neste contexto é afetado e reflete essas dinâmicas em rotinas de produção e também no conteúdo dos produtos finais.

Ao desencadear as medidas governamentais de afastamento físico, o governo brasileiro incluiu o jornalismo entre as atividades de prestação de serviço essenciais. Em razão do risco de contágio, houve alterações nas rotinas produtivas naquele momento. As saídas para gravações de imagens na rua foram reduzidas. Os repórteres passaram a trabalhar de casa, grande parte das entrevistas foram feitas remotamente. Os jornalistas articulavam a participação das fontes direto de locais como hospitais e postos de saúde. As fontes mais destacadas, que operavam a gravação de imagens com os próprios smartphones, eram profissionais da saúde, famílias em busca de atendimento ou que perderam alguém, representantes de associações profissionais etc.

Partimos da observação, no período analisado, de que a participação das fontes, seja provocada pela produção de um jornalista, seja por colaboração espontânea, reconfigurou os conteúdos dos telejornais brasileiros em relação à composição de reportagem, texto e linguagem telejornalística. As imagens e os depoimentos que antes eram produzidos por profissionais in loco passaram a ser captadas em parte significativa pelas fontes, por meio de seus dispositivos móveis. A contribuição das fontes é moldada pela tecnologia móvel e as funcionalidades dadas pelos dispositivos, softwares e plataformas com os quais se relacionam.

O objetivo do estudo é contribuir com a reflexão acerca das mudanças provocadas na linguagem telejornalística em um cenário de pandemia, com as limitações de deslocamento das equipes de produção de imagens externas e com o protagonismo dos dispositivos móveis como motores da mediação radical, ubíqua, imanente. Destacamos que se observa o crescimento gradual da participação e colaboração de telespectadores, em especial a partir de 2007, quando os smartphones passaram a fazer parte da rotina de produção e de consumo de notícias (HILL; BRADSHAW, 2018HILL, S.; BRADSHAW, P. Mobile-First Journalism: Producing News for Social and Interactive Media. Routledge, 2018.). Neste artigo, assumimos que a pandemia acentuou este recurso narrativo ao inserir outro padrão de linguagem telejornalística. Para cumprir a proposta, adotamos a discussão acerca do telejornalismo historicamente, delineamos as características do jornalismo em dispositivos móveis, que impactam diretamente na produção de reportagens para telejornais, e definimos texto e linguagem telejornalística, bem como o modo de participação das fontes.

O percurso metodológico da pesquisa foi dividido em dois momentos principais (LOPES, 2010LOPES, M. I. V. Pesquisa em comunicação. São Paulo: Edições Loyola, 2010.). No primeiro, que ocorreu em abril, maio e junho de 2020, foi realizada a observação, coleta e seleção de reportagens do Jornal Nacional, da Rede Globo, que utilizavam imagens oriundas de dispositivos móveis. No segundo momento, com base no referencial teórico (de telejornalismo e de jornalismo em dispositivos móveis) e nos dados selecionados, foram sistematizadas seis dimensões reflexivas sobre os sentidos gerados com as mudanças identificadas na linguagem do jornalismo de TV. Adotamos o Jornal Nacional, da Rede Globo, como objeto empírico de caráter exemplar, a fim de tensionar a reflexão proposta, por ser o telejornal de maior audiência da TV aberta brasileira1 1 2021 é o pior ano da história do ‘Jornal Nacional’ no Ibope. Disponível em: <https://portal.comunique-se.com.br/2021-e-o-pior-ano-da-historia-do-jornal-nacional-no-ibope/>. Acesso em: 29 abr. 2022. .

Telejornalismo pela e para telas

A definição do termo telejornalismo contemporaneamente vem sendo consolidada como o jornalismo produzido pela e para as telas (EMERIN, 2016EMERIN, C. O poder da linguagem telejornalística. In: EMERIN, C.; FINGER, C.; PORCELLO, F. Telejornalismo e poder. Florianópolis: Editora Insular, 2016.; EMERIN; FINGER; CAVENAGHI, 2017EMERIN, C.; FINGER, C.; CAVENAGHI, B. Metodologias de pesquisa em telejornalismo. Sessões do imaginário, v. 22, n. 37, p. 2-9, 2017.), considerando o fenômeno da convergência jornalística em um ambiente de produção multiplataforma. Os estudos de ciberjornalismo configuraram um campo específico acerca do jornalismo em dispositivos móveis (PAVLIK, 2001PAVLIK, J. V. Journalism and new media. New York: Columbia University Press, 2001.; QUINN, 2002QUINN, S. Knowledge management in the digital newsroom. Oxford: Focal Press, 2002., 2009______, S. MoJo – Mobile journalism in the Asian region. Singapore: Konrad-Adenauer-Stiftung, 2009.; SILVA, 2016SILVA, F. F. Cultura do jornalismo móvel. In: SILVA, F. F. (org.). Transmutações no jornalismo. Campina Grande: EDUEPB, v. 1, p. 154-168, 2016.; SOUSA, 2018SOUSA, M. C. E. Jornal e mobilidade: reconfigurações do impresso ao multiplataforma. Tese (Doutorado em Comunicação e Informação). Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.), em um cenário em que cada vez mais os processos jornalísticos são digitalizados e móveis. Os dois conceitos dialogam e se complementam em diversos aspectos.

A televisão foi introduzida no Brasil em 1950 e, mais de 70 anos depois, tem penetração e protagonismo no ecossistema midiático. O telejornal como produto da programação da televisão foi ganhando autonomia ao longo da trajetória. Apesar de bastante popular e facilmente identificável pela audiência, o telejornal se manteve com características que perpassam o tempo e as fronteiras e permanecem — assim como sofrem transformações — em especial, relacionadas a aspectos técnicos de captação e edição de imagem e som que interferem na formatação, edição e linguagem.

As especificidades do telejornalismo durante os primeiros 50 anos estiveram associadas ao meio pelo qual ele era transmitido: a televisão. Foi pela tela da TV que o telejornalismo ganhou projeção e caracterização em linguagem e texto televisual. A década de 1950 marcou o que Silva (2018)SILVA, E. M. Fases do telejornalismo: uma proposta epistemológica. Epistemologias do telejornalismo brasileiro. Florianópolis: Insular, 2018. e Rezende (2010)REZENDE, F. Anos de jornalismo na TV brasileira: percalços e conquistas. In: VIZEU, A.; PORCELLO, F.; COUTINHO, I. (orgs.). 60 anos de telejornalismo no Brasil. Florianópolis: Insular, 2010. consideram a primeira fase do telejornalismo: o falado, com forte influência e remediação do veículo rádio. Nessa época, o telejornalismo adotava uma linguagem na qual o sujeito apresentador ou locutor aparecia na tela em enquadramentos fechados, em primeiro plano e close. Era um sujeito regido pela objetividade da notícia, interpelando diretamente o espectador, olho no olho. As primeiras imagens associadas aos enunciados das notícias eram raras e captadas em película de filme. Ou seja, era o locutor o elemento legitimador na relação com a audiência, e as poucas imagens eram inseridas em nota coberta, ou seja, a narração do locutor e as imagens associadas.

A chegada da tecnologia de captação para gravação de imagens, o videotape, trouxe mobilidade para as saídas externas das equipes a fim de produzir os registros para posterior edição. Passou-se da fase de improviso ao vivo para a fase de reportagem, na qual as fontes, entrevistadas pela equipe de TV em estúdio ou em locações externas, passaram a ter voz na composição narrativa do repórter. Nos anos 1970, a tecnologia foi evoluindo para fitas portáteis mais práticas, a U-Matic, ainda que carregada de um aparato de tecnologia que envolvia uma equipe grande para operar.

As possibilidades de edição em camadas de informações, com inserção de efeitos sonoros, grafismos e outros recursos aos vídeos, imprimem nova linguagem e novos formatos aos telejornais ainda nos anos 2000. A edição não linear e a miniaturização da tecnologia de captação e edição trouxeram as grandes transformações no fazer telejornalístico. A portabilidade de câmeras de gravação de imagem possibilitou não apenas às equipes profissionais mais mobilidade e praticidade, mas também aos espectadores a colaboração em “imagens de cinegrafista amador” e outras participações, um fenômeno chamado de revolução das fontes (VIZEU; SIQUEIRA, 2010VIZEU, A.; SIQUEIRA, F. O telejornalismo: o lugar de referência e a revolução das fontes. In: VIZEU, A.; PORCELLO, F.; COUTINHO, I. (orgs.) 60 anos de telejornalismo no Brasil. Florianópolis: Insular, 2010.). Os telejornais começaram a incorporar outras linguagens, novos modos de produção, de edição, de circulação e de consumo para se adaptar ao novo comportamento social.

Pensando o jornalismo sob a lógica da remediação (BOLTER; GRUSIN, 1999BOLTER, J.; GRUSIN, R. Remediation. Understanding new media. Cambridge: The MIT Press, 1999.), podemos dizer que essas transformações pelas quais passam os meios jornalísticos — neste cenário, em especial a TV — surgem amparadas em desenvolvimentos tecnológicos e em mudanças sociais, provocando reconfigurações nos modos de produção e construção da notícia. Bolter e Grusin argumentam que cada meio se apropria das técnicas, formas e significação social de outros meios e tenta competir com eles ou atualizá-los em nome do real. Um meio em nossa cultura não opera de forma isolada, porque entra em relação de respeito e rivalidade com os demais meios. Podem ter existido culturas antigas nas quais houvesse uma única forma de representação (quem sabe pintar ou cantar) com escassa ou nenhuma referência aos demais meios. “Tal isolamento não parece possível hoje em dia, quando não podemos sequer reconhecer o poder representacional de um meio, exceto com referência a outro meio” (BOLTER; GRUSIN, 1999BOLTER, J.; GRUSIN, R. Remediation. Understanding new media. Cambridge: The MIT Press, 1999., p. 65, tradução nossa). Mais do que a dicotomia entre a representação e o real, o humano e o não humano, Grusin (2015)GRUSIN, R. Radical mediation. Critical Inquiry, v. 42, n. 1, p. 124-148, 2015. propõe a mediação radical, situando-a entre todas as conexões que envolvem modulação, tradução ou transformação. O autor nos provoca a considerar a ação não humana na comunicação, ou seja, o quanto as materialidades dos dispositivos conformam o modo de agir humano. O smartphone, pelo design e pelas funcionalidades, nos faz usar o dispositivo de determinada maneira (por exemplo, o enquadramento de um vídeo).

Tomamos esse conceito de empréstimo para pensarmos sobre o telejornalismo produzido para múltiplas telas, que provoca rearranjos nos padrões visuais anteriores, ampliando limites e reconfigurando antigas relações entre TV e imagem e entre fontes e mídia, bem como na própria mediação. Podemos dizer que os meios passam por adaptações para esse atual modelo de onipresença de telas. À luz dessa concepção, na qual a dicotomia sujeito e objeto está borrada, podemos observar que o telejornalismo tem cada vez mais processos, relações e conexões atravessados pelos dispositivos móveis.

Jornalismo produzido com dispositivos móveis

Os dispositivos móveis são resultantes do processo de miniaturização de telefones e de computadores, antes caracterizados pelo gigantismo e pela imobilidade. Contudo, foram os lançamentos do iPhone, em 2007, e do iPad, em 2010, que impulsionaram a comunicação móvel (PELLANDA, 2009PELLANDA, E. C. Comunicação móvel das potencialidades aos usos e aplicações. Em Questão, v. 15, n. 1, p. 89-98, 2009.). A partir desse período, os celulares inteligentes, considerados pivôs das transformações, adquiriram o status de central multimídia para produção, edição e publicação de conteúdos jornalísticos — bem como de consumo — e desafiaram “com velocidade e força atrozes as práticas do fazer jornalístico” (MIELNICZUK, 2021MIELNICZUK, Luciana. O celular afronta o jornalismo. In: BACCIN, Alciane; SILVEIRA, Stefanie; BELOCHIO, Vivian (org.). 25 anos e jornalismo digital no Brasil: a contribuição da pesquisadora Luciana Mielniczuk para os estudos no país. 1ª ed. Florianópolis, SC: Editora Insular, 2021, p.199-210., p. 209).

Esses dispositivos são artefatos dotados de conectividade ubíqua e concebidos para a portabilidade cotidiana (AGUADO; CASTELLET, 2013AGUADO, J. M.; CASTELLET, A. Contenidos digitales en el entorno móvil: mapa de situación para marcas informativas y usuários. In: BARBOSA, S.; MIELNICZUK, L. (orgs.). Jornalismo e tecnologias móveis. Covilhã: Livros LabCOM, 2013.). Eles são considerados meta-dispositivos tecnológicos por oferecerem funcionalidades como câmera, agenda, gravador/reprodutor de áudio e de vídeo, entre outras. Foi no final da década de 1990 que chegaram os primeiros celulares nas redações, permitindo a comunicação entre a redação e os repórteres que estavam na rua. Já na segunda metade dos anos 2000, o smartphone descentralizou as práticas produtivas do interior da redação e gerou um ambiente móvel de produção (RECCHIA, 2010RECCHIA, M. Da Remington à redação integrada: a incorporação de tecnologias na prática jornalística e a transformação da visualização da notícia no jornal Zero Hora. 2010. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, 2010.), inicialmente focados na captação de imagens multimídia (HILL; BRADSHAW, 2018HILL, S.; BRADSHAW, P. Mobile-First Journalism: Producing News for Social and Interactive Media. Routledge, 2018.).

Desde o início do século XXI, autores como Pavlik (2001)PAVLIK, J. V. Journalism and new media. New York: Columbia University Press, 2001. e Quinn (2002)QUINN, S. Knowledge management in the digital newsroom. Oxford: Focal Press, 2002. explanam questões relacionadas ao uso de suportes digitais móveis pelo jornalismo. Quinn (2009)______, S. MoJo – Mobile journalism in the Asian region. Singapore: Konrad-Adenauer-Stiftung, 2009. conceitua o que seria o Mojo, abreviação para jornalismo móvel (do inglês, mobile journalism), no qual o jornalista usa o telefone para coletar, editar e distribuir notícias em diferentes formatos pela facilidade de multifunções, por isso tende a trabalhar sozinho. O Mojo amplia os processos de produção e de circulação de notícias dos veículos jornalísticos. Nesse sentido, vive-se uma cultura do jornalismo móvel que é, de acordo com Silva (2016, p. 151)SILVA, F. F. Cultura do jornalismo móvel. In: SILVA, F. F. (org.). Transmutações no jornalismo. Campina Grande: EDUEPB, v. 1, p. 154-168, 2016., “um novo paradigma no campo do jornalismo”, uma vez que surgem inovações para o jornalismo devido ao emprego de tecnologias digitais móveis que se tornam centrais para os processos jornalísticos. Percebe-se assim, conforme autor (SOUSA, 2018SOUSA, M. C. E. Jornal e mobilidade: reconfigurações do impresso ao multiplataforma. Tese (Doutorado em Comunicação e Informação). Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.), que os dispositivos móveis reconfiguram a prática jornalística, pois potencializam a produção e a publicação de informações jornalísticas pelos profissionais em qualquer lugar e momento, incorporam o uso de conteúdos colaborativos (texto, fotografia, vídeo) produzidos pelo público em seus dispositivos móveis e impulsionam a propagação de produtos jornalísticos, por meio do compartilhamento pelo público em suas plataformas de redes sociais.

A cultura do jornalismo móvel integra o fenômeno da convergência jornalística, no qual os processos de produção e distribuição de notícias utilizam as potencialidades de cada mídia com a finalidade de informar o público da melhor forma possível (KOLODZY, 2009KOLODZY, J. Convergence Explained. In: GRANT, A. E.; WILKINSON, J. S. (orgs.). Understanding media convergence. New York: Oxford University Press, 2009. p. 31-51.). Esse processo envolve transformações tecnológicas, empresariais, profissionais e editoriais provocadas pela implantação das tecnologias digitais (SALAVERRÍA, AVILÉS; MASIP, 2010SALAVERRÍA, R.; AVILÉS, J. A.; MASIP, P. Concepto de convergencia periodística. In: LÓPEZ GARCIA, X.; PEREIRA FARIÑA, X. (orgs.) Convergência digital: Reconfiguración de los Medios de Comunicación em España. Santiago de Compostela: Universidade, Servizo de Publicacións, 2010. p. 41-64.). Para acompanhar tais mudanças, os veículos jornalísticos assumiram as tecnologias digitais nos diferentes subprocessos técnicos (coleta de informação, publicação, compartilhamento na redação etc.), configurando-se em uma transformação sistêmica e de importância cultural, na qual as organizações noticiosas investem em “fórmulas atraentes e inovadoras para oferecer conteúdo através de múltiplos canais” (LARRONDO URETA; DÍAZ NOCI; ERDAL, 2022LARRONDO URETA, A.; DÍAZ NOCI, J.; ERDAL, I. J. Convergence and innovation: the conceptual and methodological basics of technological Evolution and cultural complexity in journalism. In: VÁZQUEZ-HERRERO, J. et alli. (orgs.). Total journalism. Models, techniques and challenges. Suíça: Springer, 2022. Livro eletrônico, não paginado., tradução nossa).

Texto, linguagem e fonte no telejornalismo

O telejornalismo pelas e para telas busca como conduta manter as características que atribuem especificidade aos seus produtos e processos. Finger (2013)FINGER, C. O telejornal na palma da mão: um estudo sobre a recepção do Jornal Nacional nos dispositivos móveis e portáteis. In: Telejornalismo: nas ruas e nas telas. Florianópolis: Insular, 2013. p. 111-128. destaca os cuidados com a objetividade, simplicidade, concisão, clareza, precisão etc., ressaltando questões mais densas a serem consideradas, “como a qualidade e o aprofundamento da informação, a contextualização da notícia, o compromisso social, a credibilidade e a influência na formação de opinião junto à sociedade” (FINGER, 2013FINGER, C. O telejornal na palma da mão: um estudo sobre a recepção do Jornal Nacional nos dispositivos móveis e portáteis. In: Telejornalismo: nas ruas e nas telas. Florianópolis: Insular, 2013. p. 111-128., p. 126). Estudos recentes analisam o telejornalismo em associação a outros meios com um papel central também na fiscalização do poder nas democracias (COUTINHO; MATA; PEREIRA, 2020COUTINHO, I. M.; MATA, J. A. P.; PEREIRA, G. T. Democracia e qualidade no jornalismo audiovisual: diálogos TV-internet e o quinto poder. Estudos em jornalismo e mídia, v. 17, n. 1, p. 20-31, 2020.).

No ambiente convergente, os produtos resultantes do telejornalismo são vídeos ao vivo ou gravados, e muitos estão disponibilizados em sites, aplicativos e outros canais, por isso tem sido utilizada uma concepção do telejornal como um programa para televisão, mas com um formato de produção jornalística pela e para telas, “incluindo televisão, computador, smartphone, celular, tablets ou os demais dispositivos e suportes que se utilizem de uma tela de visão ou de uma tela refletiva para exibir dados” (EMERIN; FINGER; CAVENAGHI, 2017EMERIN, C.; FINGER, C.; CAVENAGHI, B. Metodologias de pesquisa em telejornalismo. Sessões do imaginário, v. 22, n. 37, p. 2-9, 2017., p. 4). Nesse sentido, os conteúdos produzidos para o telejornal ampliam recursos para a elaboração das reportagens narradas em textos televisuais construídos em estrutura narrativa o mais objetiva possível, compondo imagens, áudio, gráficos, entre outros elementos.

No centro do texto telejornalístico está a expressão do poder da imagem (EMERIN, 2016EMERIN, C. O poder da linguagem telejornalística. In: EMERIN, C.; FINGER, C.; PORCELLO, F. Telejornalismo e poder. Florianópolis: Editora Insular, 2016.). A imagem pode potencializar a contextualização informativa. Sabemos que a regra tem exceções, e existem limites técnicos e circunstanciais que ora descumprem, ora reformulam a regra. Na cobertura da Guerra do Iraque pela CNN, em 2003, por exemplo, repórteres entraram por telefone para descrever os fatos, e na tela estavam apenas uma foto e um mapa, estáticos, sem movimento (ALLAN; ZELIZER, 2004ALLAN, S.; ZELIZER, B. (ed.). Reporting war: Journalism in wartime. Routledge, 2004.). Esse é um caso clássico de limitação da televisão, que não é a regra, mas acontece ainda hoje em coberturas de tragédias, como atentados e outras calamidades, que impedem que a imagem seja transmitida ou captada na cena do acontecimento a contento. Nesses casos, a notícia falada se sobrepõe à imagem no telejornalismo.

Porém, via de regra, ao produzir a reportagem ou cobertura de um acontecimento, o jornalista deve pensar quais composições de imagens ou enquadramentos serão necessários para a narrativa. O roteiro de captação de imagens pode ser planejado, ou seja, estar em uma pauta pensada de antemão, ou pode ser improvisado, ou seja, baseado na habilidade do repórter e do cinegrafista no campo de ação. A equipe planeja a narrativa audiovisual para constituir uma composição de imagens encadeadas por diferentes enquadramentos. Um plano mais aberto, panorâmico, situa o lugar do acontecimento e, enquanto a câmera está estática, a imagem capta elementos em movimento. Um plano médio apresenta os personagens da história; um plano fechado ou close pode representar um detalhe, como placa de rua ou cartaz de evento. Caso a paisagem não tenha movimento em si, a câmera deve produzir o movimento ora vertical (tilt), ora horizontal (panorâmico), ou mesmo um zoom para aproximação de enquadramento para destacar o contexto e fechar num personagem ou objeto. A combinação de cenas captadas deve ser capaz de introduzir os personagens, contextualizar o local do acontecimento e os objetos da cena. O som ambiente também pode ser um elemento rico para contextualização.

O padrão da televisão tem um potencial de apresentar o que é significativo de forma interessante, atraente e relevante, já que a composição audiovisual possibilita uma montagem ritmada, aliando técnicas de informação e entretenimento. Desse modo, o bom texto jornalístico é sempre resultado de uma reportagem sólida, profunda, unindo numa única peça detalhe e contexto (KOVACH; ROSENSTIEL, 2003KOVACH, B.; ROSENSTIEL, T. Os elementos do jornalismo. O que os jornalistas devem saber e o público exigir. Geração Editorial, 2003.). Os autores sugerem que os jornalistas busquem uma forma de ajudar os espectadores a construir as próprias imagens mentais ou mesmo trabalhar narrativas de revelação que provocam no espectador surpresa, com base no desvelar de um segredo com recursos como “uma declaração adequada, o ângulo de câmera correto, olhares trocados entre duas pessoas quando não estão falando” (KOVACH; ROSENSTIEL, 2003KOVACH, B.; ROSENSTIEL, T. Os elementos do jornalismo. O que os jornalistas devem saber e o público exigir. Geração Editorial, 2003., p. 240).

Outra questão cara ao telejornalismo é a construção de personagens nas narrativas noticiosas. Humanizar uma abordagem exige uma descrição de personalidade em detalhes capaz de gerar uma identificação no espectador. No entanto, muitas vezes as fontes no telejornal viram figuras de prateleira, no sentido de que são nomes e caras que se encaixam em um modelo jornalístico, sem provocar a emoção da identificação. São os casos em que as pessoas “nem mesmo parecem reais, pois são focalizadas tendo ao fundo cenários artificiais, bem iluminados ou então na frente de um edifício cercado de microfones” (KOVACH; ROSENSTIEL, 2003KOVACH, B.; ROSENSTIEL, T. Os elementos do jornalismo. O que os jornalistas devem saber e o público exigir. Geração Editorial, 2003., p. 241).

No mesmo sentido, o texto expressa uma linguagem telejornalística específica do jornalismo para telas (EMERIN, 2016EMERIN, C. O poder da linguagem telejornalística. In: EMERIN, C.; FINGER, C.; PORCELLO, F. Telejornalismo e poder. Florianópolis: Editora Insular, 2016.) ao criar um espaço no qual se estabelece um contrato entre o telejornal e o espectador. Esse espectador enquanto audiência atribui ao jornalista e ao telejornal o poder de mediação do mundo externo. Na linguagem televisual residem termos técnicos e culturais da gramática que foi apreendida pela sociedade com o hábito de consumir televisão. Essa gramática é expressa pela linguagem televisual adotada pelo jornalismo, ou seja, aquela que pressupõe adoção de enquadramentos, variedades de cenas, sons ambientes, grafismo, ilustrações, narrações, ritmo de montagem, tempo de exibição etc.

O trabalho de construção realizado pelo jornalismo, ainda que busque a narrativa o mais objetiva possível, é dotado de subjetividades, seja na escolha do ângulo da imagem, na seleção das fontes, na opção por determinadas vozes e citações e na hierarquização dos assuntos. Essas escolhas, na regra, são praticadas pelo repórter e pelo editor entre as opções dadas pela produção. O elemento imagem é central na produção: quando associado à linguagem e ao som, torna-se efetivo na narrativa telejornalística. Tantos mais recursos audiovisuais uma narrativa contiver, mais detalhado será o contexto da reportagem.

Outra característica fundante da linguagem telejornalística, assim como da narrativa jornalística em geral, é o mosaico de informações obtidas por fontes diversas, como documentos, dados, testemunhas, especialistas, figuras públicas e outras. Os acontecimentos jornalísticos são narrados com base no relato de fontes, da reconstrução dos fatos por meio de entrevistas, depoimentos, impressões e informações sobre o ocorrido. As fontes emprestam ao discurso jornalístico a credibilidade de alguém que tem conhecimento sobre o acontecimento, seja por ter presenciado, por ter participado e/ou por ter expertise sobre o tema ou o fato ocorrido. Ao embasar o relato “na fala de um outro” (CASADEI, 2010CASADEI, E. B. A construção de personagens no jornalismo: entre a matriz de verdade presumida e a imaginação das urdiduras de enredos. Ciberlegenda, n. 22, 2010., p. 79), o jornalista objetiva conferir legitimidade e veracidade ao acontecimento jornalístico, prática comum que sustenta a “matriz de verdade presumida” (CASADEI, 2010CASADEI, E. B. A construção de personagens no jornalismo: entre a matriz de verdade presumida e a imaginação das urdiduras de enredos. Ciberlegenda, n. 22, 2010., p. 79) do jornalismo. Nessa mesma linha, Wolf (2012)WOLF, M. Teorias da comunicação. Lisboa: Presença, 2012. afirma que as fontes são um dos fatores determinantes para a qualidade da informação jornalística. Justamente por depender de terceiros para conseguir informação, o jornalista, segundo Kovach e Rosenstiel (2003)KOVACH, B.; ROSENSTIEL, T. Os elementos do jornalismo. O que os jornalistas devem saber e o público exigir. Geração Editorial, 2003., deve se manter cético em relação à fonte selecionada, na busca da veracidade dos fatos em questão. A declaração de terceiros é tão importante quanto a fala em off do repórter ou a escolha de imagens como parte da composição telejornalística, pois passa a integrar a subjetividade narrativa do repórter na perseguição da objetividade jornalística.

No encontro do telejornalismo com as telas móveis, o jornalismo se expande para incorporar outros formatos, com o objetivo de produzir de acordo com a linguagem própria das redes sociais digitais e utilizá-las como canais de publicação, aceitando e adotando novos padrões pela coexistência e interação com os meios. Essas narrativas do jornalismo nas mídias sociais envolvem mais do que a narrativa combinada de imagem e texto, pois acionam formatos interativos e imersivos próprios do ambiente. Alves e Mello (2019, p. 76)ALVES, Y. M.; MELLO, E. As narrativas jornalísticas em formato de stories no Instagram e Snapchat. Ámbitos. Revista Internacional de Comunicación, n. 44, p. 73-92, 2019. desenvolveram nove tipos de narrativas jornalísticas para stories (funcionalidade de aplicações sociais para exibir conteúdos por espaço de tempo determinado) e concluíram que “a relação que o jornalismo tem mantido com as mídias sociais é de mútuo enriquecimento, principalmente no que diz respeito à produção e compartilhamento de conteúdo”. Neste artigo, analisamos essa relação de mão dupla que intensificou uma mudança não apenas no modo de fazer, mas também na própria linguagem padrão do telejornalismo tradicional.

O telejornalismo durante a pandemia de covid-19: análise

A cobertura jornalística pode se originar da ordem do previsível ou do imprevisível. Lidar com o inesperado ou mesmo planejar a produção noticiosa faz parte dos processos do jornalismo. As rotinas estabelecidas procuram dar conta de apoiar o jornalista na articulação das redes de relações para configurar as narrativas. A cobertura da covid-19 irrompe de forma inesperada e se impõe na pauta jornalística, provocando alterações significativas nos modos de produção que impactam em uma mudança na linguagem telejornalística, resultando em menor variedade de imagens para compor o texto televisual.

O isolamento físico afastou o jornalista da redação, dos pares e do encontro presencial com as fontes entrevistadas. Essa realidade modificou práticas e inseriu elementos na construção noticiosa que estão fora do controle do repórter. Essa nova rotina imposta pela pandemia obrigou o jornalismo a adaptar práticas e admitir outras configurações, principalmente no telejornalismo.

Embora a apuração e a reconstituição dos fatos façam parte da rotina, o processo ganhou complexidade por causa da desestabilização imposta pela pandemia. Essa complexidade foi instaurada com o afastamento das redações, quando os jornalistas foram deslocados de seus ambientes profissionais de trabalho para a prática do teletrabalho. Assim, os dispositivos móveis, que já vinham ganhando espaço nas rotinas jornalísticas e nas práticas colaborativas das fontes desde o início deste século, ganham protagonismo ao se tornarem aliados dos jornalistas para a obtenção de informações sobre o que acontece além de suas janelas. O contato com as fontes passou a ser feito, na maioria das vezes, por smartphones ou outros dispositivos móveis, principalmente, para a realização de entrevistas e para o acesso às imagens dos acontecimentos relatados pelas fontes, sejam elas autorizadas/oficiais, experts ou testemunhais. As fontes passaram a gravar e a enviar depoimentos e/ou imagens que sustentavam seus relatos.

Na edição do Jornal Nacional, da Rede Globo, por exemplo, no dia 17 de abril de 2020, um mês após o primeiro registro de óbito por covid-19 no Brasil, era evidente a escassez de imagens narrativas nas reportagens. Só no primeiro bloco, o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta aparece se despedindo da equipe em imagens verticais de smartphone com barras nas laterais, uma fonte especialista da área agrícola aparece em cenário residencial e a entrevista entre o repórter e a fonte é mediada pelas tecnologias móveis, como mostra a ilustração em composição de telas (figura 1).

Figura 1
Montagem ilustra inserções de imagens com o uso de dispositivos móveis e do distanciamento físico entre fonte e reportagem.

A pandemia mescla os campos de autoridade entre as fontes e os jornalistas. Se antes o atributo de captação de imagem, definição de cenário e seleção de enquadramentos era domínio da equipe de reportagem, durante a pandemia esse domínio ou passou para o outro lado (caso das imagens verticais) ou passou a ser negocial, ou seja, parte do diálogo prévio entre o repórter e seu entrevistado na orientação técnica de como estabelecer as condições mínimas para a gravação. Mesmo assim, a personagem (figura 2) de reportagem sobre o auxílio financeiro emergencial do governo demonstra claramente um enquadramento possível, provavelmente não negociado, visto que o ângulo da câmera está baixo, a luz incide parcialmente no rosto e destaca mais a prateleira ao fundo do que a personagem.

Figura 2
Fonte grava depoimento do seu local de moradia com o braço esticado, indicando a operação do dispositivo móvel que ela mesma controla.

Os exemplos ilustrativos indicam que as fontes desempenharam um papel ainda mais importante na construção da reportagem durante os primeiros meses de pandemia, pois devido à impossibilidade da maioria dos repórteres de estar nas ruas, pela restrição de deslocamento e pela necessidade das fontes se protegerem de contatos externos, é o entrevistado quem grava o próprio depoimento.

Assumimos, portanto, que a admissão do uso de depoimentos e imagens capturadas pelas próprias fontes, via dispositivos móveis, que já vinha em processo de remodelação, tornou-se comum nas coberturas durante os primeiros meses de pandemia, impactando o padrão telejornalístico. O uso dos dispositivos móveis na vertical para gravação das imagens, por exemplo, passou a ser uma rotina, o que até bem pouco tempo não era aceito pelas emissoras. Em 2018, por causa das eleições presidenciais no Brasil, os telejornais da Rede Globo lançaram o quadro “O Brasil que eu quero”. Para participar dele, solicitaram que os brasileiros enviassem vídeos de 15 segundos abordando o que eles esperavam do Brasil. Diariamente, os jornalistas da emissora e emissoras afiliadas, explicavam como gravar os vídeos, o que falar e o cenário que deveria ser escolhido, além de frisarem que o smartphone deveria ser posicionado na horizontal, pois era assim que a imagem apareceria melhor na tela (figura 3).

Figura 3
Repórter Zileide Silva explica como os telespectadores deveriam posicionar o smartphone.

A cobertura da pandemia covid-19 mudou a postura da emissora de televisão Rede Globo. As imagens verticais mais reincidentes nos telejornais em 2020 foram aquelas captadas por equipes médicas, ou de enfermagem, ou ainda por familiares dos pacientes em hospitais, mostrando a comemoração da alta das pessoas recuperadas da covid-19 (figura 4) ou ainda os problemas enfrentados no combate à doença.

Figura 4
Imagem vertical mostra a comemoração de alta hospitalar de pacientes que tiveram covid-19.

Os exemplos citados indicam que os dispositivos móveis foram inseridos preponderantemente nas rotinas de produção e de consumo, bem como acionados pelos jornalistas e pelas fontes, ganhando protagonismo e, por conseguinte, provocando mudanças na linguagem dos telejornais no período analisado.

Seis dimensões para refletir sobre mudanças no telejornalismo

Ao perseguir o objetivo de refletir sobre as alterações na linguagem telejornalística com as limitações de deslocamento das equipes de produção e com o protagonismo dos dispositivos móveis, embasamo-nos na historicidade do telejornalismo, no uso dos dispositivos móveis, nas características do texto televisual, na linguagem telejornalística e no objeto empírico de caráter exemplar adotado para esta pesquisa — o Jornal Nacional. Desta feita, propomos a sistematização reflexiva de seis dimensões para contribuir com o melhor entendimento do campo sobre as transformações do jornalismo na sociedade multitelas.

Contexto no texto telejornalístico

Durante a pandemia, em razão do isolamento físico, os recursos de produção de captação de imagens ficaram reduzidos, o que acarretou perdas e ganhos de sentidos no texto telejornalístico. Se a imagem expressa poder na linguagem telejornalística (EMERIN, 2016EMERIN, C. O poder da linguagem telejornalística. In: EMERIN, C.; FINGER, C.; PORCELLO, F. Telejornalismo e poder. Florianópolis: Editora Insular, 2016.) e as equipes passaram a produzir menos variedade de imagens no lócus do acontecimento, podemos inferir uma perda importante para as narrativas televisuais. Fica evidenciado o lapso de contextualização quando as reportagens utilizam imagens de arquivo ou repetem um mesmo enquadramento. Como vimos, o enquadramento, a composição de imagens, a variação de planos e os movimentos de câmera produzem informação para além da fala do repórter. Apesar de reconhecermos a evidente perda com a limitação de deslocamento das equipes, também podemos identificar ganhos.

A construção de personagens nas reportagens jornalísticas humaniza e torna mais envolvente e interessante a narrativa para o espectador (KOVACH; ROSENSTIEL, 2003KOVACH, B.; ROSENSTIEL, T. Os elementos do jornalismo. O que os jornalistas devem saber e o público exigir. Geração Editorial, 2003.). Quando o entrevistado é perfilado, mesmo que brevemente, o repórter contextualiza a fonte e a situa na pauta em questão. Essa é uma atribuição subjetiva do repórter que vai ao local da notícia, um poder atribuído ao autor da reportagem na observação do ambiente do entrevistado. O que a pandemia evidenciou foi uma mudança de ângulo. Ou seja, o entrevistado passou a contribuir com mais elementos sobre si, para além da fala. Quando a fonte escolhe o local onde vai falar, o enquadramento da câmera, o cenário ao fundo, ele passa a definir o contexto, pelo menos aquele suscitado pelos elementos que comporão o enquadramento no qual ele se insere na narrativa. Nesse sentido, perde-se em autonomia narrativa do repórter, impossibilitado de extrair as próprias percepções do ambiente do entrevistado, e ganha-se em subjetividade da própria fonte, apta em definir o contexto no qual opta por entrar em cena, com a identidade e as mensagens as quais quer visibilizar.

A tela na tela

Se por um lado, perdemos o contexto nas narrativas telejornalísticas, por outro, as telas passam a incorporar os cenários de muitas entrevistas nos telejornais. Assim, telas dos mais variados tamanhos passam a compor o cenário em que o repórter entrevista a fonte de modo remoto, como vimos na figura 1. Em um cenário de convergência jornalística (LARRONDO URETA; DÍAZ NOCI; ERDAL, 2022LARRONDO URETA, A.; DÍAZ NOCI, J.; ERDAL, I. J. Convergence and innovation: the conceptual and methodological basics of technological Evolution and cultural complexity in journalism. In: VÁZQUEZ-HERRERO, J. et alli. (orgs.). Total journalism. Models, techniques and challenges. Suíça: Springer, 2022. Livro eletrônico, não paginado.), a tela na tela já era experimentada, mas a pandemia normalizou o uso.

Laptops, tablets e smartphones passaram a figurar com naturalidade, pois se evidencia nas imagens a metalinguagem como cenário, quase um simulacro, já que o bastidor segue não visto. Tal cenário se propõe a dar mais sentido de realidade à entrevista, ao mesmo tempo que simula uma entrevista presencial, só que mediada por telas.

Quebra de padrão de linguagem: o horizontal versus o improviso vertical

O padrão de imagem na televisão passou dos formatos quadrado (4:3) para horizontal (widescreen, 16:9) com a digitalização do sistema de captação e transmissão de imagens. Ao mesmo tempo que a tecnologia aumenta a qualidade da imagem, também possibilita novos atravessamentos, sendo o smartphone uma das tecnologias que mais atravessa a televisão.

O telefone e o computador se mesclam no pequeno aparelho que ora simula uma tela de computador, ora o aparelho de telefone. Na medida em que o telefone inteligente passou a ser onipresente, a TV o adotou como recurso em diferentes aspectos (FINGER, 2013FINGER, C. O telejornal na palma da mão: um estudo sobre a recepção do Jornal Nacional nos dispositivos móveis e portáteis. In: Telejornalismo: nas ruas e nas telas. Florianópolis: Insular, 2013. p. 111-128.) a um ponto de tal pervasividade que a verticalidade do telefone ingressa na horizontalidade de modo quase natural. Nas imagens horizontais, TV, computadores e telefones são hibridizados. Assim, o uso de imagens gravadas no formato vertical pelas fontes por meio de seus dispositivos móveis configura-se como uma quebra de padrão visual que, como vimos no caso do quadro “O Brasil que eu quero”, do Jornal Nacional, até bem pouco tempo valorizava as imagens oriundas de dispositivos móveis no formato horizontal (figura 3).

As imagens verticalizadas passam a ser admitidas nos telejornais e modificam a estética audiovisual, criando uma composição híbrida que veicula imagens ora no formato horizontal, ora no vertical, como pode ser visto na figura 1 (reportagem sobre a saída de Henrique Mandetta no Ministério da Saúde) e na figura 4 (reportagem sobre a alta de pessoas recuperadas da covid-19). Tal fenômeno demonstra como, em um cenário de convergência jornalística, os veículos usam as potencialidades de cada mídia para levar a informação ao público da melhor maneira possível (KOLODZY, 2009KOLODZY, J. Convergence Explained. In: GRANT, A. E.; WILKINSON, J. S. (orgs.). Understanding media convergence. New York: Oxford University Press, 2009. p. 31-51.).

Lógica da dupla remediação

A aceitação de uma estética que até bem pouco era rechaçada pelo telejornalismo (imagem vertical) revela a existência de um processo de remediação (BOLTER; GRUSIN, 1999BOLTER, J.; GRUSIN, R. Remediation. Understanding new media. Cambridge: The MIT Press, 1999.) que imbrica um padrão comum das narrativas em redes e mídias sociais com o visual das narrativas telejornalísticas. Com isso, ressaltamos que a captação de imagens verticais televisuais realizada via dispositivos móveis — prática comum nas postagens de vídeos em redes e mídias sociais (como o Instagram) — estão subvertendo normas telejornalísticas e hibridizando a estética visual nesses ambientes. É por meio dessa subversão que jornalistas têm acesso a informações alheias ao seu alcance físico. Nesse caso, podemos dizer que o telejornal se remodela em razão da relação que estabelece com a materialidade do dispositivo móvel, ou seja, a linguagem modifica e é modificada na relação dos jornalistas com as possibilidades dadas pelos aplicativos para smartphones, como no caso do Instagram (mais especificamente da ferramenta Stories que potencializa o uso da imagem verticalizada).

Podemos perceber ainda na admissão da estética visual das redes e mídias sociais nas narrativas telejornalísticas a dupla lógica da remediação, pois as imagens verticais gravadas pelas fontes e incorporadas nos telejornais buscam de um lado apagar os sinais de mediação ao oferecer um contato imediato com o real e acionar um imediatismo perceptivo e afetivo, e, de outro, multiplicar ou chamar a atenção para a hipermediação, revelando uma onipresença dos dispositivos móveis em qualquer ambiente, seja nos hospitais, nos escritórios, em nossas casas e também nos telejornais.

Outro aspecto relevante que aponta para as marcas da mediação radical em curso nos telejornais é a hibridização dos formatos. Uma reportagem telejornalística apresenta tanto o reforço de parte do padrão visual do meio televisivo (imagem horizontal) quanto a adoção do padrão visual das mídias sociais (imagem verticalizada). Essa é uma dinâmica que evidencia a transposição ou imposição da linguagem vertical de dispositivos móveis e mídias sociais. Percebemos ainda que a imagem vertical, ao não casar com a orientação horizontal da tela de televisão, revela um campo visual morto, em alguns casos composto de barras laterais pretas e em outros ocultando essas margens com artes gráficas. Nesses campos, o processo de remediação esvazia espaços antes preenchidos de outros sentidos e os preenche com a presença da materialidade do smartphone, revelando que aquela imagem foi capturada pelo celular inteligente.

Valorização da produção das fontes

Durante os primeiros meses da pandemia, conforme observamos na análise, o repórter esteve dependente de fontes que captassem o próprio depoimento e, em alguns casos, imagens para subsidiar as narrativas. Essa prática revela que o jornalismo valorizou mais a informação expressa pela fonte, mesmo que comprometesse a linguagem padrão telejornalística, aspecto caro à TV ao longo da história. Como a análise evidenciou, os programas de TV admitiram imagens verticais, desfocadas, mal enquadradas, com pouca iluminação.

As informações prestadas e captadas pelas fontes compõem o centro da narrativa, independentemente de as imagens terem a qualidade exigida pela linguagem televisiva, como vimos na figura 2. A educadora social voluntária Tânia Maria Pereira grava depoimento sobre a demora para receber o auxílio emergencial do governo federal em um dos cômodos da casa. Percebemos no vídeo que a fonte captou a imagem de baixo para cima, mostrando parte do teto, chamando a atenção para o cenário que não acrescenta informação sobre o assunto tratado, porém revela elementos sobre a intimidade de Tânia.

Está na mão da fonte a seleção do ângulo que julga ser o melhor para transmitir a mensagem pretendida e a escolha do cenário que quer mostrar, compondo assim parte do contexto da narrativa. Esse acréscimo de poder de escolha das fontes é possível, em grande parte, pelo uso da tecnologia digital móvel em um cenário de convergência jornalística (LARRONDO URETA; DÍAZ NOCI; ERDAL, 2022LARRONDO URETA, A.; DÍAZ NOCI, J.; ERDAL, I. J. Convergence and innovation: the conceptual and methodological basics of technological Evolution and cultural complexity in journalism. In: VÁZQUEZ-HERRERO, J. et alli. (orgs.). Total journalism. Models, techniques and challenges. Suíça: Springer, 2022. Livro eletrônico, não paginado.). A autonomia na gravação das informações avança inclusive no domínio técnico da captura de imagens. Essa prática marca uma posição mais central para a produção das fontes, acelerada nos primeiros meses da pandemia.

A valorização do telejornalismo na convergência

A pandemia iluminou os sentidos por trás da linguagem do telejornalismo. Ao aceitar mudanças de padrões de qualidade técnica, os telejornais expõem deixam ver sua vulnerabilidade e justificam seu papel como mediador social capaz de informar aos telespectadores aquilo que lhes permite atualização sobre questões relevantes para seu dia diante de um acontecimento imprevisto e inédito de amplo interesse público. Mesmo diante de dificuldades para acessar informações — tanto dos próprios entrevistados quanto dos dados e documentos sobre a pandemia — e encontrar as fontes — personagens, especialistas, técnicos, pesquisadores —, o telejornal se mostrou um espaço por meio do qual a população pode se fiar para conhecer a doença, as pesquisas sobre tratamentos e imunizações, a situação dos hospitais e dos dados epidemiológicos de saúde.

Desta forma, observamos que apesar da perda significativa em variedade de imagens produzidas no local do acontecimento, o telejornal manteve características narrativas estruturadas na objetividade, concisão e clareza, utilizando recursos gráficos, imagens de espectadores e de fontes para substituir a captação própria em muitos casos. Assim, concordamos com Finger (2013)FINGER, C. O telejornal na palma da mão: um estudo sobre a recepção do Jornal Nacional nos dispositivos móveis e portáteis. In: Telejornalismo: nas ruas e nas telas. Florianópolis: Insular, 2013. p. 111-128. que a televisão em ambiente de convergência tende a se manter relevante para a sociedade brasileira. E acrescentamos que em meio à escassez de imagens profissionais gerada pela pandemia, o telejornal evidenciou também o compromisso social e a influência no debate público para contribuir na formação de opinião, utilizando as ferramentas disponíveis para informar a sociedade da melhor forma possível (KOLODZY, 2009KOLODZY, J. Convergence Explained. In: GRANT, A. E.; WILKINSON, J. S. (orgs.). Understanding media convergence. New York: Oxford University Press, 2009. p. 31-51.).

Conclusão

Este artigo resultou em uma sistematização de seis dimensões reflexivas referentes às mudanças observadas na linguagem telejornalística no período analisado, com o protagonismo dos dispositivos móveis em um cenário de pandemia de covid-19. Identificamos uma aceleração no atravessamento de telas digitais móveis na estética dos telejornais brasileiros. Embora as telas já estivessem cada vez mais presentes nos cenários por causa do fenômeno da convergência jornalística (KOLODZY; 2009KOLODZY, J. Convergence Explained. In: GRANT, A. E.; WILKINSON, J. S. (orgs.). Understanding media convergence. New York: Oxford University Press, 2009. p. 31-51.; SALAVERRÍA; AVILÉS; MASIP, 2010SALAVERRÍA, R.; AVILÉS, J. A.; MASIP, P. Concepto de convergencia periodística. In: LÓPEZ GARCIA, X.; PEREIRA FARIÑA, X. (orgs.) Convergência digital: Reconfiguración de los Medios de Comunicación em España. Santiago de Compostela: Universidade, Servizo de Publicacións, 2010. p. 41-64.; LARRONDO URETA; DÍAZ NOCI; ERDAL, 2022LARRONDO URETA, A.; DÍAZ NOCI, J.; ERDAL, I. J. Convergence and innovation: the conceptual and methodological basics of technological Evolution and cultural complexity in journalism. In: VÁZQUEZ-HERRERO, J. et alli. (orgs.). Total journalism. Models, techniques and challenges. Suíça: Springer, 2022. Livro eletrônico, não paginado.), as mudanças foram intensificadas no ano de 2020.

Desse modo, observamos a incorporação de novos elementos na linguagem e nos padrões estéticos do telejornalismo, os quais são parte do contrato entre a empresa de mídia e o espectador, pois atribuem ao jornalismo de TV autoridade naquilo que fala para ampliar a percepção de legitimidade de seu discurso, conferindo credibilidade a um programa ou a um jornalista. Percebemos que o atravessamento das telas dos smartphones e de outros dispositivos móveis — nos cenários planejados em estúdio de televisão, do repórter na rua, da fonte, de imagem gravada por terceiros — tornou-se um elemento a mais no texto televisual do jornalismo. Esse marco é importante para o processo de adaptação e interação do telejornalismo do século XX com o jornalismo para as telas do século XXI.

Ainda que a linguagem padrão da televisão esteja centrada no poder da imagem, na objetividade do texto, no contexto possibilitado pelos enquadramentos e ângulos, na emoção dos relatos de personagens e das narrações de repórteres e apresentadores, observamos cada vez mais a adoção da linguagem das telas de dispositivos móveis e das interfaces de plataformas de mídias sociais. Podemos afirmar que a utilização de imagens captadas por dispositivos móveis na orientação vertical, utilizada desde o início da pandemia, começou a ser admitida com mais frequência nos telejornais, porém, mesmo dois anos após a adoção desse formato, percebemos que não houve quebra ou ruptura, mas uma evidente hibridização das linguagens de TV e dos dispositivos móveis no jornalismo no contexto da mediação radical, no qual toda a mediação é uma remediação de atos e processos anteriores em transformação e interação entre os atores actantes a gerar potencialidades futuras, num processo nunca acabado, mas que impacta na vida e na ação do presente (GRUSIN, 2015GRUSIN, R. Radical mediation. Critical Inquiry, v. 42, n. 1, p. 124-148, 2015.).

Portanto, entendemos que houve uma aceleração de processos que vinham sendo aplicados, testados e experimentados anteriormente. O estudo indica a penetração dos dispositivos móveis como recurso irreversível para a produção do jornalismo para e pelas telas, como o uso de imagens feitas por fontes nos telejornais. Embora já ocorressem práticas participativas, elas se expandiram e normalizaram a admissão do formato vertical. O telejornalismo, feito para e pelas telas, tornou-se também um jornalismo produzido para e pelos dispositivos móveis, visto que essas duas modalidades de jornalismo estão cada vez mais remediadas. Ainda que sejam necessários estudos futuros para confirmar, é possível observar que — dois anos após o período de análise — o Jornal Nacional retomou as grandes reportagens com investimento audiovisual, vasta variação de imagens na narrativa e alto padrão de qualidade de captação, edição e finalização audiovisual. No entanto, ainda se percebe o uso de imagens verticais gravadas em smartphones ou reprodução de imagens publicadas em mídias sociais.

Este estudo levanta, portanto, uma hipótese conclusiva para apontar que quando determinadas condições de escassez, como aconteceu no período analisado, se reproduzem em uma pauta, as dimensões observadas se evidenciam. Um exemplo ilustrativo pode ser destacado do Jornal Nacional na edição do dia 7 de junho de 2022, com a notícia sobre o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips no estado do Amazonas. Na reportagem, foram valorizadas produções de depoimentos e imagens das fontes, como um vídeo gravado em smartphone de uma visita anterior do jornalista ao local. Também foram utilizadas entrevistas em tela vertical com barras laterais esvaziadas e a reprodução de notas em uma tela gráfica de computador, caracterizando a tela na tela. Esse movimento que, ora adota a linguagem telejornalística padrão, ora admite as quebras, confirma ainda a dimensão de dupla remediação na qual os meios se influenciam mutuamente em constante adaptação e evolução.

Na mesma linha, o artigo mostra ainda um protagonismo das fontes especialistas e testemunhais, que passam a ter uma postura mais ativa ao avançar no domínio técnico e, como consequência, ganhar poder na narrativa, o que estabelece uma nova dinâmica relacional de negociação e construção das narrativas pós-pandemia. Está em curso um processo de tensão que admite maior centralidade das fontes no fluxo da narrativa, porém não se efetiva um diálogo amplo entre fontes e jornalistas. Estamos diante do desafio de expandir os elementos da linguagem telejornalística sem abrir mão da autoridade de fala do campo para levar a informação mais objetiva o possível, por meio de métodos de apuração, para o debate público na sociedade multitelas.

Referências

  • AGUADO, J. M.; CASTELLET, A. Contenidos digitales en el entorno móvil: mapa de situación para marcas informativas y usuários. In: BARBOSA, S.; MIELNICZUK, L. (orgs.). Jornalismo e tecnologias móveis Covilhã: Livros LabCOM, 2013.
  • ______, J. M.; MARTÍNEZ, I. J. El dispositivo móvil como encrucijada cultural. In: AGUADO, J. M.; MARTÍNEZ, I. (orgs.). Sociedade móvil Tecnología, identidad y cultura. Madrid: Biblioteca Nueva, 2008.
  • ALLAN, S.; ZELIZER, B. (ed.). Reporting war: Journalism in wartime. Routledge, 2004.
  • ALVES, Y. M.; MELLO, E. As narrativas jornalísticas em formato de stories no Instagram e Snapchat. Ámbitos. Revista Internacional de Comunicación, n. 44, p. 73-92, 2019.
  • BOLTER, J.; GRUSIN, R. Remediation. Understanding new media Cambridge: The MIT Press, 1999.
  • CASADEI, E. B. A construção de personagens no jornalismo: entre a matriz de verdade presumida e a imaginação das urdiduras de enredos. Ciberlegenda, n. 22, 2010.
  • COUTINHO, I. M.; MATA, J. A. P.; PEREIRA, G. T. Democracia e qualidade no jornalismo audiovisual: diálogos TV-internet e o quinto poder. Estudos em jornalismo e mídia, v. 17, n. 1, p. 20-31, 2020.
  • EMERIN, C. O poder da linguagem telejornalística. In: EMERIN, C.; FINGER, C.; PORCELLO, F. Telejornalismo e poder Florianópolis: Editora Insular, 2016.
  • EMERIN, C.; FINGER, C.; CAVENAGHI, B. Metodologias de pesquisa em telejornalismo. Sessões do imaginário, v. 22, n. 37, p. 2-9, 2017.
  • FINGER, C. O telejornal na palma da mão: um estudo sobre a recepção do Jornal Nacional nos dispositivos móveis e portáteis. In: Telejornalismo: nas ruas e nas telas. Florianópolis: Insular, 2013. p. 111-128.
  • GRUSIN, R. Radical mediation. Critical Inquiry, v. 42, n. 1, p. 124-148, 2015.
  • HILL, S.; BRADSHAW, P. Mobile-First Journalism: Producing News for Social and Interactive Media. Routledge, 2018.
  • KOLODZY, J. Convergence Explained. In: GRANT, A. E.; WILKINSON, J. S. (orgs.). Understanding media convergence New York: Oxford University Press, 2009. p. 31-51.
  • KOVACH, B.; ROSENSTIEL, T. Os elementos do jornalismo O que os jornalistas devem saber e o público exigir. Geração Editorial, 2003.
  • LARRONDO URETA, A.; DÍAZ NOCI, J.; ERDAL, I. J. Convergence and innovation: the conceptual and methodological basics of technological Evolution and cultural complexity in journalism. In: VÁZQUEZ-HERRERO, J. et alli (orgs.). Total journalism Models, techniques and challenges. Suíça: Springer, 2022. Livro eletrônico, não paginado.
  • LATOUR, B. Reagregando o social: uma introdução à teoria do ator-rede. Salvador: Edufba, 2012.
  • LEMOS, A. Ciber-cultura-remix, 2005. In: Seminário Sentidos e Processos, 2005, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: Itaú Cultural, 2005.
  • LOPES, M. I. V. Pesquisa em comunicação São Paulo: Edições Loyola, 2010.
  • MIELNICZUK, Luciana. O celular afronta o jornalismo. In: BACCIN, Alciane; SILVEIRA, Stefanie; BELOCHIO, Vivian (org.). 25 anos e jornalismo digital no Brasil: a contribuição da pesquisadora Luciana Mielniczuk para os estudos no país. 1ª ed. Florianópolis, SC: Editora Insular, 2021, p.199-210.
  • PAVLIK, J. V. Journalism and new media New York: Columbia University Press, 2001.
  • PELLANDA, E. C. Comunicação móvel das potencialidades aos usos e aplicações. Em Questão, v. 15, n. 1, p. 89-98, 2009.
  • QUINN, S. Knowledge management in the digital newsroom Oxford: Focal Press, 2002.
  • ______, S. MoJo – Mobile journalism in the Asian region Singapore: Konrad-Adenauer-Stiftung, 2009.
  • RECCHIA, M. Da Remington à redação integrada: a incorporação de tecnologias na prática jornalística e a transformação da visualização da notícia no jornal Zero Hora. 2010. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, 2010.
  • REZENDE, F. Anos de jornalismo na TV brasileira: percalços e conquistas. In: VIZEU, A.; PORCELLO, F.; COUTINHO, I. (orgs.). 60 anos de telejornalismo no Brasil Florianópolis: Insular, 2010.
  • SALAVERRÍA, R.; AVILÉS, J. A.; MASIP, P. Concepto de convergencia periodística. In: LÓPEZ GARCIA, X.; PEREIRA FARIÑA, X. (orgs.) Convergência digital: Reconfiguración de los Medios de Comunicación em España. Santiago de Compostela: Universidade, Servizo de Publicacións, 2010. p. 41-64.
  • SHELLER, M.; URRY, J. The new mobilities paradigma. Environment and Planning, v. 38, n. 2, p. 207-226, 2006.
  • SILVA, E. M. Fases do telejornalismo: uma proposta epistemológica. Epistemologias do telejornalismo brasileiro. Florianópolis: Insular, 2018.
  • SILVA, F. F. Cultura do jornalismo móvel. In: SILVA, F. F. (org.). Transmutações no jornalismo Campina Grande: EDUEPB, v. 1, p. 154-168, 2016.
  • SOUSA, M. C. E. Jornal e mobilidade: reconfigurações do impresso ao multiplataforma. Tese (Doutorado em Comunicação e Informação). Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.
  • VIZEU, A.; SIQUEIRA, F. O telejornalismo: o lugar de referência e a revolução das fontes. In: VIZEU, A.; PORCELLO, F.; COUTINHO, I. (orgs.) 60 anos de telejornalismo no Brasil Florianópolis: Insular, 2010.
  • WOLF, M. Teorias da comunicação Lisboa: Presença, 2012.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    17 Mar 2022
  • Aceito
    21 Jun 2022
Programa de Estudos Pós-graduados em Comunicação e Semiótica - PUC-SP Rua Ministro Godoi, 969, 4º andar, sala 4A8, 05015-000 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (55 11) 3670 8146 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: aidarprado@gmail.com