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Aos leitores

O volume 40, número 2, da Intercom – Revista Brasileira de Ciências da Comunicação apresenta aos leitores dez artigos que, em sua maioria, evidenciam o espaço digital como ambiência de muitas de nossas atuações comunicacionais contemporâneas. Um local onde são reinventadas e descobertas práticas de resistência, de indignações, de engajamentos e, também, onde são visibilizadas nossas fragilidades éticas e morais. Espaço que dá a ver nossos processos comunicacionais, deixando aparentes rastros como indícios de nossas interações. Sem dúvida, uma complexa riqueza, explorada nos artigos reunidos neste número.

Emergem também nos textos desta edição a preocupação com discussões teóricas e metodológicas evidenciando contribuições valiosas para empreitadas de pesquisa na área. Assim, como uma possível proposta de leitura, apresentamos os artigos deste número reunidos em dois eixos. Provocações Teóricas e Metodológicas é o primeiro deles, abrindo com o texto de Gustavo Adolfo León Duarte e Alonso Castillo Rivera, Entre la espada y la pared. Periodismo ciudadano y ética periodística en México, no qual os pesquisadores discutem a difícil atuação ética do jornalismo cidadão no México, país destacado pelos índices de assassinato de jornalistas. Um equilíbrio bastante complexo entre ética e atuação profissional analisado pelos autores por meio de uma pesquisa quantitativa, posta a cabo com objetivo de realizar a primeira aproximação à utilização do código ético jornalístico pelos profissionais no desempenho de seu oficio naquele país. Já o segundo texto, Sentidos culturais da Radio Rebelde Zapatista: imaginários de outros mundos possíveis, de Ismar Capistrano Costa Filho, apresenta uma pesquisa com arranjo metodológico qualitativo e analisa a atuação da Radio Rebelde Zapatista, localizada no Estado Mexicano de Chiapas. Se nesses textos, as empirias que acionam o teórico e o metodológico são respectivamente o jornalismo e a comunicação radiofônica, no artigo Conteúdo de Marca Audiovisual e regimes interacionais: reflexões sobre o engajamento digital do consumidor, de Rogério Luiz Covaleski e Olga Angélica Santos Siqueira, a discussão se dá a partir do filme publicitário na nova ordem digital. A partir desse objeto empírico, os autores realizam um estudo com abordagem sociossemiótica, buscando compreender a relação entre marca e público-visado. Finalizando o eixo, apresentamos Mídia e desastres: panorama da produção científica internacional de 1996 a 2016, uma análise bibliométrica realizada por Clóvis Reis, Marcos Mattedi e Yanet Reimondo Barrios, que objetivou traçar um estado da arte dos estudos sobre Mídia e Desastres, apresentando as tendências e padrões na pesquisa desse tema nos últimos 20 anos.

O segundo eixo, em dialogo com o anterior, é Comunicação, Cidadania, Engajamento e Memória. Nesse, o primeiro texto é “Como ocupar uma escola? Pesquiso na Internet!”: política participativa nas ocupações de escolas públicas no Brasil, de Richard Romancini e Fernanda Castilho, que analisa as ocupações das escolas públicas pelos jovens estudantes no estado de São Paulo e discute o movimento ativista a partir da análise dos conteúdos produzidos, buscando compreender o uso das mídias pelos jovens atuantes nas ocupações. O texto O jornalismo feito para a comunidade e inserido no “novo espírito do capitalismo”: um estudo de caso do jornal Alô Comunidade, de Rodrigo Nuñez Viégas e Livia dos Santos Mendes, realiza uma análise critica ao jornalismo produzido pela empresa ThyssenKrupp CSA (TKCSA) e passa em revista os elementos necessários para um jornalismo para e da comunidade, evidenciando as contradições e fragilidades da ação cidadã da empresa produtora do jornal. O artigo MST e Escola Nacional Florestan Fernandes: formação, comunicação e socialização política, de Pablo Nabarrete Bastos, apresenta resultados de pesquisa sobre a formação política do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Já a proposta do artigo de Anelisa Maradei e Marli dos Santos, Violência contra as mulheres: o caso do estupro coletivo na esfera pública digital, foi a de analisar as interações fomentadas a partir do vídeo de um estupro coletivo de uma jovem no Rio de Janeiro, disponibilizado na Internet. Nesse artigo, as autoras investigam as marcas deixadas pelos internautas, nas quais emergem indícios de suas posições ideológicas em relação ao lamentável acontecimento. Como último texto desse eixo, de autoria de Tatiane Leal, temos Elas merecem ser lembradas: feminismo, emoções e memória em rede. O artigo faz sua análise destacando o privilégio do digital como lugar de memória, as iniciativas existentes e suas repercussões na Internet, as ausências e esquecimentos de mulheres na história social oficial. O digital emerge como ambiência estratégica para recompor memórias ou mesmo realizar registros inexistentes sobre personalidades femininas de destaque.

Nesta edição, contamos com um texto na seção Arena. Como os leitores sabem, um texto nessa editoria atende as seguintes características: temas polêmicos e/ou emergentes, relatos de experiências, notas preliminares de pesquisa. O texto Quién dice qué a quién. Necesidad de una nueva teoría de la comunicación, de Yamile Haber Guerra, demonstra a pertinência e necessidade de procurarmos soluções para o que se dá hoje com os processos comunicacionais, demonstrando que os princípios teóricos para análise da comunicação precisam ser repensados urgentemente.

Outra contribuição significativa foi promovida pelos autores Roberto Gustavo Reiniger Neto e Luiz Antonio Vadico ao realizarem a entrevista Robert Stam - Cinema, Literatura e a trajetória de uma metodologia de pesquisa, na qual o teórico atualiza sinteticamente os caminhos trilhados até então em suas pesquisas e dá indicações valiosas, principalmente, mas não exclusivamente, aos pesquisadores de audiovisual. Uma entrevista que deve ser lida com vagar.

Além dessas contribuições, três resenhas compõem esta edição, dos livros Teoria Ator-Rede e Estudos de Comunicação, A forma bruta dos protestos: das manifestações de junho de 2013 à queda de Dilma Rousseff em 2016 e Um peso, duas medidas: desvelando a comunicação pública na sociedade midiatizada.

Ao finalizar esta apresentação, agradecemos aos 19 autores provenientes de instituições do Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil, e aos três pesquisadores internacionais, do México e de Cuba. Além deles, agradecemos ao Conselho Editorial da Revista pelos pareceres realizados e aos leitores, aos quais também desejamos uma boa leitura.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2017
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