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Programa de aceleração do crescimento: ensino de ciências

EDITORIAL

Programa de aceleração do crescimento: ensino de ciências

O Brasil ocupa atualmente a honrosa 15ª posição na lista dos países que mais publicam artigos científicos no mundo, o que equivale a dizer que o País está chegando a 2% da produção científica mundial. Se o número de publicações científicas é expressivo, o número de pedidos de patente depositados por Universidades no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), apesar de ter aumentado significativamente nos últimos 5 anos, ainda é muito baixo. Isto significa que o Brasil tem boa base científica, graças, principalmente, a sua pós-graduação, mas que ainda é muito carente em tecnologia. Persiste atado o nó que amarra a transformação do conhecimento científico e tecnológico em competitividade.

Não há dúvida de que a ciência brasileira segue pelo caminho certo, como pode ser visto pela avaliação da pós-graduação referente ao triênio 2004-2006, feita pela CAPES. Entretanto, para sustentar esse crescimento é necessário que o governo adote, com toda brevidade possível, um programa de educação básica e de manutenção e estímulo às instituições federais de ensino superior, apesar de estas terem graves defeitos estruturais, que necessitam, com urgência, de correção. Não se pode continuar convivendo com Universidades sem planos de metas, carentes de gestores qualificados, e dirigidas por quem não premia o mérito acadêmico. As perspectivas para as Universidades e a comunidade científica brasileira, no entanto, são boas e apontam para avanços, sobretudo com a Lei de Inovação, já em vigor, e com o recém anunciado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O PAC promete investimentos de R$ 41 bilhões em Ciência até 2010, com aumento do número e valores de bolsas de mestrado e de doutorado do CNPq e da CAPES. O PAC fixa a meta de elevar a participação das empresas até 0,65% do PIB (produto interno bruto) e o investimento geral do setor a 1,5%. Além do estímulo à pesquisa em áreas estratégicas, como biocombustíveis, medicamentos, defesa nacional e programa nuclear, está previsto o apoio ao ensino de ciências e a promoção do desenvolvimento social. Notícias boas são sempre bem-vindas; o que não se entende é a manutenção do contingenciamento dos fundos setoriais, que, segundo o ministro de Ciência e Tecnologia, só terminará em 2010 e a falta de ênfase dada à inovação nas empresas.

O número especial da revista Química Nova, em comemoração aos 30 anos da Sociedade Brasileira de Química, reúne um conjunto de artigos que demonstram que a Química brasileira vai muito bem. A indústria química brasileira ocupa a nona posição no ranking mundial;1 o País tem bons exemplos de empreendedorismo na área farmacêutica2 e duas revistas científicas de qualidade inquestionável;3 a comunidade química brasileira soube usar recursos que lhe foram confiados através dos programas CNPq/NAS (National Academy of Sciences) e PADCT (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico);4 tem excelentes programas de pós-graduação,5 mas tem o seu calcanhar de Aquiles na Graduação,6 cujos Cursos estão aquém do nível de qualidade desejável. É chegada a hora da Sociedade Brasileira de Química mostrar, mais uma vez, que está estruturada e qualificada para enfrentar o desafio da construção do perfil de um profissional de Química adequado a uma globalização crescente e para melhorar o ensino de ciências de Química no Ensino Fundamental e Médio. Vamos buscar, de maneira organizada, estes recursos do PAC recém anunciados pelo governo. A SBQ deve eleger 2008 como o ano do ensino de Ciências Químicas e de valorização dos Cursos de Licenciatura. É inconcebível que os estudantes brasileiros continuem entre os piores como foi divulgado recentemente no maior exame mundial de ciências para estudantes de 15 anos, aplicado pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA-Programme for International Student Assessment). A má formação dos professores de ciências é uma das principais causas do fraco desempenho dos estudantes brasileiros no PISA. A SBQ deve assumir o compromisso de mudar esse quadro, que deixa a todos nós, brasileiros, muito envergonhados.

Angelo C. Pinto

Editor

  • 1. Galembeck, F.; dos Santos, A. C. M.; Schumacher, H. C.; Rippel, M. M.; Rosseto, R.; Quim. Nova 2007, 30, 1413.
  • 2. Rabi, J. A.; Quim. Nova 2007, 30, 1420.
  • 3. de Torresi, S. I. C.; Pardini, V. L.; Dias, L. C.; Pinto, A. C.; de Andrade, J. B.; Magalhães, M. E. A.; Gil, P. E. A.; Quim. Nova 2007, 30, 1491.
  • 4. Paniago, E. B.; Quim. Nova 2007, 30, 1407.
  • 5. Cadore, S.; de Andrade, J. B.; Quim. Nova 2007, 30, 1435.
  • 6. Zucco, C.; Quim. Nova 2007, 30, 1429.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Fev 2008
  • Data do Fascículo
    2007
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