Acessibilidade / Reportar erro

Meningoencefalite por Listeria monocytogenes em paciente com Lúpus Eritematoso Sistêmico

Resumo

Introdução:

As complicações infecciosas são frequentes no lúpus eritematoso sistêmico. Apesar de incomum, infecções do sistema nervoso central ocorrem e têm significativa letalidade, apresentando diversos agentes etiológicos.

Métodos:

Descrevemos aqui o caso de uma mulher de 29 anos recentemente diagnosticada com lúpus eritematoso sistêmico com manifestações hematológica, cutânea, serosa e renal (nefrite lúpica classe IV), submetida a pulsoterapia com corticoide e terapia de indução com micofenolato. Após 3 meses de evolução, apresentou quadro de cefaleia e alteração de estado mental. Tomografia computadorizada evidenciou área de hipoatenuação em substância branca frontal esquerda e exame de líquido cefalorraquidiano mostrava pleocitose e hiperproteinorraquia. Cultura de sangue periférico e do liquor identificaram Listeria monocytogenes. Paciente apresentou deterioração do quadro neurológico, necessitando de ventilação mecânica invasiva, monitorização de pressão intracraniana e, apesar de todo o suporte intensivo, persistiu em estado comatoso e disfunção de múltiplos órgãos, evoluindo a óbito por infecção de corrente sanguínea nosocomial.

Discussão:

Infecção por L. monocytogenes ocorre geralmente após ingestão de alimentos contaminados, manifestando-se por diarreia e, eventualmente, de forma invasiva como a neurolisteriose. Investigação complementar com análise de liquor e ressonância magnética faz-se necessária, sendo o diagnóstico confirmado por isolamento da bactéria em líquido corporal estéril.

Conclusão:

O caso representa uma paciente cujo diagnóstico de meningoencefalite tornou-se importante diferencial com atividade de doença neuropsiquiátrica. A evolução insatisfatória reforça a necessidade de se lembrar desta condição infecciosa como complicação grave na história natural do LES.

Palavras-chave:
Listeria monocytogenes; Meningite; Lúpus Eritematoso Sistêmico

Abstract

Introduction:

Infectious complications are common in systemic lupus erythematosus. Although uncommon, central nervous system infections do occur and have significant lethality, with several etiological agents.

Methods:

We report on the case of a 29-year-old woman recently diagnosed with systemic lupus erythematosus with hematological, cutaneous, serous and renal manifestations (class IV lupus nephritis), who underwent corticosteroid pulse therapy and mycophenolate induction therapy. After 3 months of evolution, she developed headache and altered mental status. Computed tomography showed an area of hypoattenuation in the left frontal white matter and her cerebrospinal fluid examination showed pleocytosis and hyperproteinorrhachia. Peripheral blood and CSF culture identified Listeria monocytogenes. The patient presented deterioration of her neurological status, requiring invasive mechanical ventilation, monitoring of intracranial pressure and, despite all the intensive support, persisted in a comatose state and developed multiple organ failure, evolving to death due to nosocomial bloodstream infection.

Discussion:

Infection from L. monocytogenes usually occurs after eating contaminated food, manifesting itself with diarrhea and, occasionally, invasively, such as neurolisteriosis. Further investigation with CSF analysis and MRI is necessary, and the diagnosis consists of isolating the bacteria in sterile body fluid.

Conclusion:

The case presents a patient whose diagnosis of meningoencephalitis became an important differential with neuropsychiatric disorder. The poor outcome reinforces the need to remember this infectious condition as a serious complication in the natural history of SLE.

Keywords:
Listeria monocytogenes; Meningitis; Lupus Erythematosus, Systemics

Introdução

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença sistêmica inflamatória, autoimune, de etiologia multifatorial relacionada a fatores hormonais, genéticos e ambientais. Tem manifestações multissistêmicas, além de morbimortalidade preocupante e decorrente, principalmente, de atividade da doença ou de complicações infecciosas.11 Skare TL. Reumatologia: princípios e prática. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007.

O risco elevado de infecção no LES tem diversas causas, entre as quais a disfunção imune própria da doença, com a produção de anticorpos autorreativos e consequente redução da imunotolerância, somada a fatores clínicos exemplificados pela deficiência de complemento e pelo tratamento imunossupressor.22 Cuchacovich R, Gedalia A. Pathophysiology and clinical spectrum of infections in systemic lupus erythematosus. Rheum Dis Clin North Am. 2009 Feb;35(1):75-93.,33 Navarra SV, Leynes MS. Infections in systemic lupus erythematosus. Lupus. 2010 Oct;19(12):1419-24. Representa complicação frequente, presente em até 36% das coortes descritas, além de ser causa de morte em até 30% dos pacientes.44 Danza A, Ruiz-Irastorza G. Infection risk in systemic lupus erythematosus patients: susceptibility factors and preventive strategies. Lupus. 2013 Oct;22(12):1286-94. Trato urinário e pele são os principais sítios de infecção comunitária, ao passo que as respiratórias são mais incidentes em pacientes hospitalizados.44 Danza A, Ruiz-Irastorza G. Infection risk in systemic lupus erythematosus patients: susceptibility factors and preventive strategies. Lupus. 2013 Oct;22(12):1286-94.

As infecções de sistema nervoso central (SNC) são incomuns, porém têm letalidade significativa, atingindo 40%.55 Fang H, Likang L, Qu Y, Zhang Q, Lv J. Differences between central nervous system infection and neuropsychiatric systemic lupus erythematosus in patients with systemic lupus erythematosus. J Int Med Res. 2018 Jan;46(1):485-91. Os agentes etiológicos variam conforme a população estudada, sendo Mycobacterium tuberculosis e Cryptococcus neoformans os mais comuns. Listeria monocytogenes é descrita em menor frequência, mas apresenta gravidade elevada.55 Fang H, Likang L, Qu Y, Zhang Q, Lv J. Differences between central nervous system infection and neuropsychiatric systemic lupus erythematosus in patients with systemic lupus erythematosus. J Int Med Res. 2018 Jan;46(1):485-91. Os possíveis fatores de risco para meningoencefalite são atividade lúpica, uso de altas doses de prednisona e hipoalbuminemia.55 Fang H, Likang L, Qu Y, Zhang Q, Lv J. Differences between central nervous system infection and neuropsychiatric systemic lupus erythematosus in patients with systemic lupus erythematosus. J Int Med Res. 2018 Jan;46(1):485-91.,66 Yang CD, Wang XD, Ye S, Gu YY, Bao CD, Wang Y, et al. Clinical features, prognostic and risk factors of central nervous system infections in patients with systemic lupus erythematosus. Clin Rheumatol. 2007 Jun;26(6):895-901. Descrevemos um caso de listeriose em SNC após imunossupressão em paciente com diagnóstico recente de LES, além de revisão da literatura acerca do tema.

Relato do caso

Paciente feminina, 29 anos, sem antecedentes patológicos, com quadro de lesões eritematosas em membros inferiores e hipertensão arterial sistêmica, diagnosticada sete meses antes da admissão. Foi iniciada terapia anti-hipertensiva pelo médico assistente, porém com pouca resposta. Foi, então, admitida em serviço de emergência com queixa de dor torácica atípica, cuja investigação apontou derrames cavitários (pleural e pericárdico), corroborando suspeita de doença sistêmica. A hipótese de LES em atividade foi aventada, considerando a presença de serosite, acometimento cutâneo, envolvimento renal (hematúria e proteinúria) e positividade para o fator anti-núcleo de 1:640 (padrão nuclear homogêneo). A partir de dados clínicos e laboratoriais, sem biópsia renal, optou-se por pulsoterapia endovenosa com metilprednisolona durante 3 dias, seguido de prednisona 1 mg/kg/dia por via oral, além de se iniciar micofenolato mofetil. Nessa ocasião, a creatinina sérica era de 0,80 mg/dL.

Após três meses, retornou ao serviço com quadro de diarreia e astenia, além de edema de membros inferiores e lesões perineais, características de herpes genital. Exames laboratoriais evidenciaram elevação de creatinina sérica (1,50 mg/dL), hematúria dismórfica de 207.000/mL e proteinúria de 24 horas de 5 g, albumina sérica de 3,0 g/dL, hemoglobina sérica de 6,0 g/dL, sem indícios de hemólise. Nesse momento, considerando o escore de atividade da doença de base SLEDAI (Systemic Lupus Erythematosus Disease Activity Index), nossa paciente apresentava pontuação de 20: alterações urinárias (hematúria com cilindros, proteinúria e piúria), Anti-DNA em níveis elevados e redução dos níveis séricos dos fragmentos do complemento C3 e C4. Resultados acima de 8 indicam doença ativa.

Recebeu transfusão de hemácias e tratamento com aciclovir. Após melhora clínica, a biópsia renal foi realizada, constatando-se nefrite lúpica classe IV-global ativa/crônica (IV-G A/C) com atividade moderada e cronicidade discreta. Diante da contínua elevação de creatinina sérica atingindo 2,00 mg/dL, foi indicado novo curso de metilprednisolona por 3 dias.

Três dias após pulsoterapia, iniciou quadro de cefaleia, vômitos e alteração do estado mental. Ao exame físico, apresentava abertura ocular espontânea, reflexo de retirada ao estímulo doloroso, mas sem resposta verbal, sendo prontamente submetida à tomografia computadorizada de crânio (Figura 1). O exame de imagem mostrou hipodensidade em lobo frontal, compatível com edema, sem evidências de hipertensão intracraniana. Uma punção lombar foi realizada, com pressão de abertura de 73 cmH2O, e a análise quimiocitológica do líquido cefalorraquidiano demonstrou: 285 células por mm3 (60% de linfócitos), hiperproteinorraquia (112 mg/dL) e hipoglicorraquia (27 mg/dL). Na cultura, houve crescimento de Listeria monocytogenes, assim como nas amostras de sangue periférico. A pesquisa para C. neoformans e bacilo álcool-ácido resistente foi negativa.

Figura 1
Tomografia computadorizada de crânio com contraste. Área de hipoatenuação na substância branca frontal esquerda com acentuação do efeito expansivo sobre as estruturas adjacentes, medindo cerca de 7,0 x 5,0 cm.

Inicialmente, optou-se por tratamento empírico para infecção com ceftriaxona, vancomicina e aciclovir. Após diferenciação em cultura, o esquema antimicrobiano foi alterado para ampicilina endovenosa. O estado neurológico da paciente deteriorou, e ela foi transferida para unidade de terapia intensiva, com necessidade de suporte ventilatório invasivo e hemodinâmico, necessitando de noradrenalina para estabilização da pressão arterial. Foi realizada derivação ventricular externa, mantida por cinco dias, com monitorização de pressão intracraniana. Concomitantemente, apresentou azotemia e oligúria, com início de hemodiálise intermitente por cateter de curta permanência.

Após melhora hemodinâmica, a sedação e analgesia parenterais foram suspensas, porém não houve evolução neurológica satisfatória. A avaliação da equipe da neurocirurgia não indicou intervenção durante o seguimento. A paciente permaneceu 60 dias em estado comatoso, com evolução da imagem radiológica, cujas características passaram a ser compatíveis com abscesso (Figura 2). O padrão eletroencefalográfico evidenciava desorganização e alentecimento da atividade elétrica cerebral de base com reatividade paradoxal. Diante da irreversibilidade do quadro neurológico, optou-se por instituição de cuidados paliativos com evolução a óbito após quadro de infecção de corrente sanguínea.

Figura 2
Ressonância magnética de crânio, técnica de turbo-spin eco pesada em T2. Formação expansiva, de 3,0 x 3,0 x 3,5 cm, no lobo frontal esquerdo, acometendo principalmente os giros frontal superior e médio, de contornos irregulares, margeada por focos de depósito de hemossiderina, notando-se intensa restrição à difusão no seu interior, compatível com abscesso.

Discussão

A L. monocytogenes é uma bactéria Gram-positiva, reconhecida como patógena na década de 1970. A infecção tem particular importância em idosos, gestantes e imunossuprimidos. Determina mortalidade próxima a 30%, que se eleva com o retardo do diagnóstico.77 Radoschevich L, Cossart P. Listeria monocytogenes: towards a complete picture of its physiology and pathogenesis. Nat Rev Microbiol. 2018 Jan;16(1):32-46.,88 Pagliano P, Arslan F, Ascione T. Epidemiology and treatment of the commonest form of listeriosis: meningitis and bacteraemia. Infez Med. 2017 Sep;25(3):210-6. Suas formas de manifestação mais comuns são a neurolisteriose, bacteremia e infecção materna-neonatal.88 Pagliano P, Arslan F, Ascione T. Epidemiology and treatment of the commonest form of listeriosis: meningitis and bacteraemia. Infez Med. 2017 Sep;25(3):210-6.

A listeriose é uma doença esporádica, com surtos após a ingestão de alimentos contaminados. A bactéria pode ser encontrada em diferentes ambientes devido à sua capacidade de sobreviver a condições adversas, como baixas temperaturas.88 Pagliano P, Arslan F, Ascione T. Epidemiology and treatment of the commonest form of listeriosis: meningitis and bacteraemia. Infez Med. 2017 Sep;25(3):210-6. Nos Estados Unidos, a incidência de casos confirmados é de 0,3 por 100.000 pessoas; atingindo 1,3 e 3 casos por 100.000 pessoas nos maiores de 65 anos e em gestantes, respectivamente. No Brasil, por ser subdiagnosticada e subnotificada, há poucos dados epidemiológicos disponíveis.99 Silk BJ, Mahon BE, Griffin PM, Gould LH, Tauxe RV. Vital signs: listeria illnesses, deaths, and outbreaks--United States, 2009-2011. Morb Mortal Wkly Rep. 2013 Jun;62(22):448-52. Em estudo retrospectivo francês, que analisou 1959 casos entre os anos 2001 a 2008, encontrou-se risco aumentado para listeriose em pacientes com distúrbios hematológicos, neoplasias e transplantes de órgão sólido. Fatores de pior prognóstico relatados são: idade maior que 80 anos, cultura de sangue periférico positiva e a presença de comorbidades.1010 Goulet V, Hebert M, Hedberg C, Laurent E, Vaillant V, De Valk H, et al. Incidence of listeriosis and related mortality among groups at risk of acquiring listeriosis. Clin Infec Dis. 2012 Mar;54(5):652-60.

Após ser ingerido, o período de incubação do bacilo varia entre 11 e 28 dias, quando se manifesta como uma síndrome diarreica autolimitada ou, em doentes suscetíveis, como doença invasiva, compreendendo sepse e, especialmente, infecção de SNC de variável predileção anatômica: meningoencefalite (a mais comum), cerebrite, abscesso cerebral e rombencefalite.99 Silk BJ, Mahon BE, Griffin PM, Gould LH, Tauxe RV. Vital signs: listeria illnesses, deaths, and outbreaks--United States, 2009-2011. Morb Mortal Wkly Rep. 2013 Jun;62(22):448-52.,1111 Charlier C, Perrodeau É, Leclercq A, Cazenave B, Pilmis B, Henry B, et al. Clinical features and prognostic factors of listeriosis: the MONALISA national prospective cohort study. Lancet Infect Dis. 2017 May;17(5):510-9. Clinicamente, os sintomas são variáveis, cursando com febre e alteração inespecífica do estado mental, até um quadro comatoso grave. Convém apontar que sinais de irritação meníngea ocorrem em 40% dos pacientes.1212 Mandell GL, Bennett JE, Dolin R. Principles and practice of infectious diseases. 7th ed. Philadelphia: Churchill Livingstone/Elsevier; 2010. Laboratorialmente, a análise do líquido cefalorraquidiano evidencia alterações semelhantes a outro processo infeccioso: pleocitose (com predomínio de polimorfonuclear ou linfomononuclear), proteinorraquia elevada e reduzida glicorraquia. O diagnóstico necessita de isolamento da bactéria em líquido corporal estéril, como sangue ou líquido cefalorraquidiano,1313 Mylonakis E, Hohmann EL, Calderwood SB. Central nervous system infection with Listeria monocytogenes. 33 years’ experience at a general hospital and review of 776 episodes from the literature. Medicine (Baltimore). 1998 Sep;77(5):313-36. permitindo ainda avaliação de perfil de suscetibilidade. O exame com a técnica de reação em cadeia de polimerase vem sendo estudado recentemente, com resultados promissores, como alternativa em casos de alta suspeita clínica e sem diferenciação em culturas.1414 Clauss HE, Lorber B. Central nervous system infection with Listeria monocytogenes. Curr Infect Dis Rep. 2008 Jul;10(4):300-6. O melhor exame de imagem para estudo de topografia cerebral, cortical, tronco e cerebelar é a ressonância magnética, apresentando mais especificidade em relação à tomografia computadorizada.1313 Mylonakis E, Hohmann EL, Calderwood SB. Central nervous system infection with Listeria monocytogenes. 33 years’ experience at a general hospital and review of 776 episodes from the literature. Medicine (Baltimore). 1998 Sep;77(5):313-36.

Apesar de suscetibilidade a diversas classes de antibióticos in vitro, ainda não há um tratamento ideal para a listeriose, visto que a eficácia da antibioticoterapia atinge aproximadamente 70%. Múltiplas possíveis causas podem ser listadas, como a característica localização intracelular da L. monocytogenes e seu tropismo pelo SNC, dificultando a penetração da medicação.88 Pagliano P, Arslan F, Ascione T. Epidemiology and treatment of the commonest form of listeriosis: meningitis and bacteraemia. Infez Med. 2017 Sep;25(3):210-6.,1515 Le Monnier A, Abachin E, Beretti JL, Berche P, Kayal S. Diagnosis of Listeria monocytogenes meningoencephalitis by real-time PCR for the Hly gene. J Clin Microbiol. 2011 Nov;49(11):3917-23.,1616 Hof H. An update on the medical management of listeriosis. Expert Opin Pharmacother. 2004 Aug;5(8):1727-35.

As penicilinas representam a terapia padrão ouro, sendo as mais utilizadas no tratamento da infecção. Destaca-se a ampicilina, que deve ser prescrita em dose elevada (9 g/dia) por pelo menos 21 dias, para os casos de acometimento do SNC,1717 Thønnings S, Knudsen JD, Schønheyder HC, Søgaard M, Arpi M, Gradel KO, et al. Antibiotic treatment and mortality in patients with Listeria monocytogenes meningitis or bacteraemia. Clin Microbiol Infect. 2016 Aug;22(8):725-30.,1818 Van de Beek D, Cabellos C, Dzupova O, Esposito S, Klein M, Kloek AT, et al. ESCMID guideline: diagnosis and treatment of acute bacterial meningitis. Clin Microbiol Infect. 2016 May;22(Suppl 3):S37-62. chegando a 6 semanas, nos casos de abscesso cerebral.1212 Mandell GL, Bennett JE, Dolin R. Principles and practice of infectious diseases. 7th ed. Philadelphia: Churchill Livingstone/Elsevier; 2010. Em pacientes alérgicos às penicilinas, recomenda-se tratamento com Sulfametoxazol-Trimetoprima. Outros antibióticos com ação in vitro documentada contra a L. monocytogenes são: quinolonas, vancomicina, linezolida e meropenem; porém, com evidência limitada, principalmente quanto à sua eficácia na doença neurológica. Terapia combinada de ampicilina associada a gentamicina, objetivando sinergismo, é descrita, mas com resultados conflitantes, o que pode ser explicado pela baixa penetração dessa droga no líquido cefalorraquidiano.1717 Thønnings S, Knudsen JD, Schønheyder HC, Søgaard M, Arpi M, Gradel KO, et al. Antibiotic treatment and mortality in patients with Listeria monocytogenes meningitis or bacteraemia. Clin Microbiol Infect. 2016 Aug;22(8):725-30.

18 Van de Beek D, Cabellos C, Dzupova O, Esposito S, Klein M, Kloek AT, et al. ESCMID guideline: diagnosis and treatment of acute bacterial meningitis. Clin Microbiol Infect. 2016 May;22(Suppl 3):S37-62.
-1919 Sipahi OR, Turhan T, Pullukcu H, Calik S, Tasbakan M, Sipahi H, et al. Moxifloxacin versus ampicillin + gentamicin in the therapy of experimental Listeria monocytogenes meningitis. J Antimicrob Chemother. 2008 Mar;61(3):670-3. O uso de corticoide para pacientes com meningoencefalite por listeria relaciona-se a desfechos controversos,1010 Goulet V, Hebert M, Hedberg C, Laurent E, Vaillant V, De Valk H, et al. Incidence of listeriosis and related mortality among groups at risk of acquiring listeriosis. Clin Infec Dis. 2012 Mar;54(5):652-60.,2020 Gans J, van de Beek D. Dexamethasone in adults with bacterial meningitis. N Engl J Med. 2002 Nov;347(20):1549-56. não existindo evidência suficiente para indicar sua prescrição.1818 Van de Beek D, Cabellos C, Dzupova O, Esposito S, Klein M, Kloek AT, et al. ESCMID guideline: diagnosis and treatment of acute bacterial meningitis. Clin Microbiol Infect. 2016 May;22(Suppl 3):S37-62.

No caso relatado, apesar do rápido diagnóstico e início de terapia adequada, o dano neurológico foi irreversível e a evolução, desfavorável. Além dos fatores de risco já discutidos, a atividade do LES tem sido associada ao risco de infecção nessa população, de forma diretamente proporcional à graduação do índice de atividade pelos critérios do SLEDAI. À admissão, nossa paciente apresentava SLEDAI de 20, caracterizando elevada atividade da doença.33 Navarra SV, Leynes MS. Infections in systemic lupus erythematosus. Lupus. 2010 Oct;19(12):1419-24. Diante disso, torna-se um desafio diferenciar sintomas neurológicos secundários à infecção de quadro neurológico que correspondente à doença de base (lúpus neuropsiquiátrico), uma vez que sintomas como cefaleia, convulsão e febre ocorrem nas duas entidades.

Conclusão

Apesar de ser causa pouco frequente de infecção de SNC em pacientes com LES, a L. monocytogenes precisa ser lembrada como agente etiológico, uma vez que essa população encontra-se em risco devido à imunossupressão e por tratar-se de enfermidade de alta letalidade. O quadro clínico pouco típico pode atrasar um possível diagnóstico, e consequentemente agravar ainda mais a evolução.

References

  • 1
    Skare TL. Reumatologia: princípios e prática. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007.
  • 2
    Cuchacovich R, Gedalia A. Pathophysiology and clinical spectrum of infections in systemic lupus erythematosus. Rheum Dis Clin North Am. 2009 Feb;35(1):75-93.
  • 3
    Navarra SV, Leynes MS. Infections in systemic lupus erythematosus. Lupus. 2010 Oct;19(12):1419-24.
  • 4
    Danza A, Ruiz-Irastorza G. Infection risk in systemic lupus erythematosus patients: susceptibility factors and preventive strategies. Lupus. 2013 Oct;22(12):1286-94.
  • 5
    Fang H, Likang L, Qu Y, Zhang Q, Lv J. Differences between central nervous system infection and neuropsychiatric systemic lupus erythematosus in patients with systemic lupus erythematosus. J Int Med Res. 2018 Jan;46(1):485-91.
  • 6
    Yang CD, Wang XD, Ye S, Gu YY, Bao CD, Wang Y, et al. Clinical features, prognostic and risk factors of central nervous system infections in patients with systemic lupus erythematosus. Clin Rheumatol. 2007 Jun;26(6):895-901.
  • 7
    Radoschevich L, Cossart P. Listeria monocytogenes: towards a complete picture of its physiology and pathogenesis. Nat Rev Microbiol. 2018 Jan;16(1):32-46.
  • 8
    Pagliano P, Arslan F, Ascione T. Epidemiology and treatment of the commonest form of listeriosis: meningitis and bacteraemia. Infez Med. 2017 Sep;25(3):210-6.
  • 9
    Silk BJ, Mahon BE, Griffin PM, Gould LH, Tauxe RV. Vital signs: listeria illnesses, deaths, and outbreaks--United States, 2009-2011. Morb Mortal Wkly Rep. 2013 Jun;62(22):448-52.
  • 10
    Goulet V, Hebert M, Hedberg C, Laurent E, Vaillant V, De Valk H, et al. Incidence of listeriosis and related mortality among groups at risk of acquiring listeriosis. Clin Infec Dis. 2012 Mar;54(5):652-60.
  • 11
    Charlier C, Perrodeau É, Leclercq A, Cazenave B, Pilmis B, Henry B, et al. Clinical features and prognostic factors of listeriosis: the MONALISA national prospective cohort study. Lancet Infect Dis. 2017 May;17(5):510-9.
  • 12
    Mandell GL, Bennett JE, Dolin R. Principles and practice of infectious diseases. 7th ed. Philadelphia: Churchill Livingstone/Elsevier; 2010.
  • 13
    Mylonakis E, Hohmann EL, Calderwood SB. Central nervous system infection with Listeria monocytogenes. 33 years’ experience at a general hospital and review of 776 episodes from the literature. Medicine (Baltimore). 1998 Sep;77(5):313-36.
  • 14
    Clauss HE, Lorber B. Central nervous system infection with Listeria monocytogenes. Curr Infect Dis Rep. 2008 Jul;10(4):300-6.
  • 15
    Le Monnier A, Abachin E, Beretti JL, Berche P, Kayal S. Diagnosis of Listeria monocytogenes meningoencephalitis by real-time PCR for the Hly gene. J Clin Microbiol. 2011 Nov;49(11):3917-23.
  • 16
    Hof H. An update on the medical management of listeriosis. Expert Opin Pharmacother. 2004 Aug;5(8):1727-35.
  • 17
    Thønnings S, Knudsen JD, Schønheyder HC, Søgaard M, Arpi M, Gradel KO, et al. Antibiotic treatment and mortality in patients with Listeria monocytogenes meningitis or bacteraemia. Clin Microbiol Infect. 2016 Aug;22(8):725-30.
  • 18
    Van de Beek D, Cabellos C, Dzupova O, Esposito S, Klein M, Kloek AT, et al. ESCMID guideline: diagnosis and treatment of acute bacterial meningitis. Clin Microbiol Infect. 2016 May;22(Suppl 3):S37-62.
  • 19
    Sipahi OR, Turhan T, Pullukcu H, Calik S, Tasbakan M, Sipahi H, et al. Moxifloxacin versus ampicillin + gentamicin in the therapy of experimental Listeria monocytogenes meningitis. J Antimicrob Chemother. 2008 Mar;61(3):670-3.
  • 20
    Gans J, van de Beek D. Dexamethasone in adults with bacterial meningitis. N Engl J Med. 2002 Nov;347(20):1549-56.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Maio 2020
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2020

Histórico

  • Recebido
    11 Dez 2019
  • Aceito
    08 Mar 2020
Sociedade Brasileira de Nefrologia Rua Machado Bittencourt, 205 - 5ºandar - conj. 53 - Vila Clementino - CEP:04044-000 - São Paulo SP, Telefones: (11) 5579-1242/5579-6937, Fax (11) 5573-6000 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: bjnephrology@gmail.com