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ENTRE LINHAS DE ROMANCES: HISTÓRIAS DO ESPORTE NO BRASIL (DÉCADAS DE 1920 E 1930)

IN AND BETWEEN THE LINES OF NOVELS: HISTORIES OF SPORTS IN BRAZIL (1920S AND 1930S)

ENTRE LÍNEAS DE ROMANCES: HISTORIAS DEL DEPORTE EN BRASIL (DÉCADAS DE 1920 Y 1930)

Resumo

Traços da presença do esporte são encontrados em cidades brasileiras desde a segunda metade do século XIX e muitas de suas histórias já foram narradas a partir de diversas fontes. Nesta pesquisa, tomamos o romance urbano brasileiro das décadas de 1920 e 1930 como fonte, dado que neste período a literatura abriu espaço para temas presentes no cotidiano urbano, entre eles, o esporte. Nosso objetivo, então, foi mapear e analisar, em dezessete romances urbanos brasileiros publicados nos decênios de 1920 e 1930, práticas e representações do esporte moderno como parte constitutiva da trama narrativa. Em nossa análise, o esporte foi recorrente em quinze dos dezessete romances e foi possível testemunhar a multiplicidade de sentidos no fenômeno esportivo e comprovar a nossa hipótese de que o esporte, em sua incipiência ou exuberância, poderia ter seus traços captados no romance do período.

Palavras-chave:
Esporte; Romance Brasileiro; História do Esporte.

Abstract

Traces of the sport's presence can be found in Brazilian cities since the second half of the 19th century and many of its stories have already been narrated from various sources. In this research, we take the Brazilian urban novel of the 1920s and 1930s as a source, given that in this period literature opened space for themes present in urban daily life, among them, sport. Our objective, then, was to map and analyze, in 17 Brazilian urban novels published in the 1920s and 1930s, practices and representations of modern sport as a constitutive part of the narrative plot. In our analysis, sport was recurrent in 15 of the 17 novels and witnessed the multiplicity of meanings in the sporting phenomenon and proved our hypothesis that sport, in its infancy or exuberance, could have its traits captured in the novel of the period.

Keywords:
Sport; Brazilian novel; Sports History.

Resumen

Las huellas de la presencia del deporte se pueden encontrar en las ciudades brasileñas desde la segunda mitad del siglo XIX, y muchas de sus historias ya han sido narradas desde diversas fuentes. En esta investigación, tomamos como fuente la novela urbana brasileña de las décadas de 1920 y 1930, dado que en este período la literatura abrió espacio para temas presentes en la cotidianidad urbana, entre ellos el deporte. Nuestro objetivo, entonces, fue mapear y analizar prácticas y representaciones del deporte moderno como parte constitutiva de la trama narrativa en 17 novelas urbanas brasileñas publicadas en las décadas de 1920 y 1930, prácticas y representaciones del deporte moderno como parte constitutiva de la trama narrativa. En nuestro análisis, el deporte fue recurrente en 15 de las 17 novelas, lo cual demostró la multiplicidad de significados en el fenómeno deportivo y confirmó nuestra hipótesis de que el deporte, en su infancia o exuberancia, podría tener sus rasgos plasmados en la novela de la época.

Palabras clave:
Deporte; Romance Brasileño; Historia del Deporte.

1 INTRODUÇÃO

A presença do esporte moderno no Brasil remonta à segunda metade do século XIX, marcando indeléveis traços na história cultural do país. Desde então, tais práticas se incorporaram à vida das aglomerações urbanas, ora como recomendação para preservação e manutenção da saúde, ora como divertimento e passatempo de uma mesma população (LUCENA, 2000LUCENA, Ricardo. O esporte na cidade: aspectos do esforço civilizador brasileiro. Campinas: Editora Autores Associados, 2000, p. 47-57, p. 75-87. DOI: https://doi.org/10.47749/T/UNICAMP.2000.184334
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; MEDEIROS, 2021MEDEIROS, Daniele Cristina Carqueijeiro de. Entre esportes, divertimentos e competições: a cultura física nos rios Tietê e Pinheiros (São Paulo, 1899-1949). Tese (Doutorado em Educação) - Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação, Unicamp, 2021.; MELO, 2009MELO, Victor Andrade de. Das touradas às corridas de cavalo e regatas: primeiros momentos da configuração do campo esportivo no Brasil. In: MELO, Victor Andrade de; DEL PRIORE, Mary. História do esporte: do Império aos dias atuais. São Paulo: Unesp, 2009. p. 35-69.; ROCHA JÚNIOR, 2011ROCHA JUNIOR, Coriolano. Esporte e modernidade: uma análise comparada da experiência esportiva no Rio de Janeiro e na Bahia nos anos finais do século XIX e iniciais do século XX. Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.). Apesar de encontrar seus primeiros traços ainda na segunda metade do século XIX, o esporte moderno no Brasil floresceu em seu esplendor durante as décadas de 1920 e 1930. Regatas, competições de natação e remo à beira dos rios e no mar; turfe e equitação em hipódromos; assim como tênis, futebol, boxe e atletismo, ao lado de práticas de ginástica nas escolas, praças e parques, afirmavam a consolidação do esporte na vida urbana das cidades brasileiras (DIAS, 2017DIAS, Cleber. Esportes nos confins da civilização: Mato Grosso, 1920-1930. Topoi, v. 18, n. 34 p. 66-90, 2017. DOI: https://doi.org/10.1590/2237-101X0183404
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; DIAS; SOARES, 2014DIAS, Douglas da Cunha; SOARES, Carmen Lúcia. Entre velas, barcos e braçadas: Belém no reflexo das águas (do final do século XIX à década de 1920). Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, v. 49, 2014. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/19712. Acesso em: 25 jul. 2023.
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; LUCENA, 2000LUCENA, Ricardo. O esporte na cidade: aspectos do esforço civilizador brasileiro. Campinas: Editora Autores Associados, 2000, p. 47-57, p. 75-87. DOI: https://doi.org/10.47749/T/UNICAMP.2000.184334
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; MELO, 2001MELO, Victor Andrade de. Cidade Sportiva: primórdios do esporte no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Relume Dumará: FAPERJ, 2001.; MONTENEGRO, 2020MONTENEGRO, Nara Romero. A cultura física e suas manifestações no litoral de Fortaleza (1925-1946): novos modos de se educar e de se divertir. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2020.; MONTENEGRO; SOARES, 2019MONTENEGRO, Nara Romero; SOARES, Carmen Lucia. Cultura physica e vida ao ar livre: a reinvenção do litoral de Fortaleza (1920-1940). Movimento, v. 25, e25092, 2019. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.88925
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).

Nos anos de 1920 e 1930, o esporte estabeleceu-se como um fenômeno cultural em expansão, graças à crescente presença de clubes dedicados à sua promoção (JUBÉ, QUITZAL, 2019JUBÉ, Carolina Nascimento; QUITZAU, Evelise Amgarten. Georges Hébert e a legitimação do esporte no Brasil: notas a partir da imprensa (1920-1930). Motrivivência, v. 31, n. 57, 2019. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2019e54291
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; MEDEIROS, 2021MEDEIROS, Daniele Cristina Carqueijeiro de. Entre esportes, divertimentos e competições: a cultura física nos rios Tietê e Pinheiros (São Paulo, 1899-1949). Tese (Doutorado em Educação) - Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação, Unicamp, 2021.; MORAES, 2017MORAES, Cláudia Emília Aguiar. A educação do corpo à beira-mar: esporte e modernidade na Ilha de Santa Catarina (1857-1932). Tese (Doutorado em Educação) - Centro de Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, 2017.; VARNIER, 2012VARNIER, Thacia Ramos et al. A emergência dos clubes esportivos em Vitória. Esporte e Sociedade, ano 7, n. 20, 2012. Disponível em: https://periodicos.uff.br/esportesociedade/article/view/48426/28195. Acesso em: 25 jul. 2023.
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). Além disso, políticas públicas e educacionais voltadas ao esporte e à Educação Física nas escolas foram implementadas, como observado em trabalhos de Dalben (2009)DALBEN, André. Educação do corpo e vida ao ar livre: natureza e educação fisica em São Paulo (1930-1945). 2009. 170 p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física, Campinas, SP. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1609414. Acesso em: 30 jul. 2023.
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, Dalben e colaboradores (2019)DALBEN, André; GÓIS JUNIOR, Edivaldo; LIMA, Rodrigo Jerônimo Corrêa Lima; PALMA, Lucas Polli da. Criação do Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo (1925-1932). Cadernos de Pesquisa-Fundação Carlos Chagas, v. 49, n. 171, p. 264-286, 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/198053145203
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e Medeiros, Dalben e Soares (2022)MEDEIROS, Daniele Cristina Carqueijeiro; DALBEN, André; SOARES, Carmen Lucia. Educação pelo esporte na cidade de São Paulo (1920-1936). Cadernos de História da Educação, v. 21, p. 1-20, 2022. DOI: https://doi.org/10.14393/che-v21-2022-65
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. Tais estudos revelam a íntima relação entre educação, saúde, moralidade, diversão e a prática esportiva.

O presente artigo toma como fonte principal o romance1 1 Sobre as relações entre literatura e história do esporte ver, entre outros: BANDY, Susan J. The Intersections of Sport History and Sport Literature: Toward a Transdisciplinary Perspective; GAUCHER, Julie. Black males in the stadium: All ‘bad niggers? French literature, sport and masculinity from the 1920s to the 1950s; SMITH, Shannon R. Complexity, Critique, and Close Reading: Sport History and Literary Studies. urbano brasileiro dos decênios de 1920 e 1930 e tem como objetivos mapear e analisar, em dezessete romances do período recortado, práticas e representações do esporte moderno como parte constitutiva da trama narrativa encarnada em personagens, comportamentos, situações e lugares. A literatura, fonte pouco interrogada no âmbito das pesquisas sobre história do esporte, evidencia traços de sua presença seja em sua incipiência, seja em sua exuberância.

A presença do esporte na vida cotidiana das cidades brasileiras foi anunciada por notáveis cronistas do início do século XX. Autores como Lima Barreto, Olavo Bilac e João do Rio narraram em suas obras o retrato da vida urbana, sobretudo a carioca, destacando a importância do esporte nela (DIAS, 2016DIAS, Cleber. Literatura, esportes e regionalismo no Brasil. Aletria, v. 26, n. 3, p. 69-86, 2016. DOI: https://doi.org/10.17851/2317-2096.26.3.69-86
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; LUCENA, 2003LUCENA, Ricardo. A crônica como gênero que introduziu o esporte no Brasil. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 25, n. 1, p. 159-171, 2003. Disponível em: http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/182/189. Acesso em: 30 jul. 2023.
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). Essa literatura tem sido fonte de inspiração para pesquisadores como Lucena (2003)LUCENA, Ricardo. A crônica como gênero que introduziu o esporte no Brasil. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 25, n. 1, p. 159-171, 2003. Disponível em: http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/182/189. Acesso em: 30 jul. 2023.
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, Melo (2015)MELO, Victor Andrade de. Enfrentando os desafios do mar: a natação no Rio de Janeiro no século XIX (anos 1850-1890). Revista História, n. 172, p. 299-334, 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2015.98755
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e Dias (2016)DIAS, Cleber. Literatura, esportes e regionalismo no Brasil. Aletria, v. 26, n. 3, p. 69-86, 2016. DOI: https://doi.org/10.17851/2317-2096.26.3.69-86
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, que, ao cruzar essas narrativas com outras fontes, confirmam a centralidade do esporte na vida urbana do período. É importante ressaltar que, nesse momento, o processo de urbanização e modernização ganhava força no Brasil, e autores como Gil (2004)GIL, Fernando Cerisara. Experiência urbana e romance brasileiro. Revista Letras, n. 64, p. 67-76, set./dez, 2004. DOI: http://dx.doi.org/10.5380/rel.v64i0.2969
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apontaram em romances do período o esgotamento da vida rural. O esporte, assim como a literatura, acompanhou essa mudança de paradigma e ocupou um lugar central na vida das cidades.

O romance parece ser um tipo específico de fonte que contribuiu na elaboração de outra narrativa, aquela que captura aspectos da vida social pouco evidenciados, tal qual as práticas esportivas e as novas sensibilidades delas decorrentes. Nesse sentido, busca-se analisar como os romances urbanos brasileiros das décadas de 1920 e 1930 capturaram as práticas e representações do esporte moderno como parte integrante da vida social, trazendo à tona os valores, ideias e ideais que permeavam a época.

Como documento, considera-se o romance representante do real e do imaginário de uma sociedade, sendo sua produção pautada em regras que não podem ser desprendidas da intenção do escritor (CHARTIER, 1990CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990.). Em sua produção os acontecimentos passam pelo olhar do autor que, por sua vez, também carrega em si, valores, conhecimentos, ideias e ideais, enfim, experiências do lugar e do tempo em que vive.

O romancista tanto memoriza como inventa fatos: o que ele não pode inventar é o sentimento da vida como ela é, e para isso é preciso que tenha estado em algum lugar da terra e se tenha impregnado duma determinada conjuntura emocional, duma atmosfera, dum ambiente, dum céu e duma terra, e de presenças humanas (MONTEIRO, 1979MONTEIRO, Casais Adolfo. Prefácio. In: QUEIROZ, Raquel de. O Quinze. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1979., p. XV).

O recorte temporal parte, primeiramente, da importância dos decênios de 1920 e 1930 para o desenvolvimento do esporte no Brasil. Além disso, parte também da própria intenção presente nos romances caracterizados como modernos, pois foi o movimento modernista que procurou romper esteticamente, em um afastamento da obra de arte, desmistificando a falsa idealidade romântica. Para isto, lutou por uma linguagem coloquial e por uma utilização mais intensa do cotidiano” (JOZEF, 1982JOZEF, Bella. Modernismo brasileiro: Vanguardia, carnavalização e modernidade. Revista Iberoamericana, v. 48, n. 118, p. 103-120, 1982. DOI: https://doi.org/10.5195/reviberoamer.1982.3686
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, p.104). Assim, a literatura abandonou seu caráter acadêmico e rígido, associado a uma estética tradicionalista e abriu espaço para temas, personagens e lugares antes pouco tratados, como é o caso do esporte moderno presentes no cotidiano de cidades brasileiras.

Nesse sentido, o movimento modernista permitiu que a literatura brasileira se aproximasse de novas temáticas e sensibilidades que emergiram na vida social da época, como as práticas esportivas. A literatura passou a explorar de forma mais profunda a realidade cotidiana das cidades brasileiras, mostrando personagens que se envolviam em atividades esportivas como parte de sua rotina. A linguagem coloquial e a aproximação com o cotidiano permitiram que o esporte moderno ganhasse destaque na literatura, tornando-se um elemento constitutivo da trama narrativa. Assim, a escolha pelo período modernista para análise dos romances que abordam o esporte não é mera coincidência, afinal, foi nessa época que houve uma transformação estética e temática na literatura brasileira (JOZEF, 1982JOZEF, Bella. Modernismo brasileiro: Vanguardia, carnavalização e modernidade. Revista Iberoamericana, v. 48, n. 118, p. 103-120, 1982. DOI: https://doi.org/10.5195/reviberoamer.1982.3686
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), possibilitando a representação mais fiel das práticas esportivas e suas implicações na vida social e cultural do país.

Por fim, o artigo também se dedicou - por meio dos romances urbanos cuja trama expressa a diversidade da sociedade brasileira do período - a assinalar a pluralidade e complexidade de grupos sociais que praticavam esportes na época, os diferentes significados atribuídos em função das percepções de indivíduos e grupos, assim como do espaço social em que a prática era realizada, o momento e os equipamentos relacionados. Isto é, as diversas disposições que atravessavam o engajamento esportivo dos sujeitos e grupos sociais, conforme análises de Bourdieu (2007)BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social ao julgamento. São Paulo: Edusp, 2007. p.196-207.. As práticas representadas nas narrativas, portanto, constituíram um rico material para pensar o lugar do esporte na sociedade brasileira do período.

2 CAMINHOS TRILHADOS

De cunho bibliográfico e documental, este artigo localizado no campo da história do esporte, elegeu como fonte dezessete romances brasileiros das décadas de 1920 e 1930. Além disso, obras mais abrangentes do campo da literatura, história e sociologia deram suporte teórico e conceitual ao desenvolvimento do texto.

O trabalho se estruturou a partir da constituição das fontes, delimitadas em torno do romance urbano brasileiro, publicadas nas décadas de 1920 e 1930, em meio ao movimento Modernista. A seleção das obras foi feita a partir de uma pesquisa em acervos digitais dos principais autores que publicaram na época, e baseado na leitura das sinopses dos romances desses escritores, foi possível identificar o caráter urbano em algumas dessas obras. Para tanto, a característica crucial foi que a narrativa se passasse em cidades brasileiras e narrasse o cotidiano das personagens que construíam e integravam o cenário urbano, pois é nele que é possível encontrar o esporte moderno retratado.

Constituíram nosso corpus documental as seguintes obras2 2 O enredo de cada obra foi descrito em Ribeiro (2021), Trabalho de Conclusão de Curso que inspirou o presente artigo. A pesquisa foi realizada sob a orientação da Profa. Dra. Carmen Lucia Soares e teve como título “O Romance urbano como fonte para uma história do esporte no Brasil (1920 e 1930)”. :

  1. Inquietos, Luís Delgado, 1ª Edição data de 1929.

  2. A mulher que fugiu de Sodoma, José Geraldo Vieira, 1ª Edição data de 1931.

  3. O país do Carnaval, Jorge Amado, 1ª Edição data de 1931.

  4. Parque Industrial, Patrícia Galvão, 1ª Edição data de 1933.

  5. Clarissa, Érico Veríssimo, 1ª Edição data de 1933.

  6. Serafim Ponte Grande, Oswald de Andrade, 1a Edição data de 1933.

  7. Suor, Jorge Amado, 1ª Edição data de 1934.

  8. Caminhos Cruzados, Érico Veríssimo, 1ª Edição data de 1935.

  9. Jubiabá, Jorge Amado, 1ª Edição data de 1935.

  10. Mana Maria, Antônio de Alcântara Machado, 1ª Edição data de 1935.

  11. O moleque Ricardo, José Lins do Rego, 1ª Edição data de 1935.

  12. Salgueiro, Lúcio Cardoso, 1ª Edição data de 1935.

  13. Música ao longe, Érico Veríssimo. 1ª Edição data de 1936.

  14. Um lugar ao Sol, Érico Veríssimo, 1ª Edição data de 1936

  15. Capitães da Areia, Jorge Amado, 1ª Edição data de 1937.

  16. O amanuense Belmiro, Cyro dos Anjos, 1ª Edição data de 1937.

  17. A estrela sobe, Marques Rebelo, 1ª Edição data de 1939.

Nesse conjunto de romances urbanos constituídos como fonte principal, constatamos inúmeras recorrências ao esporte como prática e espetáculo nas diferentes tramas narrativas em suas singularidades regionais e temáticas. Se o esporte é uma das expressões da vida urbana e moderna (SEVCENKO, 2000SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.; VIGARELLO, 2002VIGARELLO, Georges. Du jeu ancien au show sportif: la naissance d’un mythe. Paris: Éditions Seuil, 2002.), o romance urbano torna-se, assim, uma fonte privilegiada para capturar traços de práticas e representações do esporte como parte constitutiva da trama narrativa encarnada em personagens, comportamentos, situações e lugares.

3 O MAPA DO ESPORTE A PARTIR DOS ROMANCES

A partir do escrutínio das fontes, foram identificadas mais de sessenta passagens sobre o esporte moderno, bem como de práticas que guardam alguma proximidade com o fenômeno da esportivização nas narrativas de quinze3 3 Não foram encontrados traços da presença do esporte em Música ao Longe e Salgueiro. dos dezessete romances urbanos elencados para o corpus documental do presente artigo. A partir desse mapeamento, passamos ao exame e análise das passagens em que o esporte moderno, segundo as características definidas por Guttman4 4 Allen Guttman (1978) assinala que o esporte se difere de passatempos de outrora através de 7 componentes: 1- secularismo, não envolve religião, cultos e divindades; 2- igualdade, de oportunidades e condições de participaçãosimilar ao conceito de justiça; 3- especialização, o atleta se dedica a somente um propósito do seu esporte por um período de tempo; 4- racionalização, os jogos são regrados a partir de uma racionalidade prática; 5- burocratização, criação de estatutos, clubes, associações que administram a modalidade esportivasimilar à regulamentação; 6- quantificação, os gestos esportivos passam a ser 20 medidos e/ou quantificados 7- recordes, motiva a competição entre diferentes tempos e espaços. , 1978GUTTMANN, A. From ritual to record: the nature of modern sports. New York: Columbia University Press, 1978., é central, e está representado nos romances como prática ou espetáculo.

As fontes constituídas pelos romances aqui citados permitiu a constatação da existência de diversos esportes que, se estão representados em nossas fontes, fizeram parte do cotidiano da época. Isto porque, o romance desse período pretendeu o mínimo de literatura e o máximo de verossimilhança. Nas palavras de Fernanda, uma das personagens do romance Um lugar ao Sol

a diferença entre o romance de hoje e o romance de ontem [...] É que no romance de ontem o sol era astro rei; no romance de hoje sol é sol mesmo. Ninguém morre de fome recitando Shakespeare. Ninguém pede emprego em versos rimados… (VERÍSSIMO,1982VERÍSSIMO, Érico. Um lugar ao Sol. 24. ed. Porto Alegre: Editora Globo, 1982. [1. ed., Porto Alegre: Editora Globo, 1936]., p. 340).

O romance urbano se constitui como fonte privilegiada para o estudo da história do esporte, pois parece ter o potencial de contar dos lugares ocupados por esta prática, demonstrando o quanto ela se fez presente na composição da vida urbana.

Ao folhear as páginas dos romances, encontramos a ginástica como sinônimo de Educação Física e como prescrição para a saúde, bem como a esgrima, o turfe, o polo, o remo, o golfe, a natação, a luta livre, o boxe, a capoeira e o tênis. Assim, podemos inferir que significativo conjunto de esportes constituiu as narrativas dos romances, sendo praticados em ruas, praças, praias, rios, clubes, jardins, evidenciando o uso do espaço urbano para seu desenvolvimento.

Cada uma das passagens a respeito dessas práticas contribuiu para confirmar nossa hipótese - de que o esporte, em sua incipiência ou exuberância, poderia ter seus traços captados no romance do período - quanto a corroborar com a história do esporte brasileiro considerando diferentes regiões e estados, a partir de uma fonte pouco investigada no âmbito do esporte brasileiro: o romance urbano.

Como parte do objetivo deste artigo, produziu-se um mapa do esporte nas décadas de 1920 e 1930 a partir dos excertos encontrados nos romances. As passagens foram arranjadas em uma planilha, e agrupadas de acordo com o ano e a cidade em que se passavam, e posteriormente transformadas no mapa da figura 1 para melhor visualização dos resultados que se distribuem em diferentes regiões brasileiras.

Figura 1
Mapa de localização geográfica dos romances utilizados como fonte e os respectivos esportes encontrados em cada localidade.

Alicerçados no mapa e nas passagens dos romances, fizemos uma análise da variedade esportiva presente na sociedade brasileira no período recortado. Esse mapa também permitiu uma análise acerca dos protagonistas e suas práticas, além de evidenciar a adesão segmentada a diferentes esportes, por identidades de classes sociais, raça, gênero, dentre outros marcadores.

O futebol, o boxe e a capoeira5 5 Neste período houve um forte debate em torno da prática da Capoeira vista por uns como expressão da marginalidade e do crime e, por outros, como expressão mais acabada da cultura brasileira sendo mesmo pensada como esporte. Teve seu reconhecimento em 2008 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, como patrimônio cultural imaterial brasileiro e, em 2014, pela UNESCO como patrimônio imaterial cultural da humanidade. Ver, entre outros, Castro Júnior (2010), Fonseca (2008), Acuña (2010), Soares (2013). são esportes retratados nos romances como prática e divertimento das classes menos favorecidas e personificados em negros, em sua maioria. O futebol foi o esporte mais recorrente em nosso mapeamento, aparecendo em 14 passagens, presente em todas as regiões compreendidas por este artigo e na maioria das cidades ambientadas nos romances, com exceção do Recife.

Nos romances Jubiabá e Suor, o autor baiano Jorge Amado narra histórias que se passam nas ruas da cidade de Salvador, evidenciando as contradições de uma cidade em processo de modernização, dos conflitos raciais, do trabalho árduo, de problemas de moradia e desigualdades sociais. Nestes romances, podemos evidenciar o grupo social que praticava o futebol através da caracterização dos materiais utilizados para o jogo e do cenário construído para tal prática. Baldo, personagem de Jubiabá, jogava futebol no morro do Capa-Negro com outras crianças “com bola feita de bexiga de boi.” (AMADO, 1983AMADO, Jorge. Jubiabá. 44. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 1983. [1. ed. Salvador: Editora Globo, 1935]., p. 46). Enfezado, personagem de Suor, era “o melhor atacante do Chuta Forte F.C., que disputava o campeonato com o Arranca Rabo em lascas sensacionais em plena rua com uma bola de pano.” (AMADO, 1970AMADO, Jorge. Suor. 23. ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1970. [1ª ed. Salvador: Editora Globo,1934]., p. 305, grifo da autora).

O boxe foi o segundo esporte mais recorrente nos romances, identificado em 11 passagens ambientadas no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Salvador, onde ganha destaque devido ao romance Jubiabá, cujo personagem principal é também boxeador e assim, são construídas diversas cenas em que o esporte é central. É possível, ainda, estabelecer um paralelo muito expressivo entre Baldo, protagonista do romance de Jorge Amado, Chico Pretinho, personagem de A estrela sobe de Marques Rebelo, e o “boxeurnegro” de Serafim Ponte Grande de Oswald de Andrade. Para além da semelhança racial, o boxe representava a possibilidade de progresso dos três personagens, devido às apostas que estavam inseridas nas competições. Chico Pretinho, assim como Baldo, é descrito como um “faz-tudo” na tentativa de ganhar a vida: “camarada jovial e encrencado, ex-guarda-civil, ex-chofer, ex-boxer, apelidado, pela sua inconstância, de Ex-Tudo” (REBELO, 1985REBELO, Marques. A estrela sobe. Rio de Janeiro: Ediouro, 1985., p. 140, grifo da autora). A iniciativa de engajar-se nas mais diversificadas experiências de trabalho, expressava a luta popular em conseguir uma vida minimamente digna. Interessante é notar como, nessa tentativa, o esporte surge como possibilidade de ascensão social.

A capoeira é tão expressiva em nossas fontes quanto o boxe, devido aos romances de Jorge Amado, autor que se esforçou em denunciar a realidade social da Bahia, do mundo do trabalho e da luta diária do povo. Assim, ela aparece em 7 das 10 recorrências em Salvador, onde é praticada pelos meninos de rua no Recife por meninos do engenho. Apesar do grupo social ser semelhante, ambos pertencentes a camadas sociais populares, a motivação para a prática é diferente. Os meninos de rua aprendem capoeira como luta, em sua defesa contra o Estado, que além de desampará-los, os trata com extrema violência, como evidenciado no seguinte trecho de Capitães da Areia que narra um desses episódios: “Pondo em prática uma habilidade incomum, Pedro Bala se livrou dos braços do investigador que o segurava e com um golpe de capoeira o derrubou”. (AMADO, 2009AMADO, Jorge. Capitães da Areia. 17. reimp. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. [1a Ed, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1937]., p. 192 e 193, grifo da autora).

Já os meninos do engenho praticavam a capoeira como forma de divertimento e distração. Em O moleque Ricardo, de José Lins do Rego, a cidade é retratada como oposto ao engenho, vista por Ricardo, inclusive, como um lugar de maior miséria. Ele expõe que “os meninos eram amarelos como os do engenho, mas eram mais infelizes ainda. Lá eles tinham o rio e a capoeira para entreter os vermes e o impaludismo6 6 Sinônimo de malária: doença transmitida por um mosquito das regiões quentes e pantanosas, como o mangue em que os meninos aos quais Ricardo se refere moravam. .” (REGO, 1966REGO, José Lins do. O moleque Ricardo. 7. Ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1966., p. 34, grifo da autora).

Em contrapartida, a esgrima, o turfe, o remo, o golfe, o nado, o polo e o tênis foram esportes praticados pelas elites dos romances. Compreendemos isso através de alguns detalhes referentes à indumentária, aos próprios personagens e ao ambiente da prática7 7 Através da representação do Jóquei em A mulher que fugiu de Sodoma podemos confirmar essa hipótese: “Jóquei Clube. Traseiros de carros de luxo encostam nas calçadas, à moda de grandes cidades americanas” (VIEIRA, 1962, p. 48), a confirmação se dá não só pela descrição do Jóquei em si, como também pela referência às “grandes cidades americanas” que remete ao cinema americano, e essa menção só é possível de ser idealizada por quem pertence às classes mais favorecidas. descritos nas fontes. É intrigante notar que nas próprias passagens referentes a esses esportes há, não só uma diferenciação social, mas também um juízo de valor sobre quem não “desfruta a estima da alta goma” (ANJOS, 1971ANJOS, Cyro dos. O amanuense Belmiro. 7. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1971. [1. ed. Belo Horizonte: Editora “Os Amigos do Livro”, 1937]., p. 58). No romance O amanuense Belmiro de Ciro do Anjos, esse grupo é chamado de filistino, termo pejorativo para chamar o povo de uma região, caracterizando-o como grosseiro, inculto, anti-intelectual e que só possui interesses materiais. Em outra passagem se evidencia a suposta superioridade da aristocracia, inclusive, pelo seu desempenho no esporte, nesse caso, o tênis: “E fica, assim, cercado de um halo misterioso, aos olhos dos filistinos, usando de um trunfo que assinala sua superioridade sobre os companheiros de bridge e tênis.” (ANJOS, 1971ANJOS, Cyro dos. O amanuense Belmiro. 7. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1971. [1. ed. Belo Horizonte: Editora “Os Amigos do Livro”, 1937]., p. 59, grifo da autora).

O turfe, presente nos romances que se passavam no sul e sudeste do país, parece ser o único esporte representado nas passagens que é ponto de convergência de diferentes grupos sociais. Em Parque Industrial de Patrícia Galvão podemos distinguir a figura do jóquei, sem o qual o turfe como um esporte, não seria realizável. Note-se que o turfe era um divertimento particularmente apreciado pelas classes abastadas da sociedade. Ora, os jóqueis eram oriundos das classes populares. A passagem que segue é bastante elucidativa desse encontro:

O domingo à toa. Na rua da Mooca, na rua Bresser, os automóveis particulares rasgam para as corridas. No Hipódromo coalhado de elegantes, as poules estragam dinheiro. Dia de sol. Cabelos curtos. Boinas multicores. Aristocratiza-se o bairro popular.

Pepe [o jóquei] estava no portão.

- Por que que eu hei de ser toda a vida um miserável? Por quê?

Comenta-se a queda de um jóquei.

- Caem tantos! (GALVÃO, 2013GALVÃO, Patrícia. Parque industrial. São Paulo: Cintra, 2013., p.58, grifo da autora)

Efetivamente, o esporte parece afirmar um espaço de coexistência de grupos sociais antagônicos reservando, contudo, funções distintas para cada um dos grupos na mesma atividade. O jóquei afirmava um tipo de excelência física, elegância, eficácia sem, necessariamente, roçar a mais tênue espessura do abismo social. Ele era quem propiciava, em cima do cavalo, o espetáculo de beleza aos que estavam muito distantes desse domínio do corpo, da técnica, da destreza e, também, da necessidade de sobrevivência.

Outra particularidade encontrada nas fontes está relacionada às identidades masculinas e à ausência de mulheres em práticas esportivas. Em Jubiabá, após Baldo derrubar Ergin na luta de boxe e o alemão se erguer mesmo parecendo que não iria, um torcedor murmura “o alemão é macho mesmo” (AMADO, 1983AMADO, Jorge. Jubiabá. 44. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 1983. [1. ed. Salvador: Editora Globo, 1935]., p. 16), e em Serafim Ponte Grande o boxe é caracterizado como “a máscula luta” (ANDRADE, 1971ANDRADE, Oswald. Serafim. Ponte Grande, em convênio com o Instituto Nacional do Livro- MEC, Coleção Vera Cruz, 1971., p. 98), confirmando esse esporte como ferramenta de disputas de virilidade e vigor na sociedade da época.

Neste último romance também identificamos o futebol como lugar de disputa dessas identidades. O personagem Pinto Calçudo havia sido expulso da narrativa pelo protagonista e narrador Serafim Ponte Grande, por ser muito bajulador e incomodá-lo. Mais tarde, ele retorna e aparece na seguinte passagem: “De como Pinto Calçudo por causa do jogo de futebol promete cortar um argentino de alto a baixo, com uma afiada navalha de barba que mostra e faz reluzir.” (ANDRADE, 1971ANDRADE, Oswald. Serafim. Ponte Grande, em convênio com o Instituto Nacional do Livro- MEC, Coleção Vera Cruz, 1971., p. 69, grifo da autora).

Já no romance Caminhos Cruzados de Érico Veríssimo, o futebol aparece novamente como divertimento da população mais pobre, principalmente dos meninos, existindo um juízo depreciativo referente ao personagem Noel, caracterizado como sonhador, medroso e “maricas” porque: “[...] Noel nunca brincava com eles, ficava metido no meio das meninas enquanto os colegas jogavam futebol ou bandeira.” (VERÍSSIMO,1978VERÍSSIMO, Érico. Caminhos Cruzados. 20. ed. Porto Alegre: Editora Globo, 1978. [1. ed. Porto Alegre: Editora Globo, 1935]., p. 8).

As mulheres ocupam, com poucas exceções, um lugar secundário nas passagens concernentes aos esportes. Elas compõem a cena esportiva, mas não são protagonistas, e estão presentes apenas para corresponder aos desejos masculinos. Tomamos aqui o romance Inquietos de Luiz Delgado, em que a personagem do esgrimista é prestigiada a ponto de possibilitar “o contato com as moças” de sua escolha (DELGADO, 1929DELGADO, Luiz. Os inquietos. Recife: Livraria Universal, 1929., p. 32). Também em Amanuense Belmiro, de Ciro dos Anjos, o personagem Silviano devido à sua superioridade esportiva “suscita a admiração de ingênuas mocinhas.” (ANJOS, 1971ANJOS, Cyro dos. O amanuense Belmiro. 7. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1971. [1. ed. Belo Horizonte: Editora “Os Amigos do Livro”, 1937]., p. 59).

Por fim, podemos perceber, através da análise das fontes, como o esporte se relacionou com a modernização e urbanização, crescentes nas décadas de 1920 e 1930. A seguinte passagem de Um lugar ao Sol denuncia a diferença entre o espaço rural e o urbano, para o qual a sociedade brasileira se dirigia. Nela vemos representado não só o esporte, mas, também, os lugares de sua prática demonstrando as novas relações com a natureza que se estabeleciam pelo corpo:

Jogaram-se nágua. Como estava fresca! Nadaram alguns metros. [...]. Vasco[...]. Deliciava-se e ao mesmo tempo assustava-o aquele mundo diferente do que conhecera em Jacarecanga. Um mundo de corpos nuslivre, sem preconceitos, natural e esportivo. (VERÍSSIMO,1982VERÍSSIMO, Érico. Um lugar ao Sol. 24. ed. Porto Alegre: Editora Globo, 1982. [1. ed., Porto Alegre: Editora Globo, 1936]., p. 158 e 159, grifo da autora)

Outras problemáticas em relação ao esporte moderno também puderam ser levantadas a partir das fontes. Em Jubiabá encontramos a representação de um esporte, o boxe, que parece não alienar. Nesta bela passagem em que Baldo, após assumir a liderança em uma greve geral em Salvador, em favor da liberdade do povo e contra as mazelas e a pobreza em que viviam, compara a greve com a grandeza de ser campeão de boxe: “Aquele dia de greve fora um dos mais bonitos da sua vida. [...]. Tão bonito como o dia em que ganhou o campeonato de boxe, derrubando Vicente” (AMADO, 1983AMADO, Jorge. Jubiabá. 44. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 1983. [1. ed. Salvador: Editora Globo, 1935].. p. 298).

Além desse aspecto, pudemos constatar nos romances como o esporte esteve relacionado à juventude e à vitalidade, através das caracterizações dos personagens que compunham as práticas. Uma constatação desse pressuposto aparece em Caminhos Cruzados, quando em um momento nostálgico do romance, Maximiliano, doente de tuberculose em estado terminal relembra que “Ele [Maximiliano] tinha orgulho [...] dos seus músculos. Remava num clube de regatas” (VERÍSSIMO, 1978VERÍSSIMO, Érico. Caminhos Cruzados. 20. ed. Porto Alegre: Editora Globo, 1978. [1. ed. Porto Alegre: Editora Globo, 1935].. p. 112, grifo da autora).

Também foi possível encontrar referências à Olimpíada de Berlim, realizada em 1936, em uma revista descrita em Um lugar ao Sol: “Vasco apanhou distraído uma revista de capa colorida. Eram prospectos das Olimpíadas de Berlim.” (VERÍSSIMO,1982VERÍSSIMO, Érico. Um lugar ao Sol. 24. ed. Porto Alegre: Editora Globo, 1982. [1. ed., Porto Alegre: Editora Globo, 1936]., p. 181 e 182). Pela passagem, compreendemos que ela fala sobre perspectivas e possibilidades, o que pode nos revelar que já havia uma preocupação em analisar dados acerca das Olimpíadas como um grande espetáculo esportivo e também que eles possuíam um significado para a sociedade da época.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Traços da presença do esporte são encontrados em cidades brasileiras desde a segunda metade do século XIX. Infere-se, assim, que o esporte foi constitutivo da conformação da vida urbana e que muitas de suas histórias já foram narradas a partir de diversas fontes. Neste artigo, que se apoiou teórica e metodologicamente na história cultural, tomamos o romance urbano brasileiro das décadas de 1920 e 1930 como fonte, dado que neste período a literatura abriu espaço para temas antes pouco tratados, entre eles, o esporte.

Além disso, o romance é fonte privilegiada para a construção histórica uma vez que toda ficção é arraigada na sociedade que a produziu, pois é em determinadas condições de espaço, tempo, cultura e relações sociais que o romancista inventa suas narrativas. Assim, o romance se torna fonte singular para contar os lugares ocupados pelo esporte na sociedade.

Após a análise dos dezessete romances selecionados para o corpus documental do artigo, pudemos encontrar o esporte e outras práticas que se aproximam do processo de esportivização, presentes em diferentes formatos em quinze deles. Identificamos a pluralidade e complexidade de grupos sociais que praticavam esportes, ou, simplesmente assistiam ao espetáculo esportivo no período delimitado, produzimos um mapa do esporte, assinalando as modalidades nas cidades em que se passavam as narrativas, localizando-as temporalmente.

Outro aspecto que merece destaque foi a presença categórica de personagens masculinos em detrimento da nula participação de personagens femininas nas passagens que tratam do esporte. Identificamos, também, uma segmentação racial na prática e no espetáculo esportivo e nossas fontes indicam a distinção de esportes praticados por negros e aqueles praticados por brancos, sendo poucos os esportes praticados por ambos. Foi possível, também, identificar uma nítida correlação entre esses grupos com suas respectivas classes sociais. Todos esses personagens nos ajudam a traçar um perfil de quem eram os praticantes e espectadores de diversos esportes em nosso recorte temporal em diferentes regiões brasileiras em que os romances foram produzidos.

Por fim, podemos afirmar que o esporte se fez presente nos romances analisados como recurso literário, narrativo e expressivo, através de metáforas, comparações e utilização de palavras estrangeiras. Estes usos possibilitados pela estética proposta pelo movimento Modernista evidenciaram que o esporte se inseriu na vida urbana do período, uma vez que o romancista ao escrever, transmite experiências do lugar e do tempo em que vive. Ademais, muitas passagens trazem uma descrição minuciosa da técnica esportiva e da pedagogia utilizada para seu ensino, através da narração dos gestos, sons, reações e sentimentos ligados à prática, sintetizando, portanto, um rico material para investigação no campo da historiografia do esporte.

  • 1
    Sobre as relações entre literatura e história do esporte ver, entre outros: BANDY, Susan J. The Intersections of Sport History and Sport Literature: Toward a Transdisciplinary Perspective; GAUCHER, Julie. Black males in the stadium: All ‘bad niggers? French literature, sport and masculinity from the 1920s to the 1950s; SMITH, Shannon R. Complexity, Critique, and Close Reading: Sport History and Literary Studies.
  • 2
    O enredo de cada obra foi descrito em Ribeiro (2021)RIBEIRO, Regina Helena Alencar. O romance urbano como fonte para uma história do esporte no Brasil (1920 e 1930). Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Educação Física) - Faculdade de Educação Física, UNICAMP, 2021., Trabalho de Conclusão de Curso que inspirou o presente artigo. A pesquisa foi realizada sob a orientação da Profa. Dra. Carmen Lucia Soares e teve como título “O Romance urbano como fonte para uma história do esporte no Brasil (1920 e 1930)”.
  • 3
    Não foram encontrados traços da presença do esporte em Música ao Longe e Salgueiro.
  • 4
    Allen Guttman (1978GUTTMANN, A. From ritual to record: the nature of modern sports. New York: Columbia University Press, 1978.) assinala que o esporte se difere de passatempos de outrora através de 7 componentes: 1- secularismo, não envolve religião, cultos e divindades; 2- igualdade, de oportunidades e condições de participaçãosimilar ao conceito de justiça; 3- especialização, o atleta se dedica a somente um propósito do seu esporte por um período de tempo; 4- racionalização, os jogos são regrados a partir de uma racionalidade prática; 5- burocratização, criação de estatutos, clubes, associações que administram a modalidade esportivasimilar à regulamentação; 6- quantificação, os gestos esportivos passam a ser 20 medidos e/ou quantificados 7- recordes, motiva a competição entre diferentes tempos e espaços.
  • 5
    Neste período houve um forte debate em torno da prática da Capoeira vista por uns como expressão da marginalidade e do crime e, por outros, como expressão mais acabada da cultura brasileira sendo mesmo pensada como esporte. Teve seu reconhecimento em 2008 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, como patrimônio cultural imaterial brasileiro e, em 2014, pela UNESCO como patrimônio imaterial cultural da humanidade. Ver, entre outros, Castro Júnior (2010CASTRO JR, Luís Vitor. Campos de visibilidade da Capoeira baiana: as festas populares, as escolas de capoeira, o cinema e a arte: 1955-1985. Brasília: Ministério do Esporte, 2010.), Fonseca (2008)FONSECA, Vivian Luiz. A capoeira contemporânea: antigas questões, novos desafios. Recorde: Revista de História do Esporte, v. 1, n. 1, 2008. Disponível: https://revistas.ufrj.br/index.php/Recorde/article/view/795. Acesso em: 25 jul. 2023.
    https://revistas.ufrj.br/index.php/Recor...
    , Acuña (2010), Soares (2013)SOARES, Carmen Lucia. Imagens da educação no corpo. Campinas: Autores Associados, 2013..
  • 6
    Sinônimo de malária: doença transmitida por um mosquito das regiões quentes e pantanosas, como o mangue em que os meninos aos quais Ricardo se refere moravam.
  • 7
    Através da representação do Jóquei em A mulher que fugiu de Sodoma podemos confirmar essa hipótese: “Jóquei Clube. Traseiros de carros de luxo encostam nas calçadas, à moda de grandes cidades americanas” (VIEIRA, 1962VIEIRA, José Geraldo. A mulher que fugiu de Sodoma. 3. ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1962., p. 48), a confirmação se dá não só pela descrição do Jóquei em si, como também pela referência às “grandes cidades americanas” que remete ao cinema americano, e essa menção só é possível de ser idealizada por quem pertence às classes mais favorecidas.
  • FINANCIAMENTO
    O presente trabalho foi realizado sem o apoio de fontes financiadoras.
  • COMO REFERENCIAR

    RIBEIRO, Regina Helena Alencar; MONTENEGRO, Nara Romero; SOARES, Carmen Lúcia. Entre linhas de romances: histórias do esporte no Brasil (décadas de 1920 e 1930). Movimento, v. 29, p. e29040, jan./dez. 2023. DOI: https://doi.org/ 10.22456/1982-8918.131740

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Editado por

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga*, Elisandro Schultz Wittizorecki*, Mauro Myskiw *, Raquel da Silveira *
* Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    10 Maio 2023
  • Aceito
    14 Jun 2023
  • Publicado
    02 Set 2023
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