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O ESPORTE EM ILHÉUS E A CONSOLIDAÇÃO DO INSTITUTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DA BAHIA (1921)

EL DEPORTE EN ILHÉUS Y LA CONSOLIDACIÓN DEL INSTITUTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DE BAHIA (1921)

Resumo

Este estudo explora a ocorrência do primeiro torneio intermunicipal baiano de futebol de 1921 e sua relação com a campanha para a construção do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). A investigação tem por base a análise de periódicos da época e o diálogo com a bibliografia sobre o tema. A narrativa evidencia como a participação do município de Ilhéus no evento representou uma oportunidade para afirmar seu compromisso com os ideais de modernização e civilização, valorizados pela sociedade baiana da época. Também averioguou-se como essa participação contribuiu para o processo de consolidação do esporte em Ilhéus e sua aproximação com o cenário esportivo da capital do estado.

Palavras-chave
Esporte; Futebol; IGHB; Ilhéus; Civilidade.

Resumen

Este estudio analiza el primer torneo intermunicipal de fútbol del estado de Bahia, realizado en 1921, y su relación con la campaña para la construcción del Instituto Geográfico e Histórico de Bahia (IGHB). La investigación se basa en el análisis de publicaciones periódicas de la época y en el diálogo con la bibliografía sobre ese tema. La narrativa muestra cómo la participación del municipio de Ilhéus en el evento representó una oportunidad para reafirmar su compromiso con los ideales de modernización y civilización, valorados por la sociedad de Bahia en ese momento histórico. Se trata de conocer cómo esta participación contribuyó con el proceso de consolidación del deporte en Ilhéus y con su acercamiento al escenario deportivo de la capital del estado.

Palabras clave
Deporte; Fútbol; IGHB; Ilhéus; Civilidad.

Abstract

This paper discusses the relationship between the first intercity soccer tournament of the state of Bahia held in 1921, and the campaign for the construction of the Geographical and Historical Institute of Bahia (IGHB). The research is based on an analysis of periodicals of that time and on the literature related to that topic. The narrative shows how the participation of the municipality of Ilhéus in the event offered an opportunity to assert its commitment to the ideals of modernization and civilization, which were valued by Bahia’s society at that time. It was also investigated how this participation contributed to the consolidation process of the sport in Ilhéus and its approximation to the sports scenario of the state capital.

Keywords
Sports; Soccer; IGHB; Ilhéus; Civility.

O caráter de centralidade do núcleo é o responsável pela “coordenação e direção das diferentes atividades do espaço organizado em seu derredor” (Milton Santos, 1959SANTOS, Milton. A cidade como centro de região: definições e métodos de avaliação da centralidade. Salvador: Livraria Progresso Editora, 1959., p. 12).

1 INTRODUÇÃO

Na segunda-feira, 12 de dezembro de 1921, Ilhéus acordou ressaqueada, sob forte “[…] emoção de viva alegria, em meio aos vibrantes entusiasmos com que fremiu ontem ao ser informada sobre as excelentes notícias […]” vindas da capital baiana. O jornal Correio de Ilhéus anunciava: “Aleguá! Aleguá! Ilhéus campeão Intermunicipal de Futebol” (ALEGUÁ…, 1921ALEGUÁ! Aleguá! Ilhéus campeão intermunicipal de futebol. Correio de Ilhéos, n. 65, p. 1, 12 dez. 1921., p. 1). Tratava-se do resultado do torneio desenvolvido em Salvador, segundo o jornal, conquistado pelo município (Figura 1). Porém esta história começou anos antes, com a ideia de construção da nova sede do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia1 1 O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) foi fundado em 13 de maio de 1894 como expressão dos esforços da sociedade baiana para alcançar uma sintonia com a dinâmica nacional no contexto da instauração da República. O IGHB nasceu com a dupla condição de personificação e instrumento modernizante da sociedade baiana, segundo os critérios da então recém-estabelecida mentalidade republicana, e o fez assumindo o papel de entidade-símbolo da Bahia, ao passo que contribuiu, por meio dos estudos e pesquisas de seus integrantes, para fundamentar políticas estatais. , acontecimento que mobilizou a sociedade baiana e estimulou a realização de eventos esportivos, até então pouco usuais.

Figura 1
Capa do Correio de Ilhéus

No Brasil, o desenvolvimento histórico esportivo teve início nos grandes centros urbanos, e o fenômeno em tais regiões tem sido objeto de estudos há algum tempo (DIAS; MELO, 2009DIAS, Cleber; MELO, Victor Andrade de. Lazer e urbanização no Brasil: notas de uma história recente. Movimento, v. 15, n. 3, p. 249-271, jul.-set. 2009.; LUCENA, 2001LUCENA, Ricardo. Esporte e cidade: aspectos do esforço civilizador brasileiro. Campinas: Autores Associados, 2001.; MELO, 2001MELO, Victor Andrade de. Cidadesportiva: primórdios do esporte no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Relume-Dumará / Faperj, 2001.). Mas os esportes interiorizaram-se, por óbvio, impondo-se a necessidade de pesquisas sobre tal desenvolvimento em lugares “pouco ou nada urbanizados” (DIAS, 2013DIAS, Cleber. Esporte e cidade: balanços e perspectivas. Revista Tempo, v. 17, n. 34, jan./jun., p. 33-44, 2013. Disponível em: https://www.historia.uff.br/tempo/site/wp-content/uploads/2013/06/v17n34a04.pdf. Acesso em: 20 maio 2016.
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, p. 35). Entretanto são reduzidas as investigações que tratam do esporte nos sertões do país, regiões ditas periféricas, ou mesmo hinterlândias, distantes de núcleos de decisões políticas, econômicas e culturais (RUSSEL-WOOD, 1998RUSSEL-WOOD, Anthony John R. Centros e periferias no mundo luso-brasileiro,1500-1808. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 18, n. 36, p. 187-250, 1998. DOI: S0102-01881998000200010.
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).

As pesquisas sobre a história da cultura, lazer ou esporte concentraram-se nas regiões economicamente desenvolvidas e com níveis demográficos mais elevados. Apesar de algumas evoluções recentes, resultantes de investigações no Norte, no Nordeste ou no Centro-Oeste do país, “[…] regra geral, a bibliografia brasileira a esses respeitos ainda se encontra bastante confinada aos estreitos limites geográficos das regiões Sul e Sudeste - sobretudo do Sudeste” (DIAS, 2020DIAS, Cleber (org.). Depois da Avenida Central: cultura, lazer e esportes nos sertões do Brasil. Rio de Janeiro: Jaguatirica, 2020., p.11).

No geral, a historiografia baiana sobre diversos temas limitou-se, durante anos, a Salvador (FREITAS; PARAÍSO, 2001). Novas investigações, contudo, têm se dedicado à compreensão da história do esporte na Bahia por meio de lentes interioranas2 2 Conferir outras pesquisas baianas que tratam da temática em Nunes e Ribeiro (2020, p. 3). (SANTOS, 2020SANTOS, Henrique Sena dos. Futebol no interior da Bahia, 1920 - 1940. In: DIAS, Cleber (org.). Depois da Avenida Central: cultura, lazer e esportes nos sertões do Brasil. Rio de Janeiro: Jaguatirica, 2020. p. 153-196.; NUNES; RIBEIRO, 2020).

Tais estudos revelam que, no primeiro quartil do século XX, o país experimentava esforços relativos ao aprimoramento social, orientado por ideias de modernização e civilização da população em diferentes dimensões da vida quotidiana. O que compreendia inclusive a consolidação de práticas de lazer consideradas mais condizentes com aqueles ideais (AMARAL; DIAS, 2017AMARAL, Daniel Venâncio de Oliveira; DIAS, Cleber. Nos trilhos do lazer: entretenimento urbano e mercado de diversões em Divinópolis, Minas Gerais, 1890-1920. Revista de História Regional, v. 22, p. 237-261, 2017.; MELO, 2010MELO, Vitor Andrade de. Os sports e as cidades brasileiras: transição dos séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: Apicuri, 2010.).

Este estudo atende à provocação acadêmica do pesquisador Henrique Sena dos Santos, que deu o “pontapé inicial” com o chamado para que outros “continua[ssem] o jogo” (2020, p. 192) de tais investigações pelo interior da Bahia. Portanto pretende-se, neste certame, analisar o que ocorreu na cidade de Ilhéus, antes, durante e posteriormente ao “Torneio Desportivo Intermunicipal de Foot-ball”, realizado para angariar fundos em prol do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB).

2 METODOLOGIA

A pesquisa baseia-se em fontes primárias, pois “[…] o historiador deve sempre atentar, portanto, para o modo através do qual se apresenta o conteúdo histórico que pretende examinar, quer se trate de uma simples informação, quer se trate de idéias” (CARDOSO; VAINFAS, 1997CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: CAMPUS, 1997., p. 539). Este modelo de pesquisa inclina-se sobre as narrativas das fontes históricas, aqui constituídas pelo jornal local Correio de Ilhéus (BIRREL, 2011BIRREL, Stephen. Abordando o Monte Everest: da intertextualidade e do passado como narrativa. Recorde, v. 4, n. 2, 2011.; PHILLIPS, 2001PHILLIPS, Murray. G. Deconstructing sport history: the postmodern challenge. Journal of Sport History, v. 28, n. 3, p. 327 - 343, 2001.). Para sua análise as seguintes recomendações de Luca (2008)LUCA, Tânia de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.) Fontes históricas. 2. ed. São Paulo, Contexto, 2008. p. 111-153. foram consideradas: a observância à materialidade dos impressos nos aspetos físicos e visuais; seu caráter serial (1921 a 1930)3 3 No acervo, não constam outros anos. ; a percepção dos intentos sociais que esse meio de comunicação pretendia atingir; a identidade do seu público-alvo; a caracterização do grupo responsável pela publicação e seus principais colaboradores, entre outros aspectos.

Nesse sentido, reconhece-se o jornal, conforme assinalou Darnton (1996DARNTON, Robert. Introdução. In: ROCHE, Daniel; DARNTON, Robert (org.) Revolução impressa: a imprensa na França (1775-1800). São Paulo: EDUSP, 1996. p. 15., p. 15), como um elemento “ingrediente do acontecimento”, ou seja, não como mero registro dos eventos do cotidiano, mas como instrumento que busca moldar a percepção e condicionar as ações e decisões de seus leitores, interferindo assim na construção desse cotidiano, que alega apenas registrar, de forma pretensamente imparcial. Cumpre reconhecer por isso que o Correio de Ilhéus foi fundado em 24 de setembro de 1921, pelo representante do Partido Republicano Democrata local, o Coronel Antônio Pessoa da Costa e Silva. O periódico tinha o próprio Coronel como diretor e dois de seus filhos como redatores (RIBEIRO, 2008RIBEIRO, André Luiz Rosa. Urbanização, poder e práticas relativas à morte no sul da Bahia, 1880 - 1950. Tese (Doutorado em História) - Programa de Pós- Graduação em História, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008.; 2017RIBEIRO, André Luiz Rosa. In Memorian: urbanismo, literatura e morte. Ilhéus: Editus, 2017.; RIBEIRO, 2015RIBEIRO, Oslan Costa. Uma cidade no país do carnaval: política e cultura nos festejos carnavalescos em Ilhéus - Bahia (1922-1934). Revista Labirinto, v. 22, p. 400 - 415, 2015.). Assim, o Correio de Ilhéus ressoava os interesses das classes dominantes da cidade, personificadas pelos políticos ligados ao Coronel Pessoa e ao partido Republicano Democrata local.

As pautas e posturas adotadas pelo periódico alinharam-se, portanto, desde sempre aos interesses desses sujeitos e a seus projetos. Talvez por isso mesmo, observa-se que, inicialmente, não havia uma estruturação das notícias relacionadas ao setor esportivo no periódico, sendo comuns notas soltas, sem regularidade definida pela temática em si, mas apenas por sua adesão às expectativas dos proprietários. Somente no final dos anos 1920 o jornal ganhou uma coluna própria e organizada para esse fim, intitulada “Correio Esportivo”, certamente motivada pelo aumento do interesse do público pelo tema, estimulada pelo jornal, por seu caráter de aprimoramento dos hábitos sociais, como veremos adiante.

A pesquisa toma como marco temporal o ano de 1921, quando ocorre o primeiro torneio intermunicipal de futebol, mas avalia e pontua os desdobramentos desse evento nos anos subsequentes, sempre tomando por base o aludido Correio de Ilhéus, cuja coleção alcança 1930, e é o único jornal publicado na cidade nesse período investigado disponível em série para consulta no Centro de Documentação e Memória Regional da Universidade Estadual de Santa Cruz (CEDOC/UESC).

Identificadas as matérias de interesse, foram consideradas as palavras-chave “torneio”, “futebol”, “esporte”, “IGHB”, “lazer” e “sociabilidade” no periódico, dentro do recorte temporal da pesquisa. Afora a ocorrência dos vocábulos, os tópicos que tinham relação com a pesquisa foram fotografados e cadastrados para elaborar sínteses das informações em um banco de dados, contendo número da edição, data, ano e dia de publicação.

3 ILHÉUS E A EXPECTATIVA CIVILIZATÓRIA

Em pesquisa produzida na região cacaueira, romantizada por Adonias Filho (1976)ADONIAS FILHO. Sul da Bahia: cacau (uma civilização regional). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976. como “Civilização do Cacau”, Freitas e Paraíso (2001)FREITAS, Antonio Fernando Guerreiro de; PARAÍSO, Maria Hilda Barqueiro Caminhos ao encontro do mundo: a capitania, os frutos de ouro e a princesa do sul - Ilhéus, 1534 - 1940. Ilhéus: Editus, 2001., bem como Garcez e Freitas (1975)GARCEZ, Angelina Nobre e Rolin; FREITAS, Antonio Fernando Guerreiro de Diagnóstico socioeconômico da região cacaueira: história econômica e social. Rio de Janeiro: Carto-Gráfica / Cruzeiro do Sul, 1975. v. 8, apresentam a realidade vivida na cidade, entre 1890 e 1920, quando exibia um cenário de “[...] fenômenos de todos os tipos ‒ demográficos, sociais, políticos e culturais ‒ que fizeram o espaço regional passar a ter reconhecimento e ser objeto de todo tipo de curiosidade e questionamentos” (FREITAS; PARAÍSO, 2001, p. 99). Essa afirmativa acompanha Adonias Filho (1976ADONIAS FILHO. Sul da Bahia: cacau (uma civilização regional). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976., p. 93) ao sustentar que Ilhéus “[...] é tão outra, em consequência do processo sociocultural de mudanças, que uma civilização regional já se mostra de corpo inteiro”.

Garcez e Freitas (1975GARCEZ, Angelina Nobre e Rolin; FREITAS, Antonio Fernando Guerreiro de Diagnóstico socioeconômico da região cacaueira: história econômica e social. Rio de Janeiro: Carto-Gráfica / Cruzeiro do Sul, 1975. v. 8, p. 18) destacam o crescimento econômico, assentado na expansão da cacauicultura, salientando que: “As arrecadações do Estado, que na última década do século haviam alcançado um total de 88.973:629$588, de 1900 a 1909, sobem para 103.376:384$979 e na década seguinte atingem um total de 209.093:206$812” (lê-se contos de réis).

Esse crescimento atinge 1,51% na primeira década do século XX e expande para 7,2% no decênio subsequente (GARCEZ; FREITAS, 1975). Nos anos 1920, o povoamento tinha telégrafo (1876), iluminação pública a querosene (1889), imprensa (1901), abastecimento de água canalizada (1911), sistema de esgoto (1912), operação do porto que, em 1910, dispunha de 150 metros de cais e, em 1914, fez o primeiro embarque de cacau para Salvador (antes as sacas eram transportadas em alvarengas da baía do Pontal aos navios ancorados na frente da cidade), ferrovia com início do tráfego provisório em 1910 e sua inauguração em 1913, assinatura do contrato para fornecimento de eletricidade (1911), serviço de telefone (1915), iluminação pública elétrica (1916), Banco do Brasil (1917)4 4 A agência de Ilhéus foi a décima nona no Brasil, antes mesmo de abrir em algumas capitais (MACÊDO; FREITAS, 2001). e Agência Postal (1917) (CAMPOS, 2006CAMPOS, João da Silva. Crônicas da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. 3 ed. Ilhéus: Editus, 2006.; RIBEIRO, 2008RIBEIRO, André Luiz Rosa. Urbanização, poder e práticas relativas à morte no sul da Bahia, 1880 - 1950. Tese (Doutorado em História) - Programa de Pós- Graduação em História, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008.; 2017RIBEIRO, André Luiz Rosa. In Memorian: urbanismo, literatura e morte. Ilhéus: Editus, 2017.; SANTOS, 2016SANTOS, Flávio Gonçalves dos. A Baía do Pontal - Ilhéus: relações do porto com a cidade (1911-1971). Revista Crítica Histórica, v. 7, n. 13, p. 1-19, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.28998/rchvl7n13.2016.0002. Acesso em: 28 mar. 2021.
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).

No caso da ferrovia, mesmo não ligando a região a lugar nenhum - conectava Ilhéus ao seu entorno com o propósito de auxiliar o escoamento da produção cacaueira até o porto -, teve certa importância no cenário social, haja vista que os funcionários e engenheiros eram ingleses, o que oportunizou o contato da sociedade ilheense com os hábitos de outro país (CAMPOS, 2006CAMPOS, João da Silva. Crônicas da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. 3 ed. Ilhéus: Editus, 2006.) e sua expansão local. Assim, como apontam pesquisas realizadas em outras cidades no Brasil (DIAS, 2013DIAS, Cleber. Esporte e cidade: balanços e perspectivas. Revista Tempo, v. 17, n. 34, jan./jun., p. 33-44, 2013. Disponível em: https://www.historia.uff.br/tempo/site/wp-content/uploads/2013/06/v17n34a04.pdf. Acesso em: 20 maio 2016.
https://www.historia.uff.br/tempo/site/w...
; LEITE; ROCHA JUNIOR; SANTOS, 2010LEITE, Rinaldo Cesar Nascimento; ROCHA JUNIOR, Coriolano Pereira da; SANTOS, Henrique Sena dos. Esporte, cidade e modernidade: Salvador. In: MELO, Vitor de Andrade (org.). Os sports e as cidades brasileiras: transição dos séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: Apicuri, 2010. p. 213-240.; ROCHA JUNIOR, 2013ROCHA JUNIOR, Coriolano Pereira da. Esporte e modernidade no Rio de Janeiro e Salvador: um estudo comparado. Podium, v. 2, n. 1, p. 99-116, 2013.), disseminou-se o interesse por esportes e atividades em tempo livre.

Mas foi pelo porto da baía do Pontal que Ilhéus se conectou à dita modernidade: “Concretamente ele abriu Ilhéus para o mundo, tornando a cidade mais cosmopolita e integrada aos grandes fluxos do capitalismo mundial” (SANTOS, 2016SANTOS, Flávio Gonçalves dos. A Baía do Pontal - Ilhéus: relações do porto com a cidade (1911-1971). Revista Crítica Histórica, v. 7, n. 13, p. 1-19, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.28998/rchvl7n13.2016.0002. Acesso em: 28 mar. 2021.
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, p. 13). O que propiciou, pelo menos para parte da sociedade, vivenciar “[...] aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor” (BERMAN, 1986BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1986., p. 15), tendo o porto inaugurado a possibilidade de assimilar atividades culturais atreladas ao que ocorria na Europa - modelo civilizacional naquele momento - e a aceleração e exploração dos sentidos.

Aqueles que conhecem Ilhéus e a região da “Civilização do Cacau” na contemporaneidade terão dificuldade para depreender a altivez que outorgava “[...] a Ilhéus ares cosmopolita [...]” (SANTOS, 2016SANTOS, Flávio Gonçalves dos. A Baía do Pontal - Ilhéus: relações do porto com a cidade (1911-1971). Revista Crítica Histórica, v. 7, n. 13, p. 1-19, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.28998/rchvl7n13.2016.0002. Acesso em: 28 mar. 2021.
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, p. 13), no momento em que ocorreu o torneio futebolístico intermunicipal. Naquele período, a tão proclamada modernidade pretendida tinha como alicerce a crescente produção e valorização da cacauicultura no mercado internacional, e, a partir da segunda metade do século XIX, esse se tornou o caminho da Bahia para superar a crise econômica do estado5 5 Em virtude de não ter modernizado seu sistema produtivo, comercial e viário, além da seca alongada, encolhimento do mercado internacional e desgaste do solo nos locais de produção da cana-de-açúcar e do algodão no Recôncavo e Norte Baiano, o que gerou uma descapitalização destas zonas e a estagnação do mercado para sustentação financeira (FREITAS; PARAÍSO, 2001). , consolidando Ilhéus como uma saída para conservação do modelo de exportação da produção primária extensiva que capitalizou os excedentes da mão de obra advinda do norte da Bahia e de Sergipe (CAMPOS, 2006CAMPOS, João da Silva. Crônicas da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. 3 ed. Ilhéus: Editus, 2006.; FREITAS; PARAÍSO, 2001; GARCEZ; FREITAS, 1975; MAHONY, 2007MAHONY, Mary Ann. Um passado para justificar o presente: memória coletiva, representação histórica e dominação política na região cacaueira da Bahia. Cadernos de Ciências Humanas - Especiaria, v. 10, n.18, p. 737-793, 2007.; RIBEIRO, 2008RIBEIRO, André Luiz Rosa. Urbanização, poder e práticas relativas à morte no sul da Bahia, 1880 - 1950. Tese (Doutorado em História) - Programa de Pós- Graduação em História, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008., 2017RIBEIRO, André Luiz Rosa. In Memorian: urbanismo, literatura e morte. Ilhéus: Editus, 2017.).

Ilhéus se transformou rapidamente em centro econômico e político da “Civilização do Cacau” (RIBEIRO, 2008RIBEIRO, André Luiz Rosa. Urbanização, poder e práticas relativas à morte no sul da Bahia, 1880 - 1950. Tese (Doutorado em História) - Programa de Pós- Graduação em História, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008., 2017RIBEIRO, André Luiz Rosa. In Memorian: urbanismo, literatura e morte. Ilhéus: Editus, 2017.). Ali chegava e saía de tudo, incluindo a exportação de cacau e mercadorias que iriam alimentar e dimensionar a tal dita civilização e sua cultura, fortalecendo a burguesia cacaueira. Desta forma, a região, originalmente sem expressão no cenário econômico estadual, passou a ter com o cacau “destaque e liderança”; pois, a partir de 1904, “[...] suplantou o valor das exportações de fumo, assumiu a condição de principal produto baiano de exportação, posição que manteve até os anos setenta do século XX” (FREITAS; PARAÍSO, 2001, p. 100).

A maré, neste cenário, banhou Ilhéus na condição de maior fonte de recursos tributáveis do estado desde o primeiro decênio do século XX. Tal realidade ocasionou benefícios visíveis à cidade; mas, ao mesmo tempo, demandava serviços de lazer e educação, ainda que essas expectativas tivessem altos e baixos econômicos, em decorrência das duas grandes guerras mundiais (1914 a 1918 e 1939 a 1945) e da depressão de 1929 (FREITAS; PARAÍSO, 2001). De resto, é pertinente pontuar que a maior quantidade “[...] dos capitais excedentes foi reinvestida em outras cidades, principalmente o Rio de Janeiro” (RIBEIRO, 2017RIBEIRO, André Luiz Rosa. In Memorian: urbanismo, literatura e morte. Ilhéus: Editus, 2017., p. 64).

Na esteira dessas mudanças, as atividades sociais e desportivas começaram a se fazer presentes, como o bilhar (1898), o futebol (1910), o cinema (1910)6 6 Inaugurado Cinema Palácio. Entre 1921 e 1930, a sede contou com seis salas: Vesúvio, Central, Pery, São João, Ideal e Elite. , o teatro (as peças eram encenadas nos cinemas), passeios de recreio a vela (1921), boliche (1923), remo7 7 No ano de 1930, já havia quatro clubes de remo: Satellite, States Sport Club, Associação Athlectica de Ilhéos e Associação Náutica do Pontal, além da coluna "De Remo" no periódico Correio de Ilhéus. e natação (1922) (A FUNDAÇÃO..., 1925A FUNDAÇÃO do clube Ilheopolis de Natação e Regatas. Correio de Ilhéos, n. 602, p. 2, 2 jun. 1925., p. 2; ADONIAS FILHO, 1976ADONIAS FILHO. Sul da Bahia: cacau (uma civilização regional). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976.; CAMPOS, 2006CAMPOS, João da Silva. Crônicas da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. 3 ed. Ilhéus: Editus, 2006.; CLUBE ..., 1922CLUBE Natação e Regatas São Jorge. Correio de Ilhéos, n. 141, p. 2, 9 maio 1922., p. 2; ILHÉOS..., 1923ILHÉOS social, Correio de Ilhéos, n. 247, p. 2, 23 jan. 1923., p. 2; NO PONTAL..., 1921NO PONTAL um desporto agradável. Correio de Ilhéos, n. 19, p. 1, 15 out. 1921., p. 1).

Não surpreende, portanto, que, no decurso do decênio de 1920, além das transformações urbanísticas, inspiradas nas reformas ocorridas em Salvador e Rio de Janeiro (FREITAS; PARAÍSO, 2001; GARCEZ; FREITAS, 1975; LEITE; ROCHA JUNIOR; SANTOS, 2010LEITE, Rinaldo Cesar Nascimento; ROCHA JUNIOR, Coriolano Pereira da; SANTOS, Henrique Sena dos. Esporte, cidade e modernidade: Salvador. In: MELO, Vitor de Andrade (org.). Os sports e as cidades brasileiras: transição dos séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: Apicuri, 2010. p. 213-240.; MAHONY, 2007MAHONY, Mary Ann. Um passado para justificar o presente: memória coletiva, representação histórica e dominação política na região cacaueira da Bahia. Cadernos de Ciências Humanas - Especiaria, v. 10, n.18, p. 737-793, 2007.; RIBEIRO, 2008RIBEIRO, André Luiz Rosa. Urbanização, poder e práticas relativas à morte no sul da Bahia, 1880 - 1950. Tese (Doutorado em História) - Programa de Pós- Graduação em História, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008., 2017RIBEIRO, André Luiz Rosa. In Memorian: urbanismo, literatura e morte. Ilhéus: Editus, 2017.), as novas práticas de lazer tenham dado origem a espaços a elas destinados e a recentes entidades, como as equipes futebolísticas e seus estádios, posicionando Ilhéus no dignificante e seleto quadro (Ilhéus, Jequié, Nazaré, Juazeiro, Feira de Santana e Itabuna) das cidades baianas interioranas que tinham praças esportivas concluídas ou em construção (AS NOVAS..., 1926AS NOVAS ruas da cidade - A praça Moniz já está ligada á Avenida Alvares Cabral. Correio de Ilhéos, n. 774, p. 1, 20 jul. 1926.; FREITAS; PARAÍSO, 2001; OLIVEIRA, 2016OLIVEIRA, Clovis Ramaiana Moraes. Canções da cidade amanhecente: Urbanização, Memória e Silenciamentos em Feira de Santana, 1920-1960. Salvador: EDUFBA, 2016.; SANTOS, 2020SANTOS, Henrique Sena dos. Futebol no interior da Bahia, 1920 - 1940. In: DIAS, Cleber (org.). Depois da Avenida Central: cultura, lazer e esportes nos sertões do Brasil. Rio de Janeiro: Jaguatirica, 2020. p. 153-196.). Não por acaso o Correio de Ilhéus exaltava a construção do estádio local, assinalando que representava e contribuía à “[…] grandeza de Ilhéus […] um complemento imediato do progresso moral, […] a efetivação de uma grande obra de iniciativa privada […] para os jogos de Foot-Ball” (O ESTÁDIO…, 1926O ESTADIO do Satéllite. Correio de Ilhéos, n. 797, p. 2, 14 set. 1926., p. 2).

Não obstante, como todo observador da história, deve-se fazer uma análise contextual do cenário no período. Em Ilhéus, ocorria uma disputa pelo comando político entre os aristocratas Coronéis do cacau, já estabelecidos, e um recente grupo nomeado de Novos-ricos, a partir de 1894. Os Novos-ricos disputaram e ganharam a intendência, mas não levaram, nas eleições durante o período de 1894 a 1912, pois o Coronel Antônio Pessoa da Costa e Silva, sistematicamente, era eleito junto com vários conselheiros municipais. Entretanto o senado estadual tinha o benefício de diplomar os preferidos nos ofícios do executivo e legislativo estaduais e municipais. Assim, apesar da disputa entre os aristocratas Coronéis do cacau e Novos-ricos continuamente eleger o círculo do Coronel Pessoa, os pessoístas eram descartados (RIBEIRO, 2008RIBEIRO, André Luiz Rosa. Urbanização, poder e práticas relativas à morte no sul da Bahia, 1880 - 1950. Tese (Doutorado em História) - Programa de Pós- Graduação em História, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008.; 2017RIBEIRO, André Luiz Rosa. In Memorian: urbanismo, literatura e morte. Ilhéus: Editus, 2017.). Este último grupo político, ao assumir a intendência (1912/1915) com o Coronel Pessoa, procurou imprimir um processo de modernização urbana, acompanhando o que ocorria na capital, com o apoio de seu correligionário J. J. Seabra, que governou o estado por três mandatos, entre 1912 e 1924 (CAMPOS, 2006CAMPOS, João da Silva. Crônicas da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. 3 ed. Ilhéus: Editus, 2006.; MAHONY, 2007MAHONY, Mary Ann. Um passado para justificar o presente: memória coletiva, representação histórica e dominação política na região cacaueira da Bahia. Cadernos de Ciências Humanas - Especiaria, v. 10, n.18, p. 737-793, 2007.).

Para demarcar espaço do seu grupo político, o Coronel Pessoa encomendou ao escritor Francisco Borges de Barros a redação de um livro que retratasse a urbe aos olhos dos Novos-ricos com “[...] a história das lutas dos colonizadores portugueses contra os índios em Ilhéus e as dificuldades em estabelecer uma economia de vulto na região na época colonial” (MAHONY, 2007MAHONY, Mary Ann. Um passado para justificar o presente: memória coletiva, representação histórica e dominação política na região cacaueira da Bahia. Cadernos de Ciências Humanas - Especiaria, v. 10, n.18, p. 737-793, 2007., p. 756). Com destaque a este recente grupo, enfatizando que foram eles que abriram o caminho à cacauicultura na região, local dominado até então pelos autóctones. Barros ressaltou na obra, quase que exclusivamente, as conquistas gloriosas dos fazendeiros desbravadores - leiam-se Novos-ricos - que permitiram o surto de crescimento e modernidade de Ilhéus a partir da cacauicultura (CAMPOS, 2006CAMPOS, João da Silva. Crônicas da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. 3 ed. Ilhéus: Editus, 2006.; MAHONY, 2007MAHONY, Mary Ann. Um passado para justificar o presente: memória coletiva, representação histórica e dominação política na região cacaueira da Bahia. Cadernos de Ciências Humanas - Especiaria, v. 10, n.18, p. 737-793, 2007.).

Vale ressaltar que o jornal Correio de Ilhéus, órgão oficial dos pessoístas, de propriedade do Coronel Pessoa do partido Republicano Democrata, tinha como redatores seus filhos Astor e Mário Pessoa, este último foi intendente em Ilhéus de 1924 a 1928. Esse grupo permaneceu no comando político na cidade de 1924 a 1930, quando assumiu a intendência o engenheiro Durval Olivieri, genro do Coronel Pessoa e, a partir de 1930 até 1937, outro coligado, Eusínio Gaston Lavigne; e, na sequência, Mário Pessoa da Costa e Silva em seu segundo mandato (CAMPOS, 2006CAMPOS, João da Silva. Crônicas da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. 3 ed. Ilhéus: Editus, 2006.; RIBEIRO, 2015RIBEIRO, Oslan Costa. Uma cidade no país do carnaval: política e cultura nos festejos carnavalescos em Ilhéus - Bahia (1922-1934). Revista Labirinto, v. 22, p. 400 - 415, 2015.; RIBEIRO, 2008RIBEIRO, André Luiz Rosa. Urbanização, poder e práticas relativas à morte no sul da Bahia, 1880 - 1950. Tese (Doutorado em História) - Programa de Pós- Graduação em História, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008.; 2017RIBEIRO, André Luiz Rosa. In Memorian: urbanismo, literatura e morte. Ilhéus: Editus, 2017.; SOUB, 2013SOUB, José Nazal Pacheco. Minha Ilhéus: fotografias do século XX e um pouco de história. 3. ed. Itabuna, BA: Via Litterarum, 2013.).

O estádio inaugurado em 1928 recebeu o nome do clube ao qual pertencia: Stadium do Satellite. Posteriormente, foi adquirido pelo município, na segunda gestão de Mário Pessoa (1938/1943), já sob o regime do Estado Novo, quando recebeu um palco mais moderno com o nome deste prefeito, e que, até a atualidade, serve aos jogos do campeonato baiano. Na inauguração em 1940, o Estádio Mário Pessoa era considerado o maior no eixo norte e nordeste, além de ser o segundo maior do país, perdendo para o Pacaembu em São Paulo (SANTOS, 2020SANTOS, Henrique Sena dos. Futebol no interior da Bahia, 1920 - 1940. In: DIAS, Cleber (org.). Depois da Avenida Central: cultura, lazer e esportes nos sertões do Brasil. Rio de Janeiro: Jaguatirica, 2020. p. 153-196.; SOUB, 2013SOUB, José Nazal Pacheco. Minha Ilhéus: fotografias do século XX e um pouco de história. 3. ed. Itabuna, BA: Via Litterarum, 2013.).

E é nesta maré que banhou Ilhéus que navegaremos para analisar os acontecimentos do Torneio Intermunicipal e sua relação com a construção do IGHB a seguir.

4 O TORNEIO DESPORTIVO INTERMUNICIPAL DE FOOT-BALL

No início do século XX, o ápice das matérias jornalísticas na capital sobre eventos esportivos em cidades interioranas ocorreu em 1921, com o Torneio Intermunicipal de Futebol, provavelmente o primeiro evento desse gênero realizado na Bahia. Organizado pelo desportista identificado como Bernardino de Souza, objetivando que as cidades interioranas participassem do processo de consolidação do estado da Bahia (SANTOS, 2020SANTOS, Henrique Sena dos. Futebol no interior da Bahia, 1920 - 1940. In: DIAS, Cleber (org.). Depois da Avenida Central: cultura, lazer e esportes nos sertões do Brasil. Rio de Janeiro: Jaguatirica, 2020. p. 153-196.). Além de desportista, Bernardino de Souza, residente em Salvador, era advogado, geógrafo, atuou como deputado estadual e primeiro secretário perpétuo do IGHB, sendo pensador influente da geografia baiana no primeiro quartil do decênio XX (LEITE, 2011LEITE, Rinaldo Cesar Nascimento. Memória e identidade no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (1894-1923): origens da Casa da Bahia e celebração do 2 de julho. Patrimônio e Memória, UNESP - FCLAs - CEDAP, v. 7, n. 1, p. 54-77, 2011.; PEREIRA; SOUSA, 2017PEREIRA, Sérgio Nunes; SOUSA, André Nunes de. Bernardino de Souza, um inovador da geografia no Brasil. Terra Brasilis (nova série). Revista da rede brasileira de história da geografia e geografia histórica, v. 1, p. 1-5, 2017.; SOUSA, 2015SOUSA, André Nunes. Percurso historiográfico do campo disciplinar geográfico na Bahia e em São Paulo: Contribuições da Universidade Federal da Bahia e da Universidade de São Paulo. Tese (Doutorado em Geografia), Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2015.; 2017aSOUSA, André Nunes. Bernardino de Souza e o desenvolvimento da Geografia no Brasil. Terra Brasilis (nova série). Revista da rede brasileira de história da geografia e geografia histórica, v. 8, p. 1-19, 2017a., 2017bSOUSA, André Nunes. História da Geografia na Bahia: do Período Regencial à República. Terra Brasilis (nova série). Revista da rede brasileira de história da geografia e geografia histórica, v. 8, p. 1-6, 2017b.).

Pouco antes, em 1920, o governo estadual decidiu participar das comemorações pelo Centenário da Independência, em 1922, celebrações que foram delegadas ao IGHB, que, por sua vez, propôs adiar a maior parte das atividades comemorativas para 1923, fazendo-as coincidir com a Independência da Bahia. Ato contínuo o IGHB, por meio de Bernardino de Souza, iniciou uma campanha pela construção de sua nova sede (SILVA, 2012SILVA, Aldo José Morais. Instituto Geográfico e Histórico da Bahia: Origem e estratégias de consolidação institucional, 1894-1930. Feira de Santana: UEFS Editora, 2012.). Tal construção, que veio de fato a ser inaugurada em 2 de julho de 1923, foi orçada em quase 600:000$000 (lê-se seiscentos contos de réis), e contou com 232:000$000 em contribuições de governos estaduais e federal. O restante das doações chegou dos mais diversificados grupos sociais da Bahia (SILVA, 2012SILVA, Aldo José Morais. Instituto Geográfico e Histórico da Bahia: Origem e estratégias de consolidação institucional, 1894-1930. Feira de Santana: UEFS Editora, 2012., p. 179), aí incluída a população de Ilhéus.

A primeira alusão ao torneio no Correio de Ilhéus deu-se em outubro de 1921, com o convite do IGHB e da “Associação Desportiva Paraguassu” a todas as cidades prósperas do estado para que promovessem eventos destinados a arrecadar fundos para a nova sede (CONVITE..., 1921CONVITE. Correio de Ilhéos, n. 19, p. 2, 15 out. 1921., p. 2), pedido prontamente atendido “[…] em favor de uma idea alevantada, de um fim cívico e patriótico” (ALEGUÁ!..., 1921ALEGUÁ! Aleguá! Ilhéus campeão intermunicipal de futebol. Correio de Ilhéos, n. 65, p. 1, 12 dez. 1921., p. 1).

Foi o sportman Valeriano Mello quem convocou a sociedade de Ilhéus para discutir as medidas necessárias ao atendimento do convite (TORNEIO..., 1921TORNEIO Intermunicipal: a bandeira da embaixada de Ilhéos. Correio de Ilhéos, n. 61, p. 2, 6 dez. 1921., p.1). Mello, um contador do Banco do Brasil da cidade, participou da comissão que escolheu os jogadores que atuaram no torneio, além de ser atleta titular e capitão da embaixada (INTERMUNICIPAL, 1921INTERMUNICIPAL. Correio de Ilhéos, n. 22, p. 2, 19 out. 1921., p. 2; MACÊDO; FREITAS, 2001MACÊDO, Janete Ruiz; FREITAS, Antonio Fernando Guerreiro de. Sá Barreto. Ilhéus: Editus, 2001. Ed. Preservação da memória regional.).

O processo de formação do grupo envolveu a seleção dos jogadores; pois, nesse decênio, a urbe chegou a ter, aproximadamente, mais de 36 clubes esportivos, a maioria de futebol, apesar de, no ano de 1921, termos detectado em torno de seis clubes ativos. O que sugere a importância do torneio Intermunicipal para deflagrar a criação de novas associações esportivas, incluindo as de futebol, revitalizando o esporte de modo geral na cidade (BARROSO ..., 1921BARROSO Foot-ball Club - Ilhéos Progride. Correio de Ilhéos, n. 52, p. 2, 25 nov. 1921.; CLUB ..., 1921CLUB Rio Branco - Vae ser reorganisado este valente campeão. Correio de Ilhéos, n. 48, p. 2, 21 nov. 1921.; CLUBE ..., 1922CLUBE Natação e Regatas São Jorge. Correio de Ilhéos, n. 141, p. 2, 9 maio 1922.; DESPORTOS ..., 1922DESPORTOS. Correio de Ilhéos, n. 129, p. 2, 8 abr. 1922.; ILHÉOS ..., 1922aILHÉOS Sport Club. Correio de Ilhéos, n. 84, p. 2, 3 jan. 1922a.; LIGA ..., 1921LIGA ilheense de desportes terrestres. Correio de Ilhéos, n. 56, p. 1, 30 nov. 1921.; NO CAMPO ..., 1922NO CAMPO de Copacabana. Correio de Ilhéos, n. 86, p. 1, 5 jan. 1922.; O PASSEIO ..., 1922O PASSEIO da Euterpe a Itabuna. Correio de Ilhéos, n. 126, p. 1, 16 abr. 1922.; REPÚBLICA ..., 1921REPUBLICA Desportiva. Correio de Ilhéos, n. 76, p. 2, 24 dez. 1921.; RIO ..., 1922RIO Branco Foot-ball Club. Correio de Ilhéos, n. 94, p. 2, 16 jan. 1922.; SUL ..., 1921SUL America Sport Club. Correio de Ilhéos, n. 48, p. 2, 21 nov. 1921.).

Os administradores do Correio de Ilhéus contribuíram para a consolidação do time. Durante a seleção dos players, os redatores promoveram um concurso (CONCURSO ..., 1921CONCURSO do Correio. Correio de Ilhéos, n. 25, p. 2, 22 out. 1921., p. 2), pelo jornal (Figura 2), por meio de um cupom para eleição dos jogadores (O NOSSO..., 1921O NOSSO concurso: a sessão de ontem. Correio de Ilhéos, n. 24, p. 2, 21 out. 1921., p. 2), um recurso empregado em outras regiões do país (MOREL; COTES, 2009MOREL, Marcia; COTES, Marcial. Análise e formatação do matutino esportivo Jornal dos Sports no período de 1931 a 1945. CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 16; CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 3. Anais [...]. Salvador: CBCE 2009.) como estratégia para mobilizar os moradores legentes da cidade. Eram ações articuladas que, como aponta Silva (2012SILVA, Aldo José Morais. Instituto Geográfico e Histórico da Bahia: Origem e estratégias de consolidação institucional, 1894-1930. Feira de Santana: UEFS Editora, 2012., p. 249), evidenciam o papel da imprensa, com a “[…] relativa constância da divulgação das atividades […]” que possibilitaram “[…] amplo apoio da sociedade à proposta de construção da nova sede”.

Figura 2
Cupom para eleger os players.

Não foi possível identificar se houve colaboração direta da Intendência ou do Conselho Municipal no esforço de levar o seu time à Bahia8 8 Moradores e imprensa do interior baiano, nesse período (e os mais antigos até a atualidade), se referiam à cidade de Salvador como “Bahia”. , mas esse intento foi alcançado. A embaixada, já em Salvador, foi recebida por capitalistas da “colônia de Ilhéus na Bahia” e participou de festividades desenvolvidas pelos soteropolitanos (A EMBAIXADA..., 1921A EMBAIXADA e o quadro. Correio de Ilhéos, n. 63, p. 1, 9 dez. 1921., p. 1).

O torneio, organizado pela Associação Desportiva Paraguassu, da cidade de Cachoeira, ocorreu no Stadium da Graça, em 11 de dezembro de 1921, inicialmente planejado9 9 Os periódicos Correio de Ilhéus e A Flor, informam que havia faltado “ao certame, três cidades” (O TORNEIO..., 1921, p. 2), identifica-se a equipe de Itaparica chegando atrasada, mas conseguindo participar e as ausências dos times de Juazeiro e Senhor do Bonfim. com representações de doze cidades: Bonfim, Cachoeira, Castro Alves, Feira de Santana, Ilhéus, Itabuna, Itaparica, Juazeiro, Muritiba, Santo Amaro, São Felix e São Gonçalo dos Campos (SANTOS, 2020SANTOS, Henrique Sena dos. Futebol no interior da Bahia, 1920 - 1940. In: DIAS, Cleber (org.). Depois da Avenida Central: cultura, lazer e esportes nos sertões do Brasil. Rio de Janeiro: Jaguatirica, 2020. p. 153-196.). Segundo o autor, o Stadium em questão foi a “[...] principal praça esportiva da Bahia [...]” (SANTOS, 2012SANTOS, Henrique Sena dos. No Campo da Graça: um estádio e algumas sociabilidades no futebol soteropolitano nos anos 1920. ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA, 6, 2012, Ilhéus. Anais [...]. Ilhéus: ANPUH/BA, 2012. Disponível em: http://www.viencontroanpuhba.ufba.br/modulos/submissao/upload/43114.pdf. Acesso em: 15 out. 2020.
http://www.viencontroanpuhba.ufba.br/mod...
, p. 2), constituindo-se como ambiência de eventos sociais, esportivos, festivais, olimpíadas escolares e campeonato de futebol até 1951, local de simbolismo ao evento, e que, de resto, contribuíam para pôr a sociedade baiana em sintonia com práticas sociais, entre estas, as esportivas, tidas como benéficas ao aprimoramento civilizacional.

Na sua primeira pugna, os ilheenses venceram o município de Santo Amaro por 2 x 0. Na sequência, sobrepujaram Cachoeira por um gol e, em seguida, derrotaram Itabuna por 3 x 0. O jornal apontava que: “De vitória em vitória os nossos gloriosos patrícios conquistam a admiração e os aplausos da sociedade baiana [...]” (ALEGUÁ!..., 1921ALEGUÁ! Aleguá! Ilhéus campeão intermunicipal de futebol. Correio de Ilhéos, n. 65, p. 1, 12 dez. 1921., p. 1). Esses resultados qualificaram Ilhéus à final com Feira de Santana, embate noticiado em primeira página pelo Correio de Ilhéus com o anúncio entusiasmado da vitória dos ilheenses.

Ocorre que os redatores do jornal, ou seja, Astor e Mário Pessoa, publicaram a suposta vitória sem levar em consideração as regras do torneio. E, segundo tais regras, o time vencedor teria sido o do município de Feira de Santana (A VITÓRIA, 1921A VITÓRIA. A Flor, Feira de Santana, n. 33, p. 3, 18 dez. 1921., p. 3), isso porque na partida final, com a presença de “[...] uma assistência enorme, seleta e educada [...]”, terminou empatada por conta da anulação de um gol de Ilhéus, em razão de um impedimento (ALEGUÁ!..., 1921ALEGUÁ! Aleguá! Ilhéus campeão intermunicipal de futebol. Correio de Ilhéos, n. 65, p. 1, 12 dez. 1921., p. 1). Todo o torneio se desenrolou em um dia e, segundo as regras, um dos critérios de desempate era o saldo de corners pró equipe adversária (somente décadas depois foi adotada a sequência de penalidades ao final das partidas empatadas). Assim, a despeito da vistosa manchete do Correio de Ilhéus anunciando a vitória, ficou “[...] valendo CORNER mareado [a] favor Feira [...]” e a equipe ilheense perdeu a peleja.

Antes do retorno, desgastada pelas partidas do dia anterior (ATHLETICA..., 1921ATHLETICA x Ilhéus. Correio de Ilhéos, n. 70, p. 2, 17 dez. 1921., p. 2), a embaixada de Ilhéus não hesitou em aceitar o convite para participar de um amistoso com o vice-campeão soteropolitano daquele ano, a Associação Atlética, no dia seguinte ao torneio. Essa última contenda foi vencida pelo time da capital, por 3 x 1, mas ficou marcada pela “[...] violência empregada no jogo por parte do time soteropolitano, ainda mais que os jogadores deviam ser condescendentes para os intermunicipais, porque a superioridade estava do seu lado, não se equivaliam”10 10 SEMANA..., 1921, apudSANTOS, 2020. .

Para dar informações sobre o prélio, o Correio de Ilhéus transcreveu notas dos jornais da capital. O Diário da Bahia afirma que um zagueiro ilheense “[…] dá hand na área perigosa […]”, convertido por Todd, mas na sequência João Pinto empata (ILHÉOS ..., 1921ILHÉOS receberá triunfalmente a nossa gloriosa embaixada. Correio de Ilhéos, n. 68, p. 2, 15 dez. 1921., p. 2). A Atlética faz o segundo com Scott, e, a partir daí, os atleticanos iniciam um jogo violento: “Santinho, dá violento ‘foul’ num jogador adversário e o juiz pune a falta advertindo-o”. Na sequência, a meta de Geninho é penetrada por Scott. Em novo ataque dos ilheenses: “Santinho, para impedir que João Pinto chutasse em goal, dá-lhe violento foul”. O jogador ilheense é retirado das quatro linhas “[…] acompanhado por todo o team, e torcedores protestam quando Todd, capitão do quadro local, ordena que Santinho se retire do campo” (ILHÉOS ..., 1921ILHÉOS receberá triunfalmente a nossa gloriosa embaixada. Correio de Ilhéos, n. 68, p. 2, 15 dez. 1921., p. 2).

Colaborando com o relato acima, o Diário de Notícias da Bahia expõe o jogo como desastroso para a Atlética, que contava de grande fama, e segue afirmando que “[…] Depois, [de] um score aberto por um penalty naquelas condições e dois goals conseguidos por um jogador que nos parece já não é mais do club, isto deixou mal a Associação Athletica […]” (ILHÉOS ..., 1921ILHÉOS receberá triunfalmente a nossa gloriosa embaixada. Correio de Ilhéos, n. 68, p. 2, 15 dez. 1921., p. 2). Criticando tanto a maneira como foi marcado o pênalti, bem como a atuação de um jogador que não pertencia mais ao clube, mas foi decisivo para a vitória. As críticas não cessaram, pois chama a atenção o pedido de punição mais rigorosa da Liga para Santinho pela violência. Termina a matéria elogiando a atitude de Todd em retirar Santinho do jogo.

A postura antidesportiva do time da capital não foi uma situação excepcional, em parte por conta da própria incipiência das competições inter-regionais, o que conferia aos poucos eventos desse tipo um caráter de embate entre comunidades, nos quais os brios de representar a terra natal, não raro, se sobrepunham ao espírito esportivo. De fato, Leite, Rocha Junior e Santos (2010) acreditam que as transformações mais significativas no esporte soteropolitano, no sentido de uma prática mais normatizada e, portanto, mais focada nos valores da competição em si, só foram percebidas a partir do decênio de 1920.

De todo modo, este episódio é digno de nota porque o jornal soteropolitano Semana Esportiva apregoava com frequência em suas colunas a suposta superioridade civilizacional e esportiva dos jogadores e times da capital, em relação aos “jecas” do interior (SANTOS, 2020SANTOS, Henrique Sena dos. Futebol no interior da Bahia, 1920 - 1940. In: DIAS, Cleber (org.). Depois da Avenida Central: cultura, lazer e esportes nos sertões do Brasil. Rio de Janeiro: Jaguatirica, 2020. p. 153-196.). A falta de fair play da Atlética, contudo, evidencia que a maior “civilidade” dos soteropolitanos obviamente não extrapolava o limite do mero discurso. Por outro lado, a simples existência dessa pretensão mostra o quanto essa ideia encontrou eco na sociedade de então (ELIAS; DUNNING, 1992ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. Deporte y Ocio: em el proceso de la civilizacion. Madri: Fondo de Cultura Economica, 1992.). Civilizar-se, modernizar-se, tornava-se um requisito para estar em sintonia com aqueles tempos, e era, portanto, um atributo reivindicado.

É de referir que, apesar do propósito formal e inicial daquele tipo de evento ser o de arrecadar fundos para outras instituições (nesse caso o IGHB), esses torneios proporcionavam visibilidade aos atletas, ensejando contratações e contribuindo posteriormente, de alguma forma, para profissionalização da atividade. Dois anos depois da competição de que tratamos, por exemplo, registrou-se uma partida em Salvador que ficou marcada pela atuação de dois ex-atletas de Ilhéus, Mila e Diocléciano, transferidos para o clube soteropolitano Ypiranga (O FOOT-BALL..., 1923O FOOT-BALL na Bahia, o Ypiranga venceu o Vitória - ex-jogadores ilheenses fazendo figura. Correio de Ilhéos, n. 332, p. 2, 16 ago. 1923., p. 2). Essa dinâmica, aliás, não se limitou ao futebol, pois existem registros de remadores que foram atuar por clubes da capital baiana, como Arnaldo Freitas, que retornou já veterano para competir em Ilhéus (CORREIO..., 1930CORREIO Desportivo - De remo - Garganta. Correio de Ilhéos, n. 1355, p. 3, 12 jul. 1930., p. 3).

Vale assinalar que a participação no torneio não foi a única nem a última contribuição de Ilhéus para a construção do IGHB (Figura 3). O Correio de Ilhéus informa-nos sobre doações dos distritos de Ilhéus (CASA..., 1923CASA da Bahia. Correio de Ilhéos, n. 261, p. 1, 27 fev. 1923.), quando da visita à cidade, por cinco dias, do próprio Dr. Bernardino, com o propósito de arrecadar recursos para a conclusão do empreendimento que daria "[...] à Nação inteira uma demonstração de que na Bahia se cultiva o amor pelas cousas do nosso passado [...]”, ocasião em que foi organizado um evento musical, no salão do Cinema Central, com a presença do Intendente, o Coronel Eustáquio de Souza Bastos, para levantar recursos que somaram mais de dez contos de réis (CASA..., 1923CASA da Bahia. Correio de Ilhéos, n. 261, p. 1, 27 fev. 1923., p. 1).

Figura 3
A contribuição de Ilhéus à construção do IGHB.

De fato, a comunidade estava eufórica com as notícias de sua (supostamente vitoriosa) esquadra na capital e iniciou a organização da recepção aos jogadores em seu retorno. O Correio de Ilhéus convocou os familiares dos jogadores, os grupos que propiciaram a participação do time no evento e os entusiastas do futebol, descrevendo as atividades que seriam desenvolvidas quando os atletas desembarcassem no porto (ILHÉOS..., 1921ILHÉOS receberá triunfalmente a nossa gloriosa embaixada. Correio de Ilhéos, n. 68, p. 2, 15 dez. 1921., p. 2), como a entrega de medalhas aos jogadores que atuaram no torneio e no amistoso (OFERECIMENTO..., 1921OFERECIMENTO de medalhas. Correio de Ilhéos, n. 70, p. 1, 17 dez. 1921., p. 1).

5 À GUISA DE CONCLUSÃO

À vista do exposto, e respondendo aos objetivos desta investigação no que concerne à preparação e à participação da equipe ilheense no torneio de 1921 e seus desdobramentos, foi possível perceber que a sociedade de nosso estudo, assim como os demais municípios que participaram do evento, mesclaram diferentes propósitos na sua ida a Salvador. O primeiro e mais formal era a colaboração na arrecadação de fundos para a construção do IGHB, movimento que demonstrava o compromisso de Ilhéus com aquele projeto tido como vital ao estado da Bahia, porque considerado um ícone de civilidade, e que punha a cidade em linha com as demais comunidades que se destacavam nesse intento. Deste modo, percebe-se o interesse da administração pública, dos grandes comerciantes e dos produtores de cacau, mais abastados da urbe, em demonstrar poder político, tanto para Salvador como para o tecido social dominante da econômica do país no período. Haja vista que as reformas urbanas viabilizadas pela cacauicultura possibilitaram à burguesia cacaueira ostentar os atributos de urbanidade e modernidade, atraindo um olhar tanto regional como nacional para Ilhéus e seus representantes políticos.

Além disso, ao engajar-se num campeonato organizado, de um esporte ainda em expansão, importado do Velho Mundo, região tida então como modelo civilizacional a ser seguido, a sociedade ilheense buscava vivenciar e demonstrar, por meio do futebol, que era ela mesma uma expressão do bom êxito da assimilação daquelas práticas civilizatórias. Ou seja, não apenas se estava ajudando a dar concretude a um símbolo geral de civilização do estado (o IGHB), como se buscava demonstrar que a “civilização do cacau” não era um epíteto vazio. O título representava (assim se pretendia) o próprio etos daquela comunidade e, a partir do torneio, percebeu-se a revitalização do esporte na urbe com a criação de clubes e reestruturação daqueles que efetivamente não se encontravam em atividade. Do mesmo modo, é perceptível o esporte articulado com diversas atividades culturais, como chás dançantes, sessões de cinema, festas nas residências dos coronéis, feiras, entre outras.

Não surpreende, portanto, que, no decorrer do decênio de 1920, Ilhéus tenha visto nascer, aproximadamente, 36 instituições desportivas com sede na cidade ou nos seus distritos, que travavam intercâmbio esportivo constante. Entre elas, ainda funcional, podemos citar o Satellite Sport Club, fundado em 1925, idealizador e construtor do primeiro estádio da cidade. Posteriormente, já pertencendo à municipalidade, na década de 1940, foi modernizado e renomeado Estádio Mario Pessoa, onde até a atualidade ocorrem os jogos de futebol.

A análise da narrativa do material jornalístico mostrou ainda que episódios como o torneio intermunicipal serviam para estreitar as interações entre os desportistas do interior e da capital baiana, criando oportunidades para que atletas fossem vistos por outros times e, quiçá, contratados, num momento em que não havia ainda uma dinâmica formal e estruturada de permuta e aquisições de jogadores interclubes, até por conta do caráter amador da maior parte das agremiações. O que os registros analisados evidenciam, portanto, é como essas práticas tiveram origem e como começaram a ganhar forma historicamente.

Adicionalmente, embora não seja o foco do estudo, ao perscrutar as figuras envolvidas em eventos desse tipo, logramos identificar personas que, mesmo não tendo sido alçadas a nenhum panteão do esporte, deram contribuições significativas à prática esportiva, seja por suas ações quotidianas na organização/administração da atividade, seja por sua atuação atlética propriamente dita. Esse é o caso, apenas a título de exemplo, do sportman Valeriano Mello, no quotidiano um simples contador da agência do Banco do Brasil em Ilhéus, mas que teve protagonismo na ida da delegação da cidade a Salvador, atuando tanto na comissão técnica como em campo, onde era titular e capitão da embaixada. Em tempo, foi Valeriano Melo um dos fundadores da primeira associação de natação de Ilhéus, o Club Natação e Regatas São Jorge, em maio de 1922, e, do clube Ilheopolis de Natação e Regatas (1925). Outro nome que emerge nesse cenário é o de Bernardino José de Souza. Nesse caso, porém, menos por seu reconhecimento, já que sua notoriedade ficou assegurada como secretário perpétuo do IGHB, e mais pela identificação de seu interesse e estímulo à prática esportiva, em especial o futebol.

A evidenciação desses nomes, mais do que mera curiosidade ou para além até mesmo da justiça à memória desses pioneiros, permite ir (re)compondo uma teia de relações pessoais e interinstitucionais que, formatadas a partir da soma de pessoas e ações identificadas em outros estudos sobre o período e a temática, vão paulatinamente permitir reconstituir os processos de desenvolvimento do esporte na Bahia, e seus agentes. Tal exercício mostra, aliás, a importância de novas e futuras investigações sobre o tema, em especial concernente ao interior do estado.

No escopo da presente investigação, porém, fica evidente que a prática do esporte na cidade de Ilhéus, no período do recorte da pesquisa, articula-se profundamente com temas e processos muito mais amplos e relevantes à comunidade local, perpassando os ideais e a crença no valor da adoção de hábitos modernos e civilizados, o que ajuda a entender o lugar de destaque e o apoio social recebido por clubes e agremiações esportivas, e evidencia a importância de continuarmos o trabalho de identificação destas entidades, seus atletas e sua atuação como um start no processo de transformação social que se pretendia empreender.

  • 1
    O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) foi fundado em 13 de maio de 1894 como expressão dos esforços da sociedade baiana para alcançar uma sintonia com a dinâmica nacional no contexto da instauração da República. O IGHB nasceu com a dupla condição de personificação e instrumento modernizante da sociedade baiana, segundo os critérios da então recém-estabelecida mentalidade republicana, e o fez assumindo o papel de entidade-símbolo da Bahia, ao passo que contribuiu, por meio dos estudos e pesquisas de seus integrantes, para fundamentar políticas estatais.
  • 2
    Conferir outras pesquisas baianas que tratam da temática em Nunes e Ribeiro (2020NUNES, Fábio Santana; RIBEIRO, Jean Carlos. Incidência histórica do esporte no Piemonte da Chapada Diamantina, sertão baiano, nas décadas de 1920 e 1930. Revista Cenas Educacionais, v. 3, n. e6994, p. 1-21, 2020. Disponível em: https://revistas.uneb.br/index.php/cenaseducacionais/article/view/6994/6120. Acesso em: 17 out. 2020.
    https://revistas.uneb.br/index.php/cenas...
    , p. 3).
  • 3
    No acervo, não constam outros anos.
  • 4
    A agência de Ilhéus foi a décima nona no Brasil, antes mesmo de abrir em algumas capitais (MACÊDO; FREITAS, 2001MACÊDO, Janete Ruiz; FREITAS, Antonio Fernando Guerreiro de. Sá Barreto. Ilhéus: Editus, 2001. Ed. Preservação da memória regional.).
  • 5
    Em virtude de não ter modernizado seu sistema produtivo, comercial e viário, além da seca alongada, encolhimento do mercado internacional e desgaste do solo nos locais de produção da cana-de-açúcar e do algodão no Recôncavo e Norte Baiano, o que gerou uma descapitalização destas zonas e a estagnação do mercado para sustentação financeira (FREITAS; PARAÍSO, 2001).
  • 6
    Inaugurado Cinema Palácio. Entre 1921 e 1930, a sede contou com seis salas: Vesúvio, Central, Pery, São João, Ideal e Elite.
  • 7
    No ano de 1930, já havia quatro clubes de remo: Satellite, States Sport Club, Associação Athlectica de Ilhéos e Associação Náutica do Pontal, além da coluna "De Remo" no periódico Correio de Ilhéus.
  • 8
    Moradores e imprensa do interior baiano, nesse período (e os mais antigos até a atualidade), se referiam à cidade de Salvador como “Bahia”.
  • 9
    Os periódicos Correio de Ilhéus e A Flor, informam que havia faltado “ao certame, três cidades” (O TORNEIO..., 1921O TORNEIO Inter-Municipal e a Victoria da Feira. A Flor, Feira de Santana, n. 33, p. 2, 18 dez. 1921., p. 2), identifica-se a equipe de Itaparica chegando atrasada, mas conseguindo participar e as ausências dos times de Juazeiro e Senhor do Bonfim.
  • 10
    SEMANA..., 1921, apudSANTOS, 2020SANTOS, Henrique Sena dos. Futebol no interior da Bahia, 1920 - 1940. In: DIAS, Cleber (org.). Depois da Avenida Central: cultura, lazer e esportes nos sertões do Brasil. Rio de Janeiro: Jaguatirica, 2020. p. 153-196..
  • FINANCIAMENTO
    Esta pesquisa contou com apoio financeiro de quatro bolsas de Iniciação Científica (IC), a saber: do Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) e duas de IC da UESC (ICB/UESC).

AGRADECIMENTO

Somos gratos aos graduandos Emanuel Ramiro Silva Soares, Thiago Santos de Santana e Ramom de Souza Norte pela pesquisa no acervo do Centro de Documentação e Memória Regional (Cedoc), da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). Agradecemos ainda ao Dr. Marcelo Henrique Dias pelas sugestões de referências bibliográficas e ao Dr. Cleber Dias pelas leituras e críticas de uma versão inicial deste artigo.

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga *, Elisandro Schultz Wittizorecki *, Mauro Myskiw *, Raquel da Silveira *

* Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    06 Maio 2021
  • Aceito
    25 Maio 2022
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