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Nova espécie de Physopleurus Lacordaire (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae)

New species of Physopleurus Lacordaire (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae)

Resumos

Physopleurus erikae sp. nov. proveniente da Colômbia é descrita e figurada. É apresentada uma chave para identificação das espécies de Physopleurus.

Cerambycidae; Colômbia; Chave; Macrotomini; Taxonomia


Physopleurus erikae sp. nov. from Colombia is described and figured. A key to the species of Physopleurus is added.

Cerambycidae; Colombia; Key; Macrotomini; Taxonomy


Nova espécie de Physopleurus Lacordaire (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae)

New species of Physopleurus Lacordaire (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae)

Antonio Santos-SilvaI; Ubirajara R. MartinsII, III

IMuseu de Zoologia, Universidade de São Paulo, Caixa Postal 42.494, 04218-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: toncriss@uol.com.br

IIMuseu de Zoologia, Universidade de São Paulo, Caixa Postal 42.494, 04218-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: urmsouza@usp.br

IIIPesquisador do CNPq

RESUMO

Physopleurus erikae sp. nov. proveniente da Colômbia é descrita e figurada. É apresentada uma chave para identificação das espécies de Physopleurus.

Palavras-chave: Cerambycidae; Colômbia; Chave; Macrotomini; Taxonomia.

ABSTRACT

New species of Physopleurus Lacordaire (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae). Physopleurus erikae sp. nov. from Colombia is described and figured. A key to the species of Physopleurus is added.

Keywords: Cerambycidae; Colombia; Key; Macrotomini; Taxonomy.

INTRODUÇÃO

Santos-Silva & Martins (2003) revisaram Physopleurus Lacordaire, 1869 e consideraram em sua sinonímia Basitoxus (Parabasitoxus) Fragoso e Monné, 1995. Nesse trabalho foram descritas duas novas espécies e, com a transferência das duas espécies que estavam alocadas em Basitoxus (Parabaxitoxus), Physopleurus passou a contar com dez espécies, todas da América do Sul, exceto P. villardi (Lameere, 1902), com registro de ocorrência também para a América Central. Santos-Silva & Martins (2005) erigiram Hisarai para H. seripierriae (Santos-Silva & Martins, 2003), originalmente descrita em Physopleurus, e Santos-Silva in Martins et al. (2006) descreveu P. rafaeli, também da América do Sul.

Celsa García Dominguez e Erika Valentina Vergara Navaro (UNAB, Museo Entomológico, Facultad de Agronomía Universidad Nacional de Colombia, Santafé de Bogotá, Colômbia), enviaram um lote de Prioninae para identificação, proveniente da Colômbia, no qual foi identificada uma nova espécie de Physopleurus.

RESULTADOS

Physopleurus erikae sp. nov. (Figs. 1-3)



Etimologia: A espécie é dedicada a Erika Valentina Vergara Navaro (UNAB), pelo constante empréstimo de material para estudo.

Fêmea (Figs. 1-3): Tegumento castanho-escuro. Região dorsal da cabeça grossamente rugoso-pontuada; área próxima do occipício nitidamente mais finamente rugoso-pontuada; sutura coronal distinta até proximidades do occipício; área entre os olhos com sulco longitudinal moderadamente profundo; carena ocular baixa e pouco distinta, confundindo-se com as rugosidades; pilosidade apenas longa e muito esparsa. Olhos (Fig. 3) grandes, largos; distância entre os lobos oculares superiores e entre os inferiores igual a aproximadamente o comprimento do escapo, em ambos. Clípeo com pontuação grossa, anastomosada, nitidamente mais fina do que na região dorsal da cabeça; pilosidade curta e moderadamente abundante. Labro subtriangular; pilosidade longa e abundante. Área hipostomal deprimida, estreita, com pontos grossos e confluentes; margem anterior elevada; pilosidade longa e dispersa. Antenas (Figs. 1, 2) atingem o ápice do terço basal dos élitros; escapo (Figs. 1-3) 1,7 vezes mais longo do que o antenômero III e não atinge a borda posterior dos olhos.

Maior largura do protórax igual a 1,3 vezes o comprimento no meio. Pronoto (Fig. 1) com área subtriangular lisa na região centro-basal, interligada a dois ramos largos, divergentes e elevados, com pontuação grossa, profunda e confluente; área entre os ramos suavemente deprimida, com pontuação grossa, profunda e confluente; áreas laterais (Fig. 3) fortemente rugoso-pontuadas; ângulos anteriores fracamente projetados para frente; margens laterais (Fig. 3) separadas do prosterno por carena pouco projetada, principalmente na metade basal, e com espinho longo, localizado quase junto ao ângulo posterior, que é obtuso e fracamente projetado; borda anterior suavemente sinuosa e borda posterior nitidamente sinuosa; área central glabra e áreas laterais com pêlos curtos e muito esparsos. Prosterno (Figs. 2-3) intumescido, com pontos moderadamente grossos na área central e em torno da cavidade procoxal e nitidamente mais grossos no restante, principalmente próximo da margem do pronoto, onde a escultura é idêntica a das laterais do pronoto; sutura prosternal indistinta; limites entre o prosterno e os proepimeros distintos apenas pela diferença na escultura (proepimeros microesculturados e fracamente rugosos); pilosidade muito curta e muito esparsa nas laterais, moderadamente longa, esparsa em área longitudinal aos lados do processo prosternal e curta e dispersa na área central. Proepisternos indicados junto aos proepimeros e indistintos no restante. Processo prosternal (Fig. 2) largo; carena central larga e gradualmente elevada em direção ao ápice; superfície da carena com pontos apenas grossos e esparsos; ápice truncado. Metasterno (Fig. 2) com pontos moderadamente finos e muito abundantes nas laterais e área junto às mesocoxas, subliso em área triangular em torno da sutura metasternal; pilosidade abundante e longa na área pontuada e gradualmente mais esparsa na área sublisa (exceto na área junto à sutura que é glabra). Metepisternos com pontuação e pilosidade iguais aos das laterais do metasterno. Élitros com pontos finos e esparsos na área em torno da sutura e terço apical, mais grossos e em parte confluentes na área lateral dos dois terços basais; ápice sutural com espinho curto. Urosternitos I-IV (Fig. 2) com pontuação fina e esparsa na região central e microesculturados nas laterais; urosternito V microesculturado nas laterais e região centro-basal; pilosidade curtíssima e esparsa. Protíbias (Fig. 2) na face látero-externa, meso- e metatíbias na face látero-interna (junto à face dorsal), com alguns espinhos longos.

Dimensões em mm, holótipo : Comprimento total (excluindo mandíbulas), 35,9; comprimento do protórax no centro, 6,1; largura anterior do protórax, 7,4; largura posterior do protórax, 8,3; largura entre os espinhos laterais do protórax, 11,0; largura umeral, 11,0; comprimento elitral, 25,5.

Material-tipo: Holótipo ♀, COLÔMBIA, Valle del Cauca, Obando (Vereda Rodas; 4°34’40" N, 75°58’30" W; 939 m), 4.XI.2003, A. Diaz col. (UNAB).

Discussão: Assemelha-se a Physopleurus exiguus Santos-Silva & Martins, 2003, proveniente do Brasil (Mato Grosso) e da Bolívia e P. dohrnii Lacordaire, 1869, procedente da Venezuela. Difere da fêmea da primeira: escapo (Figs. 1-3) não atinge a borda posterior dos olhos; margens laterais do pronoto com carena pouco projetada (Fig. 3); proepisternos indicados junto aos proepimeros e indistintos no restante (Fig. 3). Nas fêmeas de P. exiguus o escapo (Fig. 7) atinge ou ultrapassa a borda posterior dos olhos, as margens laterais do pronoto possuem carena moderadamente projetada e os proepisternos são estreitos e distintos até além do meio do protórax. Das fêmeas de P. dohrnii sensu Lameere (1902) difere: escapo (Figs. 1-3) não atinge a borda posterior dos olhos; ângulos anteriores do pronoto (Figs. 1, 2) arredondados e fracamente projetados para frente; prosterno com pêlos muito esparsos; proepisternos como mencionado. Nas fêmeas de P. dohrnii sensu Lameere (op. cit.) (Fig. 4) o escapo atinge a borda posterior dos olhos, os ângulos anteriores do pronoto são triangulares e nitidamente projetados para frente, o prosterno é pubescente e os proepisternos são distintos e estreitos em toda extensão. Difere das fêmeas de P. dohrnii sensu Rosales (1966): margens laterais do pronoto (Fig. 1) sub-retas entre o espinho lateral e o ângulo anterior; limite entre pronoto e prosterno pouco distinto (carena não saliente); metatarsômero V apenas mais curto do que I-III reunidos. Nas fêmeas de P. dohrnii sensu Rosales (op. cit.) (Fig. 5), as margens laterais do pronoto são curvadas próximo dos ângulos anteriores, os limites entre o pronoto e o prosterno são nítidos (separados por carena saliente) e o metatarsômero V é nitidamente mais curto do que I-III reunidos.




O holótipo de Physopleurus erikae sp. nov. está sem o terço apical da mandíbula esquerda, sem a mandíbula direita, sem os ápices genais, sem o tarsômero V das mesotíbias e da metatíbia esquerda e o profêmur direito está quebrado.

Chave para as espécies de Physopleurus

1.

Protíbias com espinhos...... ...................................................................................... ...................2

Protíbias inermes...................... ..................................................................................... ............9

2(1).

Pontuação elitral grossa e bem marcada; élitros com aspecto rugoso................................ .................3

Pontuação elitral fina ou apenas grossa e rasa; élitros sem aspecto rugoso...................... ...................4

3(2).

Escapo dos machos ultrapassa a borda posterior do olho em aproximadamente metade do seu comprimento e, nas fêmeas, apenas atinge; ângulo sutural dos élitros com espinho; asas membranosas claras. Colômbia, Equador, Peru, Brasil (Amazonas, Pará, Mato Grosso)...................................P. longiscapus Lameere, 1912

Escapo dos machos apenas atinge a borda posterior do olho e, nas fêmeas, não atinge; ângulo sutural dos élitros sem espinho; asas membranosas escuras. Guiana Francesa, Brasil (Amapá, Amazonas, Pará)............................ .........................................................................P. rugosus (Gahan, 1894)

4(2).

Mandíbulas nitidamente mais longas do que a cabeça nos dois sexos; carenas elitrais muito nítidas. Guiana Francesa.................................................................. .........................P. tritomicros Lameere, 1912

Mandíbulas mais curtas ou tão longas quanto à cabeça nos dois sexos; carenas elitrais nulas ou pouco evidentes.......................................................... .......................................................................5

5(4).

Carena lateral do pronoto das fêmeas pouco projetada (Fig. 3) e evanescente na parte posterior (Fig. 3); proepisternos presentes e indicados apenas na parte junto aos proepimeros. Machos deconhecidos. Colômbia............... ............................................................................................P. erikae sp. nov.

Carena lateral do pronoto das fêmeas projetada ou moderadamente projetada (Figs. 6, 7); proepisternos presentes nas fêmeas e variáveis nos machos............... ..................................................................6

6(5).

Élitros com pontuação esparsa e muito fina. Venezuela..................................P. dohrnii Lacordeire, 1869

Élitros com pontuação abundante, fina ou apenas grossa e rasa............................................ ............7

7(6).

Lados do prosterno dos machos visíveis em vista dorsal; margens laterais do protórax sem espinho nítido nos dois sexos. Guiana Francesa, Bolívia, Brasil (Mato Grosso)............... ..................................................................P. exiguus Santos-Silva & Martins, 2003

Lados do prosterno dos machos invisíveis em vista dorsal; margens laterais do protórax com espinho nítido nos dois sexos........................................................................ ..................................................8

8(7)

Distância entre os lobos oculares superiores subigual ao comprimento do escapo. Brasil (Amazonas, Mato Grosso)............ .................................................................................P. crassidens (Bates, 1869)

Distância entre os lobos oculares superiores nitidamente menor do que o comprimento do escapo. Brasil (Amazonas)........... .........................................................................P. rafaeli Santos-Silva, 2006

9(1)

Antenas atingem o terço basal dos élitros; ângulos posteriores do pronoto salientes (geralmente em espinho); carena dorsal das mandíbulas estreita. Guatemala, Equador, Peru........................................................................ ..............................P. villardi (Lameere, 1902)

Antenas atingem, no máximo, o quarto basal dos élitros; ângulos posteriores do pronoto nulos ou obtusos; carena dorsal das mandíbulas larga.............................. ...............................................................10

10(9)

Escapo não ultrapassa a borda posterior do olho nos dois sexos; arco formado pelo prosterno dos machos (Fig. 8), entre as cavidades coxais e o pronoto, geralmente ultrapassa o nível do ângulo lateral do protórax e sua base interna é quase perpendicular em relação ao ângulo das cavidades coxais; nas fêmeas, o arco forma ângulo sub-reto (Fig. 9). Peru, Guiana Francesa, Brasil (Amapá, Amazonas, Pará, Mato Grosso)........................................ ......................................P. amazonicus (Fragoso & Monné, 1995)

Escapo dos machos ultrapassa a borda posterior do olho e, nas fêmeas, apenas atinge; arco formado pelo prosterno dos machos (Fig. 10), entre as cavidades coxais e o pronoto, geralmente não ultrapassa o nível dos ângulos laterais do protórax e sua base interna é oblíqua em relação ao ângulo das cavidades coxais; nas fêmeas, o arco forma ângulo fortemente obtuso (Fig. 11). Brasil (Alagoas, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina), Paraguai, Argentina (Tucumán, Misiones).............................................................. ........................ P. maillei (Audinet-Serville, 1832)

AGRADECIMENTOS

A Celsa García Dominguez e Erika Valentina Vergara Navaro (UNAB) pelo envio de material para estudo.

Recebido em: 04.08.2008

Aceito em: 28.08.2008

Impresso em: 31.03.2009

  • LAMEERE, A.A.L, 1902. Révision des Prionides. Quatrième Mémoire Sténodontines. Mémoires de la Société Entomologique de Belgique, 9:63-110.
  • MARTINS, U.R.; GALILEO, M.H.M; SANTOS-SILVA, A. & RAFAEL, J.A. 2006. Cerambycidae (Coleoptera) coletados à luz a 45 metros de altura, no dossel da floresta amazônica, e a descrição de quatro espécies novas. Acta Amazônica, 36(2):265-272.
  • ROSALES, C.J. 1966. Contribución al conocimiento de los Prioninae (Coleoptera: Cerambycidae) de Venezuela. Revista de la Facultad de Agronomia de la Universidad Central de Venezuela, 11:1-237.
  • SANTOS-SILVA, A. & MARTINS, U.R. 2003. Revisão do gênero Physopleurus Lacordaire, 1869 e notas em Macrotomini (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae). Revista Brasileira de Entomologia, 47(2):245-265.
  • SANTOS-SILVA, A. & MARTINS, U.R. 2005. Novos táxons e notas taxonômicas em Prioninae (Coleoptera, Cerambycidae). Iheringia, Serie Zoologia, 95(4):393-403.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Mar 2009
  • Data do Fascículo
    2009

Histórico

  • Revisado
    28 Ago 2008
  • Recebido
    04 Ago 2008
  • Aceito
    31 Mar 2009
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