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EXPERIÊNCIA E REPRESENTAÇÃO DA ESCUTA DE VOZES NA EXPRESSÃO COTIDIANA

EXPERIENCIA Y REPRESENTACIÓN DE ESCUCHAR VOCES Y EL EXPRESSIÓN COTIDIANA

RESUMO.

Escutar vozes ainda é considerado por profissionais da saúde como alucinação auditiva, uma experiência perturbadora que ocorre em condições de doença, reconhecida como uma sintomatologia psicopatológica de alteração da realidade. Entretanto, esta postura dificulta o acolhimento da pessoa que vivencia este fenômeno. O objetivo deste estudo foi de conhecer na literatura científica sobre a experiência e a representação da escuta de vozes na expressão cotidiana. O método utilizado foi de revisão narrativa, em fontes pesquisadas em periódicos. Encontramos 30 artigos em português e inglês, no período de 2003 a 2018, utilizando os descritores saúde mental, esquizofrenia, ouvidores de vozes e cotidiano. Os dados foram organizados em uma planilha temática e analisados com foco na narrativa da linguagem e apresentados descritivamente. A literatura estudada apresentou dois tipos de representação da escuta de vozes: a caracterização e tipologia da vivência, e como processo subjetivo de uma experiência biográfica. Entre os resultados identificamos a caracterização da experiência de ouvir vozes associada a vivências traumáticas e com consequências nas atividades laborativas, como o trabalho e a vida social, com um cotidiano ausente de papéis ocupacionais, reconhecendo esta pessoa apenas pela sua condição de doença mental. Ressaltamos a necessidade de estudos empíricos que abordem a compreensão da escuta de vozes, com foco fenomenológico da experiência do mundo da vida das pessoas, para a compreensão do reconhecimento no cotidiano de papéis ocupacionais, como também auxiliar nas práticas terapêuticas no cuidado em saúde mental.

Palavras-chave:
Confusão alucinatória; saúde mental; cotidiano

RESUMEN.

Los profesionales de la salud todavía consideran que escuchar voces es una alucinación auditiva, una experiencia perturbadora que ocurre en condiciones de enfermedad, reconocida como un síntoma psicopatológico de alteración de la realidad. Tal posición hace que sea difícil aceptar la experiencia del oyente de voz. Sin embargo, esta postura dificulta la recepción de la persona que experimenta este fenómeno. El objetivo de este estudio fue indagar en la literatura científica sobre la experiencia y representación de escuchar voces en la expresión cotidiana. El método utilizado fue la revisión narrativa, de fuentes investigadas en revistas. Encontramos 30 artículos en portugués e inglés, de 2003 a 2018, usando las palabras clave salud mental, esquizofrenia, oyentes y la vida cotidiana. Los datos se organizaron en una hoja de cálculo temática y se analizaron con un enfoque en la narrativa del lenguaje y se presentaron descriptivamente. La literatura estudiada presenta dos tipos de representación de la escucha de voces: la caracterización y tipología de la experiencia, y como el proceso subjetivo de una experiencia biográfica. Entre los resultados, identificamos la caracterización de la experiencia de escuchar voces asociadas con experiencias traumáticas y con consecuencias en las actividades laborales, como el trabajo y la vida social, con una ausencia diaria de roles ocupacionales, reconociendo a esta persona solo por su condición de enfermedad mental. Hacemos hincapié en la necesidad de estudios empíricos que aborden la comprensión de escuchar voces, con un enfoque fenomenológico en la experiencia de las personas del mundo de la vida, para comprender el reconocimiento de los roles ocupacionales en la vida cotidiana, así como ayudar en las prácticas terapéuticas en la atención de la salud mental.

Palabras clave:
Confusión alucinatoria; salud mental; diario

ABSTRACT.

Hearing voices is still considered by health professionals as auditory hallucination, a disturbing experience that occurs in conditions of illness, recognized as a psychopathological symptom of altering reality. Such a position makes it difficult to accept the voice hearer's experience. However, this posture makes it difficult to reception the person who experiences this phenomenon. The objective of this study was to find out in the scientific literature about the experience and representation of hearing voices in everyday expression. The method used was narrative review, from sources researched in periodical. We found 30 articles in Portuguese and English, from 2003 to 2018, using the keywords mental health, schizophrenia, voice hearers and everyday life. The data were organized in a thematic spreadsheet and analyzed with a focus on the language narrative and presented descriptively. The studied literature presented two types of representation of hearing to voices: the characterization and typology of the experience, and as the subjective process of a biographical experience. Among the results, we identified the characterization of the experience of hearing voices associated with traumatic experiences and with consequences in work activities, such as work and social life, with a daily absence of occupational roles, recognizing this person only because of his condition of mental illness. We emphasize the need for empirical studies that address the understanding of hearing to voices, with a phenomenological focus on people's experience of the world of life, for an understanding of the recognition of occupational roles in everyday life, as well as assisting in therapeutic practices in mental health care.

Keywords:
Hallucinatory confusion; mental health; daily

Introdução

Este estudo se constitui como uma revisão narrativa da literatura no período de 2005 a 2018, levantada em bases nacionais e internacionais, acerca da experiência de ouvir vozes e a expressão do cotidiano em que o ouvidor se insere. Justificamos socialmente a elaboração do texto pelo alinhamento de buscar fortalecer as mudanças na episteme ocasionadas pelo movimento de reforma psiquiátrica e no cuidado às pessoas em sofrimento psíquico grave, para além da terapêutica medicamentosa e hospitalar, portanto, nos preocupa consolidar um modelo de atenção psicossocial em saúde mental voltado para o protagonismo no cotidiano, no protagonismo e na inserção social (Nerviz, 2013Nerviz, J. (2013). A fenomenologia que nasce e o “mundo da vida”. Razão e Fé, 15(2): 31-55.; Silva, Abbad, & Montezano, 2019Silva, M. N. R. M. O., Abbad, G. S., & Montezano, L. (2019). Practices and therapeutic strategies of the psychosocial care centers alcohol and drugs.Paidéia (Ribeirão Preto),29, e2903. doi: ttps://dx.doi.org/10.1590/1982-4327e2903
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; Silva, 2009Silva, M. N. R. M. (2009). Significados e significantes da cronicidade na esquizofrenia no processo da reforma psiquiátrica: pensar em outra via de cuidados. In I. Costa, & T. Grigolo. Tecendo redes em saúde mental no cerrado: estudos e experiências de atenção em saúde mental (1a ed., p. 302-313). Brasília, DF: Universidade de Brasília.).

De acordo com Nervis (2013Nerviz, J. (2013). A fenomenologia que nasce e o “mundo da vida”. Razão e Fé, 15(2): 31-55., p. 36), a fenomenologia de Husserl realiza “Uma crítica à ingenuidade do princípio metafísico, que a ciência esqueceu suas origens, o mundo cotidiano da vida de onde deveria tirar sua significação”. Dessa forma, construiu um mundo para si idealizado e destacou o Lebenswelt ou ‘mundo da vida’, como epistemologia fenomenológica, considerado como uma das bases para desenvolver as intervenções clínicas em saúde mental, sobretudo, considerar o indissociável vínculo entre consciência e intencionalidade; e articular a restituição dos saberes do senso comum ao lado do saber científico, como o que ocorre no mundo da vida dos ouvidores de vozes.

Por meio da fenomenologia é possível investir no protagonismo das pessoas em sofrimento psíquico grave, bem como realizar uma atuação com base na política de saúde mental brasileira. Por exemplo, nos documentos governamentais são descritos que no modelo de reabilitação psicossocial devem ser desenvolvidas práticas e estratégias terapêuticas complexas e que requerem das equipes nos serviços a compreensão das dimensões da pessoa, e não apenas os signos psicopatológicos, focando portanto em um cuidado biopsicosocial; contudo, na maioria das vezes, as intervenções nos serviços nem sempre são integradas e voltadas para o cotidiano, precarizando as bases fundamentais do cuidado, na qual incluem a participação do usuário e familiares e sua expressão cotidiana.

As desarmonias e lacunas nas práxis dos profissionais são descritas por diversos autores que afirmam sobre a realidade dos serviços em que as antigas práticas coexistem com as novas gerando incompreensões e dificultando a adoção do paradigma da integralidade, singularidade e inclusão (Salles & Matsukura, 2015Salles, M. M., & Matsukura, T. S. (2015). Estudo de revisão sistemática sobre o uso do conceito de cotidiano no campo da Terapia Ocupacional na literatura de língua inglesa. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 23(1), 197-210. doi: 10.4322/0104-4931.ctoARL510
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; Vasconcelos, Jorge, Catrib, Bezerra, & Franco, 2016Vasconcelos, M. G. F., Jorge, M. S. B., Catrib, A. M. F., Bezerra, I. C., & Franco, T. B. (2016). Projeto terapêutico em saúde mental: Práticas e processos nas dimensões constituintes da atenção psicossocial. Interface -Comunicação, Saúde, Educação, 20(57), 313-323. doi:10.1590/1807-57622015.0231
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; Silva et al., 2019Silva, M. N. R. M. O., Abbad, G. S., & Montezano, L. (2019). Practices and therapeutic strategies of the psychosocial care centers alcohol and drugs.Paidéia (Ribeirão Preto),29, e2903. doi: ttps://dx.doi.org/10.1590/1982-4327e2903
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).

Neste sentido, com foco na autonomia, integralidade e expressão subjetiva dos fenômenos psíquicos da pessoa que se desenvolve, desde os anos 80 do século XX em 26 Países como, por exemplo, Estados Unidos, Grécia, Palestina, Japão, Austrália, Dinamarca, Itália e Reino Unido, uma abordagem em saúde mental com pessoas que vivenciam a experiência da escuta de vozes. No Brasil, atualmente essa experiência ocorre em algumas cidades como no Rio de Janeiro, Campinas, Pelotas, Ribeirão Preto, Brasília e Belém do Pará, mas ainda se encontra em processo de divulgação e implementação entre os profissionais, serviços de saúde mental e a comunidade.

Esta estratégia, portanto, vem se desenvolvendo internacionalmente, como um movimento de rede de suporte e apoio, que considera a experiência e não unicamente a concepção da alucinação auditiva como sintoma de alteração da percepção, por meio de grupos de autoajuda em um espaço de troca, compartilhamento e manejo das experiências entre os usuários, familiares e profissionais, considerada como uma estratégia no cuidado de Recovery no campo da saúde mental.

O modelo de Recovery é um paradigma que surgiu nos sistemas e serviços de saúde mental na década de 90 em várias partes do mundo, o qual sucintamente apresenta como eixo central estratégias de suporte com atividades que promovam os relatos das experiências vividas e de luta para descoberta e mudanças pessoais, como processo de redescoberta, sentimento de identidade, de autodeterminação e fortalecimento pessoal para viver, participar e contribuir na comunidade (Duarte, 2007Duarte, T. (2007). Recovery da doença mental: uma visão para os sistemas e serviços de saúde mental.Análise Psicológica,25(1), 127-133. Recuperado de:http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-82312007000100010&lng=pt&tlng=pt
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; Anastácio & Furtado, 2012Anastácio, C. C., & Furtado, J. P. (2012). Reabilitação psicossocial e recovery: conceitos e influências nos serviços oferecidos pelo sistema de saúde mental. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, 4(9), 72-83.).

A forma de compreender a experiência de ouvir vozes é considerada um processo de Recovery, ou seja, uma estratégia de descoberta de identidade, autodeterminação, e fortalecimento pessoal da pessoa que se encontra perdida dentro de si mesma, por meio das vozes; também favorece recuperar primeiro seus próprios pensamentos, espaços e silêncio, para depois as coisas externas, como uma “[...] condição de pertencimento a si mesmo e a sua saúde, divergindo drasticamente de ser simplesmente paciente” (Continni, 2017Contini, C. (2017). Ouvir vozes: manual de enfrentamento. Pelotas, RS: Santa Cruz., p. 28).

Nesta abordagem, as alucinações auditivas são consideradas como percepção dos pensamentos, mas também de interrelação da vivência com o mundo, variando de acordo com o contexto social e cultural, com diversidades de formas de vivenciar o mundo em torno de si (Continni, 2017Contini, C. (2017). Ouvir vozes: manual de enfrentamento. Pelotas, RS: Santa Cruz.).

O cotidiano abordado neste estudo é entendido como as atividades, rotinas e papéis sociais que envolvem cada pessoa e que constitui a base do desenvolvimento de si mesmo no mundo, por meio do pertencimento à uma expressão cotidiana. Portanto, é nesta cotidianidade que as pessoas se estruturam por meio da ocupação, do uso do tempo, das rotinas habituais e das relações interpessoais. Salles e Matsukura (2015Salles, M. M., & Matsukura, T. S. (2015). Estudo de revisão sistemática sobre o uso do conceito de cotidiano no campo da Terapia Ocupacional na literatura de língua inglesa. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 23(1), 197-210. doi: 10.4322/0104-4931.ctoARL510
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) afirmam que o cotidiano de cada pessoa se entrelaça com o de outras, por meio do compartilhamento das ocupações, influenciando uns aos outros como processo identitário.

A dinâmica constitutiva identitária do cotidiano também é considerada como um processo de justiça ocupacional, ou seja, a capacidade dos homens de compreender o seu direito de perspectivas de ocupações no cotidiano, entendendo este direito como coletivo e cidadão que passa a fazer, a ser, e a tornar-se pertencente no mundo da vida (Townsend & Marval, 2013Townsend, E., & Marval, R. (2013). Profissionais podem realmente promover justiça ocupacional? Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupaciona, 21(2), 229-242. doi: 10.1007/s10447-008-9063-z
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).

No cenário da abordagem Recovery, da compreensão da vivência da escuta de vozes e da expressão cotidiana das pessoas que se torna relevante a questão de pesquisa, qual a caracterização dos estudos sobre a experiência e a representação da escuta de vozes na expressão cotidiana de pessoas em sofrimento psíquico grave? Portanto, o objetivo deste estudo foi de caracterizar na literatura científica a experiência e a representação da escuta de vozes na expressão cotidiana de pessoas em sofrimento psíquico grave e, dessa forma, discorrer sobre o contexto na vida das pessoas que vivenciam este fenômeno, auxiliando para a reflexão das práticas terapêuticas na reabilitação psicossocial em saúde mental.

Método

O método do estudo foi qualitativo com estratégia de pesquisa e revisão de literatura do tipo narrativa, como de pesquisa da literatura, de abordagem qualitativa que, segundo Elias et al. (2012Elias, C. S. R., Silva, L. A., Martins, M. T. S. L., Ramos, N. A. P., Souza, M. G. G. & Hipólito, R. L. (2012). Quando chega o fim?: uma revisão narrativa sobre terminalidade do período escolar para alunos deficientes mentais.SMAD. Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas, 8(1), 48-53. Recuperado de:http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762012000100008&lng=pt&tlng=pt
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), considerado como estratégia utilizada nos estudos da saúde que se baseia em critérios explícitos e sistemáticos para a busca e análise da literatura, estabelecendo as relações que possibilitem perspectivas sobre uma temática.

A escolha pelo estudo da literatura de forma narrativa ocorreu para possibilitar liberdade na didática de busca das fontes, por considerar a temática recente no mundo e no Brasil e facilitar a busca de pensamentos, conceitos e articulação sobre aspectos da escuta das vozes pelo prisma da expressão cotidiana das pessoas de forma descritiva-discursiva.

Dessa forma, este estudo seguiu as etapas, (i) busca dos descritores na Biblioteca Virtual em Saúde (Decs/BVS) em psicologia, com base na temática do estudo; (ii) seleção dos descritores saúde mental, esquizofrenia, alucinações auditivas, ouvidores de vozes; (iii) busca de estudos no Portal de Periódicos da CAPES, sem tempo definido, em português e inglês; (iv) uso de critérios de seleção dos artigos; e (v) tratamento e análise dos dados sobre conteúdos relacionados à temática do estudo.

É importante esclarecer a escolha do descritor dos ouvidores de vozes, pois este termo foi desenvolvido desde 1987, na Holanda, pelos psiquiatras Romme e Escher (2000Romme, M.; Escher, S. (2000). Making sense of voices: a guide for mental health professionals working with voice-hearers. Londres, UK: Mind Publications.), a partir da necessidade de mudanças das suas práticas psiquiátricas que abordavam para a desconstrução como signo psicopatológico e reconhecimento do fenômeno como parte da história da pessoa, construindo assim um espaço de autoajuda com outras pessoas com a mesma vivência, e a convivência com as vozes, qualificando o cotidiano dessas pessoas.

Selecionamos a literatura utilizando como critérios de inclusão artigos completos, sem período determinado, com um dos descritores no título, e conteúdo no resumo sobre os ouvidores de vozes ou alucinações auditivas e os aspectos sobre as experiências no dia a dia destas pessoas. Foram descartados artigos não acessíveis no portal, incompletos e estudo empírico sobre alucinações auditivas com foco na terapêutica biomédica.

Selecionamos 30 artigos, em português e inglês, nos anos de 2003 a 2018, dos quais sete são estudos nacionais e 23 internacionais, e sete teóricos e 23 empíricos; com prevalência de 27 artigos publicados nos últimos dez anos.

Realizamos leituras e organizamos o conteúdo pela interpretação das temáticas apresentadas nos artigos, como (i) situar textos que apresentassem abordagem fenomenológica sobre a experiência das alucinações auditivas; (ii) levantar nos textos a caracterização da experiência sobre as alucinações auditivas para a pessoa, os profissionais e familiares; (iii) sintetizar (conhecer) na literatura a relação do fenômeno das alucinações visuais e da abordagem sobre os ouvidores de vozes e a expressão cotidiana destas pessoas.

Os dados apresentados nos 30 artigos foram organizados em uma planilha temática sobre o tipo de estudo, o ano de publicação, o conteúdo, os principais pontos e os resultados apresentados. Posteriormente, foram analisados com foco na narrativa da linguagem sobre a abordagem, características e desafios apresentados sobre as alucinações auditivas, descrições gerais sobre a abordagem dos ouvidores de vozes e aspectos relacionados ao cotidiano, apresentados descritivamente.

Resultados e discussão

Os resultados dos 30 artigos possibilitaram apresentar descritivamente aspectos relevantes sobre a temática do estudo, em três subseções: conteúdos gerais dos artigos, a experiência na escuta de vozes e o fenômeno de ouvir vozes na expressão cotidiana.

Conteúdos gerais dos artigos

O conteúdo dos estudos selecionados na literatura apresentou como temática central a vivência de ouvir vozes ou alucinações auditivas em conteúdo, como (i) estudos netnográficos e etnográficos sobre o grupo de autoajuda, descrevendo o histórico dos grupos de ouvidores de vozes, com foco nas narrativas da experiência; (ii) estudos teóricos comparativos sobre psicopatologia, caracterizando a experiência das alucinações auditivas na população com ou sem diagnóstico psiquiátrico; e (iii) estudos teóricos sobre a vivência da escuta de vozes e a terapêutica relacionada pela abordagem fenomenológica da primeira pessoa e da neurocognição.

Os estudos narrativos sobre a experiência de ouvir vozes prevaleceram em 22 artigos, com distinções quanto aos objetivos, como caracterizar as tipologias, descrever as características e a representação da experiência ao longo da vida dos participantes e descrever os benefícios e desafios na participação em grupo de ouvidores de vozes em diversas partes do mundo.

Os estudos empíricos de narrativas foram desenvolvidos com quantitativos diversos de participantes, como no estudo de McCarthy-Jones et al. (2013McCarthy-Jones, S., Krueger, J., Laroi, F., Broome, M., & Fernyhough, C. (2013). Stop, look, listen: the need for philosophical phenomenological perspectives on auditory verbal hallucinations. Frontiers in Humana Neurosciense, 7(127), 1-9, doi: 10.3389/fnhum.2013.00127
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) que utilizaram grande amostra de 199 pessoas, e descreveram sobre a experiência das alucinações auditivas, relacionando aos desafios das pessoas de manejar esta vivência nas tarefas do dia a dia.

Os resultados dos estudos que enfocaram as narrativas apresentaram nos resultados dois pontos comuns que foram (i) a caracterização de subtipos de alucinações auditivas; (ii) a discussão da primazia na conduta terapêutica medicamentosa focado na eliminação do fenômeno e sua relação direta com traumas ocorridos ao longo da vida, manifestado por meio da linguagem sobre os conteúdos históricos da pessoa.

Pontes e Calazans (2017Pontes, S., & Calazans, R. (2017). Sobre alucinação e realidade: a psicose na CID-10, DSM-IV-TR e DSM-V e o contraponto psicanalítico.Psicologia USP, 28(1),108-117. doi: 10.1590/0103-656420140101
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) criticam os manuais classificatórios utilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que servem como diretrizes para o diagnóstico e que apresentam o fenômeno como um sintoma da esquizofrenia e de outros transtornos psicóticos, como percepção da realidade alterada, dificultando qualquer forma de refletir sobre o fenômeno que não seja como um signo psicopatológico. Nesta lógica, observa-se que, usualmente, a intervenção ocorrida nos serviços ainda tem sido de remissão do sintoma, unicamente por meio da terapêutica medicamentosa, sem qualquer tipo de compreensão e manejo da experiência em si, tanto pelos profissionais como pela própria pessoa que vivencia e seus familiares.

Para além desta compreensão, Costa (2017Costa, I. I. (2017). A crise psíquica enquanto paradigma do sofrimento humano. (Re) pensando o psíquico como expressão do existir e seu cuidado. In N. J. Faria, & A. F. Holanda (Orgs.), Saúde mental, sofrimento e cuidado: fenomenologia do adoecer e do cuidar (p. 65-94). Curitiba, PR: Juruá.) apresenta uma definição sobre sofrimento psíquico distante da nosografia clássica, como uma manifestação aguda da angústia humana, pela linguagem ou comportamento, que afeta a posição existencial singular da pessoa, e a expressividade nas relações afetivas, sociais e culturais. Para este autor não se trata de negarmos o sintoma em si, mas de compreendê-lo nas diversas dimensões, não somente a biológica, mas também a fenomenológica, existencial, sistêmica, psicanalítica, vivenciais e, acima de tudo, ética.

Logo, captar o significado do fenômeno das alucinações auditivas requer da equipe de saúde, a adoção de um processo clínico relacional, destacando a apreensão da vivência da pessoa como ser histórico, considerando sua dinâmica existencial, e recuperando a dimensão de normalidade, que dá sentido à vivência no mundo natural, incluindo qualquer sofrimento, inclusive aqueles tidos como ‘psicóticos’ (Silva & Costa, 2010Silva, M. N. R. M. O., & Costa, I. I. (2010). (redes)cobrindo relações no sofrimento psíquico grave: cronicidade e possibilidades. In I. I. Costa (Org.), Da psicose aos sofrimentos psíquicos graves: caminhos para uma abordagem completa (p. 118-141 ). Brasília, DF: Kaco Editoras.; Silva, 2019)Smith, D. B. (2007).Você pode viver com as vozes em sua cabeça?Revista Latinoamericana Psicopatológia Fundamental, X(2),295-306. doi: 10.1590/1415-47142007002008
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Severo e Dimenstein (2009Severo, A. K. S., & Dimenstein, M. (2009). O diagnóstico psiquiátrico e a produção de vida em saúde mental. Estudos de Psicologia, 14(1), 59-67.), em um estudo dos discursos de usuários de um ambulatório de saúde mental sobre suas crises psiquiátricas e as experiências cotidianas, identificaram que algumas atividades do dia a dia foram desencadeadoras do sofrimento psíquico, outras impossibilitaram retornar ao trabalho, após uma crise, ocasionando consequências financeiras e sociais, como o afastamento das relações interpessoais e dos vínculos de trabalho.

Em outro estudo com usuários de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Salles e Barros (2009Salles, M. M., & Barros, S. (2009). Vida cotidiana após adoecimento mental: desafio para atenção em saúde mental. Acta Paulista de Enfermagem, 22(1). doi: https://doi.org/10.1590/S0103-21002009000100002
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) descrevem percepções sobre o cotidiano, identificando aspectos relevantes, como ausência de interesse, falta de oportunidades, monotonia, laços sociais frouxos, exclusão da rede primária e secundária, afastamento do trabalho, entre outros. Concluem que o adoecimento mental causa uma ruptura na vida cotidiana das pessoas, marcada por perdas materiais e afetivas, sendo desvalorizada e excluída do seu contexto social, como uma “[...] impressão de desconexão com o mundo compartilhado” (p. 15). Os autores ainda sugerem investimentos dos profissionais nos serviços de saúde mental para inserção social do doente mental, em atividades da vida cotidiana, que gerem, processualmente, autonomia de um lugar social, até grandes desafios como a inclusão no mercado de trabalho e os relacionamentos afetivos. Afinal, segundo Salles e Matsukura (2015Salles, M. M., & Matsukura, T. S. (2015). Estudo de revisão sistemática sobre o uso do conceito de cotidiano no campo da Terapia Ocupacional na literatura de língua inglesa. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 23(1), 197-210. doi: 10.4322/0104-4931.ctoARL510
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, p. 62), “[...] nós somos o que fazemos e as ocupações são uma parte essencial do self”.

Salles e Matsukura (2015Salles, M. M., & Matsukura, T. S. (2015). Estudo de revisão sistemática sobre o uso do conceito de cotidiano no campo da Terapia Ocupacional na literatura de língua inglesa. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 23(1), 197-210. doi: 10.4322/0104-4931.ctoARL510
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), em estudo de revisão da literatura nacional e internacional sobre o cotidiano, destacam uma diversidade de aspectos sobre este termo com um ponto comum entre eles, o que é reconhecido como um processo singular e social, determinado pelo espaço e tempo, para a construção histórico e social das pessoas e que, apesar das adversidades e rupturas da vida, permanecer ocupado se mostra como transformador e protagonista.

O que as pessoas fazem no seu dia a dia, como vivem a cotidianidade, é um fator que influencia diversas áreas da vida, estando intrinsecamente ligado ao processo de saúde e doença. Para a maioria dos homens viver é a vida cotidiana (p. 198).

A experiência na escuta de vozes

A definição da experiência de ouvir vozes nos estudos diversificaram nos 30 artigos em abordagens cognitivas e psicossociais. Sendo que apenas oito artigos discorreram sobre a fenomenologia, tanto da psicopatologia, neurociência como filosófica, ilustrado sinteticamente por ano de publicação na Quadro 1.

Quadro 1
Definições sobre a experiência de ouvir vozes de abordagem fenomenológica

As definições sobre a experiência de ouvir vozes independentemente da abordagem apresentaram um ponto central, qual seja de ser um fenômeno produzido pela linguagem, com base subjetiva e singular, em resposta ao processo de história vivida que as pessoas desenvolvem ao longo da vida. Muñoz, Serpa, Leal, Dahlraneide, & Oliveira (2011Muñoz, M. N., Serpa, O. D., Leal, E. M., Dahlraneide, C. M., & Oliveira, C. (2011). Pesquisa clínica em saúde mental: o ponto de vista dos usuários sobre a experiência de ouvir vozes. Estudos de Psicologia (Natal ), 16(1), 83-89. doi: 10.1590/S1413-294X2011000100011
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) afirmam que, no caso da psicose, as vozes acontecem por uma exposição inadequada da linguagem, consequência da pluralidade de experiências internas e externas, como também como um efeito de localização de si, de um não sentido.

Sass e Parnas (2003Sass, L., & Parnas, J. (2003). Schizophrenia, consciousness, and the self. Schizophrenia Bulletin, 29(3), 427-444 . doi: 10.1093/oxfordjournals.schbul.a007017SourcePubMed.
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), estudando sobre a esquizofrenia, consciência e o self, afirmam que a escuta de vozes é um distúrbio de ipseidade, ou seja, um sentimento experiencial, como sujeito de experiência, na qual a pessoa se mostra, ela mesma, sua perspectiva de mundo. Estes autores explicam que este distúrbio ocorre por dois motivos: (i) pela hiperreflexividade, que é uma forma exagerada de consciência, como ruptura das estruturas básicas da experiência; e (ii) pela imposição de autoafeto. E que ambos os motivos são “[...] promotores do senso de auto percepção e da coerência do domínio experiencial de mundo e em nós mesmos no mundo” (p. 5).

Sobre as alucinações auditivas, Rosen et al. (2008Rosen, C., Jones, N., Chase, K. A., Grossman, L. S., Gin, H., &Sharma, R. P. (2008).Self, voices and embodiment: a phenomenological analysis. Journal of Schizophrenia Research, 2(1), 1008. doi: 10.1080/17522439.2016.1162839
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) descrevem como uma variação substancial egossintônico, da harmonia ou egodistônico, do conflito dos sentimentos, comportamentos e valores. Estes autores caracterizam a experiência de ouvir vozes por diversidades de tipologias, representando uma heterogeneidade na expressão deste fenômeno.

De um modo geral, a caracterização da vivência das vozes mostra que podem ser sons ou falas com conteúdos negativos e depreciativos, recorrentes, uma experiência real e perturbadora, que se torna intensa nas situações de estresse, ansiedade e sintomas depressivos, mas que pode acontecer em pessoas com ou sem diagnóstico psiquiátrico, quando, na maioria das vezes, é uma experiência não compartilhada pelas pessoas por medo do preconceito e do estigma social.

Os estudos de McCarthy-Jones et al. (2013McCarthy-Jones, S., Krueger, J., Laroi, F., Broome, M., & Fernyhough, C. (2013). Stop, look, listen: the need for philosophical phenomenological perspectives on auditory verbal hallucinations. Frontiers in Humana Neurosciense, 7(127), 1-9, doi: 10.3389/fnhum.2013.00127
https://doi.org/10.3389/fnhum.2013.00127...
, 2014McCarthy-Jones, S., Trauer, T., Mackinnon, A., Sims, E., Thomas, N., & Copolov, D. L. (2014). A new phenomenological survey of auditory hallucinations: evidence for subtypes and implications for theory and practice. Schizophrenia Bulletin, 40(1), 225-235. doi:10.1093/schbul/sbs156
https://doi.org/10.1093/schbul/sbs156...
) referem que existe a dificuldade de compreender o fenômeno das alucinações auditivas em virtude da heterogeneidade fenomenológica ocorrida nesta experiência. Além disso, discorrem sobre a carência de investigações de abordagens cognitiva e fenomenológica que estudam aspectos subjetivos internos; além da importância na compreensão deste fenômeno por meio de metodologias interdisciplinares, considerando o ouvinte e as experiências subjetivas em si, entendendo as múltiplas perspectivas sobre a realidade das pessoas para ampliação e o enriquecimento terapêutico, possibilitando potencializar as estratégias terapêuticas no cotidiano dos serviços.

Fernandes e Zanello (2018Fernandes, H., & Zanello, V. (2018). O grupo de ouvidores de vozes: dispositivo de cuidado em saúde mental. Psicologia em Estudo, 23, 117-128. doi: 10.4025/psicol estud.v23.39076
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), em estudo sobre a experiências de ouvir vozes realizado com pessoas em tratamento de um Centro de Atenção Psicossocial, destacaram nove variáveis topográficas ou predicativas desta experiência, ou seja, como que ocorre a escuta das vozes para estas pessoas. Dessa forma, chegaram a nove formas de vivência da escuta das vozes: a intensidade, a frequência, o conteúdo, a quantidade, a identidade, o gênero, o formato, a valência emocional e o nível de influência.

O trauma, psicológico ou físico, é apresentado nos artigos como uma das causas principais da experiência de ouvir vozes, podendo ocorrer, portanto, em qualquer fase da vida. Entretanto, alguns autores (Kantorski, Antonacci, Andrade, Cardano, & Minelli, 2017Kantorski, L. P., Antonacci, M. H., Andrade, A. P. M., Cardano, M., & Minelli, M. (2017 ). Grupos de ouvidores de vozes: estratégias e enfrentamentos. Saúde em Debate, 41(115 ), 1143-1155 . doi: 10.1590/0103-1104201711512
https://doi.org/10.1590/0103-11042017115...
; Kantorski, Cardano, Couto, Streicher, & Santos, 2018) afirmam que apesar desta constatação, independentemente do cuidado do trauma em si não ocorre a eliminação da vivência, mas que a narrativa da pessoa sobre sua vivência auxiliará na compreensão e no manejo de um cotidiano com qualidade de vida.

Estes autores concordam que é uma prática comum considerar a escuta de vozes como um signo psicopatológico, utilizando a terapêutica medicamentosa para eliminação deste sintoma. No entanto, destacam que em uso ou não de antipsicóticos as pessoas informam que esta experiência permanece e que a melhora surge à medida que passam a se ocupar com alguma tarefa ou a entender suas emoções sobre a experiência em si e gerenciá-las nas suas atividades do cotidiano

Com o uso do descritor ouvidores de vozes na pesquisa da literatura observamos a prevalência de 17 artigos que tratavam sobre a experiência com foco na aprendizagem sobre o manejo desta vivência no cotidiano por meio de um grupo de autoajuda, em ambiente virtual (03 artigos) ou presencial, denominado Grupos de Ouvidores de Vozes, de uma rede denominada de Intervoice, considerada uma comunidade da web interativa para troca de experiências. E que Kantorski et al. (2018Kantorski, L. P., Cardano, M., Couto, M. L. O., Streicher, M. S., & Santos, C. G. (2018 ). Situações de vida relacionadas ao aparecimento das vozes: com a palavra os ouvidores de vozes. Journal of Nursing and Health, 8(n.esp.), e188416 doi:10.15210/JONAH.V8I0.14096
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) consideram este movimento como de rápido crescimento no mundo, com redes nacionais de ouvidores de vozes em 26 países.

Os estudos que tratam sobre o Grupo de Ouvidores de Vozes apresentaram conteúdos sobre o histórico do grupo, conceitos sobre a vivência de ouvir vozes, características de funcionamento do grupo, e desafios e benefícios da abordagem junto às pessoas. Os autores referem que neste grupo ocorre um espaço para entender o significado das vozes, estimulando o sentimento de pertencimento social, a troca de experiências, a criação de laços, a autonomia, contribuindo para compreensão de um nexo entre a experiência de ouvir vozes e a presença do transtorno mental (Barros & Serpa, 2014Barros, O. C., & Serpa, J. O. D. (2014). Ouvir vozes: um estudo netnográfico de ambientes virtuais para ajuda mútua. Physis Revista de Saúde Coletiva, 27(4), 867-888. doi: 10.1590/S0103-73312017000400002
https://doi.org/10.1590/S0103-7331201700...
; Kantorski et al., 2018Kantorski, L. P., Cardano, M., Couto, M. L. O., Streicher, M. S., & Santos, C. G. (2018 ). Situações de vida relacionadas ao aparecimento das vozes: com a palavra os ouvidores de vozes. Journal of Nursing and Health, 8(n.esp.), e188416 doi:10.15210/JONAH.V8I0.14096
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; Barros, Melca, & Serpa Jr., 2018Bender, A. R. M. J., Tavares, D. H., Coradini, D. R., Lopes, I. F., Farias, I. D., Silva, L. D., Silveira, P. B. (2018). Um desafio cotidiano: aprender a conviver com as vozes. Journal of Nursing and Health, 8 (n.esp.), e188410).

Cardano (2018Cardano, M. (2018). O movimento internacional de ouvidores de vozes: as origens de uma tenaz prático de resistência. Journal of Nursing and Health, 8(n.esp.), e188405. doi: 10.15210/JONAH.V8I0.13981
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), sobre o movimento de ouvidores pelo mundo, afirma como uma abordagem tenaz para a revisão do processo de medicalização e para as diversas formas de alteridade. Este autor define as fases do movimento de ouvidores de vozes como um processo dialético de focalização, restituição das vozes à normalidade, atribuição de sentido e sua valorização, como uma “[...] rede de network internacional para ouvidores de vozes que se propõem a conectar todas as iniciativas a favor dos ouvidores difundidos pelo mundo” (p. 6).

No grupo de ouvidores de vozes, a alucinação auditiva é vista como um modo próprio pelo qual a linguagem se estrutura, uma pluralidade de vivências das relações com o mundo (Muñoz, et al., 2011Muñoz, M. N., Serpa, O. D., Leal, E. M., Dahlraneide, C. M., & Oliveira, C. (2011). Pesquisa clínica em saúde mental: o ponto de vista dos usuários sobre a experiência de ouvir vozes. Estudos de Psicologia (Natal ), 16(1), 83-89. doi: 10.1590/S1413-294X2011000100011
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). Ouvir vozes, portanto, é reconhecido nos estudos como uma fenomenologia comum compartilhada com o mundo e que neste espaço mostra-se como (i) uma possibilidade de ressignificação da experiência (Pimentel, 2005Pimentel, A. (2005). Psicodiagnóstico em gestalt-terapia. São Paulo, SP: Summus.; Kantorski et al., 2018Kantorski, L. P., Cardano, M., Couto, M. L. O., Streicher, M. S., & Santos, C. G. (2018 ). Situações de vida relacionadas ao aparecimento das vozes: com a palavra os ouvidores de vozes. Journal of Nursing and Health, 8(n.esp.), e188416 doi:10.15210/JONAH.V8I0.14096
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); (ii) um espaço que permite dialogicidade;ou (iii) como uma habilidade de discurso interno para incorporar múltiplas perspectivas sobre a realidade (McCarthy-Jones et al., 2013McCarthy-Jones, S., Krueger, J., Laroi, F., Broome, M., & Fernyhough, C. (2013). Stop, look, listen: the need for philosophical phenomenological perspectives on auditory verbal hallucinations. Frontiers in Humana Neurosciense, 7(127), 1-9, doi: 10.3389/fnhum.2013.00127
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, 2014McCarthy-Jones, S., Krueger, J., Laroi, F., Broome, M., & Fernyhough, C. (2013). Stop, look, listen: the need for philosophical phenomenological perspectives on auditory verbal hallucinations. Frontiers in Humana Neurosciense, 7(127), 1-9, doi: 10.3389/fnhum.2013.00127
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).

O fenômeno de ouvir vozes na expressão cotidiana

O cotidiano é considerado uma dinâmica teia de ocupações, tarefas, hábitos, e papéis sociais, singulares e subjetivos de uma pessoa, influenciado por contextos socioculturais (Salles & Matsukura, 2015Salles, M. M., & Matsukura, T. S. (2015). Estudo de revisão sistemática sobre o uso do conceito de cotidiano no campo da Terapia Ocupacional na literatura de língua inglesa. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 23(1), 197-210. doi: 10.4322/0104-4931.ctoARL510
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). Segundo as autoras, todas as tarefas que executamos ao longo do dia, nossas representações, compõem dois aspectos, o perfil ocupacional que é central da experiência humana para nosso domínio no ambiente, oferecendo sentido de temporalidade e satisfação, constituindo a biografia; enquanto que o papel ocupacional promove identidade, consolidado pela rotina e os hábitos.

A literatura mostrou que a experiência da escuta de vozes se caracteriza também no contexto do cotidiano, influenciando as atividades do dia a dia das pessoas, por se tratar de processos subjetivos, afetivos, cognitivos, perceptivos e social, pois esta vivência é perturbadora e geradora de um distanciamento ou estranhamento nas ocupações, tarefas, rotina e papéis sociais (Vilhauer, 2017Vilhauer, R. (2017). Stigma and need for care in individuals who hear voices. International Journal od Social Psychiatry, 63(1), 5-13. doi: 10.1177/0020764016675888
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; Bender et al., 2018Bender, A. R. M. J., Tavares, D. H., Coradini, D. R., Lopes, I. F., Farias, I. D., Silva, L. D., Silveira, P. B. (2018). Um desafio cotidiano: aprender a conviver com as vozes. Journal of Nursing and Health, 8 (n.esp.), e188410; Fernandes & Zanello, 2018Fernandes, H., & Zanello, V. (2018). O grupo de ouvidores de vozes: dispositivo de cuidado em saúde mental. Psicologia em Estudo, 23, 117-128. doi: 10.4025/psicol estud.v23.39076
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; Kantorski et al., 2018Kantorski, L. P., Cardano, M., Couto, M. L. O., Streicher, M. S., & Santos, C. G. (2018 ). Situações de vida relacionadas ao aparecimento das vozes: com a palavra os ouvidores de vozes. Journal of Nursing and Health, 8(n.esp.), e188416 doi:10.15210/JONAH.V8I0.14096
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).

Na pesquisa de literatura, 17 artigos apresentavam conteúdos sobre as alucinações auditivas e relacionavam a contexto do cotidiano, como uma dimensão da pessoa para sua saúde mental, nos quais, por exemplo, o trabalho e a vida social que são referidos como atividades que são prejudicadas pelas alucinações auditivas. Além disso, consideram que as demandas da vida adulta pioram a vivência das vozes no cotidiano como, por exemplo, o cansaço e a sobrecarga nas tarefas do dia a dia, a dificuldade de mobilidade com autonomia pelo território, ou mesmo o isolamento e a ociosidade no domicilio (Smith, 2007Smith, D. B. (2007).Você pode viver com as vozes em sua cabeça?Revista Latinoamericana Psicopatológia Fundamental, X(2),295-306. doi: 10.1590/1415-47142007002008
https://doi.org/10.1590/1415-47142007002...
; Kantorski et al., 2017Kantorski, L. P., Antonacci, M. H., Andrade, A. P. M., Cardano, M., & Minelli, M. (2017 ). Grupos de ouvidores de vozes: estratégias e enfrentamentos. Saúde em Debate, 41(115 ), 1143-1155 . doi: 10.1590/0103-1104201711512
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, 2018Kantorski, L. P., Cardano, M., Couto, M. L. O., Streicher, M. S., & Santos, C. G. (2018 ). Situações de vida relacionadas ao aparecimento das vozes: com a palavra os ouvidores de vozes. Journal of Nursing and Health, 8(n.esp.), e188416 doi:10.15210/JONAH.V8I0.14096
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).

Para além das alucinações auditivas, a própria experiência do sofrimento psíquico e estratégias terapêuticas limitadas são geradores de estigma, isolamento e mais adoecimento, gerando inabilidades sociais (Rosen et al., 2008Rosen, C., Jones, N., Chase, K. A., Grossman, L. S., Gin, H., &Sharma, R. P. (2008).Self, voices and embodiment: a phenomenological analysis. Journal of Schizophrenia Research, 2(1), 1008. doi: 10.1080/17522439.2016.1162839
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). Alguns autores fazem um link causal entre a experiência de ouvir vozes, o trauma e as tarefas do cotidiano, como no estudo de Kantorski et al. (2018Kantorski, L. P., Cardano, M., Couto, M. L. O., Streicher, M. S., & Santos, C. G. (2018 ). Situações de vida relacionadas ao aparecimento das vozes: com a palavra os ouvidores de vozes. Journal of Nursing and Health, 8(n.esp.), e188416 doi:10.15210/JONAH.V8I0.14096
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) que pontuam que apesar de todos os participantes estarem em idade laboral apenas uma pessoa do estudo exercia um trabalho formal.

Por outro lado, outros estudos mostraram existir uma relação entre a melhora significativa nas perturbações ocasionadas pela escuta das vozes no decorrer do dia com o envolvimento da pessoa com tarefas, favorecendo por meio de um cotidiano ocupacional sensação de tranquilidade, organização do pensamento e satisfação pessoal (Kantorski et al., 2017Kantorski, L. P., Antonacci, M. H., Andrade, A. P. M., Cardano, M., & Minelli, M. (2017 ). Grupos de ouvidores de vozes: estratégias e enfrentamentos. Saúde em Debate, 41(115 ), 1143-1155 . doi: 10.1590/0103-1104201711512
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, 2018Kantorski, L. P., Cardano, M., Couto, M. L. O., Streicher, M. S., & Santos, C. G. (2018 ). Situações de vida relacionadas ao aparecimento das vozes: com a palavra os ouvidores de vozes. Journal of Nursing and Health, 8(n.esp.), e188416 doi:10.15210/JONAH.V8I0.14096
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; Fernandes & Zanello, 2018Fernandes, H., & Zanello, V. (2018). O grupo de ouvidores de vozes: dispositivo de cuidado em saúde mental. Psicologia em Estudo, 23, 117-128. doi: 10.4025/psicol estud.v23.39076
https://doi.org/10.4025/psicol estud.v23...
).

Vilhauer (2017Vilhauer, R. (2017). Stigma and need for care in individuals who hear voices. International Journal od Social Psychiatry, 63(1), 5-13. doi: 10.1177/0020764016675888
https://doi.org/10.1177/0020764016675888...
) e Barros et al. (2018Barros, O. C., Melca, F. M. A., &Serpa Jr, O. D. (2018). Redes e mídias sociais: o potencial multiplicador para a ajuda mútua de ouvidores de vozes. Journal of Nursing and Health, 8(n.esp.), e188418. doi: 10.15210/JONAH.V8I0.14120
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) apresentam o uso da internet como, por exemplo, a rede dos ouvidores de vozes da web como um espaço de apoio, ajuda e interação social, afirmando a necessidade no uso desta ferramenta para divulgação e minimização do descrédito social sobre estas pessoas. Corroborando com Antonacci e Minelli (2018Antonacci, M. H., & Minelli, M. O. (2018). Enfrentamento das vozes: a experiência de uma região central da Itália. Journal of Nursing and Health, 8(n.esp.), e188408. doi: 10.15210/JONAH.V8I0.13835
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) que descrevem que integrar as atividades nos serviços de saúde mental com atividade do cotidiano dos usuários, independentemente da sua condição de ouvir vozes, o tratamento tornaria eficaz principalmente para vencer o estigma e o isolamento social.

Este enfoque é confirmado por Bender et al. (2018Bender, A. R. M. J., Tavares, D. H., Coradini, D. R., Lopes, I. F., Farias, I. D., Silva, L. D., Silveira, P. B. (2018). Um desafio cotidiano: aprender a conviver com as vozes. Journal of Nursing and Health, 8 (n.esp.), e188410) que, por meio do estudo de narrativas de pessoas sobre a convivência com a experiência de ouvir vozes e o enfrentamento das atividades do cotidiano, destacaram que, apesar de associarem esta experiência como um dom espiritual ou problemas graves mentais, as pessoas quando investiram em estratégias para manejo da experiência melhoraram a convivência social e também pedir ajuda nos momentos de crise.

Nos estudos que apresentaram narrativas de pessoas participantes de grupos de ouvidores de vozes, as atividades do cotidiano foram colocadas de forma ambivalente, ou seja, como uma dificuldade de realizá-las, em virtude da vivência perturbadora com as vozes; ou como forma de, por meio da realização da atividade, ocupar a mente e diminuir as vozes, como estratégico no manejo da experiência para organizar o pensamento (Muñoz, et al., 2011Muñoz, M. N., Serpa, O. D., Leal, E. M., Dahlraneide, C. M., & Oliveira, C. (2011). Pesquisa clínica em saúde mental: o ponto de vista dos usuários sobre a experiência de ouvir vozes. Estudos de Psicologia (Natal ), 16(1), 83-89. doi: 10.1590/S1413-294X2011000100011
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;Barros & Serpa, 2014Barros, O. C., & Serpa, J. O. D. (2014). Ouvir vozes: um estudo netnográfico de ambientes virtuais para ajuda mútua. Physis Revista de Saúde Coletiva, 27(4), 867-888. doi: 10.1590/S0103-73312017000400002
https://doi.org/10.1590/S0103-7331201700...
;Barros, et al., 2018Bender, A. R. M. J., Tavares, D. H., Coradini, D. R., Lopes, I. F., Farias, I. D., Silva, L. D., Silveira, P. B. (2018). Um desafio cotidiano: aprender a conviver com as vozes. Journal of Nursing and Health, 8 (n.esp.), e188410;Kantorski et al., 2018Kantorski, L. P., Cardano, M., Couto, M. L. O., Streicher, M. S., & Santos, C. G. (2018 ). Situações de vida relacionadas ao aparecimento das vozes: com a palavra os ouvidores de vozes. Journal of Nursing and Health, 8(n.esp.), e188416 doi:10.15210/JONAH.V8I0.14096
https://doi.org/10.15210/JONAH.V8I0.1409...
).

Considerações finais

Por meio da revisão de literatura, mostramos as definições sobre a experiência da escuta de vozes - as alucinações auditivas - sua caracterização e tipologias; a abordagem dos ouvidores de vozes; e o manejo das pessoas que vivenciam este fenômeno na expressão cotidiana.

A caracterização da escuta das vozes se mostrou diversificadas em relação à experiência das pessoas, confirmando a heterogeneidade na expressão deste fenômeno, reforçando seu enfoque, para além da sintomatologia psicopatológica, mas também subjetivo e singular da produção da linguagem sobre a história vivida.

Os estudos de análise fenomenológica apresentaram esta experiência como própria do ouvidor, ligada à biografia da pessoa, mas pouco compartilhada, considerado como um distúrbio de ipseidade, de hiperreflexividade e imposição de autoafeto da vivência, que se mostra na expressão cotidiana.

Nos resultados identificamos que os artigos focalizam como tema central da experiência de ouvir vozes às vivências traumáticas e consequências no dia a dia, comprometendo o desempenho de atividades laborativas, com afastamento ou perda do trabalho, ausência de oportunidades, laços sociais frouxos, entre outros. Além disso, os estudos encaminham para necessidade de integração das atividades do cotidiano das pessoas nas estratégias terapêuticas dos profissionais no serviço, pois do contrário, servem apenas como estímulo à institucionalização, à cronicidade e à ruptura do cotidiano.

Por outro lado, envolver as pessoas nas ocupações e tarefas do cotidiano promove o reconhecimento de papéis sociais, trazendo bem-estar geral, sentido de organização e oferecendo uma reflexão de si mesmo no mundo.

Neste sentido, faz-se necessário e urgente conhecer e investir nas novas abordagens, de compreensão subjetiva e histórica, como na vivência da escuta das vozes. Entendemos que o resgate do sentido de normalidade, o compartilhamento da experiência e a autonomia e liberdade no cuidado de si mesmo são fundamentais para a saúde mental, produzindo uma apropriação do cotidiano, com protagonismo, representando a expressão cotidiana de cada pessoa. Neste cenário, o grupo de ouvidores de vozes mostra-se como uma ferramenta estratégica relevante no cuidado, pois valoriza a experiência, o espaço de pluralidade e de ressignificação para a vida.

Com o estudo cumprimos o objetivo de realizar uma revisão narrativa da literatura cientifica sobre a experiência de ouvir vozes e sua expressão cotidiana em que o ouvidor se insere. Consideramos a tarefa relevante por fornecer à equipe de saúde subsídios para desenvolver uma análise sobre estigmas e preconceitos ligados ao diagnóstico nosológico do fenômeno das alucinações auditivas no campo da saúde mental.

Finalizamos ressaltando a necessidade de estudos empíricos que abordem a compreensão da escuta de vozes, com foco fenomenológico da experiência do mundo da vida das pessoas, para uma compreensão do reconhecimento no cotidiano de papéis ocupacionais, e assim auxiliar nas práticas terapêuticas no cuidado em saúde mental.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    29 Jun 2020
  • Aceito
    19 Fev 2022
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