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EQUIPES MULTIPROFISSIONAIS: DESAFIOS E POSSIBILIDADES FRENTE ÀS PRIORIDADES DEFINIDAS PELAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS

Equipos multiprofesionales: desafíos y posibilidades frente a las prioridades definidas por las políticas educacionales

RESUMO

A partir da experiência do trabalho realizado em uma equipe multiprofissional na Rede Pública de Educação Básica no Município de São Paulo, o texto propõe uma reflexão sobre as ações desses profissionais por meio de uma perspectiva institucional, no apoio ao trabalho docente, no reconhecimento das práticas de educação escolar e nas relações que se estabelecem nesse espaço. Procura identificar os desafios e possibilidades desse trabalho, levando em conta os fatores intraescolares e extraescolares como base nas intervenções, refletindo sobre a queixa escolar e excluindo qualquer prática de patologização e psicologização da vida.

Palavras-chave:
educação e inclusão; equipe multiprofissional; trabalho em rede

RESUMEN

A partir de la experiencia de la labor realizada en un equipo multiprofesional, en la Red Pública de Educación Básica en el Municipio de São Paulo, en el texto se propone una reflexión sobre las acciones de esos profesionales a partir de una perspectiva institucional, en el apoyo a la labor docente, en el reconocimiento de las prácticas de educación escolar y en las relaciones que se establecen en ese espacio. Busca identificar los desafíos y posibilidades de esa labor, llevando en cuenta los factores intra escolares y extraescolares como base en las intervenciones, reflejando la queja escolar y excluyendo cualquier práctica de patologización y psicologización de la vida.

Palabras clave:
educación e inclusión; equipo multiprofesional; trabajo en red

ABSTRACT

Based on the experience of work carried out in a multidisciplinary team, in the Public Basic Education Network in the Municipality of São Paulo, the text proposes a reflection on the actions of these professionals from an institutional perspective, in supporting teaching work, in recognizing the school education practices and the relationships that are established in this space. It seeks to identify the challenges and possibilities of this work, taking into account intra-school and extra-school factors as a basis for interventions, reflecting school complaints and excluding any practice of pathologizing and psychologizing life.

Keywords:
education and inclusion; multidisciplinary team; network work

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, muito se tem discutido sobre as expectativas em torno de intervenções da psicologia e da assistência social no campo da Educação, principalmente em relação às diferentes posições ideológicas, conceituais e práticas. Nesse sentido, compartilho uma experiência que pretende provocar e contribuir nos diálogos e reflexões desse exercício. Sou professora, pedagoga, com especializações em Psicopedagogia e Educação Especial. Com mais de 30 anos na Educação, nos setores público e privado, em sala de aula, coordenação pedagógica, direção escolar e orientação educacional. Uma trajetória que compreende o processo humano de aprendizagem como um fenômeno complexo, que envolve aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais, culturais, algo que desafia qualquer tentativa de explicação a partir de um discurso científico único. A escola, como um espaço potente na construção de conhecimento para o alcance de direitos humanos fundamentais, no princípio da igualdade e da liberdade. Nessa perspectiva, nos anos de 2015 a 2017 participei, com uma equipe multiprofissional, na implantação e implementação de uma política pública educacional no município de São Paulo: Núcleo de Apoio e Acompanhamento para a Aprendizagem (NAAPA). Instituído pela portaria nº 6.566, de 2014, tinha como objetivo acolher a demanda de estudantes que apresentavam dificuldades no processo de escolarização, vulnerabilidade social, entre outras questões.

Na Secretaria Municipal de Educação, o trabalho da equipe foi intenso, com o apoio em pautas importantes de formação1 1 FAFE Fundação de Apoio à Faculdade de Educação. Disponível em http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/33858.pdf acesso em 27-07-2021 e o desafio de construir, com as equipes que compunham os Núcleos nas 13 Diretorias Regionais (DREs), um espaço de interlocução, estudos coletivos, argumentos reflexivos e teóricos sobre as demandas apontadas pelas equipes escolares. Trabalho que resultou, de forma colaborativa, na produção de documentos importantes2 2 Cadernos de Debates do NAAPA disponível em https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/noticias/cadernos-de-debates-do-naapa/ acesso em 27-07-2021 , intencionando a consolidação do serviço no sentido das orientações e ações nas escolas. As equipes eram constituídas por um(a) coordenador(a), um(a) psicólogo(a), dois(duas) psicopedagogos(as) e um(a) auxiliar técnico(a) educacional. Como psicopedagoga, na coordenação da equipe, no território de Campo Limpo, zona sul de São Paulo, respeitando as habilidades e características de cada um, o objetivo era promover ações visando a reflexão, a integração, a contribuição pessoal e a colaboração de todos para o desenvolvimento de um trabalho comprometido com a garantia integral de direitos de bebês, crianças, jovens e adultos. Na ocasião, cada equipe contou com uma assessoria. Em Campo Limpo esse apoio foi realizado por Valéria C. Braunstein,3 3 Graduada em Psicologia pela Universidade Paulista, Pedagogia e especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Nove de Julho, Aperfeiçoamento em Queixa Escolar e Mestre em Educação pela USP, na área de psicologia e educação, Doutora pela UNIFESP no programa de educação e saúde na infância e adolescência. que com contribuições importantes, dialogou e refletiu as ações durante todo o processo.

Foi um grande desafio planejar e organizar o trabalho, de maneira a atender às demandas, pensando no coletivo que compunha a comunidade escolar. Um território com dimensões continentais, bastante diverso em suas características, atendendo a cinco distritos com mais de 400 unidades escolares entre rede direta e parceiras, 8 Centros Educacionais Unificados (CEUs), um número aproximado de 7.000 educadores e educadoras e mais de 100 mil estudantes. O apoio de outras equipes na DRE foi fundamental, principalmente do Diretor Regional, que sempre foi muito presente nos diálogos e parceiro nas ações, da equipe multidisciplinar, que fazia parte do Programa Inclui4 4 Um conjunto de projetos de educação inclusiva da Secretaria Municipal de Educação. Disponível em http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/16040.pdf. Acesso em 27-07-2021. e atuava no Centro de Formação e Acompanhamento A Inclusão (CEFAI).

A primeira ação na equipe foi realizar um levantamento do número de escolas e apresentar o NAAPA em todas as unidades escolares. Nesse primeiro encontro a proposta era de uma escuta atenta para algumas questões importantes sobre as expectativas a respeito desse apoio na rede. Num segundo momento, a equipe se organizou para articular e fortalecer a rede de proteção no(s) território(s), mapeando todos os serviços: Centros de Referência em Assistência Social (CRAS), Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Unidades Básicas de Saúde (UBS), Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), Serviços de Medidas Socioeducativas em meio aberto (MSE), Conselhos Tutelares, Núcleos de Prevenção à violência (NPV), Centros da Juventude, da Criança e Adolescente, Fábricas de Cultura, Organizações não Governamentais, coletivos e projetos sociais, lideranças comunitárias, entre outros. Nos apresentarmos nesses espaços possibilitou conhecer os profissionais e identificar, nessa composição, pessoas que poderiam se envolver nas ações junto à comunidade escolar. Foram encontros que compreenderam escuta, acolhimento, empatia e cuidado na tomada de decisões.

Outro movimento importante foi a utilização de gráficos para organizar os dados, que chegavam ao Núcleo por meio de relatórios, referentes às principais queixas escolares, como: dificuldades de aprendizagem, vulnerabilidade e risco social, comportamentos inadequados, agressividade, violência sexual, evasão escolar, entre outras. Através dessas informações fomos entendendo que nosso trabalho deveria acontecer próximo aos educadores e educadoras, estudantes e seus familiares, priorizando ações que pudessem provocar diálogos na compreensão e concretização de uma escola inclusiva, refletindo sobre currículo escolar, ambiente educacional, valores e atitudes que, objetiva ou subliminarmente, constroem e consolidam mecanismos de inclusão ou exclusão. Nesse sentido, entendemos que seria importante:

  • Fortalecer o diálogo com as práticas escolares, considerando a observação do que se apresentava como queixa, pensando nessa posição discursiva que expõe, no cotidiano desse espaço: o estranho, o agressivo, o que não aprende ou não obedece. Nesse sentido, Patto (1999Patto, M. H. S. (1999). A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo.) desenvolve reflexões conceituais importantes que nos ajudam a compreender as situações que enviesam o processo educativo e que culpabilizam o sujeito e sua história de vida pelo fracasso escolar.

  • Refletir sobre as dificuldades para lidar com as diferenças, seja nas relações interpessoais, profissionais ou afetivas e o os efeitos provocados a partir do contato com essa diversidade;

  • Reconhecer o desafio, de educadores e educadoras, para romper com a lógica de individualização de resultados escolares e identificar, nesse processo, um mecanismo de encaminhamentos, principalmente para a saúde, que não refletia as dificuldades que se apresentavam nesse cotidiano. Perceber nesse movimento práticas que não consideravam atitudes, interações e convivência. Segundo Moysés (2009Moysés, M. A. A. (2009). A institucionalização Invisível - Crianças que não aprendem na escola. Campinas: Mercado de Letras.), todas as crianças são absolutamente normais, mas vão se tornando doentes. E doentes, necessitam de atendimento psicológico, não por não aprender, mas pela vida estigmatizada, pela incapacidade introjetada;

  • Potencializar as ações dos educadores e educadoras, compreendendo nesse contexto o apoio do NAAPA no acompanhamento de situações mais complexas, envolvendo risco ou vulnerabilidade;

  • Refletir sobre a realidade educacional e as expectativas sobre possíveis mudanças a partir da presença de psicólogos e assistentes sociais no interior da escola, levantando situações, buscando contextos;

  • Incentivar a interação entre os profissionais da Educação e rede de apoio intencionando a construção de ações mais integradas nos territórios.

Para tanto nos organizamos em duas frentes de trabalho, descritas a seguir.

Itinerância nas Unidades Escolares

Apoio e acompanhamento às situações mais pontuais, participando, juntamente com a equipe escolar, de ações junto aos grupos de estudantes, famílias, cujas dificuldades no processo de escolarização se apresentavam mais complexas e de difícil manejo na escola. Foram encontros e práticas que contribuíram com esse coletivo, com o processo de ensino e aprendizagem, conforme relato de experiências, caderno de debates NAAPA.5 5 Volume 4, pp. 23-27. Disponível em https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/Portals/1/Files/35139.pdf Em horários de estudos, junto à equipe escolar, potencializando os saberes que emergiam das experiências individuais e coletivas. Nas ações conjuntas envolvendo a rede de proteção.

Grupos de Trabalho (GT)

A proposta de grupos teve uma importância central no nosso trabalho. Uma disposição da equipe em construir um espaço sistemático de estudos, reflexões e aprendizagens à luz de textos de autores com apontamentos importantes: a formação contínua de professores na tendência reflexiva, como uma política de valorização do desenvolvimento pessoal e profissional dos professores e das instituições escolares (Pimenta, 1996Pimenta, S. G. (1996). Formação de professores: saberes da docência e identidade do professor. Revista da Faculdade de Educação, USP, 1(1), pp. 72-89.), a prática de pesquisa em educação e a ideia de abstracionismo pedagógico (Azanha, 2011Azanha, J. M. P. (2011). Uma ideia de pesquisa educacional(2 ed.). São Paulo: Edusp.), os saberes que servem de base aos professores para realizarem seu trabalho em sala de aula (Tardif, 2002Tardif, M. (2002). Saberes docentes e formação profissional(3 ed.). Petrópolis: Vozes.) e a compreensão dessa rica diversidade de sujeitos, de experiências sociais e de saberes no direito ao conhecimento (Arroyo, 2013Arroyo, M. G. (2013). Currículo, território em disputa(5 ed.). Petrópolis, RJ: Vozes.). Foi importante produzir espaços e condições propiciadoras de formação contínua no local de trabalho, em redes de autoformação e na parceria com profissionais da saúde e assistência social. Os resultados foram encontros em que educadores e educadoras puderam compartilhar suas práticas e experiências, compreendendo, uma formação de cunho colaborativo, com saberes específicos, mas que não se constituíam como únicos e reconhecendo nessa diversidade importantes contribuições para a prática educativa. Nesse sentido, Pimenta (1996, p. 85) diz que “(...) Os problemas da prática profissional docente não são meramente instrumentais, mas comportam situações problemáticas que requerem decisões num terreno de grande complexidade, incerteza, singularidade e de conflito de valores”.

Os Grupos de trabalho foram encontros organizados com os seguintes temas:

Vulnerabilidade e risco social - a importância da escola

Refletir sobre a desigualdade, as relações da sociedade contemporânea na busca de justiça social e a partir da interação entre fatores sociais, econômicos, políticos e culturais, compreender a construção do termo, historicizando o conceito de vulnerabilidade e risco social. Reconhecer seus aspectos subjetivos, relacionais, estruturais e culturais, identificando condições e circunstâncias em que ambientes de violência e de violações possibilitam ou estimulam situações e vivências que podem tornar as pessoas vulneráveis e vitimizadas. Foram encontros importantes no sentido de maior compreensão sobre o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e Adolescente, seus atores e funcionalidade.

Conflitos, violências e violações

Nas dinâmicas e troca de experiências, foi possível debater um contexto social permeado por injustiças, desigualdades e preconceitos. Identificar os efeitos dessas agressões em nós mesmos e entender como elas estão presentes em nossas atitudes cotidianas. Abordar processos de exclusão, ciclos da violência e suas dimensões, pessoais, interpessoais, estruturais e culturais. Discutir criticamente a escola como instituição que não só absorve, mas que também gera violências.

Nesses encontros de grupos a equipe contou com a parceria de Andréa Arruda Paula.6 6 Graduação em Pedagogia pela Universidade Bandeirante de São Paulo, Psicologia pela Universidade de Santo Amaro, Pós-graduação em Ciências Humanas e suas Tecnologias pela UNICAMP. Coordenadora de Projetos do Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Campo Limpo. Uma contribuição importante da psicologia na educação, na abordagem dos temas e nas reflexões sobre o funcionamento dos mecanismos de aprendizagem, a eficácia das estratégias educacionais e da própria escola enquanto organização.

Escola e território - diálogos entre a Rede de Atenção e Proteção Social

Entender os propósitos, quando estamos envolvidos, educadores e educadoras, estudantes e famílias, no cotidiano da educação e o que faz essa educação acontecer, não é algo que se alcance facilmente de forma individual, mas de forma coletiva. Esses encontros trouxeram a compreensão de que ninguém está sozinho na escola, e no que se refere ao direito à educação, família e escola também não caminham sozinhas. Nesse encontro o NAAPA contou com a parceria de profissionais do CAPS, CRAS, CREAS e Conselho Tutelar, na apresentação dos serviços, suas atuações, organizações e estratégias de cuidados no território. Numa perspectiva de integração e articulação de práticas educativas, demandas sociais e direitos humanos, potencializou a identificação da escola como uma instituição referida à promoção de saúde e parte da rede. Nas contribuições de Andréa, equipe NAAPA, profissionais da rede, nos relatos de experiências de educadores e educadoras, foi possível discutir as queixas em relação a uma escola sobrecarregada e a complexidade do trabalho docente, perceber um conhecimento e uma percepção do meio, considerando a problemática social, cultural, ética, política e econômica. O entendimento de que a escola não é uma instituição isolada, que tem sido desafiada, todos os dias, a articular o conhecimento que é trabalhado no contexto escolar com a realidade, as dificuldades e as necessidades sociais dos(as) estudantes. Refletir esquemas ordenados numa compreensão de que, apesar de tantas mazelas, carências em infraestrutura e recursos educacionais, a escola é esse lugar de contradição, de vozes de resistência, de construção de natureza e cultura, de conhecimento do que é a coisa pública, do direito de estar entre pares, de transformações para romper com desigualdades. Foram encontros que revelaram um compromisso com a contínua construção coletiva de enfrentamento às concepções e práticas escolares que historicamente se constituíram como hegemônicas.

Um movimento de cuidado em rede

As Itinerâncias da equipe do NAAPA também aconteceram na rede de proteção, nos territórios, participando de fóruns e reuniões, fortalecendo a articulação e o diálogo. Buscávamos, nesses encontros, pensar com essas equipes como articular as ações desenvolvidas isoladamente, ou de forma fragmentada. Nesse contexto, uma ação importante de formação partiu da iniciativa dos profissionais que trabalhavam com adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas. O objetivo era estabelecer canais de comunicação entre os profissionais que atuavam nos serviços e os profissionais de educação nas escolas. Em parceria com a equipe da Diretoria Pedagógica na DRE, foi possível realizar o primeiro encontro de educadores e serviços de medidas socioeducativas em meio aberto da região sul da cidade de São Paulo. Encontros cuidadosamente organizados com os profissionais do serviço, que se dedicaram a compartilhar as dificuldades para lidar com situações complexas no cotidiano profissional refletindo sobre adolescência e conflitualidade, violação de direitos, vulnerabilidade, compromisso ético político pedagógico e social e a necessidade crítica de entender profundamente a importância da escola nesse processo. Nas interações, no processo constante de análise sobre experiências compartilhadas, educadores e educadoras foram desmistificando o serviço e identificando a escola nesse conjunto de ações consistentes de políticas públicas, que poderiam diminuir a vulnerabilidade e a exclusão social a que esses jovens e adolescentes estavam expostos.

Formação continuada

Outra ação importante se deu na proposta de curso para o acolhimento à demanda escolar, discutindo possibilidades de intervenção a partir de estudos de caso. Nessa ação a parceria aconteceu com Valéria C. Braunstein, com encontros que trouxeram a possibilidade de diálogo sobre as queixas em relação ao enfrentamento de situações adversas que provocavam, no espaço escolar, um não saber o que fazer que, em geral, era angustiante, principalmente nas questões com a inclusão de crianças e adolescentes com deficiências e vulnerabilidade social. Situações que, em muitos momentos, paralisavam as ações de professores e professoras que se distanciavam da prática docente, de uma compreensão sobre as ações e relações pedagógicas nesse cotidiano, das possibilidades que pudessem efetivamente promover aprendizagens e que fizessem algum sentido na relação de cada criança ou adolescente com o conhecimento. Nesse sentido, foi importante trazer essas angústias em um encontro formativo. Gestores e gestoras, equipe de apoio, professores e professoras, profissionais que querem tornar a escola um lugar melhor, porém se sentem desencorajados, desqualificados, e negativamente afetados por um regime escolar com tantas exigências burocráticas.

Uma outra ação importante também aconteceu no diálogo sobre violência doméstica, sexual. Juliana Fonseca O. Neri7 7 Mestre em Educação: Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) na Linha de Pesquisa de Políticas Públicas e Reformas Educacionais e Curriculares. Doutora no mesmo Programa. compartilhou informações importantes sobre a atuação da escola no que se refere ao fenômeno, desde a suspeita até o encaminhamento para a rede de proteção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência, nesse trabalho, se fez com propostas e ações de formação, de itinerâncias, de diálogos e intervenções no espaço escolar, refletindo, questionando, problematizando os encaminhamentos escolares. Consequentemente foram se construindo, junto às equipes da educação, saúde e assistência social, propostas de práticas não medicalizantes que respeitassem as várias formas de ser, estar, agir e intervir no mundo. Ações que foram sendo planejadas na perspectiva de um saber plural, no reconhecimento do ato educativo, da subjetividade dos educadores e educadoras e constituído como um espaço permanente de estudos, das relações mediadas pelo trabalho e saberes oriundos dessas experiências. Dessa forma, foi importante perceber ao longo dessas ações, reverberações dessas aprendizagens no desenvolvimento do trabalho na equipe escolar, sobretudo na mudança de suas práticas frente aos desafios no processo de escolarização.

Reconheço a necessidade de um conjunto consistente de ações e políticas educacionais na finalidade de promover o direito fundamental à educação, portanto acredito que também é urgente romper com alguns conceitos e concepções que perpetuam as mesmas queixas escolares sem nenhuma ação, propostas, movimentos ou organizações para modificá-las. Azanha (2011Azanha, J. M. P. (2011). Uma ideia de pesquisa educacional(2 ed.). São Paulo: Edusp., p. 45) apresenta o argumento de que “[...] a escola brasileira tem sido estudada como se fora uma entidade abstrata, completamente desligada de uma ambiência histórica”. Nesse sentido, pude observar que quando mudamos o modo de perceber e deslocamos a compreensão para o que ocorre e o que vem ocorrendo em relação às práticas que dão sustentação à inclusão, apesar das adversidades, condições desfavoráveis e relatos de insuficiência em formações, por parte da equipe escolar, nos surpreendemos com a criatividade, as alternativas e riquezas que, pareadas às ausências, estavam presentes nesse cotidiano.

Por fim, gratidão pela equipe que nos tornamos: Paulo Cavalcante, psicólogo, Danielle Parussi, Graciane Balaban e Denise Perez, psicopedagogas, Mônica Costa, auxiliar técnica de educação, Giovanna Silva, coordenadora pedagógica8 8 Profissionais integrantes da carreira do magistério na Rede Municipal de São Paulo. e, ainda, Fernanda Macedo e Karina dos Santos, psicólogas, Lais Nunes e Karoline Gomes, fonoaudiólogas, Lucilene Silva e Rosa Mello, assistentes sociais9 9 Equipe Multidisciplinar - Programa Inclui. . Uma equipe que, nos anos de 2015 e 2016, com autonomia e inovação, perseverou e trabalhou intensamente na implantação e implementação do NAAPA no território de Campo Limpo, zona sul de São Paulo.

REFERÊNCIAS

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  • Tardif, M. (2002). Saberes docentes e formação profissional(3 ed.). Petrópolis: Vozes.
  • 1
    FAFE Fundação de Apoio à Faculdade de Educação. Disponível em http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/33858.pdf acesso em 27-07-2021
  • 2
    Cadernos de Debates do NAAPA disponível em https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/noticias/cadernos-de-debates-do-naapa/ acesso em 27-07-2021
  • 3
    Graduada em Psicologia pela Universidade Paulista, Pedagogia e especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Nove de Julho, Aperfeiçoamento em Queixa Escolar e Mestre em Educação pela USP, na área de psicologia e educação, Doutora pela UNIFESP no programa de educação e saúde na infância e adolescência.
  • 4
    Um conjunto de projetos de educação inclusiva da Secretaria Municipal de Educação. Disponível em http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/16040.pdf. Acesso em 27-07-2021.
  • 5
    Volume 4, pp. 23-27. Disponível em https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/Portals/1/Files/35139.pdf
  • 6
    Graduação em Pedagogia pela Universidade Bandeirante de São Paulo, Psicologia pela Universidade de Santo Amaro, Pós-graduação em Ciências Humanas e suas Tecnologias pela UNICAMP. Coordenadora de Projetos do Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Campo Limpo.
  • 7
    Mestre em Educação: Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) na Linha de Pesquisa de Políticas Públicas e Reformas Educacionais e Curriculares. Doutora no mesmo Programa.
  • 8
    Profissionais integrantes da carreira do magistério na Rede Municipal de São Paulo.
  • 9
    Equipe Multidisciplinar - Programa Inclui.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Abr 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    04 Out 2021
  • Aceito
    04 Jan 2023
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