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Aposentadoria e Atribuição de Significado: Um Estudo com Trabalhadores Ativos no Brasil

Resumo

O objetivo deste estudo foi investigar os significados atribuídos à aposentadoria por trabalhadores ativos. Para isto, foi construída e aplicada a Escala de Significado da Aposentadoria, numa amostra de 275 trabalhadores ativos (53,5% mulheres) com idades entre 22 e 67 anos. Os resultados revelam o significado ambíguo do fenômeno da aposentadoria: há uma ideia positiva, de liberdade; mas, por outro lado, os trabalhadores relatam angústia e insegurança relacionadas à aposentadoria. Entre as variáveis estudadas, é especialmente relevante o impacto da proximidade da aposentadoria na percepção do fenômeno, que revelou influência sobre três dos quatro fatores identificados. Esta investigação tem implicações para programas e políticas de preparação para a aposentadoria que visam promover a saúde e o bem-estar dos trabalhadores.

Palavras-chave:
aposentadoria; significado; trabalhadores

Abstract

The aim of this study was to investigate the meanings attributed to retirement by active workers. For this purpose, the Retirement Meaning Scale was constructed and administered to 275 active workers (53.5% women) aged 22 to 67 years. The results reveal an ambiguous meaning attribution to the phenomenon: on one hand, there is a positive idea of freedom; on the other hand, the workers report experiences of anguish and insecurity related to retirement. Among the variables investigated, the proximity to retirement was especially relevant to the perception of the phenomenon, which influenced three of the four factors identified. This study has implications for policies and programs that aim to promote healthy experiences in retirement.

Keywords:
retirement; meaning; workers

O trabalho é essencial na organização da sociedade, sendo um dos principais ordenadores da vida humana (Zanelliet al., 2010Zanelli, J. C., Silva, N., & Soares, D. H. P. (2010). Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho: construção de projetos para o pós-carreira. Artmed.). Na vida adulta, o trabalho ocupa posição central na construção da identidade dos indivíduos (Fouad & Bynner, 2008Fouad, N. A., & Bynner, J. (2008). Work transitions. American Psychologist, 63(4), 241-251. https://doi.org/10.1037/0003-066X.63.4.241
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) e é determinante também na construção do autoconceito (Zanelli et al., 2010Zanelli, J. C., Silva, N., & Soares, D. H. P. (2010). Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho: construção de projetos para o pós-carreira. Artmed.), estando, muitas vezes, ligado à autoestima e à identidade do sujeito, refletindo atitudes, valores e posições políticas individuais (Magalhães et al., 2004Magalhães, M. O., Krieger, D. V., Vivian, A. G., Straliotto, M. C. S., & Poeta, M. P. (2004). Padrões de ajustamento na aposentadoria. Aletheia, 19, 57-68. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/aletheia/n19/n19a06.pdf.
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). Do ponto de vista social, o trabalho é reconhecido também como fonte prioritária de inserção e reconhecimento social (Bendassolli & Gondim, 2014Bendassolli, P. F., & Gondim, S. M. G. (2014). Significados, sentidos e função psicológica do trabalho: Discutindo essa tríade conceitual e seus desafios metodológicos. Avances en Psicología Latinoamericana, 32(1), 131-147. https://doi.org/10.12804/apl32.1.2014.09
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; Bressan et al., 2012Bressan, M. A. L. C., Mafra, S. C. T., França, L. H. F. P., Melo, M. S. S., & Loreto, M. D. S. (2012). Trabalho versus aposentadoria: desvendando sentidos e significados. Oikos: Família e Sociedade em Debate, 23(1), 226-250. https://www.oikos.ufv.br/index.php/oikos/article/view/76
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; Zanelli, et al., 2010Zanelli, J. C., Silva, N., & Soares, D. H. P. (2010). Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho: construção de projetos para o pós-carreira. Artmed.) e é comum que horários, atividades e relações interpessoais estabelecidos ao longo da vida se organizem em torno das exigências laborais (Zanelli et al., 2010Zanelli, J. C., Silva, N., & Soares, D. H. P. (2010). Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho: construção de projetos para o pós-carreira. Artmed.).

Pode-se dizer-se, então, que o trabalho é central na organização das comunidades e na vida dos sujeitos, sendo extremamente importante tanto como parte constituinte da identidade e da subjetividade do trabalhador quanto como mediador dos ciclos de vida dos trabalhadores e variável relevante na relação com outros momentos importantes da vida (Bendassolli & Gondim, 2014Bendassolli, P. F., & Gondim, S. M. G. (2014). Significados, sentidos e função psicológica do trabalho: Discutindo essa tríade conceitual e seus desafios metodológicos. Avances en Psicología Latinoamericana, 32(1), 131-147. https://doi.org/10.12804/apl32.1.2014.09
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). Tendo isto considerado e levando em conta, para fins dessa pesquisa, que trabalho e emprego, entendido como atividade remunerada que envolve uma jornada de trabalho (Yamamoto, 2015Yamamoto, O. H. (2015). Trabalho. In P. F. Bendassolli & J. E. Borges-Andrade (Eds.), Dicionário de psicologia do trabalho e das organizações (pp. 641-647). Casa do Psicólogo.), são conceitos paralelos, espera-se que um dos principais eventos da vida de um trabalhador ativo seja o processo de aposentadoria (Bressan, et al., 2012Bressan, M. A. L. C., Mafra, S. C. T., França, L. H. F. P., Melo, M. S. S., & Loreto, M. D. S. (2012). Trabalho versus aposentadoria: desvendando sentidos e significados. Oikos: Família e Sociedade em Debate, 23(1), 226-250. https://www.oikos.ufv.br/index.php/oikos/article/view/76
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; Duarte & Melo-Silva, 2009Duarte, C. V., & Melo-Silva, L. L. (2009). Expectativas diante da aposentadoria: Um estudo de acompanhamento em momento de transição. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 10(1), 45-54. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v10n1/v10n1a07.pdf.
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).

A aposentadoria se tornou, nos últimos anos, um tema de grande importância no estudo do planejamento de carreira (Rodrigues et al., 2014Rodrigues, A. T. N. A., Andrade, L. N., Silva, B. M. F., Lira, N. C. M. & Antloga, C. S. X., (2014). Aposentadoria nas Ciências do Trabalho. In Caderno de Resumos do VI Congresso Brasileiro de Psicologia Organizacional e do Trabalho. Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho. ). A etapa pós-trabalho se apresenta como um paradoxo complexo tanto para os estudiosos quanto para os próprios trabalhadores, uma vez que a aposentadoria pode ter um significado positivo de liberdade para o trabalhador, sendo um momento cobiçado em que o indivíduo poderá se dedicar a projetos pessoais, a família, a si mesmo; e pode, ao mesmo tempo, ter um significado negativo, remetendo a retirar-se, recolher-se aos aposentos, estar à margem.

Sob o ponto de vista etimológico, a palavra “aposentadoria” carrega em si a dualidade de significados deste fenômeno: por um lado, aposentadoria remete ao jubilamento - alegria e liberdade; enquanto que, por outro, remete a retirar-se ou recolher-se aos aposentos, ao espaço de não trabalho, frequentemente associada a abandono, inatividade e finitude (Leandro-França, 2016Leandro-França, C. (2016). Efeito de programas de preparação para aposentadoria: um estudo experimental (Tese de Doutorado). http://repositorio.unb.br/handle/10482/21219.
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). É importante notar que, sendo a linguagem uma importante forma de expressão dos significados compartilhados e de transmissão cultural (Triandis, 2002Triandis, H. C. (2002). Subjective culture. Online Readings in Psychology and Culture, 2(2), 6. https://doi.org/10.9707/2307-0919.1021
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), a escolha das palavras e os significados a elas atribuídos não são aleatórios ou ingênuos. Logo, as palavras de cada língua refletem de forma muito eficiente o significado que aquele grupo atribui aos objetos sociais que os cercam - no Brasil, a significação e a vivência mais negativa da palavra foram evidenciadas em inúmeros estudos (Denton & Spencer, 2009Denton, F. T., & Spencer, B. G. (2009). What is retirement? A review and assessment of alternative concepts and measures. Canadian Journal on Aging, 28(1), 63-76. https://doi.org/10.1017/S0714980809090047
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; França et al., 2013França, C. L., Murta, S. G., Negreiros, J. L., Pedralho, M., & Carvalhedo, R. (2013). Intervenção breve na preparação para aposentadoria. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 14(1), 99-110. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v14n1/10.pdf.
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; Zanelli, 2012Zanelli, J. C. (2012). Processos psicossociais, bem-estar e estresse na aposentadoria. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 12(3), 329-340. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rpot/v12n3/v12n3a07.pdf.
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).

Apesar de haver um aumento significativo em publicações concernentes à aposentadoria nos últimos anos (Fisher et al., 2016Fisher, G. G., Chaffee, D. S., & Sonnega, A. (2016). Retirement timing: A review and recommendations for future research. Work, Aging and Retirement, 2(2), 230-261. https://doi.org/10.1093/workar/waw001
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; França et al., 2013França, C. L., Murta, S. G., Negreiros, J. L., Pedralho, M., & Carvalhedo, R. (2013). Intervenção breve na preparação para aposentadoria. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 14(1), 99-110. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v14n1/10.pdf.
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; Rodrigues et al., 2014Rodrigues, A. T. N. A., Andrade, L. N., Silva, B. M. F., Lira, N. C. M. & Antloga, C. S. X., (2014). Aposentadoria nas Ciências do Trabalho. In Caderno de Resumos do VI Congresso Brasileiro de Psicologia Organizacional e do Trabalho. Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho. ), este é ainda um tema de pesquisa novo, com diversas possibilidades de estudo e intervenção ainda não exploradas. Em revisão mais recente, Boehs et al. (2017Boehs, S. D. T. M., Medina, P. F., Bardagi, M. P., Luna, I. N., & Silva, N. (2017). Revisão da literatura latino-americana sobre aposentadoria e trabalho: perspectivas psicológicas. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 17(1), 54-61. https://doi.org/10.17652/rpot/2017.1.11598
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) identificaram, na produção científica latino-americana, apenas 42 artigos que tratavam o tema da aposentadoria sob a perspectiva da psicologia - tendo sido 24 destes publicados a partir de 2016. Constitui-se, então, um campo incipiente, porém próspero, para a atuação do psicólogo.

Mesmo do ponto de vista histórico, a aposentadoria é um fato muito recente (Oliveira et al., 2009Oliveira, C., Torres, A. R. R., & Albuquerque, E. S. (2009). Análise do bem estar psicossocial de aposentados de Goiânia. Psicologia em Estudo, 14(4), 749-757. https://doi.org/10.1590/S1413-73722009000400015
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; Shultz & Wang, 2011Shultz, K. S., & Wang, M. (2011). Psychological perspectives on the changing nature of retirement. American Psychologist, 66(3), 170-179. https://doi.org/10.1037/a0022411
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). Apenas em 1974 foi criado o Ministério da Previdência e Assistência Social, que define previdência como o seguro social garantido ao trabalhador, que contribui para substituir sua renda quando este perde sua capacidade de trabalho, do ponto de vista legal, por doença, invalidez, idade avançada, morte, desemprego involuntário, maternidade ou reclusão.

Para fins deste estudo, aposentadoria é a fase da vida caracterizada pela desvinculação de atividades de trabalho com compromissos rigorosos e rotina ou que estejam associados a salário e sobrevivência (França et al., 2013França, C. L., Murta, S. G., Negreiros, J. L., Pedralho, M., & Carvalhedo, R. (2013). Intervenção breve na preparação para aposentadoria. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 14(1), 99-110. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v14n1/10.pdf.
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; Oliveira, 2018Oliveira, J.C. (2018). Aposentadoria e trabalho. In R. Mendes (Ed.), Dicionário de saúde e segurança do trabalhador: Conceitos, definições, história e cultura (pp. 139-140). Proteção.). Sendo assim, aposentadoria aqui não deve ser interpretada como sinônimo de não-trabalho, mas como uma etapa diferenciada da carreira. Além disso, trata-se de um processo longo que antecede em muitos anos a concretização do rompimento dos vínculos empregatícios, fato que a caracteriza muito mais como um processo longitudinal, do que como um evento discreto da vida do trabalhador (França et al., 2013França, L. H. F. P., Menezes, G. S., Bendassolli, P. F., & Macedo, L. S. S. (2013). Aposentar-se ou continuar trabalhando? O que influencia essa decisão? Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3), 548-563. https://doi.org/10.1590/S1414-98932013000300004
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; Shultz & Wang, 2011Shultz, K. S., & Wang, M. (2011). Psychological perspectives on the changing nature of retirement. American Psychologist, 66(3), 170-179. https://doi.org/10.1037/a0022411
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; Zanelli, 2015Zanelli, J. C. (2015). Aposentadoria e pós-carreira. In P. F. Bendassolli & J. E. Borges-Andrade (Eds.), Dicionário de psicologia do trabalho e das organizações (pp. 59-68). Casa do Psicólogo.). Temporalmente, é possível identificar pelo menos dois momentos distintos que antecedem a aposentadoria (Magalhães et al., 2004Magalhães, M. O., Krieger, D. V., Vivian, A. G., Straliotto, M. C. S., & Poeta, M. P. (2004). Padrões de ajustamento na aposentadoria. Aletheia, 19, 57-68. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/aletheia/n19/n19a06.pdf.
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): a fase remota - em que o indivíduo reconhece a aposentadoria como um evento distante e, geralmente, o enxerga de maneira positiva; e a fase aproximada - quando o sujeito já é capaz de identificar uma data provável de sua aposentadoria e começa a entrar em contato com a expectativa de desligamento do emprego e das situações sociais que o envolvem (Oliveira, 2018Oliveira, J.C. (2018). Aposentadoria e trabalho. In R. Mendes (Ed.), Dicionário de saúde e segurança do trabalhador: Conceitos, definições, história e cultura (pp. 139-140). Proteção.).

A forma como se dá esse evento e a percepção dos trabalhadores sobre ele é dependente do contexto demográfico, histórico, social, econômico e político em que o trabalhador está inserido (Antunes et al., 2015Antunes, M. H., Soares, D. H. P., & Moré, C. L. O. O. (2015). Repercussões da aposentadoria na dinâmica relacional familiar na perspectiva do casal. Psico, 46(4), 432-441. https://doi.org/10.15448/1980-8623.2015.4.19495
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; França et al., 2013França, C. L., Murta, S. G., Negreiros, J. L., Pedralho, M., & Carvalhedo, R. (2013). Intervenção breve na preparação para aposentadoria. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 14(1), 99-110. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v14n1/10.pdf.
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; França et al., 2017França, L. H. F. P., Amorim, S. M., Souza, A. P., & Schuabb, T. C. (2017). Autobiografia orientada para avaliar vida, carreira e planejar para a aposentadoria. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 18(2), 249-258. https://doi.org/10.26707/1984-7270/2017v18n2p249
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; Guerson et al., 2018Guerson, L. R. S. C., França, L. H. F. P., & Amorim, S. M. (2018). Life Satisfaction in retirees who are still working. Paidéia, 28, e2812. https://doi.org/10.1590/1982-4327e2812
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). Por exemplo, sexo é uma variável importante para as vivências da aposentadoria: espera-se que aposentar-se tenha um impacto mais negativo para o homem (Fernandes & Garcia, 2010Fernandes, M. D. G. M., & Garcia, L. G. (2010). O sentido da velhice para homens e mulheres idosos. Saúde e Sociedade, 19(4), 771-783. http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v19n4/05.pdf.
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), uma vez que as mulheres cultivam vínculos familiares mais intensos ao longo da vida que lhe propiciam maior suporte social na aposentadoria (Debert, 2013Debert, G. G. (2013). Feminismo e velhice. Sinais Sociais, 8(22), 15-38. http://www.sesc.com.br/wps/wcm/connect/aa3fe0d5-61a4-43e7-9e7d-b0c74bffa2a3/Revista+-%20+Sinais_Sociais_22_web.pdf?MOD=AJPERES&CACHEID=aa3fe0d5-61a4-43e7-9e7d-b0c74bffa2a3.
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). Da mesma forma, o impacto financeiro da aposentadoria parece ser diferenciado entre homens e mulheres - sendo que mulheres têm um impacto negativo no valor de suas aposentadorias (-0,16%) que é explicado apenas por sua pertença a esse grupo (Dias, 2017). Tal disparidade pode estar associada a situações específicas da vida laboral, como à forma diferenciada de inserção no mercado de trabalho, à dupla ou tripla jornada, ao tipo de tarefas e postos de trabalho mais ou menos associados a cada gênero, e à assimilação, por parte dos homens, de uma conduta sexualmente tipificada que inclui o domínio do meio e do mundo do trabalho (Barreto & Heloani, 2018Barreto, M. M. S., & Heloani, R. (2018). Gênero e trabalho. In R. Mendes (Ed.), Dicionário de saúde e segurança do trabalhador: Conceitos, definições, história e cultura (559-560). Proteção.; Yannoulas, 2018Yannoulas, S. C. (2018). Feminização (feminilização) do trabalho. In R. Mendes (Ed.), Dicionário de saúde e segurança do trabalhador: Conceitos, definições, história e cultura (pp. 559-560). Proteção.).

De forma geral, este é um fenômeno ambivalente: ao mesmo tempo em que expressa uma conquista do trabalhador, a aposentadoria também representa a marginalização do trabalhador inativo por parte da sociedade produtiva (Guerson et al., 2018Guerson, L. R. S. C., França, L. H. F. P., & Amorim, S. M. (2018). Life Satisfaction in retirees who are still working. Paidéia, 28, e2812. https://doi.org/10.1590/1982-4327e2812
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; Leandro-França et al., 2014Leandro-França, C., & Murta, S. G. (2014). Fatores de risco e de proteção na adaptação à aposentadoria. Psicologia Argumento, 32(76), 33-43. https://doi.org/10.7213/psicol.argum.32.076.DS03
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; Oliveira, et al., 2009Oliveira, C., Torres, A. R. R., & Albuquerque, E. S. (2009). Análise do bem estar psicossocial de aposentados de Goiânia. Psicologia em Estudo, 14(4), 749-757. https://doi.org/10.1590/S1413-73722009000400015
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). Para alguns trabalhadores, a aposentadoria é vista como uma fase de descanso e gozo conquistada pelo trabalhador (Macêdo et al., 2017Macêdo, L. S. S., Bendassolli, P. F., & de Torres, T. L. (2017). Representações sociais da aposentadoria e intenção de continuar trabalhando. Psicologia & Sociedade, 29, e145010. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29145010
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; Shibata, 2006Shibata, L. H. (2006). “Em busca de um novo caminho”: O Pós-Carreira como oportunidade de realização de potencialidades (Dissertação de mestrado não-publicada). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, Brasil.). Tal fase envolve a possibilidade de realização de projetos abandonados, a dedicação a atividades voluntárias, ou familiares e, de certa forma, a expectativa de vivências positivas (Cavalcante & Minayo, 2012Cavalcante, F. G., & Minayo, M. C. S. (2012). Autópsias psicológicas e psicossociais de idosos que morreram por suicídio no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 17(8), 1943-1954. https://doi.org/10.1590/S1413-81232012000800002
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; Macêdo et al., 2017Macêdo, L. S. S., Bendassolli, P. F., & de Torres, T. L. (2017). Representações sociais da aposentadoria e intenção de continuar trabalhando. Psicologia & Sociedade, 29, e145010. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29145010
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). Para outra parcela, ela tem uma conotação de improdutividade e desvalorização pessoal (Shibata, 2006Shibata, L. H. (2006). “Em busca de um novo caminho”: O Pós-Carreira como oportunidade de realização de potencialidades (Dissertação de mestrado não-publicada). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, Brasil.): o fim do trabalho indica a possibilidade de sofrimento, de vivências de insegurança, medo e angústia (Cavalcante & Minayo, 2012Cavalcante, F. G., & Minayo, M. C. S. (2012). Autópsias psicológicas e psicossociais de idosos que morreram por suicídio no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 17(8), 1943-1954. https://doi.org/10.1590/S1413-81232012000800002
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). Aposentar-se pode significar perda da posição, dos amigos, do núcleo de referência, a transformação dos valores, das normas e da rotina. Muitas vezes, é uma fase vivenciada como a perda do sentido da vida, especialmente no que diz respeito às interações sociais.

Nos últimos anos, alguns pesquisadores se debruçaram sobre o tema. Estudos evidenciaram a incerteza e a ansiedade que cercam o fenômeno da aposentadoria (Denton & Spencer, 2009Denton, F. T., & Spencer, B. G. (2009). What is retirement? A review and assessment of alternative concepts and measures. Canadian Journal on Aging, 28(1), 63-76. https://doi.org/10.1017/S0714980809090047
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; Duarte & Melo-Silva, 2009Duarte, C. V., & Melo-Silva, L. L. (2009). Expectativas diante da aposentadoria: Um estudo de acompanhamento em momento de transição. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 10(1), 45-54. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v10n1/v10n1a07.pdf.
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; França et al., 2013França, C. L., Murta, S. G., Negreiros, J. L., Pedralho, M., & Carvalhedo, R. (2013). Intervenção breve na preparação para aposentadoria. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 14(1), 99-110. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v14n1/10.pdf.
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; Zanelli, 2012Zanelli, J. C. (2012). Processos psicossociais, bem-estar e estresse na aposentadoria. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 12(3), 329-340. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rpot/v12n3/v12n3a07.pdf.
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rpot/v12n3...
), o impacto da aposentadoria na dinâmica familiar dos trabalhadores (Antunes et al., 2015Antunes, M. H., Soares, D. H. P., & Moré, C. L. O. O. (2015). Repercussões da aposentadoria na dinâmica relacional familiar na perspectiva do casal. Psico, 46(4), 432-441. https://doi.org/10.15448/1980-8623.2015.4.19495
https://doi.org/10.15448/1980-8623.2015....
), as metamorfoses identitárias relacionadas à aposentadoria (Fernandes et al., 2016Fernandes, P. C. M., Marra, A. V., & Lara, S. M. (2016). Metamorfoses identitárias na pré-aposentadoria de servidores públicos. Revista de Carreiras e Pessoas (ReCaPe), 6(1), 86-99. https://doi.org/10.20503/recape.v6i1.28025
https://doi.org/10.20503/recape.v6i1.280...
), entre outros temas relacionados.

Alguns estudos se dedicaram ainda a verificar os significados da aposentadoria. Felix e Catão (2013Felix, Y. T. M., & Catão, M. F. (2013). Envelhecimento e aposentadoria por policiais rodoviários. Psicologia & Sociedade, 25(2), 420-429. http://www.scielo.br/pdf/psoc/v25n2/19.pdf.
http://www.scielo.br/pdf/psoc/v25n2/19.p...
) verificaram a coexistência de significados positivos e negativos da aposentadoria entre policiais rodoviários, oscilando entre perspectivas de exclusão e adoecimento e de liberdade. Em proposta semelhante, Machado e Lucas (2017Machado, C. N. C., & Lucas, M. G. (2017). Aposentadoria: Como professores vivenciam este momento?. Revista de Carreiras e Pessoas (ReCaPe), 7(2), 576-588. https://doi.org/10.20503/recape.v7i2.32753
https://doi.org/10.20503/recape.v7i2.327...
) encontram, entre professores, a mesma expectativa de liberdade vinculada à aposentadoria e mudanças na dinâmica social e relacional dos trabalhadores. Entretanto, os estudos encontrados não utilizaram um instrumento específico para mensurar o significado da aposentadoria, o que leva a seguinte questão: seria possível construir uma medida para identificar a construção desse significado?

O processo de atribuição de significado é um dos processos mais importantes da atividade social humana (Osgood et al., 1957Osgood, C. E., Suci, G. J., & Tannenbaum, P. H. (1957). The measurement of meaning. Board of Trustees of the University of Illinois. ), uma vez que o significado que os indivíduos atribuem aos objetos e situações sociais que os cercam e as mudanças nesse significado, muitas vezes, determinam a forma como esses indivíduos se posicionam na sociedade. Ele é um estado cognitivo mediador entre o estímulo externo, as reações internas e a representação do sujeito sobre a realidade (Pasquali, 2010Pasquali, L. (2010). O diferencial semântico. In. L. Pasquali (Ed.), Instrumentação psicológica: Fundamentos e práticas (pp. 262-272). Artmed.); trata-se de um processo de interpretação que o sujeito faz dos estímulos que o cercam (Richins, 1994Richins, M. L. (1994). Valuing things: The public and private meanings of possessions. Journal of Consumer Research, 21, 504-521. https://doi.org/10.1086/209414
https://doi.org/10.1086/209414...
).

Para o fenômeno da aposentadoria, interpreta-se que há, basicamente, duas possibilidades de significados - os significados positivos e os significados negativos (Cavalcante & Minayo, 2012Cavalcante, F. G., & Minayo, M. C. S. (2012). Autópsias psicológicas e psicossociais de idosos que morreram por suicídio no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 17(8), 1943-1954. https://doi.org/10.1590/S1413-81232012000800002
https://doi.org/10.1590/S1413-8123201200...
; Leandro-França et al., 2014Leandro-França, C., Murta, S. G., & Iglesias, F. (2014). Planejamento da aposentadoria: Uma escala de mudança de comportamento. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 15(1), 75-84. https://doi.org/10.1037/t65886-000
https://doi.org/10.1037/t65886-000...
; Oliveira, 2018Oliveira, J.C. (2018). Aposentadoria e trabalho. In R. Mendes (Ed.), Dicionário de saúde e segurança do trabalhador: Conceitos, definições, história e cultura (pp. 139-140). Proteção.). Os significados positivos atribuídos à aposentadoria remetem, de forma geral, à noção de aposentadoria como uma conquista/recompensa do trabalhador, à liberdade e à autonomia para gerir a própria vida, à possibilidade de investimento em projetos pessoais e outras atividades e à retomada de laços afetivos e familiares.

O significado negativo, por outro lado, remete aos problemas financeiros e de saúde presentes nessa fase da vida, à perda do status social, à perda do grupo de amigos, à sensação de inutilidade, à ociosidade, entre outros aspectos. Uma consequência dessa expectativa de experiências negativas é a ansiedade relacionada ao evento. Trata-se de um sentimento generalizado de apreensão com relação a incertezas, imprevisibilidades e consequências negativas da aposentadoria (Duarte & Melo-Silva, 2009Duarte, C. V., & Melo-Silva, L. L. (2009). Expectativas diante da aposentadoria: Um estudo de acompanhamento em momento de transição. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 10(1), 45-54. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v10n1/v10n1a07.pdf.
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v10n1...
; Fletcher & Hansson, 1991Fletcher, W. L., & Hansson, R. O. (1991). Assessing the social components of retirement anxiety. Psychology and Aging, 6(1), 76-85. https://doi.org/10.1037/0882-7974.6.1.76
https://doi.org/10.1037/0882-7974.6.1.76...
), decorrente do estigma da inatividade associado ao fenômeno (Fernandes et al., 2016Fernandes, P. C. M., Marra, A. V., & Lara, S. M. (2016). Metamorfoses identitárias na pré-aposentadoria de servidores públicos. Revista de Carreiras e Pessoas (ReCaPe), 6(1), 86-99. https://doi.org/10.20503/recape.v6i1.28025
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).

Considerando a importância do estudo dos significados da aposentadoria enquanto preditores de vivências positivas ou negativas, preocupa-nos compreender o processo de atribuição de significado à aposentadoria. Assim será possível compreender os comportamentos das pessoas frente ao fenômeno e, dessa forma, contribuir para a construção de políticas efetivas de preparação para a aposentadoria que reduzam a incidência de sofrimento e aumentem a qualidade de vida na aposentadoria.

Até o momento, foram produzidos alguns instrumentos brasileiros que se propõem a investigar mudanças atitudinais frente à aposentadoria (França, 2008França, L. H. F. P. (2008). O desafio da aposentadoria: O exemplo dos executivos do Brasil e da Nova Zelândia. Rocco.) e seus preditores (França, 2009França, L. H. F. P. (2009). Influências sociais nas atitudes dos ‘top’ executivos em face da aposentadoria: Um estudo transcultural. Revista de Administração Contemporânea, 13(1), 17-35. https://doi.org/10.1590/S1415-65552009000100003
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), fatores-chave (França & Carneiro, 2009França, L. H. F. P., & Carneiro, V. L. (2009). Programas de preparação para a aposentadoria: Um estudo com trabalhadores mais velhos em Resende (RJ). Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 12(3), 429-448. https://doi.org/10.1590/1809-9823.2009.00010
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) e outras escalas relacionadas ao planejamento para a aposentadoria (Leandro-França et al., 2014Leandro-França, C., Murta, S. G., & Iglesias, F. (2014). Planejamento da aposentadoria: Uma escala de mudança de comportamento. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 15(1), 75-84. https://doi.org/10.1037/t65886-000
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). Em 2017, Rafalski et al.Rafalski, J. C., Noone, J. H., O’Loughlin, K., & Andrade, A. L. (2017). Assessing the process of retirement: A cross-cultural review of available measures. Journal of Cross-Cultural Gerontology, 32(2), 255-279. https://doi.org/10.1007/s10823-017-9316-6
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identificaram, em um levantamento transcultural, a existência de 28 medidas de atitudes, planejamento, tomada de decisão, adaptação e satisfação relacionadas à aposentadoria publicados em português e em inglês. Entretanto, não foi encontrado nenhum instrumento autóctone que trate do significado atribuído à aposentadoria

Sendo assim, o objetivo da presente pesquisa é construir e buscar evidências de validade de uma escala de significado da aposentadoria para trabalhadores ativos e investigar os significados atribuídos à aposentadoria por esta população, na esperança de fornecer subsídios para a construção de programas e políticas de preparação para a aposentadoria que promovam a saúde e o bem-estar dos trabalhadores.

Método

Etapa Um: Pesquisa qualitativa e Construção da Escala

Na primeira etapa do estudo, utilizou-se uma amostra de 40 trabalhadores, sendo 24 mulheres e 16 homens, com idades entre 23 e 54 anos (média= 44,7 anos; DP=8,7 anos). Os sujeitos tinham, em média, 22,4 anos de trabalho (DP= 8,5 anos) e 55% pretendem se aposentar nos próximos dez anos. Disponibilizou-se um questionário em plataforma virtual contendo quatro perguntas abertas que buscaram abarcar os significados, sentimentos e atitudes em relação à aposentadoria: “O que significa aposentadoria para você?”, “O que você sente quando pensa em aposentadoria?”, “Quais são os aspectos positivos da aposentadoria?” e “Quais são os aspectos negativos da aposentadoria?”. As respostas obtidas passaram por uma análise de conteúdo categorial temática, conforme proposta por Bardin (1977Bardin L. (1977). Análise de conteúdo. Edições 70.).

Cada pergunta foi analisada separadamente gerando categorias e temas específicos de suas respostas. Foram encontradas 15 categorias e 35 temas (Tabela 1). Esses resultados foram utilizados para embasar a construção da ESA aqui proposta. Os detalhes da construção, aplicação e busca de evidências de validade deste instrumento são descritos a seguir.

Tabela 1
Análise Qualitativa

Construção da ESA

Optou-se pela construção de uma escala de rating horizontal - uma escala diferencial em que são construídos pares de itens polarizados que cubram aspectos do processo de atribuição de significado (Osgood, 1952Osgood, C. E. (1952). The nature and measurement of meaning. Psychological Bulletin,49(3), 197-231. https://doi.org/10.1037/h0055737
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; Pasquali, 2010Pasquali, L. (2010). O diferencial semântico. In. L. Pasquali (Ed.), Instrumentação psicológica: Fundamentos e práticas (pp. 262-272). Artmed.) a fim de incluir reflexões mais elaboradas e avaliações mais completas da aposentadoria enquanto fenômeno social e individual. Dessa forma, em cada item eram apresentadas aos participantes duas afirmações opostas sobre a aposentadoria (p. ex., “A aposentadoria é uma fase de alegrias” versus “A aposentadoria é uma fase de tristezas”) entre as quais o sujeito teria que se posicionar, numa escala de seis pontos, concordando mais com a afirmação à direita ou à esquerda da escala.

A partir dos resultados encontrados na investigação qualitativa, alinhados à perspectiva teórica já descrita, foram desenvolvidos, para a primeira versão da ESA, 62 itens distribuídos em sete facetas, a saber: (a) busca de sentido; (b) inserção e reconhecimento social; (c) prazer e sofrimento; (d) regulação; (e) conquista/direito; (f) preparação para a aposentadoria; e (g) saúde e autocuidado.

Análise Semântica. Foi encaminhado um formulário a cinco avaliadores que estavam alinhados com o perfil da população a ser estudada (trabalhadores ativos do mercado de trabalho brasileiro), no qual deveriam julgar a clareza dos itens, com possibilidade de sugerir alterações na redação apresentada. Todos os itens avaliados foram mantidos para a segunda versão da escala.

Análise de Juízes. Ainda contando com 62 itens, a segunda versão foi encaminha a três juízes especialistas em psicologia social, do trabalho e das organizações com conhecimento em construção de instrumentos e/ou em trabalho e aposentadoria. Aos juízes foi encaminhado um formulário no qual deveriam avaliar a clareza e a adequação dos itens às facetas propostas. Foram excluídos da escala os itens em que os três avaliadores divergiram quanto à faceta representada. Assim, 49 itens foram mantidos para a terceira versão do instrumento, discriminados agora em seis facetas (a) inserção e reconhecimento social; (b) prazer e sofrimento; (c) regulação; (d) conquista/direito; (e) preparação para a aposentadoria; e (f) saúde e autocuidado). Esta versão foi utilizada no estudo subsequente.

Etapa Dois: Aplicação da Escala de Significado da Aposentadoria

Participantes

Participaram deste estudo 275 trabalhadores ativos no mercado brasileiro, sendo 53,5% mulheres, com idades entre 22 e 67 anos (média= 40,51 anos; DP= 11,08 anos). Destes trabalhadores, 96 % com ensino superior completo, 69,1% empregados no setor público. 65,5% da amostra foi composta por Brancos, 26,9% Pardos, 5,1% Pretos e 0,4% por Indígenas. Quanto à renda, 82,9% dos participantes declararam estar acima ou muito acima da média salarial apresentada (R$ 1.853,00).

Instrumentos e Procedimentos de Coleta. O instrumento de 49 itens foi disponibilizado em uma plataforma online de coleta de dados e divulgado por meio de e-mails e redes sociais, objetivando atingir o máximo de trabalhadores possível. Os dados obtidos foram tabulados e analisados nos softwares de análise estatística IBM SPSS Statistics, versão 21, (IBM Corp, 2012IBM Corp. (2012). IBM SPSS Statistics for Windows, Version 21.0. IBM Corp.) e Factor, versão 10.3.01 (Lorenzo-Seva & Ferrando, 2013Lorenzo-Seva, U., & Ferrando, P.J. (2013). FACTOR 9.2 A comprehensive program for fitting exploratory and semiconfirmatory factor analysis and IRT Models. Applied Psychological Measurement, 37(6), 497-498. https://doi.org/10.1177/0146621613487794
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).

Procedimentos de Análise de Dados. Inicialmente, foi realizada uma análise paralela com o método de Timmerman e Lorenzo-Seva (2011Timmerman, M. E., & Lorenzo-Seva, U. (2011). Dimensionality assessment of ordered polytomous items with parallel analysis. Psychological Methods, 16, 209-220. https://doi.org/10.1037/a0023353
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) a fim de verificar a fatorabilidade da escala. Uma vez identificado o número de fatores a ser extraído do instrumento, seguiu-se com a análise fatorial exploratória conduzida no Factor.

Foi conduzida uma análise fatorial pelo método de Hull para seleção dos fatores (Timmerman et al., 2011Timmerman, M. E., & Lorenzo-Seva, U. (2011). Dimensionality assessment of ordered polytomous items with parallel analysis. Psychological Methods, 16, 209-220. https://doi.org/10.1037/a0023353
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) utilizando a extração de Fatoração dos Eixos Principais (Principal Axis Factoring, PAF) com rotação promax. Foram utilizados três critérios para o descarte de itens ineficientes do questionário: (a) exclusão de itens com cargas fatoriais menores que 0,30 por não representarem o construto medido pelo fator (Tabachnick & Fidell, 2007Tabachnick, B. G., & Fidell, L.S. (2007). Using multivariate statistics. Pearson Education.); (b) exclusão de itens que compartilhassem cargas principais similares em três ou mais fatores; e (c) exclusão de itens que compartilhassem cargas principais em dois fatores com diferenças menores que 0,10 entre as cargas compartilhadas (Gorsuch, 1983Gorsuch, R. (1983). Factor analysis (2nd ed.). Lawrence Erlbaum Associates.). Os critérios foram aplicados repetidamente até que nenhum item fosse passível de exclusão. Por fim, foram avaliados os índices de confiabilidade e os índices de ajuste da estrutura fatorial fornecidos pelo software (Mislevy & Bock, 1990Mislevy, R. J., & Bock, R. D. (1990). BILOG 3 Item analysis and test scoring with binary logistic models. Scientific Software. https://doi.org/10.1177/01466216970214006
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). Com a estrutura fatorial do instrumento definida e com o auxílio do SPSS, foram conduzidas análises de correlação e regressão entre os scores finais de cada um dos fatores e todas as variáveis demográficas obtidas.

Resultados

Análise Fatorial

A adequação da matriz de correlação foi avaliada pelo critério de Kaiser, que obteve índices satisfatórios (KMO=0,926). Seguindo as indicações dos resultados da análise paralela (Timmerman & Loreno-Seva, 2011Timmerman, M. E., & Lorenzo-Seva, U. (2011). Dimensionality assessment of ordered polytomous items with parallel analysis. Psychological Methods, 16, 209-220. https://doi.org/10.1037/a0023353
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) e utilizando os critérios de manutenção dos itens pré-estabelecidos (Gorsuch, 1983Gorsuch, R. (1983). Factor analysis (2nd ed.). Lawrence Erlbaum Associates.; Tabachnick & Fidell, 2007Tabachnick, B. G., & Fidell, L.S. (2007). Using multivariate statistics. Pearson Education.), a solução final aqui apresentada resulta da extração de quatro fatores nos quais se agruparam os itens do questionário, que resultou em melhor ajuste quando comparada a outras soluções testadas.

Os quatro fatores observados obtiveram índices de confiabilidade adequados (>0,7) (Mislevy & Bock, 1990Mislevy, R. J., & Bock, R. D. (1990). BILOG 3 Item analysis and test scoring with binary logistic models. Scientific Software. https://doi.org/10.1177/01466216970214006
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) e explicam, juntos, 47,54% da variância do construto. Os índices de ajuste indicam a adequação da estrutura proposta (RMSEA=0,048; CFI=0,91; GFI=0,98; AGFI=0,98; RSMR=0,0431; χ2=1073,037; gl=662).

Desta forma, a ESA aqui proposta foi composta por quatro fatores, apresentados na Tabela 2: (a) Expectativa geral da aposentadoria: expectativa de vivências positivas ou negativas na aposentadoria, sentimentos positivos ou negativos relacionados à aposentadoria, busca de sentido, dever cumprido, direito do trabalhador, recompensa, desejo de se aposentar, adaptação à aposentadoria; (b) Saúde mental e autocuidado: foco no bem-estar do sujeito, questões de saúde mental, ansiedade, insegurança, envelhecimento; (c) Regulação e autoeficácia: organização pessoal, capacidade de gestão do tempo e gestão financeira, autonomia na gestão da própria vida, capacidade de manter relacionamentos interpessoais, reconhecimento de objetivos e motivações, desenvolvimento de outras atividades, desenvolvimento de projetos de vida; e (d) Inserção e reconhecimento social: mudanças nos relacionamentos interpessoais, suporte social, relações interpessoais, mudanças na posição social, reconhecimento social, percepção de utilidade à sociedade, capacidade de desempenhar tarefas socialmente relevantes.

Tabela 2
Caracterização dos Fatores

Correlações e Regressões

Foram criadas médias das avaliações dos itens para cada um dos fatores e, em seguida, foram realizadas as análises de correlação (Tabela 3) e regressão para cada um dos fatores e variáveis demográficas - estas, quando escalares, foram submetidas a regressões lineares múltiplas e, quando categóricas, foram submetidas a regressões logísticas. O Fator 1, referente à expectativa geral da aposentadoria não apresentou correlações ou índices de regressão significativos com qualquer das variáveis investigadas.

Tabela 3
Correlações

O Fator 2 (Saúde mental e autocuidado) obteve correlações significativas com as variáveis idade (r=-0,173; p<0,01), tempo de trabalho (r=-0,149; p<0,02) e proximidade da aposentadoria (r=0,237; p<0,001) e obteve, para as mesmas variáveis, R²=0,057 (p<0,01).

O Fator 3 (Regulação e autoeficácia) obteve correlações significativas com as variáveis sexo (rho=-0,148; p<0,02) e proximidade da aposentadoria (r=-0,232; p<0,001). Estas mesmas variáveis apresentaram baixa influência sobre o fator, com R² Cox-Snell = 0,022 para sexo (Wald=17,66; p<0,001) e R² = 0,054 para proximidade do evento. Foi encontrada uma diferença significativa (0,14; p<0,05) entre as médias de homens (M=3,62; DP=0,49) e mulheres (M=3,76; DP=0,46) para a avaliação do fator.

Por fim, o Fator 4 (Inserção e reconhecimento social) obteve correlações significativas com as variáveis sexo (rho=0,193), raça (rho=0,219) e proximidade da aposentadoria (r=0,26). A combinação destas três variáveis, em uma relação de regressão ordinal com covariação, obteve R² Cox-Snell =0,157 (Wald=18,49; p<0,001), explicando 15,7% do fator. Foi encontrada uma diferença significativa (0,19; p<0,05) entre as médias de homens (M=3,11; DP=0,49) e mulheres (M=2,91; DP=0,49) para a avaliação do fator. Além disso, pretos tendem a avaliar o fator mais positivamente (0,13; p<0,05). A análise conjunta dos quatro fatores recebeu avaliação média 3,32 (DP=0,24).

Discussão

Investigar os significados da aposentadoria é adentrar um campo complexo de sentimentos e expectativas de difícil mensuração. A suposição inicial era a de que haveria duas possibilidades de significados para a aposentadoria (Cavalcante & Minayo, 2012Cavalcante, F. G., & Minayo, M. C. S. (2012). Autópsias psicológicas e psicossociais de idosos que morreram por suicídio no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 17(8), 1943-1954. https://doi.org/10.1590/S1413-81232012000800002
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; Leandro-França et al., 2014Leandro-França, C., Murta, S. G., & Iglesias, F. (2014). Planejamento da aposentadoria: Uma escala de mudança de comportamento. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 15(1), 75-84. https://doi.org/10.1037/t65886-000
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) - os significados positivos e os significados negativos. Na escala aqui proposta, os seis pontos apresentados para os respondentes representam o quão positivo ou negativo é o significado que ele atribui ao fenômeno. Sendo assim, ancora-se que avaliações até 3,5 refletem significados mais negativos e avaliações de 3,6 em diante devem refletir significados mais positivos.

Inicialmente, foram previstas seis facetas que comporiam o significado da aposentadoria para o trabalhador brasileiro, entretanto, a análise fatorial realizada revelou quatro componentes do significado geral da aposentadoria para trabalhadores ativos do mercado de trabalho brasileiro. A reestruturação da escala não acarreta nenhum prejuízo à medida e propõe fatores em consonância com estudos anteriores sobre aposentadoria (e.g., Fisher et al., 2016Fisher, G. G., Chaffee, D. S., & Sonnega, A. (2016). Retirement timing: A review and recommendations for future research. Work, Aging and Retirement, 2(2), 230-261. https://doi.org/10.1093/workar/waw001
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; França et al., 2013França, C. L., Murta, S. G., Negreiros, J. L., Pedralho, M., & Carvalhedo, R. (2013). Intervenção breve na preparação para aposentadoria. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 14(1), 99-110. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v14n1/10.pdf.
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v14n1...
, Leandro-França, 2016Leandro-França, C. (2016). Efeito de programas de preparação para aposentadoria: um estudo experimental (Tese de Doutorado). http://repositorio.unb.br/handle/10482/21219.
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; Macêdo et al., 2017Macêdo, L. S. S., Bendassolli, P. F., & de Torres, T. L. (2017). Representações sociais da aposentadoria e intenção de continuar trabalhando. Psicologia & Sociedade, 29, e145010. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29145010
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).

O Fator 1 (Expectativa geral da aposentadoria) reflete o imaginário social sobre a aposentadoria. Essa parte do significado é característica da fase da pré-aposentadoria em que os respondentes desta pesquisa se encontram: quando os trabalhadores frequentemente relatam as expectativas de como sua aposentadoria deverá ser (Macêdo et al., 2017Macêdo, L. S. S., Bendassolli, P. F., & de Torres, T. L. (2017). Representações sociais da aposentadoria e intenção de continuar trabalhando. Psicologia & Sociedade, 29, e145010. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29145010
https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v2...
; Magalhães et al., 2004Magalhães, M. O., Krieger, D. V., Vivian, A. G., Straliotto, M. C. S., & Poeta, M. P. (2004). Padrões de ajustamento na aposentadoria. Aletheia, 19, 57-68. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/aletheia/n19/n19a06.pdf.
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/aletheia/n...
). Do ponto de vista prático, esse fator deve causar mais impacto sobre os padrões de ajustamento à aposentadoria - especialmente considerando que ele, por si só, explica 31,37% do significado atribuído ao fenômeno - uma vez que as antecipações feitas pelos trabalhadores refletem diretamente em sua adaptação à aposentadoria (Magalhães et al., 2004Magalhães, M. O., Krieger, D. V., Vivian, A. G., Straliotto, M. C. S., & Poeta, M. P. (2004). Padrões de ajustamento na aposentadoria. Aletheia, 19, 57-68. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/aletheia/n19/n19a06.pdf.
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/aletheia/n...
).

A média de avaliação do primeiro fator (M=3,59; DP=0,07) sugere que às expectativas dos trabalhadores dizem respeito a vivências positivas e negativas em proporções equilibradas, com uma leve tendência para expectativas positivas. Quando se observa as médias por item, os resultados encontrados corroboram os achados de estudos anteriores: a aposentadoria é vista como uma recompensa para o trabalhador (Cavalcante & Minayo, 2012Cavalcante, F. G., & Minayo, M. C. S. (2012). Autópsias psicológicas e psicossociais de idosos que morreram por suicídio no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 17(8), 1943-1954. https://doi.org/10.1590/S1413-81232012000800002
https://doi.org/10.1590/S1413-8123201200...
; Oliveira et al., 2009Oliveira, C., Torres, A. R. R., & Albuquerque, E. S. (2009). Análise do bem estar psicossocial de aposentados de Goiânia. Psicologia em Estudo, 14(4), 749-757. https://doi.org/10.1590/S1413-73722009000400015
https://doi.org/10.1590/S1413-7372200900...
; Shibata, 2006Shibata, L. H. (2006). “Em busca de um novo caminho”: O Pós-Carreira como oportunidade de realização de potencialidades (Dissertação de mestrado não-publicada). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, Brasil.), mas apresenta ao trabalhador angústias vinculadas à autonomia e à capacidade de gestão da própria vida (Zanelli et al., 2010Zanelli, J. C., Silva, N., & Soares, D. H. P. (2010). Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho: construção de projetos para o pós-carreira. Artmed.).

O segundo fator (Saúde mental e autocuidado) apresenta um conteúdo mais afetivo do significado da aposentadoria, composto, de forma geral, por sentimentos de ansiedade -necessidade de desenvolver novos projetos (Cavalcante & Minayo, 2012Cavalcante, F. G., & Minayo, M. C. S. (2012). Autópsias psicológicas e psicossociais de idosos que morreram por suicídio no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 17(8), 1943-1954. https://doi.org/10.1590/S1413-81232012000800002
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; Duarte & Melo-Silva, 2009Duarte, C. V., & Melo-Silva, L. L. (2009). Expectativas diante da aposentadoria: Um estudo de acompanhamento em momento de transição. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 10(1), 45-54. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v10n1/v10n1a07.pdf.
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; Zanelli et al., 2010Zanelli, J. C., Silva, N., & Soares, D. H. P. (2010). Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho: construção de projetos para o pós-carreira. Artmed.) e expectativas sobre vivências afetivas em geral (Cavalcante & Minayo, 2012Cavalcante, F. G., & Minayo, M. C. S. (2012). Autópsias psicológicas e psicossociais de idosos que morreram por suicídio no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 17(8), 1943-1954. https://doi.org/10.1590/S1413-81232012000800002
https://doi.org/10.1590/S1413-8123201200...
; Shibata, 2006Shibata, L. H. (2006). “Em busca de um novo caminho”: O Pós-Carreira como oportunidade de realização de potencialidades (Dissertação de mestrado não-publicada). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, Brasil.). Além disso, surge nesse fator a associação já discutida por Debert (2013Debert, G. G. (2013). Feminismo e velhice. Sinais Sociais, 8(22), 15-38. http://www.sesc.com.br/wps/wcm/connect/aa3fe0d5-61a4-43e7-9e7d-b0c74bffa2a3/Revista+-%20+Sinais_Sociais_22_web.pdf?MOD=AJPERES&CACHEID=aa3fe0d5-61a4-43e7-9e7d-b0c74bffa2a3.
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) entre aposentadoria e envelhecimento. A avaliação geral do fator é negativa (M=2,99; DP=0,58), sendo que apenas o Item 1 foi avaliado positivamente (M=4,35; DP=1,27), enquanto todos os demais obtiveram média 3,18 ou inferior. Estes dados revelam o medo que os trabalhadores têm do momento da aposentadoria e a sensação de perda de objetivos de vida (Cavalcante e Minayo, 2012Cavalcante, F. G., & Minayo, M. C. S. (2012). Autópsias psicológicas e psicossociais de idosos que morreram por suicídio no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 17(8), 1943-1954. https://doi.org/10.1590/S1413-81232012000800002
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; Macêdo et al., 2017Macêdo, L. S. S., Bendassolli, P. F., & de Torres, T. L. (2017). Representações sociais da aposentadoria e intenção de continuar trabalhando. Psicologia & Sociedade, 29, e145010. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29145010
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; Shibata, 2006Shibata, L. H. (2006). “Em busca de um novo caminho”: O Pós-Carreira como oportunidade de realização de potencialidades (Dissertação de mestrado não-publicada). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, Brasil.; Zanelli et al., 2010Zanelli, J. C., Silva, N., & Soares, D. H. P. (2010). Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho: construção de projetos para o pós-carreira. Artmed.).

Além disso, as correlações encontradas apontam para a diferença entre dois grupos já descritos por Magalhães et al., (2004Magalhães, M. O., Krieger, D. V., Vivian, A. G., Straliotto, M. C. S., & Poeta, M. P. (2004). Padrões de ajustamento na aposentadoria. Aletheia, 19, 57-68. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/aletheia/n19/n19a06.pdf.
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): os trabalhadores na fase remota da aposentadoria e os trabalhadores na fase aproximada da aposentadoria. O que pode ser percebido é que quanto mais velho o respondente (r=-0,173), quanto mais tempo de trabalho ele tem (r=-0,149) e quanto menos tempo para a aposentadoria lhe falta (r=0,237), mais negativamente o Fator 2 é avaliado. Em outras palavras, os trabalhadores na fase remota da aposentadoria tendem a desenvolver uma perspectiva mais positiva sobre saúde mental e autocuidado na aposentadoria, enquanto trabalhadores na fase aproximada tendem a desenvolver a perspectiva inversa. Isso acontece porque, na fase aproximada, o prenúncio do rompimento com o trabalho e com as situações sociais permeadas por ele evidenciam para o sujeito as mudanças nos papéis sociais que desempenha e, especialmente, a mudança na forma como são vistos pelos outros (Magalhães et al., 2004Magalhães, M. O., Krieger, D. V., Vivian, A. G., Straliotto, M. C. S., & Poeta, M. P. (2004). Padrões de ajustamento na aposentadoria. Aletheia, 19, 57-68. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/aletheia/n19/n19a06.pdf.
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).

O terceiro fator (Regulação e autoeficácia) remete à capacidade do trabalhador aposentado em gerir a própria vida e foi avaliado positivamente pelos respondentes (M=3,7; DP=0,48). Os itens de avaliações extremadas apontam a crença de que os aposentados conseguem organizar melhor sua vida para investir no que desejam - o que não significa que eles estão livres para fazer apenas o que lhes agrada. Esta percepção está fortemente associada com a ideia de que a aposentadoria é um momento de liberdade para investir em novos projetos que, durante a vida de trabalho, foram negligenciados pelo trabalhador (Cavalcante & Minayo, 2012Cavalcante, F. G., & Minayo, M. C. S. (2012). Autópsias psicológicas e psicossociais de idosos que morreram por suicídio no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 17(8), 1943-1954. https://doi.org/10.1590/S1413-81232012000800002
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, Duarte & Melo-Silva, 2009Duarte, C. V., & Melo-Silva, L. L. (2009). Expectativas diante da aposentadoria: Um estudo de acompanhamento em momento de transição. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 10(1), 45-54. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v10n1/v10n1a07.pdf.
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; França & Carneiro, 2009França, L. H. F. P., & Carneiro, V. L. (2009). Programas de preparação para a aposentadoria: Um estudo com trabalhadores mais velhos em Resende (RJ). Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 12(3), 429-448. https://doi.org/10.1590/1809-9823.2009.00010
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; Leandro-França et al., 2014Leandro-França, C., Murta, S. G., & Iglesias, F. (2014). Planejamento da aposentadoria: Uma escala de mudança de comportamento. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 15(1), 75-84. https://doi.org/10.1037/t65886-000
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; Macêdo et al., 2017Macêdo, L. S. S., Bendassolli, P. F., & de Torres, T. L. (2017). Representações sociais da aposentadoria e intenção de continuar trabalhando. Psicologia & Sociedade, 29, e145010. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29145010
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).

Já o Fator 4 (Inserção e reconhecimento social), diferentemente dos outros fatores, reflete um componente interpessoal da aposentadoria - reconhecido como um fator importante para a aposentadoria (França, 2009França, L. H. F. P. (2009). Influências sociais nas atitudes dos ‘top’ executivos em face da aposentadoria: Um estudo transcultural. Revista de Administração Contemporânea, 13(1), 17-35. https://doi.org/10.1590/S1415-65552009000100003
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; França & Carneiro, 2009França, L. H. F. P., & Carneiro, V. L. (2009). Programas de preparação para a aposentadoria: Um estudo com trabalhadores mais velhos em Resende (RJ). Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 12(3), 429-448. https://doi.org/10.1590/1809-9823.2009.00010
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); este fator trata, principalmente, dos relacionamentos interpessoais e do papel social pós-aposentadoria. A avaliação média do fator é negativa (M= 3; DP=0,5) e revela algumas contradições internas: os respondentes indicam que ainda se considerarão úteis após a aposentadoria (Item 9: M=5,34; DP=1,07), mas indicam também que o aposentado é um peso para a sociedade (Item 32: M=2,03; DP=1,29). A ambivalência de respostas nesse fator retoma aspectos já discutidos na literatura. Em geral, os trabalhadores percebem que o rompimento com o trabalho indica uma mudança importante nos ciclos sociais (Duarte & Melo-Silva, 2009Duarte, C. V., & Melo-Silva, L. L. (2009). Expectativas diante da aposentadoria: Um estudo de acompanhamento em momento de transição. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 10(1), 45-54. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v10n1/v10n1a07.pdf.
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; França et al. 2013França, L. H. F. P., Menezes, G. S., Bendassolli, P. F., & Macedo, L. S. S. (2013). Aposentar-se ou continuar trabalhando? O que influencia essa decisão? Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3), 548-563. https://doi.org/10.1590/S1414-98932013000300004
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; Zanelli, et al., 2010Zanelli, J. C., Silva, N., & Soares, D. H. P. (2010). Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho: construção de projetos para o pós-carreira. Artmed.), impactando negativamente as relações estabelecidas e o status social - sendo que os próprios sujeitos reconhecem que o aposentado pode ser um estorvo para a sociedade. Entretanto, quando o indivíduo pensa sobre si mesmo, o critério parece mudar: ele não se vê como inútil a sociedade enquanto aposentado. Essa mudança de perspectiva sobre o mesmo tema pode estar relacionada, em parte, à necessidade de manutenção de autoconceito do self (Baumeister, 2010Baumeister, R. F. (2010). The self. In R. F. Baumeister & E. J. Finkel (Eds.), Advanced social psychology (pp. 139-175). Oxford University Press.): seres humanos saudáveis tendem a evitar a criação de imagens negativas sobre eles mesmos como forma de autopreservação.

As diferenças percebidas nas avaliações dos Fatores 3 e 4 entre homens e mulheres revelam uma informação interessante sobre os significados atribuídos à aposentadoria. De acordo com os resultados obtidos, ao contrário do que foi observado anteriormente na literatura (Debert, 2013Debert, G. G. (2013). Feminismo e velhice. Sinais Sociais, 8(22), 15-38. http://www.sesc.com.br/wps/wcm/connect/aa3fe0d5-61a4-43e7-9e7d-b0c74bffa2a3/Revista+-%20+Sinais_Sociais_22_web.pdf?MOD=AJPERES&CACHEID=aa3fe0d5-61a4-43e7-9e7d-b0c74bffa2a3.
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; Dias, 2017; Fernandes & Garcia, 2010Fernandes, M. D. G. M., & Garcia, L. G. (2010). O sentido da velhice para homens e mulheres idosos. Saúde e Sociedade, 19(4), 771-783. http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v19n4/05.pdf.
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), mulheres avaliam o fator inserção e reconhecimento social na aposentadoria mais negativamente que homens; o inverso é verdadeiro para as avaliações sobre Regulação e autoeficácia. Sobre isso, imagina-se que o espaço ocupado pelo trabalho na construção da identidade da mulher atualmente é diferenciado (Barreto & Heloani, 2018Barreto, M. M. S., & Heloani, R. (2018). Gênero e trabalho. In R. Mendes (Ed.), Dicionário de saúde e segurança do trabalhador: Conceitos, definições, história e cultura (559-560). Proteção.): o trabalho figura como emancipador desse indivíduo, é através dele que a mulher alcança o reconhecimento social; trabalhar, para uma mulher, é sair da marginalização e ter independência. Para o homem, por outro lado, o rompimento com as atividades de trabalho não compromete o seu status de homem e ainda lhe fornecem a autonomia para gerenciar suas vidas - é compreensível, então, que as médias entres esses grupos oscilem desta forma.

Foi identificada uma pequena diferença na construção do significado da aposentadoria entre Pretos e Brancos: respondentes Pretos forneceram médias mais altas no quesito Inserção e reconhecimento social. Um das teorias em psicologia social que se presta a explicar o fenômeno aqui observado é a teoria da privação relativa (Stouffer et al., 1949Stouffer, S. A., Suchman, E. A., DeVinney, L. C., Star, S. A., & Williams Jr, R. M. (1949). The American soldier: Adjustment during army life. (Studies in social psychology in World War II, vol 1). Princeton University Press.) - é de se esperar que ambientes de trabalho dominados por Brancos criem, nos trabalhadores Pretos, uma frustração decorrente da comparação com o grupo dominante; logo, a inserção e reconhecimento fora desse contexto e distante da comparação grupal que ele evidencia parece mais promissora do que pareceria aos membros do grupo dominante.

Finalmente, o que a amostra estudada revela é uma atribuição de significado negativo ao fenômeno da aposentadoria (M=3,32; DP=0,25). Os resultados obtidos neste estudo revelam, mais uma vez, o paradoxo que é o fenômeno da aposentadoria (Guerson et al., 2018Guerson, L. R. S. C., França, L. H. F. P., & Amorim, S. M. (2018). Life Satisfaction in retirees who are still working. Paidéia, 28, e2812. https://doi.org/10.1590/1982-4327e2812
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; Leandro-França et al., 2014Leandro-França, C., Murta, S. G., & Iglesias, F. (2014). Planejamento da aposentadoria: Uma escala de mudança de comportamento. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 15(1), 75-84. https://doi.org/10.1037/t65886-000
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; Leandro-França, 2016; Macêdo et al., 2017Macêdo, L. S. S., Bendassolli, P. F., & de Torres, T. L. (2017). Representações sociais da aposentadoria e intenção de continuar trabalhando. Psicologia & Sociedade, 29, e145010. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29145010
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; Oliveira et al., 2009Oliveira, C., Torres, A. R. R., & Albuquerque, E. S. (2009). Análise do bem estar psicossocial de aposentados de Goiânia. Psicologia em Estudo, 14(4), 749-757. https://doi.org/10.1590/S1413-73722009000400015
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): há uma expectativa geral positiva sobre a aposentadoria (Fator 1: M=3,59; DP=0,27) e uma ideia de liberdade associada ao fato (Fator 3: M=3,7; DP=0,48); por outro lado, os trabalhadores relatam vivências de angústia e insegurança (Fator 2: M=2,99; DP=0,76) e reconhecem o impacto negativo da mudança de papel social com a aposentadoria (Fator 4: M=3; DP=0,5). As avaliações dos Fatores 2 e 4 podem também ser um prenúncio da ansiedade da aposentadoria - uma inquietação com relação ao desconhecido (Duarte & Melo-Silva, 2009Duarte, C. V., & Melo-Silva, L. L. (2009). Expectativas diante da aposentadoria: Um estudo de acompanhamento em momento de transição. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 10(1), 45-54. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v10n1/v10n1a07.pdf.
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) e ao estigma da aposentadoria (Fernandes et al., 2016Fernandes, P. C. M., Marra, A. V., & Lara, S. M. (2016). Metamorfoses identitárias na pré-aposentadoria de servidores públicos. Revista de Carreiras e Pessoas (ReCaPe), 6(1), 86-99. https://doi.org/10.20503/recape.v6i1.28025
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), marcada por uma expectativa negativa do fenômeno (Fletcher & Hansson, 1991Fletcher, W. L., & Hansson, R. O. (1991). Assessing the social components of retirement anxiety. Psychology and Aging, 6(1), 76-85. https://doi.org/10.1037/0882-7974.6.1.76
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).

As atribuições negativas encontradas, retomam uma das discussões iniciais do presente estudo: a construção e o fortalecimento de significados negativos na população trabalhadora, hoje pode resultar em uma população marcada por experiências ruins de aposentadoria.

Considerações Finais

Este estudo buscou construir e buscar evidências de validade de uma escala de significado da aposentadoria para trabalhadores ativos e investigar os significados atribuídos à aposentadoria por esta população. Foi desenvolvida uma Escala de Significado da aposentadoria oferecida como uma ferramenta para auxiliar na elaboração de intervenções mais acuradas para trabalhadores em fase de pré-aposentadoria. Nesse sentido, as análises estatísticas conduzidas sinalizam como os grupos sociais se diferenciam; os resultados revelaram que algumas variáveis específicas, por exemplo, proximidade da aposentadoria (Magalhães et al., 2004Magalhães, M. O., Krieger, D. V., Vivian, A. G., Straliotto, M. C. S., & Poeta, M. P. (2004). Padrões de ajustamento na aposentadoria. Aletheia, 19, 57-68. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/aletheia/n19/n19a06.pdf.
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) e sexo (Barreto & Heloani, 2018Barreto, M. M. S., & Heloani, R. (2018). Gênero e trabalho. In R. Mendes (Ed.), Dicionário de saúde e segurança do trabalhador: Conceitos, definições, história e cultura (559-560). Proteção.; Debert, 2013Debert, G. G. (2013). Feminismo e velhice. Sinais Sociais, 8(22), 15-38. http://www.sesc.com.br/wps/wcm/connect/aa3fe0d5-61a4-43e7-9e7d-b0c74bffa2a3/Revista+-%20+Sinais_Sociais_22_web.pdf?MOD=AJPERES&CACHEID=aa3fe0d5-61a4-43e7-9e7d-b0c74bffa2a3.
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; Dias, 2017; Fernandes & Garcia, 2010Fernandes, M. D. G. M., & Garcia, L. G. (2010). O sentido da velhice para homens e mulheres idosos. Saúde e Sociedade, 19(4), 771-783. http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v19n4/05.pdf.
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), efetivamente impactam no significado aferido.

Dentre as limitações do estudo, a escolha por coletar os dados de forma virtual, bem como a utilização de uma escala de diferencial semântico, limita a pesquisa a uma amostra de maior escolaridade e poder econômico. Para acessar populações de menor renda e escolaridade, possivelmente será necessário adaptar a escala, mudar o procedimento de coleta e investir em questionário em papel com aplicação presencial.

Por fim, é necessário reconhecer que faixa de tempo em que estes dados foram coletados (maio/2017 - outubro/2017) foi um período política e socialmente conturbado no Brasil. Se por um lado isso fornece um registro histórico e muito rico do fenômeno estudado, por outro torna os dados muito voláteis - esse é um retrato momentâneo e muito específico desse contexto social. Por isso também, espera-se que essa pesquisa se desdobre em outras que complementem ou contraponham as informações expostas até agora.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Set 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    29 Dez 2017
  • Revisado
    19 Set 2018
  • Aceito
    12 Nov 2018
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