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Identidade de gênero e atitudes sobre a mulher

Gender identity and woman-related attitudes

Resumos

O presente estudo objetivou verificar as relações da masculinidade e feminilidade com as atitudes sobre o papel da mulher na atual sociedade brasileira. A amostra foi composta por 479 estudantes universitários que responderam ao Questionário de Atributos Pessoais e a uma escala de atitudes sobre o papel da mulher. As escalas de masculinidade e feminilidade apresentaram correlações não significativas e próximas de zero com os dois fatores da escala de atitudes, assim como com a escala total. Não foram observadas diferenças significativas nas atitudes de homens e mulheres sexualmente tipificados, quando comparadas às atitudes de homens e mulheres andróginos, indiferenciados e com tipificação sexual cruzada. A teoria multifatorial (Spence, 1984; 1985), que concebe o gênero como um fenômeno complexo, caracterizado por diferentes dimensões (atributos de personalidade, atitudes, interesses e comportamentos) que apresentam pouca ou nenhuma relação, foi utilizada como referencial teórico para a interpretação dos resultados obtidos.

gênero; masculinidade; feminilidade; atitudes sobre a mulher


This study investigated the relations of masculinity and femininity to woman-related attitudes in present Brazilian society. A sample of 479 undergraduate students answered the Personal Attributes Questionnaires and a woman-related attitude scale. The masculinity and femininity scales indicated non significant and near zero correlations with two factors of the attitude scale as well as with the total scale. No significant differences were found between sex-typed women and men attitudes and androgynous, undifferentiated or cross-sex-typed women and men atttitudes. The results supported the multifactorial theory (Spence, 1984; 1985) which considers gender as a complex phenomenon characterized by various dimensions (personality attributes, attitudes, interests and behaviors) that have little or no relation to each other.

gender; masculinity; femininity; woman-related attitudes


Identidade de gênero e atitudes sobre a mulher1 1 Trabalho desenvolvido com apoio financeiro do CNPq (Processo n. 300118/94-5) Parte deste trabalho foi apresentado no VII Simpósio de Intercâmbio Científico da ANPEPP.

Gender identity and woman-related attitudes

Maria Cristina Ferreira2 2 Endereço: Rua Marquês de Valença, 80, ap. 602. CEP: 20550-030 Rio de Janeiro - RJ. E-mail: mcris@centroin.com.br

Universidade Gama Filho

RESUMO

O presente estudo objetivou verificar as relações da masculinidade e feminilidade com as atitudes sobre o papel da mulher na atual sociedade brasileira. A amostra foi composta por 479 estudantes universitários que responderam ao Questionário de Atributos Pessoais e a uma escala de atitudes sobre o papel da mulher. As escalas de masculinidade e feminilidade apresentaram correlações não significativas e próximas de zero com os dois fatores da escala de atitudes, assim como com a escala total. Não foram observadas diferenças significativas nas atitudes de homens e mulheres sexualmente tipificados, quando comparadas às atitudes de homens e mulheres andróginos, indiferenciados e com tipificação sexual cruzada. A teoria multifatorial (Spence, 1984; 1985), que concebe o gênero como um fenômeno complexo, caracterizado por diferentes dimensões (atributos de personalidade, atitudes, interesses e comportamentos) que apresentam pouca ou nenhuma relação, foi utilizada como referencial teórico para a interpretação dos resultados obtidos.

Palavras-chave: gênero; masculinidade; feminilidade; atitudes sobre a mulher.

ABSTRACT

This study investigated the relations of masculinity and femininity to woman-related attitudes in present Brazilian society. A sample of 479 undergraduate students answered the Personal Attributes Questionnaires and a woman-related attitude scale. The masculinity and femininity scales indicated non significant and near zero correlations with two factors of the attitude scale as well as with the total scale. No significant differences were found between sex-typed women and men attitudes and androgynous, undifferentiated or cross-sex-typed women and men atttitudes. The results supported the multifactorial theory (Spence, 1984; 1985) which considers gender as a complex phenomenon characterized by various dimensions (personality attributes, attitudes, interests and behaviors) that have little or no relation to each other.

Key words: gender; masculinity; femininity; woman-related attitudes.

As questões de gênero vêm, há longo tempo, despertando a atenção dos psicólogos interessados na compreensão e explicação do comportamento humano.

Os primeiros estudos desenvolvidos nesse contexto consideravam o sexo como uma variável individual, de natureza biológica, e, assim, procuravam detectar as diferenças de comportamentos, traços e habilidades entre homens e mulheres (Deaux, 1984). As limitações de tal abordagem levaram à adoção de um novo paradigma, que passou a conceber o gênero como uma variável de personalidade e, portanto, de natureza psicológica, responsável por diferenças individuais nos atributos que definem um papel masculino ou feminino (Ashmore, 1990).

As pesquisas iniciais desenvolvidas sob essa nova perspectiva foram orientadas por um modelo unifatorial (Terman & Miles, 1936), que definia a masculinidade e a feminilidade como dois extremos opostos de um único contínuo bipolar, fazendo com que a presença de uma das dimensões, no indivíduo, excluísse a presença da outra dimensão. Supunha-se, portanto, que os indivíduos que apresentavam uma alta masculinidade deviam apresentar uma baixa feminilidade e vice-versa.

Em uma revisão dos instrumentos utilizados nessas pesquisas, Constantinople (1973) reuniu evidências de que a relação entre masculinidade e feminilidade apresentada por esses instrumentos era artificialmente construída e não tinha apoio empírico, na medida em que se fundamentava unicamente no critério de diferenças entre os sexos. Não havia, assim, uma coerência entre os itens e a definição teórica dos referidos constructos.

Essas críticas, acompanhadas pelas mudanças culturais observadas nos papéis masculino e feminino, lançaram as bases para o desenvolvimento do modelo bifatorial (Bem, 1974; Block, 1973; Carlson, 1971; Spence, Helmreich & Stapp, 1975), que concebe a masculinidade e a feminilidade como duas dimensões independentes, que se encontram presentes ao mesmo tempo no indivíduo, em maior ou menor grau.

As duas principais formulações teóricas desenvolvidas no contexto do modelo bifatorial foram a de Sandra Bem (1974; 1981; 1985) e a de Janet Spence e seus colaboradores (Spence & cols., 1975; Spence & Helmreich, 1978; Spence, 1984; 1985).

Ambas as autoras concordam com a posição de que a masculinidade e a feminilidade constituem duas dimensões independentes, que podem ser mensuradas por meio de questionários auto-descritivos. Assim é que Bem (1974) elaborou o BSRI, (Bem Sex Role Inventory - Inventário do Papel Sexual de Bem), enquanto Spence e cols. (1975) desenvolveram o PAQ (Personal Attributes Questionnaire - Questionário de Atributos Pessoais). Os dois instrumentos contêm escalas separadas para a medida da masculinidade e da feminilidade, o que permite a classificação dos indivíduos em quatro diferentes tipos de gênero: tipificados no pólo masculino ou feminino (homens com alto resultado em masculinidade e baixo resultado em feminilidade ou mulheres com alto resultado em feminilidade e baixo resultado em masculinidade); andróginos (homens e mulheres com alto resultado em masculinidade e feminilidade); indiferenciados (homens e mulheres com baixos resultados em masculinidade e feminilidade) e indivíduos com tipificação cruzada no pólo masculino ou feminino (homens com alto resultado em feminilidade e baixo resultado em masculinidade ou mulheres com alto resultado em masculinidade e baixo resultado em feminilidade).

Por outro lado, tanto Bem (1974) quanto Spence e cols. (1975) consideram a masculinidade e a feminilidade como dimensões do auto-conceito que se encontram intimamente associadas, respectivamente, aos papéis de gênero masculino e feminino prescritos pelas normas sócio-culturais. Entretanto, apesar das referidas autoras apresentarem algumas similaridades em suas posições teóricas, pode-se constatar, também, divergências de natureza conceitual e metodológica entre elas.

Uma dessas divergências refere-se ao conceito de androginia, desenvolvido por Bem (1974) para designar um tipo particular de personalidade, que denota a integração da masculinidade e da feminilidade em um mesmo indivíduo. Desse modo, os indivíduos andróginos seriam mais flexíveis e livres no desempenho dos papéis de gênero, sendo capazes de exibir comportamentos masculinos, femininos ou ambos, de acordo com o que fosse mais apropriado a cada situação. Já os indivíduos tipificados sexualmente quanto a sua personalidade seriam mais rígidos no que se refere ao desempenho desses papéis, tendendo a exibir uma menor quantidade de comportamentos incongruentes com sua tipificação sexual.

De modo contrário às formulações de Bem (1974), Spence e Helmreich (1978), embora utilizem o mesmo procedimento para classificar os indivíduos nos diferentes tipos de gênero, adotam o termo andrógino apenas como um rótulo para a identificação dos indivíduos com resultados altos em masculinidade e feminilidade, não compartilhando da concepção de que a androginia seja um tipo particular de personalidade que leva a comportamentos mais adaptativos.

Um outro ponto de discordância entre essas autoras refere-se ao modo pelo qual os atributos de personalidade que definem a masculinidade e feminilidade se interrelacionam com os demais aspectos do gênero.

Nesse sentido, Bem (1981; 1985) propôs a teoria do esquema de gênero para explicar a tipificação sexual. Um esquema é definido como uma estrutura cognitiva constituída por uma rede de associações que organiza e orienta a percepção da realidade de forma seletiva, capacitando o indivíduo a processar informações. No que se refere ao gênero, a autora afirma que, durante o curso do desenvolvimento, a criança aprende a distinguir os atributos, atitudes e comportamentos que a sociedade vincula ao seu sexo biológico, formando um esquema de gênero que contém as associações prescritas como apropriadas a seu próprio sexo. Tal esquema é o responsável pelo modo através do qual as novas informações sobre o gênero são processadas, levando o indivíduo a avaliar e adequar suas preferências e atitudes a seu auto-esquema. O indivíduo aprende, assim, que o gênero apresenta uma grande importância funcional, o que faz com que ele seja utilizado como um filtro do meio ambiente, isto é, um princípio organizador a ser empregado no processa­men­to de informações sobre o eu e sobre o mundo externo.

Os indivíduos esquemáticos quanto ao gênero desenvolvem, portanto, uma forte tipificação sexual caracterizada pela aquisição de traços, comportamentos e atitudes congruentes com as expectativas sócio-culturais a respeito da masculinidade e feminilidade. Por outro lado, os indivíduos não esquemáticos tornam-se não tipificados sexualmente (homens e mulheres andróginos, indiferenciados e com tipificação cruzada), isto é, não sofrem a influência dos estereótipos sexuais prescritos culturalmente.

Em síntese, para Bem (1974), os atributos de personalidade que definem a masculinidade e a feminilidade encontram-se intimamente relacionados a todos os demais constructos psicológicos associados ao gênero. Desse modo, a existência de atributos característicos de um determinado papel de gênero pressupõe a manifestação de atitudes, preferências e comportamentos característicos deste papel, ou seja, a tipificação no auto-conceito de gênero conduz à tipificação sexual de atitudes, preferências e comportamentos. Coerente com essa posição, Bem (1981; 1985) concebe o BSRI como um instrumento capaz de avaliar o gênero como fenômeno global, na medida em que os atributos de personalidade que definem a masculinidade e feminilidade são, por si só, capazes de predizer os demais aspectos do gênero.

Adotando uma posição contrária a tais formulações, Spence (1984; 1985) propôs a teoria multifatorial de gênero, segundo a qual as várias categorias de atributos, atitudes, preferências e comportamentos que empiricamente distinguem homens e mulheres em uma determinada cultura não podem ser conceitualmente associadas a um único constructo global, como o esquema de gênero. Tais categorias consistem em fatores relativamente independentes, que se desenvolvem de modo particular e sob múltiplas e complexas influências não necessariamente relacionadas ao gênero, variando de indivíduo para indivíduo.

A autora considera, ainda, que a criança adquire, desde cedo, um senso pessoal de masculinidade ou feminilidade, a partir da percepção do conjunto de características relevantes ao gênero que ela possui, bem como dos papéis de gênero que ela ocupa. Entretanto, mesmo aqueles que apresentam um firme senso de identidade de gênero não exibem todos os atributos, interesses, atitudes, papéis e comportamentos que se adequam às expectativas sociais para o seu próprio sexo, podendo também apresentar algumas das características esperadas para o outro sexo.

Nesse sentido, os atributos de personalidade orientados para a realização de metas, que caracterizam a masculinidade, bem como os atributos expressivos, orientados para o contato interpessoal, que caracterizam a feminilidade, não podem ser vistos como os únicos determinantes da identidade de gênero ou dos comportamentos intrínsecos aos papéis de gênero. Essas predisposições internas são apenas um dos aspectos do gênero e não se equivalem, conceitualmente, a todas as atitudes, atributos e comportamentos associados ao gênero, apresentando, ao contrário, uma íntima relação apenas com os comportamentos e atributos que podem ser enquadrados em um domínio instrumental ou expressivo. Coerente com essa posição, Spence e cols. (1975) vêem o PAQ como um instrumento capaz de avaliar apenas os atributos instrumentais e expressivos que definem uma das dimensões do complexo e multifacetado fenômeno de gênero. A concepção multidimensional do gênero tem sido endossada por vários outros autores, entre os quais se incluem Ashmore (1990); Deaux e Lewis (1984) e Orlofsky (1981).

No que se refere aos objetivos do presente trabalho, tornam-se particularmente relevantes as predições teóricas de Bem (1981; 1985) e de Spence (1984; 1985) sobre as relações entre a masculinidade e feminilidade e as atitudes sobre os papéis de gênero.

De acordo com Del Boca, Ashmore e McManus (1986), as atitudes sobre os papéis de gênero consistem em avaliações e sentimentos positivos ou negativos dirigidos a todas as questões relacionadas ao gênero, tais como os papéis sociais e ocupacionais desempenhados pelo homem ou pela mulher, políticas dirigidas aos sexos, etc. Tais sentimentos são, em geral, acompanhados de um componente cognitivo, que se reflete nas crenças estereotípicas sobre o homem ou a mulher, bem como de um componente comportamental, que se expressa através de predisposições para apresentar certas condutas na presença dos indivíduos identificados como membros desses grupos sociais.

Considerando-se, especificamente, as relações entre masculinidade, feminilidade e atitudes sobre a mulher, a teoria do esquema de gênero de Bem (1981; 1985) conduz à predição de que os indivíduos tipificados sexualmente quanto ao seu auto-conceito de gênero são também tipificados em suas atitudes sobre o gênero. Desse modo, os homens classificados como masculinos e as mulheres classificadas como femininas deveriam apresentar atitudes mais conservadoras sobre o papel da mulher que os homens e mulheres andróginos, indiferenciados e com tipificação sexual cruzada, os quais deveriam apresentar atitudes mais liberais sobre tal papel.

Resultados parcialmente consistentes com essas formula­ções foram obtidos por Bem (1977), ao verificar que ­homens tipificados como femininos demonstraram atitudes mais liberais sobre a mulher, seguidos por homens andróginos, indiferenciados e masculinos, tendo os últimos apresentado as atitudes mais conservadoras. Na amostra feminina, entretanto, nem a masculinidade nem a feminilidade ­apresentaram correlações com as atitudes sobre a mulher. De modo semelhante, Durkin, Zaveri e Condor (1986) constataram que mulheres andróginas demonstraram atitudes mais liberais sobre a mulher que mulheres tipificadas como femininas.

Mais recentemente, Frable (1989) observou que homens e mulheres sexualmente tipificados mostraram-se mais propensos a concordar com regras designadas culturalmente como apropriadas a um comportamento masculino e feminino que homens e mulheres classificados nos demais tipos de gênero, o que adicionou evidências à teoria de Bem (1981; 1985).

Por outro lado, a posição de Spence (1984; 1985), segundo a qual os atributos de personalidade que caracterizam a masculinidade e a feminilidade apresentam relação apenas com as dimensões do gênero que se enquadram em um domínio instrumental ou expressivo, respectivamente, leva à suposição de que tais atributos não se correlacionam com as atitudes sobre a mulher, já que essas atitudes não se enquadram em um domínio instrumental ou expressivo.

Coerentes com tal predição, os resultados obtidos por Helmreich, Spence e Holahan (1979); Orlofsky (1981); Orlofsky, Aslin e Ginsburg (1977) e Spence e cols. (1975) evidenciaram a existência de correlações baixas e, freqüentemente, não significativas entre masculinidade, feminilidade e atitudes sobre a mulher, em amostras masculinas e femininas.

Em pesquisa mais recente, Spence (1993) correlacionou o PAQ e o BSRI com três diferentes medidas de atitudes sobre o gênero, entre as quais se incluía a medida de atitude utilizada anteriormente por Frable (1989). Os dados obtidos não replicaram o estudo já citado, evidenciando, ao contrário, o mesmo padrão de correlações insignificantes entre instrumentalidade, expressividade e atitudes sobre a mulher, que já havia sido observado em trabalhos anteriores.

Pode-se verificar, portanto, que as pesquisas realizadas até o momento sobre as relações entre masculinidade, feminilidade e atitudes sobre a mulher têm conduzido a resultados divergentes, que ora confirmam as predições derivadas da teoria do esquema de gênero (Bem, 1981; 1985) e ora confirmam as predições derivadas da teoria multifatorial de gênero (Spence, 1984; 1985). Nesse sentido, torna-se relevante a realização de estudos adicionais que ofereçam a possibilidade potencial de contribuir para a compreensão da complexa rede de associações que se estabelecem entre as várias dimensões que caracterizam o constructo de gênero.

Tais considerações motivaram, assim, a realização do presente trabalho, que teve como objetivo investigar as relações da masculinidade e feminilidade com as atitudes sobre o papel da mulher na atual sociedade brasileira, em uma amostra de estudantes universitários da cidade do Rio de Janeiro, com o intuito de comparar as posições teóricas de Bem (1981; 1985) e Spence (1984; 1985) e verificar a que melhor predizia tais relações.

Metodologia

Sujeitos

A amostra foi composta por 479 estudantes universitários de ambos os sexos, sendo 210 do sexo masculino e 269 do sexo feminino, pertencentes a diferentes cursos de graduação de universidades públicas e particulares da cidade do Rio de Janeiro, que se dispuseram voluntariamente a participar da pesquisa. A idade média dos participantes foi de 22,57 anos.

Instrumentos

Para a operacionalização da identidade de gênero, foi utilizado o PAQ (Questionário de Atributos Pessoais), de autoria de Spence e cols. (1975), adaptado para amostras brasileiras por Ferreira (1995).

O instrumento adaptado consta de 16 itens bipolares (como por exemplo, pouco competitivo - muito competitivo), a serem julgados pelos sujeitos em uma escala de cinco pontos (0 a 4), de acordo com o grau em que se aplicam a eles. Tais itens subdividem-se em uma escala de masculinidade, composta de oito itens relacionados a traços instrumentais, e uma escala de feminilidade, composta de oito itens relacionados a traços expressivos. Portanto, o indivíduo recebe escores independentes para masculinidade e feminilidade, que podem variar de 0 a 32, sendo que quanto maior o resultado, maior o grau em que o indivíduo apresenta as características mensuradas pela escala.

Os coeficientes de precisão dessas escalas, na amostra brasileira, calculados separadamente para os sujeitos de sexo masculino e feminino, por meio do coeficiente Alpha de Cronbach, variaram de 0,60 a 0,75. A comparação dos resultados do PAQ entre os dois sexos revelou diferenças altamente significativas na direção esperada, corroborando a validade do instrumento (Ferreira, 1995).

Para a operacionalização das atitudes sobre o papel da mulher na atual sociedade brasileira foi utilizada a escala desenvolvida para o estudo de Ferreira (1996), composta de 25 itens tipo Likert de 5 pontos, variando de concordo plenamente a discordo plenamente. Desse total, 11 são positivos e 14 negativos. Os itens recebem pontos de 1 a 5 e a escala é corrigida na direção positiva. Desse modo, os itens negativos têm a sua pontuação original invertida e os escores baixos na escala indicam a adoção de atitudes mais conservadoras sobre o papel da mulher, enquanto escores mais elevados indicam a adoção de atitudes mais liberais e igualitárias a esse respeito.

A análise fatorial dos eixos principais com rotação Oblimin, realizada na amostra do presente estudo, revelou a presença de dois fatores com eigenvalues acima de 1, responsáveis por 25% da variância total do instrumento. Como dois itens não obtiveram carga fatorial igual ou superior a 0,30, foram, então, eliminados.

Assim, as análises estatísticas subseqüentes dos ­resultados basearam-se em uma versão da escala composta de 23 itens. O fator 1 ficou composto pelos 14 itens negativos que se referiam a um papel feminino tradicional e o fator 2 pelos itens positivos relacionados a um papel não tradicional da mulher.

A consistência interna desses fatores, calculada através do coeficiente Alpha de Cronbach foi de 0,73 e 0,83, respectivamente, enquanto a escala total apresentou um coeficiente de 0,85.

Procedimento

Os participantes do estudo foram contactados em suas respectivas salas de aula e informados dos objetivos da pesquisa, sendo solicitados a colaborar. Em seguida, leram as instruções sobre o preenchimento dos instrumentos e as dúvidas existentes foram esclarecidas, após o que receberam ordens para responder às escalas, em tempo livre. A ordem de aplicação foi contrabalanceada para evitar os efeitos de ordem.

Resultados

Inicialmente, foi atribuído a cada indivíduo um escore em cada uma das escalas utilizadas no estudo. Posteriormente, foram calculados os coeficientes de correlação linear de Pearson das escalas de masculinidade e feminilidade, com os dois fatores da escala de atitudes e com a escala total, separadamente nas amostras masculina e feminina.

A maioria das correlações obtidas foram não significativas e próximas de zero. As únicas exceções a esse padrão foram verificadas na amostra masculina, em que foi constatada uma correlação positiva significativa (rxy = 0,14; p < 0,04), embora de valor baixo, entre a feminilidade e a escala de atitude total, e na amostra feminina, em que se verificou uma correlação positiva significativa (rxy = 0,16; p < 0,01), também de baixo valor, entre a feminilidade e o fator 1 da escala de atitude.

Tais dados indicam que os homens com escores mais altos em feminilidade tenderam a demonstrar atitudes mais liberais sobre a mulher em geral, e que as mulheres com escores mais altos em feminilidade tenderam a apresentar atitudes mais liberais sobre o papel tradicional da mulher.

Adotando-se os procedimentos utilizados por Bem (1977) e Helmreich e cols. (1979), os sujeitos das amostras masculina e feminina foram, em seguida, alocados em quatro categorias de gênero, de acordo com os resultados obtidos nas escalas de masculinidade e feminilidade: tipificados (resultados acima da mediana na dimensão correspondente a seu próprio sexo e abaixo da mediana na dimensão oposta); andróginos (resultados acima da mediana em masculinidade e feminilidade); indiferenciados (resultados abaixo da mediana em masculinidade e feminilidade) e tipificados cruzados (resultados acima da mediana na dimensão oposta a seu próprio sexo e abaixo da mediana na dimensão correspondente a seu próprio sexo).

A Tabela 1 apresenta a percentagem de sujeitos alocados em cada uma dessas categorias, no sexo masculino e feminino, e as médias e os desvios padrões nos escores de atitude obtidos por esses sujeitos.

Análises da variância simples (ANOVA) foram conduzi­das, separadamente nas amostras masculina e feminina, com as médias dos escores obtidos em cada um dos dois fatores da escala de atitude e na escala total pelos quatro diferentes grupos formados em função da classificação dos sujeitos nas categorias de gênero.

Os resultados obtidos revelaram que a variável categoria de gênero não produziu efeitos significativos em nenhum dos escores de atitude, tanto na amostra masculina como na feminina. Tais resultados foram confirmados pelos testes a posteriori de Scheffé, que indicaram não haver diferenças significativas nas atitudes, em nenhuma das comparações entre os pares de categorias de gênero formados nas amostras masculina e feminina.

Por fim, calculou-se as médias e desvios padrões dos escores obtidos nas diferentes escalas, bem como testes t entre as médias das amostras masculina e feminina, em cada uma dessas escalas.

Conforme pode ser observado na Tabela 2, a média da amostra feminina foi significativamente maior que a da amostra masculina, tanto nos dois fatores da escala de atitudes quanto na escala total. No que se refere ao PAQ, os homens apresentaram resultados significativamente mais altos que as mulheres em masculinidade, sendo que estas obtiveram resultados significativamente mais altos que os homens em feminilidade.

Discussão

O objetivo principal do presente trabalho foi investigar as relações da masculinidade e feminilidade com as atitudes sobre o papel da mulher na atual sociedade brasileira, em uma amostra de estudantes universitários da cidade do Rio de Janeiro, com o intuito de comparar as posições teóricas de Bem (1981; 1985) e Spence (1984; 1985) e verificar a que melhor predizia tais relações.

A análise dos resultados obtidos revelou que não foram observadas diferenças nas atitudes de homens e mulheres sexualmente tipificados, quando comparadas às atitudes de homens e mulheres andróginos, indiferenciados e com tipificação sexual cruzada.

Esses dados divergem dos anteriormente obtidos por Bem (1977); Durkin e cols. (1986) e Frable (1989) e indicam que as formulações de Bem (1981; 1985) não se confirmaram. De acordo com essa autora, os atributos, atitudes, interesses e comportamentos associados ao gênero apresentam-se intimamente relacionados e integrados em uma estrutura cognitiva denominada esquema de gênero, que se torna responsável pela prontidão do indivíduo em utilizar o gênero como um filtro para a percepção da realidade externa. Nesse sentido, a tipificação sexual nos atributos de personalidade que definem a masculinidade e a feminilidade deveria conduzir à tipificação nas atitudes sobre a mulher, o que não se evidenciou no presente trabalho.

De modo contrário a essas formulações, observou-se que as correlações entre a masculinidade e as atitudes sobre o papel da mulher, assim como entre a feminilidade e tais atitudes, foram baixas e, em geral, insignificantes.

Tais dados mostram-se coerentes com os anteriormente obtidos por Helmreich e cols. (1979); Orlofsky, 1981; Orlofsky e cols. (1977); Spence (1993) e Spence e cols. (1975) e indicam que as predições de Spence (1984; 1985) se confirmaram. Segundo essa autora, o gênero constitui um fenômeno complexo e multidimensional, caracterizado por diferentes dimensões (atributos de personalidade, atitudes, interesses e comportamentos) que apresentam pouca ou nenhuma relação. Desse modo, os atributos de personalidade instrumentais e expressivos que configuram, respectivamente, a masculinidade e feminilidade guardam relação apenas com as demais características que se enquadram em um domínio instrumental ou expressivo. Assim, não seria de se esperar a existência de correlações entre a masculinidade ou a feminilidade e as atitudes sobre a mulher, o que se confirmou no presente trabalho.

Deve-se ressaltar que, no estudo atual, optou-se pela utilização do Questionário de Atributos Pessoais (PAQ) como instrumento para a operacionalização da masculinidade e feminilidade, em função da melhor estrutura psicométrica que o mesmo apresenta, quando comparado ao Inventário de Papéis Sexuais de Bem (BSRI) (Pedhazur & Tetenbaum, 1979; Spence, 1984). Contudo, a maioria dos estudos que confirma as predições de Bem (1981; 1985) emprega o BSRI na mensuração desses constructos. Considerando-se, porém, que a similaridade conceitual entre o BSRI e o PAQ já foi constatada (Lubinski, Tellegen & Butcher, 1983; Spence, 1993) e que Spence empregou o PAQ e o BSRI, e, ainda assim, reuniu evidências sobre a adequação de sua teoria multifatorial de gênero, em contraposição à teoria do esquema de gênero, é possível supor que a utilização do PAQ provavelmente não interferiu na direção dos atuais resultados.

A presente pesquisa evidenciou, portanto, que o comportamento interpessoal demonstrado nas relações sociais de gênero não pode ser inferido a partir de uma simples generalização baseada em traços de personalidade instrumentais e expressivos, o que contribuiria apenas para encobrir o papel que outras variáveis de natureza individual e social exercem na construção do gênero (Orlofsky, Cohen & Ramsden, 1985).

Torna-se necessário, então, uma distinção conceitual e uma avaliação independente dos vários componentes do gênero, que possam contribuir para uma melhor compreensão do modo pelo qual as mudanças verificadas nos papéis de gênero, nos últimos tempos, estão se refletindo nas dimensões pessoais e sociais associadas a tais papéis.

Esforços nesse sentido têm sido desenvolvidos por autores tais como Orlofsky e seus colaboradores (Orlofsky, 1981; Orlofsky, Ramsden & Cohen, 1982; Orlofsky & O'Heron, 1987), que vêm trabalhando no desenvolvimento de instrumentos para a avaliação de comportamentos e interesses associados aos papéis sexuais. De modo semelhante, Ashmore (1990) propôs um modelo teórico que procura integrar as diferentes dimensões que compõem o gênero com seus antecedentes e conseqüentes.

Os dados obtidos propiciaram, ainda, a realização de comparações não incluídas entre os objetivos originais do estudo. Nesse sentido, os sujeitos de sexo masculino e feminino foram comparados quanto à identidade de gênero, tendo-se verificado que, de modo semelhante a estudos anteriores (Bem, 1974; Ferreira, 1995; Spence & cols., 1975), os homens obtiveram escores significativamente mais altos que as mulheres em masculinidade, enquanto os escores das mulheres em feminilidade foram significativamente mais altos que os dos homens.

Tais dados podem ser interpretados como evidências adicionais à conceituação da masculinidade e feminilidade como dimensões do auto-conceito que se encontram associadas à divisão de papéis entre os sexos prescrita pelas normas sócio-culturais, que atribuem ao homem um papel instrumental, orientado para a consecução de metas, delegando à mulher um papel expressivo, voltado para o contato interpessoal (Bem, 1974; Spence e cols., 1975).

Cumpre enfatizar, por fim, que os resultados e conclusões que ora se apresentam devem ser encarados com cautela, na medida em que a presente investigação, de caráter exploratório, empreendeu tão somente uma abordagem inicial à questão das interrelações mantidas pelas diversas facetas que compõem o constructo de gênero, utilizando-se, para tanto, de uma amostra não representativa da população brasileira. Nesse sentido, torna-se relevante a condução de pesquisas futuras sobre tal problemática em amostras provenientes de outras regiões do país, com o intuito de se aprofundar o entendimento a respeito da configuração do gênero na sócio-cultura brasileira.

Seria interessante, também, que alguns dos estudos com amostras brasileiras se detivessem na adaptação ou construção de instrumentos destinados a avaliar outros aspectos do gênero, tais como interesses e comportamentos, os quais poderiam ser empregados na análise das possíveis correlações existentes entre essas dimensões e a masculinidade e feminilidade, bem como no teste de novos modelos.

A realização de tais investigações poderá contribuir para uma maior compreensão da complexa rede de influências e associações que se estabelece no curso do desenvolvimento, a qual se torna responsável pela construção do gênero, em suas dimensões individuais e psicossociais.

Recebido em 08.03.1999

Primeira decisão editorial em 04.02.2000

Versão final em 10.03.2000

Aceito em 11.05.2000

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  • 1
    Trabalho desenvolvido com apoio financeiro do CNPq (Processo n. 300118/94-5) Parte deste trabalho foi apresentado no VII Simpósio de Intercâmbio Científico da ANPEPP.
  • 2
    Endereço: Rua Marquês de Valença, 80, ap. 602. CEP: 20550-030 Rio de Janeiro - RJ. E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Jun 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 1999

    Histórico

    • Aceito
      11 Maio 2000
    • Recebido
      08 Mar 1999
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