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EDITORIAL

EDITORIAL

"O amor é a arte de criar algo com a ajuda da capacidade do outro"

Bertolt Brecht

Há um ditado espanhol que diz: "el hombre es el único animal que tropieza dos veces en la misma piedra". No caso de minha relação com a revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, sinto-me afortunada em assumir a frente de sua editoria por se tratar de uma verdadeira pedra preciosa em meu caminho. Portanto, é com grande alegria, honra e satisfação que assumo novamente a função de editora de tão valiosa revista, a qual me comprometo a zelar e manter o seu destaque de excelência no cenário científico brasileiro.

Encontro a revista em uma conjuntura muito especial: no auge de seus 27 anos de existência e de atividades ininterruptas, reconhecidamente avaliada no mais alto patamar da classificação Qualis-CAPES na área da Psicologia (A1) e a revista se encaminha irremediavelmente na direção de sua profissionalização e internacionalização. Sem dúvida, tal sucesso é o fruto do esforço sinérgico derivado da contribuição de cada um dos editores que por ela passaram e que ajudaram em sua edificação. Com certeza, tal proeza só foi possível graças ao inestimável apoio de todo o elenco da direção da revista, conselho editorial, revisores ad hoc, assistentes e revisores editoriais, arte-diagramadores, assinantes, leitores e órgãos de financiamento, bem como do imprescindível apoio institucional.

Hoje, ao receber a incumbência de assumir a direção como nova editora da revista, agradeço o irretocável papel do meu predecessor, professor Ronaldo Pilati e saliento seu fervoroso empenho na exitosa condução da revista. Vejo, com base no antigo cenário, que seu esforço foi muito profícuo, e destaco em especial o seu investimento na profissionalização da revista, que resultou, dentre outros ganhos, no grande aporte ao trabalho dos editores associados graças ao apoio dos assistentes de editoração – competentes estagiários selecionados e treinados para tal propósito. Outra grande conquista de sua gestão, que deve impactar diretamente na qualidade dos trâmites editoriais, foi a aquisição de um funcionário técnico do quadro permanente da Universidade de Brasília para compor a equipe perene da revista e, com isso, garantir sua transição, seu fluxo e sua memória organizacional. Esses e outros tantos avanços conquistados por gestões anteriores à minha me fazem uma editora afortunada, pois me permitem abrir sendas para continuar trilhando o almejado sucesso editorial, no rumo da internacionalização, por exemplo.

Porém, assumir os rumos editoriais da revista no cenário científico atual configura-se ainda um grande desafio. Embora as condições tecnológicas e administrativas sejam mais favoráveis do que aquelas da ocasião de minha primeira gestão como editora há quatro anos, muitos dos velhos problemas persistem (esses sim, verdadeiras "pedras no caminho" do trabalho de editoração científica, diga-se de passagem). Aqui vou me ater a salientar apenas um desses percalços.

Trata-se do problema crônico experimentado há anos por esta, e com certeza, por várias outras revistas científicas, que é a tímida agilidade na tramitação do manuscrito. O tempo que se leva para concluir uma avaliação de um manuscrito ainda está muito acima do desejado. A ciência obviamente precisa ser mais ágil, dinâmica e responsiva. Porém, por mais que hoje tenhamos um número expressivo de consultores ad hoc, que nos abrilhantam com sua valiosíssima e heróica contribuição, ainda esbarramos em graves problemas de ordem tanto qualitativa quanto quantitativa. Ainda não contamos com uma ajuda qualificada e suficiente para abarcar a demanda imposta pelo crescente número de submissões de manuscritos à revista. As exigências de publicação em veículos bem qualificados e a máxima "publicar ou perecer" parecem ser os responsáveis por essa avalanche de submissões. Por outro lado, esse aumento no quantitativo de manuscritos submetidos tem um efeito benéfico no produto final, já que, por efeito gargalo, resta-nos publicar o que há de melhor e, com isso, aumentar a qualidade da publicação científica no âmbito da psicologia.

Ainda sobre a morosidade no processo de tramitação, não posso me furtar a tecer considerações sobre o pouco destaque e a desvalorização creditada ao trabalho de avaliação de pareceristas. As respostas aos apelos dos editores de revistas científicas brasileiras aos órgãos de fomento ainda não trouxeram ressonâncias que se traduzissem em resultados finais ou em motivação, disponibilidade ou presteza na atuação do corpo de pesquisadores nacionais e potenciais revisores. Enquanto nos países do hemisfério sul ser convidado a emitir parecer para uma revista científica é sinal de reconhecimento e honra, por aqui essa é mais uma tarefa a concorrer com as inúmeras outras exigências da onerosa labuta acadêmica.

Tenho a firme intenção de marcar minha nova passagem pela revista com a mesma responsabilidade, determinação, cuidado, ética e afinco dos que me precederam. Pretendo, em minha tarefa como editora, investir com afinco nos rumos da internacionalização e no incremento do fator de impacto de nossas publicações. Por tal motivo, algumas mudanças serão instituídas em breve, o que se fará notar nas instruções aos autores nas próximas edições.

Me acompanharão nesta nova tarefa, a primorosa equipe formada pelos professores Sheila Murta, Daniela Chatelard, Regina Pedroza, Juliana Porto, Josele Abreu-Rodrigues (editores associados), Jacob Laros (secretário de editoração), Mauricio Neubern (como secretário de divulgação) e Terezinha Viana (tesoureira).

Este número, fruto do trabalho da gestão anterior, traz uma interessante e diversificada contribuição para as diversas áreas de conhecimento da psicologia, abrangendo autorias das mais variadas afiliações institucionais de pesquisa científica de várias regiões do Brasil e de Portugal. No âmbito da neuropsicologia, o primeiro artigo traz um estudo teórico sobre os processos cognitivos de tomada de decisão e processos atencionais envolvidos no comportamento aditivo, de autoria de Silvia Cunha, Ana Carolina Peuker, Fernanda Lopes, Carolina Menezes e Lisiane Bizarro, no qual abordam o relevante tema da dependência química. Já o artigo de Hugo Sousa, Manoel Machado e Jorge Quintas nos oferece uma interessante estratégia de avaliação neuropsicológica de detecção de simulação em pacientes com traumatismo cranioencefálico. Na sequência, Helena Corso, Tânia Sperb, Graciela de Jou e Jerusa Sales tratam de discutir teoricamente os conceitos de metacognição e de funções executivas, relacionando-os entre si e com o processo de aprendizagem.

No âmbito da psicologia social do trabalho e das organizações, Juliana Santos, Elaine Neiva e Eleuni Andrade-Melo tratam da relação entre o clima organizacional, percepção de mudança organizacional e satisfação do cliente, haja vista a relevância de tais temas no planejamento de estratégias de gestão de pessoas, visando à melhoria no ambiente de trabalho. Nessa esteira, Margareth Ribeiro e Helenides Mendonça apresentam em seu artigo o resultado do teste de um modelo empírico que investiga o poder moderacional da idade e do nível hierárquico sobre a relação entre a satisfação dos valores do trabalho e o estresse psíquico. Com o foco sobre a questão do estresse e das variáveis a ele associadas, André Faro, por sua vez, trata do estudo da delicada questão da saúde mental dos alunos de pós-graduação no Brasil, no qual constata que a média do estresse da amostra total ficou acima do ponto médio da escala.

Rafael Porto e Jorge Oliveira-Castro, no interessante artigo sobre preditores da correspondência intenção-compra, analisam a magnitude do reforço das marcas e constatam a força preditora da história de aprendizagem no comportamento de consumo.

Na perspectiva da psicologia evolucionista, no instigante artigo de Tiago Eugênio, o autor adentra as nuances do comportamento de trocas sociais por meio da investigação sobre as origens e os propósitos das habilidades cognitivas que constituem a cognição social humana.

Muito oportunamente ao contexto social e político vigente em nosso país, o artigo de Cícero Pereira, Ana Raquel Torres, Luciene Falcão e Annelyse Pereira apresenta o resultado de um sério estudo sobre as representações sociais sobre a homossexualidade e seu impacto sobre as políticas discriminatórias de posições contrárias ao casamento e à adoção de crianças por casais homoafetivos.

O preocupante tema do bullying e seus efeitos tardios é tratado primorosamente no estudo de revisão de literatura desenvolvido por Paloma de Albuquerque, Lúcia Williams e Sabrina D'Affonseca, que aponta na perspectiva de contribuir para projetos de intervenção à violência na escola e para o tratamento clínico de indivíduos que apresentem efeitos a longo prazo desse tipo de vitimização.

Cláudia Sanini, Maúcha Sifuentes e Cleonice Bosa, com base numa revisão crítica da literatura, discutem sobre a competência social no autismo no âmbito escolar com base no exame do tipo de contexto de brincadeira que favorece as interações entre pares e sobre as questões metodológicas que cercam tal debate, no intuito de facilitar o desenvolvimento da interação social dessas crianças em situações de inclusão escolar. Ainda no âmbito da psicologia do desenvolvimento, Débora Oliveira e Rita de Cássia Lopes investigam os indicadores de regressão e crescimento do primogênito no processo de tornar-se irmão, com importantes achados para a pesquisa e para a clínica.

Por fim, o VII Seminário de Psicologia e Senso Religioso – Psicologia da Religião no Mundo Ocidental Contemporâneo: Desafios da Interdisciplinaridade, ocorrida em Brasília em outubro de 2012, é noticiado por Júlia Bucher-Maluschke e Marta Freitas.

Espero que, assim como eu, o leitor desfrute do acesso à pluralidade de artigos aqui apresentados.

Maria Inês Gandolfo Conceição

Editora-Chefe

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Abr 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 2013
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