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SEER ou não SEER? Eis a questão

EDITORIAL

SEER ou não SEER? Eis a questão

Que é mais nobre para a alma: suportar os dardos

e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se

contra um mar de desventuras e dar-lhes fim

tentando resistir-lhes?

Shakespeare,

Hamlet

Contrariamente ao drama existencial shakespeareano do príncipe Hamlet, o destino das revistas científicas já foi traçado, não restando a nós, editores, outro caminho a não ser o de ceder aos encantos da tecnologia da informação, com suas tentadoras promessas de agilidade, presteza e visibilidade. Não bastassem esses qualificativos, o sistema de editoração eletrônica de acesso aberto e livre vem ainda atrelado a uma proposta arrebatadora de democratização da informação científica. Tal engajamento político já foi encampado por reconhecidas entidades como a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia – ANPEPP, que, em seu último simpósio ocorrido em maio de 2006 em Florianópolis, produziu um manifesto no intuito de apoiar o movimento mundial da comunidade científica em favor do acesso aberto à literatura de pesquisa qualificada.

Entre as recomendações do manifesto, constam o apoio e endosso ao conceito de publicação científica de acesso aberto; a sugestão de que as entidades de fomento mantenham e ampliem sua política de apoio financeiro aos periódicos brasileiros de acesso aberto, cooperando para a construção de um sistema consolidado e abrangente de periódicos científicos de alto impacto no hemisfério sul; que os pesquisadores priorizem as revistas de acesso aberto quando forem submeter seus originais, aceitar solicitações para revisar artigos ou fazer recomendações; e que a adesão ao acesso aberto seja uma condição mínima para que um periódico receba a classificação de qualidade A no Qualis da Psicologia (ANPEPP, 2006).

Estas determinações já se fazem sentir, por exemplo, nos editais de apoio à editoração e publicação de periódicos científicos do CNPq, cujo objetivo é "Apoiar e incentivar a editoração e publicação de periódicos científicos brasileiros, sendo considerado prioritário o apoio às revistas divulgadas simultaneamente por meio eletrônico na Internet, em modo de acesso aberto, em todas as áreas do conhecimento". (MCT/CNPq, 2006).

Como em quase todo convite à mudança, o temor e a resistência frente a essa novidade se traduzem nas reações dos diversos atores pertencentes ao elenco editorial. Editores, autores e consultores são suscetíveis ao impacto das novas tecnologias e se vêem diante de necessidades de um rápido domínio de habilidades e linguagens, muitas vezes, alheios a seus saberes. Como já vem sendo anunciado em números anteriores da revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, faz parte de nossos planos imediatos inaugurar uma nova fase na nossa história de tramitação editorial, o que cronologicamente coincide com a maioridade e maturidade da revista. Em conformidade com nossa missão de manter e aperfeiçoar as práticas editoriais, em breve, a revista Psicologia: Teoria e Pesquisa passará a funcionar com base no modelo operacional do Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER) – traduzido e customizado pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), baseado no software desenvolvido pelo Public Knowledge Project (Open Journal Systems) da Universidade British Columbia (IBICT, 2006).

Cumpre ressaltar, contudo, que a iniciativa da Revista Psicologia: Teoria Pesquisa em tomar outros rumos em sua operacionalização editorial coaduna-se com o compromisso em dar continuidade à sua missão de garantir a qualidade da produção e divulgação brasileira e internacional em Psicologia, fornecendo um panorama global da produção teórico-metodológica e técnica atual. Por outro lado, pretende-se fazer uma cuidadosa transição para o novo modelo de gestão editorial, tendo em vista a necessidade de considerar as eventuais dificuldades inerentes ao processo de familiarização com esse novo modo de funcionamento.

Neste número, o leitor poderá apreciar, na área de análise experimental do comportamento, o estudo de Francynete Silva e Luiz Carlos Albuquerque sobre efeitos das perguntas no seguir regras e o estudo sobre as variáveis no ensino de discriminação de bebês de Thais de Oliveira, Maria Giol, Naiara de Sousa e Danilo Faleiros. Na área das neurociências, há o estudo sobre as funções neuropsicológicas em crianças com dificuldades de leitura e escrita de Jerusa de Salles, Maria Alice Parente; o estudo da modelagem da agressão de Sílvio Vasconcellos, Patrícia Picon e Gabriel Gauer e o trabalho sobre peritagem musical e cognição de Afonso Galvão. Na área da psicologia do desenvolvimento, Maria Helena Fávero e Larissa Abrão tratam das questões da manutenção dos papéis de gênero na telenovela, a partir dos atos de fala de adolescentes.

Ana Peuker, Janaína Fogaça e Lisiane Bizarro tratam do estudo sobre os fatores de risco associados ao fenômeno do beber problemático entre universitários. A síndrome psicossocial multidimensional de assédio psicológico no trabalho (mobbing) é tratada por Liliana Guimarães e Adriana Rimoli. A discussão sobre as abordagens multi-metodológicas de pesquisas qualitativas e quantitativas é apresentada no artigo de Hartmut Günther, com interessantes aportes da literatura germânica.

Thémis Apostolidis nos brinda com um artigo em francês sobre as representações sociais e a triangulação, na perspectiva da psicologia social da saúde. Na área de psicologia da arte, Arley Andriolo aborda a falta de diálogo entre pesquisadores sobre a pintura ingênua nos ateliês psiquiátricos. A psicanálise é discutida no trabalho de Jorge Luís Abrão, que trata sobre o seu papel na transformação das práticas educacionais brasileiras e, por sua vez, Eliana Lazzarini e Terezinha Viana tratam do conceito de corpo em psicanálise. Por fim, uma resenha sobre as contribuições teóricas e práticas da psicologia das habilidades sociais na infância é apresentada por Lucas Freitas. Desejo aos caros leitores, bom proveito da leitura.

Maria Inês Gandolfo Conceição

Editora

Referências

ANPEPP (2006). XI Simpósio da ANPEPP. Declaração de Florianópolis em favor do acesso aberto. Disponível em 28/08/06 no http://www.anpepp.org.br

IBICT (2006). Acesso Livre à informação científica. Disponível em 28/08/06 no http://www.ibict.br/openaccess/

MCT/CNPq (2006). Edital MCT/CNPq nº036/2006. Disponível em 28/08/06 no http://www.cnpq.br/editais/index.htm#b

Shakespeare, W. (1603). The Tragicall Hiftorie of Hamlet Prince of Denmarke. A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca. Disponível em 28/08/06 no http://www.2dmais.com.br/livros/WilliamShakespeare/hamlet1.pdf#search=%22livrosGratis%2FHamlet.htm%22

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Nov 2006
  • Data do Fascículo
    Ago 2006
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