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Os estilos de Picologia: Teoria e Pesquisa e da APA

Editorial

Os Estilos de Psicologia: Teoria e Pesquisa e da APA

O Manual de Publicação apresenta de modo explícito os requisitos de estilo mas reconhece que, às vezes, alternativas são necessárias, os autores devem compensar as regras do Manual de Publicação com bons julgamentos. Devido a que a linguagem escrita da psicologia muda mais lentamente que a própria psicologia, o Manual de Publicação não oferece soluções para todos os problemas estilísticos. Nesse sentido, ele é um documento transicional: seus requisitos de estilo são baseados na literatura científica existente de preferência à sua imposição sobre a literatura (Publication Manual da American Psychological Association, 1994, p. xxiii)

Estamos muito satisfeitos por poder entregar o primeiro número de nosso volume dezesseis dentro do ano que lhe é correspondente. Com ele iniciamos um novo período de gestão editorial. Permanece o editor mas muda a diretoria, e um novo Conselho Editorial está em composição. De acordo com nosso Estatuto os conselheiros são indicados pelos departamentos do Instituto de Psicologia e nomeados pelo Colegiado da Pós-Graduação. Esse processo de indicação e escolha dos nomes que irão compor o Conselho foi por nós iniciado mas não pôde ser concluído a tempo para que pudéssemos entregar este número, já com a nova composição, durante a XXX Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia. Dessa forma, o Conselho anterior teve seu mandato prorrogado, e esperamos, no próximo número, apresentar o do biênio 2000-2001.

À Diretoria que encerrou suas atividades os agradecimentos do Editor pela colaboração recebida, em particular o esfôrço extra e a dedicação da Tesoureira, Rachel Nunes da Cunha, e da Secretária de Divulgação, Tereza Cristina Cavalcanti Ferreira de Araújo, que contribuiram imensamente para a regularização da periodicidade de nossa Revista. A primeira através de seu trabalho de organização da tesouraria e, sobretudo, o empenho contínuo no cuidado dos problemas da revista, e a segunda, pelo criativo, constante e produtivo trabalho de ampliação do número de assinaturas e as "banquinhas" de promoção de vendas avulsas. Devo agradecer também aos pareceristas que, em sua grande maioria, atenderam nossas solicitações de revisão de manuscritos com presteza e pontualidade. Sua colaboração é de valor inestimável dentro do sistema de seleção de manuscritos que a revista adota.

À Diretoria que inicia seus trabalhos desejo sucesso no caminho que percorreremos juntos neste novo biênio. Os novos trazem consigo novas idéias e perspectivas e, em conseqüência, mudanças. Assim, em nossas primeiras reuniões, a nova diretoria entendeu que em comemoração aos quinze anos de circulação contínua da revista, completados com a edição de Volume 15 (ano 1999), sua capa mudaria de cor.

A seção especial: questões sobre família e desenvolvimento

Os três números deste volume trarão uma seção especial sobre questões relativas ao desenvolvimento da família enquanto grupo. Ela conta com a participação de autores nacionais e estrangeiros e pretende oferecer um quadro das pesquisas realizadas em diferentes partes do mundo sobre o tema. A idéia de um número especial sobre desenvolvimento familiar surgiu das discussões de Maria Auxiliadora Dessen com Kurt Kreppner, em outubro de 1998, por ocasião da visita da primeira ao Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano (Berlim), onde o segundo desenvolve suas pesquisas. O Professor Kreppner tem inspirado, estimulado e apoiado os trabalhos de pesquisa do Laboratório de Desenvolvimento Familiar do Instituto de Psicologia da UnB, mantendo um carinho especial pelo Brasil e acreditando no potencial dos pesquisadores brasileiros para oferecer contribuições relevantes para o desenvolvimento dessa área. Dessa forma, a sugestão de Kreppner foi transformada em proposta e submetida à Revista, em abril de 1999, pelas professoras Maria Auxiliadora Dessen, da Universidade de Brasília, e Zélia Biasoli-Alves, da Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto. Considerando o grande número de artigos relatando estudos de desenvolvimento da criança no contexto da família que são publicados pela Revista, a Diretoria entendeu que interessaria a muitos pesquisadores o conhecimento do panorama sobre "Família e Desenvolvimento" que ora começamos a apresentar.

Há exatamente quinze anos, a revista Child Development publicou um número especial sobre desenvolvimento familiar. Na Introdução ao número, Kenneth Kaye (1985), seu organizador, comentou que todos os artigos sobre relações parentais que vinham sendo publicados por aquela revista eram relativos ao desenvolvimento da criança no contexto da família e que os artigos daquele número especial "tinham em comum uma concepção mais radical de desenvolvimento familiar" (p. 279). O número tornou-se um marco histórico da área e contribuiu para o seu avanço. Nosso desejo é que a seção que agora apresentamos possa ter um efeito similar. Não há porque sermos modestos quando se trata do desejar.

Em sua Introdução, Kaye (1985) ressaltou a grande quantidade de trabalho que lhe deu editar o número especial, mas também a sua descoberta dos aspectos recompensadores envolvidos nessa tarefa. Embora o processo de realização da nossa seção especial tenha sido diverso do que ele relata ter sido o seu, pequena não foi a quantidade de trabalho que tivemos para compô-la e conhecemos também os aspectos gratificantes e didáticos dessa experiência editorial. Como não pudémos obter traduções para o português dos artigos dos autores estrangeiros e tendo em vista o caráter internacional do empreendimento, entendemos então que era pertinente publicá-los, de preferência, em inglês, por ser esta uma língua comum entre os muitos grupos de pesquisa envolvidos. Todavia, os artigos dos autores brasileiros serão publicados em português e dois trabalhos sairão em francês.

Essa situação propiciou-nos a ocasião de editar simultaneamente dois blocos de artigos fazendo uso de dois estilos diferentes, ambos derivados das normas de publicação das revistas da American Psychological Association (1994): três artigos inteiramente no modelo norte-americano e os demais no modelo adaptado criado pela Revista. A tarefa consumiu-nos muito tempo pois há uma grande quantidade de pequenas e pequeníssimas diferenças nos aspectos formais que precisam ser checadas, além dos problemas lingüísticos devido ao fato de muitos autores não serem nativos de língua inglêsa, e também problemas estilísticos que para serem solucionados requerem a combinação de várias regras com bons julgamentos. A título de ilustração destacamos a solução que encontramos para uma referência que pede tal harmonização recomendada pelo Manual: a série de volumes New Directions for Child Development. Dentre as muitas referências aparecidas nos artigos trazemos a seguinte:

Youniss, J. (1983). Social construction of adolescents by adolescents and parents. In H. D. Grovenant (Series Ed.) & C. R. Cooper (Vol. Ed.), New directions for child development: Vol 22. Adolescent development in the family (pp. 93-110). San Francisco: Jossey Bass.

Pois bem, se o trabalho foi imenso, por outro lado, o exercício foi rico em aprendizagem de composição editorial e é também gratificante oferecer ao leitor um número em que ele poderá ver claramente as diferenças entre as duas variantes de normas e estilos resultantes. Um outro aspecto afetado pelo uso do estilo norte-americano foi a apresentação dos resumos. Assim, para mantê-lo não incluimos os resumos em português dos artigos em inglês. E, por esse motivo, oferecemos em seguida seus Abstracts adaptados às nossas palavras.

O primeiro artigo assinado por Jonathan Tudge e mais sete pesquisadores, Parents' Participation in Cultural Practices with their Preschoolers, apresenta dados coletados em diferentes sociedades: Estados Unidos, Coréia, Russia, Estônia e Quênia, e discute as semelhanças e variações entre culturas no engajamento dos pais em atividades cotidianas de seus filhos pré-escolares. O foco recai sobre a presença dos pais na mesma situação que seus filhos e discute o impacto de sua presença sobre as atividades realizadas pelas crianças e a extensão do envolvimento dos pais naquelas atividades de seus filhos. No Abstract de seu artigo, os autores contam que os dados obtidos nos diferentes contextos culturais pesquisados "revelam que as crianças estiveram primariamente envolvidas em brincadeiras (mais que em lições, trabalho ou conversas), e que isto não foi afetado pela presença de quaisquer dos pais." Mas, acrescentam que, no entanto, os dados revelam também que "os pais eram relativamente menos prováveis de se envolverem em brincadeiras com seus filhos do que em outras atividades." E, ao final, eles constatam, sem nenhuma surpresa, que era muito mais provável encontrar mães interagindo no mesmo ambiente com suas crianças, e que, mesmo quando era considerada a maior freqüência de sua presença, as mães "eram mais prováveis de se envolver em atividades com seus filhos que os pais." (p. 1)

O artigo de Kurt Kreppner, The Child and the Family: Interdependence in Developmental Pathways, apresenta inicialmente um importante retrospecto no qual a família é colocada no centro do problema da transmissão de significado e de cultura. No pensamento que ele desenvolve a respeito dos conceitos da família como uma instituição para a trasmissão de significado e nas implicações que esses conceitos têm para novas abordagens teóricas e metodológicas no campo de pesquisa da família, desempenham papel fundamental as idéias de Vico, von Uexküll, Cassirer, von Bertalanffy. Assim, no Abstract de seu artigo ele afirma que, neste, "a idéia de transmissão de um sistema de significado da sociedade por meio da família é discutida sob a perspectiva de que a socialização das crianças na família fornece uma base contínua para a agregação de conhecimento comum através de gerações." Quanto ao modelo para "lidar com a continuidade complexa e questões de mudança durante o desenvolvimento", ele apresenta o modelo sistêmico como o mais promissor. O artigo apresenta dados extraídos de dois estudos longitudinais, "nos quais o comportamento de comunicação entre pais e filhos foi analisado durante dois períodos desenvolvimentais críticos". Assim, ele apresenta dados sobre o comportamento de comunicação entre pais e filhos "durante os dois primeiros anos após o nascimento de um segundo filho e durante a transição da infância para a adolescência" (p. 11)

As questões da transição da adolescência para a idade adulta em famílias da Itália são tratadas no artigo de Eugênia Scabini, Parent-Child Relationships in Italian Families: Connectedness and Autonomy in the Transition to Adulthood. Para a autora, essa transição "implica uma modificação no equilíbrio entre associatividade e autonomia."A autora considera que "o apoio relacional e o estilo de tomada de decisão são, respectivamente, marcas distintivas de associatividade e autonomia da família". Um dos principais objetivos de seu trabalho é a verificação do modo no qual esses dois aspectos "mudam da adolescência para a vida adulta." Seu outro objetivo foi a comparação da "percepção de pais e filhos através de uma medida de concordância." Sua amostra foi composta por 259 famílias que tivessem um filho entre 17 e 25 anos de idade. Os instrumentos utilizados foram a Escala de Apoio Pais-Adolescente e a Escala de Estilo de Tomada de Decisão. Seus resultados mostraram que os filhos "percebiam um aumento significativo em apoio relacional e em autonomia a partir da adolescência tardia para a vida de adulto jovem." Além disso, ela encontrou que "a concordância entre pais e filhos aumentava à medida que estes ficavam mais velhos." E ela conclui que, próximo à transição para a vida adulta, "pais e jovens estão mais próximos entre si que durante a adolescência tardia" (p. 23).

Aos três estudos sobre diferentes momentos do desenvolvimento humano somou-se o trabalho de Iolete Ribeiro da Silva e Isolda de Araújo Günther sobre o envelhecimento, Papéis Sociais e Envelhecimento em uma Perspectiva de Curso de Vida, que representa neste número a produção nacional.

Para concluir, gostaríamos de salientar a agradável surpresa de constatar o interesse dos autores estrangeiros em ter seus artigos publicados em nosso periódico e seu empenho em responder com rapidez e presteza para atender aos ditames do processo de composição. Agradecemos a colaboração desses autores que divulgarão nossa revista e o trabalho dos autores nacionais nas muitas universidades estrangeiras onde atuam. De valor inestimável tem sido também a colaboração dos consultores externos aos quais temos recorrido para as revisões necessárias dos manuscritos.

E, finalmente, fazemos um agradecimento especial à Professora Zélia Biasoli-Alves pela sua preciosa colaboração no início de nosso trabalho.

Referências

American Psychiatric Association (1994). Publication Manual (4a. ed.). Washington, DC: Author.

Kaye, K. (1985). Introduction to Family Development. Child Development, 56, 279-280.

Norberto Abreu e Silva Neto

Maria Auxiliadora Dessen

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2001
  • Data do Fascículo
    Abr 2000
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