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Avaliação econômica dos projetos de transportes - metodologia e exemplos

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Kurt E. Weil

Avaliação econômica dos projetos de transportes - metodologia e exemplos

Por Hans A. Adler. Trad. Heitor Lisboa de Araújo. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos, 1978. 171 p.

Trata-se de uma obra complementar, excelente para o ensino da avaliação relativa de projetos em diversas áreas e métodos de transportes. Os assuntos tratados, de acordo com o sumário, são: 1ª parte - Introdução e custos econômicos, Previsão de tráfego, Benefícios econômicos e comparação de custos e benefícios; 2ª parte - Exemplos de projetos rodoviários, Exemplos de projetos ferroviários e um oleoduto, Exemplos de projetos portuários, Exemplos de projetos de aviação.

O autor é economista, diretor assistente do Instituto de Desenvolvimento Econômico do Banco Mundial e escreveu o livro por ocasião de seu trabalho na comissão de planejamento do Paquistão, sob os auspícios da Universidade de Harvard. No próprio Paquistão, ele testou o manual no campo para observar se engenheiros e economistas aprendiam os métodos expostos. O autor disse que os resultados foram eminentemente satisfatórios. Como resenhista tenho certeza que sim, pois o livro é lógico, claro, e no estudo de Custos e benefícios prescinde da sistemática altamente matemática dos livros especializados, tais como Mishan, E. J. Elementos de análise de custos e benefícios, Zahar Editores ou Layard, R. Cost benefit analysis, Penguin Books, 1976 ou Manual de análise de projetos industriais nos países em desenvolvimento, Editora Atlas. Afinal, o presidente do Banco Mundial, McNamara, é o defensor do método.

A divisão do livro em parte teórica e prática (46 e 125 páginas, respectivamente) mostra a maior ênfase nos exemplos. No entanto, no planejamento do futuro falta aquilo que se possa chamar aspecto probabilístico da utilização dos meios de transporte - assim, por exemplo, os dados da aquisição de aeronave são dados para o futuro, com certeza, e não sob riscos com uma variação possível, de acordo com uma distribuição normal ou Poisson do numero de passageiros esperados. O resenhista se ressente da falta de sensibilidade social do autor na avaliação de um projeto. Ela simplesmente inexiste, como se pode ver no primeiro capítulo da primeira parte. O autor considera a importância militar de projetos de transporte mas não vê o custo social do transporte. Principalmente na análise de custo-oportunidade e na distribuição de benefícios conforme a classe social, fatores outros que os de matemática financeira devem entrar. O autor deve se colocar entre os defensores da teoria de planejamento, onde subsídios para o transporte são contrários a uma política nacional de verdade tarifária e investimentos feitos estritamente no ranking do retorno eventual, ou da segurança. Estes fatores são importantes, decisivos e necessários, mas os sociais devem ser levados em conta.

O sistema de transportes urbanos de São Paulo, principalmente o metrô, é de função social - sendo que o fator decisivo para instalar um metrô é a impossibilidade de se ter transporte rápido de superfície para as massas que se dirigem aos lugares de trabalho, qualquer que seja o nível social. A perda de tempo, de disposição e de bom humor pela condução falha não pode ser avaliada em cruzeiros, mas precisa ser remediada.

No prefácio do livro, o autor afirma que de 15 a 30% dos investimentos públicos de países em desenvolvimento são em transportes, como são altos os privados em veículos. O motivo é o crescimento: muito mais rápido do setor de transportes em relação aos demais, numa economia em que a indústria e a produção agrícola também crescem. A incidência de transporte sobre cada item não é esclarecida pelo autor, mas, no mínimo, uma indústria de transformação exige dois transportes: o da matéria-prima e o do produto acabado. Nessa consideração, nota-se outra omissão do livro: falta a incorporação da análise regional (Richardson, Elements of Regional Economics, Penguin - existe tradução nacional) e urbana (Urban economics, mesmo autor e editora) no contexto do planejamento de transportes.

Uma resenha deve restringir-se ao trabalho apresentado e à meta posta pelo autor, no caso: ensinar técnicas de avaliação. Ele, com certeza, consegue isso, mas como livro-texto em escolas superiores, a obra deixa a desejar, requerendo outras leituras e estudos - caso contrário, o tecnocrata formado será possuidor de uma perspectiva distorcida.

O método aplicado, pelo autor, preferencialmente, é o analítico do fluxo de caixa e da taxa interna de retorno. O valor tempo-benefício de um projeto é fracamente considerado - pois trata somente do início do projeto, não do custo adicional de aceleração do benefício pelo término antecipado por colocação de maior número de máquinas de preparação, por exemplo, escavadeiras e tratores. Outro problema é o da passagem do benefício para o usuário da estrada e do custo para o poder público. Deve todo contribuinte pagar através de impostos os benefícios que afluem a poucos? O autor silencia completamente sobre este problema, como também sobre o pedágio. O aeroporto, por exemplo, beneficia uma ínfima minoria da nação - quem deve pagar pelo projeto? E os empréstimos internacionais citados pelo autor: como se devem distribuir seus custos em serviços e amortização?

O problema citado da construção de ponte (p. 82-90) equipara o custo da demora de atravessar um rio com balsa à aceleração, com uma ponte. O custo é transformado em custo ônibus parado, inclusive motorista. O valor atual de benefícios da ponte são assentados e é estabelecido um limite de vida do projeto, de acordo com a taxa de descontos. O projeto dessa maneira é de resolução simples, e o engenheiro-resenhista somente teria a dúvida sobre que tipo de ponte deveria ser escolhido - pois os custos variam com o tipo, mas também a manutenção e a facilidade de dobrar a pista de rolamento no futuro.

O livro apresenta bibliografia mas não tem índice remissivo. Com certeza pode a obra em questão ser recomendada para leitura complementar e como livro-texto num curso de avaliação de projetos e de projetos de transporte. Faltam muitos itens que devem ser considerados num curso superior ou de pós-graduação em transportes, tais como custo-benefício matemático, benefício social, valor tempo, avaliação probabilística dos dados de previsão, influência da mercadologia sobre a demanda e a ciência de tarifação e pedágio. Tem-se como certo que o treinamento prometido pelo livro é eficaz, mas, por si só, não é suficiente na formação de um tecnocrata capacitado.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 1979
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