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Dopplervelocimetria umbilical para a avaliação fetal em gestações de alto risco

Diretrizes em foco

Obstetrícia

DOPPLERVELOCIMETRIA UMBILICAL PARA A AVALIAÇÃO FETAL EM GESTAÇÕES DE ALTO RISCO

A aplicação da dopplervelocimetria em Obstetrícia foi demonstrada pioneiramente por Fitzgerald e Drumm, em 19771. Após meados da década de 1980, sua grande difusão coincidiu com o aprimoramento da tecnologia ultra-sonográfica. Decorridos mais de 15 anos de uso, vasta literatura demonstra a sua inegável utilidade em inúmeras situações patológicas no decurso da gravidez. Dois aspectos foram fundamentais para suscitar tamanha sedução por tal método. O primeiro refere-se à possibilidade de se diagnosticar, de forma não invasiva, a insuficiência placentária e o segundo vincula-se ao acesso às conseqüências dessa anormalidade, ou seja, a avaliação da hemodinâmica fetal, de particular interesse nos casos que evoluem com importantes injúrias hipoxêmicas fetais. Porém, muitos pontos não esclarecidos persistem a desafiar os pesquisadores envolvidos. Assim, tendo como "background" de que sonogramas umbilicais anormais poderiam indicar um prognóstico fetal adverso e, como conseqüência, intervenções obstétricas precipitadas, resultando em iatrogenias, foi efetuado um trabalho de revisão2, com objetivo de se obter subsídios consistentes acerca do impacto do uso dessa modalidade propedêutica em pacientes com alto risco gestacional. Foram selecionados 11 estudos randomizados, em um total de 7000 gestantes. O critério de escolha dos estudos teve por base a comparação do uso e não uso do método, distribuídos aleatoriamente. A dopplervelocimetria umbilical foi associada à redução das taxas de mortalidade perinatal com odds ratio de 0,71 (intervalo de confiança a 95% - 0,50 ¾ 1,01); menor número de induções do parto, com odds ratio de 0,83 (IC 95%, 0,74 ¾ 0,93) e menor freqüência de internações, com odds ratio de 0,56 (IC 95%, 0,43 ¾ 0,72). Não foram observados diferenças significativas quanto à ocorrência de sofrimento fetal no parto e nas taxas de cesáreas. Como conclusão, admitem a melhora dos cuidados obstétricos pela introdução desse método, evidenciada principalmente pela diminuição do índice de mortalidade perinatal, em 29%.

Comentário

Ainda que a dopplervelocimetria esteja distante de ser disponibilizada para a maioria absoluta da população brasileira, sua eficácia tem sido comprovada, também em território nacional, sugerindo sua vasta aplicabilidade3. A experiência acumulada em centros nacionais, excedem em número para elaborar a proposta de diretrizes para a sua aplicação. Nesse sentido, cabe o alerta de que esse método não é a panacéia para a avaliação fetal, e por isso, não impera soberana, como querem alguns. Os métodos tradicionais não devem ser relegados a planos secundários. A seleção de pacientes que exibem riscos para evoluírem com insuficiência placentária4 é fundamental para que se obtenha desempenho adequado, pois nesses casos é possível se estabelecer, em decorrência do uso dessa propedêutica, um novo delineamento dos cuidados assistenciais. A dopplervelocimetria umbilical torna-se de extrema relevância em gestações com insuficiência placentária muito grave, nas quais o método, isoladamente, pode determinar conduta resolutiva.

SEIZO MIYADAHIRA

Referências

1. Fitzgerald D, Drumm J. Non-invasive measurement of human fetal circulation using ultrasound: a new method. Br Med J 1977; 2:1450-1.

2. Neilson. JP, Alfirevic, Z. Doppler ultrasound for fetal assessment in high risk pregnacies (Cochrane Review). In: The Cochrane Library, Issue 3; 2001. Oxford: Update Software.

3. Francisco RPV, Nomura RM, Miyadahira S, Zugaib M. Diástole zero ou reversa na dopplervelocimetria das artérias umbilicais. Rev Assoc Med Bras 2001; 47:30-6.

4. Vintzileos A. Antenatal assessment for the detection of fetal asphyxia: an evidence-based approach using indication-specific testing. Ann N Y Acad Sci 2000; 900:137-50.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Mar 2006
  • Data do Fascículo
    Set 2002
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