Acessibilidade / Reportar erro

Assessoria Pedagógica às Escolas Médicas

As Escolas de Medicina transformaram-se, durante as duas últimas décadas, em alvo de grandes atenções, no panorama educacional brasileiro. Responsáveis pela formação do profissional médico, com tudo aquilo que ele simboliza para a sociedade, haveriam elas de sofrer as críticas mais acerbas no processo de massificação que acomete u a nossa Universidade, a partir do momento em que se tornou patente a queda dos padrões de qualidade de seu ensino. Viram-se de tal modo abaladas em seu prestígio, e a tal ponto desafiadas a recuperarem o terreno perdido, que uma verdadeira avalanche de providências foi tomada, com vistas a corrigir as distorções ocorridas e a repor nos seus devidos lugares os parâmetros perdidos. É de reconhecer-se entretanto que, no esforço pela retomada dos padrões qualitativos do ensino, a Escola Médica tem-se mostrado aberta e sensível aos apelo s da real idade e, com freqüência, tem ela a iniciativa das ações, ao propor soluções inovadoras, a exemplo do ocorrido no esforço de aproximação entre os sistemas formador e utilizador de mão-de-obra médica, único e verdadeiro caminho que permitirá preparar um profissional mais adequado às necessidades de saúde da população. Tais mudanças, entretanto, por paradoxal que pareça, somente ocorrem em períodos de crise e de grandes descompassas nas regras estabelecidas. Reformas curriculares, integração do ensino, regionalização docente/assistencial, residência médica, pós-graduação stricto sensu e outras tantas inovações, abriram caminhos e descortinaram perspectivas imprevisíveis a o crescimento das Escolas Médicas. O essencial é que elas se mantenham como instituições permanentemente abertas à crítica, capazes de reavaliar as inúmeras reformas realizadas, de medir seus resultados e de interagir com os órgãos do Sistema de Saúde, fertilizando-os com a presença motivadora do ensino.

Esta a imagem que nos parece refletir o esforço de, pelo menos, uma parcela significativa das Escolas de Medicina, em busca dos seus objetivos, consciente do relevante papel que devem desempenhar nessa quadra da vida nacional tão marcada por mudanças da mais variada natureza.

Nessa ordem de idéias, gostaríamos de enfocar a aplicação dos princípios pedagógicos ao ensino médico, apontada como importante marco da educação médica no século XX, em pé de igualdade com o marco científico e o marco social que tantos ingredientes novos acrescentaram à formação do médico, enriquecendo-a de humanismo a partir da incorporação das ciências sociais e reforçando-a de sólida base científica.

Compelida a reavaliar seu instrumental e introduzir novos elementos em sua estrutura, a Escola Médica teria, por força, de lançar mão dos imensos recursos da Pedagogia e é este, sem dúvida, o mais importante avanço que realiza nos dias atuais.

Enquanto os marcos científico e social representaram algo a ser acrescentado aos currículos isoladamente, sem maior envolvimento estrutural, o marco pedagógico caracteriza-se pela propriedade de envolver toda a instituição e conduzir o corpo docente a uma análise crítica do trabalho que realiza, enquanto toma contato com possibilidades de enriquecê-lo a partir da introdução de novos princípios e técnicas disponíveis.

O grupo de professores mais aberto às técnicas participativas, de posse de tais domínios, certament e dará início a um novo tipo de trabalho, mais criativo e próximo daquilo que se espera das Escolas voltadas para o futuro, isto é, que se tornem instituições aptas a promove rem o desenvolvimento máximo do potencial dos seus alunos.

Devemos levar em conta que os professores de medicina, por tradição, despontaram dentre os profissionais médicos de reconhecida competência e que demonstravam pendores para a atividade docente. Sua formação específica para o mister de ensinar não era valorizada, considerando-se, então, implícito ao conhecimento, a capacidade de transmiti-lo. Essa noção somente perdeu terreno de fato, em nosso meio, a partir da implantação da Pós-Graduação, com os cursos de Mestrado e Doutorado, com todas as suas conseqüências fecundas para a educação brasileira. A partir de então, passou-se a exigir duplo esforço do docente médico, solicitado de um lado pelos pacientes, que esperam dele apurados conhecimentos técnico-científicos e, de outro, requerido como professor, de quem se exige ampla bagagem de conceitos e conhecimentos, além de atitude criativa para tornar conseqüente a relação docente/aluno.

Defendemos, para as Escolas Médicas, a incorporação dos recursos propiciados pela Pedagogia através de organismos próprios e institucionalizados, capazes de mobilizar o corpo docente para o trabalho sistemático de repensar a Escola e imprimir-lhe nova dinâmica. Um ponto de partida acessível às Escolas Novas é o Programa de Preparo Pedagógico oferecido pela ABEM, cujos resultados imediatos foram comprovados através de inúmeros cursos e seminários realizados em várias Escolas, distribuídas por todo o território nacional.

Uma série de cursos, que obedecem a determinada seqüência, mostrou-se eficaz para dar início ao trabalho de reciclagem do corpo docente, na intimidade da Escola.

Através de técnicas participativas, os conteúdos abordados levam naturalmente ao debate conjunto dos problemas da própria Escola com a vantagem de envolver o grupo e comprometê­lo na solução das dificuldades que, em verdade, pertencem a todos, em diferentes graus de responsabilidade. O resultado final é, não somente, o comprometimento, mas sobretudo a coesão maior do grupo, e uma visão mais ampla dos problemas educacionais como tarefa - de regra, árdua tarefa.

Propomos a criação, em cada Escola, de um núcleo de pedagogia médica, se possível a partir da iniciativa dos professores, encarregados eles mesmos de elaborar seus estatutos e demais normas de funcionamento, destinado a promover cursos regulares de atualização pedagógica, manter intercâmbio com entidades similares e estimular o interesse do corpo docente para o estudo de temas pedagógicos em geral.

Os centros de excelência, que reúnem recursos muito mais amplos, já ultrapassaram em muito a etapa de que tratamos aqui. Dirigimos nossas observações às Escolas que, mesmo com recursos mais limitados, dispõem-se a avançar, utilizando-se, apenas, dos seus elementos mais válidos, porém decididos a romper com as práticas rotineiras e a dar início a uma etapa mais ativa e fecunda em sua história.

Pedro Carlos Teixeira da Silva
Diretor da Escola de Ciências Médicas de Volta Redonda

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 1982
Associação Brasileira de Educação Médica SCN - QD 02 - BL D - Torre A - Salas 1021 e 1023 | Asa Norte, Brasília | DF | CEP: 70712-903, Tel: (61) 3024-9978 / 3024-8013, Fax: +55 21 2260-6662 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: rbem.abem@gmail.com