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A EQUIPE INTERPROFISSIONAL NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

A dinâmica do trabalho de equipe na área da saúde tem sofrido modificações substanciais ultimamente no Brasil. A criação de cursos superiores, para formação de novos profissionais de saúde, veio ampliar os componentes da equipe. Até bem recentemente, a equipe ficava restrita ao médico e ao enfermeiro, ficando o odontólogo em outro polo bastante isolado. Atualmente, a equipe de saúde inclui, além do médico, do enfermeiro e do odontólogo, o nutricionista, o assistente social, o psicólogo, o fisioterapeuta, o terapeuta ocupacional, o fonoaudiólogo, o farmacêutico, além das profissões de nível médio (técnico de laboratório, de radiologia, de ECG, de EEG , de prótese e de órtese, ortoptista, auxiliar de enfermagem, técnico de fisioterapia etc.). Participam, ainda, em trabalho estreitamente relacionado à equipe de saúde, o pedagogo, o arquiteto, o engenheiro sanitário, o sociólogo, o administrador, o economista, o profissional de educação física, o veterinário, e mesmo o advogado. Deste modo, o conceito de assistência médica deve ser ampliado para atenção à saúde.

Com a progressiva democratização de nossa sociedade, com a afirmação cada vez maior da identidade de cada profissão, e com a consolidação dos respectivos cursos, tem ocorrido uma mudança no sistema de poder dentro da equipe, com tendência a um saudável equilíbrio de forças dos profissionais, permitindo um diálogo aberto e franco, e uma discussão mais aprofundada dos problemas de saúde em seus múltiplos aspectos. O objetivo é que a atividade da equipe seja desenvolvida de modo integrado, sem dominação, com respeito de um profissional pelo trabalho do outro, de modo que as decisões surjam do consenso do grupo.

Estas transformações ocorrem mais nitidamente no hospital de ensino, especialmente no Hospital Universitário, não só porque as Universidades abrigam os cursos da área de saúde que utilizam o Hospital como campo de treinamento, como porque a Universidade tem sido o fórum tradicional do debate de temas polêmicos como este. Nas Universidades que criaram os Centros de Ciências da Saúde, substituindo as Faculdades isoladas, o trabalho de equipe surge como uma prática mais efetiva, embora ainda com muitos problemas.

As resistências ao trabalho de equipe ainda existem, embora cada vez mais atenuadas, evidentemente vinculadas à perda dos espaços profissionais e institucionais, fenômeno que vem ocorrendo de modo mais significativo com o médico. Numa abordagem mais aberta do problema, deve ocorrer uma democratização das decisões nos problemas de saúde, não havendo risco nenhum do médico ver diminuída sua importância, porque suas atividades específicas não podem ser executadas por nenhum outro profissional.

A competência técnica de cada profissional da saúde não pode ser confundida com outras competências ligadas à lide rança, habilidade política e administração. Qualquer um dos profissionais, independentemente de sua importância na equipe, pode ou não ter competência nessas outras áreas, sendo que a escolha de quem vai exercer estas funções deve ser feita de acordo com a competência específica na área, e não pelo status de sua profissão básica.

No Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais está em desenvolvimento uma experiência de funcionamento deste trabalho de equipe, com avanços significativos, mas ainda com obstáculos importantes. O Regulamento do Hospital prevê a formação da Comissão Interprofissional, que deve coordenar as atividades comuns a todos os profissionais de saúde; esta Comissão é desdobrada em Sub-Comissões de cada categoria profissional, destinadas a elaborar normas relativas aos aspectos éticos e técnicos do exercício da respectiva profissão. Cada setor do Hospital possui sua equipe interprofissional própria que, além da atividade usual, realiza reuniões periódicas para solucionar os problemas relativos aos pacientes, assim como para contornar suas dificuldades de relacionamento e do trabalho comum. Os Conselhos do Hospital, assim como as Comissões transitórias, possuem representantes dos cursos da saúde da Universidade. que atuam no Hospital. Há ainda o projeto de criar uma revista do Hospital, que deverá englobar a produção científica de toda a equipe.

O trabalho de equipe, executado de modo integrado e sem dominação, trará muito maior motivação e satisfação pessoal para cada profissional, proporcionará um ambiente de trabalho mais favorável, e resultará em benefício para o paciente, que é o objetivo final das ações de saúde.

Cid Veloso
Vice-Presidente, ABEM Diretor, Hospital das Clínicas, UFMG

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Jul 2021
  • Data do Fascículo
    May-Aug 1985
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