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EDITORIAL

EDITORIAL

José da Rocha Carvalheiro

Este número da Revista Brasileira de Epidemiologia pode vir a se tornar um marco na sua história. É o primeiro editado após ter sido incluída na Plataforma SciELO. Este fato faz com que os trabalhos aqui publicados tenham maior divulgação, ao menos no continente americano, em particular na América Latina.

A razão principal pela qual fomos contemplados com essa inclusão no SciELO está muito viva neste número. Os artigos publicados consolidam o que vem ocorrendo neste ano, desde que nos colocamos "em dia" e passamos a publicar os números no mesmo mês de face. São artigos originais que passaram pelo convencional peer review conduzido por um Editor Associado. Como já vem sendo exaustivamente assinalado pelos editores, a RBE vai adquirindo sua feição: nenhum dos trabalhos é de autoria individual, a média de autores é de 3,2; há grande variedade temática, de origem geográfica e vínculos institucionais.

Um trabalho sobre mortalidade por doença hipertensiva em mulheres no Município de São Paulo, traz uma novidade auspiciosa: o primeiro autor é um aluno de Iniciação científica e seus co-autores são verdadeiros ícones dos estudos de mortalidade no país, todos da Faculdade de saúde Pública da USP. Contribuição para a conquista de "ganho da informação" sobre mortalidade através da elaboração de uma "nova Declaração de Óbito" com metodologia própria.

Da Universidade Federal da Bahia, numa associação da Educação Física com Saúde coletiva, nos vem uma proposta de emprego de um "índice de conicidade" para discriminar risco coronariano. Analisam sensibilidade e especificidade desse índice num desenho transversal, por amostragem, caracterizando a busca do melhor ponto de corte.

De Minas Gerais, numa associação da Universidade Federal de Juiz de Fora com a UFMG, um trabalho preocupa-se com a desnutrição infantil e os fatores do ambiente, em áreas de invasão. Um estudo também transversal por amostragem e entrevistas familiares.

Um estudo em prontuários de um serviço de emergência de Recife, Pernambuco, analisa os resultados da municipalização da saúde no "perfil epidemiológico" da demanda. Os autores são da Secretaria de Estado da Saúde e do um Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, associado à FIOCRUZ.

A descentralização, neste caso das ações de vigilância sanitária, também é objeto de um trabalho realizado em municípios com gestão plena do Sistema de Saúde, no Rio de Janeiro. As autoras pertencem à Secretaria de Estado da Saúde e, através de método qualitativo que associa um questionário à observação participante, detectam "profundas dificuldades" no exercício dessas ações descentralizadas.

Os quatro trabalhos restantes são todos sobre doenças transmissíveis.

Dois deles estão inseridos na Série sobre Endemias e Epidemias, que iniciamos no número 5(2) da RBE. Um relaciona-se com Leishmaniose Tegumentar, numa associação entre o Centro de Medicina Tropical, da Secretaria de Estado da Saúde de Rondônia, e o Instituto de Ciências Biomédicas da USP. O outro, do Centro de Pesquisas René Rachou, da FIOCRUZ em Belo Horizonte, e da UFMG, trata da Leishmaniose Visceral.

Um terceiro, analisa "perfil epidemiológico" da demanda de um Centro de Testagem e Aconselhamento para DST/ HIV, da Cidade de São Paulo. Os autores são, em maioria, da Secretaria Municipal de Saúde; um é da Medicina Social da Santa Casa de Misericórdia;outro, da Faculdade de Saúde Pública, USP.

Finalmente, um trabalho proveniente de Rosário, Argentina, com autores do Sistema Municipal de Epidemiologia, da Secretaria de Saúde Pública, discute estratégias de prevenção de dengue. Não é demais lembrar a tradição de produzir cientificamente desta Secretaria, que entre outras múltiplas atividades nesse esforço, realiza Congressos Científicos periódicos.

Numa Seção de Opinião, que cada vez mais pretendemos permanente , damos a palavra a um "médico general" espanhol, Juan Gérvas. A leitura de seu texto é auto-explicativa da razão pela qual preferimos manter sua identificação em espanhol. Exerce a medicina numa localidade próxima de Madrid (Canencia de la Serra), faz parte de um grupo que trabalha em atenção primária, com interesse em ensino e pesquisa na Espanha (CESCA). Também é Professor Visitante da Escola de Saúde Pública de Johns Hopkins (Baltimore). O texto publicado é a sua contribuição num Seminário Internacional sobre Cuidados Básicos em Saúde, realizado em Brasília, em dezembro de 2003, organizado pela OMS e pela UNICEF para celebrar os 25 anos da Declaração de Alma Ata. Nessa reunião falaram autoridades do porte de Halfdam Mahler, Diretor Geral da OMS em 1978, o principal responsável pela realização da Reunião de Alma Ata, o atual diretor Lee Jong-wook e a Diretora da OPAS, Mirta Roses, além do Ministro Humberto Costa. Chamaram a atenção a fala da representante africana e, especialmente, a deste médico europeu que contextualiza a atualidade dos cuidados primários de saúde no continente europeu. Refere a evidência obtida por "estudo epidemiológico com desenho ecológico" ao associar melhores condições de saúde à presença de uma Atenção Primária em Saúde "forte". Ao comentar "prevenção quaternária", faz uma sagaz comparação com o método epidemiológico: propõe combinar de forma construtiva o valor preditivo negativo da ação do generalista com o valor preditivo positivo daquela do especialista. Essa contribuição, que oferecemos a nossos leitores, nos induz a afirmar que teríamos muito a ganhar estabelecendo laços mais estreitos com este grupo espanhol. Quando menos, para aprender o que estão chamando de APS "forte" e seu conceito de "quaternária".

Boa leitura.

O Editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jun 2007
  • Data do Fascículo
    Set 2004
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