Resumos
Objetivo:
Avaliar se a aplicação de dois níveis de pressão positiva nas vias aéreas no pós-operatório de cirurgia bariátrica pode ser mais efetiva do que quando aplicadas pressões positivas expiratória e inspiratória separadamente na restauração dos volumes e capacidades pulmonares e na mobilidade torácica.
Método:
Foram avaliadas 60 voluntárias adultas, obesas mórbidas, internadas para realização da cirurgia bariátrica. Afunção pulmonar e a mobilidade torácica foram avaliadas por meio da espirometria e da cirtometria no pré-operatório e reavaliadas no primeiro pós-operatório. Após a avaliação pré-operatória, as voluntárias foram randomizadas e alocadas nos grupos G EPAP (n=20), G RPPI (n=20) e G BIPAP (n=20) e então receberam a intervenção proposta, pressão positiva expiratória nas vias aéreas (EPAP), respiração por pressão positiva inspiratória (RPPI) ou pressão positiva binível nas vias aéreas (BIPAP), em sessões de seis séries de 15 respirações ou de 30 minutos, duas vezes ao dia no pós-operatório imediato e no primeiro pós-operatório, além do tratamento fisioterapêutico convencional.
Resultados:
Houve redução significativa das variáveis espirométricas no pós-operatório (p<0,05), independente do recurso utilizado, não havendo diferença significativa entre as técnicas (p>0,05), e preservação da mobilidade torácica somente nas voluntárias do grupo BIPAP (p>0,05), porém sem diferença nas comparações entre os grupos (p>0,05).
Conclusão:
A aplicação de pressão positiva parece não ser efetiva na restauração da função pulmonar no pós-operatório de cirurgia bariátrica, porém a aplicação de dois níveis de pressão positiva pode preservar a mobilidade torácica, embora não tenha demonstrado superioridade em relação às outras técnicas.
cirurgia bariátrica; fisioterapia; espirometria
Objective:
To evaluate whether the application of bilevel positive airway pressure in the postoperative period of bariatric surgery might be more effective in restoring lung volume and capacity and thoracic mobility than the separate application of expiratory and inspiratory positive pressure.
Method:
Sixty morbidly obese adult subjects who were hospitalized for bariatric surgery and met the predefined inclusion criteria were evaluated. The pulmonary function and thoracic mobility were preoperatively assessed by spirometry and cirtometry and reevaluated on the 1st postoperative day. After preoperative evaluation, the subjects were randomized and allocated into groups: EPAP Group (n=20), IPPB Group (n=20) and BIPAP Group (n=20), then received the corresponding intervention: positive expiratory pressure (EPAP), inspiratory positive pressure breathing (IPPB) or bilevel inspiratory positive airway pressure (BIPAP), in 6 sets of 15 breaths or 30 minutes twice a day in the immediate postoperative period and on the 1st postoperative day, in addition to conventional physical therapy.
Results:
There was a significant postoperative reduction in spirometric variables (p<0.05), regardless of the technique used, with no significant difference among the techniques (p>0.05). Thoracic mobility was preserved only in group BIPAP (p>0.05), but no significant difference was found in the comparison among groups (p>0.05).
Conclusion:
The application of positive pressure does not seem to be effective in restoring lung function after bariatric surgery, but the use of bilevel positive pressure can preserve thoracic mobility, although this technique was not superior to the other techniques.
bariatric surgery; physical therapy specialty; spirometry
Introdução
Em indivíduos obesos, a combinação de fatores, como menor complacência dos pulmões e
da parede torácica, maior resistência elástica pulmonar e distensão exagerada do
diafragma, pode influenciar o sistema respiratório, resultando em diminuição de
volumes e capacidades pulmonares. Essa condição é especialmente importante se
considerarmos que as alterações respiratórias causadas pela cirurgia abdominal podem
ser mais acentuadas em pacientes obesos11. Luce JM. Respiratory complications of obesity. Chest.
1980;78(4):626-31. http://dx.doi.org/10.1378/chest.78.4.626. PMid:6998667.
https://doi.org/10.1378/chest.78.4.626...
,
22. Koenig SM. Pulmonary complications of obesity. Am J Med Sci.
2001;321(4):249-79. http://dx.doi.org/10.1097/00000441-200104000-00006.
PMid:11307867.
https://doi.org/10.1097/00000441-2001040...
.
Acirurgia bariátrica pode causar comprometimento da função pulmonar no
pós-operatório, expresso pela redução dos volumes pulmonares e da mobilidade
diafragmática e toracoabdominal33. Barbalho-Moulim MC, Miguel GPS, Forti EMP, Costa D. Comparação entre
inspirometria de incentivo e pressão positiva expiratória na função pulmonar após
cirurgia bariátrica. Fisioter Pesqui. 2009;16(2):166-72. http://dx.doi.
org/10.1590/S1809-29502009000200013.
https://doi.org/10.1590/S1809-2950200900...
. A alteração
da mecânica pulmonar gera um padrão restritivo com redução da capacidade vital (CV) e
da capacidade residual funcional (CRF). A CV e a capacidade vital forçada (CVF) estão
geralmente reduzidas no pósoperatório aproximadamente de 40 a 50% dos valores
pré-operatórios, e isso persiste por, no mínimo, dez a 14 dias44. Ferreira FR, Moreira FB, Parreira VF. Ventilação não invasiva no
pós-operatório de cirurgias abdominais e cardíacas -revisão da literatura. Rev Bras
Fisioter. 2002;6(2):47-54. . A utilização de anestésicos, bloqueadores musculares e
analgésicos55. Ramos GC, Pereira E, Gabriel-Neto S, Oliveira EC. Aspectos históricos
da pressão arterial de oxigênio e espirometria relacionados à operação abdominal. Arq
Bras Cir Dig. 2009;22(1):50-6.
6. Lorentz MN, Albergaria VF, Lima FAZ. Anestesia para obesidade
mórbida. Rev Bras Anestesiol. 2007;57(2):199-213.
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-70942007000200010. PMid:19466355
https://doi.org/10.1590/S0034-7094200700...
-
77. Siafakas NM, Mitrouska I, Bouros D, Georgopoulos D. Surgery and the
respiratory muscles. Thorax. 1999;54(5):458-65.
http://dx.doi.org/10.1136/thx.54.5.458. PMid:10212115.
https://doi.org/10.1136/thx.54.5.458...
, o trauma cirúrgico, a perda da integridade
muscular abdominal88. Sanches GD, Gazoni FM, Konishi RK, Guimarães HP, Vendrame LS, Lopes
RD. Intensive care of postoperative patients in bariatric surgery. Rev Bras Ter
Intensiva. 2007;19(2):205-9. ,a manipulação das
vísceras, a consequente inibição reflexa do nervo frênico e a dor pós-operatória99. Vassilakopoulos T, Mastora Z, Katsaounou P, Doukas G, Klimopoulos S,
Roussos C, et al. Contribution of pain to inspiratory muscle dysfunction after upper
abdominal surgery: A randomized controlled trial. Am J Respir Crit Care Med.
2000;161(4 Pt 1):1372-5. http://dx.doi. org/10.1164/ajrccm.161.4.9907082.
PMid:10764336.
https://doi.org/10.1164/ajrccm.161.4.990...
, geram disfunção diafragmática55. Ramos GC, Pereira E, Gabriel-Neto S, Oliveira EC. Aspectos históricos
da pressão arterial de oxigênio e espirometria relacionados à operação abdominal. Arq
Bras Cir Dig. 2009;22(1):50-6.
,
77. Siafakas NM, Mitrouska I, Bouros D, Georgopoulos D. Surgery and the
respiratory muscles. Thorax. 1999;54(5):458-65.
http://dx.doi.org/10.1136/thx.54.5.458. PMid:10212115.
https://doi.org/10.1136/thx.54.5.458...
, que tem seu pico entre duas e oito horas
após a cirurgia1010. Romanini W, Muller AP, Carvalho KA, Olandoski M, Faria-Neto JR,
Mendes FL, et al. Os efeitos da pressão positiva intermitente e do incentivador
respiratório no pós-operatório de revascularização miocárdica. Arq Bras Cardiol.
2007;89(2):105-10. http://dx.doi.org/10.1590/ S0066-782X2007001400006. PMid:17874015.
https://doi.org/10.1590/S0066-782X200700...
, e desencadeia redução dos
volumes e capacidades pulmonares, alteração da relação ventilação/perfusão,
diminuição da expansibilidade toracoabdominal22. Koenig SM. Pulmonary complications of obesity. Am J Med Sci.
2001;321(4):249-79. http://dx.doi.org/10.1097/00000441-200104000-00006.
PMid:11307867.
https://doi.org/10.1097/00000441-2001040...
, ineficiência nos mecanismos de defesa das vias aéreas, como a tosse, e
depressão do sistema imunológico, fatores que aumentam o risco de desenvolvimento de
complicações respiratórias, como atelectasias1111. Duggan M, Kavanagh BP. Pulmonary atelectasis: a pathogenic
perioperative entity. Anesthesiology. 2005;102(4):838-54.
http://dx.doi.org/10.1097/00000542200504000-00021. PMid:15791115.
https://doi.org/10.1097/0000054220050400...
,
1212. van Kaam AH, Lachmann RA, Herting E, De Jaegere A, van Iwaarden F,
Noorduyn LA, et al. Reducing atelectasis attenuates bacterial growth and
translocation in experimental pneumonia. Am J Respir Crit Care Med.
2004;169(9):1046-53. http://dx.doi.org/10.1164/ rccm.200312-1779OC. PMid:14977624.
https://doi.org/10.1164/rccm.200312-1779...
, hipoxemia grave, embolia pulmonar,
pneumonia por aspiração e insuficiência respiratória aguda22. Koenig SM. Pulmonary complications of obesity. Am J Med Sci.
2001;321(4):249-79. http://dx.doi.org/10.1097/00000441-200104000-00006.
PMid:11307867.
https://doi.org/10.1097/00000441-2001040...
,
77. Siafakas NM, Mitrouska I, Bouros D, Georgopoulos D. Surgery and the
respiratory muscles. Thorax. 1999;54(5):458-65.
http://dx.doi.org/10.1136/thx.54.5.458. PMid:10212115.
https://doi.org/10.1136/thx.54.5.458...
,
1111. Duggan M, Kavanagh BP. Pulmonary atelectasis: a pathogenic
perioperative entity. Anesthesiology. 2005;102(4):838-54.
http://dx.doi.org/10.1097/00000542200504000-00021. PMid:15791115.
https://doi.org/10.1097/0000054220050400...
,
1212. van Kaam AH, Lachmann RA, Herting E, De Jaegere A, van Iwaarden F,
Noorduyn LA, et al. Reducing atelectasis attenuates bacterial growth and
translocation in experimental pneumonia. Am J Respir Crit Care Med.
2004;169(9):1046-53. http://dx.doi.org/10.1164/ rccm.200312-1779OC. PMid:14977624.
https://doi.org/10.1164/rccm.200312-1779...
,.
Pelos motivos citados, algumas evidências sugerem que o acompanhamento
fisioterapêutico pré e pós-operatório de pacientes submetidos a essa modalidade
cirúrgica é de fundamental importância na prevenção das complicações inerentes ao
processo cirúrgico e na recuperação da função pulmonar1313. Tenório LH, de Lima AM, Brasileiro-Santos MS. Intervenção da
fisioterapia respiratória na função pulmonar de indivíduos obesos submetidos a
cirurgia bariátrica. Uma revisão. Rev Port Pneumol. 2010;16(2):307-14. PMid:20437006. , enquanto outras sugerem que a utilização da fisioterapia respiratória
na rotina pós-operatória não se justifica, uma vez que poucos ensaios clínicos
mostram sua eficácia em caráter profilático1414. Pasquina P, Tramèr MR, Granier JM, Walder B. Respiratory
physiotherapy to prevent pulmonary complications after abdominal surgery: a
systematic review. Chest. 2006;130(6):1887-99. http://dx.doi.org/10.1378/
chest.130.6.1887. PMid:17167013.
https://doi.org/10.1378/chest.130.6.1887...
.
Em 2012, Hanekom et al.15 15. Hanekom SD, Brooks D, Denehy L, Fagevik-Olsén M, Hardcastle TC,
Manie S, et al. Reaching consensus on the physiotherapeutic management of patients
following upper abdominal surgery: a pragmatic approach to interpret equivocal
evidence. BMC Med Inform Decis Mak. 2012;12(1):5.
http://dx.doi.org/10.1186/1472-6947-12-5. PMid:22309427.
https://doi.org/10.1186/1472-6947-12-5...
concluíram que,
devido à má qualidade das pesquisas elaboradas, a incerteza sobre o valor da
fisioterapia realizada rotineiramente na prevenção de complicações pulmonares após
cirurgia abdominal ainda permanece. Assim, são necessários estudos bem elaborados
sobre o assunto que possam contribuir para se estabelecerem procedimentos
fisioterapêuticos de maior eficácia a serem realizados no pós-operatório de cirurgia
abdominal1616. Weindler J, Kiefer RT. The efficacy of postoperative incentive
spirometry is influenced by the device-specific imposed work of breathing. Chest.
2001;119(6):1858-64. http://dx.doi.org/10.1378/chest.119.6.1858. PMid:11399715.
https://doi.org/10.1378/chest.119.6.1858...
,
1717. Dias CM, Plácido TR, Ferreira MFB, Guimarães FS, Menezes SLS.
Incentive spirometry and breath stacking: effects on the inspiratory capacity of
individuals submitted to abdominal surgery. Rev Bras Fisioter. 2008;12(2):94-9.
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-35552008000200004.
https://doi.org/10.1590/S1413-3555200800...
.
Dentre os recursos da fisioterapia respiratória com o objetivo de preservar ou
melhorar a função pulmonar, promovendo incremento ou manutenção dos volumes e
capacidades pulmonares, estão os equipamentos com pressão positiva nas vias aéreas,
que podem ser utilizados em pós-operatórios toracoabdominais como método de prevenção
ou tratamento da insuficiência respiratória hipoxêmica, na melhora da oxigenação
arterial, na redução de atelectasias e no decréscimo do trabalho ventilatório, sem
gerar aumento na incidência de fístulas ou deiscência da anastomose cirúrgica1818. Pessoa KC, Araújo GF, Pinheiro AN, Ramos MR, Maia SC. Noninvasive
ventilation in the immediate postoperative of gastrojejunal derivation with Roux-en-Y
gastric bypass. Rev Bras Fisioter. 2010;14(4):290-5. http://dx.doi.
org/10.1590/S1413-35552010005000023. PMid:20949229
https://doi.org/10.1590/S1413-3555201000...
19. Neligan PJ, Malhotra G, Fraser M, Williams N, Greenblatt EP, Cereda
M, et al. Continuous positive airway pressure via the Boussignac system immediately
after extubation improves lung function in morbidly obese patients with obstructive
sleep apnea undergoing laparoscopic bariatric surgery. Anesthesiology.
2009;110(4):878-84. http://dx.doi. org/10.1097/ALN.0b013e31819b5d8c. PMid:19293693
https://doi.org/10.1097/ALN.0b013e31819b...
20. Conti G, Cavaliere F, Costa R, Craba A, Catarci S, Festa V, et al.
Noninvasive positive-pressure ventilation with different interfaces in patients with
respiratory failure after abdominal surgery: a matched-control study. Respir Care.
2007;52(11):1463-71. PMid:17971249.
-
2121. Müller AP. Reanimador de Müller como recurso fisioterapêutico.
Fisioter Mov. 1999;XIII(1):9-16. .
A utilização de pressão positiva nas vias aéreas tem se mostrado efetiva na
restauração da CRF, além de promover a modificação de outros volumes e capacidades
pulmonares, como volume de reserva inspiratório (VRI), volume de reserva expiratório
(VRE) e CVF, entretanto ainda há controvérsias em relação à manutenção produzida pela
pressão positiva nas vias aéreas44. Ferreira FR, Moreira FB, Parreira VF. Ventilação não invasiva no
pós-operatório de cirurgias abdominais e cardíacas -revisão da literatura. Rev Bras
Fisioter. 2002;6(2):47-54. . AEPAP
(Expiratory Positive Airway Pressure), a BIPAP(Bilevel
Positive Airway Pressure) e a respiração com pressão positiva
intermitente (RPPI) são recursos com pressão positiva nas vias aéreas que visam à
reexpansão pulmonar, evitando o colapso precoce das vias aéreas e prevenindo assim as
atelectasias pulmonares, podendo contribuir para a redução das complicações
pós-operatórias da síndrome pulmonar restritiva associada à obesidade2222. Fagevik Olsén M, Hahn I, Nordgren S, Lönroth H, Lundholm K.
Randomized controlled trial of prophylactic chest physiotherapy in major abdominal
surgery. Br J Surg. 1997;84(11):1535-8. http://dx.doi.org/10.1002/ bjs.1800841111.
PMid:9393272.
https://doi.org/10.1002/bjs.1800841111...
23. Joris JL, Sottiaux TM, Chiche JD, Desaive CJ, Lamy ML. Effect of
bi-level positive airway pressure (BiPAP) nasal ventilation on the postoperative
pulmonary restrictive syndrome in obese patients undergoing gastroplasty. Chest.
1997;111(3):665-70. http://dx.doi.org/10.1378/ chest.111.3.665. PMid:9118706.
https://doi.org/10.1378/chest.111.3.665...
-
2424. Nava S, Ambrosino N, Rubini F, Fracchia C, Rampulla C, Torri G, et
al. Effect of nasal pressure support ventilation and external PEEP on diaphragmatic
activity in patients with severe stable COPD. Chest. 1993;103(1):143-50.
http://dx.doi.org/10.1378/chest.103.1.143. PMid:8417869
https://doi.org/10.1378/chest.103.1.143...
. A técnica de EPAP utiliza somente a
pressão positiva expiratória (PEEP -positive end-expiratory
pressure), gerando redução do fluxo expiratório2222. Fagevik Olsén M, Hahn I, Nordgren S, Lönroth H, Lundholm K.
Randomized controlled trial of prophylactic chest physiotherapy in major abdominal
surgery. Br J Surg. 1997;84(11):1535-8. http://dx.doi.org/10.1002/ bjs.1800841111.
PMid:9393272.
https://doi.org/10.1002/bjs.1800841111...
, já a BIPAP combina a PEEP com os benefícios da pressão de
suporte, sendo possível ajustá-las para manter o pulmão expandido durante todo o
ciclo respiratório, promovendo insuflação pulmonar2323. Joris JL, Sottiaux TM, Chiche JD, Desaive CJ, Lamy ML. Effect of
bi-level positive airway pressure (BiPAP) nasal ventilation on the postoperative
pulmonary restrictive syndrome in obese patients undergoing gastroplasty. Chest.
1997;111(3):665-70. http://dx.doi.org/10.1378/ chest.111.3.665. PMid:9118706.
https://doi.org/10.1378/chest.111.3.665...
,
2424. Nava S, Ambrosino N, Rubini F, Fracchia C, Rampulla C, Torri G, et
al. Effect of nasal pressure support ventilation and external PEEP on diaphragmatic
activity in patients with severe stable COPD. Chest. 1993;103(1):143-50.
http://dx.doi.org/10.1378/chest.103.1.143. PMid:8417869
https://doi.org/10.1378/chest.103.1.143...
, e a técnica de RPPI possibilita, além do
recrutamento alveolar, a sincronização do tempo inspiratório, buscando reduzir o
esforço respiratório e retomar a função pulmonar normal1010. Romanini W, Muller AP, Carvalho KA, Olandoski M, Faria-Neto JR,
Mendes FL, et al. Os efeitos da pressão positiva intermitente e do incentivador
respiratório no pós-operatório de revascularização miocárdica. Arq Bras Cardiol.
2007;89(2):105-10. http://dx.doi.org/10.1590/ S0066-782X2007001400006. PMid:17874015.
https://doi.org/10.1590/S0066-782X200700...
.
Considerando que a população obesa pode apresentar características pulmonares restritivas, que podem ser ainda mais acentuadas em pós-operatório abdominal, e que os recursos de pressão positiva nas vias aéreas podem ser capazes de restaurar a função pulmonar e a mobilidade torácica de forma diferenciada, a hipótese deste estudo é que a técnica de RPPI busca favorecer a capacidade inspiratória por promover pressão positiva nas vias aéreas somente na fase de inspiração. Já a pressão positiva expiratória gerada pela EPAP favorece principalmente a CRF na tentativa de promover a manutenção ou recuperação do VRE. A BIPAP, por sua vez, por ofertar pressão positiva nas duas fases do ciclo respiratório, tende a favorecer a capacidade vital (CV), englobando os benefícios das outras duas técnicas. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar se a aplicação de dois níveis de pressão positiva nas vias aéreas no pós-operatório de cirurgia bariátrica pode ser mais efetiva do que quando aplicadas pressões positivas expiratória e inspiratória separadamente na restauração dos volumes e capacidades pulmonares e na mobilidade torácica.
Método
Desenho experimental
Este ensaio clínico foi desenvolvido respeitando as normas de condutas em pesquisa experimental com seres humanos após ter sido aprovado pelo Comitêde Ética em Pesquisa da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), Piracicaba, SP, Brasil, sob o parecer nº 89/12, e registrado no Clinicaltrials.gov, sob o identificador NCT01872663.
O cálculo do tamanho da amostra foi realizado com base em estudo piloto, sendo considerada a média (0,13) e o desvio padrão (0,17) das diferenças dos valores do VRE obtidos entre o pré e o pósoperatório a partir do teste ANOVA, no aplicativo BioEstat 5.3, adotando-se um poder estatístico de 90% e um alfa de 0,05. Dessa forma, foi determinado o número de 17 voluntários por grupo.
Participantes
Foram avaliadas 68 mulheres adultas, obesas mórbidas, internadas em um hospital da
cidade de Piracicaba, SP, Brasil para realização da cirurgia bariátrica eletiva,
com prescrição de fisioterapia respiratória pelo médico responsável, as quais
preencheram os critérios de inclusão: índice de massa corpórea (IMC) entre 40 e 55
kg/m22. Koenig SM. Pulmonary complications of obesity. Am J Med Sci.
2001;321(4):249-79. http://dx.doi.org/10.1097/00000441-200104000-00006.
PMid:11307867.
https://doi.org/10.1097/00000441-2001040...
, idade entre 25 e 55 anos,
candidatas à cirurgia bariátrica do tipo derivação gástrica em Y de Roux
por laparotomia, não tabagistas, com exame radiológico de tórax e prova
de função pulmonar pré-operatórios dentro dos parâmetros de normalidade e que
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Foram excluídas as
voluntárias com presença de asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e
síndrome da apneia obstrutiva do sono (AOS), as que apresentaram instabilidade
hemodinâmica, permanência hospitalar maior que três dias, presença de complicações
pós-operatórias e incapacidade de compreensão ou recusa para a realização das
avaliações ou do tratamento proposto.
Procedimentos
A função pulmonar e a mobilidade torácica das voluntárias foram avaliadas no pré-operatório, logo após a admissão hospitalar, e reavaliadas no primeiro pós-operatório, após a finalização das sessões de fisioterapia. O pesquisador que realizou as avaliações foi cego em relação ao tratamento das voluntárias, e o pesquisador que realizou os tratamentos, cego em relação às avaliações. Durante a avaliação préoperatória, foi registrada a presença de comorbidades, como hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes mellitus e dislipidemias.
Após a avaliação pré-operatória, as 68 voluntárias foram alocadas em três grupos a partir de um processo de randomização em bloco no programa Microsoft Excel 2007(r), realizado por um pesquisador cego em relação aos dados clínicos e à avaliação das voluntárias. Foram os grupos: G EPAP (Expiratory Positive Airway Pressure), G RPPI (Respiração com Pressão Positiva Intermitente) e G BIPAP (Bilevel Positive Airway Pressure). Durante a aplicação das intervenções, oito voluntárias foram excluídas, totalizando, ao final, 60 voluntárias, compondo três grupos com 20 cada (Figura 1).
Fluxograma da casuística do estudo. EPAP: Expiratory Positive Airway Pressure; RPPI: Respiração com Pressão Positiva Intermitente; BIPAP: Bilevel Positive Airway Pressure.
Todas as voluntárias receberam a intervenção proposta duas vezes ao dia no
pós-operatório imediato e no primeiro pós-operatório (1º PO) e, associada à
terapia com pressão positiva nas vias aéreas, todas as voluntárias receberam o
tratamento fisioterapêutico convencional, também realizado duas vezes ao dia no
pós-operatório, e composto por exercícios de inspirações diafragmáticas,
inspirações profundas, inspirações fracionadas, exercícios respiratórios
associados à movimentação de membros superiores25
25. Costa D, Forti EMP, Barbalho-Moulim MC, Rasera-Junior I. Study on
pulmonary volumes and thoracoabdominal mobility in morbidly obese women undergoing
bariatric surgery, treated with two different physical therapy methods. Rev Bras
Fisioter. 2009;13(4):294-301. http:// dx.doi.org/10.1590/S1413-35552009005000041.
https://doi.org/10.1590/S1413-3555200900...
e incentivador respiratório, sendo realizada uma série de 15 repetições
para cada um deles, com duração média de 20 a 30 minutos, além de exercícios para
prevenção de trombose venosa profunda e deambulação.
A função pulmonar foi avaliada pela espirometria das voluntárias, realizada
utilizando-se um espirômetro ultrassônico computadorizado da marca MicroQuark,
modelo USB (Cosmed(r), Roma, Itália). Foi realizada a manobra de
capacidade vital lenta (CVL) de acordo com as normas da American Thoracic
Society (ATS) e European Respiratory Sociaty
(ERS)2626. Miller MR, Hankinson J, Brusasco V, Burgos F, Casaburi R, Coates A,
et al. Standardisation of spirometry. Eur Respir J. 2005;26(2):319-38.
http://dx.doi.org/10.1183/09031936. 05.00034805. PMid:16055882.
https://doi.org/10.1183/09031936.05.0003...
, sendo repetida até se
obterem três curvas aceitáveis e duas reprodutíveis, não excedendo mais do que
oito tentativas. Para calcular os valores preditos, foi utilizada a equação
proposta por Pereira et al.27 27. Pereira CAC, Barreto SP, Simões JG, Pereira FWL, Gerstler JG,
Nakatani J. Valores de referência para espirometria em uma amostra da população
brasileira adulta. J Pneumol. 1992;18:10-22. para a
população brasileira, e os valores de CVL, VRE, VRI e volume corrente (VC) foram
selecionados de acordo com as recomendações de Pereira2828. Pereira CAC. Directives for pulmonary function tests. J Pneumol.
2002;28(3):1-82. , os valores de CI foram calculados a partir da soma do VRI
e do VC.
A avaliação da mobilidade torácica foi realizada por meio da cirtometria nos
níveis axilar e xifoideano sempre pelo mesmo avaliador, com a utilização de uma
fita métrica escalonada em centímetros, medindo-se as circunferências após uma
inspiração máxima e após uma expiração máxima, estando as voluntárias em posição
ortostática. Foram repetidas três medidas para cada nível e computado o maior
valor obtido na inspiração e o menor na expiração. A diferença absoluta entre
esses valores foi considerada a mobilidade torácica para cada nível2525. Costa D, Forti EMP, Barbalho-Moulim MC, Rasera-Junior I. Study on
pulmonary volumes and thoracoabdominal mobility in morbidly obese women undergoing
bariatric surgery, treated with two different physical therapy methods. Rev Bras
Fisioter. 2009;13(4):294-301. http:// dx.doi.org/10.1590/S1413-35552009005000041.
https://doi.org/10.1590/S1413-3555200900...
,
2929. Jamami M, Pires VA, Oishi J, Costa D. Efeitos da intervenção
fisioterápica na reabilitação pulmonar de pacientes com doença pulmonar obstrutiva
crônica (DPOC). Rev Fisioter Univ São Paulo. 1999;6(2):140-53. .
De forma a minimizar a interferência da dor nas avaliações pós-operatórias, antes
de iniciá-las, as voluntárias classificaram o nível da dor por meio de uma Escala
Visual Analógica (EVA)3030. Scott J, Huskisson EC. Graphic representation of pain. Pain.
1976;2(2):175-84. http://dx.doi.org/10.1016/03043959(76)90113-5. PMid:1026900.
https://doi.org/10.1016/03043959(76)9011...
,
3131. Downie WW, Leatham PA, Rhind VM, Wright V, Branco JA, Anderson JA.
Studies with pain rating scales. Ann Rheum Dis. 1978;37(4):378-81.
http://dx.doi.org/10.1136/ ard.37.4.378. PMid:686873.
https://doi.org/10.1136/ard.37.4.378...
. Quando a dor foi classificada acima de
4, foi solicitada à equipe de enfermagem a administração de analgesia com
dipirona, conforme prescrição médica, e então classificada novamente após 30
minutos, antes do início da reavaliação.
Aaplicação da EPAP foi realizada com a utilização de uma máscara facial
siliconizada com válvula unidirecional (Respironics, Seal Flex
Multi-Strap, Irlanda, EUA) e válvula de PEEP do tipo
spring-loaded (Vital Signs Inc, Totoma/NJ,
EUA) ajustada em 10 cmH2O33. Barbalho-Moulim MC, Miguel GPS, Forti EMP, Costa D. Comparação entre
inspirometria de incentivo e pressão positiva expiratória na função pulmonar após
cirurgia bariátrica. Fisioter Pesqui. 2009;16(2):166-72. http://dx.doi.
org/10.1590/S1809-29502009000200013.
https://doi.org/10.1590/S1809-2950200900...
, que
foi posicionada e fixada pelas mãos do terapeuta na face da voluntária a fim de
evitar fuga aérea. As voluntárias foram orientadas a realizar seis séries de 15
respirações, com inspiração nasal de média amplitude e expiração contra a
resistência imposta pela válvula de PEEP3232. Borghi-Silva A, Mendes RG, Costa FS, Di Lorenzo VAP, Oliveira CR,
Luzzi S. The influences of positive end expiratory pressure (PEEP) associated with
physiotherapy intervention in phase I cardiac rehabilitation. Clinics (Sao Paulo).
2005;60(6):465-72. http://dx.doi.org/10.1590/S180759322005000600007. PMid:16358136.
https://doi.org/10.1590/S180759322005000...
,
priorizando a respiração diafragmática, sendo realizado um descanso de 1 a 2
minutos entre cada série, com duração da sessão de aproximadamente 20 minutos.
A aplicação da RPPI foi realizada por meio do equipamento Reanimador de Müller
(Engesp(r), Curitiba, Paraná, Brasil), utilizando uma pressão
endotraqueal de 20 a 30 cmH2O, referente a 2 a 3 kgf/cm² na válvula
reguladora de pressão de oxigênio e, no micronebulizador, foi utilizado soro
fisiológico como diluente2121. Müller AP. Reanimador de Müller como recurso fisioterapêutico.
Fisioter Mov. 1999;XIII(1):9-16.
,
3333. Müller AP, Olandoski M, Macedo R, Costantini C, Guarita-Souza LC.
Estudo comparativo entre a pressão positiva intermitente (Reanimador de Müller) e
contínua no pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio. Arq Bras
Cardiol. 2006;86(3):232-9. http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2006000300012.
PMid:16612452.
https://doi.org/10.1590/S0066-782X200600...
. As voluntárias foram orientadas a
realizar a inspiração no bocal do equipamento ao comando do terapeuta,
simultaneamente ao disparo do equipamento, e a sustentar a inspiração por 1 a 2
segundos, e então expirar livremente. Foram realizadas seis séries de 15 ciclos
respiratórios em cada sessão, com descanso de 1 a 2 minutos entre cada série,
totalizando aproximadamente 30 minutos de duração para cada sessão.
A aplicação de BIPAP de forma não invasiva foi realizada com a utilização do
equipamento VPAPTM III ST-A (Resmed(r), San Diego/CA, EUA)
conectado a uma máscara facial simples, com borda inflável por uma traqueia
corrugada e acoplada à face do paciente por fixador de borracha. A EPAP foi fixada
em 8 cmH2O, e a pressão positiva inspiratória (IPAP) foi ajustada
inicialmente em 12 cmH2O34 34. The Acute Respiratory Distress Syndrome Network. Ventilation with
lower tidal volumes as compared with traditional tidal volumes for acute lung injury
and the acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med. 2000;342(18):1301-8.
http://dx.doi.org/10.1056/ NEJM200005043421801. PMid:10793162.
https://doi.org/10.1056/NEJM200005043421...
e
reajustada a fim de se manter uma frequência respiratória entre 12 e 20
respirações por minuto e um VC em torno de 8 a 10ml/kg de peso ideal, calculado
pela fórmula 45,5 + 0,91 (estatura - 152,4)3535. Smith MCL, Ellis ER. Is retained mucus a risk factor for the
development of postoperative atelectasis and pneumonia? -Implications for the
physiotherapist. Physiother Theory Pract. 2000;16(2):69-80. http://dx.doi.
org/10.1080/095939800407268.
https://doi.org/10.1080/095939800407268...
. Durante o período de aplicação de 30 minutos, as voluntárias foram
orientadas a realizar a inspiração nasal e a expiração oral.
Durante todo o tempo de aplicação dos recursos, as voluntárias permaneceram na posição Fowler 45º, e o pesquisador permaneceu ao lado delas, acompanhando-as e monitorizando os sinais vitais e o conforto respiratório.
Análise estatística
A análise estatística dos dados foi realizada com a utilização do software "R", versão 3.0.1, e a normalidade de distribuição dos dados foi verificada pelo teste de Shapiro-Wilk.
Para as análises intragrupos das variáveis espirométricas e de mobilidade torácica no pré e pós-operatório, foi realizado o teste t de Student para amostras pareadas ou teste de Wilcoxon.
Para a comparação intergrupos, foram utilizados os valores das diferenças entre o pré e o pósoperatório e analisados pelos testes de ANOVA ou Kruskall-Wallis.
Um nível de significância de 5% foi adotado para todas as análises.
Resultados
Na Tabela 1 estão apresentados os resultados da idade, características antropométricas e comorbidades das voluntárias do estudo alocadas nos grupos de acordo com o tratamento proposto.
Pode-se constatar que não houve diferença entre os grupos para as variáveis idade, massa corporal, estatura, IMC, presença de HAS e presença de diabetes mellitus.
Na Tabela 2, estão apresentadas as variáveis espirométricas da manobra de CVL de cada grupo nas avaliações antes e após a cirurgia, em valores absolutos e em porcentagens do previsto para a CVL e o VRE. Pode-se notar que houve redução significativa de todas as variáveis no pós-operatório em relação ao pré. Estão apresentadas também as reduções entre os valores pré e pós-operatórios em porcentagem e, quando comparadas entre si, não apresentaram diferenças significativas.
A Tabela 3 apresenta os valores das medidas de mobilidade torácica nos níveis axilar e xifoideano dos grupos nos momentos pré e pós-cirúrgicos. Na análise intragrupos, foi possível observar que houve uma redução significativa das mobilidades axilar e xifoideana para os grupos EPAP e RPPI no pósoperatório; já, para o G BIPAP, não foram encontradas diferenças significativas. Quando comparadas as diferenças dos valores pré e pós-operatórios de mobilidade torácica, não houve diferença para os dois níveis avaliados, independente do tratamento recebido.
Discussão
Os principais resultados deste estudo revelaram redução significativa das variáveis espirométricas no pós-operatório, independente do recurso utilizado, e preservação da mobilidade torácica somente nas voluntárias do grupo BIPAP.
O declínio da função pulmonar após procedimentos cirúrgicos é justificado por fatores
inerentes ao próprio procedimento, como a utilização de anestésicos e analgésicos, a
perda da integridade da musculatura abdominal e a consequente diminuição da força de
contração muscular e disfunção diafragmática e também por aspectos que interferem na
realização pode-se sugerir que os efeitos do procedimento das manobras
espirométricas, como a dor e o receio cirúrgico, associados à obesidade, contribuíram
de da inspiração profunda66. Lorentz MN, Albergaria VF, Lima FAZ. Anestesia para obesidade
mórbida. Rev Bras Anestesiol. 2007;57(2):199-213.
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-70942007000200010. PMid:19466355
https://doi.org/10.1590/S0034-7094200700...
,
3636. Enzi G, Baggio B, Vianello A. Respiratory disturbances in visceral
obesity. Int J Obes. 1990;14(Suppl 2):26. . Neste estudo, houve forma importante para
a redução significativa dos a preocupação em avaliar a dor e solicitar a valores da
espirometria e da mobilidade torácica administração de analgesia conforme prescrição
nos três grupos. médica, quando necessária, antes das avaliações O excesso de gordura
armazenada na cavidade pós-operatórias, a fim de evitar que os resultados abdominal
exerce efeito mecânico direto sobre a pudessem ser influenciados por esse fator.
Porém, caixa torácica e o músculo diafragma, restringindo a expansibilidade torácica,
com consequente redução dos volumes pulmonares3737. Pelosi P, Croci M, Ravagnan I, Tredici S, Pedoto A, Lissoni A, et
al. The effects of body mass on lung volumes, respiratory mechanics, and gas exchange
during general anesthesia. Anesth Analg. 1998;87(3):654-60. PMid:9728848.
38. Gibson GJ. Obesity, respiratory function and breathlessness. Thorax.
2000;55(Suppl 1):S41-4. http://dx.doi.org/10.1136/ thorax.55.suppl_1.S41.
PMid:10943638.
https://doi.org/10.1136/thorax.55.suppl_...
-
3939. Eichenberger A, Proietti S, Wicky S, Frascarolo P, Suter M, Spahn
DR, et al. Morbid obesity and postoperative pulmonary atelectasis: an underestimated
problem. Anesth Analg. 2002;95(6):1788-92. http://dx.doi.
org/10.1097/00000539-200212000-00060. PMid:12456460.
https://doi.org/10.1097/00000539-2002120...
. Essa restrição da parede torácica é maior
quando o obeso permanece na posição supina, como durante o procedimento cirúrgico, ou
durante o período de internação hospitalar, acarretando sobrecarga muscular
importante para a ventilação e resultando em disfunção da musculatura
respiratória4040. Wadström C, Müller-Suur R, Backman L. Influence of excessive weight
loss on respiratory function. A study of obese patients following gastroplasty. Eur J
Surg. 1991;157(5):341-6. PMid:1678648.
,
4141. Ford GT, Rosenal TW, Clergue F, Whitelaw WA. Respiratory physiology
in upper abdominal surgery. Clin Chest Med. 1993;14(2):237-52. PMid:8519170. .
A redução da complacência da parede torácica, devido ao aumento da pressão abdominal,
à administração de anestésicos e à dor pós-operatória, pode causar uma redução
prolongada dos volumes e capacidades pulmonares. Acredita-se que a terapia com BIPAP
possa reverter esses fenômenos por meio dos efeitos positivos combinados de PEEP e
pressão de suporte inspiratória, permitindo o recrutamento de zonas de colapso
alveolar, aumentando a ventilação pulmonar e melhorando a troca gasosa, além de gerar
um aumento na expansibilidade torácica99. Vassilakopoulos T, Mastora Z, Katsaounou P, Doukas G, Klimopoulos S,
Roussos C, et al. Contribution of pain to inspiratory muscle dysfunction after upper
abdominal surgery: A randomized controlled trial. Am J Respir Crit Care Med.
2000;161(4 Pt 1):1372-5. http://dx.doi. org/10.1164/ajrccm.161.4.9907082.
PMid:10764336.
https://doi.org/10.1164/ajrccm.161.4.990...
,
2323. Joris JL, Sottiaux TM, Chiche JD, Desaive CJ, Lamy ML. Effect of
bi-level positive airway pressure (BiPAP) nasal ventilation on the postoperative
pulmonary restrictive syndrome in obese patients undergoing gastroplasty. Chest.
1997;111(3):665-70. http://dx.doi.org/10.1378/ chest.111.3.665. PMid:9118706.
https://doi.org/10.1378/chest.111.3.665...
,
4242. Franco AM, Torres FC, Simon IS, Morales D, Rodrigues AJ. Avaliação
da ventilação não-invasiva com dois níveis de pressão positiva nas vias aéreas após
cirurgia cardíaca. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2011;26(4):582-90. http://dx.doi.
org/10.5935/1678-9741.20110048. PMid:22358273.
https://doi.org/10.5935/1678-9741.201100...
,
4343. Forgiarini LA Jr, Carvalho AT, Ferreira TS, Monteiro MB, Dal Bosco
A, Gonçalves MP, et al. Atendimento fisioterapêutico no pós-operatório imediato de
pacientes submetidos à cirurgia abdominal. J Bras Pneumol. 2009;35(5):455-9.
PMid:19547854. . Porém, neste estudo, a BIPAP não foi capaz
de restaurar a função pulmonar no pós-operatório, e sua efetividade teve destaque
somente na restauração da mobilidade torácica em relação às outras técnicas de
pressão positiva utilizadas.
Pessoa et al.18 18. Pessoa KC, Araújo GF, Pinheiro AN, Ramos MR, Maia SC. Noninvasive
ventilation in the immediate postoperative of gastrojejunal derivation with Roux-en-Y
gastric bypass. Rev Bras Fisioter. 2010;14(4):290-5. http://dx.doi.
org/10.1590/S1413-35552010005000023. PMid:20949229
https://doi.org/10.1590/S1413-3555201000...
utilizaram a técnica de BIPAP
no pós-operatório imediato de cirurgia bariátrica, ainda em recuperação
pós-anestésica, e puderam observar que a terapia possui um efeito dose e tempo
dependente, demonstrando melhores resultados quando utilizados níveis pressóricos
mais altos por tempos mais prolongados. Considerando essa afirmação, podemos sugerir
que resultados mais expressivos não foram encontrados neste estudo, pois a técnica
foi aplicada por curtos períodos, sessões de 30 minutos.
A ausência de efeitos positivos significativos na utilização das técnicas de pressão positiva deste estudo também pode ser justificada pelo momento de realização das técnicas, visto que só foram iniciadas aproximadamente quatro horas depois do término da cirurgia. Forgiarini Junior et al.43 43. Forgiarini LA Jr, Carvalho AT, Ferreira TS, Monteiro MB, Dal Bosco A, Gonçalves MP, et al. Atendimento fisioterapêutico no pós-operatório imediato de pacientes submetidos à cirurgia abdominal. J Bras Pneumol. 2009;35(5):455-9. PMid:19547854. demonstraram que a intervenção fisioterapêutica, quando iniciada na sala de recuperação pós-anestésica, pode ser benéfica para os pacientes submetidos a cirurgias abdominais, pois os valores da função pulmonar nos pacientes que receberam o atendimento fisioterapêutico mais precocemente apresentaram menor variação dos valores de espirometria pós-operatórios em relação aos do pré do que o grupo que iniciou a fisioterapia na enfermaria.
Segundo a literatura, a anestesia geral pode agravar a hipoventilação nas primeiras
horas de recuperação pós-cirúrgica devido à maior instabilidade alveolar nesse
período, e a aplicação precoce da pressão positiva pode ser capaz de melhorar a
ventilação alveolar em áreas possivelmente colapsadas durante o procedimento
cirúrgico4444. Huerta S, DeShields S, Shpiner R, Li Z, Liu C, Sawicki M, et al.
Safety and efficacy of postoperative continuous positive airway pressure to prevent
pulmonary complications after Roux-en-Y gastric bypass. J Gastrointest Surg.
2002;6(3):354-8. http://dx.doi.org/10.1016/S1091255X(01)00048-8. PMid:12022987.
https://doi.org/10.1016/S1091255X(01)000...
45. Moore CE, Forrest M, Ammori B. Anaesthesia for obesity Surgery.
Anaesth Intensive Care Med. 2011;12(7):280-2.
http://dx.doi.org/10.1016/j.mpaic.2011.04.015.
https://doi.org/10.1016/j.mpaic.2011.04....
46. Schumann R. Anaesthesia for bariatric surgery. Best Pract Res Clin
Anaesthesiol. 2011;25(1):83-93. http://dx.doi. org/10.1016/j.bpa.2010.12.006.
PMid:21516916.
https://doi.org/10.1016/j.bpa.2010.12.00...
-
4747. Paisani DM, Chiavegato LD, Faresin SM. Volumes, capacidades
pulmonares e força muscular respiratória no pós-operatório de gastroplastia. J Bras
Pneumol. 2005;31(2):125-32. http://dx.doi.org/10.1590/ S1806-37132005000200007.
https://doi.org/10.1590/S1806-3713200500...
. Na sala de recuperação pós-anestésica,
considera-se que a tolerância do paciente é facilitada pelo efeito sedativo residual
dos agentes anestésicos e de opioides administrados para analgesia2323. Joris JL, Sottiaux TM, Chiche JD, Desaive CJ, Lamy ML. Effect of
bi-level positive airway pressure (BiPAP) nasal ventilation on the postoperative
pulmonary restrictive syndrome in obese patients undergoing gastroplasty. Chest.
1997;111(3):665-70. http://dx.doi.org/10.1378/ chest.111.3.665. PMid:9118706.
https://doi.org/10.1378/chest.111.3.665...
, permitindo a aplicação dos recursos por tempo
mais prolongado, o que não foi realizado neste estudo, uma vez que as voluntárias já
se encontravam no quarto.
Outro importante fator a ser considerado no atual estudo como provável influência nos
resultados, principalmente em relação à função pulmonar, refere-se ao momento da
realização da reavaliação pós-operatória. As voluntárias foram reavaliadas
aproximadamente 36 horas após a cirurgia, talvez esse tempo não tenha sido suficiente
para a restauração dos volumes e capacidades pulmonares independente do recurso
aplicado, visto que, até esse momento, a função diafragmática não está completamente
retomada. No estudo de Paisani et al.4747. Paisani DM, Chiavegato LD, Faresin SM. Volumes, capacidades
pulmonares e força muscular respiratória no pós-operatório de gastroplastia. J Bras
Pneumol. 2005;31(2):125-32. http://dx.doi.org/10.1590/ S1806-37132005000200007.
https://doi.org/10.1590/S1806-3713200500...
, que
buscou avaliar o comportamento dos volumes e capacidades pulmonares de pacientes no
pós-operatório de gastroplastia, foram verificadas reduções das variáveis no primeiro
pós-operatório de 30 a 50% em relação aos seus valores pré-operatórios e, no quinto
dia de pós-operatório, a CV ainda não havia retornado a seus valores iniciais. No
presente estudo, os volumes e capacidades pulmonares, reavaliados também no primeiro
pós-operatório, apresentaram reduções que variaram de 17 a 46%, não sendo possível
verificar a recuperação das variáveis antes da alta hospitalar.
No estudo de Barbalho-Moulim et al.33. Barbalho-Moulim MC, Miguel GPS, Forti EMP, Costa D. Comparação entre
inspirometria de incentivo e pressão positiva expiratória na função pulmonar após
cirurgia bariátrica. Fisioter Pesqui. 2009;16(2):166-72. http://dx.doi.
org/10.1590/S1809-29502009000200013.
https://doi.org/10.1590/S1809-2950200900...
, a EPAP
não foi capaz de prevenir a redução da mobilidade torácica nos níveis axilar e
xifoideano e das medidas de VC e VRI, como também ocorreu neste estudo, talvez por
ser um recurso que não estimula a realização de "suspiros" inspiratórios e por estar
associado a baixos volumes pulmonares e redução do fluxo expiratório.
Segundo Müller et al.3333. Müller AP, Olandoski M, Macedo R, Costantini C, Guarita-Souza LC.
Estudo comparativo entre a pressão positiva intermitente (Reanimador de Müller) e
contínua no pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio. Arq Bras
Cardiol. 2006;86(3):232-9. http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2006000300012.
PMid:16612452.
https://doi.org/10.1590/S0066-782X200600...
, a técnica de RPPI
permite um manejo sincrônico entre o operador e o paciente, respeitando o ciclo
respiratório, promovendo melhor adaptação ao equipamento e evitando desconforto
respiratório, sendo, por isso, considerada um recurso efetivo no ganho de VC e,
consequentemente, de reexpansão pulmonar. Entretanto, esses resultados benéficos não
foram observados neste estudo.
Sugere-se que recursos com pressão positiva possuem efeitos semelhantes em relação à restauração de volumes e capacidades pulmonares e à mobilidade torácica no pós-operatório de cirurgia bariátrica, independente de serem aplicados durante a inspiração, a expiração ou em ambas, não sendo efetivos quando aplicados conforme o protocolo estabelecido para este estudo, demonstrando que, nos primeiros dias de pós-operatório, a função pulmonar ainda se encontra prejudicada pelos efeitos da obesidade associados ao procedimento cirúrgico abdominal.
Todas as voluntárias foram submetidas à mesma técnica cirúrgica, pela mesma equipe cirúrgica, com tempo de procedimento e tempo anestésico semelhantes e, durante a anestesia, permaneceram em ventilação mecânica, com parâmetros ventilatórios padronizados pela equipe médica responsável, portanto não sendo considerados fatores de influência nas avaliações deste estudo.
Apesar da pequena influência da pressão positiva na função pulmonar e na mobilidade torácica das voluntárias estudadas, é importante destacar que as técnicas aplicadas não proporcionaram nenhum efeito adverso ou geraram complicações pós-operatórias, como fístulas, distensão abdominal ou deiscência da anastomose cirúrgica. Dessa forma, pode-se considerar que a aplicação da pressão positiva se mostrou segura no pós-operatório de cirurgia bariátrica.
Considerou-se como limitação deste estudo o curto período de internação das voluntárias submetidas à cirurgia bariátrica eletiva, as quais recebiam alta no início do segundo dia pós-operatório, impossibilitando uma reavaliação mais tardia.
Conclusão
A aplicação de dois níveis de pressão positiva nas vias aéreas, dentro do protocolo estabelecido neste estudo, parece não ser efetiva na restauração dos volumes e capacidades pulmonares no pós-operatório de cirurgia bariátrica.
Em relação à mobilidade torácica, a aplicação de dois níveis de pressão positiva obteve melhores resultados do que quando aplicada pressão positiva inspiratória ou expiratória separadamente, sem, entretanto, demonstrar superioridade em relação às outras técnicas.
Agradecimentos
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), São Paulo, Brasil, processo n. 2013/06334-8 e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES/PROSUP), Brasília, Brasil.
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
09 Jan 2015 -
Data do Fascículo
Nov-Dec 2014
Histórico
-
Recebido
02 Fev 2014 -
Revisado
22 Abr 2014 -
Aceito
18 Jun 2014