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Sensemaking dos atores de uma instituição financeira na adoção e elaboração do Relato Integrado

Resumo

Objetivo:

Analisar o sensemaking (Weick, 1995) dos atores envolvidos na adoção e elaboração do Relato Integrado em uma instituição financeira brasileira (Itaú Unibanco S.A.).

Metodologia:

Estudo de caso exploratório e interpretativo, por meio de entrevistas semiestruturadas com nove atores que compõem o grupo de trabalho de elaboração do Relato Integrado e análise de documentos. Os dados foram analisados pela técnica de análise de conteúdo.

Resultados:

O sensemaking aplicado ao Relato Integrado é um processo interpretativo sobre seus elementos (modelo de negócio, capitais, temas materiais, geração de valor), promove mudanças organizacionais, por meio de ações disruptivas, e é adaptativo quando se ajusta à cultura da organização.

Contribuições:

Contribui para as discussões sobre a adoção do Relato Integrado na organização estudada, Comissão Brasileira para Acompanhamento do Relato Integrado (International Integrated Reporting Council), empresas de consultoria e usuários deste reporte. Contribuiu para a literatura sobre essa temática

Palavras-chave:
Relato Integrado; pensamento integrado; sensemaking; instituição financeira; Brasil

Abstract

Purpose:

To analyze the sensemaking (Weick, 1995) of the actors involved in the adoption and elaboration of Integrated Reporting in a Brazilian financial institution (Itaú Unibanco S.A.).

Design/methodology/approach:

Exploratory and interpretative case study, with semi-structured interviews with nine actors who compose the Working Group for elaborating Integrated Reporting, alongside documental analysis. The data were analyzed using the content analysis technique.

Findings:

Sensemaking applied to Integrated Reporting is an interpretative process involving its elements (business models, capitals, material themes, value creation), it promotes organizational change by means of disruptive actions, and it is adaptive when it adjusts to organizational culture.

Originality/value:

The study contributes to the discussion of the adoption of Integrated Reporting at the enterprise studied, at the Brazilian Commission for the Follow-up of Integrated Reporting, at the International Integrated Reporting Council, at Brazilian consultancy firms, and among users of the report. The study also contributes to the literature relating to this theme.

Keywords:
Integrated Reporting; Integrated Thinking; Sensemaking; Bank; Brazil

1 Introdução

A adoção e a elaboração do Relato Integrado (RI) como relatório corporativo para comunicar a geração de valor no curto, médio e longo prazo aos stakeholders (Burke & Clark, 2016Burke, J. J., & Clark, C. E. (2016). The business case for integrated reporting: Insights from leading practitioners, regulators, and academics. Business Horizons, 59(3), 273-283. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.bushor.2016.01.001.
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; Mio, Marco & Pauluzzo, 2016Mio, C., Marco, F., & Pauluzzo, R. (2016). Internal application of IR principles: Generali’s internal integrated reporting. Journal of Cleaner Production, 139, 204-218. doi: https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1016/j.jclepro.2016.07.149
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) requerem mudanças organizacionais, como a transição de silos setoriais para equipes multissetoriais e mudança na visão de negócio (Kistruck & Beamish, 2010Kistruck, G. M., & Beamish, P. W. (2010). The interplay of form, structure, and embeddedness in social intrapreneurship. Entrepreneurship Theory and Practice, 34(4), 735-761. doi: https://doi.org/10.1111/j.1540-6520.201.00371.x
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). Essas mudanças organizacionais ocorrem porque o pensamento integrado entre os atores envolvidos é requisito para desenvolver o RI (Higgins, Stubbs & Love, 2014Stubbs, W., & Higgins, C. (2014). Integrated Reporting and internal mechanisms of change. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(7), 1068-1089. doi: https://doi.org/10.1108/AAAJ-03-2013-1279
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; Lodhia, 2015Lodhia, S. (2015). Exploring the transition to integrated reporting through a practice lens: An australian customer owned bank perspective. Journal of Business EthicsBus Ethics, 129(3), 585-598.doi: https://doi.org/10.1007/s10551-014-2194-8
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).

Sobre os atores envolvidos, Bommel (2014Bommel, K. V. (2014). Towards a legitimate compromise? An exploration of Integrated Reporting in the Netherlands. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(7), doi: 1157-1189. https://doi.org/10.1108/AAAJ-04-2013-1309.
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), Jensen e Berg (2012Jensen, J. C., & Berg, N. (2012). Determinants of traditional sustainability reporting versus Integrated Reporting. An institutionalist approach Strategy Environ. 21(5), 299-316.) e Stubbs e Higgins (2014Stubbs, W., & Higgins, C. (2014). Integrated Reporting and internal mechanisms of change. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(7), 1068-1089. doi: https://doi.org/10.1108/AAAJ-03-2013-1279
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) apontam a importância de observar motivos que orientam as empresas adotarem voluntariamente o RI, as percepções dos autores, os mecanismos utilizados e se a mudança organizacional está ocorrendo. Higgins et al. (2014) identificaram que enquanto os valores de sustentabilidade se incorporavam à cultura da organização os indivíduos também mudavam, pois o processo de significação e percepção são contínuos e imbricados.

Perego, Kennedy e Whiteman (2016Perego, P., Kennedy, S., & Whiteman, G. (2016). A lot of icing but little cake? Taking integrated reporting forward. Journal of Cleaner Production, 136, 53-64. doi: https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1016/j.jclepro.2016.01.106
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) apontam que os estudos sobre RI enfatizam a estrutura e os conceitos do framework estabelecido pelo International Integrated Reporting Council (IIRC), bem como o conteúdo do relatório, e não investigam os indivíduos envolvidos no RI. Essa lacuna apontada por Perego et al. (2016) é confirmada entre as pesquisas brasileiras (Abreu, Zaro, Luiz, Bellen & Vicente, 2016Abreu, A. C. S., Zaro, E. S., Luiz G., Bellen H. M., & Vicente, E. F.R. (2016). Governança corporativa na estrutura conceitual do relato integrado: Divulgações das empresas brasileiras participantes do projeto piloto. Revista de Gestão, Finanças e Contabilidade 6(2), 31-49.; Freitas & Freire, 2017Freitas, B. F. G., & Freire, F. S. (2017). Relato Integrado: Um estudo da aderência da estrutura conceitual proposta pelo IIRC no Relatório Socioambiental do Conselho Federal de Contabilidade. Sociedade, Contabilidade e Gestão, 12(1), 77-92.; Ricardo, Sabrina & Bortonlon, 2017Ricardo, V. S., Barcelo, S. S., & Bortolon, P. M. (2017). Relatório de sustentabilidade ou relato integrado das empresas listadas na BM&FBovespa: Fatores determinantes de divulgação. Revista de Gestão Social e Ambiental 11(1), 90-104. doi: https://doi.org/10.24857/rgsa.v11i1.1233
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) e internacionais (Clayton & Rogerson, 2015Clayton, A. F., Rogerson, J. M., & Rampedi, I. (2015). Integrated reporting vs. sustainability reporting for corporate responsibility in South Africa. Bulletin of Geography, 29(29), 7-17.; Fasan & Mio, 2017Fasan, M., & Mio, C. (2017). Fostering stakeholder engagement: The role of materiality disclosure in integrated reporting. Business Strategy and the Environment, 26(3), 288-305.; García-Sanchez & Noguera-Gámez, 2017García-Sanchez, I.-M., & Noguera-Gámez, L. (2017). Integrated reporting and stakeholder engagement: The effect on information asymmetry. Corporate Social Responsibility and Environmental Management, 24(5), 395-413.; Rensburg & Botha, 2014Rensburg, R., & Botha, E. (2014). Public Relations review is integrated reporting the silver bullet of financial communication? A stakeholder perspective from south Africa. Public Relations Review, 40(2), 144-152.) que, em comum, exploram o conteúdo, a estrutura ou conceitos do framework do IIRC para o RI ou de RI divulgados.

Ao explorar os indivíduos envolvidos com o RI, uma possível abordagem é do sensemaking (Daft & Weick. 2005Daft, R. L., & Weick, K. E. (2005). Por um modelo de organização concebido como sistema interpretativo. Revista de Administração de Empresas, 45(4), 73-86. Retrieved from http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rae/article/download/37304/36069
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; Weick, 1973; Weick, 1995), isto é, a criação de sentidos e significados pelos atores (os indivíduos) sobre um objeto em determinado contexto. Neste estudo, entendemos que o sensemaking é a ação dos atores em produzir e reproduzir sentidos e significados sobre o RI, por conseguinte, promover as mudanças organizacionais para a adoção e elaboração deste relatório na organização.

Desse modo, a questão que orienta este estudo é: como ocorre o sensemaking dos atores envolvidos no processo de adoção e elaboração do RI? Logo, o objetivo é analisar o sensemaking (Weick, 1995Weick, K. E. (1995). Sensemaking in Organizations. Thousand Oaks: Sage.) dos atores envolvidos na adoção e elaboração do RI em uma instituição financeira brasileira (Itaú Unibanco S.A.). Trata-se de um estudo de caso exploratório interpretativo, com base na análise de conteúdo de entrevistas semiestruturadas, realizadas entre os meses de novembro e dezembro de 2015.

A escolha desse caso justifica-se porque a adoção do RI foi interna, conduzida exclusivamente com equipe própria: grupo de trabalho (GT), sendo uma peculiaridade para estudar os atores envolvidos e o sensemaking. Para McNally, Cerbone e Maroun (2017McNally, M. A., Cerbone, D., & Maroun, W. (2017), Exploring the challenges of preparing an integrated report. Meditari Accountancy Research, 25(4), 481-504.), a confiança em consultores externos na elaboração do RI pode reduzir o envolvimento daqueles que implantam e disseminam os fundamentos deste relatório.

O principal resultado do estudo aponta que o sensemaking na adoção e elaboração do RI, neste estudo de caso, está pautado em identificar e interpretar ideias, que, ao criar sentido para um ator, este o compartilha com outros atores (ou áreas), e assim constitui-se um processo interpretativo sobre o que é RI e seus elementos (modelo de negócio, capitais, temas materiais, geração de valor). O sensemaking decorrente do RI promove mudanças organizacionais, por meio de ações disruptivas. E também é adaptativo quando se ajusta aos elementos da cultural organizacional.

Os resultados deste estudo contribuem para a própria organização estudada e para organizações interessadas em adotar o RI, inclusive empresas de consultoria, para o IIRC e a Comissão Brasileira para Acompanhamento do Relato Integrado (CBARI), para as discussões sobre a adoção do RI.

A implicação prática indica que a criação de sentido é um fator crítico para a organização que pretende adotar o RI. Negligenciar esse fator crítico pode ser determinante para a compreensão, aceitação e disseminação do RI. Implica, também, os stakeholders, ao entenderem que o RI é uma ideia social e internamente construída na organização que o reporta; logo, a análise do conteúdo informacional deste relatório será única para cada empresa.

Estse estudo avança na literatura do RI ao explorar os atores, mas indica a necessidade de continuar as pesquisas sob essa perspectiva, envolvendo os atores nas diferentes etapas da adoção do RI em organizações nacionais ou não. E complementa a literatura com foco no framework do IIRC e seu conteúdo.

2 Sensemaking e Relato Integrado

A compreensão entre gerar e disseminar informações é um processo de um objeto ou fenômeno em determinado contexto (Heijden & Cramer, 2017Heijden, A. Van Der, & Cramer, J. M. (2017). Change agents and sustainable supply chain collaboration: A longitudinal study in the Dutch pig farming sector from a sensemaking perspective. Journal of Cleaner Production, 166, 967-987. doi: 10.1108/AAAJ-04-2013-1303). Para Weick (1973Weick, K. E. (1973). A psicologia social da organização (D. M. Leite, Trad.) São Paulo: USP.), os processos são comportamentos individuais interligados. Então, o comportamento informacional está relacionado com a compreensão e o processamento das informações no ambiente organizacional; a subjetividade do indivíduo em obter, processar e enviar a informação; e a influência dos gestores ao criar as estratégias de comunicar a informação (Daft & Weick, 2005Daft, R. L., & Weick, K. E. (2005). Por um modelo de organização concebido como sistema interpretativo. Revista de Administração de Empresas, 45(4), 73-86. Retrieved from http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rae/article/download/37304/36069
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) para satisfazer as necessidades informacionais dos usuários.

A proposta do RI é integrar as informações de natureza financeira e não financeira, demonstrando o relacionamento entre estratégia, governança e desempenho financeiro, ambiental, social e econômico da organização (Stubbs & Higgins, 2015Stubbs, W., & Higgins, C. (2015). Stakeholders’ perspectives on the role of regulatory reform in integrated reporting. Journal of Business Ethics, 147(3), 489-508. doi: https://doi.org/10.1007/s10551-015-2954-0
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). Esse relacionamento contempla o modelo de negócio, incluindo todas as dimensões de desempenho, para a criação de valor no longo prazo (Burke & Clark, 2016Burke, J. J., & Clark, C. E. (2016). The business case for integrated reporting: Insights from leading practitioners, regulators, and academics. Business Horizons, 59(3), 273-283. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.bushor.2016.01.001.
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). Considerando esses fatos, entendemos que a adoção e elaboração do RI envolve mudanças no comportamento informacional da organização e os atores dão novo significado a suas atividades.

O sensemaking enfatiza a maneira como os atores dão sentido no objeto ou fenômeno por eles interpretado em um contexto (Daft & Weick. 2005Daft, R. L., & Weick, K. E. (2005). Por um modelo de organização concebido como sistema interpretativo. Revista de Administração de Empresas, 45(4), 73-86. Retrieved from http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rae/article/download/37304/36069
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; Weick, 1973; Weick, 1995), propicia a reflexividade crítica (Guiette & Vandenbempt, 2017Guiette, A., & Vandenbempt, K. (2017). Change managerialism and micro-processes of sensemaking during change implementation. Scandinavian Journal of Management, 33(2), 65-81. Retrieved from https://doi.org/10.1016/j.scaman.2017.02.002
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) e capta elementos no processo subjetivo de interações formais e informais, assimetrias de conhecimento, experiência e motivações colaborativas (Heijden & Cramer, 2017Heijden, A. Van Der, & Cramer, J. M. (2017). Change agents and sustainable supply chain collaboration: A longitudinal study in the Dutch pig farming sector from a sensemaking perspective. Journal of Cleaner Production, 166, 967-987. doi: 10.1108/AAAJ-04-2013-1303). Nossa compreensão de sensemaking, aplicado ao RI, é de um processo contínuo de organização sistêmica de informações financeiras e não financeiras, utilizando da varredura de informações (scanning segundo Weick, 1995) provenientes dos diversos setores da empresa. Para isso, o ator interpreta as informações obtidas e propaga a realização de uma ação (o pensamento integrado e a elaboração do RI). À medida que essa ação é propagada, a percepção e a interpretação da informação contida no RI são alteradas, criando novos sentidos ou significados. Isso faz realimentar a interpretação do(s) ator(es), de modo cíclico. Logo, cada RI é único e dinâmico em sua apresentação e estrutura e coerente ao modelo de negócio da organização.

Para Weick (1995Weick, K. E. (1995). Sensemaking in Organizations. Thousand Oaks: Sage.), o sensemaking é um processo fundamentado em sete propriedades (Tabela 1), que são interativas e apresentam implicações interrelacionadas.

Tabela 1
Propriedades do sensemaking

Considerando que essas propriedades do sensemaking sejam os elementos fundamentais para os atores disseminarem o pensamento integrado e o RI em qualquer organização, sugerimos propriedades correlatas em sua versão final (Tabela 2). Essas propriedades estão fundamentadas no Framework 1.0 do IIRC e na literatura sobre RI (Bommel, 2014Bommel, K. V. (2014). Towards a legitimate compromise? An exploration of Integrated Reporting in the Netherlands. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(7), doi: 1157-1189. https://doi.org/10.1108/AAAJ-04-2013-1309.
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; Higgins et al., 2014Higgins, C., Stubbs, W., & Love, T. (2014). Walking the talk: Organisational narratives of integrated reporting. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(7), 1090-1119. doi: https://doi.org/10.1108/AAAJ-04-2013-1303
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; Jensen & Berg, 2012Jensen, J. C., & Berg, N. (2012). Determinants of traditional sustainability reporting versus Integrated Reporting. An institutionalist approach Strategy Environ. 21(5), 299-316.; Lodhia, 2015Lodhia, S. (2015). Exploring the transition to integrated reporting through a practice lens: An australian customer owned bank perspective. Journal of Business EthicsBus Ethics, 129(3), 585-598.doi: https://doi.org/10.1007/s10551-014-2194-8
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; Perego et al., 2016Perego, P., Kennedy, S., & Whiteman, G. (2016). A lot of icing but little cake? Taking integrated reporting forward. Journal of Cleaner Production, 136, 53-64. doi: https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1016/j.jclepro.2016.01.106
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; Stubbs & Higgins, 2014Stubbs, W., & Higgins, C. (2014). Integrated Reporting and internal mechanisms of change. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(7), 1068-1089. doi: https://doi.org/10.1108/AAAJ-03-2013-1279
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).

Tabela 2
Propriedades do sensemaking no processo de adoção e elaboração do RI

Essas propriedades foram analisadas no estudo de caso e sugerem que o sensemaking individual quando compartilhado e integrado gera o sensemaking coletivo (Choo, 2003Choo, C. W. (2003). A organização do conhecimento: Como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões (E. Rocha, Trad.). São Paulo: Editora Senac São Paulo.; Daft & Weick, 2005Daft, R. L., & Weick, K. E. (2005). Por um modelo de organização concebido como sistema interpretativo. Revista de Administração de Empresas, 45(4), 73-86. Retrieved from http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rae/article/download/37304/36069
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; Ivanova-Gongne & Törnroos, 2017Ivanova-Gongne, M., & Törnroos, J. (2017). Understanding cultural sensemaking of business interaction: A research model. Scandinavian Journal of Management, 33(2), 102-112. doi: https://doi.org/10.1016/j.scaman.2017.04.001
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; Sheng, 2017Sheng, M. L. (2017). A dynamic capabilities-based framework of organizational sensemaking through combinative capabilities towards exploratory and exploitative product innovation in turbulent environments. Industrial Marketing Management, 65, 28-38. doi: https://doi.org/10.1016/j.indmarman.2017.06.001
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; Zilber, 2002Zilber, T. B. (2002). Institutionalization as an interplay between action, meanings, and actors: The case of a rape crisis center in Israel. The Academy of Management Journal, 45(1), 234-254.). Então, o RI não é um reporte exclusivo de uma área, mas um reporte que retrata o que é a organização e sua sustentabilidade.

3 Procedimentos metodológicos

Esta pesquisa é um estudo de caso único, exploratório e interpretativo (Bryman, 2012Bryman, A. (2012). Social research methods (4a ed.). New York: Oxford University Press.; Chua, 1986Chua, W. F. (1986). Radical developments in accounting thought. The Accounting Review, 61(4), 601-632. Retrieved from http://www.jstor.org/stable/247360
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; Kistruck & Beamish, 2010Kistruck, G. M., & Beamish, P. W. (2010). The interplay of form, structure, and embeddedness in social intrapreneurship. Entrepreneurship Theory and Practice, 34(4), 735-761. doi: https://doi.org/10.1111/j.1540-6520.201.00371.x
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; Myers, 2013Myers, M. D. (2013). Qualitative research in business & management (2nd ed). Croydon: SAGE Publications Ltd.) realizado no Itaú Unibanco. Os dados da pesquisa foram provenientes de entrevistas semiestruturadas, realizadas in loco entre os meses de novembro e dezembro de 2015. O roteiro de entrevista (Apêndice B) foi elaborado com base no Apêndice A e em Lodhia (2015Lodhia, S. (2015). Exploring the transition to integrated reporting through a practice lens: An australian customer owned bank perspective. Journal of Business EthicsBus Ethics, 129(3), 585-598.doi: https://doi.org/10.1007/s10551-014-2194-8
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).

Selecionamos os entrevistados (Tabela 3) por snowball, atendendo ao requisito de estarem envolvidos com a adoção e elaboração do RI na instituição. Os RI dos anos de 2013, 2014 e 2015 complementaram os dados das entrevistas.

Tabela 3
Estrutura de entrevistas

Analisamos as entrevistas pela técnica de análise de conteúdo (Bardin, 2016Bardin, L. (2016). Análise de conteúdo (L. A. Reto & A. Pinheiro, Trad.). Lisboa: Edições 70.) porque interpretamos o sentido dado pelos atores (os entrevistados, nossa unidade de análise) ao RI. Após transcrevermos as entrevistas, fizemos a pré-análise, isto é, a leitura flutuante desse material preparando para sua exploração. Iniciamos a exploração das entrevistas transcritas organizando os parágrafos pelas falas dos entrevistados (unidade de contexto).

Em seguida, codificamos os parágrafos de cada entrevista de acordo com as propriedades do sensemaking aplicadas do RI (Apêndice A). Feito isso, agrupamos as unidades de contexto por código e observamos que tínhamos obtido saturação de dados. Interpretamos as falas codificadas com o auxílio do software Atlas.ti, versão 8 e notamos que as propriedades inicialmente propostas deveriam ser ajustadas (Tabela 2). A interpretação foi validada pela instituição em uma apresentação em reunião do CBARI, em março de 2017.

4 Sensemaking dos atores do RI

Nesta seção apresentamos os resultados da análise das entrevistas dos atores envolvidos com o RI no Itaú Unibanco. Iniciamos com um breve contexto que relata como o RI tornou-se uma prática na instituição.

O contato inicial com o conceito de Relato Integrado ocorreu entre os anos de 2011 e 2012, por meio de um funcionário da Gerência de Divulgação e Análise Contábil, que estudava em uma instituição de ensino superior, e pela área de Sustentabilidade, que participou do Rio+20, conforme E1 e E4. O E4 acrescenta que outras áreas, como Relações com Investidores e Comunicação Corporativa, além de estarem engajadas na elaboração do Relatório Anual Consolidado (RAC), atendem demanda de acionistas, stakeholders e fundos de investimentos que solicitam informações sobre a atuação ambiental da instituição.

Até então, eram quatro relatórios diferentes [...] fazia mais sentido a produção de um único relatório [...] eles eram feitos em fases diferentes, então você acaba solicitando a mesma informação em períodos diferentes, estas informações às vezes ficavam desconciliadas. (E1)

Diferentes relatórios são fontes de ambiguidade e ruído informacional e de retrabalho. Alguns funcionários percebiam que o RI era uma estratégica de comunicação corporativa e observaram que estava sendo aderido por instituições financeiras europeias.

Na África do Sul, as empresas têm que divulgar RI para entrar na Bolsa de Valores. Isso já foi um ponto que a gente começou a trazer e tentar engajar nossos diretores, em relação a que o tema seria no futuro algo importante. (E1)

No mesmo período, um novo CEO que também conhecia o IIRC e o RI deu o apoio institucional top-down, mas:

Existiu no começo uma resistência [...] sei que ele (CEO) falou com o nosso superintendente # e o assunto ficou ali, mas ele (CEO) perseverou, continuou insistindo até que um dia o # ia pra Frankfurt pra um desses encontros do IIRC [...] participou do evento, entendeu melhor a proposta, e aí quando ele voltou pro Brasil, ele já voltou com uma postura [...] acho que a gente tem coisa pra trabalhar em cima. (E2)

Então, “E ele (CEO) foi um dos que falou: ‘Não, vamos fazer!’, deu carta branca e começou a engajar as pessoas de cima” (E1). Assim, a primeira versão foi divulgada em 2014 (referente ao exercício de 2013) e considerada “nosso primeiro exercício de comunicação integrada, adotando a metodologia proposta pelo Comitê Internacional para Relatos Integrados” (Itaú, 2013, p. 3).

Para a elaboração desse RI o Itaú Unibanco criou um GT, composto por analistas dos quatro setores (Finanças, Sustentabilidade, Relação com Investidores e Comunicação Corporativa) que tinham contato inicial com esse reporte. Durante o ano de 2013 o GT estudou os conceitos do RI e discutiu o RAC.

Essa trajetória, segundo os entrevistados E1 e E4, converge com a visão institucional:

Ser o banco líder em performance sustentável gerando valor compartilhado para colaboradores, clientes, acionistas e sociedade, garantindo a perenidade dos negócios e em satisfação dos clientes.

E os valores institucionais:

Só é bom para a gente, se for bom para o cliente; (ii) Fanáticos por performance; (iii) Gente é tudo para a gente; (iv) O melhor argumento é o que vale; (v) Simples, Sempre; (vi) Pensamos e agimos como donos; (vii) Ética é inegociável.

Entendemos que as expressões “performance sustentável”, “valor compartilhado” e “perenidade dos negócios”, presentes na visão institucional, e o valor “ii” são os elementos estratégicos da instituição associados à adoção do RI. Somam-se a isso os atores que trouxeram e outros que resistiram, depois aceitaram (perceberam o sentido) o RI e, coletivamente, disseminaram a prática desse relatório.

4.1 Propriedades do sensemaking aplicadas ao Relato Integrado

Considerando o contexto apresentado, analisamos o sensemaking dos atores envolvidos com o RI na instituição, a partir das propriedades sugeridas (Tabela 2). Nesta análise confirmamos que as propriedades são interativas e inter-relacionadas, conforme Weick (1995Weick, K. E. (1995). Sensemaking in Organizations. Thousand Oaks: Sage.).

4.1.1 Construção de identidade: modelo de negócio, o que pensamos e o que fazemos

O lema “ser o melhor banco, não o maior” foi mencionado pelos entrevistados no contexto do que é o negócio. “Maior é diferente de melhor, prefiro ser melhor do que ser maior” (E2). Ao analisarmos o sentido desse lema observamos que a identidade da instituição está em alinhar seu objetivo financeiro com a função social, por meio de práticas organizacionais que criam valor.

Claro que o core do banco é atividade financeira então ele cria valor financeiro mais do que ele cria outro tipo de valor, mas o banco ele tem buscado criar valor social muito forte. (E1)

A gente tem uma espiral de performance sustentável [...].

[...] quanto mais próximo o Itaú está da sociedade, investidores, cliente, governo [...] ele cria valor. (E3)

Isso converge com visão organizacional, espelho do que é o modelo de negócio. Conhecer a sua identidade (autoconhecimento) faz que a organização construa, identifique e compartilhe seu sensemaking (Weick, 1995Weick, K. E. (1995). Sensemaking in Organizations. Thousand Oaks: Sage.). Entendemos que os atores envolvidos com o RI se esforçam para minimizar ambiguidades, mas os funcionários em agências e postos de atendimentos podem não perceber o que significa “ser melhor” e “gerar valor compartilhado” (vide propriedade 3). Além disso, compreendemos que o “ser melhor” e “gerar valor compartilhado” está direcionado aos stakeholders, em comunicá-los sobre a sustentabilidade econômica, financeira, social e ambiental da instituição.

[...] Cientes de que o relato é um processo de contínua evolução, esperamos sempre fornecer informações relevantes aos nossos stakeholders. (Relato Integrado 2014, p. 2)

Com isso, entendemos que, potencialmente, há uma ambiguidade na identidade organizacional decorrente de os atores estarem em diferentes estágios de sensemaking (Weick, 1995Weick, K. E. (1995). Sensemaking in Organizations. Thousand Oaks: Sage.). Também notamos diferenças de estágio do sensemaking quando a visão setorial sob a forma de silos foi alterada para elaborar o RI, de modo que nem todos os atores envolvidos estavam alinhados em compreender os conceitos e práticas desse relatório (vide propriedades 3 e 4).

A reflexão sobre a identidade organizacional envolve a identificação da empresa sobre o que pensa e na forma que faz (Weick, 1995Weick, K. E. (1995). Sensemaking in Organizations. Thousand Oaks: Sage.). Isso implica que mudar uma trajetória requer uma ação disruptiva (mudança de cultura e de modo de trabalhar e entender seu trabalho na organização). No caso, integrar ideias para obter um produto (o RI) exigiu mudanças em práticas internas para melhor comunicar o modelo de negócio (a identidade).

4.1.2 Experiência retrospectiva: analisar o passado para compreender a organização e fundamentar sua sustentabilidade

Observamos que o sensemaking envolve a percepção dos atores de que o status quo da organização é fruto de sua trajetória. Em outras palavras, o que são hoje decorre do passado, bem como os eventos ou ações que ocorrem no presente terão efeitos futuro. No lapso temporal, porém, entre a mudança e/ou adequação de práticas organizacionais e a percepção dos resultados há as expectativas dos atores.

Ah, eu apresento o meu RAC, querem mais? (E3)

[...] Então foi complexo, porque a gente não tinha insumo para garantir que o RI traria benefícios para o banco. (E1)

Sobre isso, entendemos que a experiência (trajetória) da instituição com reportes corporativos voluntários, como o Global Reporting Initiative (GRI) desde 2001, para a evidenciação de aspectos ambientais e sociais foram experiências que favoreceram a elaboração do RAC e do RI. Outras experiências - abertura do capital, participação no Novo Mercado da Bolsa Brasil Balcão (B3), ações de relacionamento (por meio de reuniões da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais - APIMEC) - forneceram inputs para que a instituição interpretasse seu ambiente e legitimasse sua estrutura, principalmente de geração e comunicação da informação interna e externa, promovendo o alinhamento do modelo de negócio (a identidade).

Esta edição do relato apresenta algumas mudanças estruturais quando comparada à edição anterior. Essas mudanças são resultado da busca pela inovação, integração e transparência no processo de comunicação com os nossos stakeholders. (Itaú Unibanco, 2014, p. 2)

Entendemos que a criação de significado para a adoção do RI é resultado de experiências passadas (GRI) em reportar informações sobre a sustentabilidade, sem associar informações financeiras e não financeiras. Ao adotar o RI, propõe essa associação de informação e sua relação com os capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, relacional e natural). Isso sugere que a compreensão de um ambiente é uma construção organizacional contínua (Weick, 1995Weick, K. E. (1995). Sensemaking in Organizations. Thousand Oaks: Sage.) (propriedade 3).

4.1.3 Ambiente em construção: desenvolvimento do pensamento integrado

O fato de preparar o RI coloca em comunicação áreas que nunca se falaram. (E9)

É muito complicado pegar todas as frentes de negócios do banco e deixar no modelo do framework, nesse sentido foi bem complicado também. (E3)

Essas falas expressam a preocupação do GT sobre a elaboração do RI que, internamente, exigiu sinergia e coletividade (propriedade 4) no fluxo de comunicação entre os atores envolvidos. Por isso, mencionaram o RI de 2013 como o primeiro exercício de comunicação integrada. Em outras palavras, é uma atividade em desenvolvimento, em constante integração para que os significados individuais se tornem coletivos.

[...] a gente começou a ver a importância que o índice Dow Jones tem globalmente. (E3)

A gente começou a identificar alguns pontos que suportavam nossas decisões. (E1)

Durante as entrevistas e em sua análise, percebemos que a expressão “a gente” não se refere a uma área específica, mas à organização. Trata-se de um discurso não do indivíduo (ou área), mas um discurso do coletivo (das áreas envolvidas com o RI), denotando a integração de ideias, base para o pensamento integrado. Com isso, não somente as informações desconexas ou relatórios particionados, mas as áreas passaram dar sentido a conectividade entre si.

A questão do RI tá muito mais na mudança de cultura, do que na publicação de um relatório. [...] mudança de cultura muda os relatórios, muda o trabalho, muda muita coisa. (E1)

Dito isso, observamos que a adoção e a elaboração do RI influenciaram o ambiente interno da instituição, principalmente no comportamento e na cultura do GT e no processo informacional para esse relatório. Essa mudança no ambiente interno é decorrente da análise da identidade (propriedade 1) e da trajetória (propriedade 2) e da coletividade (propriedade 4).

Evoluímos também na apresentação do nosso modelo de negócios, que agora contempla os nossos fatores de risco, estratégias na alocação de recursos, resultados e principais desafios. (Relato Integrado 2014, p. 2)

A construção da identidade (propriedade 1) e o desenvolvimento do pensamento e da informação integrada ocorrem pelos inputs do GT para a elaboração do RI. Isso é confirmado no Relato Integrado de 2015 (p. 1): “Apresentamos a exposição dos capitais aos nossos temas materiais. Identificamos os públicos mais afetados por cada tema material. [...] Aprimoramos a interatividade incluindo links em todos os ícones apresentado.”

Entendemos que o pensar e relatar integrado são processos imbricados de construção do conhecimento, de aprender fazendo coletivamente. Desse processo resulta o RI, um produto único a cada edição quanto a sua estrutura, por não ser um relato padronizado, e quanto ao conteúdo, no esforço de comunicar a integração entre capitais, temas materiais e geração de valor.

Se o pensamento integrado e a informação integrada que estão sendo desenvolvidos na instituição tiverem, contudo, sentido criado apenas para aqueles que estão envolvidos com a elaboração do RI, os potenciais benefícios serão a conectividade de informações para unificação de relatórios e apresentação da sustentabilidade do modelo de negócio e para um público específico (investidores e acionistas). Isso, no entanto, não compreende a coletividade (propriedade 4) plena, isto é, o pensamento integrado disseminado entre os colaboradores que atuam em agências e pontos de atendimentos no Brasil e no exterior (21 países), os quais têm contato direto com os clientes comerciais. Notamos que se trata de um desafio para o banco disseminar o conceito e a prática do pensar integrado para atender a visão organizacional de “satisfação dos clientes” e os valores institucionais (i) e (iii).

4.1.4 Coletividade: a coletividade dos atores na construção da identidade da organização

Para Weick (1973Weick, K. E. (1973). A psicologia social da organização (D. M. Leite, Trad.) São Paulo: USP.), o pensamento do ator e o funcionamento social são fundamentais para aceitar novos conceitos ou modelos na organização. Para adotar o pensamento integrado no Itaú foi necessária a interação de diversos setores, como menciona o E1: “A gente não tinha esse costume de uma área estar trabalhando diretamente com outra”. O GT conduziu essa interação, concomitantemente com a implementação do RAC.

Da interação inicial entre os indivíduos seguiu para a interação entre as áreas, por vezes com alguma resistência.

[...] a gente vê que o pessoal tende, não quer entender... Só mostrar as coisas boas, mas não é isso que é o Relato, tem que mostrar a realidade se é bom se é ruim... Aí o pessoal de marketing ainda tá meio receoso com isso [...]. (E6)

Outro exemplo de resistência, conforme entrevistas, foi a preocupação da área de Controle Interno quanto à confiabilidade e à asseguração das informações não auditáveis, geralmente não financeiras divulgadas no RI. Na instituição houve necessidade de aprimorar e adequar controles internos, mas “As empresas talvez estejam evoluindo no tema (RI), numa velocidade muito além do que as de auditoria estão evoluindo” (E2). Os entrevistados relataram que a Price (empresa de auditoria) tem conhecimento dos princípios do RI, de modo que somente o RI de 2015 foi revisado pelos auditores independentes, os quais emitiram um relatório de asseguração limitada.

Notamos que o esforço de ações disruptivas dos entrevistados prioriza o consenso, como forma de atingir a coletividade: “Enquanto a gente não entra em um consenso em todas as áreas não é batido o martelo” (E3). Para os entrevistados, o consenso interno é o marco de que há um significado coletivo para determinado assunto do RI (capitais, materialidade, indicadores, por exemplo). Isso é necessário porque nem todos os atores estão no mesmo momento de construção de significados (compreensão de conceitos do RI): “Não sei o nome dos capitais... É... Capital humano... Como que se chama? Humano, técnico?” (E9).

Isso ocorre porque alguns atores do GT, especialmente E1 e E4, trazem os sinais do ambiente externo sobre o RI, ao passo que outros atores recebem esses sinais, com algumas impressões (significados). Então, espera-se que a internalização de conceitos ou práticas do RI passem por ambiguidades até atingir o consenso.

A partir das interações sociais identificadas neste estudo, entendemos que, para criar significado ao RI, os indivíduos da organização precisam interagir entre si, superando paradigmas para chegar a um consenso e interagir com outras organizações, como fóruns, o IIRC, CBARI e conferências acadêmicas. Isso forma redes de compartilhamentos de significados, desenvolvidas gradativamente (propriedade 5) e em diferentes estágios em relação a quão próximo ou não os atores estão do GT.

4.1.5 Continuidade: integração de informações e capitais para a criação de valor

A criação de valor, seu compartilhamento e perenidade estão pautados na visão institucional declarada pelo banco. Entendemos, com base nas entrevistas e RI de 2015, que estão buscando a integração dos temas materiais (propriedade 7) e dos capitais ao modelo de governança, e este ao ambiente externo.

[...] avaliamos todos os temas materiais, de forma individual, e identificamos, principalmente, a necessidade de integrar o tema “Risco Socioambiental” ao tema “Gestão de Risco e de Capital”, alinhando nossa gestão à orientação normativa nº 4.327 do BACEN. (Relato Integrado 2015, p. 45)

A gente trazia qual o tema impactava principalmente em cada capital. Então assim: crédito ficou classificado como capital financeiro. Por quê? Por que ele é capital financeiro? Não necessariamente, ele também é capital social. Sem o cliente não tem crédito, mas ele impacta mais o capital financeiro. (E1)

[...] tem um material lá com os capitais, e vamos fazendo exercício, exercício, colocando todas as funções, tudo o que o banco faz e tentando elencar cada coisa com capital. (E6)

O destaque dado no RI 2015 para a integração de informações sobre o risco socioambiental e gestão de risco e de capital se dá pelo fato de que a norma citada, de 2014, se refere à implementação da política de responsabilidade socioambiental das instituições financeiras. Em outras palavras, se refere aos riscos socioambientais da atividade e das operações, logo, do valor criado, que pode ser positivo, negativo ou nulo. Ao conceder um crédito ao cliente para este investir, por exemplo, que riscos socioambientais esse investimento pode gerar? Nesse raciocínio, a concedente do crédito se torna corresponsável pelo risco e pelo valor criado.

A gente meio que tá tentando traçar esta trilha de como as nossas operações influenciam a economia local. (E1)

Trata-se de um processo de mapear o percurso da criação de valor. Esse processo é a integração das informações e dos capitais, os capitais aos temas materiais (o que o banco considera importante) e à criação de valor. Sobre isso:

A gente precisa aprimorar em conexões de informação [...] nosso próximo passo é mensurar isso. (E1)

Estamos tentando evoluir nisso. Não simplesmente falar “a capital financeiro é isso, capital natural é isso, capital manufaturado é isso”. (E5)

A evolução ocorre pela realização de reuniões do GT, semanalmente ou quinzenalmente para aperfeiçoar e discutir conceitos do framework e receber feedbacks, conforme E1.

Quando o RI é divulgado, junto com as Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP), em abril, em seguida têm início as reuniões para discutir sobre o processo do RI do ano em curso. Essa frequência de reuniões nos mostra que as propriedades coletividade e continuidade interagem para que a propriedade ambiente em construção seja desenvolvida. Esse inter-relacionamento de propriedades mostra que o sensemaking é um processo ininterrupto de varredura (scanning) (Weick, 2005) de informações e minimização de ambiguidades, promovendo novos sentidos e mudanças organizacionais.

4.1.6 Teia de ideias: ideias podem ser conectadas em redes de significado para o modelo de negócio

A varredura de informações (scanning) pode apresentar sinais ou indícios capturados no ambiente interno e/ou externo, que formam um sentido para o ator e o conduzem a uma aprendizagem. No nível organizacional, esse processo é ampliado para o grupo de atores, que formam a coletividade (propriedade 4), desenvolvendo uma organização interpretativa (Daft & Weick, 2005Daft, R. L., & Weick, K. E. (2005). Por um modelo de organização concebido como sistema interpretativo. Revista de Administração de Empresas, 45(4), 73-86. Retrieved from http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rae/article/download/37304/36069
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).

Em nossa análise, identificamos como indícios para a adoção do RI o RAC, como sinalização de que a instituição percebia a necessidade de apresentar informações completas, e o GRI, por reportar aspectos ambientais e sociais de uma instituição financeira. Outro indício foi a participação de funcionários em eventos sobre desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade dos negócios, propiciando a percepção de que o RI “seja uma tendência mundial” (E5). Os centros de ensino e pesquisa são, também, disseminadores de pistas.

A convergência desses indícios conduziu a uma ação, uma prática: implementar o RI na instituição, conforme breve contexto apresentado no início da seção 4. Para que essa prática se concretize, novos indícios surgem, de modo contínuo (propriedade 5). Por exemplo: “São poucos os investidores que se preocupam diretamente com isso, aqui no Brasil. Depois da divulgação a gente conseguiu perceber uma procura, grande, de investidores de fora.” (E1)

Entendemos que os indícios podem ser mecanismos simples, para os quais as pessoas na organização atribuem um sentido. Isto é, as pequenas pistas do processo podem se conectar em um assunto (p.e. materialidade, relevância, conectividade, criação de valor), formando redes de significados aceitos (propriedade 7) pelo coletivo. A rapidez com que os indícios se tornam ideias e ganham sentido para uma ação depende, todavia, de organização para organização.

4.1.7 Plausibilidade: princípios orientadores para as informações contidas no RI

A plausibilidade compreende a busca por uma verdade contínua, compreensível, razoável e dinâmica. Os RI de 2013, 2014 e 2015 são guiados pelos princípios orientadores do IIRC e por mecanismos internos da instituição.

Adotamos as orientações feitas pelo <IR> Banking Network. (...) Este relato foi aprovado por nossos órgãos de Governança, responsáveis e revisado por nossos auditores independentes, que emitiram o relatório de asseguração limitada sobre o Relato Integrado 2015. (Relato Integrado, 2015, p. 1).

As informações financeiras apresentadas neste relato estão de acordo com as práticas contábeis internacionais (IFRS), emitidas pelo International Accounting Standard Board (IASB). Já os dados referentes aos segmentos são informações gerenciais e não foram elaboradas de acordo com o IFRS. Esses números e dados estão identificados com a expressão “Dado Gerencial”. (Relato Integrado 2014, p. 3)

a gente sempre publica na mesma data (RAC e RI), tudo já para facilitar esse processo de asseguração dos dois [...]. (E1)

Notamos que o banco não deseja precisão nas informações, mas confiabilidade por meio da asseguração interna (em 2013 e 2014) e também externa, em 2015, quando auditores independentes emitiram um documento técnico de asseguração limitada. Ressaltamos que a asseguração interna era uma preocupação do GT como da área de Controle Interno.

Outro exemplo da plausibilidade foi a definição dos temas materiais. Esse processo teve início em 2014, definindo os temas materiais nos aspectos sociais, ambientais, econômicos e de governança corporativa. Em 2015, foi desenvolvida e validada a matriz de materialidade, combinando os temas materiais aos capitais e público relacionado (Figura 1).

A matriz de materialidade é uma narrativa do que é relevante e para quem é relevante. Entendemos que mudanças na matriz implicam revisões na abordagem e conectividade das informações, com interpolação com a continuidade (propriedade 5). Também observamos que o conceito de materialidade (ou temas materiais), no período em que realizamos as entrevistas, estava em construção (propriedade 3), mas o suficiente para ser divulgado. Isso confirma que a plausibilidade do RI é ser único e dinâmico a cada ano.

Figura 1
Matriz de Materialidade Relato Integrado 2015.

5 Discussão dos resultados

Nossa discussão dos resultados se organiza nos seguintes aspectos: motivos que orientaram o banco a adotar o RI e os mecanismos utilizados; as mudanças organizacionais (ações disruptivas) que (não) ocorreram, incluindo o pensar e relatar integrado; e o sensemaking desenvolvido.

Podemos dizer que as motivações do Itaú em adotar o RI foram decorrentes de um conjunto de indícios vindos do ambiente externo para o ambiente interno da organização, como relatamos no contexto da seção 4 e na propriedade 6 - teia de ideias. Entre os indícios, destacamos a participação de colaboradores em eventos sobre sustentabilidade e a captura de sinais do mercado de que o RI é uma tendência mundial na comunicação do valor gerado pelas organizações, embora o cenário latino-americano seja volátil e os sistemas políticos instáveis (Ogliastri & Zúñiga, 2016Ogliastri, E., & Zúñiga, R. (2016). An introduction to mindfulness and sensemaking by highly reliable organizations in Latin America. Journal of Business Research, 69(10), 4429-4434. doi: https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2016.03.008
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), de modo que a preocupação sobre o negócio reside nas informações econômicas-financeiras e na influência dos centros de ensino e pesquisa, que disseminam temáticas contemporâneas, bem como formam e fornecem profissionais para implementar essas temáticas nas organizações. A inserção de temáticas contemporâneas nas práticas organizacionais indica interesse em informar os stakeholders sobre ações e comportamentos que sinalizam quão perene é o negócio e suas externalidades positivas e negativas (Harrison, Freeman & Abreu, 2015Harrison, J. S., Freeman, R. E., & Abreu, M. C. S. (2015). Stakeholder theory as an ethical approach to effective management: Applying the theory to multiple contexts. Review Business Management, 17(55), 858-869. doi: https://doi.org/10.7819/rbgn.v17i55.2647
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). Outro indício externo que continuou desde 2013 foi a participação da instituição no IIRC e CBARI, por meio de comunicados e apresentação de business cases de RI.

Cabe mencionar que essas fontes de ideias (indícios) formaram uma teia. Isto é, um conjunto de atores que desenvolveram o sensemaking para o RI e se tornaram multiplicadores. Disso, ressaltamos o papel dos atores disseminadores em persistir quando encontravam resistências de outros atores, ser o elo entre o ambiente externo na busca de indícios (scanning) e o ambiente interno em propagar conceitos, promover e gerir mudanças organizacionais e (re)construir a identidade do negócio.

Esses aspectos corroboram com Choo (2003Choo, C. W. (2003). A organização do conhecimento: Como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões (E. Rocha, Trad.). São Paulo: Editora Senac São Paulo.), Daft e Weick (2005Daft, R. L., & Weick, K. E. (2005). Por um modelo de organização concebido como sistema interpretativo. Revista de Administração de Empresas, 45(4), 73-86. Retrieved from http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rae/article/download/37304/36069
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), Weick (1983, 1995) quando tratam do processo de criar sentido e realizar ações que iniciam no indivíduo para chegar ao coletivo. E exploram o que Bommel (2014Bommel, K. V. (2014). Towards a legitimate compromise? An exploration of Integrated Reporting in the Netherlands. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(7), doi: 1157-1189. https://doi.org/10.1108/AAAJ-04-2013-1309.
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), Jensen e Berg (2012Jensen, J. C., & Berg, N. (2012). Determinants of traditional sustainability reporting versus Integrated Reporting. An institutionalist approach Strategy Environ. 21(5), 299-316.), Stubbs e Higgins (2014Stubbs, W., & Higgins, C. (2014). Integrated Reporting and internal mechanisms of change. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(7), 1068-1089. doi: https://doi.org/10.1108/AAAJ-03-2013-1279
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) apontam como lacunas dos estudos sobre RI. Ainda, sobre as lacunas que este estudo explora, identificamos que os mecanismos utilizados foram o scanning, a formação e a atuação do GT para o RI, a visão institucional de desempenho sustentável e compartilhado e o apoio dado pelo CEO (ação top-down), que legitimou as iniciativas isoladas e a livre circulação de ideias entre diferentes níveis hierárquicos. Essa legitimidade possivelmente foi o principal mecanismo para que os outros ocorressem.

As mudanças organizacionais são aspectos que Bommel (2014Bommel, K. V. (2014). Towards a legitimate compromise? An exploration of Integrated Reporting in the Netherlands. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(7), doi: 1157-1189. https://doi.org/10.1108/AAAJ-04-2013-1309.
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), Kistruck e Beamish (2010Kistruck, G. M., & Beamish, P. W. (2010). The interplay of form, structure, and embeddedness in social intrapreneurship. Entrepreneurship Theory and Practice, 34(4), 735-761. doi: https://doi.org/10.1111/j.1540-6520.201.00371.x
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), Jensen e Berg (2012Jensen, J. C., & Berg, N. (2012). Determinants of traditional sustainability reporting versus Integrated Reporting. An institutionalist approach Strategy Environ. 21(5), 299-316.) e Stubbs e Higgins (2014Stubbs, W., & Higgins, C. (2014). Integrated Reporting and internal mechanisms of change. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(7), 1068-1089. doi: https://doi.org/10.1108/AAAJ-03-2013-1279
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) apontam como passíveis de ocorrer quando se altera uma prática organizacional, inclusive de comunicar a informação (Daft & Weick, 2005Daft, R. L., & Weick, K. E. (2005). Por um modelo de organização concebido como sistema interpretativo. Revista de Administração de Empresas, 45(4), 73-86. Retrieved from http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rae/article/download/37304/36069
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). O RI tem entre seus propósitos a comunicação do valor gerado aos stakeholders (Burke & Clark, 2016Burke, J. J., & Clark, C. E. (2016). The business case for integrated reporting: Insights from leading practitioners, regulators, and academics. Business Horizons, 59(3), 273-283. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.bushor.2016.01.001.
http://dx.doi.org/10.1016/j.bushor.2016....
; Mio et al., 2016Mio, C., Marco, F., & Pauluzzo, R. (2016). Internal application of IR principles: Generali’s internal integrated reporting. Journal of Cleaner Production, 139, 204-218. doi: https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1016/j.jclepro.2016.07.149
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). Por vezes, mudar implica (re)aprender.

Dito isso, a adoção do RI no Itaú promoveu, inicialmente, aprendizagem, pois as pessoas envolvidas não detinham conhecimentos de aspectos relacionados à extensão dos conceitos de RI; se estes eram aplicáveis ao setor bancário; quais seriam os benefícios do modelo de reporte para os stakeholders; quais benefícios poderiam ser gerados internamente pela sua elaboração; e como o RI se diferenciava do RAC e GRI. Tal aprendizado encaminhou os indivíduos do GT para uma mudança organizacional, incremental, transitando de silos setoriais para equipes multisetoriais que proporcionou a mudança na compreensão do modelo de negócio (Kistruck & Beamish, 2010Kistruck, G. M., & Beamish, P. W. (2010). The interplay of form, structure, and embeddedness in social intrapreneurship. Entrepreneurship Theory and Practice, 34(4), 735-761. doi: https://doi.org/10.1111/j.1540-6520.201.00371.x
https://doi.org/10.1111/j.1540-6520.201....
) e mudança no comportamento informacional (Daft & Weick, 2005Daft, R. L., & Weick, K. E. (2005). Por um modelo de organização concebido como sistema interpretativo. Revista de Administração de Empresas, 45(4), 73-86. Retrieved from http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rae/article/download/37304/36069
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).

Com base nos resultados da seção 4, notamos que houve uma mudança de paradigma sobre a finalidade dos atores que atuam no setor contábil e financeiro. Esses atores perceberam que discutir e reportar informações não financeiras (informações do capital humano, intelectual, manufaturado, natural e social e de relacionamento) não é exclusivo da área de Sustentabilidade, por exemplo, e a Contabilidade não é, apenas, uma fornecedora de informações. E o contrário também ocorreu: a área de Sustentabilidade não se limita em reportar informações não financeiras, dado que tais informações são imbricadas. Essa mudança corrobora com Higgins et al. (2014Higgins, C., Stubbs, W., & Love, T. (2014). Walking the talk: Organisational narratives of integrated reporting. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(7), 1090-1119. doi: https://doi.org/10.1108/AAAJ-04-2013-1303
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) e Stubbs & Higgins (2014Stubbs, W., & Higgins, C. (2014). Integrated Reporting and internal mechanisms of change. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(7), 1068-1089. doi: https://doi.org/10.1108/AAAJ-03-2013-1279
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).

Disso decorre o pensar e relatar integrado. Bommel (2014Bommel, K. V. (2014). Towards a legitimate compromise? An exploration of Integrated Reporting in the Netherlands. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(7), doi: 1157-1189. https://doi.org/10.1108/AAAJ-04-2013-1309.
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) e Spence (2007Spence, C. (2007). Social and environmental reporting and hegemonic discourse. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 20(6), 855-882. doi: ttps://doi.org/10.1108/09513570710830272.
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) sugerem que o RI, ao requerer o pensar e relatar integrado, demonstra o quão seu modelo de negócio é (não) sustentável em longo prazo. Entendemos que a perenidade do modelo de negócio não se dá apenas por aspectos quantitativos, mas integrada a aspectos qualitativos, visto que os aspectos qualitativos compreendem as mudanças de comportamento e de processos que, indiretamente, implicam mudanças quantitativas (melhorias no desempenho por melhor uso dos recursos, por exemplo).

Sobre isso mencionamos o fato de os entrevistados identificarem que havia quatro relatórios diferentes para atender a demanda informacional do ambiente externo. Esse conjunto de relatórios gera retrabalho, bem como ambiguidade e ruído informacional e demonstra como repensar o comportamento informacional implica mudanças qualitativas sobre a informação.

Ainda sobre o pensar e relatar integrado, destacamos as reuniões do GT, que conduzem os colaboradores para o pensamento coletivo e compartilhado, criando e estabelecendo sentidos para a área e entre as áreas, como apresentamos na seção 4. Isso envolve os atores quanto ao conhecimento da instituição (sua identidade) e reconhecimento das capacidades, limitações e desafios. Citamos como limitações e desafios no Itaú: disseminar o pensamento integrado além do GT, abrangendo demais setores até as agências, pois são estas que interagem diretamente com os clientes e comercializam os serviços e produtos financeiros da instituição e podem ter efeitos socioambientais; não tornar o RI uma peça de marketing informacional; e concretizar a matriz de materialidade relacionando os valores gerados entre os capitais, bem como os aspectos de responsabilidade socioambiental, educação financeira e ética, principalmente nas práticas de empréstimos e spread bancário.

Para desenvolver o pensamento integrado e elaborar o RI, os atores do GT utilizaram a experiência de outros relatórios (RAC e GRI) com base na cultura de processos internos existentes, incorporando a essa cultura os conceitos do pensar e relatar integrado. Lodhia (2015Lodhia, S. (2015). Exploring the transition to integrated reporting through a practice lens: An australian customer owned bank perspective. Journal of Business EthicsBus Ethics, 129(3), 585-598.doi: https://doi.org/10.1007/s10551-014-2194-8
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) também relatou essas estratégias na implantação do RI no Goodbank na Austrália. Notamos que não houve mudanças fundamentais nos sistemas culturais e políticos da instituição. Isso confirma Higgins et al. (2014Higgins, C., Stubbs, W., & Love, T. (2014). Walking the talk: Organisational narratives of integrated reporting. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(7), 1090-1119. doi: https://doi.org/10.1108/AAAJ-04-2013-1303
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), ao considerar que os primeiros RI são uma junção dos processos que estão se institucionalizando na organização. Observamos, entretanto, mudança incremental na ampliação do GT, decorrente da disseminação do sensemaking do pensamento integrado, promovendo interações entre áreas dos integrantes do GT. Para Guiette e Vandenbempt (2017Guiette, A., & Vandenbempt, K. (2017). Change managerialism and micro-processes of sensemaking during change implementation. Scandinavian Journal of Management, 33(2), 65-81. Retrieved from https://doi.org/10.1016/j.scaman.2017.02.002
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), as interações levam à reflexividade durante o sensemaking, o que inibe que os praticantes fiquem estagnados e promove emancipação da ideia de silos organizacionais e informacionais.

No Itaú, entendemos que as mudanças foram incrementais no sentido de atender uma necessidade informacional que a instituição vinha desenvolvendo, o RAC. Ou seja, não mudou o modelo de negócio, mas até o momento desta pesquisa havia mudado os atores envolvidos no processo informacional, que passou de setorial (unidimensional) para multidimensional (holística), obtendo maior consenso e ponderação quanto ao reflexo do trabalho desenvolvido em cada setor nas atividades da instituição. Cita-se, como exemplo, o setor contábil, que se tornou mais inclusivo em aspectos como os socioambientais, deixando de ser apenas um fornecedor de dados.

Sobre o sensemaking desenvolvido na instituição, entendemos que está em estágio inicial. Conceitos fundamentais precisam ter sentido criado no coletivo, pois há predomínio do sentido individual no GT. Os próprios RIs elaborados e divulgados estão em aprimoramento, decorrente dessa criação de sentido do nível individual para o coletivo. Daft e Weick (2005Daft, R. L., & Weick, K. E. (2005). Por um modelo de organização concebido como sistema interpretativo. Revista de Administração de Empresas, 45(4), 73-86. Retrieved from http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rae/article/download/37304/36069
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) e Weick (1983, 1995) mencionam, todavia, que o sensemaking é um processo contínuo, ininterrupto, evolutivo e interativo.

Concordamos com esses autores e observamos isso ao longo da análise que apresentamos na seção 4, quando discutimos as propriedades do sensemaking ao RI. Em outras palavras e com base nos dados da pesquisa, as propriedades do sensemaking não são sequenciais, e sim inter-relacionadas, tanto que iniciamos essa discussão pela propriedade 6, pois remete ao contexto que/como o RI foi inserido na instituição.

6 Conclusão

O objetivo desta pesquisa foi analisar o sensemaking (Weick, 1995Weick, K. E. (1995). Sensemaking in Organizations. Thousand Oaks: Sage.) dos atores envolvidos na adoção e elaboração do RI em uma instituição financeira brasileira (Itaú Unibanco S.A.). A perspectiva do sensemaking possibilitou explorar as interpretações e significados atribuídos pelos atores envolvidos na adoção e elaboração do RI no Itaú.

Concluímos que o sensemaking é um processo imbricado, primeiramente, ao ator, e deste ao contexto organizacional. Os dois níveis são indissociáveis e não concomitantes, isto é, o sensemaking tem início com o indivíduo, mas seu efeito é perceptível quando atinge o coletivo. O fato de o indivíduo e o coletivo poderem estar em estágios diferentes de sensemaking implica sua não concomitância.

Nesse ínterim têm-se a ambiguidade de conhecimento, interpretação e significados, que se ajustam ao longo do tempo e por determinado período. Por isso, o sensemaking é dinâmico e decorre de um processo subjetivo de interações formais e informais. Em outras palavras, os sentidos criados não são estáveis ou ajustáveis ao longo do tempo. Como exemplo, as propriedades do sensemaking ao RI analisadas na seção 4 foram ajustadas, conforme comentamos na seção 3. Logo, os resultados alcançados se limitam à instituição estudada, sugerindo que novas pesquisas sejam realizadas utilizando as propriedades analisadas.

Iniciamos esta pesquisa questionando como ocorre o sensemaking dos atores envolvidos no processo de adoção e elaboração do RI. Com base nos resultados alcançados, depreendemos que o processo de sensemaking de adoção e elaboração do RI tem como motriz o GT, este formado por áreas que não trabalhavam em equipe, que foi legitimado por executivos da instituição. Disso inferimos que, em situações que o RI seja implementado com equipe externa ou mista, pode ser que a motricidade intraorganizacional seja distinta do caso estudado, pois o envolvimento de terceiros requer a aceitação dos colaboradores, aumentando a resistência em pensar e relatar integrado - resistência que ocorreu mesmo sendo equipe interna.

Para pesquisas futuras, sugere-se a replicação de estudos que envolvam o processo de interpretação na análise dos mecanismos de difusão que implementaram do RI. Pesquisas críticas e etnográfica também contribuem para estudar os atores envolvidos com o RI.

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  • Agências de fomento:

    Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
  • Avaliado pelo sistema:

    Double Blind Review

Apêndice A - Propriedades para identificação empírica dos elementos do sensemaking

Elementos Propriedades do estudo Construção de identidade Propriedade 1: O processo de adoção e elaboração do RI fundamenta-se na construção de identidade da empresa quanto ao que “pensa e faz”. Retrospectivo Propriedade 2: O processo de adoção e elaboração do RI utiliza-se de experiências retrospectivas para compreender a organização atualmente e suas prioridades futuras. Interpretativo Propriedade 3: O processo de adoção e elaboração do RI é a interpretação do ambiente e mudanças para as quais a empresa atribui significado. Social Propriedade 4: O processo de adoção e elaboração do RI é realizado coletivamente pelos os agentes envolvidos nestes processos. Contínuo Propriedade 5: O processo de adoção e elaboração do RI é um processo contínuo de análise da criação de valor, dos capitais e integração de informações. Construído sob indícios Propriedade 6: O processo de adoção e elaboração do RI utiliza-se de pontos de referência (indícios) a partir dos quais as ideias podem ser conectadas em redes de significado. Pautado na plausibilidade Propriedade 7: O processo de adoção e elaboração do RI utiliza-se de princípios orientadores (tais como materialidade, concisão, confiabilidade) para avaliar quais informações serão incluídas. Nota. As propriedades foram elaboradas de acordo com a literatura e, posteriormente, adequadas durante a interpretação das falas (etapa da análise de conteúdo - seção 3) para que pudessem guiar e construir as análises do resultado deste estudo (seção 4). Neste estudo não tivemos o intuito de testar as propriedades, mas de nortearem a análise das entrevistas no contexto do Relato Integrado. Fonte: Elaborado com base em Weick (1995, p. 17-60).

Apêndice B - Roteiro para entrevistas semi-estruturadas

Questão Possível elemento do Modelo de Weick (1995) Qual a sua posição na organização? Quais são suas atribuições e responsabilidades e a quem você se reporta? Construção de Identidade; Social. Por favor, faça uma revisão geral sobre o contexto econômico, social e ambiental de sua organização. Construção de Identidade; Interpretativo. O que o termo Relato Integrado significa para você e sua empresa? Construção de Identidade; Interpretativo; Construído sob Indícios. De que maneira a proposta para Relato Integrado foi inserida no contexto de sua organização? Construção de Identidade; Retrospectivo; construído sob indícios. Como o Relato Integrado difere dos relatórios de sustentabilidade e financeiro? Pautado na plausibilidade; Interpretativo. Quais são os benefícios e desafios do Relato Integrado? Interpretativo; Contínuo. Discuta sobre a transição de sua organização para a prática de Relato Integrado (comparando com o modelo em prática anteriormente), explicando como foi implantado o Relato Integrado em sua organização. Retrospectivo. Quais são os principais atores (responsáveis individuais/setores) envolvidos no processo de Relato Integrado em sua organização? Estes colaboradores passaram a se dedicar somente ao processo ou acumularam funções? Foi necessário o auxílio de agentes externos à organização, na função de consultoria? Construção de Identidade. Identifique os fatores chave de sucesso em sua organização na transição para o Relato Integrado. Interpretativo. Por que a organização está se comprometendo com o Relato Integrado? Que lições outras organizações podem aprender com sua experiência em Relato Integrado? Interpretativo. Quais são as visões de sua organização para o futuro do Relato Integrado? Pautado na Plausibilidade. Como foi construído o conceito de criação de valor? Qual é esse conceito? Construção de Identidade; Construído sob Indícios. Como foram identificados os capitais? Quais as dificuldades? Social Como foi definido o processo (protocolo para) da conectividade da informação? Quais partes da empresa se envolveram? Construção de Identidade; Social.

Editado por

Editor responsável:

Profa. Dra. Natalia Vidal

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2020

Histórico

  • Recebido
    26 Nov 2018
  • Aceito
    11 Jun 2019
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