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Mesclagens metafóricas e suas funções no discurso sobre a sociedade: um estudo comparativo

Metaphorical blends and their functions in the discourse about society: a comparative study

Resumos

Com base em um corpus constituído por quatro gêneros textuais - entrevistas orais e escritas, artigos jornalísticos e livros de não-ficção - o foco do estudo a ser apresentado está no modo como o conceito 'sociedade' é construído em discursos alemães e brasileiros atuais. Assim, o interesse principal se centraliza nas 'metáforas mescladas' (LAKOFF; JOHNSON, 1980) analisadas no estudo em questão como 'redes de integração', no sentido preconizado por Fauconnier e Turner (2003, 2008). Será ilustrada também a necessidade de ampliação dessa teoria por meio da inclusão de uma perspectiva semiótico-contextual (BRANDT; BRANDT, 2005), para uma melhor compreensão da variedade cultural encontrada nos dois corpora e, finalmente, interligar as mesclagens com funções comunicativas envolvidas.

Mesclagem metafórica; esquemas imagéticos; redes de integração; sociedade


Based on two corpora composed of four discourse genres - spoken interviews, written interviews, newspaper articles and non-fictional books - the article focuses on the way how 'society' is talked about metaphorically in current German and Brazilian discourse. We want to discuss mainly culture-specific 'mixed metaphors' (LAKOFF; JOHNSON, 1980) which can be seen as blending scenarios or 'integration networks' in the sense of Fauconnier & Turner (2003, 2008). Furthermore, we shall also demonstrate that Blending Theory has to be extended by a semiotic-contextual view in order to integrate elements like the 'Relevance Space' (BRANDT; BRANDT, 2005) to grasp culture-dependent variation and the involved speech functions displayed by real speakers / writers and hearers / readers in specific communication situations.

Metaphorical blending; image schemas; integration networks; society


ARTIGO

Mesclagens metafóricas e suas funções no discurso sobre a sociedade: um estudo comparativo

Metaphorical blends and their functions in the discourse about society: a comparative study

Ulrike Schröder

Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: schroederulrike@gmx.com

RESUMO

Com base em um corpus constituído por quatro gêneros textuais - entrevistas orais e escritas, artigos jornalísticos e livros de não-ficção - o foco do estudo a ser apresentado está no modo como o conceito 'sociedade' é construído em discursos alemães e brasileiros atuais. Assim, o interesse principal se centraliza nas 'metáforas mescladas' (LAKOFF; JOHNSON, 1980) analisadas no estudo em questão como 'redes de integração', no sentido preconizado por Fauconnier e Turner (2003, 2008). Será ilustrada também a necessidade de ampliação dessa teoria por meio da inclusão de uma perspectiva semiótico-contextual (BRANDT; BRANDT, 2005), para uma melhor compreensão da variedade cultural encontrada nos dois corpora e, finalmente, interligar as mesclagens com funções comunicativas envolvidas.

PALAVRAS-CHAVE: Mesclagem metafórica; esquemas imagéticos; redes de integração; sociedade.

ABSTRACT

Based on two corpora composed of four discourse genres - spoken interviews, written interviews, newspaper articles and non-fictional books - the article focuses on the way how 'society' is talked about metaphorically in current German and Brazilian discourse. We want to discuss mainly culture-specific 'mixed metaphors' (LAKOFF; JOHNSON, 1980) which can be seen as blending scenarios or 'integration networks' in the sense of Fauconnier & Turner (2003, 2008). Furthermore, we shall also demonstrate that Blending Theory has to be extended by a semiotic-contextual view in order to integrate elements like the 'Relevance Space' (BRANDT; BRANDT, 2005) to grasp culture-dependent variation and the involved speech functions displayed by real speakers / writers and hearers / readers in specific communication situations.

KEYWORDS: Metaphorical blending; image schemas; integration networks; society.

Introdução

Desde o surgimento da teoria conceptual da metáfora (LAKOFF; JOHNSON, 1980) ela não é mais vista exclusivamente como ornamento retórico, mas, sim, como fenômeno cognitivo no qual se percebe um "mapeamento entre os domínios no sistema conceptual"1 1 "cross-domain mapping in the conceptual system." (LAKOFF, 1993, p. 203), sendo um domínio alvo ('target domain') e um domínio fonte ('source domain'), formando ambos a base de um mapeamento metafórico.2 2 Uma introdução à teoria de Lakoff e Johnson em português é dada por Feltes (2007).

Já em seu primeiro livro, Lakoff e Johnson (1980, p. 97) dedicam sua atenção às assim chamadas "justaposição nas metáforas"3 e ilustram, por meio da expressão metafórica "Vamos ir profundo em uma variedade de tópicos",4 4 "We will be going deeply into a variety of topics." como metáforas podem se sobrepor no uso atual. Enquanto, segundo os autores, a expressão profundo (deeply) aponta as metáforas conceptuais PRÉDIO e CONTÊINER, entrar (going into) pode ser vista como derivação da metáfora conceptual VIAGEM.5 5 Nesse momento, os autores ainda não distingem de modo nítido entre image schemas ou primary metaphors e structural metaphors ou complex metaphors como fazem mais tarde (LAKOFF; JOHNSON, 1999, p. 45-73). Porém, especialmente no que tange ao uso da linguagem, a visão dos autores continua idealizada, uma vez que os exemplos procedem da introspecção, e não de um corpus autêntico.Baseado em uma pesquisa realizada na internet por Sardinha (2007, p. 139-140), pode-se comprovar que muitos dos exemplos elencados por Lakoff e Johnson se revelam artificiais. Ademais, como Leezenberg (2001, p. 145) e Melo Moura (2005, p. 116) ilustram, a expressão linguística não pode ser considerada como logicamente posterior à estrutura conceptual: língua e estrutura conceptual interagem de forma bidirecional, uma vez que fatores linguísticos e conceptuais são mutuamente dependentes no uso da metáfora. Martins (2002) retorna a um essencialismo tradicional quando aponta o tratamento da linguagem como sistema de representação secundário e subordinado ao pensamento; perspectiva essa que não mais se destaca e da qual os autores supracitados quiseram despedir-se.

Em contrapartida, em muitos estudos atuais sobre a reciprocidade entre os níveis linguístico e cognitivo no uso de metáforas, cada vez mais o uso da língua, o contexto discursivo, a situacionalidade cultural e processos online estão no centro da atenção. Ademais, não são mais analisadas apenas expressões isoladas, reconduzidas a metáforas conceptuais isoladas, mas, sim, o foco das pesquisas voltou-se para expressões no seu contexto textual e cultural mais amplo. Dessa forma, Kimmel (2005) frisa que, no seu uso cultural, a maioria dos esquemas imagéticos deveria ser mais entendida como esquemas imagéticos compostos e dinâmicos do que estáticos e isolados. Cameron (2007, 2008) substitui o termo 'metáfora conceptual' ('conceptual metaphor'), que se baseia em uma metodologia dedutiva, por um conceito gerado indutivamente denominado 'metáfora sistemática' ('systematic metaphor'). Com isso, a autora se refere a metáforas no nível da linguagem que são usadas com uma certa frequência por participantes no decorrer de um evento discursivo. Tais metáforas podem condensar-se, estruturando seu respectivo domínio alvo.

De modo semelhante, Ponterotto (2003, p. 290-293) cita uma 'rede cognitiva da metáfora' ('cognitive metaphor network') construída no decorrer do discurso, assumindo um papel coesivo. Finalmente, Fauconnier e Turner (2003, 2008) ampliam seu modelo de quatro espaços mentais por meio de uma teoria da 'rede de integração conceptual' ('conceptual integration networks') que, por sua vez, é estendida por meio de uma perspectiva semiótica nas abordagens de Brandt (BRANDT; BRANDT, 2005; BRANDT, 2005).

Perante esse pano de fundo teórico atual, apresentaremos uma reflexão ligada a um estudo com base em quatro corpora de duas comunidades de fala distintas - a comunidade brasileira e a comunidade alemã. Esse estudo teve como objetivo tentar descobrir as diferenças cruciais no uso de metáforas que servem para a construção do domínio discursivo 'sociedade' nas duas culturas em questão (SCHRÖDER, 2009a). Um resultado desse estudo foi que, já no nível dos esquemas imagéticos, a mesclagem de domínios fonte distintos é um fenômeno muito frequente e que, além disso, aparentemente, são fatores culturais e sociais que assumem uma importância significativa na geração de tais mesclagens integradas. Até que ponto esse fenômeno ocorre é uma das questões centrais da qual nossa reflexão se dirige em seguida. Como referencial teórico principal, foi escolhida a Teoria da Mesclagem (Blending Theory). Também procuramos revelar como, por meio de uma aplicação a fenômenos linguísticos manifestados culturalmente, a Teoria da Mesclagem poderia, por sua vez, ser ampliada; aspecto este que apenas começou a ser explorado recentemente (SINHA, 2005, p. 1538; BRANDT, 2005; BRANDT; BRANDT, 2005).

Redes de integração conceptuais na Teoria da Mesclagem segundo Fauconnier e Turner

Para Fauconnier e Turner (2003), metáforas representam um subcaso da mesclagem ao qual eles se dedicam cada vez mais. Mapeamentos entre espaços mentais são vistos como o núcleo da habilidade cognitiva humana da produção, transposição e do processamento de significado. Dessa forma, a linguagem visível é apenas a "ponta do iceberg"6 6 "tip of the iceberg." (FAUCONNIER, 1999, p. 1) da construção invisível que permanece enquanto pensamos e falamos. O fenômeno-chave responsável pelo fato de que não apenas reproduzimos os mundos simbólicos já existentes mas também produzimos novidades é a mesclagem: "[a mesclagem] consiste em integrar estruturas parciais de dois domínios separados em uma única estrutura com propriedades emergentes em um terceiro domínio"7 7 "it [blending] consists in integrating partial structures from two separate domains into a single structure with emergent properties within a third domain." (FAUCONNIER, 1999, p. 22).8 8 Uma introdução geral à teoria de Fauconnier e Turner em português encontra-se em Azevedo (2006).

Com a teoria da mesclagem, os autores recorrem a um tema já abordado pelo egiptólogo Alan Henderson Gardiner e pelos psicólogos Karl Bühler e Wilhelm Stählin no início do século 20 (SCHRÖDER, 2009b). Como Gardiner (1951/1932) destaca no seu livro A Theory of Speech and Language, o processamento da fusão ou "mesclagem" ("blending") (GARDINER, 1951/ 1932, p. 169) é mais espetacular no caso da metáfora.

Bühler (1982/1934) descreve o processo metafórico como uma fusão de esferas distintas na qual conhecimentos linguísticos e não-linguísticos se mesclam. Ele compara esse processo a uma projeção visual que passa por dois filtros que se cobrem reciprocamente em parte. Já Stählin estabelece a distinção entre 'objeto' e 'imagem', realçando que tanto o domínio fonte como o domínio alvo da terminologia de Lakoff e Johnson contribuem para a mesclagem: "resumindo: eu não apenas puxo a imagem para dentro da esfera do objeto mas também puxo o objeto para dentro da esfera da imagem. Há um intercâmbio das características, uma união das duas esferas, uma fusão."9 9 "kurzum: ich ziehe nicht nur das Bild in die Sphäre des Sachgegenstandes, sondern auch die Sache in die Sphäre des Bildes hinein. Es findet ein Austausch der Merkmale, eine Vereinigung der beiderseitigen Sphären, eine Verschmelzung von Bild und Sache statt." (STÄHLIN, 1913, p. 324).

A teoria da mesclagem de Fauconnier e Turner baseia-se na metáfora de espaços mentais, que são vistos como estruturas parciais e temporariamente representadas, criadas por locutores falando ou refletindo sobre situações percebidas ou imaginadas no passado, presente ou futuro. Sendo assim, como Grady, Oakley e Soulson (1999) observam, espaços mentais não são equivalentes aos domínios de Lakoff e Johnson, mas, sim, espaços mentais dependem de domínios por representarem cenários particulares estruturados com base em domínios dados. O ponto crucial é que, ao contrário de Lakoff e Johnson, na teoria da mesclagem, como ilustra a FIG. 1, os dois espaços input trazem sua própria estrutura ao espaço mescla, o que rompe com a tese da unidirecionalidade de Lakoff e Johnson


No seu livro Mappings in Thought and Language, Fauconnier (1999) observa, pela primeira vez, o fenômeno da metáfora como subcaso da mesclagem explicitamente, dirigindo sua atenção à desconcordância entre os dois espaços input. A partir do exemplo cavar seu próprio túmulo, Fauconnier mostra como, a despeito da 'tese da invariância' estabelecida por Lakoff (1993), inferências do domínio fonte são violadas na mescla: a estrutura causal é invertida por ações tolas que causam falhas, embora cavar um túmulo não cause a morte. A estrutura intencional também não coincide, pois ninguém cava um túmulo inconscientemente. A estrutura do frame de agentes, pacientes e sequência não é preservada. Sabemos que o paciente morre e o agente cava o túmulo.

No entanto, na metáfora, os papéis do agente e do paciente se mesclam e a ordem de eventos é inversa. Por consequência, a mesclagem cria uma estrutura emergente, por herdar do domínio fonte a estrutura concreta de túmulos, cavar e enterro, e por herdar do domínio alvo as estruturas causal, intencional e do evento interno. Para tal, mais tarde, Fauconnier e Turner (2003, p. 131-132) introduzem o conceito 'rede do escopo duplo' ('doublescope network') no qual os dois input trazem seu frame próprio para a mesclagem. Com isso, esse tipo de rede opõe-se à 'rede do escopo singular' ('single-scope network') que corresponde mais ao mapeamento unidirecional da visão tradicional de Lakoff e Johnson.

Atualmente, Fauconnier e Turner (2008) já apresentam uma terminologia modificada e não apenas discorrem acerca de dois espaços input, mas, sim, de uma rede de integração que indica uma estrutura mais rica do que as meclagens aos pares:

[p]rodutos conceptuais nunca representam o resultado de um único mapeamento. O que nós chamamos metáforas conceptuais, como TEMPO É DINHEIRO ou TEMPO É ESPAÇO, vem a ser construções mentais envolvendo muitos espaços e muitos mapeamentos em redes de integração elaborados, construídos por meio de princípios gerais distintos. Essas redes de integração são muito mais ricas do que os feixes de ligações aos pares tratados em teorias recentes da metáfora10 10 "Conceptual products are never the result of a single mapping. What we have come to call conceptual metaphors like TIME IS MONEY or TIME IS SPACE, turn out to be mental constructions involving many spaces and many mappings in elaborate integration networks constructed by means of overarching general principles. These integration networks are far richer than the bundles of pairwise bindings considered in recent theories of metaphor." (FAUCONNIER; TURNER, 2008, p. 53).

Portanto, tais redes de integração são criadas a partir de vários espaços input e constituídas por estruturas convencionais e inovações; trata-se de um processo dinâmico denominado 'pavimentar e esculturar' ('cobbling e sculpting') pelos autores. Isto é, por um lado, culturas constroem redes que são transmitidas através das gerações no decorrer do tempo. Por outro lado, as pessoas são capazes de criar algo novo em qualquer contexto particular. Por isso, em redes de integração, encontramos partes convencionais, e também mapeamentos novos e as assim chamadas compressões, que surgem logo que topologias de espaços distintos se chocam. Nesse momento, a partir de processos de compressão e descompressão, na mesclagem, são criadas contrafactuais nas relações temporais, espaciais ou de identidade (FAUCONNIER; TURNER, 2003, p. 126-129).

As frases "Nosso casamento foi ontem. Para onde foram todos aqueles anos?" fornece um exemplo para tal (FAUCONNIER; TURNER, 2008, p. 63), como é demonstrado na FIG. 2. Em um primeiro nível, temos uma mesclagem entre input 1 'Eventos' (casamento) e input 2 'Tempo' (movimento experimentado através do espaço físico) que resulta no espaço mescla 'Metáfora da Estrutura do Evento' (nós passamos por um casamento como passamos por um parque), formando o novo input 1 que, com o input 2 'Longitude do Tempo Objetivamente Medido' (todos aqueles anos), choca com o input 3 'Experiência Subjetiva' (ontem). Por fim, esse novo espaço mescla forma o input 1, ao qual se acrescenta um input 2, formando, por sua vez, um espaço mescla como resultado da fusão entre 'Memória' e 'Espaço Físico', de modo que o resultado final consiste em vários espaços input de níveis diferentes, que podem ser ilustrados da seguinte forma:


Procedimento Metodológico

Para a realização do estudo, foi compilado um corpus com base em quatro gêneros distintos dentro de uma escala contínua que parte da oralidade à escrita:

1) entrevistas orais com 25 sujeitos em cada cultura (1 a 3 entrevistados por entrevista), resultando em um corpus de 15.926 palavras, no caso brasileiro, e 15.406 palavras, no caso alemão;

2) entrevistas escritas com 25 sujeitos em cada cultura, resultando em um corpus de 7.086 palavras, no caso brasileiro, e 7.625 palavras, no caso alemão;

3) artigos jornalísticos online que explicitamente tratam do assunto 'sociedade brasileira / alemã atual', pré-selecionados pela busca eletrônica, resultando em um corpus de 113.760 palavras, no caso brasileiro, e 102.455 palavras, no caso alemão;11 11 O corpus brasileiro abrange artigos de 2006-2008 dos jornais Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Estado de Minas, Jornal do Brasil e das revistas Veja, Carta Capital e Época. O corpus alemão compreende artigos de 2006-2008 dos jornais TAZ, DIE ZEIT, Frankfurter Rundschau, Die Welt e da revista DER SPIEGEL. Uma explicação das abreviações relacionadas às citações encontra-se no ANEXO.

4) cinco livros de não-ficção de cada cultura publicados entre 2005-2008, relacionados ao tema 'sociedade brasileira / alemã atual' e cuja seleção baseou-se nas listas de bestseller e sua discussão nos meios de comunicação relevantes.12 12 Livros brasileiros analisados: Leituras da Crise de Marilena Chaui, Leonardo Boff, João Pedro Stedile e Wanderley Guilherme dos Santos (2006), Brasil, um país do futuro? de João Paulo dos Reis Velloso e Roberto Cavalcanti de Alburquerque (2006), A Cabeça do Brasileiro de Alberto Carlos Almeida (2007), Brasil Contemporâneo. Crônicas de Um País Incógnito de Fernando Schüler e Gunter Axt (2006) e A Nova Sociedade Brasileira de Bernardo Sorj (2006). Livros alemães analisados: Was zur Wahl steht de Ulrich Beck (2005), Die Ausgeschlossenen. Das Ende vom Traum einer gerechten Gesellschaft de Heinz Bude (2008), Politische Milieus in Deutschland. Eine Studie der Friedrich-Ebert-Stiftung de Gero Neugebauer (2007), Deutschland. Der Abstieg eines Superstars de Gabor Steingart (2005) e Deutschland eine gespaltene Gesellschaft de Stephan Lessenich & Frank Nullemeier (2006).

Uma hipótese central que conduziu a escolha dos corpora foi que supomos que esse contínuo pudesse representar uma 'escala da convencionalidade' ('scale of conventionality') (KÖVECSES, 2002, p . 31; BECKMANN, 2001, p. 71-82), no que concerne a metáforas mais lexicalizadas nas entrevistas e também metáforas criativas ou inovativas nos artigos jornalísticos e livros em questão. Sendo assim, seria possível observar tendências que se desenvolvem nas respectivas culturas quanto ao surgimento, o desdobramento e a habitualização de certas metáforas-chave. O que faz com que nossa investigação parta de um macronível até um micronível de análise.

É nesse sentido que esboçamos os percursos de análise de nosso corpus. Em um primeiro momento, foram apenas contadas e categorizadas as expressões utilizadas metaforicamente. Para a identificação das metáforas, foi aplicado o método 'Pragglejaz' (STEEN, 2002; 2007, p. 88-91). Em um segundo momento, em um micronível, foram investigadas certas características metafóricas em seu contexto discursivo e cultural, contemplando também as mesclagens metafóricas. Nesse sentido, o estudo combina procedimentos quantitativos com qualitativos. A questão central de nossa reflexão na presente abordagem concentra-se exclusivamente nesse aspecto da mesclagem e nos resultados ligados a esse fenômeno, que foram trazidos à luz a partir da análise.

Redes de integração conceptuais no discurso sobre a sociedade

Mesclagem conceptual no nível de esquemas imagéticos

Em sua introdução à teoria conceptual da metáfora, Kövecses (2002, p. 36) distinge dois tipos de metáforas, as esquemáticas e aquelas que se baseiam em estruturas de conhecimento. Ele descreve o primeiro tipo como "metáfora de esquema imagético, na qual não são os elementos do conhecimento (como viajante, destino, obstáculos etc., no caso da VIAGEM) que são mapeados da fonte para o alvo, mas, sim, elementos conceptuais do esquema imagético".13 13 "image-schema metaphor, in which it is not conceptual elements of knowledge (like traveler, destination, obstacles, etc. in the case of JOURNEY) that get mapped from a source to a target, but conceptual elements of image-schemas." Tais esquemas são, por exemplo, DENTRO-FORA, EM FRENTE-ATRÁS, ACIMA-ABAIXO, CONTATO, MOVIMENTO ou FORÇA.

Em sintonia com o exposto, Baldauf (1997) distinge entre metáforas de esquemas imagéticos' e 'metáforas de constelação'. Nossa análise seguirá essa distinção principal proposta pelos autores supracitados. Com relação aos esquemas imagéticos, revelou-se que, no uso atual da linguagem, não tratamos simplesmente de esquemas imagéticos universais e estáticos conforme a visão tradicional (LAKOFF, 1987; JOHNSON, 1987), mas, sim, consideramos que tais esquemas são frequentemente compostos (KIMMEL, 2005, p. 289), construindo um cenário tanto vertical quanto horizontalmente comparável a um filme, no qual um esquema segue o anterior.

No que diz respeito ao número dos types e tokens dos esquemas imagéticos, observa-se na TAB. 1 os resultados quantitativos com relação ao total do corpus:14 14 Uma apresentação e discussão mais abrangente encontra-se em Schröder (2009a).

Para nossos objetivos, o que é de interesse, é a descoberta de que uma série de mesclagens de esquemas imagéticos representam 'redes de escopo duplo' nas quais cada input traz seu próprio frame para a fusão, o que é demonstrado na TAB. 2. Embora a Teoria da Mesclagem, como concebida por muitos autores, em primeiro lugar, enquadrasse a investigação de enunciações singulares e inovativas, a nosso ver, a teoria já poderia ser aplicada a esse uso entrincheirado de linguagem. Nisso, concomitantemente, o uso de tais 'metáforas misturadas' ('mixed metaphors') revela certas tendências de desenvolvimento, especialmente por esses cenários aparentemente não representarem casos singluares, mas, sim, elementos do discurso culturalmente cunhados. Sendo assim, no caso do corpus alemão, por exemplo, o conjunto dos esquemas imagéticos VERTICALIDADE, CONTÊINER e CAMINHO é muito saliente, como se observa na TAB. 2. Foram apenas contadas expressões nas quais há efeitos de simultaneidade, de modo que nascem composições nas quais os esquemas são misturados, gerando uma só imagem:

A partir da TAB. 2, observa-se que no corpus alemão, para todas as constelações de mesclagem, há ocorrências significativamente maiores do que no caso brasileiro. Nos dois corpora, é interessante notar o número de ocorrências para a mesclagem de VERTICALIDADE + CAMINHO. Nessa categoria, constitui-se uma série de expressões lexicalizadas como subir, descer, cair, elevador e degrau, no caso brasileiro, e escada (Leiter), degrau (Sprosse), rastejar para cima (hinauskriechen), subir para cima (aufsteigen), alpinar (klettern), cair (fallen), levantar (abheben), precipitar-se (abstürzen), descer (absteigen), escorregar (rutschen), morro abaixo (bergab), espiral (Spriale), turbilhão (Strudel), esteira (Sog), elevador (Fahrstuhl), no corpus alemão.

Destarte, a elaboração lexical para esse domínio já abrange o triplo de ocorrências no corpus alemão em comparação ao corpus brasileiro. Ao mesmo tempo, esse resultado aponta uma mudança paradigmática no discurso alemão sobre a própria sociedade que cada vez mais vem à tona desde o ínicio do assim chamado 'debate sobre as classes baixas' ('Unterschichtendebatte'), que surgiu no ano 2006 ao lado da discussão sobre a demolição do estado social e a desigualdade crescente: trata-se de uma revitalização do esquema da VERTICALIDADE (POR CIMA - POR BAIXO) em conexão com uma MUDANÇA DA DIREÇÃO (CAMINHO) no que tange à política alemã que, para muitos, introduziu o fim do modelo do estado social. Isso parece resultar em uma dinâmica forte dentro da 'pirâmide da sociedade', de modo que a percepção do estado atual da sociedade, para muitos alemães, é caracterizada por uma tendência negativa, aliás, 'para baixo', como é ilustrado pelos seguintes exemplos:

1) Uns cairam profundamente, outros nunca se levantaram19 19 Die einen sind tief gefallen, die anderen haben nie abgehoben. (Z32);

2) queda para as catacumbas da sociedade20 20 Abstieg in die Katakomben der Gesellschaft. (S2);

3) os degraus da escada, em geral, tornaram-se mais escorregadios. A queda parece possível em qualquer lugar21 21 die soziale Stufenleiter ist überhaupt glitschiger geworden. Der Absturz scheint von überall möglich. (BUDE, 2008, p. 33);

4) cair no turbilhão da espiral para baixo'22 22 in den Strudel einer‚ Abwärtsspirale' zu geraten. (LESSENICH et al., 2006, p. 35);

5) A sociedade alemã continua descendo riacho abaixo23 23 Die deutsche Gesellschaft geht immer weiter den Bach runter. (EoA10);

6) Uma nova "burguesia" poderia lançar uma ponte entre o superior e o inferior24 24 Ein neues "Bürgertum" würde eine Brücke zwischen oben und unten schlagen können. (NEUGEBAUER et al., 2007, p. 41).

Uma segunda imagem de orientação que cada vez mais vem sendo integrada no primeiro esquema do BAIXO e ALTO é a do CONTÊINER e CENTRO-PERIFERIA em conexão a CAMINHO:

7) Quem nasce dentro da parte baixa da sociedade, hoje, tem apenas poucas chances subir de lá no decorrer da sua vida25 25 Wer heute in den unteren Teil der Gesellschaft hineingeboren wird, hat nur wenige Chancen, dort im Laufe seines Lebens wieder herauszuklettern. (S8);

8) Melhor do que as oportunidade dos probres para ascender à classe média são as chances de ascensão da classe média para chegar ao topo. No mesmo período, aproximadamente 11% dos ocupados conseguiram o salto para as classes assalariadas superiores26 26 Besser als die Möglichkeiten der Armen, in die Mittelschicht zu klettern, sind die Aufstiegschancen der Mittelschichtler nach ganz oben. Rund elf Prozent der Beschäftigten schafften im gleichen Zeitraum den Sprung in die oberen Gehalts klassen. (Z12);

9) Há pressão nas margens, Hartz IV. Entrementes, faço parte daqueles que acham boa essa pressão, pela perspectiva sociopedagógica, enquanto aqueles que realmente necessitam do apoio estatal não caírem para fora do retículo27 27 Es gibt Druck auf die Ränder, Hartz IV. Ich gehör' mittlerweile zu denjenigen, die den Druck gut finden, sozialpädagogisch, solange diejenigen, die wirklich staatliche Unterstützung brauchen, nicht aus dem Raster fallen. (EoA5,1);

10) Imagina-se um processo de turbilhão que, pouco a pouco, integra domínios distintos e os puxa para a exclusão social através de um movimento rotativo28 28 Man stellt sich einen Prozeß des Strudelns vor, der nach und nach die verschiedenen Bereiche einbezieht und in einer rotierenden Bewegung ins soziale Aus zieht. (BUDE, 2008, p. 106).

Já nos livros alemães, preponderam as expressões ligadas ao esquema imagético CONTÊINER, em detrimento daquelas do esquema imagético VERTICALIDADE, com uma percentagem de 34,6% de todas as expressões pertencentes a esquemas imagéticos, o que corresponde à hipótese formulada anteriormente, a de que nos livros é mais provável que se encontrem metáforas mais inovativas e que revelem mudanças no discurso sobre a sociedade em geral. Isso também pode ser explicado pela proximidade àquelas disciplinas cuja tarefa principal é observar e descrever a socieade e suas mudanças. Portanto, muitas vezes, tais transposições semânticas também são explicitadas, como mostra o seguinte exemplo:

(11) O que essas observações e experiências diferentes têm em comum é que elas tratam da exclusão social: os excluídos que se exiliaram nas zonas da sociedade cansada, os excluídos que foram lançados para fora dos trilhos por causa de uma ruptura na sua carreia e os excluídos que surgem na esfera do consumo. A questão não é quem está por cima e quem está por baixo, mas, sim, quem está dentro e quem está fora. Essas pessoas sofrem com o desrespeito com que são tratadas e com a paralisia causada por um sentimento de inalteralidade e desespero. A sociologia criou um novo conceito para isso: não se trata mais apenas de desigualdade social, e nem de probreza material, mas, sim, de exclusão social29 29 Gemeinsam ist diesen verschiedenen Beobachtungen und Erfahrungen, daß sie vom sozialen Ausschluß handeln: die Ausgeschlossenen, die in den Bezirken der müden Gesellschaft exiliert sind, die Ausgeschlossenen, die von einem Knick in der Karriere aus der Bahn geworfen worden sind, und die Ausgeschlossenen, die in der Sphäre des Konsums auftauchen. Die Frage ist nicht, wer oben und wer unten, sondern wer drinnen und wer draußen ist. Diese Menschen leiden darunter, daß sie Mißachtung erfahren und daß sie vom Gefühl der Unabänderlichkeit und Aussichtslosigkeit gelähmt sind. Die Soziologie hat dafür einen neuen Begriff geprägt: Es geht nicht allein um soziale Ungleichheit, auch nicht nur um materielle Armut, sondern um soziale Exklusion. (BUDE, 2008, 13).

Dessa forma, os esquemas imagéticos compostos ilustrados nascem por processos complexos da mesclagem como redes de integração, nas quais espaços input distintos podem ser mesclados em um único espaço mescla, o que é ilustrado na FIG. 3, que reflete as possíveis sobreposições de esquemas imagéticos encontrados:


No corpus brasileiro, uma dinâmica comparável se encontra em apenas sete artigos jornalísticos, que recorrem todos a uma estatística publicada no início de 2008, em que se afirma um crescimento da classe média pela melhoria de condições salariais de uma parte da antiga classe baixa. Apesar disso, os esquemas imagéticos brasileiros permanecem com mais frequência estáticos, em oposição ao corpus alemão. Em parte, aponta-se explicitamente para o fato de a sociedade brasileira não ter se modificado tanto, de modo que CONTÊINER ou VERTICALIDADE e mesmo CAMINHO, algumas vezes, são até esboçados conscientemente como modelos imóveis ou sem direção:

12) Quem está dentro não sai, quem está fora não entra (V1);

13) o negro conhece o seu lugar (ALMEIDA, 2007, p. 231);

14) fazendo a sociedade permanecer no ciclo vicioso do apadrinhamento e se contentando com migalhas (ESP6);

15) Ela [a sociedade] ainda tá rodando círculo e não se achou (EoB4,1);

16) [a sociedade] vive num fluxo que leva de nada para lugar nenhum (EoB4,2).

Mesclagem Conceptual no nível de metáforas complexas

A Teoria da Mesclagem é de grande utilidade quando se trata da reconstrução de feixes complexos de metáforas - também denominados 'metáforas misturadas' ('mixed metaphors') (LAKOFF; JOHNSON, 1980, p. 95) ou 'metáforas compostas' ('composite metaphors') (LAKOFF; TURNER, 1989, p. 70).

Procuramos começar com dois exemplos do corpus brasileiro que vão além do mero nível oracional, assumindo um caráter narrativo. A seguinte alegoria, que procura explicar ao leitor da Folha de S. Paulo o processo difícil da democratização da sociedade brasileira, serve a fins didático-morais, por fazer da ideia abstrata da democracia uma narração viva e, destarte, compreensível. Nisso, o autor oscila simultaneamente entre um nível abstrato e um nível concreto, integralizando mais do que apenas uma imagem singular:

17) A democracia no Brasil ainda passa por um natural processo de amadurecimento e, como uma planta tenra, necessita de cuidados especiais por parte dos diversos segmentos da sociedade, de forma a crescer e consolidar suas bases de sustentação, oferecendo saudáveis frutos a todos que se abrigam sob sua sombra protetora e acolhedora (FSP5).

À primeira vista, trata-se do domínio fonte simples PLANTA e do domínio alvo DEMOCRACIA BRASILEIRA. Não obstante, a narração é construida de modo a ativar, concomitantemente, a partir da polissemia das palavras amadurecimento, cuidados, crescer, frutos, sustentação, abrigam e protetora, subconscientemente outro domínio - CRIANÇA A SER CRIADA - efeito obtido pela alta densidade de tais lexemas e pela frase oferecendo suadáveis frutos a todos que se abrigam sob sua sombra protetora e acolhedora, pois é nessa frase que a planta se torna protetora e fornecedora de alimentos ao mesmo tempo. Finalmente, há mais um domínio introduzido pelos lexemas consolidar suas bases e sustentação: EDIFÍCIO. Não há colisões, uma vez que a ideia-chave retirada de todos os domínios é a do DEVENVOLVIMENTO ou da CONSTRUÇÃO, o que fornece coerência ao espaço mescla.

Essa coerência que surge na mesclagem é fundamental para o próprio ato de fala realizado pelo autor, uma vez que o que está no primeiro plano é a intenção didática de explicar ao leitor como ele deveria imaginar a democracia brasileira. De acordo com isso, colisões do tipo como vimos anteriormente seriam embaraçosas. A interface ou compatibilidade entre os três espaços input concretos é, por conseguinte, muito alta, o que também se reflete na FIG. 4:


No segundo cenário, em um primeiro nível, percebe-se a compreessão da existência de categorias étnicas no Brasil na imagem de uma seringa de veneno resultando em racismo. Nisso, a imagem em sua totalidade é animada simultaneamente por uma personificação, o que dá complexidade ao cenário inteiro:

18) A fabricação de "raças oficiais" e a distribuição seletiva de privilégios segundo rótulos de raça inocula na circulação sanguínea da sociedade o veneno do racismo, com seu cortejo de rancores e ódios (FSP30).

O quadro discursivo é formado pela discussão sobre a introdução de cotas nas faculdades. A primeira mesclagem consiste na fabricação de categorias étnicas; todavia, há um agente no pano de fundo indicado pelas substantivações distribuição e fabricação. Os rótulos apontam o produto final do processo da fabricação quando os produtos recebem uma etiqueta, nesse caso, as categorias raciais. Essa mesclagem serve como base para um novo input que, com o input da seringa de veneno, forma o espaço mescla CATEGORIAS ÉTNICAS COMO VENENO EM UMA SERINGA.

Não obstante, surge agora um elemento novo que não se encontra nos espaços input: o RACISMO. Fauconnier e Turner (2003, p. 43, 48) falam de 'acabamento' ('completion') e referem-se à observação de que na mesclagem, frequentemente e subconscientemente, outras estruturas são acrescentadas, oriundas do conhecimento cultural de uma comunidade de fala. Brandt e Brandt (2005) focalizam esse aspecto, pouco aprofundado por Fauconnier e Turner na teoria das redes semióticas como versão ampliada da Teoria da Mesclagem.

De acordo com os teóricos, essas estruturas inconscientes que entram na mesclagem representam até um input próprio, um esquema ético, a que eles mesmos denominam de 'espaço de relevância' ('relevance space'), uma vez que indicam certa intenção do locutor: "a rede dos espaços que é ativa no processo da produção metafórica tem propriedades semióticas inerentes. A mescla é um signo."30 30 "the network of spaces that is active in the process of metaphor production has inherent semiotic properties. The blend is a sign." (BRANDT; BRANDT, 2005, p. 245). Com isso, Brandt e Brandt enfatizam o processo da comunicação em si, no qual, em nível pragmático, para realizar o cenário mesclado inteiro, o interlocutor deveria construir inferências por conta própria com base em seu próprio conhecimento de mundo e em suas próprias convenções de enquadramento (framing).

A segunda mesclagem apresenta um processo metonímico no qual a sociedade brasileira - percebida como um grupo de pessoas - é comprimida em uma pessoa só. Ora, as mesclagens 'sociedade como pessoa' e 'seringa com veneno de racismo' são integradas na imagem da sociedade como organismo, em cuja circulação sanguínea o veneno do racismo é inoculado. Ademais, uma vez que rancores e ódios são atributos que se aplicam exclusivamente a seres humanos, a personificação da sociedade é significativamente reforçada. Porém,

o agente continua opaco, pois as substantivações (fabricação e distribuição) e objetivações (rótulos de raça) ocupam o lugar do sujeito da frase, causando um "empurrão do sujeito com desaparecimento do AGENTE"31 31 "Subjektschub mit AGENS-Schwund." (POLENZ, 1988, p. 186). A despeito do primeiro exemplo, a mesclagem metafórica assume agora uma função argumentativa de modo que se precisa acrescentar o espaço input da relevância como esquema ético:

Ora, convém salientar que até esses dois exemplos particulares podem ser interpretados em contexto cultural. A preferência de metáforas ligadas à natureza (FLORA, PAISAGEM) como no primeiro exemplo e também a personificação e sua especificação na percepção da própria sociedade como infetada ou infantil já se encontra no nível das metáforas da constelação simples:

a percentagem da variação dos types da personificação no total das expressões metafóricas é 25,5% no corpus brasileiro, contra 13,7% no corpus alemão. Enquanto os dois corpora DOENÇA e FAMÍLIA representam domínios fonte frequentes para mapeamentos metafóricos, o domínio FLORA, com uma variação dos types, é destacado no corpus brasileiro com 9% contra apenas 5,4% no corpus alemão (SCHRÖDER, 2009a). Mesclagens que integram cenários com input complexos originados nos domínios mencionados, desenvolvendo a ideia fundamental da sociedade como organismo, foram encontradas 12 vezes no corpus brasileiro e três vezes no corpus alemão. Destarte, a mesclagem ilustrada na FIG. 5 pode ser vista como um caso prototípico:


No corpus brasileiro predominam mesclagens com imagens muito comprimidas e imaginativas, ao passo que, no corpus alemão, mais frequentemente, observam-se mesclagens de imagens com uma dinâmica de movimentação, o que atribui aos cenários mais características topológicas e acionais:

19) "central é o medo de ser infectado pelo bacilo da desagregação, da dependência e da apatia. É com esse medo que os incluídos enfrentam os excluídos. É a imagem de pobres passivos, de vagabundos hostis e de existências que desistiram de agir, é essa imagem que importuna as pessoas no centro da nossa sociedade."32 32 "wesentlich ist die Angst, vom Bazillus des Verfalls, der Abhängigkeit und der Apathie infiziert zu werden, mit der die Einbezogenen den Ausgeschlossenen begegnen. Es ist das Bild passiver Armer, feindseliger Herumtreiber und sich selbst aufgebender Existenzen, das die Leute in der Mitte unserer Gesellschaft bedrängt." (BUDE, 2008, p. 116).

Mesclagens desse tipo são características de enunciações em discursos aos quais se impõe uma certa metáfora de orientação ou direção, o que se observa na FIG. 6. Nesse caso, trata-se da metáfora da sociedade como CONTÊINER, do qual são excluídos cada vez mais pessoas. Esse motivo principal pode ser visto como fio condutor da abordagem do livro de BUDE (2008): 51,4% dos esquemas imagéticos vêm do domínio CONTÊINER. Aqui, esse esquema ganha um perfil mais concreto, pelo acréscimo da imagem do BACILO, que desperta a associação com PACIENTE DÉBIL psiquicamente e da imagem da OBSERVAÇÃO dos EXCLUÍDOS pelos INCLUÍDOS, que constroem uma certa IMAGEM daqueles LÁ FORA.


A introdução dessa metaperspectiva relativista - o autor fala sobre uma imagem que um certo grupo de pessoas cria sobre outras pessoas - tem como consequência o fato de o autor se distanciar explicitamente dessa imagem, que é justamente apenas uma imagem, e não a realidade. Mais uma vez, o efeito surge por meio do acréscimo do espaço de relevância, que junta conhecimento de pano de fundo à mesclagem, o que se reflete em certos estereótipos que são vistos na analogização de bacilo com vagabundos hostis e existências que desistiram de agir. Tais metaníveis autorreflexivos e a metáfora da OBSERVAÇÃO, muitas vezes associada a tais cenários, parecem representar um fenômeno específico da cultura alemã.

Já no nível da metáfora conceptual, no corpus alemão, há 23 lexemas diferentes, ligados ao domínio OBSERVAÇÃO; ao contrário do corpus brasileiro, que contém apenas cinco lexemas.

No segundo exemplo, exposto na FIG. 7, percebe-se uma referência mais oculta com relação ao nível do esquema imagético, embora o cenário inteiro seja composto perante o pano de fundo do esquema CAMINHO:


(20) o veneno da esquerda, da igualdade e justiça paralisaria energias criativas e jogaria a Alemanha para os últimos lugares na roleta pelo melhor local33 33 das linke Gift von Gleichheit und Gerechtigkeit lähme kreative Energien und werfe Deutschland im Standort-Roulette auf hintere Plätze zurück. (Z8).

Uma semântica recorrente no discurso alemão atual sobre a própria sociedade é a dicotomia VENCEDOR / VENCIDO, surgindo no contexto e cotexto JOGO / COMPETIÇÃO como domínio fonte. De acordo com isso, a análise quantiativa já revelou uma discrepância incisiva entre os corpora brasileiro e alemão: 12,3% dos tokens alemães do total das expressões das metáforas da constelação originam-se desse domínio, ao passo que no corpus brasileiro são apenas 1,9%, isto é, nem um sexto do número alemão. Não somente a metáfora em si mas também o argumento como um todo é conhecido, pois o autor se distancia da proposição pelo uso consciente do conjuntivo no presente (paralise/lähme, jogue/werfe) como indicador do discurso indireto. Além disso, opõe-se a essa imagem conhecida outra, para destruir essa argumentação estereotipada por meio da metáfora da roleta, que introduz o aspecto do acaso, pelo qual é negada a controlabilidade do desenvolvimento positivo da sociedade por uma mera flexibilização da economia. Aqui também essas estruturas sutis e emergentes podem ser visualizadas apenas por meio de uma introdução de um espaço de relevância, para considerar a intenção comunicativa do autor e o trabalho interpretativo do leitor. Nisso, um esquema ético, que etiqueta as ações dos agentes como éticas ou antiéticas é ativado, o que é entendido apenas implicitamente. Na mesclagem analisada, o autor opõe o valor da vida de cada pessoa ao jogo da economia, uma vez que a direção que a sociedade tomará depende apenas dos interesses particulares de seus envolvidos.

Conclusão

Com base em um corpus de quatro genêros textuais distintos, investigouse quais seriam as diferenças entre os corpora brasileiro e alemão, no que concerne a construção metafórica da sociedade. Dentro desse estudo mais amplo, nossa abordagem teve como objetivo específico a investigação do conjunto de metáforas distintas em redes de integração e seu cunho cultural, contextual e discursivo.

Concomitantemente, nossa atenção dirigiu-se ao surgimento, ao desdobramneto e à habitualização de certos tipos de mesclagens que vêm à tona especialmente no caso dos esquemas imagéticos. Assim, no corpus alemão, observou-se uma tendência significativamente maior a esquemas imagéticos compostos e dinamizados, fenômeno que pode ser explicado por meio de uma série de transformações reais que a sociedade alemã enfrentou recentemente. Com o uso frequente de certas expressões metafóricas em novos contextos, no nível cognitivo, certos esquemas ganham importância crescente.

Por meio de quatro cenários, foi ilustrado como mesclagens semióticas, nas quais espaços input se tornam signos, adquirem relevância semânticopragmática contextualmente específica em construções online. No corpus brasileiro, puderam ser descobertas mais mesclagens, implicando uma plasticidade maior, efeito obtido, por exemplo, por uma tendência forte a personificações, tendo apresentado, por outro lado, menos esquemas imagéticos. Esses, por sua vez, pareceram estar mais presentes no corpus alemão, no qual aspectos figurativos e dinâmicos acerca da movimentação atuam em conjunto. Nesse sentido, discutiu-se a possibilidade de tal fenômeno ser interpretado à luz da discussão sobre uma sociedade em transformação radical, impregnada pela preocupação dos alemães com relação ao declínio do estado social.

A ampliação da Teoria da Mesclagem por fatores semióticos como o 'espaço de relevância', encaixando as redes de integração em uma situação comunicativa, que inclui locutores com intenções e interlocutores com tarefas interpretativas, mostrou-se imprescindível para que se possa compreender o caráter contextual e cultural das redes de integração.

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VELLOSO, J. P.; CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, R. Brasil, um país do futuro? Rio de Janeiro: José Olympio, 2006. p. 154.

Anexo

Abreviações

Z8 DIE ZEIT: Der große Ausverkauf, 27.03.2008. Z12 DIE ZEIT: Die Angst geht um, 5.03.2008. Z32 DIE ZEIT, Die neue Unterschicht, 10.3.2006. S2 DER SPIEGEL: Die Überflüssigen, 23.10.2006. S8 DER SPIEGEL: Der große Graben, 17.12.2007. EoA5,1 Entrevista oral Alemanha: masculino, 32 anos, pedagogo social. EoA10 Entrevista oral Alemanha: feminino, 36 anos, desempregada. EeA4 Entrevista escrita Alemanha: masculino, 26 anos, estudante de engenharia ambiental. V1 Veja: Congelaram a Classe Média, 20.12.2006. ESP3 Estado de S. Paulo: As pirâmides perpétuas de Faoro, 25.01.2008. ESP6 Estado de S. Paulo: Brasil, junção de três rios, 18.05.2008. FSP20 Folha de S. Paulo: Fim da mobilidade social ajudou Lula, 30.12.2006. FSP5 Folha de S. Paulo: O grito dos necessitados, 6.11.2006. FSP30 Folha de S. Paulo: Cidadãos anti-racistas contra as leis raciais, 14.05.2008. EoB4,1 Entrevista oral Brasil: masculino, 25 anos, cantor (MC). EoB4,2 Entrevista oral Brasil: masculino, 30 anos, produtor musical. EeB9 Entrevista escrita Brasilien: masculino, 24 anos, estudante de engenharia.

Recebido em outubro de 2009.

Aprovado em março de 2010.

3 "overlaps in the metaphors."

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  • 1
    "cross-domain mapping in the conceptual system."
  • 2
    Uma introdução à teoria de Lakoff e Johnson em português é dada por Feltes (2007).
  • 4
    "We will be
    going deeply into a variety of topics."
  • 5
    Nesse momento, os autores ainda não distingem de modo nítido entre
    image schemas ou
    primary metaphors e
    structural metaphors ou
    complex metaphors como fazem mais tarde (LAKOFF; JOHNSON, 1999, p. 45-73).
  • 6
    "tip of the iceberg."
  • 7
    "it [blending] consists in integrating partial structures from two separate domains into a single structure with emergent properties within a third domain."
  • 8
    Uma introdução geral à teoria de Fauconnier e Turner em português encontra-se em Azevedo (2006).
  • 9
    "kurzum: ich ziehe nicht nur das Bild in die Sphäre des Sachgegenstandes, sondern auch die Sache in die Sphäre des Bildes hinein. Es findet ein Austausch der Merkmale, eine Vereinigung der beiderseitigen Sphären, eine Verschmelzung von Bild und Sache statt."
  • 10
    "Conceptual products are never the result of a single mapping. What we have come to call conceptual metaphors like TIME IS MONEY or TIME IS SPACE, turn out to be mental constructions involving many spaces and many mappings in elaborate integration networks constructed by means of overarching general principles. These integration networks are far richer than the bundles of pairwise bindings considered in recent theories of metaphor."
  • 11
    O
    corpus brasileiro abrange artigos de 2006-2008 dos jornais
    Folha de S. Paulo,
    Estado de S. Paulo,
    Estado de Minas,
    Jornal do Brasil e das revistas
    Veja,
    Carta Capital e
    Época. O
    corpus alemão compreende artigos de 2006-2008 dos jornais
    TAZ,
    DIE ZEIT,
    Frankfurter Rundschau,
    Die Welt e da revista
    DER SPIEGEL. Uma explicação das abreviações relacionadas às citações encontra-se no ANEXO.
  • 12
    Livros brasileiros analisados:
    Leituras da Crise de Marilena Chaui, Leonardo Boff, João Pedro Stedile e Wanderley Guilherme dos Santos (2006),
    Brasil, um país do futuro? de João Paulo dos Reis Velloso e Roberto Cavalcanti de Alburquerque (2006),
    A Cabeça do Brasileiro de Alberto Carlos Almeida (2007),
    Brasil Contemporâneo. Crônicas de Um País Incógnito de Fernando Schüler e Gunter Axt (2006) e
    A Nova Sociedade Brasileira de Bernardo Sorj (2006). Livros alemães analisados:
    Was zur Wahl steht de Ulrich Beck (2005),
    Die Ausgeschlossenen. Das Ende vom Traum einer gerechten Gesellschaft de Heinz Bude (2008),
    Politische Milieus in Deutschland. Eine Studie der Friedrich-Ebert-Stiftung de Gero Neugebauer (2007),
    Deutschland. Der Abstieg eines Superstars de Gabor Steingart (2005) e
    Deutschland eine gespaltene Gesellschaft de Stephan Lessenich & Frank Nullemeier (2006).
  • 13
    "image-schema metaphor, in which it is not conceptual elements of knowledge (like traveler, destination, obstacles, etc. in the case of JOURNEY) that get mapped from a source to a target, but conceptual elements of image-schemas."
  • 14
    Uma apresentação e discussão mais abrangente encontra-se em Schröder (2009a).
  • 15
    Während der
    Weg von der
    Unterschicht zur Mittelschicht weitgehend
    versperrt ist,
    rutschten zwischen 2000 und 2006 rund 13 Prozent aller Beschäftigten in die
    unteren Einkommensklassen.
  • 16
    Ich hoffe, dass sich die Gesellschaft in eine europäische
    Richtung zu
    öffnen vermag.
  • 17
    Die
    Schere zwischen denen, die
    drinnen, und denen, die
    draußen sind, geht zuverlässig
    auseinande.
  • 18
    Er schildert seinen
    Weg aus der Mitte der Arbeit und der
    Mitte der Gesellschaft
    an
    den Rand und immer
    tiefer nach unten.
  • 19
    Die einen sind
    tief gefallen, die anderen haben nie
    abgehoben.
  • 20
    Abstieg in die Katakomben der Gesellschaft.
  • 21
    die soziale
    Stufenleiter ist überhaupt
    glitschiger geworden. Der
    Absturz scheint von überall möglich.
  • 22
    in den Strudel einer‚ Abwärtsspirale' zu geraten.
  • 23
    Die deutsche Gesellschaft
    geht immer weiter
    den Bach runter.
  • 24
    Ein neues "Bürgertum" würde eine
    Brücke zwischen oben und unten schlagen können.
  • 25
    Wer heute
    in den
    unteren Teil der Gesellschaft
    hineingeboren wird, hat nur wenige Chancen, dort im Laufe seines Lebens wieder
    herauszuklettern.
  • 26
    Besser als die Möglichkeiten der Armen,
    in die Mittelschicht zu
    klettern, sind die
    Aufstiegschancen der
    Mittelschichtler nach ganz oben. Rund elf Prozent der Beschäftigten schafften im gleichen Zeitraum den
    Sprung in die oberen Gehalts
    klassen.
  • 27
    Es gibt
    Druck auf die
    Ränder, Hartz IV. Ich gehör' mittlerweile zu denjenigen, die den
    Druck gut finden, sozialpädagogisch, solange diejenigen, die wirklich staatliche Unterstützung brauchen, nicht
    aus dem Raster fallen.
  • 28
    Man stellt sich einen Prozeß des
    Strudelns vor, der nach und nach die verschiedenen Bereiche einbezieht und in einer
    rotierenden Bewegung ins soziale
    Aus zieht.
  • 29
    Gemeinsam ist diesen verschiedenen Beobachtungen und Erfahrungen, daß sie vom sozialen
    Ausschluß handeln: die
    Ausgeschlossenen,
    die in den Bezirken der müden Gesellschaft
    exiliert sind, die
    Ausgeschlossenen, die von einem Knick in der
    Karriere aus der Bahn geworfen worden sind, und die
    Ausgeschlossenen, die
    in der Sphäre des Konsums auftauchen. Die Frage ist nicht, wer
    oben und wer
    unten, sondern wer
    drinnen und wer
    draußen ist. Diese Menschen leiden darunter, daß sie Mißachtung erfahren und daß sie vom Gefühl der Unabänderlichkeit und Aussichtslosigkeit gelähmt sind. Die Soziologie hat dafür einen neuen Begriff geprägt: Es geht nicht allein um soziale Ungleichheit, auch nicht nur um materielle Armut, sondern um soziale
    Exklusion.
  • 30
    "the network of spaces that is active in the process of metaphor production has inherent semiotic properties. The blend is a sign."
  • 31
    "Subjektschub mit AGENS-Schwund."
  • 32
    "wesentlich ist die Angst, vom
    Bazillus des Verfalls, der Abhängigkeit und der
    Apathie infiziert zu werden, mit der die
    Einbezogenen den
    Ausgeschlossenen begegnen. Es ist das
    Bild passiver Armer, feindseliger Herumtreiber und sich selbst aufgebender Existenzen, das die Leute
    in der Mitte unserer Gesellschaft
    bedrängt."
  • 33
    das
    linke Gift von Gleichheit und Gerechtigkeit
    lähme kreative Energien und
    werfe Deutschland im
    Standort-Roulette auf hintere Plätze zurück.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Mar 2011
    • Data do Fascículo
      2010
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