Acessibilidade / Reportar erro

Técnica do túnel femoral transtibial na reconstrução do LCA e incidência de osteoartrite

Resumo

Objetivo:

Avaliar a incidência de osteoartrite em pacientes submetidos à reconstrução do LCA pela técnica transtibial, com seguimento mínimo de 5 anos, com lesão isolada do LCA.

Métodos:

Pacientes que passaram por reconstrução LCA pelo mesmo cirurgião usando a técnica transtibial com enxerto de tendão dos músculos isquiotibiais e que foram acompanhados por no mínimo 5 anos, sem outras lesões durante o procedimento cirúrgico, foram selecionados para realizar exames de imagem do joelho operado a fim de avaliar a incidência de osteoartrite. Os dados obtidos foram avaliados por meio de estatísticas descritivas..

Resultados:

Foram avaliados 42 pacientes (44 joelhos), com idade média de 31 anos (DP: 8), sendo 23 joelhos direitos e 28 pacientes do sexo masculino. O tempo médio entre a cirurgia e a avaliação por imagem foi de 94,1 meses (variando de 60 a 154 meses; DP: 28). Dos joelhos avaliados, 37 não apresentavam osteoartrite (83,3%) e 7 apresentavam (16,7%).

Conclusão:

A reconstrução do LCA com túnel femoral realizado por meio da técnica transtibial em pacientes sem outras lesões associadas no joelho operado, utilizando enxerto dos tendões isquiotibiais, com um acompanhamento mínimo de 5 anos, apresentou uma incidência de osteoartrite de 16,7% em um acompanhamento médio de 94,1 meses.

Level of Evidence V; Case Series.

Nível de Evidência V; Série de casos

Palavras-chave
reconstrução do ligamento cruzado anterior; anatomia; osteoartrite; diagnóstico por imagem

Abstract

Objective:

Evaluate osteoarthritis incidence in patients that undergone ACL reconstruction using the transtibial technique, with a minimum of 5 years of follow up, with isolated ACL injury.

Methods:

Patients who underwent ACL reconstruction by the same surgeon using the transtibial technique with hamstrings graft and with a minimum of 5 years of follow-up, without other injuries during the surgical procedure, were selected to undergo imaging exams of the operated knee to assess the incidence of osteoarthritis. The obtained data were evaluated by descriptive statistics.

Results:

Forty-two patients (44 knees) were evaluated, with a mean age of 31 years old (SD: 8), being 23 right knees and 28 male patients. Mean time from surgery to imaging evaluation was 94.1 months (ranging from 60 to 154 months; SD: 28). Of the evaluated knees, 37 did not have osteoarthritis (83.3%) and 7 had (16.7%).

Conclusion:

ACL reconstruction with femoral tunnel performed through the transtibial technique in patients without other associated injuries in the operated knee, using hamstrings graft, with a minimum of 5 years of follow up, showed an osteoarthritis incidence of 16.7% in a mean follow-up of 94.1 months.

Level Of Evidence V; Case Series.

Keywords
anterior cruciate ligament reconstruction; anatomy; osteoarthritis; diagnostic imaging

Introdução

A posição do túnel femoral na reconstrução do Ligamento Cruzado Anterior (LCA) é um fator que pode afetar a biomecânica e a cinemática do joelho.11 Minguell J, Nuñez JH, Reverte-Vinaixa MM, Sallent A, Gargallo-Margarit A, Castellet E. Femoral tunnel position in chronic anterior cruciate ligament rupture reconstruction: randomized controlled trial comparing anatomic, biomechanical and clinical outcomes. Eur J Orthop Surg Traumatol 2019;29(07):1501–1509 A técnica transtibial para a realização deste túnel tem sido historicamente utilizada, mas questiona-se se esta técnica é realmente capaz de restaurar a posição anatômica do ligamento original.22 Kopf S, Forsythe B, Wong AK, Tashman S, Irrgang JJ, Fu FH. Transtibial ACL reconstruction technique fails to position drill tunnels anatomically in vivo 3D CT study. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc 2012;20(11):2200–2207,33 Yau WP, Fok AWM, Yee DKH. Tunnel positions in transportal versus transtibial anterior cruciate ligament reconstruction: a case-control magnetic resonance imaging study. Arthroscopy 2013;29(06):1047–1052 A colocação incorreta do túnel pode levar à instabilidade, ocasionando novas lesões, acelerando o aparecimento da osteoartrite.44 Pinczewski LA, Lyman J, Salmon LJ, Russell VJ, Roe J, Linklater J. A 10-year comparison of anterior cruciate ligament reconstructions with hamstring tendon and patellar tendon autograft: a controlled, prospective trial. Am J Sports Med 2007;35(04):564–574

Isso levou ao desenvolvimento da técnica anatômica para a realização do túnel femoral. A literatura mostra que esta abordagem pode resultar em posicionamento mais preciso do enxerto, maior estabilidade do joelho e melhores resultados funcionais quando comparada à técnica transtibial.55 Alentorn-Geli E, Samitier G, Alvarez P, Steinbacher G, Cugat R. Anteromedial portal versus transtibial drilling techniques in ACL reconstruction: a blinded cross-sectional study at two- to fiveyear follow-up. Int Orthop 2010;34(05):747–75466 Chalmers PN, Mall NA, Cole BJ, Verma NN, Bush-Joseph CA, Bach BR Jr. Anteromedial versus transtibial tunnel drilling in anterior cruciate ligament reconstructions: a systematic review. Arthroscopy 2013;29(07):1235–1242,77 Chen Y, Chua KHZ, Singh A, et al. Outcome of single-bundle hamstring anterior cruciate ligament reconstruction using the anteromedial versus the transtibial technique: a systematic review and metaanalysis. Arthroscopy 2015;31(09):1784–1794,88 Franceschi F, Papalia R, Rizzello G, Del Buono A,Maffulli N, Denaro V. Anteromedial portal versus transtibial drilling techniques in anterior cruciate ligament reconstruction: any clinical relevance? A retrospective comparative study. Arthroscopy 2013;29(08):1330–1337,99 Song EK, Kim SK, Lim HA, Seon JK. Comparisons of tunnel-graft angle and tunnel length and position between transtibial and transportal techniques in anterior cruciate ligament reconstruction. Int Orthop 2014;38(11):2357–2362,1010 Wang H, Fleischli JE, Zheng NN. Transtibial versus anteromedial portal technique in single-bundle anterior cruciate ligament reconstruction: outcomes of knee joint kinematics during walking. Am J Sports Med 2013;41(08):1847–1856 Porém, outros estudos não chegam à mesma conclusão, com resultados semelhantes entre as duas técnicas.11 Minguell J, Nuñez JH, Reverte-Vinaixa MM, Sallent A, Gargallo-Margarit A, Castellet E. Femoral tunnel position in chronic anterior cruciate ligament rupture reconstruction: randomized controlled trial comparing anatomic, biomechanical and clinical outcomes. Eur J Orthop Surg Traumatol 2019;29(07):1501–1509,66 Chalmers PN, Mall NA, Cole BJ, Verma NN, Bush-Joseph CA, Bach BR Jr. Anteromedial versus transtibial tunnel drilling in anterior cruciate ligament reconstructions: a systematic review. Arthroscopy 2013;29(07):1235–1242,88 Franceschi F, Papalia R, Rizzello G, Del Buono A,Maffulli N, Denaro V. Anteromedial portal versus transtibial drilling techniques in anterior cruciate ligament reconstruction: any clinical relevance? A retrospective comparative study. Arthroscopy 2013;29(08):1330–1337,1111 Cuzzolin M, Previtali D, Delcogliano M, Filardo G, Candrian C, Grassi A. Independent Versus Transtibial Drilling in Anterior Cruciate Ligament Reconstruction: A Meta-analysis With Meta-regression. Orthop J Sports Med 2021;9(07):2325967121 1015616

Uma metanálise recente mostrou que a técnica transtibial está associada a uma maior incidência de osteoartrite de joelho após 5 anos de acompanhamento, mas pacientes com lesões meniscais ou condrais não foram excluídos, o que é um grande viés.1212 Cinque ME, Kunze KN, Williams BT, Moatshe G, LaPrade RF, Chahla J. Higher incidence of radiographic posttraumatic osteoarthritis with transtibial femoral tunnel positioning compared with anteromedial femoral tunnel positioning during anterior cruciate ligament reconstruction. A systematic review and metaanalysis. Am J Sports Med 2022;50(01):255–263 Outros autores citam que os principais fatores associados à osteoartrite após lesão do LCA e cirurgia de reconstrução seriam a intensidade do trauma original e a presença de lesões meniscais ou condrais associadas.11 Minguell J, Nuñez JH, Reverte-Vinaixa MM, Sallent A, Gargallo-Margarit A, Castellet E. Femoral tunnel position in chronic anterior cruciate ligament rupture reconstruction: randomized controlled trial comparing anatomic, biomechanical and clinical outcomes. Eur J Orthop Surg Traumatol 2019;29(07):1501–1509,1313 Grassi A, Pizza N, Al-Zu’bi BBH, Fabbro GD, Lucidi GA, Zaffagnini S. Clinical outcomes and osteoarthritis at very long-term follow-up after acl reconstruction. A systematic review and meta-analysis. Orthop J Sports Med 2022;10(01):23259671211062238,1414 Cinque ME, Dornan GJ, Chahla J,Moatshe G, LaPrade RF. High rates of osteoarthritis develop after anterior cruciate ligament surgery: an analysis of 4108 patients. Am J Sports Med 2018;46(08): 2011–2019,1515 Grassi A, Di Paolo S, Dal Fabbro G, et al. Objective laxity and subjective outcomes are more influenced by meniscal treatment than anterior cruciate ligament reconstruction technique at minimum2 years of follow-up. J ISAKOS 2022;7(04):54–59

Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a incidência de osteoartrite de joelho em pacientes submetidos à reconstrução do LCA com túnel femoral realizado pela técnica transtibial, com acompanhamento mínimo de 5 anos, sem lesões associadas no joelho no dia da cirurgia.

Material e métodos

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituição, vinculado à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CAAE50743821.1.0000.5696). Foram selecionados pacientes de uma clínica privada submetidos à reconstrução do LCA pela técnica transtibial, com enxerto de isquiotibiais, e com pelo menos 5 anos de seguimento, sem qualquer lesão associada ao joelho operado no dia da cirurgia. Todos os pacientes foram operados pelo mesmo cirurgião. Os pacientes foram convidados a realizar radiografias do joelho operado para avaliar a presença de osteoartrite.

Todos os pacientes incluídos no estudo assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Foram excluídos os pacientes que tiveram impossibilidade de contato e/ou realização das imagens, recusaram participar do estudo, foram submetidos à revisão da reconstrução do LCA ou outra reconstrução ligamentar do joelho afetado e à cirurgia meniscal ou condral com mais de 1 ano de acompanhamento.

O exame de imagem realizado foi o Raio X (incidência antero-posterior; Rosenberg; e perfil). Foi utilizada a classificação radiográfica de osteoartrite de Kellgren & Lawrence (KL). A classificação grau I já foi considerada como presença de osteoartrite, corroborada por achados degenerativos na ressonância magnética. Apenas os casos de osteoartrite KL grau I foram submetidos a exame de ressonância para confirmar a presença de sinais degenerativos. Os exames de imagem foram avaliados por dois cirurgiões ortopédicos.

Os resultados obtidos foram analisados por estatística descritiva simples, ou seja, obtendo-se o percentual de pacientes com osteoartrite entre os analisados. Os pacientes também foram divididos em 2 grupos: entre 5 e 10 anos de cirurgia e com mais de 10 anos.

Técnica Cirúrgica:

Os pacientes foram operados sob raquianestesia. Após preparação adequada do membro, foi feita uma incisão longitudinal de 3 cm sobre a inserção dos isquiotibiais na face medial da tibia proximal. Os tendões semitendíneo e grácil foram colhidos e preparados deforma quádrupla. Em seguida, foi aplicado um torniquete na região proximal da coxa. Posteriormente, foi realizada artroscopia através de portais padrão para inspeção articular e preparo para reconstrução do LCA.

O guia de extensão de Howell foi utilizado para criar o túnel tibial, aplicando uma inclinação do plano coronal que permite a colocação do túnel femoral na inserção anatômica do LCA. (►Figs. 1 e 2) Após isso, um pino-guia é inserido e uma broca canulada com o tamanho do enxerto é usada através do guia. Foi utilizado um guia femoral transtibial (bullseye) para posicionar o pino-guia, sempre verificando se o guia alcança a inserção anatômica femoral do LCA (►Fig. 2) Em seguida, uma broca para endobutton (5mm de diâmetro) é utilizada através do guia até romper a cortical femoral. Posteriormente,utiliza-se uma broca com o mesmo tamanho do túnel tibial preservando a cortical femoral. O enxerto é então transposto para os túneis e fixado com botão de titânio no fêmur e parafuso de interferência de titânio na tíbia.

Fig. 1
Lado esquerdo: guia tibial de Howell. Lado direito: Usando o guia no joelho esquerdo. Observe o fio K através do guia – este fio K deve estar paralelo à linha articular para garantir a posição correta.

Fig. 2
A: Guia tibial de Howell sendo posicionado (asterisco vermelho). B: Estendendo o joelho para travar o guia (asterisco vermelho) no intercôndilo femoral (asterisco amarelo). Observe os restos tibiais do LCA (asterisco vermelho duplo). C: Guia transtibial posicionando o fio-guia (seta vermelha) na inserção do LCA femoral. D: Vista final do enxerto (duplo asterisco amarelo). CFL: Côndilo Femoral Lateral.

O protocolo de reabilitação foi semelhante para todos os pacientes, com alta hospitalar no mesmo dia, permitindo carga total no membro operado, com o auxílio de muletas para segurança na marcha por 7 dias. Foi incentivado a iniciar fisioterapia imediatamente para ganho de amplitude de movimento e ativação muscular. A progressão para corrida leve foi permitida aos 3 meses, movimentos esportivos específicos começaram aos 5 meses, e o retorno a esportes com movimentos pivotantes ocorreu entre 7 e 9 meses de acompanhamento.

Os dados obtidos foram avaliados por estatística descritiva.

Resultados

Foram selecionados 200 pacientes, mas 16 foram excluídos por falta de informações de contato. Dos 184 restantes, 116 não atenderam a ligação telefônica e 26 foram submetidos a outra cirurgia (1 por lesão condral, 10 por problema meniscal, 1 por reconstrução do ligamento cruzado posterior e 14 necessitaram de revisão da reconstrução do LCA, todos por novo trauma). Foram incluídos para análise 42 indivíduos, sendo que 2 foram operados em ambos os joelhos em momentos diferentes, resultando na avaliação de 44 joelhos (►Fig. 3).

Fig. 3
Fluxograma de estudo.

Foram 23 joelhos direitos, 28 pacientes do sexo masculino com idade média de 31 anos (DP: 8). O tempo médio desde a cirurgia até a avaliação por imagem foi de 94,1 meses (DP: 28) (►Tabela 1).

Tabela 1
Dados de pacientes avaliados

Entre os joelhos avaliados, houve 32 joelhos entre 5 e 10 anos de cirurgia com incidência de osteoartrite de 13,51% (5 pacientes); e 7 com mais de 10 anos de cirurgia, sendo 71,4% (5 pacientes) sem osteoartrose (►Tabela 2).

Tabela 2
Incidência de osteoartrite nos joelhos avaliados

Quanto à classificação de Kellgren & Lawrence, houve 1 joelho classificado como grau I, 3 grau II, 2 grau III e 1 grau IV (►Tabela 3).

Tabela 3
Classificação de Kellgren & Lawrence entre grupos

Discussão

O achado mais importante do estudo é que a reconstrução do LCA com túnel femoral realizada pela técnica transtibial em pacientes sem lesões associadas apresenta baixa incidência de osteoartrite (16,7%) com seguimento médio de 94,1 meses.

Esses achados contradizem a revisão sistemática e meta-análise de Cinque et al.1212 Cinque ME, Kunze KN, Williams BT, Moatshe G, LaPrade RF, Chahla J. Higher incidence of radiographic posttraumatic osteoarthritis with transtibial femoral tunnel positioning compared with anteromedial femoral tunnel positioning during anterior cruciate ligament reconstruction. A systematic review and metaanalysis. Am J Sports Med 2022;50(01):255–263 onde a incidência de osteoartrite relacionada à técnica transtibial foi de 49,3%. No mesmo estudo, o grupo entre 5 e 10 anos de acompanhamento apresentou incidência de osteoartrite de 53,7%, sendo o grupo com maior incidência desses diagnósticos. O grupo de pacientes do nosso estudo entre 5 e 10 anos de seguimento apresentou incidência de osteoartrite de apenas 13,51%. Acreditamos que essa diferença ocorreu porque o estudo de Cinque et al.1212 Cinque ME, Kunze KN, Williams BT, Moatshe G, LaPrade RF, Chahla J. Higher incidence of radiographic posttraumatic osteoarthritis with transtibial femoral tunnel positioning compared with anteromedial femoral tunnel positioning during anterior cruciate ligament reconstruction. A systematic review and metaanalysis. Am J Sports Med 2022;50(01):255–263 não identifica adequadamente se os pacientes apresentavam lesões associadas ou não,o que seria uma informação crucial. A literatura mostra que a meniscectomia está mais relacionada a maior comprometimento funcional e dor1313 Grassi A, Pizza N, Al-Zu’bi BBH, Fabbro GD, Lucidi GA, Zaffagnini S. Clinical outcomes and osteoarthritis at very long-term follow-up after acl reconstruction. A systematic review and meta-analysis. Orthop J Sports Med 2022;10(01):23259671211062238,1515 Grassi A, Di Paolo S, Dal Fabbro G, et al. Objective laxity and subjective outcomes are more influenced by meniscal treatment than anterior cruciate ligament reconstruction technique at minimum2 years of follow-up. J ISAKOS 2022;7(04):54–59 e, junto com lesões condrais, mais osteoartrite.11 Minguell J, Nuñez JH, Reverte-Vinaixa MM, Sallent A, Gargallo-Margarit A, Castellet E. Femoral tunnel position in chronic anterior cruciate ligament rupture reconstruction: randomized controlled trial comparing anatomic, biomechanical and clinical outcomes. Eur J Orthop Surg Traumatol 2019;29(07):1501–1509,1313 Grassi A, Pizza N, Al-Zu’bi BBH, Fabbro GD, Lucidi GA, Zaffagnini S. Clinical outcomes and osteoarthritis at very long-term follow-up after acl reconstruction. A systematic review and meta-analysis. Orthop J Sports Med 2022;10(01):23259671211062238,1414 Cinque ME, Dornan GJ, Chahla J,Moatshe G, LaPrade RF. High rates of osteoarthritis develop after anterior cruciate ligament surgery: an analysis of 4108 patients. Am J Sports Med 2018;46(08): 2011–2019 Franceschi et al.88 Franceschi F, Papalia R, Rizzello G, Del Buono A,Maffulli N, Denaro V. Anteromedial portal versus transtibial drilling techniques in anterior cruciate ligament reconstruction: any clinical relevance? A retrospective comparative study. Arthroscopy 2013;29(08):1330–1337 em estudo retrospectivo avaliaram 88 pacientes com no mínimo 5 anos de cirurgia de reconstrução do LCA, sendo 46 pela técnica transtibial e 42 anatômicas, excluindo também pacientes com lesões meniscais e condrais. Eles encontraram resultados semelhantes em relação à função e evolução das alterações degenerativas para ambas as técnicas. Esta conclusão está de acordo com a obtida aqui.

Sabe-se que quanto mais antigos os estudos, maior o número de meniscectomias. As técnicas de reparo meniscal evoluíram e se tornaram mais populares recentemente. Assim, supõe-se que os estudos mais recentes possam mostrar uma menor incidência de osteoartrite devido a uma maior preservação meniscal.1111 Cuzzolin M, Previtali D, Delcogliano M, Filardo G, Candrian C, Grassi A. Independent Versus Transtibial Drilling in Anterior Cruciate Ligament Reconstruction: A Meta-analysis With Meta-regression. Orthop J Sports Med 2021;9(07):2325967121 1015616,1212 Cinque ME, Kunze KN, Williams BT, Moatshe G, LaPrade RF, Chahla J. Higher incidence of radiographic posttraumatic osteoarthritis with transtibial femoral tunnel positioning compared with anteromedial femoral tunnel positioning during anterior cruciate ligament reconstruction. A systematic review and metaanalysis. Am J Sports Med 2022;50(01):255–263 Isto sugere que o fator mais importante relacionado à osteoartrite em pacientes submetidos à reconstrução do LCA pode não ser a técnica cirúrgica, mas a presença ou ausência de lesões associadas, principalmentemeniscais e condrais,eaescolha do tratamento dessas lesões.

Um fator diferenciador neste estudo poderia ser a utilização do guia tibial de Howell. Este guia cria um túnel tibial com maior inclinação no plano coronal que pode permitir a realização de um túnel femoral anatômico. O estudo de Cuzzolin et al.1111 Cuzzolin M, Previtali D, Delcogliano M, Filardo G, Candrian C, Grassi A. Independent Versus Transtibial Drilling in Anterior Cruciate Ligament Reconstruction: A Meta-analysis With Meta-regression. Orthop J Sports Med 2021;9(07):2325967121 1015616 menciona que o fator crucial a ser discutido não é como é feito o túnel femoral, mas onde ele é feito. Variações da técnica transtibial poderiam permitir a realização do túnel femoral na inserção anatômica do LCA. Isso foi demonstrado no estudo de Piasecki et al.1616 Piasecki DP, Bach BR Jr, Espinoza Orias AA, Verma NN. Anterior cruciate ligament reconstruction: can anatomic femoral placement be achieved with a transtibial technique? Am J Sports Med 2011;39(06):1306–1315 onde os autores utilizaram joelhos de cadáveres com o auxílio de navegação e controle de imagem com um braço em C. Ao testar diferentes ângulos para a entrada tibial durante a realização do túnel tibial, os autores mostraram que é possível criar túneis femorais anatômicos por meio da técnica transtibial.

Como limitações do estudo pode-se citar a ausência de muitos pacientes. As principais causas foram por falta de informação de contato ou resposta e utilização apenas de pacientes sem outras lesões além do LCA. Mesmo assim, o número de indivíduos avaliados foi muito semelhante a outros estudos com objetivos semelhantes.11 Minguell J, Nuñez JH, Reverte-Vinaixa MM, Sallent A, Gargallo-Margarit A, Castellet E. Femoral tunnel position in chronic anterior cruciate ligament rupture reconstruction: randomized controlled trial comparing anatomic, biomechanical and clinical outcomes. Eur J Orthop Surg Traumatol 2019;29(07):1501–1509,55 Alentorn-Geli E, Samitier G, Alvarez P, Steinbacher G, Cugat R. Anteromedial portal versus transtibial drilling techniques in ACL reconstruction: a blinded cross-sectional study at two- to fiveyear follow-up. Int Orthop 2010;34(05):747–754,88 Franceschi F, Papalia R, Rizzello G, Del Buono A,Maffulli N, Denaro V. Anteromedial portal versus transtibial drilling techniques in anterior cruciate ligament reconstruction: any clinical relevance? A retrospective comparative study. Arthroscopy 2013;29(08):1330–1337,1515 Grassi A, Di Paolo S, Dal Fabbro G, et al. Objective laxity and subjective outcomes are more influenced by meniscal treatment than anterior cruciate ligament reconstruction technique at minimum2 years of follow-up. J ISAKOS 2022;7(04):54–59 Outro viés poderia ser o uso do guia tibial do LCA de Howell, que não é amplamente adotado. Entretanto, a posição do túnel pode ser replicada usando qualquer guia tibial padrão do LCA, apenas alterando a inclinação do pino-guia e o ponto de entrada tibial.1616 Piasecki DP, Bach BR Jr, Espinoza Orias AA, Verma NN. Anterior cruciate ligament reconstruction: can anatomic femoral placement be achieved with a transtibial technique? Am J Sports Med 2011;39(06):1306–1315 A ausência de um grupo utilizando a técnica anatômica para comparar os resultados também enfraquece o poder deste estudo. A inclusão de um grupo de pacientes utilizando a mesma técnica, mas com presença de lesões associadas, para comparar a incidência de osteoartrite, também poderia aumentar o poder do estudo. Contudo optou-se por retirar este fator e comparar com os dados já publicados na literatura. O grau de atividade do paciente, o tempo entre a lesão e a cirurgia, a estabilidade do joelho e os escores funcionais seriam importantes porque são fatores que podem estar associados ao desenvolvimento da osteoartrite. Entretanto, esses dados não estavam disponíveis nos prontuários da maioria dos indivíduos. A ausência de imagens radiográficas do joelho não operado também poderia ser um viés. Alguns pacientes já podem apresentar alguns sinais de osteoartrite, independentemente da lesão e da cirurgia, e esta comparação poderia evidenciar este fato.

Conclusão

A reconstrução do LCA realizando o túnel femoral pela técnica transtibial em pacientes sem outras lesões associadas no joelho operado, utilizando enxerto quádruplo de isquiotibiais, com acompanhamento mínimo de 5 anos, mostrou incidência de osteoartrite de 16,7% com seguimento médio de 94,1 meses.

  • Suporte Financeiro
    Esta pesquisa não recebeu nenhum subsídio específico de agências de financiamento dos setores público, comercial ou sem fins lucrativos.
  • Trabalho desenvolvido na Uniort.E – Hospital de Ortopedia, Londrina, PR, Brasil.

References

  • 1
    Minguell J, Nuñez JH, Reverte-Vinaixa MM, Sallent A, Gargallo-Margarit A, Castellet E. Femoral tunnel position in chronic anterior cruciate ligament rupture reconstruction: randomized controlled trial comparing anatomic, biomechanical and clinical outcomes. Eur J Orthop Surg Traumatol 2019;29(07):1501–1509
  • 2
    Kopf S, Forsythe B, Wong AK, Tashman S, Irrgang JJ, Fu FH. Transtibial ACL reconstruction technique fails to position drill tunnels anatomically in vivo 3D CT study. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc 2012;20(11):2200–2207
  • 3
    Yau WP, Fok AWM, Yee DKH. Tunnel positions in transportal versus transtibial anterior cruciate ligament reconstruction: a case-control magnetic resonance imaging study. Arthroscopy 2013;29(06):1047–1052
  • 4
    Pinczewski LA, Lyman J, Salmon LJ, Russell VJ, Roe J, Linklater J. A 10-year comparison of anterior cruciate ligament reconstructions with hamstring tendon and patellar tendon autograft: a controlled, prospective trial. Am J Sports Med 2007;35(04):564–574
  • 5
    Alentorn-Geli E, Samitier G, Alvarez P, Steinbacher G, Cugat R. Anteromedial portal versus transtibial drilling techniques in ACL reconstruction: a blinded cross-sectional study at two- to fiveyear follow-up. Int Orthop 2010;34(05):747–754
  • 6
    Chalmers PN, Mall NA, Cole BJ, Verma NN, Bush-Joseph CA, Bach BR Jr. Anteromedial versus transtibial tunnel drilling in anterior cruciate ligament reconstructions: a systematic review. Arthroscopy 2013;29(07):1235–1242
  • 7
    Chen Y, Chua KHZ, Singh A, et al. Outcome of single-bundle hamstring anterior cruciate ligament reconstruction using the anteromedial versus the transtibial technique: a systematic review and metaanalysis. Arthroscopy 2015;31(09):1784–1794
  • 8
    Franceschi F, Papalia R, Rizzello G, Del Buono A,Maffulli N, Denaro V. Anteromedial portal versus transtibial drilling techniques in anterior cruciate ligament reconstruction: any clinical relevance? A retrospective comparative study. Arthroscopy 2013;29(08):1330–1337
  • 9
    Song EK, Kim SK, Lim HA, Seon JK. Comparisons of tunnel-graft angle and tunnel length and position between transtibial and transportal techniques in anterior cruciate ligament reconstruction. Int Orthop 2014;38(11):2357–2362
  • 10
    Wang H, Fleischli JE, Zheng NN. Transtibial versus anteromedial portal technique in single-bundle anterior cruciate ligament reconstruction: outcomes of knee joint kinematics during walking. Am J Sports Med 2013;41(08):1847–1856
  • 11
    Cuzzolin M, Previtali D, Delcogliano M, Filardo G, Candrian C, Grassi A. Independent Versus Transtibial Drilling in Anterior Cruciate Ligament Reconstruction: A Meta-analysis With Meta-regression. Orthop J Sports Med 2021;9(07):2325967121 1015616
  • 12
    Cinque ME, Kunze KN, Williams BT, Moatshe G, LaPrade RF, Chahla J. Higher incidence of radiographic posttraumatic osteoarthritis with transtibial femoral tunnel positioning compared with anteromedial femoral tunnel positioning during anterior cruciate ligament reconstruction. A systematic review and metaanalysis. Am J Sports Med 2022;50(01):255–263
  • 13
    Grassi A, Pizza N, Al-Zu’bi BBH, Fabbro GD, Lucidi GA, Zaffagnini S. Clinical outcomes and osteoarthritis at very long-term follow-up after acl reconstruction. A systematic review and meta-analysis. Orthop J Sports Med 2022;10(01):23259671211062238
  • 14
    Cinque ME, Dornan GJ, Chahla J,Moatshe G, LaPrade RF. High rates of osteoarthritis develop after anterior cruciate ligament surgery: an analysis of 4108 patients. Am J Sports Med 2018;46(08): 2011–2019
  • 15
    Grassi A, Di Paolo S, Dal Fabbro G, et al. Objective laxity and subjective outcomes are more influenced by meniscal treatment than anterior cruciate ligament reconstruction technique at minimum2 years of follow-up. J ISAKOS 2022;7(04):54–59
  • 16
    Piasecki DP, Bach BR Jr, Espinoza Orias AA, Verma NN. Anterior cruciate ligament reconstruction: can anatomic femoral placement be achieved with a transtibial technique? Am J Sports Med 2011;39(06):1306–1315

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Feb 2024

Histórico

  • Recebido
    23 Jan 2023
  • Aceito
    26 Jun 2023
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Al. Lorena, 427 14º andar, 01424-000 São Paulo - SP - Brasil, Tel.: 55 11 2137-5400 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rbo@sbot.org.br