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Programas e Projetos da Saúde da Criança: responsabilidades compartilhadas em benefício das crianças brasileiras

INFORMES TÉCNICO-INSTITUCIONAIS TECHNICAL INSTITUTIONAL REPORTS

Programas e Projetos da Saúde da Criança: responsabilidades compartilhadas em benefício das crianças brasileiras

Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área da Saúde da Criança

Esplanada dos Ministérios, Bloco G, 6º andar, sala 636, Brasília, DF, Brasil. CEP 70.068.900. E-mail: comin@saude.gov.br Site: www.saude.gov.br

Há mais de dez anos o Brasil assinou, ao lado de mais de 160 países, a "Declaração Mundial sobre a Sobrevivência, a Proteção e o Desenvolvimento da Criança", durante o Encontro Mundial de Cúpula pela Criança realizado na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, no dia 30 de setembro de 1990. Nessa reunião, os líderes mundiais se comprometeram a trabalhar em favor da saúde e dos direitos das crianças e das mães, a combater a desnutrição e o analfabetismo e a erradicar as doenças que têm causado a morte de milhões de crianças a cada ano, declarando assim, assumir um "compromisso conjunto e fazer um veemente apelo universal: dar a cada criança um futuro melhor".

No Brasil, nestes últimos anos, muitos esforços foram empreendidos para melhorar a saúde infantil, resultando em sensível diminuição, tanto das taxas de mortalidade infantil, quanto das de desnutrição. Nesta última década a redução observada nas mortes infantis foi de 38%, com uma queda da mortalidade de 48/1.000 nascidos vivos em 1990, para 29,6/1.000 em 2000. Muitos são os avanços, entretanto, ainda existem contrastes nas chances de sobrevivência infantil entre as diferentes regiões brasileiras. A região Nordeste, por exemplo, concentra metade dos óbitos infantis do país, o que tem demandado intensificar ações que possibilitem conciliar educação, geração de renda, saneamento básico, alimentação adequada e oferta de serviços de saúde de qualidade, no sentido do desenvolvimento humano em todo seu potencial.

O Ministério da Saúde (MS), vem apoiando o desenvolvimento de estratégias para a efetiva e gradual redução da mortalidade infantil, contando, principalmente, com a pactuação entre estados e municípios e com o compromisso dos gestores em adotar uma agenda voltada para a sobrevivência infantil. Como reforço às ações, o MS tem promovido a capacitação de profissionais multidisciplinares, da rede do Sistema Único de Saúde (SUS), nos níveis de atendimento da assistência básica e da média e alta complexidades, sempre priorizando a humanização da atenção, além de estabelecer importantes parcerias com diversos organismos nacionais - governamentais e não-governamentais - instituições internacionais e a sociedade civil organizada.

Para fazer frente ao problema da morbimortalidade infantil, novas políticas públicas foram construídas e os investimentos foram ampliados para promover a organização da atenção básica nos municípios, definindo os Programas de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e Saúde da Família (PSF) como estratégias prioritárias capazes de resgatar o vínculo de co-responsabilidade entre os serviços e a população, favorecendo não só a cura e a prevenção de doenças, mas também, a valorização do papel das pessoas, das famílias e da comunidade na melhoria de suas condições de saúde e de vida, na perspectiva da promoção da saúde. Hoje, as mais de 15 mil equipes do Programa de Saúde da Família atendem a 50 milhões de pessoas, e os mais de 160 mil Agentes Comunitários de Saúde cobrem 4.600 municípios brasileiros, melhorando assim, a saúde da população atendida.

O Ministério da Saúde, desde 1984, vem priorizando ações básicas de saúde que possuem comprovada eficácia na redução da morbimortalidade infantil: a atenção ao recém-nascido, a promoção do aleitamento materno, o acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento da criança, as imunizações e a prevenção e o controle das doenças diarréicas e das infecções respiratórias agudas, visando incrementar a capacidade resolutiva dos serviços na atenção à criança. Nesse sentido, algumas iniciativas têm sido desenvolvidas com sucesso no Brasil.

Política de Promoção do Aleitamento Materno

O Brasil tem, hoje, o reconhecimento internacional pela sua política de promoção do aleitamento materno. A atuação das parcerias e da sociedade constitui um fator muito importante para o sucesso da política brasileira. A soma de esforços resultou em soluções criativas, eficientes e cientificamente comprovadas. Além disso, contribuíram para aumentar, de modo significativo, os índices de aleitamento materno. A amamentação elevou-se de 5,5 meses, em 1989, para 9,9 meses em 1999. Outra importante conquista, neste sentido, foi a aprovação da recomendação brasileira sobre a amamentação exclusiva até os seis meses de vida da criança, na 54ª Assembléia Mundial de Saúde em Genebra, Suíça, em 2001. A seguir, alguns projetos na área de promoção do aleitamento materno que merecem destaque.

Carteiro Amigo

Esse projeto é uma das estratégias para a redução da mortalidade infantil e da desnutrição no Brasil. Os carteiros são capacitados para atuarem como agentes multiplicadores de uma campanha educativa de incentivo ao aleitamento materno. Somente em Fortaleza, Ceará, com essa proposta, o número de mães que amamentavam seus filhos duplicou.

A idéia surgiu do governo estadual do Ceará - Secretaria Estadual de Saúde - em parceria com a Diretoria Regional dos Correios do Ceará, e adotada pelo Governo Federal, por meio de Protocolos de Atuação Conjunta entre os Ministérios da Saúde e o das Comunicações. O trabalho conta com a parceria da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), ampliando a participação dessa instituição na área social.

A atuação dos carteiros tem sido essencial para aumentar o nível de conhecimento das mães sobre os benefícios da prática da amamentação, prevenindo o desmame precoce, além de orientar sobre a importância do aleitamento exclusivo, até os seis meses de vida, e continuado, até os dois anos de idade. Em 2001, cerca de 17 mil carteiros capacitados pela área de saúde levaram informações e material educativo para mais de dois milhões de gestantes e mães de crianças menores de um ano de idade.

Com a experiência Carteiro Amigo: o carteiro levando informações para o cidadão, o Ministério da Saúde foi um dos 20 contemplados com o Prêmio Hélio Beltrão, em 2001, durante o Concurso Inovações na Gestão Pública Federal, promovido, anualmente, pela Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e o Instituto Hélio Beltrão.

Bancos de Leite

Entre as iniciativas de promoção do aleitamento materno, realizadas pelo MS, merece destaque a Rede Nacional de Bancos de Leite Humano, considerada a maior do mundo, que já conquistou reconhecimento nacional e internacional. Os Bancos de Leite Humano exercem um papel importante na assistência às mães e às crianças, uma vez que o leite fornecido é pasteurizado e recebe altíssimo controle de qualidade. Esses Bancos possuem um cadastro de doadoras que são sistematicamente acompanhadas. Essas mulheres doam um volume de leite suficiente para atender as demandas de recém-nascidos prematuros e de baixo peso, bem como àqueles lactentes hospitalizados. Atualmente contamos com 156 Bancos de Leite em todo o país, que coletam e distribuem cerca de 100 mil litros de leite humano, beneficiando milhares de crianças prematuras e de baixo peso.

Projeto Bombeiros da Vida

Trata-se de uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Corpo de Bombeiros Estaduais. O projeto tem o objetivo de aumentar os estoques dos Bancos de Leite Humano, no país, por meio da coleta domiciliar do leite ordenhado pelas doadoras.

Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC)

Hospitais/maternidades da rede e prestadores conveniados do SUS vêm redirecionando suas práticas e rotinas visando a promoção, a proteção e o apoio ao aleitamento materno e tornando-se referência na atenção humanizada à mãe e ao recém-nascido. A IHAC estabelece dez passos e cinco critérios para alcançar o título que é reconhecido internacionalmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

O Ministério da Saúde vem capacitando profissionais e apoiando hospitais nesta iniciativa, aumentando o aporte financeiro e repassando um incentivo por procedimentos obstétricos realizados nos hospitais credenciados como Amigos da Criança. Até o momento, o Brasil já conta com 213 hospitais credenciados como Amigo da Criança. Em junho de 2001, foi publicada a Portaria nº 29 que estabelece novos requisitos para o credenciamento e reavaliação dos hospitais.

Outras ações encabeçam as estratégias que ampliam a atuação do Programa de Saúde da Criança.

Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI)

A AIDPI é uma estratégia que visa integrar as ações de promoção e prevenção da saúde, com atividades de assistência e tratamento das doenças mais freqüentes na infância, reduzindo as mortes e as doenças mais comuns em crianças menores de cinco anos de idade. Esta estratégia fortalece e organiza a atenção básica, capacitando as equipes dos programas Agentes Comunitários de Saúde e Saúde da Família para uma atenção de qualidade à criança.

Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso: Método Mãe-Canguru

A adoção das Normas de Atenção Humanizada do Recém-Nascido de Baixo Peso (Método Canguru) nas maternidades de atendimento de alto risco do SUS melhora, substancialmente, as chances de vida do recém-nascido de baixo peso ou prematuro. A estratégia é essencial na promoção de uma mudança institucional na busca da atenção à saúde, centrada na humanização da assistência e no princípio da cidadania da família. O Método Canguru é um tipo de assistência neonatal, de livre escolha da família e visa proceder ao atendimento humanizado e de qualidade ao recém-nascido de baixo peso. Além de proporcionar maior apego na relação família-bebê, incentiva a prática do aleitamento materno, reduz o tempo de internação e diminui os riscos de infecção hospitalar. Já foram capacitados mais de 2.000 profissionais em 240 maternidades do SUS em todo o Brasil.

Registro Civil

A Campanha de Registro Civil, resultado da parceria entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, que contou com o apoio da sociedade civil, mostrou a real dimensão da ausência do primeiro documento de cidadania da criança brasileira: a certidão e o registro de nascimento. Avanços na legislação, como a Lei de Gratuidade nº 9.534/1997, que assegura a gratuidade para os registros de nascimentos e óbitos; a Lei dos Emolumentos nº 10.169/2000, que proporciona aos registradores meios de serem ressarcidos pelos serviços prestados, graças à organização de fundos para essa finalidade; a Lei nº 9.997/2000, que dispensa a necessidade de duas testemunhas quando o parto ocorrer em unidade hospitalar ou casa de saúde; e a Lei nº 10.215/2001, da isenção de multa fora do prazo aos pais, são conquistas para a população.

O funcionamento de Postos Avançados de Registro de Nascimentos, nas maternidades do SUS, é mais um passo pela humanização dos serviços prestados à mãe e à criança. O Ministério da Saúde, considerando a necessidade de adotar medidas destinadas a assegurar as informações relacionadas ao atendimento neonatal, estabeleceu, por meio da Portaria nº 938/2002 Gabinete do Ministro/Ministério da Saúde, a inclusão na Tabela de Procedimentos Especiais do Sistema de Informação Hospitalar (SIH/SUS), o incentivo de cinco reais aos hospitais que propiciarem o registro de nascimento, antes da alta hospitalar, a serem preenchidas na Autorização de Internação Hospitalar (AIH) do parto.

Prevenção de acidentes e violência na infância

Ação que vem sendo trabalhada em parceria com as áreas técnicas do Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria, Secretaria de Direitos Humanos - Ministério da Justiça, priorizando medidas preventivas nas questões de acidentes e violência na infância. O Protocolo de Atenção à Violência, na rede básica de saúde, foi elaborado para as equipes de Saúde da Família e a Cartilha de Violência Intrafamiliar e Direitos Humanos para os agentes comunitários de saúde, dando subsídios para o reconhecimento de pessoas em situações de violência intradomiciliar e orientações para encaminhamento aos serviços jurídicos e outros que lidam com esta problemática.

Projeto Biblioteca Viva

Esta é uma parceria entre o Ministério da Saúde com a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e o Citybank. O projeto objetiva a qualidade da atenção nos períodos em que as crianças estão internadas ou assistidas em nível ambulatorial. As crianças e seus familiares terão a oportunidade de passar, na unidade hospitalar, um período de tempo que poderá ser aprazível para todos. A idéia é a de minimizar a dor, a angústia e a expectativa de todos que participam da assistência e recuperação da saúde. Esse processo conta com os mediadores de leitura que são capacitados para implantar o projeto Biblioteca Viva (BV) nos hospitais e facilitarem a leitura através de livros infanto-juvenis e contos do mundo da fantasia. Esta iniciativa tem por finalidade contribuir para reduzir as tensões e integrar a criança e os seus familiares com o corpo clínico do hospital num ambiente mais humano, criando uma prática de incentivo à leitura nas famílias atendidas pelo projeto. Atualmente, são 26 unidades localizadas nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste que estão desenvolvendo as ações de mediação, beneficiando quase 300 mil crianças e adolescentes.

Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento (CD)

O Crescimento e Desenvolvimento é o eixo central do atendimento à criança por contempla-la no seu processo de crescimento e desenvolvimento. Essa atividade garante a qualidade de vida da criança, permitindo evidenciar precocemente transtornos que afetem sua saúde, nutrição, capacidade mental e social. Possibilita a visão global da criança, inserida no contexto em que vive, permitindo a humanização do atendimento na medida em que a conhece mais e melhor, inclusive nas suas relações no ambiente familiar. O Cartão da Criança é o instrumento básico para o acompanhamento do CD, e deve sempre ficar com a família.

Recebido em 19 de maio de 2002

Aprovado em 20 de julho de 2002

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Maio 2006
  • Data do Fascículo
    Ago 2002
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