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Trinta anos da Revista Contabilidade & Finanças: passado, presente, sonhos para o futuro

1. INTRODUÇÃO

O Mestrado em Contabilidade da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA USP), pioneiro no Brasil, foi criado e começou a funcionar em 1970, após grande reforma na estrutura da Universidade de São Paulo (USP). José da Costa Boucinhas era o chefe do nosso departamento. Alguns anos depois, o curso passou a ser denominado Mestrado em Contabilidade e Controladoria, por iniciativa do então coordenador Stephen Charles Kanitz, que planejara mudar, alguns anos mais tarde, para Mestrado em Controladoria e Contabilidade. Seria uma questão de status? Nesse caso, deu certo!

O Doutorado em Contabilidade teve início em 1978 - então, ainda não existia outro mestrado na área no país. Novos mestrados só surgiram em outras instituições brasileiras na década de 1980, inclusive com incentivo e auxílio do Departamento de Contabilidade e Atuária (EAC) da FEA USP e da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI) - como o da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e o da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro (este depois transferido para a Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ). Nessa época, os autores deste Editorial eram chefe de departamento (Sérgio de Iudicibus) e coordenador do programa (Eliseu Martins), com Antonio Peres Rodrigues Filho presidindo a FIPECAFI (que havia sido criada por iniciativa dele, em 1974).

Ninguém pergunta como se criou um programa de doutorado já com doutores? Doutores vindo de onde, se esse doutoramento de 1978 foi o primeiro no Brasil? Para entender isso, precisamos saber que antes de 1970 os doutoramentos eram administrados diretamente pela congregação da unidade (FEA, no caso) e as disciplinas eram realizadas individual e diretamente com os professores; não havia “curso” nem salas de aula, mas um “processo de doutoramento” bastante solitário; às vezes, só os orientadores o acompanhavam. Assim, antes da criação do curso de doutorado, os autores deste Editorial e vários outros colegas já eram doutores, formados no regime antigo.

Nosso programa de mestrado e doutorado participou, apesar de sua área ser a Contabilidade, da criação da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD). Primeiramente, por ser o único em Contabilidade existente no país; e, em segundo lugar, porque nosso coordenador era o Stephen Kanitz, sempre inovador. Com isso, conseguimos não nos sentir tão solitários e adquirimos bastante experiência. Em 2006 foi fundada a Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Contabilidade (ANPCONT) com 13 Programas.

2. A FALTA QUE FEZ A REVISTA

Até 1989, não havia um periódico sequer, nenhuma revista acadêmica participava da evolução desse programa de mestrado e doutorado ou de qualquer outro no Brasil, apesar da formação de mestres e doutores no Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA USP já ser expressiva e de poucos outros mestrados já existirem. A produção acadêmica em Contabilidade existia sob a forma de dissertações e teses, mas apenas um artigo aqui, outro acolá, era publicado em revistas não acadêmicas, em congressos científicos ou em revistas de Administração. O interessante é que havia um número razoável de trabalhos escritos para congressos. De certa forma, morriam lá.

Certamente, já se falava na criação de uma revista de nossa pós-graduação na FEA USP. José Carlos Marion era o mais incisivo incentivador dessa ideia. Entretanto, os recursos eram escassos, tanto no departamento quanto na FIPECAFI - claramente, a falta da revista dificultava o crescimento acadêmico em nossa área.

3. NASCE A REVISTA

Só em outubro de 1989 nasceu o então denominado Caderno de Estudos do Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA USP, financiado pela FIPECAFI, em uma feliz parceria que se estende até os dias de hoje. Impresso originariamente em off-set, com formato, título e capa inspirados em uma modesta (para os padrões de hoje) revista francesa da época. E era em espiral. Tudo para ser o mais barato possível.

O chefe do departamento era um dos autores deste Editorial (Sérgio de Iudicibus), o coordenador do programa de mestrado e doutorado era Alecseo Kravec e o presidente da FIPECAFI era o outro autor deste Editorial (Eliseu Martins). A primeira editora do Caderno de Estudos, Jacira Tudora Carastan, era outra grande entusiasta dessas e de outras causas; pena que ela nos deixou tão cedo.

Como pioneira dentre as revistas contábeis acadêmicas no Brasil, a Jacira Carastan trabalhou incansável e graciosamente durante 12 anos, cobrando os artigos, participando do processo seletivo, promovendo os ajustes redacionais, cuidando da impressão e, também, da distribuição - gratuita, com envio de pelo menos um exemplar pelo correio para todas as faculdades de Contabilidade do país.

À época, os artigos eram quase totalmente normativistas, conceituais, dissertativos. E os temas tratados tinham a ver com algo dos dias de hoje? A grande questão da publicação se relaciona à qualidade da contribuição que proporciona (Carmona, 2011Carmona, S. (2011). In pursuance of successful research. European Accounting Review, 20(1), 1-5. ).

Vejamos os artigos que compuseram o número 1 do então Caderno de Estudos:

“Lucro contábil - crepúsculo ou ressurgimento?” (Sérgio de Iudicibus)

Uma resposta a um artigo de 2 ilustres professores da FGV, com seu “O crepúsculo do lucro contábil” (publicado na Revista de Administração de Empresas, da FGV). Pensemos rapidamente: ultimamente, a Contabilidade entrou no crepúsculo ou ressurgiu? Esse tema é atual ou não?

“A importância e a responsabilidade da gestão financeira na empresa” (Ângela Cheng e Márcia Martins Mendes - alunas de então)

Um assunto nada moderno, certo?

“Avaliação do impacto do novo texto constitucional nas alíquotas de contribuições sociais e previdenciárias” (Welington Rocha - aluno de então)

Os tributos e encargos mudaram, os percentuais também, mas o modelo de comparação, simples e eficiente, não.

“Até onde caminham juntos a Contabilidade e o Direito?” (Marcelo Coletto Pohlmann - aluno de então)

Poxa, esse assunto é atual ou não? Inclusive, hoje existem grupos formados por contadores e advogados, muitos deles com a dupla titulação, que discutem esse vínculo, e cada vez mais a matéria vem sendo discutida em ambos os lados. Vejam-se, por exemplo, alguns grupos que praticamente só se dedicam a esse campo Contabilidade/Direito: o Grupo de Estudos em Direito e Contabilidade (Gedec - Escola de Direito da FGV); o Grupo IBDT/FIPECAFI (Instituto Brasileiro de Direito Tributário e FIPECAFI); e, bem antes desses, o Diálogos FEA/São Francisco (FEA USP e Faculdade de Direito da USP) - pelo menos, esses são os do nosso conhecimento. Na verdade, esse assunto é cada vez mais atual, concordam?

Vejamos, agora, os artigos do número 2 do Caderno de Estudos [não se preocupe, leitor(a), não citaremos todos os publicados até hoje...]:

“Contabilidade vs fluxo de caixa” (Eliseu Martins)

Os coitados dos alunos do autor têm de lê-lo e “decorá-lo” até hoje. Pelo menos o autor acha que, apesar de todos os pesares, continua atual...

“Custo de oportunidade: conceitos e contabilização” (Anísio C. Pereira, Dauro R. Redaelli, Benedito F. de Souza e Joshua C. Imoniana - alunos de então)

O problema desse assunto é que ele continua absolutamente atual, mas sem solução contábil para fins de relatórios contábeis com propósitos externos até hoje… mas aqueles que foram alunos de Armando Catelli (e seus seguidores até hoje) haverão de lembrar-se do GECON - Gestão Econômica de Empresas!

“A Contabilidade e a Teoria da Informação” (Antonio Zoratto Sanvicente - professor de Administração)

Há alguma dúvida sobre a atualidade de discutir o próprio objetivo da Contabilidade - a informação?

“Contabilidade da atividade imobiliária” (Clara P. Mosimann, Getúlio A. de Abreu, Marcelino F. Carvalho e Watner V. Dantas - alunos de então)

O assunto é tão atual que durante 2018 (e perduram consequências em 2019) ocorreu o maior embate sobre ele entre alguns dos órgãos reguladores do Brasil.

4. E A REVISTA CRESCE

Primeira grande evolução física da Revista: os números 10, 11 e 12 (1994-1995) foram encadernados com grampo em vez de espiral (desculpem-nos, por favor...). De 1996 a 2000, finalmente os números passaram a ser impressos em gráfica, mas ainda com o mesmo nome até o número 23. Em 2000, com o precoce falecimento da Jacira Carastan, assumiu a editoria Lázaro Plácido Lisboa, que diria na Carta do Editor do número 25 que o periódico passou a se chamar Revista Contabilidade & Finanças, publicada pela FIPECAFI/FEA USP:

[...] [é] apenas o novo nome do Caderno de Estudos, publicado e distribuído gratuitamente desde 1989.

Aliás, muitas foram as iniciativas de Lázaro Lisboa, que genuinamente internacionalizou a Revista, novidade que tanto sonhou e anteviu:

[...] recebemos do Conselho Editorial a incumbência de, num primeiro passo, publicar os artigos apresentados no exterior, em inglês, nas duas línguas (português e inglês), lado a lado, em cores diferentes.

Hoje, isso parece brincadeira, mas, então, foi uma grande inovação; continuando:

[...] [vamos] implementar[,] no ano [de] 2002[,] uma revista internacional, com sua indexação a revistas internacionais de renome, com um corpo de consultores e um novo Conselho Editorial integrado por experts de vários países do mundo.

Quanto sonho!

Boa parte foi implementada, apesar de demandar mais tempo do que o previsto inicialmente.

Vale destacar a Edição Comemorativa dos 25 Anos de Doutorado em Controladoria e Contabilidade, publicada em outubro de 2003, bem como a Edição Comemorativa dos 70 anos da USP, que veio a lume em junho de 2004, e uma Edição Especial em Atuária, e outra sobre 60 Anos de Contabilidade na USP, ambas de 2006. Houve, ainda, 30 Anos de Doutorado em Contabilidade, em 2007, e a Edição Histórica, de 2014, relativa à pesquisa contábil histórica. Em seus 9 anos à frente da Revista Contabilidade & Finanças (do número 24 ao 48), o Lázaro Lisboa solidificou o trabalho da Jacira Carastan, internacionalizando genuinamente a Revista e inscrevendo-a em órgãos indexadores. Esse upgrade foi fantástico.

Como dissemos, os textos eram basicamente normativos, apresentando, no máximo, o desenvolvimento de algum modelo matemático aplicado; por exemplo: a análise de balanços, mas sem trabalhos empíricos com uso de recursos estatísticos com certa sofisticação. Às vezes surgiam discussões de algum modelo bem específico, como o de James A. Ohlson.

Os trabalhos com forte dose de empiria e uso de métodos estatísticos mais sofisticados de análise de correlação tiveram início em meados da década de 2000; em pouco tempo, esses trabalhos se transformaram na grande maioria das publicações.

Sérgio de Iudicibus, seguido por Alexsandro Broedel Lopes, foram os pioneiros e incentivadores do desenvolvimento dessa metodologia de pesquisa entre nós. Hoje, entendemos que, talvez, eles tenham empurrado o pêndulo com muita força e há certa dificuldade para posicioná-lo no ponto correto.

Entretanto, como todos os idosos, acabamos falando mais do passado do que do presente. Assim, para não mudar a regra, apressemos nossa breve história.

Em 2009, assumiu a editoria Gilberto de Andrade Martins, que adotou uma mudança no tamanho e na formatação da Revista Contabilidade & Finanças, bem como na qualidade da impressão. Durante os 2 anos de seu trabalho (do número 49 ao 56), o editor continuou o processo de inserção da Revista nos órgãos indexadores.

5. A CONTEMPORANEIDADE

Em 2011, Fábio Frezatti assumiu a editoria da Revista Contabilidade & Finanças - e até hoje aí está. Em 2012 (número 58), finalmente chegou a edição integral bilíngue! Fábio Frezatti mudou radicalmente a gestão da Revista, o que não percebe quem não conhece “os bastidores” da publicação científica: ele criou as editorias associadas por linha de pesquisa, organizou os editores ad hoc também por linha de pesquisa, elaborou relatórios de desempenho extremamente interessantes e cuidadosos, além de orçamentos e realizações, adotou premiações para os revisores de maior destaque, incluiu a revista nas bases SCOPUS e COPE etc.

Espera-se pluralidade metodológica e ontológica no ambiente da publicação científica internacional (Sharma, Shepherd, & Bagby, 2017Sharma, P., Shepherd, D., & Bagby, D. R. (2017). Preconceptions, lessons learned, and other changes: three editors’ journeys. Family Business Review, 30(4), 314-319.) e esse foi um aspecto fundamental a aperfeiçoar na Revista, o que só pôde ser praticado a partir da disponibilidade e do apoio de autores, revisores e editores.

6. PEQUENA ANÁLISE E GRANDE PEDIDO

Falamos que desde o início, em 1989, até 2004 prevaleceram os artigos normativos, opinativos e descritivos, muitos deles derivados de teses e dissertações do EAC da FEA USP - não raro com criações conceituais e relevantes contribuições à Teoria da Contabilidade.

A partir de 2005 passaram a surgir e rapidamente tomaram a primazia os trabalhos empíricos passíveis de tratamentos estatísticos. Como já nos pronunciamos publicamente em diversas oportunidades, em congressos, reuniões, salas de aula e até neste mesmo espaço: trabalhamos praticamente 15 anos com artigos sem empiria, ou com artigos empíricos, mas sem tratamento metodológico/estatístico mais robusto. Opiniões, sugestões, discussões conceituais e teoria. Reconhecemos que muitos de nós erramos por demorar a passar para o “positivismo”. Como dito, só acordamos quando Sérgio de Iudicibus passou a utilizar essa metodologia em sua disciplina “Teoria Avançada da Contabilidade”, seguido pela abordagem do Alexsandro Broedel Lopes e, daí por diante, essa linha foi incentivada por todo um corpo de adeptos.

Por outro lado, nos últimos 15 anos vimos cometendo outro erro: professores, doutorandos, mestrandos e até graduandos se dedicam exageradamente (na nossa opinião) à linha “positivista”, ou seja, de constatação, de checagem, de (in)validação de hipóteses etc., praticamente sem criação de novas teorias, de novas abordagens, de proposições de mudanças nos reconhecimentos, nas mensurações e na divulgação das informações contábeis, bem como de novos instrumentos úteis à contabilidade gerencial. Nem a crítica ao que existe nesse campo parece ter atratividade.

Quem sabe não teremos um mundo científico mais completo nas próximas décadas: criar, testar, criticar, modificar; criar, testar, criticar, modificar etc.? Ou seja: normativismo seguido de positivismo seguido de normativismo...

Sabemos dos esforços, inclusive do Fábio Frezatti e dos editores ad hoc, no sentido de atrair ensaios. E sabemos quão difícil tem sido alcançar esse intento.

Esse mundo é mais difícil? Exige maior concentração e mais estudos? Demanda maior criatividade? É mais arriscado submeter ideias às críticas de todos? Gasta-se mais tempo para conseguir um bom trabalho?

Há expectativa de que, por meio de análise crítica, possamos identificar e priorizar problemas relevantes - e essa é nossa grande motivação.

Não esmorecemos e continuamos provocando nossos autores, revisores e leitores a promover essa terceira fase que, seguramente, será muito mais rica por completar o ciclo da geração de conhecimento: criação, teste; criação, teste... Pedimos encarecidamente que levemos o pêndulo, que oscilou de um extremo ao outro, a encontrar seu ponto de equilíbrio.

7. E A TERCEIRA FASE, JÁ SE INICIOU?

Mostra-se difícil dar início a essa terceira fase!

Há todo um entorno que favorece a manutenção, por algum tempo, da quase total predominância de trabalhos empíricos com tratamento quantitativo, principalmente estatístico. As revistas adotam normas rígidas quanto às metodologias que devem ser utilizadas; elas só progridem e ganham status à medida que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), inicialmente com o nobre intento de estabelecer um mínimo de ordem metodológica, foi formando aos poucos, por meio de um mecanismo de sinergia com os revisores, uma mentalidade de que o artigo sem tratamento quantitativo “não é científico”!

A maioria dos revisores pressiona no sentido desse tipo de tratamento. Vale notar que, por outro lado, quando se tentou aumentar o grau de conhecimento por parte dos professores e alunos de Contabilidade, na FEA USP, a ideia não era, primariamente, aumentar a incidência de artigos positivistas, mas, pelo menos no que se refere ao trabalho do Sérgio de Iudicibus, de aprender a utilizar métodos quantitativos para a gerência das empresas - principalmente. No fundo, não foi possível deter o avanço avassalador do uso de métodos quantitativos nos artigos submetidos a revistas, congressos etc., pois esse foi um fenômeno praticamente mundial, inspirado pelas revistas norte-americanas. E, por último, mas não menos importante, historicamente, alguns trabalhos denominados positivistas se mostraram de grande qualidade, desde a década de 1960, notadamente nos Estados Unidos da América (EUA).

8. A ATRAÇÃO DOS MÉTODOS QUANTITATIVOS

Pesquisadores contábeis e financeiros inverteram o significado das variáveis: embora suas disciplinas expressem realidades socioeconômicas em números, eles acharam ou fingiram achar que, tranquilamente, poderiam trabalhar com números e que os resultados finais das pesquisas ainda expressariam realidades e fenômenos sociais ou econômicos!

Afinal, os resultados são válidos apenas até a dimensão da amostra, as expressões estatísticas são elegantes e, então, vamos agir como se faz em ciência exata ou muito parecida às ciências naturais, nas quais, obviamente, o estudo quantitativo de causa e efeito é o que se procura!

O problema é que, uma vez chegando à resposta, as dúvidas que surgem são tantas que é necessário realizar outras tantas pesquisas partindo das dúvidas!

E isso tem seus lados bom e ruim: gera mais trabalhos, mas mostra certa inadequação.

Então, é melhor trabalhar com variáveis sociais - perfeito! Isso merece aplausos!!!

Só que é muito mais difícil trabalhar com esse tipo de variável, pois as variáveis sociais se interpenetram umas nas outras e é necessária grande experiência para que a análise não seja perturbada pelos efeitos de uma variável nas outras. Ou levá-los em conta (os efeitos) corretamente - lembrando que as variáveis sociais podem ser expressas em termos quantitativos ou qualitativos!

9. A GRANDE BELEZA

Se o padrão das revistas fosse mais acolhedor aos não quantitativistas, haveria uma enorme gama de trabalhos que poderiam ser avaliados: pesquisas qualitativas com variáveis independentes definidas, mas sociais; trabalhos conceituais de grande profundidade, pesquisas de caráter histórico, artigos empíricos sobre o aspecto social e institucional do setor de Contabilidade, ensaios, estudos aprofundados pelo método do estudo de caso; enfim, uma miríade de oportunidades para a ampliação de campos e métodos de pesquisa, como ocorre na Europa, por exemplo. Para isso, entretanto, é necessário um compromisso para que nossa Revista Contabilidade & Finanças tome a liderança mais aberta e decididamente e releve as críticas que possam surgir no início. Outro detalhe consiste em incentivar as pesquisas teóricas, além daquelas em Contabilidade, também em Finanças e Atuária. Também temos visto, poucos na verdade, artigos sobre Finanças, em seus aspectos conceituais mais profundos. Felizmente, a Revista já admite a análise de ensaios. Talvez pudéssemos começar a admirar essa grande beleza que a Contabilidade, as Finanças e a Atuária podem oferecer por meio de ensaios. Decerto, sob o impacto das mudanças na Revista Contabilidade & Finanças, outras revistas ampliariam seus parâmetros de aceitação.

Contudo, há outro ponto relevantíssimo: é necessário que os pesquisadores se animem a adentrar esse campo. A revista é um ente um tanto passivo, no máximo podendo incentivar; ativo é o pesquisador, que tem de assumir, inclusive, o risco de participar dessa “inovação”. E, hoje, sabemos que quase nada de material com essa beleza chega até a revista. Estamos em um círculo vicioso: trabalhos não são produzidos porque as revistas não os recebem; e aquela que os quer receber nada publica porque o bom pesquisador parece ter desistido dessa tarefa.

10. “E LA NAVE VA”: OS PRÓXIMOS 30 ANOS

O que se espera, enfim, é mais uma grande abertura para aumentar a qualidade dos assuntos tratados do que o excessivo refinamento da metodologia adotada. Contabilidade, Finanças e Atuária são áreas do conhecimento muito importantes: a estruturação teórica das Finanças, baseada na Economia e com um olhar faminto sobre o mercado, precisa de maior frescor e vitalidade; já a estruturação teórica da Contabilidade precisa de muito mais do que isso, demanda uma profunda revolução para se adaptar ao mundo das empresas digitais e enfrentar o mundo da inteligência artificial e da tecnologia com a ousadia de um salto maior no subjetivismo responsável.

No fundo, a mensagem do primeiro e modesto artigo publicado no primeiro número do então Caderno de Estudos dá a dimensão exata do desafio: generalizando, Contabilidade - crepúsculo ou ressurgimento?

REFERENCES

  • Carmona, S. (2011). In pursuance of successful research. European Accounting Review, 20(1), 1-5.
  • Sharma, P., Shepherd, D., & Bagby, D. R. (2017). Preconceptions, lessons learned, and other changes: three editors’ journeys. Family Business Review, 30(4), 314-319.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2019
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