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Enfermeiras do Brasil: história das pioneiras

RESENHA DE LIVRO

Enfermeiras do Brasil: história das pioneiras

Antonia Regina Ferreira Furegato

Professor Titular Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem, Brasil, e-mail: furegato@eerp.usp.br

A leitura dos capítulos do livro “Enfermeiras do Brasil - história das pioneiras” escrito por Vitória Secaf e Hebe Canuto da Boa-Viagem de Andrade Costa publicado em 2007 pela editora Martinari, em São Paulo, traz, inicialmente, o relato da vida de 15 pioneiras da enfermagem brasileira.

O texto, claro e informativo, tem conteúdo emocionante. É um livro de história que retrata vidas e provoca o desejo de conhecer detalhes sobre cada uma das personagens, suas ligações, suas influências e sua produção.

Trata-se de publicação comprometida com a história e também com a humanização do cuidado, pois se observa nas descrições o quanto de dedicação, de doação, de envolvimento, de preocupação com o sofrimento das pessoas e crença na capacidade de aprendizado existe nas entrelinhas desse texto.

O livro está dividido em 15 capítulos, apresentando as pioneiras, tendo ainda uma introdução contextualizando a enfermagem e a situação sanitária do país e a finalização ressaltando o valor incontestável dessas 15 MULHERES. O texto traz as contribuições tanto na criação de escolas, organização de serviços, criação da Associação Brasileira de Enfermagem, da Revista Brasileira de Enfermagem e das bases legais da profissão, o Conselho de Enfermagem.

As 184 páginas onde as autoras reuniram as 15 pioneiras da enfermagem brasileira, tanto podem ser saboreadas como histórias dessas enfermeiras bem como história da Enfermagem.

Do contexto histórico, vale destacar alguns pontos: no início o século XIX, o Brasil tinha por volta de 30 mil habitantes e entre os maiores de 15 anos apenas 20% sabiam ler. Assim como o sistema educacional, os serviços públicos para atender à saúde da população, mesmo na capital Rio de Janeiro, eram precários. As irmãs de caridade cuidavam dos doentes hospitalizados, situação agravada no período pós-guerra. As primeiras providências para preparar pessoas para o cuidado datavam de 1890. Entretanto, foi só na década de 20 que de fato se concretizou a criação do Serviço de Enfermagem do Departamento Nacional de Saúde Pública e preparo de enfermeiros sob o comando do Dr. Carlos Chagas, que obteve ajuda internacional.

O grupo chefiado por Ethel O. Parsons, com outras 13 enfermeiras americanas para uma missão técnica da Fundação Rochefeller, agiu reorganizando a saúde pública e criando um curso rápido de visitadoras, procurando atender a necessidade de melhora do padrão de serviços de saúde, de onde surge o primeiro nome destaque dentre as pioneiras: “Edith Magalhães Fraenkel”.

Era uma postulação política da época que a primeira escola de Enfermagem tivesse o mais alto padrão de ensino. A Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública começou a funcionar em fevereiro de 1923, com 2 anos e meio de curso, e só em 1931 passou a denominar-se Escola de Enfermeiras “Anna Nery”. Em 1937, foi incorporada à Universidade do Brasil e só em 1946 foi reconhecida como estabelecimento de ensino superior.

Na década de 40, o governo do Estado de São Paulo empenhou-se em criar uma escola de Enfermagem que veio a ser a Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo e, para isso contou com a experiência de Edith Magalhães Fraenkel. Essa escola logo revelou seu excelente padrão de ensino, comparável às melhores escolas americanas de então.

Desde o início da missão americana, as enfermeiras que se destacavam eram enviadas a países como Canadá e USA para se formarem ou se aperfeiçoarem.

A enfermeira Ethel O. Parsons estimulou a criação de uma Associação das Enfermeiras Diplomadas, hoje ABEn - Associação Brasileira de Enfermagem, já em 1929 estava organizada e funcionando regularmente. Nesse mesmo ano, a Associação representou o Brasil num Congresso do ICN - International Nursing Council, no Canadá.

Outro fato importante, decorrente dessa missão, foi a criação de uma revista da categoria, o que se efetivou em 1932. A Revista Brasileira de Enfermagem tem hoje o status de revista internacional, tanto pela qualidade de suas publicações como pelo moderno sistema de base de dados e circulação.

Nas décadas de 30 e 40, outras escolas foram criadas em vários pontos do Brasil tal como a Escola de Enfermagem Raquel Haddoch Lobo (UERJ), em 1948. Em 1930, organizou-se a Escola de Enfermagem Carlos Chagas, em Belo Horizonte. Em 1938, foi fundada a Escola de Enfermagem da Escola Paulista de Medicina - EPM. Em 1947, criou-se a Escola de Enfermagem em Salvador (Bahia) e a Escola de Enfermagem do Rio Grande do Sul, em 1951. Em 1952, foi criada a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP, sob a direção de Glete de Alcântara. Essas pioneiras criaram Escolas e organizaram Serviços como o SESP no Rio de Janeiro, o Serviço de Enfermagem do Hospital São Paulo (1935), o Amparo Maternal de São Paulo, em 1939, e outros importantes serviços de saúde em diversos recantos do Brasil, especialmente nas capitais dos Estados.

Destacam-se também muitos fatos comuns a essas 15 pioneiras: quase todas tiveram a oportunidade de fazer curso de graduação ou aperfeiçoamento no exterior. Todas tiveram cargos de confiança, sendo indicadas pela competência demonstrada em seu desempenho ou por representar, no momento, o ideal de enfermeira ou o ideal de profissional para atender a necessidade do país e do sistema de saúde; todas se conheceram, se encontraram e se ajudaram seja pelo espírito agregador de Edith Magalhães Fraenkel seja pela força que teve a Associação Brasileira de Enfermagem e a Revista Brasileira (o único veículo de comunicação impresso da profissão por muitos anos), seja por sua ligação com o ensino visando formar enfermeiros de alta qualidade; quase todos receberam importantes homenagens em vida e após seu falecimento.

As 15 enfermeiras brasileiras são apresentadas, nessa obra, tendo por base a data inicial da sua atuação no campo da enfermagem, destacando as peculiaridades que fizeram do conjunto uma obra da construção da enfermagem brasileira: Edith Magalhães Fraenkel (1889-1968); Rachel Haddock Lobo (1891-1933); Laís M. Netto dos Reys (1894-1950); Izaura Barbosa Lima (1897- ); Hilda Anna Krisch (1900-1995); Zaíra Cintra Vidal (1903-1997); Madre Domineuc (1911-1998); Haydee Guanais Dourado (1915-2004); Waleska Paixão (1903-1993); Maria Rosa de Souza Piheiro (1908-2002); Glete de Alcântara (1910-1974); Marina Andrade Resende (1918-1975); Olga Verderese (1917-2004); Wanda Horta (1928-1981) e Maria Ivete Ribeiro de Oliveira (1928-2003).

Finalmente, vale ressaltar a cuidadosa apresentação do livro “Enfermagem do Brasil - história das pioneiras”: cada enfermeira teve o seu retrato desenhado artisticamente na entrada do respectivo capítulo e, na capa, o mapa do nosso país agrega as 15 pioneiras.

Victória e Hebe foram muito felizes na composição dessa obra inédita e necessária ao acervo histórico da profissão que hoje se equipara à enfermagem internacional, tanto na assistência como no ensino e na pesquisa.

Recebido em: 23.11.2007

Aprovado em: 7.12.2007

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Mar 2008
  • Data do Fascículo
    Fev 2008

Histórico

  • Recebido
    23 Nov 2007
  • Aceito
    07 Dez 2007
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