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Clássicos dos primeiros dez anos

EDITORIAL

Clássicos dos primeiros dez anos

Carlos Augusto Monteiro; Rita de Cássia Barradas Barata

Editores Científicos

O aniversário de 40 anos de publicação ininterrupta da Revista de Saúde Pública levou-nos a republicar, dentre os artigos divulgados nos dez primeiros anos da Revista, aqueles que, por seus temas ou abordagens, pudessem refletir a produção científica da época. Assim fazendo, pensamos homenagear, na pessoa dos autores dos artigos republicados, todos os autores dos mais de dois mil artigos que a Revista divulgou em seus primeiros 40 anos de existência. Pareceu-nos, também, que seria ótima oportunidade para divulgar, para as novas gerações de sanitaristas e de profissionais de saúde, artigos e autores que foram marcantes em sua época.

Para selecionar os artigos que foram republicados nos seis números do volume 40 da Revista de Saúde Pública, procuramos representar a diversidade temática e disciplinar que caracteriza a saúde pública e priorizar artigos de interesse histórico ou que encerrassem importantes lições para os dias atuais. Com esses critérios em mente e não sem muita dificuldade, dada a riqueza do material com que trabalhamos, chegamos aos 12 artigos efetivamente republicados.

A fim de tornar a iniciativa mais interessante para nossos leitores, convidamos renomados pesquisadores brasileiros, colaboradores tradicionais da Revista de Saúde Pública, para reler os artigos e comentá-los. Instamos esses pesquisadores a que, em particular, apreciassem a contribuição que esses artigos trouxeram para o conhecimento no momento em que foram produzidos, o impacto que exerceram sobre a prática da saúde pública em nosso meio e a pertinência de suas análises, achados e conclusões nos dias de hoje. Iniciamos a série com "História da saúde pública no Estado de São Paulo" de Rodolfo Mascarenhas, com os comentários de Everardo Duarte Nunes e Luiz Antônio Teixeira. Este artigo retrata a história da saúde pública paulista desde 1891 até 1970, destacando as figuras de Emílio Ribas e Geraldo de Paula Souza. Ainda no primeiro número, republicamos "Situação da rede pública de assistência médico-sanitária na área metropolitana da Grande São Paulo" de João Yunes e Rosa Bromberg, com os comentários de Gastão Wagner Campos e Paulo Elias. Este segundo artigo descreve com riqueza de detalhes a condição da rede de assistência da região metropolitana em 1970. Ambos os artigos, segundo os comentaristas, constituem referências essenciais para os estudiosos das áreas de planejamento e gestão.

Para o segundo número, selecionamos dois artigos epidemiológicos dedicados à construção de modelos epidemiométricos: um aplicado à disseminação da tuberculose e outro à cinética da infecção chagásica. A importância histórica de "Sobre o modelo catalítico reversível aplicado ao estudo da cinética epidemiológica da infecção chagásica" de Guilherme Rodrigues da Silva e "Modelos Epidemiométricos em tuberculose – definição de "estados" e risco de infecção" de Antonio Ruffino-Netto está no relato de modelagens feitas quando o uso de computadores pessoais ainda não estava disseminado e o máximo de tecnologia com a qual se podia contar vinha de prosaicas calculadoras. Para esses artigos contamos com os comentários de Cláudio Struchiner para o primeiro e Cláudia Codeço e Guilherme Werneck, para o segundo.

No terceiro número, republicamos duas contribuições sobre temas diretamente relacionados à política de saúde. A primeira, originalmente publicada na forma de editorial, traz a análise de docentes da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo sobre o Plano Nacional de Saúde proposto pelo então Ministro Leonel Miranda. O artigo foi comentado por Jairnilson Paim e Célia Almeida. A segunda contribuição – "Abreugrafia sistemática em massa: inviabilidade econômica e eventuais perigos da exposição a radiações" – de Febus Gikovate e Diogo Pupo Nogueira questiona o uso indiscriminado da abreugrafia e chama a atenção para a necessidade de evidências científicas no embasamento das práticas de saúde pública. Os comentários sobre essas históricas contribuições foram feitos por Maurício Barreto e Antônio Ruffino-Netto.

No quarto número, contemplamos a área da economia da saúde com o artigo "Financiamento dos serviços de saúde pública" de Rodolfo Mascarenhas e uma análise da situação epidemiológica de uma enfermidade bastante importante durante as décadas de 60 e 70 com o artigo "Estado atual do problema da poliomielite no município de São Paulo" de Victório Barbosa. A atualidade do artigo de Mascarenhas, escrito em 1967, é destacada nos comentários de Sérgio Piola e Sílvia Porto. Por outro lado, o artigo de Victório Barbosa, publicado originalmente em 1968, pode ser visto como um precursor da estratégia dos dias nacionais de vacinação, conforme bem assinalado nos comentários de José Cássio de Moraes e José da Silva Guedes.

No quinto número, foi a vez de destacar "Plano de amostragem utilizado no estudo de reprodução humana no distrito de São Paulo", escrito por Eunice Pinho de Castro Silva e comentado por Maria Cecília Alves e Maurício Vasconcellos, mostrando as enormes dificuldades na elaboração de planos amostrais para inquéritos domiciliares em um momento no qual não havia acesso a informações dos setores censitários. O segundo artigo do quinto número abordava iniciativa no ensino da saúde pública, com o artigo "Curso de Saúde Pública em um semestre" da autoria de José Maria Pacheco de Souza e colaboradores, referente à formulação e implementação do chamado "curso curto" de saúde pública. Este curso, impulsionado pelo grande sanitarista Walter Leser, permitiu à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo contar com sanitaristas na chefia de todos os seus centros de saúde. Este artigo teve comentários de Regina Marsiglia e Joana Azevedo.

Finalmente, neste sexto e último número do volume 40, ora apresentado aos leitores, republicamos o artigo "Quantificação do Indicador de Nelson de Moraes" por José e Marilda da Silva Guedes, destacando a formulação de um novo indicador de saúde. Este artigo recebeu os comentários de Ruy Laurenti, mostrando que esse indicador tem valor histórico, como uma das únicas contribuições brasileiras aos "indicadores clássicos" da Organização Mundial de Saúde, sendo inovador, na ocasião. O segundo artigo deste número – "Biogeografia, origem e distribuição da domiciliação de triatomídeos no Brasil", de Oswaldo Paulo Forattini, é nas palavras de Luiz Jacintho da Silva, um dos comentadores do artigo, um dos pontos altos da obra de um pesquisador que dedicou toda uma vida ao estudo dos vetores das principais endemias brasileiras. Segundo Luiz Jacintho, trata-se, ao mesmo tempo, de uma brilhante contribuição ao estudo da "história natural" das doenças e um fascinante exercício de aplicação dos conhecimentos da entomologia e da ecologia. O artigo também é comentado por José da Rocha Carvalheiro.

Para encerrar, gostaríamos de agradecer a gentil colaboração de todos os pesquisadores que prontamente concordaram em comentar os artigos que selecionamos, fazendo-o com grande qualidade e em curto espaço de tempo.

8 de novembro de 2006

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Jul 2007
  • Data do Fascículo
    Dez 2006
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