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O AMBIENTE DIGITAL TRADCORPUS: PROPOSTA DE REPOSITÓRIO DE DADOS DE CORPORA ON-LINE PARA O ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS E DE TRADUÇÃO

THE TRADCORPUS DIGITAL ENVIRONMENT: A PROPOSAL OF AN ONLINE REPOSITORY FOR CORPORA DATA TO BE USED TO FOREIGN LANGUAGE AND TRANSLATION TEACHING

RESUMO

O presente artigo apresenta a interface inicial do repositório Tradução e Corpora On-line para Formação de Competências Profissionais (TRADCorpus), que visa fornecer corpora abertos multilíngues, paralelos e comparáveis como recurso para o ensino e aprendizagem de Tradução e de competências linguísticas em múltiplos pares de línguas tais como Português ↔ Inglês ↔ Espanhol ↔ Francês ↔ Italiano ↔ Alemão. As teorias utilizadas para construir este conjunto de dados seguem principalmente os conceitos de Data-Driven Learning, bem como a Pedagogia de Tradução Baseada em Corpus, que promovem um processo de utilização eficaz dos corpora para a realização de tarefas de ensino e de Tradução. Essa coleção de materiais, bem como uma lista de ferramentas computacionais, está disponível para professores de línguas, tradutores e estudantes que podem acessar arquivos e atividades produzidas por diferentes usuários e podem também partilhar as suas próprias produções. A maioria dos corpora, listas de palavras, palavras-chave, colocados são resultados da pesquisa desenvolvida pelos grupos "Tradução, Terminologia e Corpora" e "En-Corpora": Ensino Baseado e Dirigido por Corpora" (CNPq).

Palavras-chave:
pedagogia da tradução; tradução pedagógica; ambiente digital de corpora; atividade tradutória; objetos de aprendizagem

ABSTRACT

This article presents a preliminary online repository called TRADCorpus - Translation and Online Corpora for Training Professional Competences, which aims at providing open multilingual, parallel and comparable corpora as resource for teaching and learning translation and language skills in multiple language pairs such as Portuguese ↔ English ↔ Spanish ↔ French ↔ Italian ↔ German. The theories used for building this collection mainly follow the concepts of Data-Driven Learning as well as Corpus-Based Translation Pedagogy which promote a process of effective use of corpora for performing teaching and translation tasks. This database, as well as a list of online computational tools, will be available to language teachers, translators and students who will be able to access a set of files and activities produced by different users and they will be able to share their own work as well. Most of the corpora and lists of words, keywords and collocates are the results of the research developed by the groups "Translation, Terminology and Corpora" and "En-Corpora: Corpus-Based and Corpus-Driven Teaching" (CNPq).

Keywords:
pedagogy of translation; pedagogical translation; digital corpora environment; translation tasks; learning objects

INTRODUÇÃO

Ao longo das duas últimas décadas, pesquisas voltadas ao aprimoramento de didáticas e metodologias de ensino para a Tradução avançaram no cenário teórico da área, principalmente quando pensamos em autores como Hurtado Albir (2005HURTADO ALBIR, A. (2005). A aquisição da competência tradutória: aspectos teóricos e didáticos. In: ALVES, F.; MAGALHÃES, C.M.; PAGANO, A. (Orgs.) Competência em Tradução: cognição e discurso. Belo Horizonte: Editora UFMG, p. 19-57., 2015)HURTADO ALBIR, A. Aprender a traducir del francés al español. Competencias y tareas para la iniciación a la traducción. Madrid/Castellón: Edelsa/Univ. Jaume I, 2015., García Izquierdo (2005)GARCÍA IZQUIERDO, I. (2005). Corpus electrónico, género textual y traducción: metodología, concepto y ámbito de la Enciclopedia electrónica para traductores GENTT. Meta: journal des traducteurs/Meta: Translators’ Journal, v. 50, n. 4., entre outros. Nesse contexto, a Linguística de Corpus (BERBER SARDINHA, 2004BERBER SARDINHA, A P. (2004). Linguística de corpus. São Paulo: Manole.), os Estudos da Tradução Baseados em Corpora (Baker, 1993BAKER, M. (1993). Corpus linguistics and translation studies: implications and applications. In: BAKER, M.; FRANCIS, G.; TOGNINI-BONELLI, E. (Ed.) Text and technology: in honour of John Sinclair. Amsterdã: Jonh Benjamins p. 233-250.) e a Terminologia (Barros, 2004BARROS, L. A. (2004). Curso básico de terminologia. São Paulo: Edusp.) assumiram um importante papel na elaboração de modelos e aplicações de glossários, listas de palavras e demais produtos provenientes das análises de corpora em atividades que promovem o desenvolvimento de competências especificamente relacionadas às práticas tradutórias. Sendo assim, investigações como as de Zanettin (2014aZANETTIN, F. (2014a). Translation-driven corpora: Corpus resources for descriptive and applied translation studies. London: Routledge., 2014b)ZANETTIN, F. (2014b). Corpora in translation. In: HOUSE, J. (Ed.) Translation: A multidisciplinary approach. London: Palgrave Macmillan, p. 178-199. debruçaram-se sobre essas bases procedimentais e aliaram-nas com noções como, por exemplo, a de enfoque por dados (Data-Driven Learning) promulgada por Tim Johns (2002)JOHNS, T. (2002). Data-driven learning: The perpetual challenge. Language and Computers, v. 42, p. 107-118.. Construíram, com isso, materiais, técnicas e práticas baseados em corpora, os quais, por sua vez, fundamentaram estruturas como as de needs-driven corpora (MCENERY, XIAO, 2011MCENERY, T.; XIAO, R. (2011). What corpora can offer in language teaching and learning. In: HINKEL, E. (Ed.) Handbook of research in second language teaching and learning. London: Routledge, p. 364-380, 2011.), translation-driven corpora (GALLEGO-HERNÁNDEZ, 2015GALLEGO-HERNÁNDEZ, D. (2015). The use of corpora as translation resources: a study based on a survey of Spanish professional translators. Perspectives v.23, n. 3, p. 375-391.) e corpus-driven activities (KUTUZOV, KUNILOVSKAYA, 2014KUTUZOV, A.; KUNILOVSKAYA, M. (2014). Russian learner translator corpus. International Conference on Text, Speech, and Dialogue. Springer, Cham, p. 315-323.).

Com a necessidade de se interpretar tais leituras e dados sob a ótica dessas conjecturas teóricas, linhas de pesquisa surgiram, focando a compreensão do ensino de Tradução em estudos pedagógicos, como é caso das teorias construtivistas de Kiraly (2014)KIRALY, D. C. (2014). From assumptions about knowing and learning to praxis in translator education. InTRAlínea, v. 6, p. 1-11., comunicativas de Beeby-Lonsdale, Inés e Sánchez-Gijón (2009)BEEBY-LONSDALE, A.; INÉS, P. R.; SÁNCHEZ-GIJÓN, P. (Ed.). (2009). Corpus Use and Translating: Corpus use for learning to translate and learning corpus use to translate. Manchester: John Benjamins Publishing., funcionalistas de Nord (2009)NORD, C. (2009). El funcionalismo en la enseñanza de traducción. Mutatis Mutandis. vol. 2, No. 2. p. 209-243., Pym e Torres-Simón (2015)PYM, A.; TORRES-SIMÓN, E. (2015). The pedagogical value of translation solution types. Perspectives, v. 23, n. 1, p. 89-106., bem como cognitivistas de Klimkowska (2014)KLIMKOWSKA, K. (2014). Cognitive Proactivity of Translators-to-be. Language and Literary Studies of Warsaw, v. 4, p. 223-237. e holísticas de Hurtado Albir (2015)HURTADO ALBIR, A. Aprender a traducir del francés al español. Competencias y tareas para la iniciación a la traducción. Madrid/Castellón: Edelsa/Univ. Jaume I, 2015. e demais membros do PACTE (Processo de Aquisição da Competência Tradutória e Avaliação) (2014PACTE. (2014). First Results of PACTE Group’s Experimental Research on Translation Competence Acquisition: The Acquisition of Declarative Knowledge of Translation. MonTI. Monografías de Traducción e Interpretación, núm. especial 1, 85-115., 2015)PACTE. (2015). Results of PACTE’s Experimental Research on the Acquisition of Translation Competence: The Acquisition of Declarative and Procedural Knowledge in Translation. The Dynamic Translation Index. Translation Spaces, Vol. 4 núm. 1, p. 29-53.. Desse modo, informações provenientes da análise do processo e do produto próprios da profissão do tradutor passaram a ser parte de investigações com base no uso de pedagogic corpora (MARCO, VAN LAWICK, 2015MARCO, I.; VAN LAWICK, H. (2015). Enhancing translator trainees’ awareness of source text interference through use of comparable corpora. In: LENKO-SZYMANSKA, A.; BOULTON, A. (Ed). Multiple affordances of language corpora for data-driven learning, Manchester: John Benjamins Publishin, p. 225-244), os quais, em muitos casos atrelaram-se ao aparato tecnológico para fins, principalmente, de armazenamento e disponibilização dos dados coletados para tradutores e aprendizes de Tradução.

Contudo, ao traçarmos tal panorama de leitura, notamos a existência de lacunas metodológico-conceituais, as quais procuramos explorar em nossa presente pesquisa. Consideramos que, apesar dos avanços nas associações entre teorias didático-pedagógicas, Estudos da Tradução e Linguística de Corpus, no campo do ensino e aprendizagem parece existir um distanciamento entre os posicionamentos práticos docentes. Esse fenômeno é caracterizado por atividades tradutórias isoladas e pelo desenvolvimento de tarefas somente no contexto de sala de aula, delimitando tanto o trabalho do professor quanto a amplitude da abordagem das competências para os aprendizes (KELLY, 2005KELLY, D. A. (2005). A Handbook for Translator Trainers. Oxford: Alden Press.), o que se intensifica no ambiente digital das webs 2.0 e 3.0. Além disso, também notamos que existe um distanciamento teórico entre as noções da Pedagogia da Tradução (CHESTERMAN, 1996CHESTERMAN, A. (1996). Teaching translation theory: the significance of memes. In: DOLLERUP, C.; LODDEGAARD, A. (Eds.) Teaching Translation and Interpreting 3. Amsterdam: John Benjamins, p. 63.) e aquelas advindas da Tradução Pedagógica (HURTADO ALBIR, 1999HURTADO ALBIR, A. (dir.) (1999). Enseñar a traducir. Metodología en la formación de traductores e intérpretes. Madrid: Edelsa.; GUTIÉRREZ, LOPES, 2019GUTIÉRREZ, L. P.; LOPES, F. C. (2019). Fundamentos da Tradução Pedagógica Ensino: Tradução, e Comunicação. Revista X, v. 14, n. 2, p. 5-41.), o que vem sendo discutido em leituras interpretativas como as de Carreres (2006)CARRERES, A. (2006). Translation and Language Teaching. The Teaching of Translation into L2 in Modern Languages Degrees; Uses and Limitations. Sixth Symposium on Translation, Terminology and Interpretation in Cuba and Canada. Canadian Translators, Terminologists and Interpreters Council, Strange bedfellows., Laviosa e Cleverton (2015)LAVIOSA, S.; CLEVERTON, V. (2015). Learning by translating: A contrastive methodology for ESP learning and translation. Scripta Manent, v. 2, n. 1, p. 3-12.. Para esses autores, a prática tradutória pode ser compreendida como um ato comunicativo (Kiraly, 2014KIRALY, D. C. (2014). From assumptions about knowing and learning to praxis in translator education. InTRAlínea, v. 6, p. 1-11.) e, também está constantemente presente no processo de aprendizagem de uma segunda língua (L2). Assim, a língua materna (L1) estaria sempre na mente do aprendiz, o que significaria dizer que a natureza de uma aula de L2 traria para o ambiente uma perspectiva de múltiplas competências, entre as quais a Tradução assumiria papel de relevância.

Dessa forma, tendo por base tal disjunção teórica, o objetivo principal deste artigo é apresentar uma correlação entre o uso de corpora e as noções de web 2.0 e 3.0, de tal modo que encontremos nas ferramentas online possíveis caminhos a serem utilizados para associar essas vertentes analíticas (SERPA, BATISTA, PINTO, 2021SERPA, T.; BATISTA, E. S.; PINTO, P.T. (org.) (2021). Corpora, Tecnologias e Web 3.0: Leituras e práticas para o ensino de línguas e tradução. 1. ed. Campinas, SP: Pontes Editores.). Sendo assim, tencionamos promover a adequação e a execução do repositório de dados de corpora digital Tradução e Corpora On-line para Formação de Competências Profissionais, doravante TRADCorpus.

A proposta cumpre a intensão de permitir que os resultados de pesquisas com corpora sejam hospedados em um website no formato de Objetos de Aprendizagem (OA). O desenho inicial da plataforma será apresentado com o intuito de enfatizar a elaboração de materiais de apoio (insumos) que promovam a aprendizagem reflexiva no âmbito das competências tradutórias tanto dentro dos constructos da Pedagogia da Tradução, quanto no que tange ao uso de suas práticas para ensino de L2, seguindo as premissas dos constructos de OA e Repositório de Aprendizagem (ROA) (SBROGIO, 2021SBROGIO, R. O. (2021). Design e ensino-aprendizagem: entre slides e formação de professores. Bauru (Tese de Doutorado) 2021. 236f. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Programa de Pós-graduação em Mídia e Tecnologia, da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design – FAAC.; LEFFA, 2006LEFFA, V. J. (2006). Nem tudo que balança cai: Objetos de aprendizagem no ensino de línguas. Polifonia. Cuiabá, v.12, n. 2, p. 15-45.).

Procuramos, em nossa estrutura, construir um sistema que envolva dados já coletados e levantados no formato de corpora multilíngues, paralelos e comparáveis pelos pesquisadores membros dos grupos Tradução, Terminologia e Corpora e En-Corpora: Ensino Baseado e Dirigido por Corpora (CNPq) e por seus orientandos, os quais servirão como base para uma rede de atividades habilitada a receber opções de múltiplos usuários nos pares de línguas português↔inglês↔espanhol e a transmitir os dados como o resultado de uma produção coletiva

Além disso, também buscamos como amparo as pesquisas desenvolvidas no tocante ao enfoque por tarefas1 1 Embora reconheçamos a distinção entre tarefas, atividades e exercícios, utilizaremos estes termos como sinônimos, nos comprometendo a realizar uma investigação mais profunda e um aclaramento dos fatores que os diferenciam. de tradução (VASCONCELLOS, ESPINDOLA, GYSEL, 2017VASCONCELLOS, M. L.; ESPINDOLA, E.; GYSEL, E. (2017). Interdisciplinaridade no ensino da tradução: formação por competências, abordagem por tarefas de tradução, tipologia textual baseada em contexto. Cadernos de Tradução, v. 37, n. 2, p. 177-207.) e de subsídios didáticos com base em corpora (ZANETTIN, 1998ZANETTIN, F. (1998). Bilingual comparable corpora and the training of translators. Meta: journal des traducteurs/Meta: Translators’ Journal, v. 43, n. 4, p. 616-630., 2009ZANETTIN, F. (2009). Corpus-based translation activities for language learners. The Interpreter and Translator Trainer, v. 3, n. 2, p. 209-224.; GARCÍA ISQUIERDO, ALBI, 2008GARCÍA IZQUIERDO, I.; ALBI, A. B. (2008). A multidisciplinary approach to specialized writing and translation using a genre based multilingual corpus of specialized texts. LSP & Professional Communication, v.8, n.1, p. 39-64.), para oferecer atividades de Tradução e de Ensino de Línguas Estrangeiras.

Neste trabalho, organizamos as seções de modo a apresentar, primeiramente, conceitos voltados à Linguística de Corpus e os Estudos da Tradução, bem como sua relação com premissas de investigações sobre competências tradutórias. Na sequência, dissertamos acerta do uso de tarefas de tradução no contexto de ensino e aprendizagem de idiomas e consideramos a composição dos corpora como Objetos de Aprendizagem disponibilizados em Repositórios de dados na web.

Apresentamos, então, os corpora que foram selecionados para serem inseridos na plataforma, bem como seu endereço e o seu formato. Por fim, mostramos o passo a passo do uso de suas ferramentas, como glossários, listas de palavras e de chavicidade. Finalizamos por refletir as implicações de um espaço digital com uso da Linguística de Corpus para a elaboração de atividades que possam amparar o ensino de tradução e idiomas.

1. LINGUÍSTICA DE CORPUS E ESTUDOS DA TRADUÇÃO

A Linguística de Corpus tem por objetivo desvendar as relações linguístico-culturais a partir de pesquisas que valorizem a representatividade das escolhas lexicais, gramaticais, sintáticas em atos de fala e de escrita reais. Essa abordagem também promove a observação de redes semânticas com a manipulação de textos contínuos. Dessa forma, viabiliza o confronto entre teoria e dados empíricos e amplia o conhecimento sobre a estrutura linguística por meio da coleta e análise de exemplos reais da língua.

O conceito de corpus, de acordo com Baker (1995, p. 226), constitui-se como uma coletânea de textos que são dispostos de tal forma a ser possível serem armazenados e analisados de maneira automática ou semiautomática2 2 […] a corpus is any collection of texts that are held in electronic form and analysed automatically or semi-automatically. .

Neste estudo, utilizamos três tipos de corpora: paralelos, comparáveis e multilíngues. Os corpora paralelos são definidos como "corpora de textos fonte e as respectivas traduções"3 3 Parallel corpora, that is corpora of source texts and their translations. (BAKER, 1993BAKER, M. (1993). Corpus linguistics and translation studies: implications and applications. In: BAKER, M.; FRANCIS, G.; TOGNINI-BONELLI, E. (Ed.) Text and technology: in honour of John Sinclair. Amsterdã: Jonh Benjamins p. 233-250., p. 238). Os corpora comparáveis, por sua vez, são compostos por textos originalmente escritos na língua 1 (L1) e textos originalmente escritos na língua 2 (L2). Por fim, os corpora multilíngues podem ou não ser paralelos e/ou comparáveis e abarcam mais de um idioma.

Berber Sardinha (2004)BERBER SARDINHA, A P. (2004). Linguística de corpus. São Paulo: Manole. enfatiza que a LC compreende uma "[...] visão da linguagem como sistema probabilístico". No campo da Tradução, formula-se que o quadro epistemológico dos Estudos Baseados em Corpus sugere a apreciação do texto traduzido (TT) realizada em seu ambiente de interação, de tal modo que favoreça o enfoque comparativo, dentro de um procedimento empirista de observação (BAKER, 1993BAKER, M. (1993). Corpus linguistics and translation studies: implications and applications. In: BAKER, M.; FRANCIS, G.; TOGNINI-BONELLI, E. (Ed.) Text and technology: in honour of John Sinclair. Amsterdã: Jonh Benjamins p. 233-250.).

2. ESTUDOS DE CORPORA NA TRADUÇÃO E COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS

Para Perrenoud (1999)PERRENOUD, P. (1999). Formar professores em contextos sociais em mudança: prática reflexiva e participação crítica. Revista brasileira de educação, v. 12, n. 5-21., a abordagem do ensino das condutas profissionais está relacionada ao desenvolvimento de competências, as quais considera como conhecimentos compartilhados, ou seja, ferramentas a serem mobilizadas conforme as necessidades, a fim de que se possam resolver problemas apresentados, primeiramente no ambiente escolar e, posteriormente, no trabalho.

O teórico (2000, p.16) compreende que as competências se referem "[...] ao domínio prático de um tipo de tarefas e de situações". Nesse sentido, não vê problemas em se trabalhar os conhecimentos na escola, que ele trata como saberes, nos diferentes componentes da formação profissional. Desse modo, segundo Perrenoud (2000)PERRENOUD, P. (2000). Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul., estar-se-ia ampliando o trabalho de educar desenvolvido pela escola e perpassando seus limites, chegando ao ambiente social.

Ainda sob a ótica das investigações do teórico, o desenvolvimento de competências ocorre a partir da organização da prática pedagógica em contextualizações reais e concretas. Trata-se de uma atividade que se inicia no conjunto cultural e coletivo da sociedade e que alcança a formação dos conhecimentos dos indivíduos.

Perrenoud (1996)PERRENOUD, P. (1996). L’Analyse collective des pratiques pédagogiques peut-elle transformerles praticiens? In: ACTES de l’Université d’Été L’analyse des pratiques en vue dutransfert des réussites. Paris, Ministère de l’Éducation Nationale, de l’EnseignementSupérieur et de la Recherche, p.17-34. associa essa concepção aos seguintes elementos:

  1. saberes metodológicos e teóricos;

  2. atitudes e uma relação autêntica com o ofício e com o uso;

  3. competências que se apoiam sobre esses saberes e atitudes, permitindo mobilizá-los em situação de trabalho e aliá-los à intuição e à improvisação, como na própria prática pedagógica.

No âmbito da Pedagogia da Tradução, o grupo PACTE, encabeçado por Amparo Hurtado Albir, vem desenvolvendo pesquisas que focam o princípio didático para a Tradução, tendo concebido a noção de competência tradutória como "(...) um conhecimento especializado, integrado por um conjunto de conhecimentos e habilidades, que singulariza o tradutor e o diferencia de outros falantes bilíngues não tradutores" (HURTADO ALBIR, 2005HURTADO ALBIR, A. (2005). A aquisição da competência tradutória: aspectos teóricos e didáticos. In: ALVES, F.; MAGALHÃES, C.M.; PAGANO, A. (Orgs.) Competência em Tradução: cognição e discurso. Belo Horizonte: Editora UFMG, p. 19-57., p.19).

Os estudiosos sugerem, dessa maneira, que existem seis subcomponentes da competência, a saber:

  1. Competência Comunicativa nas duas línguas, incluindo habilidades linguísticas, discursivas e sociolinguísticas;

  2. Competência Extralinguística composta pelo conhecimento de mundo e por conhecimentos especializados;

  3. Competência Instrumental Profissional composta pelo conhecimento e pelas habilidades relacionados às ferramentas de mercado da profissão;

  4. Competência Psicofisiológica, definida como uma habilidade de usar todos os tipos de fontes psicomotoras, cognitivas e atitudinais, incluindo habilidades psicomotoras para ler e escrever; habilidades cognitivas (por exemplo: memória, atenção, criatividade e raciocínio lógico); atitudes psicológicas (por exemplo: curiosidade, perseverança, rigor, espírito crítico e autoconfiança);

  5. Competência de Transferência, que representa uma habilidade para completar o processo de transferência de uma Língua Fonte (LF) para uma Língua Meta (LM), ou seja, entender a LF e reexpressá-la no TT, considerando as funções que uma tradução pode assumir, bem como as características do público de chegada;

  6. Competência Estratégica, que inclui todos os procedimentos conscientes ou inconscientes, coletivos ou individuais, verbais ou não-verbais utilizados para resolver possíveis dificuldades encontradas durante o processo tradutório.4 4 Essa nomenclatura sofreu uma alteração ao longo dos estudos do grupo PACTE e hoje podem ser verificados estudos em que se encontram dispostos da seguinte maneira: 1) subcompetência bilíngue; 2) subcompetência extralinguística; 3) subcompetência estratégica; 4) subcompetência instrumental; 5) subcompetência de saberes da tradução e 6) componentes psicofisiológicos.

Em nossa investigação, verificamos como as competências integram-se de modo a permitir formular um fenômeno de ensino e aprendizagem da Tradução, concebendo-o como uma "atividade" elaborada por meio do reconhecimento dos padrões de uso das linguagens de modo comunitário e grupal, bem como do reconhecimento das estratégias aceitáveis dentro de um conjunto de práticas assimilativo. Daí utilizarmos a Linguística de Corpus como um elemento de amálgama entre as proposições de saberes que podem ser extralinguísticos, linguísticos, comunicativos e estratégicos e que são impulsionados pelo instrumental tecnológico, de forma a munir os aprendizes de conceitos e capacitá-lo a lidar com ferramentas de análise, tornando-os pesquisadores reflexivos e não meros receptores de conhecimento.

Assim, ao elevarmos os corpora de textos originais (TOs) e TTs ao status de material didático (OA), podemos ajudar os aprendizes a investigar experiências, conhecimentos linguísticos e comunidades envolvidas. Neste processo os aprendizes adquiririam informações sobre as estratégias adotadas, bem como sobre os diferentes tipos de textos em que se fundamentam (ZANETTIN, 1998ZANETTIN, F. (1998). Bilingual comparable corpora and the training of translators. Meta: journal des traducteurs/Meta: Translators’ Journal, v. 43, n. 4, p. 616-630.). Para Tim Johns (2002)JOHNS, T. (2002). Data-driven learning: The perpetual challenge. Language and Computers, v. 42, p. 107-118., pioneiro da abordagem de Data Driven Learning (DDL) no contexto de sala de aula, o uso de corpus habilita os educadores a produzirem materiais de referência e a desenvolverem atividades baseadas no uso real das linguagens.

3. COMPETÊNCIAS TRADUTÓRIAS NO ENSINO DE LÍNGUAS E DE TRADUÇÃO COM O USO DE CORPORA

São muitos os autores que trazem o conceito de Tradução para o âmbito do Ensino de L2 (CARRERES, 2006CARRERES, A. (2006). Translation and Language Teaching. The Teaching of Translation into L2 in Modern Languages Degrees; Uses and Limitations. Sixth Symposium on Translation, Terminology and Interpretation in Cuba and Canada. Canadian Translators, Terminologists and Interpreters Council, Strange bedfellows.; LAVIOSA, CLEVERTON, 2015LAVIOSA, S.; CLEVERTON, V. (2015). Learning by translating: A contrastive methodology for ESP learning and translation. Scripta Manent, v. 2, n. 1, p. 3-12.); no entanto, podemos destacar estudos que partem dos princípios das competências tradutórias nesse contexto, como é o caso dos textos seminais de Hurtado Albir (1988). Apesar de trazer a distinção entre a formação de tradutores especificamente e o uso do fazer tradutório como método para ensino de línguas, a autora entende que existe uma possibilidade de se recorrer aos elementos linguísticos e extralinguísticos de um TT, para trabalhar conhecimentos da situação, do tema, dos códigos socioculturais, em atividades de L2, uma vez que considera a tradução dentro de uma perspectiva comunicativa e holística.

Ela considera que a tradução usada em sala de aula deve ser vista como instrumental didático, uma vez que o aprendiz de uma L2 sempre irá recorrer aos conhecimentos de sua L1 para construir contrapontos de modo que o professor seja o responsável, então, por fazê-lo compreender que traduzir significados é mais importante que traduzir estruturas e que o processo tradutório deve auxiliá-lo a formar estratégias de interpretação e não de comparação entre enunciados.

Por sua vez, Carreres (2006)CARRERES, A. (2006). Translation and Language Teaching. The Teaching of Translation into L2 in Modern Languages Degrees; Uses and Limitations. Sixth Symposium on Translation, Terminology and Interpretation in Cuba and Canada. Canadian Translators, Terminologists and Interpreters Council, Strange bedfellows. retoma as noções de competência tradutória desenvolvidas pelo grupo PACTE, a fim de compreender até que ponto elas podem ser relevantes para o aprendiz de L2. Conforme Kelly (2005)KELLY, D. A. (2005). A Handbook for Translator Trainers. Oxford: Alden Press.5 5 Lembramos que já apresentamos as competências tradutórias no item anterior. Aqui apenas redesenhamos com maior ênfase as habilidades que são apontadas como passíveis de estarem amparadas dentro do ensino de línguas. , as competências apresentam atributos que podem sobrepor-se àqueles voltados ao Ensino-Aprendizagem de Línguas, como é o caso de saberes referentes à busca documental (competência instrumental), à concentração, autoconhecimento, memória, iniciativa (componentes psicofisiológicos), trabalho em equipe, habilidades de negociação, organização, planejamento, resolução de problemas, autoavaliação e monitoramento (competência estratégica).

Nesse sentido, pesquisadores como Hurtado Albir (1999)HURTADO ALBIR, A. (dir.) (1999). Enseñar a traducir. Metodología en la formación de traductores e intérpretes. Madrid: Edelsa., voltados à implementação de uma Didática para a Tradução, admitem haver um ponto de intersecção que pode permitir o estabelecimento de uma dupla-troca entre as duas áreas.

A Tradução não se dissocia completamente do Ensino de Línguas, e ao apresentarmos a interação entre ambas as abordagens, reconhecemos que a Tradução como um fim também pode ser entendida como um meio, um método, um instrumental.

É nesse âmbito que autores como Jiménes-Crespo (2017)JIMÉNEZ-CRESPO, M. Á. (2017). Crowdsourcing and online collaborative translations: Expanding the limits of translation studies. London: John Benjamins Publishing Company., Zanettin (2009ZANETTIN, F. (2009). Corpus-based translation activities for language learners. The Interpreter and Translator Trainer, v. 3, n. 2, p. 209-224., 2014aZANETTIN, F. (2014a). Translation-driven corpora: Corpus resources for descriptive and applied translation studies. London: Routledge., 2014b)ZANETTIN, F. (2014b). Corpora in translation. In: HOUSE, J. (Ed.) Translation: A multidisciplinary approach. London: Palgrave Macmillan, p. 178-199., entre outros, encontram na LC a possibilidade de ampliar a visão de TTs por meio do uso de corpora para o desenvolvimento de tarefas, metodologias, técnicas e testes de L2.

Sob a concepção de Zanettin (2009ZANETTIN, F. (2009). Corpus-based translation activities for language learners. The Interpreter and Translator Trainer, v. 3, n. 2, p. 209-224., 2014aZANETTIN, F. (2014a). Translation-driven corpora: Corpus resources for descriptive and applied translation studies. London: Routledge., 2014b)ZANETTIN, F. (2014b). Corpora in translation. In: HOUSE, J. (Ed.) Translation: A multidisciplinary approach. London: Palgrave Macmillan, p. 178-199., é importante que, no constructo educacional, a inserção de corpora na metodologia de ensino deve seguir algumas prerrogativas, entre as quais salientamos:

  • a) O planejamento de projetos;

  • b) A criação de infraestruturas e materiais digitais para armazenamento dos textos, o controle das atividades e a disseminação dos resultados;

  • c) A compilação dos textos, digitalização, coleta e marcação dos metadados;

  • d) A elaboração de modelos de atividades; e

  • e) A verificação do tamanho, da amostragem e da integridade dos corpora;

Sendo assim, o uso pedagógico de TOs e respectivos TTs para aprendizagem de L2 permite que o aprendiz reconheça aspectos recorrentes à L1 e à L2 e passe, por si mesmo, a compreender as regras que fundamentam o uso de determinadas estruturas ou vocabulários em cada contexto de situação. Não se trata de uma complementação do aprendizado tradicional, mas sim de um novo instrumental que oferece ao estudante a possibilidade de análise e reflexão.

4. APRENDIZADO POR TAREFAS, OBJETOS DE APRENDIZAGEM E REPOSITÓRIOS

Dentro dos estudiosos da Pedagogia da Tradução, Berenguer (1999)BERENGUER, L. (1999). Cómo Preparar la Traducción en la Clase de Lenguas Extranjeras. Quaderns: Revista de traducció 4: 135-150. e outros apontaram que o tradutor em formação seria melhor amparado se houvesse uma metodologia de ensino, isto é, um aparato de aprendizagem pautado em tarefas que levasse em conta as competências necessárias ao ato tradutório e as concentrasse na produção de DDL baseado em corpora.

Exercícios de Tradução são comumente aplicados em sala de aulas presenciais e, normalmente, são desenvolvidos pelos professores dentro daquele ambiente para cumprir as especificações dos currículos das Universidades e, talvez, por isso, causem tantos problemas e discussões acerca de sua eficácia e uso, uma vez que não existe uma univocidade em sua elaboração e nas estratégias de aplicação, o que poderia ser melhor gerenciado a partir do conceito de competências e pelo compartilhamento de atividades.

Hurtado Albir (1999)HURTADO ALBIR, A. (dir.) (1999). Enseñar a traducir. Metodología en la formación de traductores e intérpretes. Madrid: Edelsa. associa a Tradução à didática e ao Ensino de Línguas de tal modo que a diferenciação se dá no que tange à forma como a tarefa ou atividade é aplicada enquanto material. Trata-se, nesse âmbito, de situações em que as competências são colocadas em evidência, levando o aprendiz a reconhecer e desenvolver seu conhecimento para realizar uma tarefa focando em complexidades específicas de cada habilidade a ser trabalhada pelo professor.

É nessa conjuntura que Liparini, Sousa e Gomes (2011)LIPARINI, T.; SOUSA, R. C.; GOMES, M. H. P. (2011). Formação de tradutores: O desenvolvimento das subcompetências instrumental e estratégica. Cultura & Tradução, v. 1, n. 1, p. 1-8. passam a propor o desenvolvimento de atividades voltadas às competências elencadas pelo grupo PACTE. Por sua vez, Sevilla Muñoz, Sevilla Muñoz e Trejo (2003)SEVILLA MUÑOZ, M.; SEVILLA MUÑOZ, J.; TREJO, V. C. (2003). Propuesta de una unidad didáctica de traducción científico-técnica dirigida a alumnos universitarios. Cadernos de tradução, v. 2, n. 12, p. 109-125., aprofundam tal perspectiva ao nos apresentarem atividades que se fundamentam no uso de TOs com o intuito de reproduzir ou simular uma prática tradutória. Para isso, sugerem que:

  1. Sejam textos autênticos, ou seja, que tenham fins outros que não o de ensino (DURIEUX, 1998DURIEUX, C. (1998). Fondament didactique de la traduction technique. Brive (Francia): Didier Érudition.);

  2. Sejam completos, na medida do possível (GAMERO PÉREZ, 1996GAMERO PÉREZ, S. (1996). La enseñanza de la traducción científico-técnica. In: HURTADO ALBIR, A. La enseñanza de la traducción. Castelló: Publicacions de la Universitat Jaume I, p.195-199.);

  3. Sejam variados em suas temáticas, gêneros e graus de especialização.

  4. Sejam suscetíveis de serem traduzidos pelos aprendizes.

Para Hurtado Albir (2005)HURTADO ALBIR, A. (2005). A aquisição da competência tradutória: aspectos teóricos e didáticos. In: ALVES, F.; MAGALHÃES, C.M.; PAGANO, A. (Orgs.) Competência em Tradução: cognição e discurso. Belo Horizonte: Editora UFMG, p. 19-57., a tarefa representa uma unidade organizadora do processo de aprendizagem (p. 43); trata-se, ainda, de uma unidade de trabalho representativa de contextos reais de uso, dirigida intencionalmente à aprendizagem da Tradução (e também de L2) e desenhada com um objetivo concreto, estrutura e sequência de trabalho.

Dentro das prerrogativas da autora, uma tarefa de Tradução é estabelecida a partir de materiais previamente elaborados, pautados, normalmente em TOs e TTs, com procedimentos reflexivos e avaliativos que podem estar relacionados com "(...) continuações e até mesmo tarefas posteriores, aumentando gradativamente o envolvimento dos alunos no planejamento do material didático, com vistas a promover a gradual autonomia do tradutor-emformação; além disso, há a possibilidade de se incluir uma lista de referências teóricas em que a tarefa se baseia" (VASCONCELOS, SPINDOLA, GYSEL, 2017VASCONCELLOS, M. L.; ESPINDOLA, E.; GYSEL, E. (2017). Interdisciplinaridade no ensino da tradução: formação por competências, abordagem por tarefas de tradução, tipologia textual baseada em contexto. Cadernos de Tradução, v. 37, n. 2, p. 177-207., p.192).

Nesse âmbito, os subsídios de corpora parecem-nos ser adequados ao desenvolvimento de subsídios didáticos que possam compor OAsque, por sua vez, possam alimentar um repositório de atividades a partir do compartilhamento dos materiais textuais que oferecem, os quais podem ser convertidos em atividades que possibilitem, por sua vez, o uso, reuso e remixagem pelos professores e aprendizes, bem como a interação entre eles.

Nesse sentido, é importante compreendermos o que são OAs e Repositórios de Aprendizagem (ROA). De acordo com Sbrogio (2021)SBROGIO, R. O. (2021). Design e ensino-aprendizagem: entre slides e formação de professores. Bauru (Tese de Doutorado) 2021. 236f. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Programa de Pós-graduação em Mídia e Tecnologia, da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design – FAAC., os conceitos de OA (Objetos de Aprendizagem) ainda são diversos e conflitantes, mas, a reflexão inicial parte de que são "qualquer entidade digital ou não digital" que seja "utilizada para aprendizagem, educação ou treinamento" (MUNHOZ, 2013MUNHOZ, A. S. (2013). Objetos de aprendizagem. Curitiba: InterSaberes, 223p., p. 28), assim como instrumentos desenvolvidos com a utilização e/ ou combinação de ferramentas provenientes da Tecnologia de Informação (TI) (McGREAL, 2004McGREAL, R. (2004). Online education using learning objects. London: Routledge Falmer.).

Por ser um conceito ainda em constante reformulação, justifica-se a preferência pelos conceitos definidos por McGreal (2004)McGREAL, R. (2004). Online education using learning objects. London: Routledge Falmer., para quem OAs são recursos digitais educacionais reutilizáveis em contextos diferenciados, divididos em pequenas lições ou em conjunto de lições pequenas, agrupados em unidades, módulos, disciplinas ou cursos que incluam propósitos de aprendizagem e processos de avaliação. Podem ser textos, figuras, animações, sons, vídeos, simulações e avaliações, entre outros (McGREAL, 2004McGREAL, R. (2004). Online education using learning objects. London: Routledge Falmer.).

Os Repositórios de Objetos de Aprendizagem (ROA), ou Learning Object Repositories (LOR), por sua vez, são os locais de armazenamento que são criados para abrigar os OA, "[...] fornecendo acesso contínuo a um vasto estoque de recursos de aprendizagem, tais como animações, vídeos, simulações, jogos educativos, e textos multimídia [...]" (McGREAL, 2004McGREAL, R. (2004). Online education using learning objects. London: Routledge Falmer., p.1). Contudo, "[...] a maior parte dos OAs ainda está anonimamente inserida em atividades mais amplas, sem qualquer identificação, o que torna quase impossível sua recuperação", afirma Leffa (2006, p.28)LEFFA, V. J. (2006). Nem tudo que balança cai: Objetos de aprendizagem no ensino de línguas. Polifonia. Cuiabá, v.12, n. 2, p. 15-45..

A construção de ROAs alimentados por OAs com base em corpora multilíngues, paralelos e comparáveis é ainda bastante recente e discutida por autores como Lemnitzer (2007), Niemann et.al. (2012)NIEMANN, K. et al. (2012). Clustering by usage: higher order co-occurrences of learning objects. Proceedings of the 2nd International Conference on Learning Analytics and Knowledge. p. 238-247., para os quais os dados extraídos de corpora para DDL podem ser convertidos em OAs que dispõem distintos contextos de uso das línguas e podem auxiliar no desenho de atividades específicas relacionadas às competências abordadas ao longo de nosso trabalho.

Os autores creem que o uso de corpora pode prover professores e aprendizes de L2 com os meios para criar, gerir e administrar atividades e tarefas, permitindo-os incluir diferentes tipos de OAs como por exemplo, exercícios de produção e leitura de texto, reflexões a respeitos de fatores lexicais, terminológicos, gramaticais e mesmo propostas que envolvam comparações entre TOs e TTs e traduções de textos que compõem os corpora. Nesse âmbito, os ambientes digitais ampliam as possibilidades de alcance do uso da Tradução como ferramenta de ensino. Além disso, a autora sugere que, ao oferecer opções de tarefas de tradução em um sistema de ROA, a Didática da Tradução assimila a proposta de se utilizar de módulos de ensino para o desenvolvimento de OAs que poderão ser reutilizados e aprimorados ao longo de sua utilização.

Os corpora do TRADCorpus

Os corpora compilados são, até o momento:

  1. Um corpus comparável na direção inglês ↔ português de contratos de compra e venda de títulos executivos;

  2. Um corpus comparável na direção inglês ↔ português de contratos e estatutos sociais;

  3. Um corpus comparável/paralelo na direção inglês ↔ espanhol ↔ francês de documentações disponibilizadas pela United Nations Commission on International Trade Law desde o ano de 1968 até 2020;

  4. Um corpus paralelo na direção português ↔ inglês, contendo a Constituição Brasileira e respectiva tradução;

  5. Um corpus comparável na direção português ↔ inglês de artigos científicos de cardiologia, anestesiologia e ortopedia;

  6. Um corpus paralelo na direção inglês ↔ português da obra Remote Sensing of the Environment: An Earth Resource Perspective, de John R. Jensen, na área de Assessoramento Remoto;

  7. Um corpus comparável na direção português ↔ inglês ↔ espanhol de Ciências Econômicas pautado nas obras de Celso Furtado;

  8. Um corpus comparável/paralelo na direção português ↔ inglês ↔ espanhol de Sociologia, fundamentado nas obras de Antonio Candido, e em sua respectiva tradução, bem como das obras de Gilberto Freyre e suas traduções;

  9. Um corpus paralelo na direção português ↔ inglês de Antropologia, composto pelas obras de Roberto DaMatta e traduções; bem como as obras de Darcy Ribeiro e respectivas traduções;

  10. Um corpus paralelo na direção português ↔ inglês de Ciência Política, composto pelas obras de Fernando Henrique Cardoso e Enzo Falleto, bem como de suas traduções;

  11. Um corpus comparável/paralelo na direção português ↔ inglês ↔ espanhol de Economia Política, contendo 45 artigos escritos por Bresser-Pereira e suas traduções e autotraduções;

  12. Um corpus comparável bilíngue inglês de Química de Organofosforados contendo 56 artigos científicos em língua portuguesa e 21 artigos em língua inglesas com publicações que datam do período entre 1996 e 2018;

  13. Um corpus monolíngue formado por transcrições em língua inglesa de duzentos vídeos animados da plataforma Ted Ed (https://ed.ted.com/), compilado entre maio de 2019 e abril de 2020;

  14. Um corpus monolíngue formado por transcrições em língua inglesa de seiscentos vídeos da plataforma Ted (http://www.ted.com),

  15. Um corpus comparável/paralelo na direção português ↔ inglês ↔ espanhol ↔ francês de legendas de quinze temporadas do seriado norte-americano CSI;

  16. Um corpus comparável/paralelo na direção português ↔ inglês ↔ espanhol ↔ francês ↔ italiano de legendas de quatorze temporadas do seriado norte-americano Criminal Minds;

  17. Um corpus comparável/paralelo na direção português ↔ inglês ↔ espanhol ↔ francês de legendas de cinco temporadas do seriado americano-canadense Queer as Folk;

  18. Um corpus comparável/paralelo na direção português ↔ inglês ↔ espanhol ↔ italiano↔ alemão ↔ francês de obras de Clarice Lispector e respectivas traduções;

  19. Um corpus comparável/paralelo na direção português ↔ espanhol ↔ inglês ↔ italiano ↔ francês ↔ alemão de obras de Jorge Amado e suas respectivas traduções;

  20. Um corpus comparável/paralelo na direção português ↔ inglês ↔ espanhol ↔ francês ↔ alemão ↔ italiano de obras de Machado de Assis e suas respectivas traduções;

  21. Um corpus paralelo na direção inglês ↔ português ↔ espanhol ↔ francês ↔ italiano de obras de C.S.Lewis;

  22. Um corpus paralelo na direção inglês ↔ português ↔ espanhol ↔ francês ↔ alemão ↔ italiano de obras de J.K Rowling;

  23. Um corpus comparável/paralelo da obra de Milton Hatoum na direção português ↔ inglês ↔ francês e respectivas traduções;

  24. Um corpus de aprendizes brasileiros de língua inglesa, contendo 29 ficções de fã produzidas por graduandos do primeiro e do terceiro ano de Letras da Unesp S. J. do Rio Preto.

  25. Um corpus monolíngue de textos em língua inglesa sobre os temas Health (saúde), Politics (política), Tech (tecnologia), e World (mundo) de agosto a dezembro de 2018, sendo três artigos por semana de cada área retirados dos sites CNN® e BBC®, totalizando 66 textos.

5. O DESENHO DA PLATAFORMA

Neste subtópico voltamos nossa atenção para a construção do TRADCorpus e para suas interfaces, procurando associar a estrutura de um website ao uso de corpora para a consolidação de algumas competências. Subdividimos as páginas em pelo menos dez categorias, iniciando pela abertura e passando pela descrição do projeto e dos professores envolvidos. Delimitamos os corpora, as atividades e oferecemos a leitura, até o momento, em dois idiomas da pesquisa. Além disso, oferecemos o acesso a outras fontes de informação e outros sites de uso de corpora de modo que nossa intenção é coletar os dados para análise da formação dos profissionais e verificalos em mais larga escala, além de permitir aos aprendizes discutir suas escolhas em fóruns paralelos às atividades didáticas bem como aos corpora.

6. A PÁGINA INICIAL

Procuramos elaborar uma plataforma voltada à prática de ensino que associa a utilização dos dados de pesquisa para verificar como os elementos reais da linguagem e as escolhas tradutórias podem auxiliar na formação profissional das competências tradutórias no que concerne aos tradutores e aos aprendizes de L2 em diferentes campos de atuação. o site pode ser acessado no seguinte endereço: https://sites.google.com/unesp.br/tradcorpus.

As atividades hospedadas podem ser elaboradas tanto pelos pesquisadores como pelos professores inscritos na plataforma, a partir de trechos dos exemplos presentes no ambiente digital nas duas línguas propostas até o momento. Os trabalhos são armazenados na forma de OAs, de modo a poderem ser utilizados e adaptados por diferentes docentes, com o intuito de ampliar os dados, além de melhorar as ferramentas e corrigir possíveis equívocos.

A seguir, apresentamos o formulário de entrada no TRADCorpus:

Figura 1
Imagem da página de cadastro

É importante frisar que o acesso é gratuito e que as informações solicitadas são utilizadas para o levantamento do número de usuários e de suas ocupações, a fim de futuramente promovermos um estudo sobre os acessos aos dados. Esperamos atender o seguinte público, a princípio: Professor Universitário do Curso de Letras (Licenciatura); Professor Universitário do Curso de Tradução; Professor do Ensino Médio; Professor do Ensino Fundamental; Professor de cursos profissionalizantes; Professor de cursos de tecnologia; Estudante do Curso de Letras (Licenciatura); Estudante do Curso de Tradução; Estudante do Ensino Médio; Estudante do Ensino Fundamental; Estudante de curso profissionalizante; Estudante de curso de tecnologia; Pesquisador (Iniciação Científica); Pesquisador (Mestrado); Pesquisador (Doutorado); Pesquisador (Pós-doutorado) etc.

O intuito do cadastro é dimensionar o uso da plataforma, em quais áreas, por qual público e em qual de suas funcionalidades ela está sendo acessada. Além disso, convidamos os participantes a também contribuírem com as atividades didáticas.

Ao se cadastrarem, a primeira página é disponibilizada.

Figura 2
Página Inicial do Repositório

A página inicial nos leva a 11 diferentes espaços de nosso repositório. A página O projeto, descreve nossas intenções, apresenta os objetivos da pesquisa e os grupos envolvidos. Além disso, temos uma página com as informações pertinentes às pesquisas consultadas para a criação do ROA, as entradas para os idiomas a serem consultados e vídeos explicativos sobre o uso das ferramentas de corpora disponíveis para consulta. Na descrição dos corpora, expomos os tipos de dados compilados e sua disposição no espaço digital.

Tais bancos englobam traduções literárias, juramentadas e de especialidade, legendagem, textos jornalísticos e produções de aprendizes. Dessa forma, apresentamos variedade linguística e textual, de modo a poder compor uma boa fonte de exemplos de opções de tradução que nos permitem fomentar uma Pedagogia da Tradução, bem como a Tradução Pedagógica. A seguir, apresentamos as telas iniciais:

Figura 3
O projeto

Nesta nova interface, o usuário encontrará uma breve descrição do projeto, de acordo com o seguinte texto:

TradCorpus é uma plataforma digital em ambiente da web destinada à consulta de dados linguísticos, bem como sociais e culturais por meio da observação e análise de corpora paralelos e comparáveis, e atrelada à realização de atividades didáticas pautadas em estudos de Pedagogia da Tradução desenvolvidos por pesquisadores brasileiros e estrangeiros.

Vinculado ao Departamento de Letras Modernas do Instituto de Biociências Letras e Ciências de São José do Rio Preto (IBILCE) pertencente à Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", o projeto é financiado pela Coordenação de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por meio do Programa Nacional de Pós Doutorado e tenciona auxiliar no desenvolvimento da formação superior de tradutores, por meio de atividades com uso de corpora de textos traduzidos ou de textos de áreas afins. Também tem por objetivo favorecer a mediação dos docentes no que tange a relação estabelecida entre os aprendizes e os materiais utilizados para ensino e aprendizagem, os quais podem ser manipulados para melhor cumprir as intenções didáticometodológicas dos professores.

Por meio da análise dos dados com base nos corpora coletados, nas produções dos aprendizes e em suas interações nos fóruns, procuramos estreitar os vínculos científicos entre as teorias dos Estudos da Tradução Baseados em Corpus, a Sociologia da Educação, a Sociologia da Tradução com o intuito de desenvolver diálogos de bases sólidas para as Pedagogia da Tradução Baseada em Corpus, principalmente aqueles pautados nos conceitos das proposições de Pierre Bourdieu acerca do ensino do habitus e sua relação com os níveis tradutórios (PACTE, 2019).

Além disso, tencionamos que futuramente a plataforma possa hospedar trabalhos que promovam interdisciplinaridades com teorizações variadas, com o objetivo de promover o desenvolvimento científico na área dos Estudos da Tradução e da investigação em Linguística e Ciências Sociais.

A intenção é não somente apresentar o website, mas também informar aos usuários o conteúdo dos corpora e as intenções da plataforma, a qual contém as bases das informações das coletâneas, e a reflexão acerca de seus usos, pautadas nos estudos dos pesquisadores cedentes de seus resultados.

Em um primeiro momento, nossa proposta é clarificar ao usuário, nas pessoas dos aprendizes, docentes e pesquisadores, que a plataforma é um ambiente interativo e que pode ser utilizada por professores e aprendizes para desenvolver suas habilidades com o uso de atividades didáticas elaboradas com base nos pressupostos das competências.

7. PROFESSORES ENVOLVIDOS

Conforme informado anteriormente, os professores envolvidos são membros dos grupos "Tradução, Terminologia e Corpora" e "En-Corpora": Ensino Baseado e Dirigido por Corpora" (CNPq). Os nomes de seus projetos e títulos de suas pesquisas estão apresentados na plataforma, com links para suas publicações e seus currículos Lattes.

Além dos pesquisadores que forneceram diretamente seus corpora de trabalho, compilamos conjuntos textuais de TOs e TTs respectivos pautados na temática dos trabalhos de outros investigadores pertencentes aos Grupos de Pesquisa do CNPq. Em nossa plataforma, tencionamos abarcar não somente as obras avaliadas pelos analistas, como ampliar as bases de dados com textos em espanhol e com outros romances produzidos pelos autores que pautaram seus estudos.

As pesquisas de tais estudiosos estão pautadas no uso de corpora paralelos e comparáveis, de tal modo que que se relacionam com avaliações dos estilos dos tradutores, das características da linguagem da tradução e da interculturalidade para uma Pedagogia da Tradução. Assim, passamos a procurar descrever como desenhamos a base de dados de nossa plataforma.

8. A DISPOSIÇÃO DOS DADOS

Figura 4
Descrição dos corpora

A disposição dos dados dentro do ROA é apoiada nas áreas em que os textos dos corpora foram compilados. Desenvolvemos o ambiente voltado para os profissionais em formação e para professores, de tal forma que possam pesquisar palavras de maior frequência, chavicidade6 6 Compreendemos por chavicidade a relação estatística entre a ocorrência de dada palavra em um corpus de estudo e a importância que assume para o léxico de uma área de especialidade. e padrões colocacionais. Com parâmetro nos resultados obtidos, os usuários encontram suportes para a realização de tarefas.

9. OS CORPORA

Como anteriormente mencionado, ao associarmos as teorizações, notamos ser possível compreender que, com base nos constructos linguísticos de padrão de uso, frequência e chavicidade poderíamos encontrar alguns dos modelos a que os tradutores se predispõem a seguir a fim de compor as ações e práticas de situações pré-estabelecidas. As mesmas ações e práticas correspondem a algumas rotinas englobadas pelas competências da profissão, que Perrenoud (2002) sugere sejam utilizadas de maneiras didáticas e educativas.

Trazendo essa interdisciplinaridade para o plano da Pedagogia da Tradução, encontramos uma linha de interpretação comum que nos permitiu delinear a hipótese de que as competências podem ser "expostas" pelos dados de corpora e focalizar nos dados padronizados para apresentar a proposta de especificidade e ser mais claramente observável.

Assim, sugerimos que as escolhas dos tradutores profissionais representariam a possibilidade de composição das rotinas e modelos que poderiam ser explorados e avaliados pelos aprendizes para que estes passassem a construir suas competências de tal forma que pudessem ser aceitos pelos pares da profissão.

Nesse contexto, a TRADCorpus apresenta um conjunto de corpora que potencializa tais aspectos tanto pelo tamanho das compilações quanto pela pluralidade de suas temáticas. Além disso, traz à baila outros elementos abarcados pelas teorias de ensino de Tradução, como o manuseio do ferramental da Linguística de Corpus, a capacidade de compreensões das distinções linguísticas e extralinguísticas entre as comunidades das LF e LM, o reconhecimento de fenômenos somente verificáveis com o uso de grandes quantidades de texto.

Por fim, acreditamos que tais acepções possam auxiliar na formulação de atividades didáticas pautadas nas proposições de competências, às quais, recentemente, foram elencadas em níveis tradutórios plausíveis de serem ordenados como um marco comum para a atividade de tradutor e, por que não, de representarem as etapas pelas quais os aprendizes passam na composição de suas condutas de trabalho.

Cada um destes tópicos dará entrada a uma nova janela que mostrará diferentes possibilidades de acesso aos dados. Pensemos, primeiramente, na possibilidade de os usuários fazerem uma busca inicial nos corpora como um todo, englobando todos os campos levantados pelo grupo de pesquisa.

Na figura 5, mostramos os botões que servem de entrada para os OAs como listas de palavras, palavraschave e colocações, conforme as teorias e a forma como os pesquisadores dos grupos do CNPq desenvolveram suas análises.

Figura 5
Os temas dos corpora da plataforma

Dessa maneira, ao apresentarmos aos usuários a possibilidade de interagir com corpora de diferentes áreas dentro de um ambiente de aprendizagem online, ampliando os olhares sobre a formação profissional de tradutores e profissionais de Letras, bem como podemos expandir o número de indivíduos participantes.

Acreditamos que o contato com os corpora integrados possa favorecer os aprendizes, bem como os professores, no que diz respeito ao instrumental de pesquisa por opções de tradução dentro de um conjunto textual amplo. Nessa janela, os usuários poderão interagir simultaneamente na busca por palavras de maior frequência de uso geral dentro da linguagem oferecida pelos corpora e na verificação de palavras-chave tanto na LF quanto nas LM, traçando paralelos e reconhecendo algumas padronizações.

Ainda é possível avaliar os contextos da utilização de cada termo e averiguar sobre as condições de produção dos TOs e TTs e das colocações das áreas de especialidade. Ao avaliar os corpora como um corpus, podem observar que alguns dos termos de uma especialidade dialogam com outras ou mesmo que, em circunstâncias distintas podem ou não ser parte de uma terminologia e, ainda mais, podem ou não definir conceitos.

A figura 6, por sua vez, mostra a interface inicial das informações disponibilizadas a partir do corpus de Ciências Sociais.

Figura 6
Entrada para o corpus de Ciências Sociais e suas subcategorizações

Esse conjunto de dados ainda se subdivide em Sociologia, Ciência Política, Antropologia, Economia e Economia Política. Para cada entrada, temos um autor que foi estudado, como mostramos nas figuras 7 e 8.

Figura 7
Entrada para o corpus de Sociologia

Figura 8
Entrada para os dados das obras de Antonio Candido e de suas respectivas traduções para o inglês

Os corpora ainda são divididos por autores das obras que os constituem, uma vez que compreendemos haver elementos próprios de seus estilos e de seus tradutores que podem ser utilizados na criação das atividades para aprendizagem de Tradução ou de L2.

Com base nos TOs e TTs das obras deste autor, descritas na figura 7, passamos a apresentar os dados, salientando que cada entrada de área apresenta os dados de acordo com as pesquisas dos autores que as desenvolveram, o que está exposto na descrição das páginas.

Figura 9
Entrada do glossário de substantivos de maior frequência no corpus paralelo

Figura 10
Entrada do glossário de palavras-chave no corpus paralelo

Figura 11
Entrada do glossário de padrões colocacionais no corpus paralelo

Tal estrutura funciona como base para que tradutores e aprendizes possam promover a reflexão sobre a utilização da plataforma e de corpora digital como ambientes para aprendizagem de um conjunto de competências profissionais e para a elaboração de TTs. Fornecemos aos usuários um cabedal de tarefas, a partir de produtos do trabalho com corpora paralelos, comparáveis e multilíngues fornecidos por pesquisadores (docentes e discentes) vinculados aos grupos.

Figura 12
Página de apresentação das atividades

Há possibilidade de aplicação dos corpora em atividades didáticas efetivas no formato de OAs que podem ser utilizadas, manipuladas e mesmo elaboradas por docentes e discentes com propósito de serem ofertadas para professores das mais diversas áreas. Além disso, o desenho do ambiente digital, bem como de sua arquitetura, pode ser elaborado e ampliado no que concerne à imensa gama de novos corpora a serem compilados, bem como ao contato com a docente, os quais podem opinar no melhor desenvolvimento do ambiente digital uma vez que a docente trabalha com corpora, colaborando para a incorporação de saberes a este projeto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Notamos, ao longo do desenvolvimento de nossas investigações que, embora exista uma perspectiva de interdisciplinaridade entre as áreas apresentadas, ainda parece haver uma inarticulação que impede analisar o potencial dos ambientes digitais criados para a compilação de corpora para o ensino de Tradução e L2 sob o ponto de vista pedagógico da concepção de competência profissional. Sendo assim, às plataformas em funcionamento ainda não é conferido o papel de ferramenta ou mesmo de espaço de interação para a internalização de possíveis saberes, os quais podem ser explorados por diversos aspectos com base no uso de OAs em ROAs.

Assim, procuramos, por meio da abordagem holística do grupo PACTE para o desenvolvimento de tarefas de tradução, bem como das proposições fornecidas pela DDL construir um instrumental embasado em corpora que permita aos estudantes realizar suas pesquisas dentro de um ambiente das webs 2.0 e 3.0, ao mesmo tempo em que possam encontrar e desenvolver atividades integradas de prática, a fim de, concomitantemente, explorar as premissas de formação de suas habilidades em relação ao conjunto de estratégias e opções previamente oferecido pelos TOs e TTs multilíngues.

Procuramos superar limitações com o auxílio de exercícios em forma de pedagogic corpora, além de incorporar os resultados finais aos dados das áreas englobadas pela plataforma e promover discussão e análise que amparem os aprendizes com conhecimentos teóricos, a fim de lhes permitir alterar condutas e ampliar seus conhecimentos.

Com a constante alimentação dos corpora com novos TOs e TTs, tencionamos verificar quais elementos das competências são permanentes e quais valores podem ser negociáveis no decorrer da formação em Tradução e em Licenciatura em Letras (L2). Acreditamos que o ambiente digital, como exposto por Sterne, potencializa e dinamiza o ensino e aprendizado e favorece a análise das competências uma vez que as esclarece e atrela a fatores vislumbrados com a colaboração e com a proposta de que uma ocupação se faz por meio de percepções e ações compartilhadas.

  • 1
    Embora reconheçamos a distinção entre tarefas, atividades e exercícios, utilizaremos estes termos como sinônimos, nos comprometendo a realizar uma investigação mais profunda e um aclaramento dos fatores que os diferenciam.
  • 2
    […] a corpus is any collection of texts that are held in electronic form and analysed automatically or semi-automatically.
  • 3
    Parallel corpora, that is corpora of source texts and their translations.
  • 4
    Essa nomenclatura sofreu uma alteração ao longo dos estudos do grupo PACTE e hoje podem ser verificados estudos em que se encontram dispostos da seguinte maneira: 1) subcompetência bilíngue; 2) subcompetência extralinguística; 3) subcompetência estratégica; 4) subcompetência instrumental; 5) subcompetência de saberes da tradução e 6) componentes psicofisiológicos.
  • 5
    Lembramos que já apresentamos as competências tradutórias no item anterior. Aqui apenas redesenhamos com maior ênfase as habilidades que são apontadas como passíveis de estarem amparadas dentro do ensino de línguas.
  • 6
    Compreendemos por chavicidade a relação estatística entre a ocorrência de dada palavra em um corpus de estudo e a importância que assume para o léxico de uma área de especialidade.
  • DECLARAÇÃO DE DISPONIBILIDADE DE DADOS DA PESQUISA
    Os dados da presente pesquisa estão publicados em <https://sites.google.com/unesp.br/tradcorpus>

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2023

Histórico

  • Recebido
    11 Jun 2021
  • Aceito
    08 Mar 2023
  • Publicado
    09 Mar 2023
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