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História intelectual no Brasil: a retórica como chave de leitura

Resumos

O ARTIGO SUGERE o uso de conceitos e práticas relacionados à retórica como instrumento de análise para pensar a história intelectual do Brasil. História intelectual é tomada em sentido estrito, isto é, como a história de formas discursivas de pensamento, deixando de lado tanto a crítica literária como o que se tem convencionado chamar de nova história cultural. Será feita, de início, breve descrição do estado da história intelectual no país. A seguir será discutida a tradição retórica herdada de Portugal. Ao final, serão sugeridas maneiras de usar esta tradição como chave de leitura para trabalhar textos brasileiros, sobretudo do século XIX.


THE PAPER SUGGESTS the use of concepts and practices related to rethoric as an analytical instrument to deal with intelectual history in Brazil. Intellectual history is taken in its strict sense of history of discursive forms of thought. The paper starts with a brief evaluation of the state of the art of intellectual history in Brazil. Then a discussion is made of the rethorical tradition inherited from Portugal. Finally, ways of using this tradition to interpret Brazilian texts, especially from the XIX century, are suggested.


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Bibliografia

  • ALMEIDA, Anita Correia Lima de. "A República das Letras na corte da América Portuguesa: a reforma dos Estudos Menores no Rio de Janeiro setecentista" Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1995.
  • ANDRADE, Antônio Alberto Banha de. A reforma pombalina dos Estudos Secundários (1759-1771). Coimbra: Por Ordem da Universidade, 2o vol. 1981.
  • BASILE, Marcello Otávio Neri de Campos. Anarquistas, rusguentos e demagogos: os liberais exaltados e a formação da esfera pública na corte imperial (18291834)Dissertação de MestradoPrograma de Pós-graduação em História Social da UFRJ2000
  • CARVALHO, Laerte Ramos de As reformas pombalinas da instrução pública. São Paulo: Saraiva/Edusp, 1978.
  • HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil (sua história) São Paulo: Edusp, 1985.
  • KELLEY, Donald R., ed.. The history of ideas. Canon and variations. Rochester: University of Rochester Press, 1990.
  • PERELMAN, Chaïm e Lucie Olbrechts-Tyteca. Tratado da argumentação. A nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
  • POCOCK, J.G.A. "The concept of a language and the métier d'historien: some considerations on practice". In: Anthony Pagden, ed., The languages of political theory in early modern Europe Cambridge: Cambridge Univesity Press, 1990.
  • SOUZA, Roberto Acízelo de. O Império da Eloqüência Retórica e Poética no Brasil Oitocentista. Rio de Janeiro: EdUERJ/EdUFF, 1999.
  • VERNEY, Luís Antônio. Verdadeiro método de estudar (Cartas sobre retórica e poética). Introdução e notas de Maria Lucília Gonçalves Pires. Lisboa: Editorial Presença. 1991. A primeira edição é de 1746.
  • 1
    Ver, por exemplo, PAIM, Antônio. História das idéias filosóficas no Brasil. São Paulo: Grijalbo, 1967, CRIPPA, Adolpho, coord.,As idéias filosóficas no Brasil. Séculos XVII e XIX. São Paulo: Convívio, 1978, CHACON, Vamireh. História das idéias sociológicas no Brasil. São Paulo: Grijalbo, 1977, SALDANHA, Nelson.História das idéias políticas no Brasil. Recife: UFPE, 1963, CRUZ COSTA, João. Contribuição à história das idéias no Brasil. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1956, LIMA, Heitor Ferreira.História do pensamento econômico no Brasil. São Paulo: Brasiliana, 1976, MACHADO NETO, A. L. História das idéias jurídicas no Brasil. São Paulo: Grijalbo, 1969.
  • 2
    Ver CRUZ COSTA, João. O positivismo na República. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1956, CHACON, Vamireh. História das idéias socialistas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965, LINS, Ivan. História do Positivismo no Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1967, e BARRETO, Vicente. A Ideologia Liberal no Processo da Independência do Brasil (1789-1824). Brasília: Câmara dos Deputados, 1973.
  • 3
    Ver MEDEIROS, Jarbas. Ideologia autoritária no Brasil, 1930-1945. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1978 e Paulo Mercadante, A consciência conservadora no Brasil. Rio de Janeiro: Saga, 1965.
  • 4
    É o caso de BARRETO, Vicente e PAIM, Antônio. Evolução do pensamento político brasileiro. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1989.
  • 5
    Para uma visão geral e crítica do percurso da versão norte-americana da história das idéias, a partir da obra de Lovejoy, ver KELLEY, Donald R. ed., The history of ideas. Canon and variations. Rochester: University of Rochester Press, 1990.
  • 6
    Ver MOTA, Carlos Guilherme Ideologia da cultura brasileira (1933-1974). São Paulo: Atica, 1978 e SANTOS, Wanderley Guilherme dos Ordem burguesa e liberalismo político. Rio de Janeiro: Duas Cidades, 1978.
  • 7
    Ver LAMOUNIER, Bolivar "Formação de um pensamento político autoritário na Pri-meira República: uma interpretação". In: FAUSTO, Boris (org.),História geral da civilização brasileira. O Brasil republicano, t. II. São Paulo: Difel, 1977, pp. 342-374 e J.G.A. Pocock, "The concept of a language and the métier d'historien: some considerations on practice". In: PAGDEN, Anthony ed.,The languages of political theory in early modern Europe. Cambridge: Cambridge Univesity Press, 1990.
  • 8
    Ver os trabalhos de PÉCAUT, Daniel. Entre le peuple et la nation. Les intellectuels et la politique au Brésil. Paris: Maison des Sciences de l'Homme, 1989 e de MICELI, Sérgio. Intelectuais e classe dirigente no Brasil, 1920-1945. São Paulo: Difel, 1979.
  • 9
    Ver SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas. São Paulo: Duas Cidades, 1977, Publicado inicialmente em Estudos CEBRAP, no. 3, 1976 e FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. "As idéias estão no lugar". In:Cadernos de Debate, no. 1, 1976, pp. 61-64.
  • 10
    Note-se aqui a análise de vocabulário político feita por CONTIER, Arnaldo Daraya em Imprensa e Ideologia em São Paulo (1822-1842). (Matizes do Vocabulário Político e Social). Petrópolis: Vozes/ Campinas: Unicamp, 1979 e ainda os trabalhos de ARAÚJO, Ricardo Benzaquen de "Ronda noturna: narrativa, crítica e verdade em Capistrano de Abreu". In:Estudos Históricos, v.1, no. 1, 1988, pp. 28-54 e CARVALHO, Maria Alice Rezende de. O quinto século. André Rebouças e a construção do Brasil. Rio de Janeiro: IUPERJ/Revan, 1998. Mais recentemente, encontramos um exercício de análise do vocabulário e da retórica de jornais do século XIX em BASILLE, Marcello Otávio Neri de Campos. Anarquistas, rusguentos e demagogos: os liberais exaltados e a formação da esfera pública na corte imperial (1829-1834). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em História Social da UFRJ, 2000, caps. IV e V.
  • 11
    É o caso de CARVALHO, José Murilo de. em "A utopia de Oliveira Viana". In:Estudos Históricos, v. 4, no. 7, 1991, pp. 82-99.
  • 12
    Ver VIANNA, Luiz Werneck. A revolução passiva. Iberismo e americanismo no Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 1997.
  • 13
    Ver MORSE, Richard M. El espejo de Prospero. Un estudio de la dialéctica del Nuevo Mundo. México: Siglo Veintiuno, 1982 e José Guilherme Merquior, "O outro ocidente". In: Presença, nº. 15, 1990.
  • 14
    Ver CARVALHO, José Murilo de. I A construção da ordem: a elite política imperial. II Teatro de sombras: a política imperial. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ/Relume-Dumará, 2a. ed., 1996, pp. 327-358.
  • 15
    NABUCO, Joaquim. Um estadista do Império. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1975, p. 663.
  • 16
    Lembre-se, a propósito, que um senador do Império publicou em 1834 um compêndio de lógica adaptado às escolas brasileiras. Ver PEREIRA, José Saturnino da Costa.Elementos de lógica, escriptos em vulgar e apropriados para as escolas brasileiras. Rio de Janeiro: R. Ogier, 1834.
  • 17
    Citado em PAIM, Antônio. Plataforma política do positivismo ilustrado. Brasília: Ed. da Universidade de Brasília, 1980, pp. 65-66.
  • 18
    BOMFIM, Manoel. A América Latina. Males de origem. Rio de Janeiro: Topbooks, 1993, pp. 170-171. A primeira edição é de 1905.
  • 19
    Ver HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984, pp. 50-51. A primeira edição é de 1936.
  • 20
    VERNEY, Luís Antônio. Verdadeiro método de estudar (Cartas sobre retórica e poética). Introdução e notas de Maria Lucília Gonçalves Pires. Lisboa: Editorial Presença. 1991. A primeira edição é de 1746.
  • 21
    Verney, op. cit. p. 47.
  • 22
    Citado em ANDRADE, Antônio Alberto Banha de. A reforma pombalina dos estudos secundários (1759-1771). Coimbra: Por Ordem da Universidade, 3 vol., 1981, 2º vol. p. 92.
  • 23
    Sobre as reformas da Universidade de Coimbra, ver ANDRADE, Antônio Alberto Banhade. op.cit.,. CARVALHO, Laerte Ramos de. As reformas pombalinas da instrução pública, São Paulo: Saraiva/Edusp. 1978. Teófilo Braga, História da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrução pública portuguesa. São Paulo: Saraiva/Edusp, 1978 e PAIM, Antônio. História das idéias filosóficas no Brasil. São Paulo: Grijalbo, 1967.
  • 24
    Para um estudo dos professores de aulas régias no Rio de Janeiro, ver ALMEIDA, Anita Correia Lima de. "A República das Letras na corte da América Portuguesa: a reforma dos Estudos Menores no Rio de Janeiro setecentista". Dissertação de Mestrado. UFRJ/IFCS, 1995. Agradeço à autora o acesso aos textos da reforma.
  • 25
    Ver FERREIRA, Silvestre Pinheiro. Prelecções philosophicas sobre a theórica do discurso e da linguagem, a esthética, a diceósyna, e a cosmologia. Rio de Janeiro: Na Imprensa Régia, 1813-1820.
  • 26
    Ver, por exemplo, o excelente trabalho de PERELMAN, Chaïm.Retóricas. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
  • 27
    Ver MENEZES, Bento Rodrigo Pereira de Soto-Maior e. Compêndio rhetórico, ou arte completa de rhetórica com méthodo facil para toda a pessoa curioza, sem frequentar as aulas saber a arte da eloquência: toda composta das mais sábias doutrinas dos melhores autores, que escreveram desta importante sciencia de falar bem. Lisboa: Na Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1794.
  • 28
    Ver GAMA, Miguel do Sacramento Lopes. Lições de eloqüência nacional. Rio de Janeiro: Paula Brito, 1846. O padre Lopes Gama foi professor de retórica e diretor da Faculdade de Direito do Recife.
  • 29
    Lopes Gama, op. cit., p. 1.
  • 30
    Ver SOUZA, Roberto Acízelo de. O Império da Eloqüência. Retórica e Poética no Brasil Oitocentista. Rio de Janeiro: EdUERJ/EdUFF, 1999. Os compêndios usados no Pedro II eram sobretudo os de Antônio Marciano da Silva Pontes, Nova Rhetórica Brasileira (1860), de Francisco Freire de Carvalho, Lições Elementares de Eloqüência Nacional(1834), do cônego Manoel da Costa Honorato, professor do Colégio,Compêndio de Rhetórica e Poética (1879), e do Dr. José Maria Velho da Silva, Lições de Rhetórica (1882).
  • 31
    Para uma visão geral das transformações no campo da história intelectual e das principais correntes interpretativas, ver KELLEY, Donald R. ed., op. cit, especialmente a introdução e o capítulo final redigidos pelo organizador da coletânea.
  • 32
    Ver JAUSS, H.R. Pour une esthétique de la réception. Paris: Gallimard, 1978, KUHN, Thomas S. The structure of scientific revolution. Chicago: The University of Chicago Press, 1962, J.G.A Pockok, op. cit., e CHARTIER, Roger. "Do livro à leitura". In: CHARTIER, Roger org., Práticas da leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996, pp. 77-105.
  • 33
    Ver PERELMAN, Chaïm. Retóricas. São Paulo: Martins Fontes, 1997, sobretudo a segunda parte do livro. Ver, ainda, PERELMAN, Chaïm e OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da argumentação. A nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
  • 34
    É o caso, por exemplo, do jornal A Nova Luz Brasileira. Ver, a respeito deste jornal, BASILE, Marcello Otávio Neri de Campos. op. cit..
  • 35
    Citado em Isabel Lustosa, "Insultos impressos. A guerra dos jornalistas na Independência". Tese de doutoramento. Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, 1997,
  • 36
    p. 314. Esta tese dedica-se precisamente a examinar a presença da agressão verbal nos jornais da época da independência.
  • 37
    A informação sobre livrarias e tipografias encontra-se em HALLEWELL, Laurence.O livro no Brasil (sua história). São Paulo: Edusp, 1985, pp. 47-52.
  • 38
    Sobre a distinção entre os dois tipos de argumento, ver PERELMAN e OLBRECHTS-TYTECA, op. cit., pp. 125-129.
  • 39
    PERELMAN, Chaïm e OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. op. cit., p. 348.
  • 40
    VERNEY, op. cit., p. 89.
  • 41
    Citado em CARVALHO, Laerte Ramos de. op. cit., p. 164.
  • 42
    Ver MORAES, João Quartim de. "Oliveira Viana e a democratização pelo alto". In:BASTOS, Élide Rugai e MORAES, João Quartim de (orgs.). O pensamento de Oliveira Viana. Campinas: Ed. da Universidade Estadual de Campinas, 1993, pp. 87-130.
  • 43
    Ver LIMA, Luís Costa. Terra ignota. A construção de Os Sertões. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997, cap. 1.
  • 44
    Para as citações de Derby e do relatório de Rui Barbosa, ver CARVALHO, José Murilo de. A Escola de Minas de Ouro Preto. O Peso da Glória. Rio de Janeiro: FINEP/Cia. Editora Nacional, 1978, p. 39.
  • 45
    A Nova Luz Brasileira, 12/01/1830. In: Marcello O. N. de C. Basile, op. cit., p. 170. Agradeço a Marcello Basile o acesso a suas notas sobre este jornal.
  • 46
    Ver GUILHAUMOU, Jacques. La langue politique et la Révolution Française. De l'événement à la raison linguistique. Paris: Méridiens Klincksieck, 1989.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2000
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