RESSIGNIFICANDO O CUIDADO ATRAVÉS DA PERCEPÇÃO DA EQUIPE DE SAÚDE QUE ATUA EM AEROPORTO E AERONAVE

DANDO UN NUEVO SENTIDO A LOS CUIDADOS A TRAVÉS DE LA PERCEPCIÓN DEL EQUIPO SANITARIO QUE TRABAJA EN AEROPUERTOS Y AVIONES

RESUMO

Objetivo:

compreender o cuidado através da percepção da equipe de saúde que atua em aeroporto e aeronave.

Método:

pesquisa descritiva, com abordagem qualitativa. O estudo foi realizado no período de janeiro a março de 2019 com 16 participantes. A coleta de dados foi realizada com profissionais que atuam no Posto de Atendimento Pré-Hospitalar de um aeroporto na cidade do Rio de Janeiro. A análise foi fundamentada à luz da fenomenologia de Merleau-Ponty.

Resultados:

da análise emergiram duas subcategorias: A experiência e o mundo vivido como alicerce do cuidado no aeroporto e aeronave, e O corpo do profissional como mediador do cuidado humanizado no aeroporto e aeronave.

Considerações finais:

O estudo poderá contribuir para o cuidado prestado aos usuários que utilizam esse meio de transporte, bem como utilizam as dependências do aeroporto, contribuir para o ensino e pesquisa, e dar visibilidade à equipe de saúde que atua no aeroporto e aeronave.

DESCRITORES
Aeroportos; Assistência à Saúde; Equipe de Assistência ao Paciente; Percepção; Empatia

RESUMEN

Objetivo:

compreender o cuidado através da percepção da equipe de saúde que atua em aeroporto e aeronave.

Método:

pesquisa descritiva, com abordagem qualitativa. O estudo foi realizado no período de janeiro a março de 2019 com 16 participantes. A coleta de dados foi realizada com profissionais que atuam no Posto de Atendimento Pré-Hospitalar de um aeroporto na cidade do Rio de Janeiro. A análise foi fundamentada à luz da fenomenologia de Merleau-Ponty.

Resultados:

da análise emergiram duas subcategorias: A experiência e o mundo vivido como alicerce do cuidado no aeroporto e aeronave, e O corpo do profissional como mediador do cuidado humanizado no aeroporto e aeronave.

Consideraciones finales:

O estudo poderá contribuir para o cuidado prestado aos usuários que utilizam esse meio de transporte, bem como utilizam as dependências do aeroporto, contribuir para o ensino e pesquisa, e dar visibilidade à equipe de saúde que atua no aeroporto e aeronave.

DESCRIPTORES
Aeropuertos; Prestación de Atención de Salud; Grupo de Atención al Paciente; Percepción; Empatía

ABSTRACT

Objective:

to understand care through the perception of the health team working in airports and aircraft.

Method:

descriptive research, with a qualitative approach. The study was conducted in the period from January to March 2019 with 16 participants. Data collection was carried out with professionals who work at the Pre-Hospital Care Post of an airport in the city of Rio de Janeiro. The analysis was based on the phenomenology of Merleau-Ponty.

Results:

Two subcategories emerged from the analysis: experience and the lived world as the foundation of care at the airport and in the aircraft, and the professional’s body as a mediator of humanized care at the airport and in the aircraft.

Final considerations:

The study may contribute to the care provided to users who use this means of transportation, as well as use the airport facilities, contribute to teaching and research, and give visibility to the health team that work at the airport and aircraft.

DESCRIPTORS
Airports; Delivery of Health Care; Patient Care Team; Perception; Empathy

INTRODUÇÃO

Atribuir um novo significado, um novo olhar para o cuidado nas práticas de saúde torna-se amplo por envolver diversos aspectos singulares do ser humano. O cuidado molda-se conforme as características apresentadas pela pessoa, e carece do estabelecimento da interação entre o profissional de saúde e o indivíduo, configurando-se em uma inter-relação, uma intersubjetividade e relacionamentos terapêuticos, e o profissional é o mediador desse cuidado^(1-2).

A percepção da equipe de saúde que atua no ambiente aeroportuário, e muitas vezes no interior da aeronave pré ou pós voo, nos remete a uma ressignificação do cuidado na presença do outro alicerçado em elementos como o diálogo, a escuta sensível, o olhar, a interação, a preocupação, o toque; com isso, pode-se valorizar e compreender a existência do outro^(2-4).

Vale ressaltar que não passa pelos pensamentos das pessoas que circulam em um aeroporto sofrerem algum agravo à saúde em um ambiente de passagem, onde emoções latentes emergem indo ao encontro de um cuidado prestado no próprio local. A equipe de saúde, composta por enfermeiro, médico e condutor de ambulância, muitas vezes se depara com agravos à saúde desde os considerados mais simples a serem resolvidos até casos mais graves que necessitam de uma intervenção rápida, independente da área do aeroporto.

A visibilidade e a instituição do cuidado pela equipe de saúde são primordiais no cerne das urgências e emergências, visto que tempo é ouro, tempo é vida. No cuidado, busca-se refletir e reconstruir entre o técnico e o senso comum. Posicionar-se em uma atitude cuidadora no campo da saúde é priorizar a intersubjetividade nas relações e que cada um de nós seja simultaneamente um anônimo no sentido da individualidade absoluta e um anônimo no sentido da generalidade absoluta^(2,5-6).

Assim, o profissional ao se colocar diante do outro se reconhece como sujeito participante a cada experiência de encontro; valoriza o caráter relacional, e constrói o “outro de cada um”^(2,5). Para tanto, faz-se necessária a existência de movimento, vontade, interação, identidade, alteridade, plasticidade, projeto, desejo, compromisso, temporalidade e responsabilidade nas práticas de saúde⁽⁷⁾.

O cuidado no ambiente aeroportuário e aeronave imprescinde de compreensão filosófica de suas bases, bem como de atitudes que na prática possam se desvelar dentro do contexto de encontros entre profissionais e usuários dos ambientes, mesmo este sendo o aeroporto⁽⁷⁾.

Dentre as várias definições do cuidar, destaca-se o preocupar-se com o outro, a afeição, a atenção, o zelo, a compaixão, é tornar humano, é ir além de um mero compromisso com definições objetivistas. Desta maneira, o cuidado perpassa as experiências vividas e a intersubjetividade entre o profissional e o paciente, entre saberes e fazeres e nas emoções que são construídas e compartilhadas, tornando o cuidado mais humano⁽⁸⁾.

Portanto, mediante a escassez de estudos referente ao cuidado prestado pela equipe de saúde que atua no ambiente aeroportuário e na aeronave, este estudo tem como objetivo compreender o cuidado através da percepção da equipe de saúde que atua no aeroporto e aeronave.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa descritiva, com abordagem qualitativa, com referencial teórico, metodológico e filosófico à luz da fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty. A fenomenologia possibilita momentos experienciados e vivência integral do mundo; esta relação é abordada com as minhas experiências e com as do outro, que se engrenam em uma intersubjetividade e faz a retomada destas⁽⁶⁾.

A fenomenologia é antes de tudo um método para modificar nossa relação com o mundo, para dela se tomar uma consciência mais aguda. Ao mesmo tempo e por isso mesmo, ela já é certa atitude face ao mundo, ou mais exatamente certa atitude em face de nossa relação com o mundo⁽⁹⁾.

O estudo foi realizado no período de janeiro a março de 2019 com 16 participantes. A coleta de dados foi realizada com profissionais que atuam no Posto de Atendimento Pré-Hospitalar (PAPH) de um aeroporto situado na cidade do Rio de Janeiro. A equipe de saúde, que atua prestando cuidados aos passageiros, tripulantes e funcionários no aeroporto e aeronave, vivencia no universo aeroportuário uma intersubjetividade com a própria equipe interdisciplinar no processo do cuidar, com o paciente e muitas vezes com o familiar.

Foram definidos os seguintes critérios de inclusão: profissionais que atuam no PAPH (enfermeiros, médicos, condutores de veículo de urgência, plantonistas), dos turnos diurno e noturno, incluindo chefia de enfermagem e médica. Vale ressaltar que os condutores de veículo de urgência são profissionais incluídos na equipe de saúde conforme portaria nº 2048, de 5 de novembro de 2002⁽¹⁰⁾. Os critérios de exclusão foram: os profissionais que estivessem licenciados e de férias no período da coleta de dados.

A captação dos participantes para a entrevista foi previamente agendada, no próprio PAPH, em uma sala reservada, um local tranquilo, com poucos ruídos, livre de risco de interrupções, em todo momento sendo mantida a confidencialidade das informações e a preservação da privacidade. O dia e horário para a realização da entrevista foram agendados conforme a disponibilidade, sem prejuízo das atividades profissionais. O tempo de duração da entrevista foi conforme o participante desejou, em média de 10 a 40 minutos.

Para a coleta dos dados, utilizou-se a entrevista fenomenológica, com o seguinte roteiro: 1- Comente como é a experiência em relação ao cuidado prestado pela equipe no aeroporto e aeronave; 2- Qual a sua percepção em relação aos atendimentos emergenciais no ambiente aeroportuário?; 3- Comente livremente o que destacaria em relação ao cuidado; e 4- Quais medidas na sua percepção poderiam melhorar o cuidado prestado aos passageiros e funcionários no ambiente aeroportuário e aeronave?

As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra. Os dados foram interpretados e percorreu-se o método sugerido por Amedeo Giorgi. As seguintes etapas foram seguidas: leitura geral com o sentido do todo, com o material da entrevista, posteriormente uma nova leitura com foco na discriminação de unidades significativas, o que emergiu das falas dos participantes repetidas vezes, transformação nas unidades de sentido, transformação em estrutura de aprendizado com a síntese das unidades significativas, com destaque às categorias⁽¹¹⁾. A análise foi fundamentada na fenomenologia de Merleau-Ponty, após o estabelecimento das categorias e subcategorias.

O estudo foi conduzido por padrões éticos de acordo com a resolução 466/2012⁽¹²⁾, e submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências Médicas do Hospital Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense, aprovado sob o parecer de número 3.022.869.

Como garantia do anonimato, foram empregadas as letras E, M e C, inicial das palavras Enfermeiro, Médico e Condutor, seguidas de um número (E1, M1, C1) que não corresponde à sequência da participação na pesquisa.

RESULTADOS

Os resultados apontam como predominância das características sociodemográficas dos participantes do estudo: sexo feminino, nível superior, idade entre 40 e 60 anos, tempo de formação entre 20 e 35 anos, curso de atualização em emergência Advanced Cardiovascular Life Support (ACLS), turno de trabalho plantonistas 24 horas, nos profissionais de nível superior predomina o curso de especialização em urgência e emergência.

Este estudo traz um recorte de uma categoria que emergiu das falas dos participantes: “Os significados da percepção da equipe de saúde acerca do cuidado no ambiente aeroportuário e aeronave”, composta pelas subcategorias a seguir.

1 - A experiência e o mundo vivido como alicerce do cuidado no aeroporto e aeronave

Nesta primeira subcategoria, emergiu das falas dos profissionais que atuam no aeroporto e aeronave uma preocupação com o inesperado, com a surpresa de um atendimento em que não se sabe o que vai encontrar, porém, há a percepção de que o cuidado se inicia desde o comunicado do agravo à saúde a um ser ainda desconhecido.

O cuidado é desde o comunicado que existe um passageiro, uma pessoa passando mal, até chegarmos ao local, é uma apreensão muito grande até chegar lá porque a gente não sabe o que vai encontrar pela frente. (C4)

Os atendimentos emergenciais no ambiente aeroportuário são assim, imprevisíveis[...]. (M8)

Os profissionais entendem ser de suma importância o acionamento e a necessidade do atendimento, bem como a informação clara e objetiva do local.

[...]esse primeiro acionamento e esse primeiro atendimento, ele é de suma importância pra gente, é aonde a gente identifica a necessidade do atendimento e se prepara para o local. (C2)

Bom, é um pouco tenso, totalmente diferente de uma assistência interna no hospital, a gente nunca sabe o que que vai encontrar [...].(E3)

Os depoentes percebem o cuidado no aeroporto como uma experiência diferente, única, agradável, assim como o cuidado deve ser direcionado, com foco e sobretudo acolhedor.

É uma experiência muito agradável. É muito diferente do que se faz em um ambulatório, em um Pronto Socorro, em um hospital, é uma experiência única porque só existe mesmo nesse ambiente. (M3)

É uma experiência pra mim diferente, eu tô acostumado a atuar em outras áreas [...]. Então, pra mim é uma experiência diferente, estar atuando na área do aeroporto, são regras diferentes [...].(C3)

A percepção do acolhimento pela equipe de saúde torna-se importante em um ambiente de passagem, com incertezas por parte dos passageiros, pois muitas vezes não sabem se serão liberados para prosseguir a viagem ou não.

O cuidado prestado pela equipe no aeroporto tem que ser um cuidado imediato, direcionado para a queixa do paciente, e ao mesmo tempo, acolhedor. (M8)

É visto pelos profissionais como uma liberdade única, uma experiência boa. Mas de certa forma, demonstra uma experiência diferente, algo novo, sendo assim, necessita além desse encontro com o outro no momento dos atendimentos, de uma infraestrutura e treinamento para a equipe de saúde.

A experiência é que você tem uma liberdade única, de estar com aquele paciente, vítima de mal súbito [...].(E1)

Bom eu acho que é uma experiência legal [...] as equipes são bem treinadas, na maioria das vezes, e também tem uma infraestrutura boa de cuidado [...]. (M2)

As equipes trabalham com tempo resposta (tempo preestabelecido para a saída da equipe e a chegada ao local de atendimento o quanto antes). É um momento tenso, de verificação e estabilização do paciente, pois esse atendimento poderá culminar em uma remoção para o ambiente hospitalar.

As equipes saem em tempo resposta, chegam lá, verificam a situação ocorrida, verificam o quadro clínico desse paciente e... e esse paciente é trazido para o posto médico e aí são feitos os procedimentos clínicos até a melhora e estabilização desse paciente.(C2)

[...] você tem que sair preparado para encarar qualquer tipo de atendimento, de uma dor de cabeça a um trauma grave, então bem mais complicado, bem mais complexo que um atendimento que você vai numa enfermaria, e chega lá você já tem uma noção do que você vai fazer. (E3)

2 - O corpo do profissional como mediador do cuidado humanizado no aeroporto e aeronave

Nesta subcategoria, foi desvelada através das falas dos participantes uma preocupação com o cuidado humanizado, acolhedor, protetor, mesmo sendo no ambiente aeroportuário, onde os cuidados prestados muitas vezes acontecem de forma rápida – o corpo do profissional torna-se o mediador direto desse cuidado.

[...] é um conjunto de tudo. É um cuidado bem humanizado, eu acho que a relação equipe paciente é boa, eu acho que é um bom cuidado. (M2).

Os cuidados são efetivos [...], dar o conforto ao paciente, quando eles acionam a gente, quando eles nos chamam pra poder fazer o atendimento, eles estão acreditando e confiando [...] a gente procura fazer o melhor possível pra poder ter um bom retorno para o paciente.(C1).

O acolhimento e a preservação da pessoa durante o atendimento, que ocorre muitas vezes em locais abertos, na aeronave ou em áreas externas, é uma preocupação dos profissionais.

[...] a gente sempre tem que ter muito cuidado, é acolher esse paciente e a gente não pode esquecer a coisa mais primordial que o paciente tem que é a sua, digamos assim, a sua preservação, então a nossa equipe se preocupa muito em ficar com esse paciente exposto porque ele perde uma das características primordiais que ele tem que é do seu recolhimento [...]. (M6).

[...] eu acho que pro cuidado do paciente, a gente tem que ter também um ambiente onde ele se sinta talvez um pouco mais acolhido[...]. (M7)

Em relação ao cuidado humanizado, há uma interação, uma intersubjetividade, onde o corpo do profissional é o mediador dessa inter-relação.

[...] todo mundo que é dessa área sempre quer zelar pelo paciente, pelo cuidado, então se a gente tiver todo preparo, todo suporte pra isso, aí a gente pode melhorar mais ainda o cuidado com o paciente, eu me preocupo muito com o bem-estar do paciente no momento que está em nossas mãos, em nossos cuidados [...]. (E4)

[...] eu acho que a gente tem condição, em termos de equipe, de abordar o paciente de todos os lados. A gente tem uma multidisciplinaridade dentro do que a gente necessita razoável pro nosso ambiente. (M7)

DISCUSSÃO

Nos depoimentos dos profissionais que atuam no aeroporto e aeronave, há um valor de unidade, há uma preocupação com o cuidado integral aos passageiros. Trata-se de uma experiência única e diferente, de uma liberdade única, do seu mundo vivido.

A equipe de saúde percebe que, além da experiência proporcionada, o cuidado deve ser direcionado, com foco nos sinais e sintomas, acontecendo desde o momento em que há a informação que alguém necessita de assistência, que o inesperado causa certa apreensão, porém neste momento deve-se proporcionar conforto e acolhimento.

Para Merleau-Ponty, todo o universo da ciência é construído sobre o mundo vivido, e se queremos pensar a própria ciência com rigor, apreciar exatamente seu sentido e seu alcance, precisamos primeiramente despertar essa experiência do mundo da qual ela é a expressão segunda⁽⁶⁾. Os momentos experienciados e vividos pelos profissionais que atuam no aeroporto e aeronave remetem ao cuidado, que requer do profissional que deseja prestá-lo alguns atributos, como a ética nas relações humanas, a solidariedade e a confiança. Todo cuidado tem como objetivo o alívio, o conforto, podendo promover a cura, o bem-estar e, quiçá, a mudança de estilo de vida⁽¹³⁾.

Devido ao ritmo e estilo de vida contemporâneos, a saúde da população encontra-se fragilizada, o que muitas vezes repercute na necessidade de uma assistência especializada, de cuidados apropriados com profissionais capacitados e habilitados a exercerem atendimento imediato, no momento e nos locais necessários⁽¹⁴⁾. Vivencia-se um imediatismo, muitas vezes com foco em rotinas e em normas preestabelecidas com metas a serem alcançadas; com isso, o ser humano vive e experiencia como as coisas se dão a ele no instante da vivência, como elas surgem e se apresentam durante o processo dessa experiência ou por meio dessa experiência⁽¹⁵⁾.

Percebe-se nas falas dos participantes que o cuidado deve ser sobretudo humanizado, com pontualidade e precisão referente ao atendimento prestado e uma preocupação quanto ao seguimento de normas e condutas específicas do ambiente aeroportuário. Assim, o cuidado deve perpassar todas as categorias profissionais inseridas no âmbito da saúde, logo, todas devem tê-lo como objeto de sua práxis, conduzindo para um cuidado humanizado e acolhedor⁽¹³⁾. O processo de humanizar se traduz, então, como inclusão das diferenças nos processos de gestão e de cuidado, é o arcabouço que articula as práticas de saúde e destaca o aspecto subjetivo presente em qualquer ação humana. Tais mudanças são construídas não por uma pessoa ou grupo isolado, mas de forma coletiva e compartilhada⁽¹⁶⁾.

Nesta segunda categoria, foi desvelada através das falas dos participantes uma preocupação com o cuidado humanizado, acolhedor, protetor, mesmo sendo em um ambiente de passagem onde os cuidados prestados muitas vezes acontecem de forma rápida. E o corpo do profissional torna-se o mediador direto desse cuidado.

Merleau-Ponty aponta que o corpo é o veículo do ser no mundo, e ter um corpo é, para um ser vivo, juntar-se a um meio definido, confundir-se com certos projetos e empenhar-se continuamente neles⁽⁶⁾. No campo destas práticas, a experiência do corpo próprio nos permite compreender que a interdisciplinaridade ocorre por meio da relação estabelecida entre sujeitos a partir da interação cuidador-pessoa cuidada, em que pode ocorrer a transformação de sentimentos em novos comportamentos⁽¹⁷⁾. Os profissionais percebem que, no ambiente aeroportuário, há um número expressivo de pessoas transitando e que há necessidade de um cuidado com preservação da pessoa, um cuidado humanizado e ético mesmo esse atendimento acontecendo em locais às vezes inóspitos.

Para o filósofo, os sentimentos expressados pelos depoentes, desde um cuidado técnico, com suporte, com qualidade, zelo, até um cuidado por uma vida que está em suas mãos, é nesta comunicação vital com o mundo que o torna presente para nós como lugar familiar de nossa vida. É a ele que o objeto percebido e o sujeito que percebe devem sua espessura⁽⁶⁾. Os cuidados prestados pela equipe de saúde do aeroporto vão além das técnicas e das tecnologias, emanam também de uma sensibilidade, uma observação, uma interação entre os sujeitos envolvidos no cuidar, é algo que transcende.

Quando a equipe se identifica com uma vivência gratificante, o corpo perceptivo promove uma mudança tão radical, a ponto de não perceber mais onde e quando tudo começou, ou seja, ao mesmo tempo em que a universalidade do sentir nos mobiliza para a alteridade, para estabelecermos novas identificações como seres históricos, produz novas coexistências e generalizações, de modo a promover vínculos que garantem a abertura a novas e infindáveis transformações⁽¹⁷⁾.

Assim, a ciência não tem e não terá jamais o mesmo sentido de ser que o mundo percebido, pela simples razão de que ela é uma determinação ou uma explicação dele⁽⁶⁾. A relação propicia a comunicação entre o sentir e o refletir, que revelam a coexistência com o semelhante, uma generalidade, que mobiliza a transformação da pessoalidade, do ser cultural⁽¹⁷⁾. Através das observações, reflexões e percepções da equipe, há uma engrenagem em relação ao cuidado com o outro e suas inter-relações.

Pontua-se como limitação a realização do estudo em um aeroporto com voos domésticos e somente uma equipe de saúde atuante. Sugere-se novos estudos em aeroportos com mais de uma equipe de saúde e com voos internacionais, considerando novas realidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo nos levou a refletir e compreender à luz da fenomenologia de Merleau-Ponty com as vivências, experiências e percepções da equipe de saúde que trabalha no aeroporto e aeronave.

Em síntese, a compreensão do cuidado pelos participantes remete a uma preocupação em relação ao cuidado prestado pela equipe de saúde no aeroporto e aeronave: como os atendimentos acontecem em um ambiente pré-hospitalar, em um ambiente de passagem, os atendimentos acontecem de forma rápida, direcionada, com intuito de resolução do agravo à saúde naquele momento. Para que isso ocorra de forma sincronizada e humanizada, é necessário o treinamento da equipe de saúde, uma infraestrutura que lhe dê suporte e, acima de tudo, que o foco seja o cuidado direcionado para a pessoa.

Os agravos à saúde clínicos ou traumáticos nos aeroportos são uma realidade. O estudo poderá contribuir para o cuidado prestado aos usuários que utilizam esse meio de transporte, bem como utilizam as dependências do aeroporto, contribuir para o ensino e pesquisa, e dar visibilidade à equipe de saúde que atua no aeroporto e aeronave.

• *
  Artigo extraído da dissertação de mestrado “Percepção da Equipe de Saúde acerca do cuidado no ambiente aeroportuário e aeronave”. Universidade Federal Fluminense, 2019.

COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO:

• Refrande NA, Silva RMCRA, Pereira ER, Refrande SM, Silva R de CF da, Lima MM da S. Ressignificando o cuidado através da percepção da equipe de saúde que atua em aeroporto e aeronave. Cogitare enferm. [Internet]. 2021 [acesso em “colocar data de acesso, dia, mês abreviado e ano”]; 26. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5380/ce.v26i0.70130.

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Editado por

Editora associada: Susanne Elero Betiolli

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  29 Out 2021
• Data do Fascículo
  2021

Histórico

• Recebido
  09 Nov 2019
• Aceito
  11 Fev 2021