RESUMO
Este trabalho tem como objetivo apresentar num ensaio e em formato de cordel os aprendizados de uma pesquisa interdisciplinar e em curso para o Campo de Públicas no que toca à análise do processo político-institucional das novíssimas universidades federais brasileiras (Universidade Federal do Cariri, Universidade Federal do Sul da Bahia, Universidade Federal do Oeste da Bahia e Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará) no ano de 2013. O percurso metodológico seguido foi a realização de estudos de caso para cada universidade analisada. Os resultados preliminares permitem agrupá-los em quatro grupos: a visão de território pautada na unidade social, a consideração das necessidades locais como oportunidade, a ação sociocêntrica destinada à contextualização da educação e a pluralidade de atores sociais na busca pela universalização da universidade. O texto do cordel, em si, é apresentado como os resultados deste trabalho, que manifestam esse tipo de produção textual e científica como criativas e inovadoras formas de se criar e divulgar conhecimento científico, multi ou interdisciplinar, próprio ao Campo de Públicas.
Palavras-chave:
novíssimas universidades federais; Reuni; Campo de Públicas; cordel; interdisciplinaridade
ABSTRACT
This article presents an interdisciplinary and ongoing research in the public field addressing the political-institutional process around the foundation of the so-called “novíssimas” (or brand new) Brazilian federal universities (Federal University of Cariri, Federal University of South of Bahia, Federal University of West of Bahia, and Federal University of South and Southeast of Pará) in 2013. The lessons learned so far from this ongoing research are presented in this article in the format of a poem inspired by Brazilian cordel literature. The methodology consisted of case studies approaching each of the four universities. Preliminary results were placed into four groups: the vision of territory based on social unity, the consideration of local needs as an opportunity, the socio-centric action aimed at contextualizing education, and the plurality of social actors in the search for universalization of access to the university. The cordel poem synthesizes the lessons learned and is a creative and innovative expression influencing the production and dissemination of multidisciplinary or interdisciplinary scientific knowledge in the Public Field.
Keywords:
brand-new federal universities; Reuni; Public Field; cordel; interdisciplinarity
RESUMEN
Este trabajo tiene como objetivo presentar, en un ensayo en formato de literatura de cordel, los aprendizajes de una investigación interdisciplinaria y en curso para el Campo de las Ciencias Públicas sobre el análisis del proceso político-institucional de las novísimas universidades federales brasileñas (Universidade Federal do Cariri, Universidade Federal do Sul da Bahia, Universidade Federal do Oeste da Bahia e Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará) en 2013. Aun considerando los resultados preliminares de la investigación, la redacción ensayística de un cordel sirvió para presentar creativa y poéticamente los alcances de la visión interdisciplinaria para la investigación y para el campo de las ciencias públicas. La ruta metodológica seguida fue la realización de estudios de caso para cada universidad analizada. Los resultados preliminares permiten su organización en cuatro grupos: la visión del territorio a partir de la unidad social, la consideración de las necesidades locales como oportunidad, la acción sociocéntrica encaminada a contextualizar la educación y la pluralidad de actores sociales en la búsqueda de la universalización de la universidad. El propio texto de cordel se presenta como resultado principal de este trabajo, que manifiesta este tipo de producción textual y científica como formas creativas e innovadoras de crear y difundir conocimientos científicos, multi o interdisciplinarios, propios del Campo de las Ciencias Públicas.
Palabras clave:
novísimas universidades federales; Reuni; Campo de las Ciencias Públicas; cordel; interdisciplinariedad
INTRODUÇÃO
A arquitetura da expansão do ensino superior público no Brasil tem expressiva relação com a perspectiva do desenvolvimento territorial. Ela reflete as diretrizes sociais incorporadas pelo texto constitucional da Carta Cidadã de 1988, que atribui relevo especial aos direitos sociais e, sobretudo, ao direito à educação. No que toca à dicção do art. 205, este dispõe a educação como direito de todos e dever do Estado, conformando-a como elemento essencial para o exercício da cidadania, consolidando, em consequência, a dignidade humana.
É nesse bojo que insta pontuar a criação das chamadas novíssimas universidades federais no Brasil, grupo nominativo a quatro instituições pautadas por aspectos acadêmicos e pedagógicos que atendem a especificidades sociais, econômicas, políticas, ambientais e demais que compõem os territórios do país (Nascimento, 2018Nascimento, I. R. T. (2018). A expansão da educação superior como estratégia de desenvolvimento territorial: o caso da Universidade Federal do Cariri. (Tese de doutorado em Administração, Núcleo de Pós-Graduação em Administração, Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil). https://repositorio.ufba.br/handle/ri/29325
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): a Universidade Federal do Cariri (UFCA), a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), a Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) e a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).
Foi com o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), política setorial da educação superior, que se promoveram a ampliação e interiorização das universidades e institutos federais no Brasil (MEC, 2014Ministério da Educação (MEC). (2014). A democratização e expansão da educação superior no país 2003-2014. Brasil: MEC. http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16762-balanco-social-sesu-2003-2014&category_slug=dezembro-2014-pdf&Itemid=30192
http://portal.mec.gov.br/index.php?optio...
). Historicamente, a necessidade da reestruturação e a expansão emanam da busca pela democratização do acesso à educação superior e permanência nela, especialmente em virtude do crescente déficit de oferta de vagas nas instituições públicas. Há destaque para as regiões interioranas, visto que as universidades públicas se instalaram ao longo dos anos somente nos grandes centros urbanos. Criar universidades no interior do Brasil, num formato regionalizado, foi oportunidade para se dirimir assimetrias regionais (Gumiero, 2019Gumiero, R. G. (2019). Avaliação da Expansão do Reuni UFGD no Mato Grosso do Sul. Interações, 20(4), 989-1003. https://doi.org/10.20435/inter.v20i4.2028
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) e outras possibilidades de desenvolvimento.
O trabalho de Nascimento (2018)Nascimento, I. R. T. (2018). A expansão da educação superior como estratégia de desenvolvimento territorial: o caso da Universidade Federal do Cariri. (Tese de doutorado em Administração, Núcleo de Pós-Graduação em Administração, Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil). https://repositorio.ufba.br/handle/ri/29325
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sobre as bases político-institucionais de montagem da UFCA, uma das quatro novíssimas, foi a inspiração para a estruturação de uma investigação em andamento e que já produziu resultados preliminares sobre as outras três integrantes do referido grupo: UFSB, UFOB e Unifesspa. Com a pesquisa, espera-se ter uma visão ampliada da estratégia de desenvolvimento territorial com base na criação dessas quatro instituições de ensino superior (IES).
Resultados da análise das forças político-institucionais que oportunizaram a criação da UFCA e que está em curso acerca das demais novíssimas revelaram que essas instituições são o resultado de uma combinação da ação pública e da demanda social local por vagas de ensino superior em três unidades federativas do Brasil: Ceará, Bahia e Pará. Esse arranjo foi pautado pela visão sociocêntrica do conceito de território, que considerou a participação, a contextualização e a regionalização do ensino superior como vetores de desenvolvimento. Um estudo de caso para cada universidade pesquisada tem sido realizado com a intenção de revelar como o fenômeno das novíssimas pode ser útil para compreender esse tipo de iniciativa.
Entre os achados desta pesquisa/investigação, destaca-se a multidisciplinaridade, uma característica basal do Campo de Públicas (CP), como afirmam estudiosos do referido campo (Pires, Silva, Fonseca, Vendramini, & Coelho, 2014; Gonçalves & Oliveira, 2016Gonçalves, S. F. C., & Oliveira, V. C. da S. (2016). A constituição do movimento Campo de Públicas a partir da percepção de integrantes graduados em Administração. Administração Pública e Gestão Social, 8(4), 202-211. https://doi.org/10.21118/apgs.v8i4.4910
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; Farah, 2018Farah, M. F. S. (2018). Institucionalização do campo de administração pública no Brasil: reflexões sobre o passado e desafios do futuro. Revista NAU Social, 9(17), 76-91. https://doi.org/10.9771/ns.v9i17.31431
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; Pires & Horochovski, 2021Pires, V., & Horochovski, R. (2021). O novo campo de públicas e o Brasil de hoje. Gestus: Caderno de Administração e Gestão, 1, 73-76. https://doi.org/10.5380/gestus.v1i0.80994
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; Clemente, Oliveira, Horochovski, Junckes, & Azevedo, 2022). O CP mobiliza diversas disciplinas para construir conhecimentos acerca de fenômenos sociopolíticos e de questões que lhe são pertinentes, como bem público, ethos republicano e interesse social, por exemplo. Esse também é o mote do projeto de investigação-base sobre as novíssimas.
Portanto, a interdisciplinaridade constante dos resultados preliminares da investigação foi a base para a sensibilização de que ela poderia ser gênese não apenas de uma visão diferente sobre os fenômenos analisados, relativos, desta feita, ao seu conteúdo; também haveria a chance de se privilegiar novas e criativas formas de se fazer divulgar esses mesmos resultados. Além disso, pode-se constituir como um caminho para refletir criticamente acerca dos cânones teórico-metodológicos mobilizados tradicionalmente (e até hoje) pelo CP.
Daí decorreu a seguinte questão/problema: como incorporar a interdisciplinaridade também na comunicação dos resultados científicos da pesquisa-base? Entre as muitas possibilidades de fazer-se essa ação e inspirado na obra de Fischer, Davel, Vergara e Ghadiri (2007), que alude ser possível a utilização da literatura como recurso estético, pensou-se num cordel como uma dessas chances por três motivos. Em primeiro lugar, os cordéis são fruto da imaginação e da criação aplicadas à literatura; em segundo, são interdisciplinares por natureza; e, por fim, são tão alusivos a tudo o que é regional e territorial quanto as universidades analisadas.
Com base nessas possibilidades, determinou-se o objetivo deste trabalho: elaborar um texto em cordel com os aprendizados de uma pesquisa interdisciplinar no âmbito do CP.
Dado o alcance deste objetivo, este trabalho apresentará, nas subsequentes seções, as etapas que levaram à construção do cordel: o debate sobre os moldes de ser multi ou interdisciplinar, a metodologia e os resultados preliminares que deram oportunidade à escrita do texto. Após a apresentação do objeto central deste trabalho, estão dispostas as considerações finais e a lista de referências.
OS ALCANCES DE SER MULTI OU INTERDISCIPLINAR
Este trabalho tem lugar assentado no CP. Isso se dá pelo fato de a própria conceituação de CP revelar-se como “embrião de uma área de conhecimento multidisciplinar, aglutinador e mobilizador de atores dos cursos de graduação de Administração Pública, Gestão Pública, Gestão de Políticas Públicas, Gestão Social e Política Públicas” (Pires et al., 2014Pires, V., Silva, S. A. M., Fonseca, S. A., Vendramini, P., & Coelho, F. S. (2014). Campo de Públicas no Brasil: definição, movimento constitutivo e desafios atuais. Administração Pública e Gestão Social, 6(3), 110-126. https://doi.org/10.21118/apgs.v6i3.4650
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, pp. 123-124), bem como de outros cursos. Atua, assim, num ambiente cujos atores formam “uma identidade coletiva e forma uma comunidade científica em construção no país” (Coelho et al., 2020Coelho, F. de S., Almeida, L. de S. B., Midlej, S., Schommer, P. C., & Teixeira, M. A. C. (2020). O Campo de Públicas após a instituição das diretrizes curriculares nacionais (DCNs) de administração pública: trajetória e desafios correntes (2015-2020). Administração: Ensino E Pesquisa, 21(3), 488-529. https://doi.org/10.13058/raep.2020.v21n3.1897
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, p. 490).
Como um espaço em evolução e que aparenta estar consolidado em termos de posicionamento epistemológico (quando não o é), Coelho et al. (2020)Coelho, F. de S., Almeida, L. de S. B., Midlej, S., Schommer, P. C., & Teixeira, M. A. C. (2020). O Campo de Públicas após a instituição das diretrizes curriculares nacionais (DCNs) de administração pública: trajetória e desafios correntes (2015-2020). Administração: Ensino E Pesquisa, 21(3), 488-529. https://doi.org/10.13058/raep.2020.v21n3.1897
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chamam a atenção para o fato de o CP gradativamente ter mais se imbricado nas questões de Estado, no interesse público e em tudo aquilo que se revela na esfera pública. Também, a questão territorial, tal como a investigação sobre as novíssimas IES, aparece como importante eixo de abordagem de suas práticas:
A complexificação dos papéis do setor público - nos três Poderes e em suas múltiplas organizações -, assim como a miríade de arranjos do Estado-rede com as organizações da sociedade civil e com o mercado privado, demandaram que os bacharelados e graduações tecnológicas do CP se integrassem à realidade de cada território (municípios, regiões e/ou estados) e explorassem distintos designs curriculares (Coelho et al., 2020Coelho, F. de S., Almeida, L. de S. B., Midlej, S., Schommer, P. C., & Teixeira, M. A. C. (2020). O Campo de Públicas após a instituição das diretrizes curriculares nacionais (DCNs) de administração pública: trajetória e desafios correntes (2015-2020). Administração: Ensino E Pesquisa, 21(3), 488-529. https://doi.org/10.13058/raep.2020.v21n3.1897
https://doi.org/10.13058/raep.2020.v21n3... , p. 490).
O trabalho de Boullosa, Peres e Bessa (2021)Boullosa, R. de F., Peres, J. L. P., & Bessa, L. F. M. (2021). Into the field: a reflexive narration of critical policy studies. Organizações & Sociedade, 28(97), 306-332. https://doi.org/10.1590/1984-92302021v28n9704PT
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indica que o CP está longe de se conformar como pacificado em termos epistemológicos, dadas a pluralidade e a criticidade que podem ser encontradas, sobretudo, no rol dos estudos sobre políticas públicas. A respeito desse ponto, convém destacar que a análise acerca do processo de elaboração das novíssimas universidades federais assume a criticidade existente nos estudos sobre política pública ao revestir-se de reflexão ao passo que se produz e partilha conhecimento útil à sociedade numa pesquisa implicada, e não apenas aplicada. Isso é posto pelo fato de atuar na “pesquisa implicada na transformação social a partir da própria sociedade” (Boullosa, 2019Boullosa, R. de F. (2019). Mirando ao revés as políticas públicas: o desenvolvimento de uma abordagem crítica e reflexiva para o estudo das políticas públicas. Publicações da Escola da AGU, 11(4 esp.), 89-105. http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/Publ-Esc-AGU_v.11_n.04.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal...
, p. 93).
Desta feita, considerar o território como marca e lugar onde o CP pode fazer-se presente se revela como oportunidade de que os projetos de pesquisa e investigação científica assumam o mesmo lugar. Nesse âmbito, há uma importante diferenciação de uma característica do CP aventada por Pires et al. (2014)Pires, V., Silva, S. A. M., Fonseca, S. A., Vendramini, P., & Coelho, F. S. (2014). Campo de Públicas no Brasil: definição, movimento constitutivo e desafios atuais. Administração Pública e Gestão Social, 6(3), 110-126. https://doi.org/10.21118/apgs.v6i3.4650
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, ao afirmarem que não há, no campo, chances de se atuar em questões socialmente relevantes com a congregação de saberes que “podem integrar as multidisciplinas (na acepção de justaposição de matérias disciplinares) em interdisciplinas (na acepção de cooperação real e recíproca entre os saberes disciplinares)” (Pires et al., 2014Pires, V., Silva, S. A. M., Fonseca, S. A., Vendramini, P., & Coelho, F. S. (2014). Campo de Públicas no Brasil: definição, movimento constitutivo e desafios atuais. Administração Pública e Gestão Social, 6(3), 110-126. https://doi.org/10.21118/apgs.v6i3.4650
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, p. 125).
Assim, este texto ensaia como se chegou à proposta de criar-se um cordel como recurso linguístico (Fischer et al., 2007Fischer, T., Davel, E., Vergara, S., & Ghadiri, P. D. (2007). Razão e sensibilidade no ensino de administração: a literatura como recurso estético. Revista de Administração Pública, 41(5), 935-958. https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/view/6613
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) e estético (Boullosa et al., 2021Boullosa, R. de F., Peres, J. L. P., & Bessa, L. F. M. (2021). Into the field: a reflexive narration of critical policy studies. Organizações & Sociedade, 28(97), 306-332. https://doi.org/10.1590/1984-92302021v28n9704PT
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) na/para a comunicação científica de temas que fazem parte do escopo do CP. Além disso, vai ao encontro da interdisciplinaridade como a chance de se manter e oportunizar a integração de disciplinas sem justapô-las, ainda que o posicionamento predominante no CP se mantenha no pendor à multidisciplinaridade (Gonçalves & Oliveira, 2016Gonçalves, S. F. C., & Oliveira, V. C. da S. (2016). A constituição do movimento Campo de Públicas a partir da percepção de integrantes graduados em Administração. Administração Pública e Gestão Social, 8(4), 202-211. https://doi.org/10.21118/apgs.v8i4.4910
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; Farah, 2018Farah, M. F. S. (2018). Institucionalização do campo de administração pública no Brasil: reflexões sobre o passado e desafios do futuro. Revista NAU Social, 9(17), 76-91. https://doi.org/10.9771/ns.v9i17.31431
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; Clemente et al., 2022Clemente, A. J., Oliveira, M. F. R., Horochovski, R. R., Junckes, I. J., & Azevedo, N. T. (2022). Campo de Públicas: uma cientometria a partir de projetos pedagógicos de curso. Revista de Sociologia Política, 30(6), 2-24. https://doi.org/10.1590/1678-98732230e006
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).
ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
Muitas são as possibilidades de se delinear procedimentos teórico-metodológicos para investigações científicas. A deferência ao conhecimento que estas produzem se dá pela oportunidade de a própria construção de saberes pertencentes à ciência, de modo geral, evoluir à medida que são propostas, testadas e aprimoradas diferentes ferramentas de construção e análise de diversas fontes de investigação científica. Todavia, a definição desses instrumentos é feita de maneira não aleatória nem deliberada; depende intrinsecamente da definição do problema de pesquisa e de seu objeto analítico.
No caso deste trabalho, a escrita do cordel como objeto central da composição ensaística foi precedida por uma investigação-base que está a analisar e produzir resultados preliminares sobre o processo de elaboração das novíssimas universidades federais. Mesmo o processo de elaboração das estrofes e dos versos seguiu um modelo já consolidado por cordelistas e pela literatura especializada nesse tipo de produção literária. Assim, esta seção é dividida em três partes. A Fase 1 traça o percurso da construção e da análise dos dados acerca das instituições universitárias verificadas; a Fase 2 contempla a abordagem da escrita de ensaios como atividade científica e seus respectivos indicativos metodológicos; e a Fase 3 apresenta o procedimento da elaboração do cordel.
Fase 1: construção e análise material
Com o intuito de se revelarem meandros que compõem o processo de montagem de três específicas universidades federais brasileiras - a UFSB, a UFOB e a Unifesspa -, foi estabelecido um rito teórico-metodológico capaz de identificar cada uma dessas organizações como casos a serem individualmente analisados: o estudo de caso.
É comum recomendar-se a realização de estudos de caso tendo-se em vista a oportunidade de que esse procedimento metodológico pode, nas palavras de Eisenhardt (1989Eisenhardt, K. M. (1989). Building theories from case study research. Academy of Management Review, 14(4), 532-550. https://doi.org/10.2307/258557
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, p. 534, tradução nossa), combinar “métodos de coleta de dados, como arquivos, entrevistas, questionários e observações”. Compreendendo-o como “uma estratégia de pesquisa que foca em entender a dinâmica presente dentro de configurações únicas” (Eisenhardt, 1989Eisenhardt, K. M. (1989). Building theories from case study research. Academy of Management Review, 14(4), 532-550. https://doi.org/10.2307/258557
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, p. 534, tradução nossa), o estudo de caso pode ser admitido como procedimento útil à compreensão de fenômenos ligados ao interesse social e ao CP, por exemplo.
Assim, para que os casos sejam estudados com amplitude, a recomendação dada é que se proceda com variação nas fontes de dados, com vistas a oportunizar análises heterogêneas em torno do objeto investigado. Por essa razão, é comum que os estudos de caso sejam conformados por materiais primários (entrevistas, observações, entre outros) e secundários (bibliografia e documentos, por exemplo) (Tabela 1).
Na etapa das análises, duas técnicas posteriores foram definidas: a triangulação de dados, como principal, e a arena de atores, como complementar. Sobre esta, importa saber que se trata de um recurso que dispõe graficamente as pessoas direta e indiretamente envolvidas em espaços de disputa de interesses e negociações sobre um mesmo objeto (Chacon, 2007Chacon, S. S. (2007). O sertanejo e o caminho das águas: políticas públicas, modernidade e sustentabilidade no semi-árido. BNB.; Nascimento, 2018Nascimento, I. R. T. (2018). A expansão da educação superior como estratégia de desenvolvimento territorial: o caso da Universidade Federal do Cariri. (Tese de doutorado em Administração, Núcleo de Pós-Graduação em Administração, Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil). https://repositorio.ufba.br/handle/ri/29325
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; Nascimento, Silva, & Pereira, 2019Nascimento, I. R. T., Silva, H. A. S., & Pereira, V. S. (2019). Análise da ação de atores sociais no processo de implementação de políticas públicas: uma proposta de aplicação da metodologia da arena de atores. Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, 6(2), 63-77. http://recc.cra-pr.org.br/index.php/recc/article/view/201/137
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). Isso permite à pesquisa que a arena reflita a rede de relações que se estabelecem e que estas possam auxiliar na revelação de importantes indícios e comprovações de como os conflitos entre os atores podem produzir conhecimento sobre o caso analisado.
Sobre a triangulação de dados, cumpre dizer que a convergência guiada de três grupos de dados primários e secundários possibilitou um ambiente dialético proveitoso. Para além do cálculo metodológico e filosófico tese + antítese = síntese, dispôs-se cada grupo num dos vértices do triângulo com fixadas intenções. O primeiro grupo informa (geralmente os documentos e congêneres), o segundo grupo explica (comumente a bibliografia), e o terceiro grupo debate (usualmente as entrevistas e outros dados primários). Por fim, é válido informar que as informações são obtidas mediante a consideração de cinco dimensões de análise:
-
o conceito de universidade;
-
a demanda local;
-
a montagem política das universidades;
-
a pluralidade das pessoas envolvidas;
-
a articulação e motivação em torno da criação das instituições.
Essas dimensões foram elaboradas com base no trabalho de Nascimento (2018)Nascimento, I. R. T. (2018). A expansão da educação superior como estratégia de desenvolvimento territorial: o caso da Universidade Federal do Cariri. (Tese de doutorado em Administração, Núcleo de Pós-Graduação em Administração, Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil). https://repositorio.ufba.br/handle/ri/29325
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.
Fase 2: escrita de ensaios
A segunda fase para a escrita deste trabalho compreendeu-se num momento em que os primeiros resultados, ainda preliminares, foram sendo obtidos. Com eles, foi possível considerar que a atuação das pessoas que formularam a concepção e concretizaram as universidades pesquisadas se aproxima do caráter multi ou interdisciplinar muito próprio do CP (Pires et al., 2014Pires, V., Silva, S. A. M., Fonseca, S. A., Vendramini, P., & Coelho, F. S. (2014). Campo de Públicas no Brasil: definição, movimento constitutivo e desafios atuais. Administração Pública e Gestão Social, 6(3), 110-126. https://doi.org/10.21118/apgs.v6i3.4650
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; Farah, 2018Farah, M. F. S. (2018). Institucionalização do campo de administração pública no Brasil: reflexões sobre o passado e desafios do futuro. Revista NAU Social, 9(17), 76-91. https://doi.org/10.9771/ns.v9i17.31431
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; Clemente et al., 2022Clemente, A. J., Oliveira, M. F. R., Horochovski, R. R., Junckes, I. J., & Azevedo, N. T. (2022). Campo de Públicas: uma cientometria a partir de projetos pedagógicos de curso. Revista de Sociologia Política, 30(6), 2-24. https://doi.org/10.1590/1678-98732230e006
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).
Foi nesse momento que se assumiu o caráter multi ou interdisciplinar constante desses dois espaços (o CP e a pesquisa) diante das oportunidades de considerar-se o que seriam disciplinas e seus conjuntos de conhecimentos específicos e diferenciadores. Essa verificação oportunizou à pesquisa constatar que é possível atestar a interdisciplinaridade no que toca, na constituição da UFSB, da UFOB e da Unifesspa, os seguintes tópicos:
-
visão de território;
-
necessidades regionais;
-
ação sociocêntrica;
-
equipes plurais.
Esses itens serão mais bem descritos na seção posterior.
Portanto, a interdisciplinaridade identificada fez inspirar a intenção de produzir comunicações científicas que dessem cabo às emoções sentidas referentes à paleta de possibilidades de escrita e divulgação de achados científicos, nomeadamente sob o formato de um ensaio, um tipo de comunicação científica que, apesar de não possuir critérios que definem com exatidão seu formato e sua estrutura, mantém rigorosa cientificidade e é útil para a divulgação de saberes, muitas vezes teóricos.
São os ensaios “um importante caminho para a produção autônoma de conhecimento, que não se prende a formalismos e amarras que tradicionalmente existe no fazer ciência”, nas palavras de Boava, Macedo e Sette (2020Boava, D. L. T., Macedo, F. M. F., & Sette, R. S. (2020). Contribuições do ensaio teórico para os estudos organizacionais. Revista Administração em Diálogo, 22(2), 69-90. https://doi.org/10.23925/2178-0080.2020v22i2.41951
https://doi.org/10.23925/2178-0080.2020v...
, p. 81). Para esses autores, o ensaio oportuniza o avanço do conhecimento por permitir, por meios não fechados e criativos, a expansão teórica sobre assuntos que exploram o próprio conhecimento humano, a exemplo do que é pertinente aos estudos organizacionais e à administração.
Ainda que pareça fácil o percurso de se elaborar um ensaio, notadamente o teórico, é válido entendê-lo como fruto de refinado pensamento. Logo, são pertinentes duas considerações. A primeira, de um aspecto mais positivo, vai ao encontro dos estímulos de autores como Meneghetti (2011Meneghetti, F. K. (2011). What is a theoretical essay? Journal of Contemporary Administration, 15(2), 320-332. https://doi.org/10.1590/S1415-65552011000200010
https://doi.org/10.1590/S1415-6555201100...
, p. 325), numa oportunidade em que os ensaios dão vazão ao “pensar sobre algo que experimenta o objeto nas suas múltiplas possibilidades”, até mesmo pré-científico, e ainda no âmbito de “tal transformação ou ruptura, devido a sua própria característica libertadora” (Boava et al., 2020Boava, D. L. T., Macedo, F. M. F., & Sette, R. S. (2020). Contribuições do ensaio teórico para os estudos organizacionais. Revista Administração em Diálogo, 22(2), 69-90. https://doi.org/10.23925/2178-0080.2020v22i2.41951
https://doi.org/10.23925/2178-0080.2020v...
, p. 81). A segunda, em outro lado dessa motivação, diz-nos Bertero (2011, p. 342): “Certas coisas não são para todos”.
Esse autor tece comentários em uma réplica a Meneghetti (2011)Meneghetti, F. K. (2011). What is a theoretical essay? Journal of Contemporary Administration, 15(2), 320-332. https://doi.org/10.1590/S1415-65552011000200010
https://doi.org/10.1590/S1415-6555201100...
, num interessante debate sobre essa peça de comunicação científica. Nesse meio, sobressaiu a oportunidade de se escrever um ensaio acerca das constatações interdisciplinares que se estabelecem tanto na pesquisa sobre as novíssimas universidades federais quanto no CP. É aqui que as palavras de Lara e Vizeu (2019)Lara, L. G. A., & Vizeu, F. (2019). (Re)Pensando o “ensaio como forma” no campo de estudos organizacionais. Anais do XLIII Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, São Paulo, SP, Brasil. encontram espaço: a escrita de ensaios pode ser interpretada metaforicamente como a montagem de uma obra de arte, em que o artista, seu autor, se expressa e convida o público que vê sua peça a apreciá-la, compreender a mensagem de quem a elaborou e ter suas próprias interpretações.
Ainda para esses dois autores, “num ensaio, os movimentos do pensamento são construídos por meio da linguagem. Através dela o ensaísta promove exercícios no pensamento e cria imagens abstratas no imaginário do leitor” (Lara & Vizeu, 2019Lara, L. G. A., & Vizeu, F. (2019). (Re)Pensando o “ensaio como forma” no campo de estudos organizacionais. Anais do XLIII Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, São Paulo, SP, Brasil., p. 10). Portanto, assumiu-se neste trabalho a oportunidade de divulgar os achados preliminares da investigação-base haja vista outras experimentações, doravante as literárias, como forma de criativamente aproximar o público leitor das múltiplas facetas do alcance do saber científico. Entre os gêneros literários muito propícios para a expressão e comunicação de elementos regionais, territoriais e culturais, o cordel apresentou-se como a oportunidade verbal e criativa de destacar-se, por meio da poesia, da rima e da métrica cantada. É, desta feita, o objeto descrito na fase metodológica que segue.
Fase 3: elaboração do cordel
O cordel é um gênero literário muito popular no Brasil. De tradição ibérica e incorporado pela cultura brasileira, é conhecido por abordar questões populares, regionais e territoriais, de modo que suas muito próprias rimas, métricas e poesia são capazes de aventar questões ligadas ao interesse comum. Independentemente do tom que assumam - crítico ou humorístico, por exemplo -, destacam aspectos da vida popular que fazem seus leitores se envolverem e pensarem sobre aquilo que neles está escrito (Anjos, Silva, Ribeiro Filho, & Lopes, 2011Anjos, L. C. M. D., Silva, D. J. C., Ribeiro Filho, J. F., & Lopes, J. E. G. (2011). Contabilidade e o imaginário popular: contando versos na literatura de cordel. Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ, 16(3), 31-45. https://doi.org/10.12979/rcmccuerj.v16i3.5420
https://doi.org/10.12979/rcmccuerj.v16i3...
; MinC, 2018Ministério da Cultura (MinC). (2018). Literatura de cordel: dossiê de registro. Brasília: MinC. http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Dossie_Descritivo(1).pdf
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfin...
; Fonseca, 2021Fonseca, M. G. C. (2021). Cordel brasileiro: materialidades da voz e do corpo em performance. Animus, 20(42), 97-113. https://doi.org/10.5902/2175497743932
https://doi.org/10.5902/2175497743932...
; Moraes, 2021Moraes, A. C. de. (2021). Formação docente e literatura de cordel em oficinas didático-investigativas. Revista GEARTE, 8(2), 509-526. https://doi.org/10.22456/2357-9854.117515
https://doi.org/10.22456/2357-9854.11751...
).
Cordéis são expressões literárias que possuem diversificada estruturação quanto à escrita e oralidade. Admite-se que essa característica se deve ao fato do aprimoramento da elaboração de cordéis ao longo dos anos por cordelistas brasileiros, que assentaram os formatos admitidos para sua composição.
A esse respeito, cumpre informar que três elementos são essenciais para a composição de um cordel: a oralidade, a rima e a métrica (MinC, 2018Ministério da Cultura (MinC). (2018). Literatura de cordel: dossiê de registro. Brasília: MinC. http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Dossie_Descritivo(1).pdf
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfin...
).
Sobre a oralidade, num aspecto mais amplo, pode-se admitir ser o conjunto de traços sonoros que fazem um tipo de comunicação, em geral verbal, ser distinguida e localizada por pessoas de um grupo falante de um mesmo idioma. No caso dos cordéis, ela ganha ênfase quando são conjugados os outros dois elementos: a rima e a métrica. Juntas, fazem os cordéis gêneros literários muito distintos dos demais.
No que tange à rima, sabe-se que são as percepções de sons homônimos em palavras distintas, que normalmente comungam letras e sílabas em seus fins, fazendo-as quase homófonas. Em cordéis, a estrutura do texto obedece a um padrão: as palavras são dispostas em poesia, organizada, por sua vez, em versos e estrofes. As rimas constantes dos versos e, por conseguinte, das estrofes, fazem o cordel ter destaque visual e, acima de tudo, sonoro.
No caso da métrica, o cordel singulariza-se ainda mais. Nesse caso, as métricas são a unidade de contagem de sílabas poéticas, e não sílabas gramaticais, que devem ser observadas e taxativamente construídas para garantir a recorrência da sonoridade e da oralidade que os cordéis devem tradicionalmente manter. As sílabas gramaticais garantem que a identificação do canto na leitura ou declamação do cordel siga o ponto em que a rima se destaca, que não necessariamente (ou quase nunca) coincide com a separação silábica das regras da língua portuguesa.
Por padrão, as sílabas poéticas em um verso são categorizadas, para fins de montagem e contagem, por códigos de letras do alfabeto latino: A, B, C e sucessivamente. Quando depara com versos ligados às muitas possibilidades de se classificar essas sílabas, comumente se encontram padrões como ABBAC, que significam, para uma mesma estrofe:
-
as cinco letras referem-se a uma estrofe de cinco versos;
-
cada letra localiza a sílaba poética e as rimas nos versos, como, por exemplo:
-
A: a sílaba poética está no primeiro verso;
-
B: a sílaba poética está no segundo verso;
-
B: a sílaba poética está no terceiro verso, mas deve rimar com o segundo verso;
-
A: a sílaba poética está no quarto verso, mas deve rimar com o primeiro verso;
-
C: a sílaba poética está no quinto verso.
-
Entre as muitas possibilidades de se classificar um cordel diante de suas métricas - quadras, sextilhas, septilhas etc. -, elegeu-se o Martelo Agalopado como a oportunidade de se escrever mais sobre a experiência e os resultados interdisciplinares das novíssimas universidades federais, por se apresentar, entre as métricas possíveis, como aquela em que mais informações poderiam ser ensaiadas sem perder-se a rima, a poesia e o canto:
No Martelo Agalopado, a estrofe possui 10 versos de 11 sílabas. A criação desse estilo data do século XVII e foi atribuída a Jaime Pedro Martelo (1665-1727). Naquele período, o Martelo Agalopado não tinha limite de versos. O poeta José Galdino da Silva Duda resgatou essa forma de estrofe e a limitou a 10 versos. O esquema das rimas no Martelo é ABBAACCDDC (MinC, 2018Ministério da Cultura (MinC). (2018). Literatura de cordel: dossiê de registro. Brasília: MinC. http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Dossie_Descritivo(1).pdf
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfin... , p. 35).
Assim o cordel foi elaborado. A Figura 1 apresenta a condução do percurso teórico-metodológico deste trabalho.
Todavia, antes de ser exibido, a seção a seguir traz os resultados preliminares que levaram à escrita do cordel como oportunidade ensaísta de apresentação das contribuições deste trabalho ao objeto de pesquisa em análise e ao CP.
RESULTADOS PRELIMINARES
Os resultados preliminares possíveis de serem apresentados seguem como um produto analítico tanto da triangulação dos dados documentais e bibliográficos e das entrevistas quanto da elaboração das primeiras arenas com os atores direta ou indiretamente responsáveis pela instituição das novíssimas universidades federais analisadas.
Após a reunião dessas informações, o procedimento técnico necessário para a escrita do cordel foi identificar os resultados já observáveis nas cinco dimensões de análise:
-
o conceito de universidade;
-
a demanda local;
-
a montagem política das universidades;
-
a pluralidade das pessoas envolvidas;
-
a articulação e motivação em torno da criação das instituições.
Em seguida, analisou-se em que medida os respectivos achados se aproximavam das características de multidisciplinaridade que constam do CP ou coincidiam com elas. Logo depois, cruzou-se a compreensão sobre o objetivo geral do projeto de pesquisa com o escopo de atuação do CP para a escrita do cordel. Dessa observação, quatro resultados interdisciplinares foram destacados, como uma proposta de situar o que seguiria do multi ao interdisciplinar no e para o CP.
O primeiro grupo de resultados diz respeito à visão de território que foi possível observar como destaque nas cinco dimensões de análise da investigação-base. Verificou-se que, por exemplo, haveria conformidade entre os conceitos de universidade e sua visão como estratégia de desenvolvimento. Uma universidade territorial aparece mencionada em importantes publicações oficiais do Brasil, como as comunicações da Presidência da República que fazem parte dos processos de concepção das novíssimas universidades e seus respectivos projetos de lei que tramitaram no Congresso Nacional entre os anos de 2011 e 2013.
Essa visão entrevistados-documentos coloca as universidades federais como estratégias de desenvolvimento porque consideram os territórios brasileiros unidades de relações sociais, políticas, ambientais, culturais e econômicas, entre outras, que podem ser direcionadas à melhoria da qualidade de vida das pessoas, tal como apontam autores como Saquet (2014)Saquet, M. A. (2014). Território. In R. F. Boullosa (Ed.). Dicionário para a formação em Gestão Social (pp. 176-179). CIAGS/UFBA.. As universidades seguiriam, nesse aspecto, como entidades capazes de induzir essas forças rumo ao desenvolvimento territorial. Então, a visão de território predominante nos achados da pesquisa conforma essa tessitura de relações potencialmente dispostas ao desenvolvimento.
O segundo grupo, por sua vez, conforma-se por tudo aquilo que se admite ser no campo das necessidades regionais. Ainda que tenha forte relação com a segunda dimensão de análise - necessidades locais -, foi bastante constatado nas entrevistas que a montagem das universidades atenderia a demandas locais há muito percebidas, de modo que essa ação conferiria uma vantagem política, econômica e social para os espaços onde cada instituição foi instalada.
Nesse escopo, revelou-se também que houve determinada atenção às potencialidades e demandas locais tanto da sociedade civil quanto da iniciativa privada (em destaque) no ato da elaboração de novos cursos de graduação, notadamente aqueles estabelecidos por meio de assembleias realizadas nos municípios no raio de atuação das universidades.
No que tange ao terceiro grupo de resultados preliminares, pode-se ressaltar a ação sociocêntrica necessária para que a articulação entre as novíssimas universidades federais fosse possível. Já no trabalho de Nascimento (2018)Nascimento, I. R. T. (2018). A expansão da educação superior como estratégia de desenvolvimento territorial: o caso da Universidade Federal do Cariri. (Tese de doutorado em Administração, Núcleo de Pós-Graduação em Administração, Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil). https://repositorio.ufba.br/handle/ri/29325
https://repositorio.ufba.br/handle/ri/29...
, a experiência da UFCA mostrou que a condição regionalizada da educação dessas instituições, de maneira especial requerida pelo Reuni, só foi viável por conta da participação de outros atores sociais que tradicionalmente não participam dos ciclos de políticas públicas.
De modo central, o que pode ser dito é que o Reuni não somente estabeleceu um contexto de ampliação de vagas ou a instituição de novos cursos. Mais do que isso, provocou nas universidades federais um processo de reflexão e ação, almejando mudanças complexas na estrutura organizacional de currículos e práticas pedagógicas, possibilitando ações inovadoras e interdisciplinares no âmbito do ensino, aprendizagem, pesquisa e extensão das instituições federais de ensino superior (Barreto Filho, 2019Barreto Filho, O. (2019). O processo de elaboração e de implantação do projeto da Universidade Federal do Sul da Bahia: impactos sobre a cultura regional 2013-2018. (Tese de doutorado em Cultura e Sociedade, Universidade Federal da Bahia, Salvador). https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/29283/1/Tese_OsvaldoBarreto_VF_ParaDeposito%20DEFINITIVA.pdf
https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri...
). As novíssimas IES estudadas nesta pesquisa são oriundas de um processo político-institucional de expansão e interiorização da educação superior pública que tem como eixo central a viabilização de atividades inerentes à pesquisa, ao ensino e à extensão, mediante a produção de demandas de acordo com os territórios e atores locais.
No caso das demais novíssimas - UFSB, UFOB e Unifesspa -, essa condição importou sobremaneira. Ao integrar outros agentes políticos, agentes públicos e a sociedade civil, o formato institucional dedicado a essas organizações pôde unificar elementos territoriais, e isso foi condição sine qua non para que, do ponto de vista racional e objetivo, observassem em si uma inserção local que se traduzisse para além da indicação de seus próprios nomes.
Por fim, o quarto grupo de achados preliminares diz respeito a uma subsequência da ação sociocêntrica: a formação de equipes plurais. No que toca à demanda por revestir as novíssimas de um caráter amplamente territorial, foi necessário conferir pluralidade aos atores envolvidos nas equipes e nas comissões de implantação de cada uma das instituições analisadas.
É importante revelar que esses quatro grupos não refletem essencialmente a totalidade, mas oferecem à pesquisa uma visão mais ampla de seus sentidos (Minayo, 2010Minayo, M. C. S. (2010). Análise e interpretação de dados de pesquisa qualitativa. In M. C. S. Minayo & S. F. D. R. Gomes (Eds.). Pesquisa Social: teoria, métodos e criatividade (pp. 79-107. 29ª ed. Petrópolis: Vozes.), de modo que sirvam para o norteamento das análises totais. No caso deste trabalho, oportunizou-se a elaboração do cordel nos moldes da Tabela 3. Todavia, é considerável estabelecer que a correspondência entre a Tabela 2 e a Tabela 3 ocorreu de modo transversal e não linear.
Cumpre informar que o texto do cordel na próxima seção está montado em duas colunas para se fazer jus ao formato popular e difundido de publicação dos cordéis nos livretos que lhes são bastante característicos e distintivos. Desse modo, preservam-se, no que é possível no escopo das comunicações científicas, as características peculiares do gênero literário que motivou a elaboração deste trabalho.
O CORDEL
(A) Com este cordel nós viemos propor
A nossa forma de contribuição
Para a revista, nesta publicação
Em poesia, o texto vai dispor
Nossa visão de sentimento e amor
Ao Campo de Públicas considerar
E certos achados a se revelar
Sobre a interdisciplinaridade
Tão presente na sua diversidade
De uma pesquisa que nós vamos falar.
Com a sua própria identificação
O Campo de Públicas vai reunir
Pessoas ao bem público discutir
Numa nova e rica integração
Empenhados cursos de graduação
Dos tecnólogos não dá p’ra esquecer
E a pós-graduação enriquecer
Mobilizam o ethos republicano
E interagem com o agir humano
Para um novo país se estabelecer.
Do Campo de Públicas, se fazem parte
Cursos superiores de formação
Administração pública e gestão
Mas há muitos outros, e não se reparte
Unir as formações é a sua arte
Cursos tecnológicos estão presentes
Ação governamental nas suas mentes
Políticas públicas valorizadas
Com as pessoas mais que organizadas
E as pós-graduações nestas vertentes.
Campo de Públicas também é ação
É condição que se deve admitir
Pois no campo está sempre a se refletir
Visto que age com determinação
Técnicas, políticas em discussão
Bem público e sustentabilidade
Bem-estar para toda a sociedade
Governo e pessoas em uma arena
Da democracia, tema que engrena
Necessária convivialidade.
No Campo de Públicas, a se saber
Há redes, encontros, articulações
Também muitas outras movimentações
Com pessoas, discursos a envolver
Interesse público enaltecer
Experiências, relatos a trocar
O conhecimento viabilizar
O que a sociedade valoriza
Como também o que ela prioriza
O seu desenvolvimento, sem pensar!
Isso faz o campo ser novo e plural
Pois considera as diferentes pessoas
E interpela ao bem-público: ecoas!
Torna-o, assim, um campo sem igual
Com diversidade institucional
Agrega diversificados parceiros
Democracia, atores costumeiros
À sociedade unida a se guiar
A boa formação a proporcionar
Esses hábitos, verdadeiros luzeiros!
Isso tem feito o campo ser mais plural
Mais e novos atores se envolvendo
Assim, o corpo do campo vai crescendo
Com variedade institucional
E dada participação social
Nova expressão pública a demonstrar
Um espaço de debate a se formar
De saberes cidadãos com amplitude
De práticas sociais com atitude
Embrionário multidisciplinar!
(B) E nessa seara, vamos perguntar
Já que seres humanos são curiosos
Até em assuntos mais capciosos
Para esta nossa dúvida saciar
O que seria multidisciplinar?
São aquelas disciplinas definidas
No caráter da ciência, aludidas
Um objeto próprio em denotação
Campo de trabalho com demarcação
Cada uma na sua, são atendidas.
E o que seria interdisciplinar?
No Campo de Públicas, nosso espaço
Pois ele contém esse importante traço
Prudente seria, a nós, nos perguntar
Para uma grande confusão evitar
É dada congregação de disciplinas
Unidas, sob fusão, genuínas
E novas relações são estruturadas
Mais aprendizagens, viabilizadas
De novos saberes, verdadeiras minas.
Assim, propomos uma tal discussão
Entre o tal saber multidisciplinar
E o admitido interdisciplinar
Já que essa é a nossa nobre função
De atuar no seio da indagação
Já que a novidade é típica do campo
Como fosse seu principal entrecampo
O interdisciplinar melhor seria
Mais aderência social se teria
Nas públicas, seu específico campo.
Em ensino, pesquisa e extensão
Conhecimento e teoria unidos
Fazeres e instrumentos proferidos
Aos saberes, verdadeira difusão
Concreta e real sua situação
Assim o agir interdisciplinar
Tem mais escopo para se demonstrar
Mas não esquecemos da nossa cultura
Oportunidade de saber, figura
O interdisciplinar a revelar.
Foi por isso que um projeto de pesquisa
No Campo de Públicas ambientado
Com um fenômeno a ser revelado
Das universidades, ele precisa
Falar da criação delas, ele visa
Mas não é de qualquer universidade
Fala das novíssimas, em tenra idade
Que já está em fase de conclusão
Com alguns resultados de antemão
No rol da interdisciplinaridade.
(C) A pesquisa nasceu da observação
Dum evento socioinstitucional
Fruto duma política nacional
Ao financiamento da educação
E para sua descentralização
Como foco no ensino superior
Para dar-lhe um tom impulsionador
É do Reuni que estamos falando
Apesar de estar se descontinuando
Tem resultados de tom inspirador.
Os resultados são as tidas novíssimas,
São as universidades federais
No agir em seus respectivos locais
Com sociais expectativas, altíssimas
Agentes de mudança, as sereníssimas
São quatro no plano territorial
Num espaço do Brasil setentrional
São três na Bahia e no Ceará
E mais uma no estado do Pará
Foram demandas de cunho social.
A primeira é uma universidade
Que fica no estado do Ceará
Na região do Cariri, a achará
Fora montada com engenhosidade
Com técnica e afetuosidade
É nossa, do Cariri, a federal
A UFCA, que não tem outra igual
Nascida da demanda daquele povo
Onde se acreditou em um tempo novo
A ter um desenvolvimento geral.
A segunda é a UFSB, baiana
Com três campi na porção interior
Do sul da Bahia, a seu posterior
A missão de desenvolver dela emana
E afastar-se de uma vida tirana
Em Itabuna, encontra-se sediada
Em Porto Seguro também instalada
Qual a unidade em Teixeira de Freitas
Com todas as articulações bem-feitas
Ao desenvolvimento é motivada.
A outra universidade federal
Instalada no oeste da Bahia
Seria ali relevante, já se via
Com seu caráter local e regional
Tal política pública nacional
É a UFOB, com sua sede em Barreiras
E criada em outras cidades parceiras
Agindo em prol da população baiana
Que não se humilha e não se engana
Entes como ela: apostas certeiras.
No Pará, a quarta universidade
A Unifesspa ali fora sediada
Após qual grande demanda, instalada
Com a mesma institucionalidade
Visando agir com tal regionalidade
Dela é importante se compreender
Os paraenses querem não só crescer
Nem novas realidades construir
E novos tempos se fazer emergir
Mas sim amplamente se desenvolver.
Então para elas se analisar
Ao Campo de Públicas foi recorrer
A pesquisa, no ato de acolher
Teria que ser interdisciplinar
Para outros saberes considerar
Erguida em três pilares conceituais
Políticas públicas: seus rituais
Ensino superior como noção
Desenvolvimento como uma ação
Ao Campo de Públicas, essenciais!
(D) Os resultados interdisciplinares
Que são necessários se considerar
Uma vez que têm muito a se revelar
As estrofes e versos complementares
Sabendo que ainda são preliminares
No Campo de Públicas se estabelecem
E saberes empíricos oferecem
Sobre as novíssimas podem consentir
Saber interdisciplinar, anuir
Ao interesse social enobrecem.
Segue-se pela visão de território
O primeiro resultado a se falar
Aquelas pessoas a considerar
Fora tal procedimento introdutório
Às instituições, um saber notório
Pois em cada qual daquelas regiões
Tal como fossem positivas moções
Seria bom o território se ver
Para a localidade se conhecer
A cada lugar, acertadas noções.
É por isso que cada universidade
Tem cada uma o nome do território
Ao desenvolvimento, peremptório
Respectiva institucionalidade
Para que nelas se tenha igualdade
Seus lugares e regiões respeitar
Fraquezas e forças, se considerar
Para seus cursos a ação pedagógica
Baseando-se tal numa mesma lógica
Para as condições locais nelas estar.
O segundo passo foi se atentar
Para o território que as abrigava
A problemas que agora se notavam
Necessidades locais considerar
Para os cursos superiores montar
Pensar numa efetiva graduação
Como também numa pós-graduação
Foram saber do povo o que aspiravam
Dentro daquilo que eles necessitavam
Em considerável articulação.
Nas novíssimas isso fora seguido
Cada uma seguindo sua maneira
De maneira lúcida, certa e ordeira
Fora tal objetivo perseguido
E positivamente foi concluído
Pois delas se nota uma formação
Alocada no pendor da região
Consideradas as potencialidades
No campo de muitas especialidades
Para formar cidadã e cidadão.
Mas para isso foi preciso contar
Com chamada sociocêntrica ação
Como se fosse novo diapasão
Com tanta gente, nós vamos comentar
Num caráter bem interdisciplinar
Dos Poderes Públicos e quais esferas
Vieram novas relações mais sinceras
A sociedade civil representada
Iniciativa privada motivada
Como fossem mitológicas quimeras.
O protagonismo foi da sociedade
A uma instituição se propor
Para cada estado, ações se dispor
Em torno da nova universidade
Qual viva essa social habilidade!
O poder público veio a delegar
À sociedade, apostar, aceitar
As tratativas e as negociações
Com mais pessoas e instituições
As novíssimas a se mobilizar.
A aquelas quatro universidades,
Uma questão clara fez-se ponderar:
Como seria interdisciplinar
E ser regional nas atividades
Considerando os múltiplos lugares?
Uma resposta: ter equipes plurais
De abertura e amplitudes regionais
Para os desejos públicos anuir
E a sociedade fazer-se sentir
Sem diferença, tratamentos iguais.
E dessa maneira foi realizado
O tal propósito territorial
De um expressivo caráter regional
Por toda a gente fora concretizado
E o objeto do Reuni foi montado
As novíssimas foram consolidadas
Cursos e vagas se seguem ofertadas
Cumprindo com seu papel e seu talento
Agir com vistas ao desenvolvimento
As novíssimas: apostas acertadas!
(E) E no que tudo isso tem relação
Num dado passo interdisciplinar
Ou teria ele algo a superar?
Se vai na via ou segue na contramão
Com o Campo de Públicas, em questão
É possível que dúvidas existam
Como mais indagações finais persistam
Mas queremos apenas contribuir
Deixar a poesia poder fluir
Percepções, saberes que já se avistam.
Concluímos aqui sem ponto-final
Este, o bem-intencionado cordel
Como fosse numa folha de papel
Do Campo de Públicas, material
Com tal poesia bem sentimental
É como nós podemos considerar
A condição mais interdisciplinar
Tudo que é social e relevante
Ao Campo de Públicas, o instigante!
No nosso ambiente do investigar!
CONCLUSÃO
Este estudo foi desenvolvido no seio de uma pesquisa em andamento que objetiva analisar as bases político-institucionais do processo de concepção das novíssimas universidades federais no Brasil: a UFSB, a UFOB e a Unifesspa. No formato de cordel, concentra versos que se debruçam em apresentar de que forma as dimensões de multidisciplinaridade e interdisciplinaridade se consolidaram na montagem dessas instituições.
De um ponto de vista muito específico, este ensaio, que oportunizou a escrita do cordel pelas reflexões que incita, foi delineado nas seguintes ideias: apresenta o Campo de Públicas como um espaço importante de debate, participação e democracia, constituído dos cursos superiores em Administração Pública e Gestão. Mostra também que as novíssimas universidades brasileiras têm atuado, por meio de ensino, pesquisa e extensão, de forma interdisciplinar e multidisciplinar e como isso tem fomentado seus territórios particulares. Nas últimas estrofes do cordel, é possível verificar como atores da sociedade civil foram protagonistas na consolidação dessas instituições, além de como o caráter interdisciplinar está associado a esta pesquisa e àquelas universidades.
Assim, crê-se que o objetivo deste trabalho - elaborar um texto em cordel com os aprendizados de uma pesquisa interdisciplinar no âmbito do CP - pode ser tido como alcançado em razão de se terem feito tais considerações sobre o processo de concepção das novíssimas universidades federais brasileiras por meio da reflexão, da criatividade e da sensibilidade para se discutir esses assuntos. Assume-se, portanto, ser mais uma forma de se falar sobre e para o CP, multi e interdisciplinar até mesmo na forma como expressa os conhecimentos que ajuda a construir.
Ao analisar as importantes contribuições deste trabalho, escrita (em parte) como um cordel, acredita-se que o presente texto estimule novas produções científicas e, sobretudo, técnico-artísticas para os diversos campos de conhecimento, notadamente ligados ao CP, de maneira especial no que tange à prática de ensaios, uma vez que possibilitam a ruptura ou a transformação do trato de certos assuntos, numa ação libertadora que lhes é própria (Boava et al., 2020Boava, D. L. T., Macedo, F. M. F., & Sette, R. S. (2020). Contribuições do ensaio teórico para os estudos organizacionais. Revista Administração em Diálogo, 22(2), 69-90. https://doi.org/10.23925/2178-0080.2020v22i2.41951
https://doi.org/10.23925/2178-0080.2020v...
). Insta pontuar que a implantação dessas novíssimas universidades representou avanços significativos no tocante à expansão e à interiorização da educação superior pública, envolvendo aspectos multi e interdisciplinares, sobretudo o desenvolvimento regional e territorial onde essas instituições foram instaladas.
Não se tem este trabalho como terminativo nem sobre o assunto tampouco sobre a utilização do cordel e de outros recursos e estéticas acadêmico-científicas, mas expressa-se a intenção de tê-lo como fonte de inspiração para outros e criativos formatos de comunicações científicas inerentes ao CP em sua extensão de teorias e práticas.
-
Avaliado pelo sistema double blind review.
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Relatório de avaliação por pares: o relatório está disponível neste link
AGRADECIMENTOS
Agradecimento são feitos à Pró-reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da Universidade Federal do Cariri (PRPI/UFCA), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) pelo apoio institucional e financeiro (auxílios e bolsas).
REFERÊNCIAS
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
22 Dez 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
-
Recebido
15 Set 2022 -
Aceito
06 Jan 2023