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Entre aves, carnes e embalagens: divisão sexual e sentidos do trabalho em abatedouro avícola

Among poultry, meat and packaging: sexual division and meanings of work in a poultry slaughterhouse

Resumos

Este artigo apresenta uma investigação sobre o trabalho de mulheres atuantes em um abatedouro avícola em Santa Catarina, Brasil. As concepções teóricas da divisão sexual do trabalho e da produção de sentidos pela psicologia do construcionismo social nortearam as análises. O conceito de trabalho foi compreendido a partir de uma dupla dimensão: como concreto (produtor de coisas úteis) e abstrato (produtor de mercadorias). Com base na estratégia investigativa do estudo de caso, foi desenvolvida uma pesquisa de campo, com dois procedimentos principais: observações e oito entrevistas com trabalhadoras. Os resultados geraram duas grandes categorias temáticas, uma delas é apresentada aqui. Trata-se da divisão sexual do trabalho identificada tanto no âmbito produtivo como no doméstico. Os resultados, por meio da articulação analítica dos sentidos e da divisão sexual do trabalho, expuseram as relações assimétricas no trabalho na indústria de carne avícola e, consequentemente, no ambiente familiar.

trabalho; sentidos; divisão sexual do trabalho; avicultura


This article informs the results of a research which focus on the women's work at a small poultry slaughterhouse, in Santa Catarina State, Brazil. . The sexual division of labor and the meanings of work were supported by the social constructionism. The concept of work was understood from a double dimension: as concrete work (producing useful things) and as abstract work (producing goods). Based on a case study, a qualitative approach was developed through observation and eight interviews with women workers. Based on the analytic articulation of meanings and sexual division of labor theories, the results showed the asymmetric relations at work in the poultry industry and also in the domestic place.

Work; Meanings; Sexual Division of Labor; Poultry Industry


ARTIGOS

Entre aves, carnes e embalagens: divisão sexual e sentidos do trabalho em abatedouro avícola

Among poultry, meat and packaging: sexual division and meanings of work in a poultry slaughterhouse

Laila Priscila GrafI; Maria Chalfin CoutinhoII

IUniversidade Federal de Santa Catarina

IIUniversidade Federal de Santa Catarina

RESUMO

Este artigo apresenta uma investigação sobre o trabalho de mulheres atuantes em um abatedouro avícola em Santa Catarina, Brasil. As concepções teóricas da divisão sexual do trabalho e da produção de sentidos pela psicologia do construcionismo social nortearam as análises. O conceito de trabalho foi compreendido a partir de uma dupla dimensão: como concreto (produtor de coisas úteis) e abstrato (produtor de mercadorias). Com base na estratégia investigativa do estudo de caso, foi desenvolvida uma pesquisa de campo, com dois procedimentos principais: observações e oito entrevistas com trabalhadoras. Os resultados geraram duas grandes categorias temáticas, uma delas é apresentada aqui. Trata-se da divisão sexual do trabalho identificada tanto no âmbito produtivo como no doméstico. Os resultados, por meio da articulação analítica dos sentidos e da divisão sexual do trabalho, expuseram as relações assimétricas no trabalho na indústria de carne avícola e, consequentemente, no ambiente familiar.

Palavras-chave: trabalho; sentidos; divisão sexual do trabalho; avicultura.

ABSTRACT

This article informs the results of a research which focus on the women's work at a small poultry slaughterhouse, in Santa Catarina State, Brazil. . The sexual division of labor and the meanings of work were supported by the social constructionism. The concept of work was understood from a double dimension: as concrete work (producing useful things) and as abstract work (producing goods). Based on a case study, a qualitative approach was developed through observation and eight interviews with women workers. Based on the analytic articulation of meanings and sexual division of labor theories, the results showed the asymmetric relations at work in the poultry industry and also in the domestic place.

Key Words: Work; Meanings; Sexual Division of Labor; Poultry Industry.

Introdução

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de carne de frango, apenas precedido pelos Estados Unidos e pela China, destacando-se, contudo, quanto à categoria de exportador, visto que ocupa o primeiro lugar em relação aos países citados.1 1 CENTRO DE SOCIOECONOMIA E PLANEJAMENTO AGRÍCOLA, 2008. Essas informações revelam a importância do Brasil quanto à exportação de carnes avícolas, um panorama que se relaciona com a produtividade dos estados brasileiros e, em especial, os estados do Sul do país. Miele e Girotto2 2 Marcelo MIELE e Ademir Francisco GIROTTO, 2005. indicam a relevância dos estados sulinos para o crescimento internacional da produtividade da carne de aves, destacando Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul como responsáveis por 64% dos abates de aves efetuados no país.

Nesse contexto nacional, o estado de Santa Catarina está localizado como o segundo maior produtor de carne de aves, sendo o Paraná considerado o primeiro produtor e o Rio Grande do Sul, o terceiro. No entanto, cabe destacar que, embora Santa Catarina não seja considerado o maior produtor, ele é o principal exportador avícola.3 3 CENTRO DE SOCIOECONOMIA E PLANEJAMENTO AGRÍCOLA, 2008. Esses aspectos indicam, então, a importância da produtividade catarinense na consolidação do Brasil como uma referência internacional nesse setor.

As características sociais e históricas da territorialidade do estado de Santa Catarina e sua organização produtiva foram fatores decisivos no desenvolvimento do cenário atual da avicultura. No oeste do estado, ocorreu um destaque expressivo da industrialização da produtividade agroindustrial a partir da década de 1960, com o surgimento das organizações e dos grandes complexos agroindustriais no ramo da produção de alimentos e de carne animal, tais como Sadia, Perdigão, Chapecó e Seara.4 4 Alcides GOULARTI FILHO, 2007. A constituição social e histórica dos territórios catarinenses em pequenas e médias propriedades possibilitou a proliferação de produtores avícolas.5 5 Bernardo Sorj, Malori J. Pompermayer e Odacir Luis Coradini, 2006. Com efeito, a ampliação da atividade econômica avícola no estado ocorreu nos últimos trinta anos, em decorrência de um processo de vinculação dos pequenos e médios criadores de aves com as grandes agroindústrias para suprimirem a demanda de animais para abate, um sistema chamado de "integração".6 6 O sistema de integração, de acordo com Maria Ignez PAULILO (1987a, p. 1), refere-se a uma forma de articulação vertical entre as empresas da agroindústria e dos pequenos produtores agrícola, de modo a se caracterizar por um processo produtivo organizado de modo industrial, com o uso de tecnologia e capital. Esses criadores estavam distribuídos por todo o território catarinense, e a maioria desses permaneceu vinculada à indústria; outros produtores rurais, com o objetivo de diversificar a produção em suas propriedades e em menor escala, encetaram-se a produzir carne como uma pequena indústria de transformação.

Essa pesquisa foi fundamentada no contexto de pequenos e médios produtores avícolas, sendo pequenas indústrias de transformação de animais em carnes,7 7 Também chamada de indústria de "desmontagem animal", ver discussão em Luciano Félix FLORIT et al., 2006. com uma mão de obra fundamentalmente familiar e com uma pequena escala produtiva. Foi desenvolvida, assim, uma pesquisa de campo com o objetivo de investigar os sentidos atribuídos ao trabalho por mulheres que atuam em uma pequena indústria processadora de carne avícola. Este artigo apresenta parte dos resultados dessa pesquisa, enfocando os discursos referentes às divisões sexuais no trabalho.

A investigação foi desenvolvida em um pequeno produtor de aves, um estabelecimento chamado igualmente de abatedouro ou frigorífico, localizado no interior de Santa Catarina. Essa investigação foi sustentada na motivação de aprofundar os conhecimentos sobre relações laborais no setor, observando a indicação de Florit et al.8 8 FLORIT et al., 2006. sobre a invisibilidade dessa atividade, como analisar o uso da força feminina nesse campo. A contratação de mulheres também foi observada em outros estudos9 9 FLORIT et al., 2006; Paulo de Andrade JACINTO, 2005; e Leny SATO e Francisco Antonio de Castro LACAZ, 2000. e no contexto norte-americano, em que elas juntamente com os imigrantes são os "mais desejados" por essas organizações, em decorrência de perceberem menores salários e se submeterem a tarefas árduas e perigosas. Esse tipo de emprego se enquadra na definição da Organização Internacional do Trabalho como um 3D Jobs: trabalhos que são sujos, perigosos e degradantes.10 10 Patricia ALLEN e Carolyn SACHS, 2007.

Como indicado, este artigo apresenta parte de uma investigação11 11 Esta pesquisa é parte dos resultados da dissertação de mestrado elaborada pela primeira autora, com orientação da segunda (Laila Priscila GRAF, 2009). fundamentada na perspectiva teórica e metodológica do construcionismo social. Essa abordagem possibilita tanto o suporte teórico para a concepção do sujeito em Psicologia como base teórico-metodológica da pesquisa. Este artigo foi estruturado em duas partes principais: a primeira referente aos aportes teóricos sobre o contexto atual do trabalho, do trabalho e do gênero, do contexto da semirruralidade e dos sentidos do trabalho; e a segunda apresenta o processo de investigação de campo e os resultados. Os resultados referem-se ao contexto histórico e social da organização investigada, ao trabalho das mulheres no abatedouro, aos aspectos da produtividade efetuada na indústria e no ambiente doméstico.

Trabalho e suas articulações na contemporaneidade

Trabalho e gênero

A partir da década de 1990, os efeitos complexos e contraditórios desenvolvidos por meio da globalização comprometeram desigualmente os empregos masculinos e femininos, tal como esclarece Hirata.12 12 Helena HIRATA, 2001. Por um lado, o trabalho masculino regrediu ou se estagnou, enquanto o trabalho das mulheres remunerado foi ampliado devido à liberalização do comércio e à intensificação da concorrência internacional. Cabe ressaltar que essa maior participação das mulheres se desenvolveu especialmente nos empregos precários e vulneráveis. A força de trabalho feminina, dessa maneira, ficou atrelada a modelos chamados de trabalho em tempo parcial ou a trabalho informal sem proteção social,13 13 HIRATA, 2001; e Joan Wallach SCOTT, 1999. assim como os empregos formais criados preferencialmente para mulheres tenderam a se converter em guetos femininos e precários,14 14 Laís ABRAMO, 2007. com uma manutenção de desigualdades não apenas por imposição dos homens, mas decorrentes das ações de homens e mulheres. Em uma leitura que pode ser assinalada como contemporânea, Saffioti sugere que "[...] a própria mulher que, insegura num mundo em que ela conta como uma variável a ser manipulada segundo as conveniências da situação [...] joga em desvantagem de ser mulher, situa seus alvos em planos pouco ambiciosos".15 15 Heleieth I. B. SAFFIOTTI, 1976, p. 57. O capitalismo incorporou as mulheres em condições extremamente adversas, pois, na consolidação desse sistema econômico, elas contaram com uma desvantagem social de dupla dimensão: no nível superestrutural, ocorreu uma subvalorização das capacidades femininas desenvolvidas a partir de mitos culturais de supremacia masculina, bem como, no plano estrutural, à medida que o capital desenvolvia as forças produtivas, as mulheres foram sendo incorporadas perifericamente no sistema de produção.16 16 SAFFIOTTI, 1976.

Apesar de na contemporaneidade as mulheres terem níveis de escolaridade maiores do que os dos homens, de acordo com Abramo,17 17 ABRAMO, 2007. ainda permanecem os mecanismos de reatualização de uma segregação ocupacional, confinando-as em grande parte a trabalhos desvalorizados socialmente.18 18 Paula Viviane CHIES, 2010. Maria Chalfin Coutinho, Maria Fernanda Diogo e Ricardo Monteiro19 19 Maria Chalfin COUTINHO, Maria Fernanda DIOGO e Ricardo MONTEIRO, 2007. corroboram essa compreensão analisando o desemprego feminino, cujo aumento da precariedade das relações de trabalho a partir dos anos 1980 ocasionou a permanência das mulheres em atividades de menor remuneração, instáveis e com maior tendência de impactos na saúde física e mental.

Nas trajetórias de mulheres escolarizadas precariamente, os estudos de Invernizzi20 20 Noala Invernizzi, 2002. efetuados na Região Metropolitana de Curitiba (PR) mostram que 44% dos vínculos ocupacionais femininos não possuíam registros, pois a maioria dos trabalhos femininos era "fazer comida", ser "diarista", tratar de "cuidados de criança", ser "empregada" e tratar da "roça", evidenciando a falta de regulamentação trabalhista e o acesso a cargos sem exigência de qualificação profissional ou escolaridade. É observado também que a inserção das mulheres no setor privado com registro de trabalho é menor que a dos homens, com as mulheres correspondendo a 37% e os homens a 48%.21 21 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2008. Diante do exposto, nota-se uma tendência relacionada às mulheres de camadas populares, com pouco acesso à formação profissional ou a rendimentos, para o atrelamento à informalidade, subjugadas a trabalhos sem necessidade de qualificação profissional e às atividades de informalidade, relacionadas principalmente àquelas mais semelhantes às atividades reprodutivas.

As configurações do trabalho na contemporaneidade, descritas até aqui, corroboram com a necessidade de se investigarem os processos de trabalho efetuados "pelas mulheres", considerando a ideia de "mulher" e "homem" em relação e consolidadas por meio de processos históricos e sociais.22 22 Tal como esclarecido por Joan Wallach SCOTT (1998) quando se refere à necessidade de compreender como as relações entre os sexos foram construídas em determinados momentos históricos e sociais, quais as razões dessas construções e em quais contextos políticos. Há a necessidade de historicizar a ideia de homem/mulher, as ideias e os conceitos referentes às diferenças sociais apresentadas. As análises efetuadas precisam ser generificadas, compreendendo mesmo assim as práticas sociais atribuídas à ideia e/ao corpo de "mulher". Quando as investigações se propõem a entender as relações de trabalho e gênero, essas não devem enfocar somente as atividades produtivas, pois, muitas vezes, desse modo não se evidenciam os deslocamentos, as trajetórias de desemprego e emprego, os trabalhos informais e as subcontratações característicos do trabalho das mulheres por sua incumbência também das atividades reprodutivas, como exposto por Hirata.23 23 HIRATA, 2002. As pesquisas necessitam versar sobre o trabalho feminino considerando as relações de gênero e as atividades laborais atribuídas ao masculino, pois o mundo é constituído de pessoas e de múltiplas relações. O trabalho, como é aqui entendido, ainda permanece uma categoria central na vida dos humanos,24 24 Ricardo ANTUNES, 2002. sendo um modo de as pessoas compartilharem suas vidas em comunidade, possibilitando a construção, a transformação de objetos e de si mesmas durante esse processo.

Embora as mulheres investigadas não atuassem na produção agrícola, é necessário efetuar algumas considerações sobre a territorialidade do semirrural, pois tanto as mulheres em sua maioria residiam nesse espaço como era o espaço onde se localizava a organização. A teoria nem sempre consegue compreender a diversidade dos espaços rurais, pois estudos fundamentados em teorias evolucionistas conceberam o campo e a cidade de forma dicotômica e com certa progressividade, levando a uma visão distorcida do rural como um estágio anterior ao da formação da cidade, e não como espaços imbricados e inter-relacionados, além de serem passíveis de lutas e poderes.25 25 PAULILO, 2004.

Maria José Carneiro26 26 Maria José CARNEIRO, 1998. assinalou a necessidade de cuidado com a utilização do termo "rural", pois, dependendo do uso, pode acarretar um entendimento de um mundo agrícola tradicional, abordando apenas o trabalho do camponês e desconsiderando outras vivências e atividades, tais como o ecoturismo, o retorno de aposentados ao rural, funcionários públicos, chácaras, entre outros. As melhorias nos meios de comunicação e mais acessibilidade dos meios de transporte entre os territórios tornaram os lugares mais próximos e conectados na contemporaneidade.

Diante disso, destaca-se uma preocupação de evitar as dicotomias entre os termos "urbano" e "rural" ou "cidade" e "rural", porque as mulheres da indústria pesquisada tinham acesso ao transporte e aos centros comerciais, ou seja, estavam em uma situação em que possuíam diversas ligações com os diferentes espaços sociais. Segundo Carneiro,27 27 CARNEIRO, 1998. as noções de 'rural', 'ruralidade' e 'urbano' apresentam, em sua gênese, uma relação dicotômica, opondo realidades construídas historicamente, a partir de contínuos e integrados processos de transformação, modos e contexto de vida. Uma trabalhadora rural, a qual também é proprietária de seus meios de produção, terá outras condições sociais e econômicas daquela que vende sua força de trabalho para subsistência. No caso de uma agricultora, torna-se difícil diferenciar o espaço familiar do espaço de trabalho,28 28 PAULILO, 2004. visto a existência de certa permeabilidade entre trabalhos produtivos e reprodutivos.

Outro aspecto a ser destacado é a terra e a propriedade. Carmen Diana Deere e Magdalena Leon29 29 Carmen Diana DEERE e Magdalena LEON, 2002. estudaram o desequilíbrio entre a igualdade formal entre homens e mulheres em relação à herança da terra e sua efetiva conquista desse direito. As autoras evidenciam uma lacuna entre os direitos da propriedade da mulher e sua posse real, de forma que as mulheres têm menos chances de possuir terras do que os homens, pelos arranjos e pelas configurações familiares, o que se cria um problema pela terra ser uma fonte de renda, trabalho e subsistência. Esses aspectos do âmbito da territorialidade do semirrural serão retomados, pois, embora as mulheres enfocadas aqui possam ser analisadas como operárias, é necessário ressaltar que elas tiveram trajetórias de vida e trabalho entrecruzadas com as atividades exercidas no contexto do campo. Assim, o contexto do trabalho das mulheres na contemporaneidade é referente aos modos e aos lugares sociais ocupados por elas em certas territorialidades e espaços sociais, de modo a não serem possíveis considerações versando homogeneidades.

Divisão sexual do trabalho

Os estudos de gênero e da divisão sexual do trabalho estão estreitamente relacionados com a própria história do movimento feminista, partindo das muitas mulheres que questionaram e lutaram pelos direitos das mulheres nos séculos XIX e XX. O resultado dessas lutas se configurou na conquista de direitos, como assinala Eva Alterman Blay.30 30 Eva Alterman BLAY, 2001. Cristina Bruschini31 31 Cristina BRUSCHINI, 1994. descreve o percurso histórico dos estudos de gênero relacionados com o trabalho. Em um primeiro momento houve uma preocupação das teóricas em compreender as relações do trabalho produtivo efetuado pelas mulheres, uma inquietação decorrente da necessidade de inclusão da força de trabalho feminina no mercado de trabalho. A partir da década de 1980, os trabalhos teóricos começaram a incorporar os aspectos produtivos e os reprodutivos, ampliando o escopo dos estudos e visando a uma compreensão conjunta do trabalho assalariado, com as vivências familiares. "Para a mulher, a vivência do trabalho implica sempre a combinação dessas duas esferas, seja pelo entrosamento seja pela superposição".32 32 BRUSCHINI, 1994, p. 21. Não seria possível compreender o trabalho efetuado pelas mulheres sem incluir análises sobre as segundas ou terceiras jornadas de trabalho feitas por elas mesmas no ambiente doméstico. Com os avanços dos debates teóricos e dos estudos, foi desenvolvida a compreensão da divisão sexual do trabalho englobando leituras de construções sociais de sexo nos espaços produtivos e nos reprodutivos.

Na atualidade, a divisão sexual permite estudar as relações entre trabalho e subjetividade, identificar os estereótipos sobre os gêneros, identidades sexuais e entendimentos coletivos sobre a virilidade e a feminilidade como mecanismos utilizados para o controle da força de trabalho no mundo industrial.33 33 HIRATA, 2002. Nos espaços sociais de trabalho, é comum observar mulheres locadas em atividades que exigem delicadeza e os homens em atividades com exigência de força ou com características de poder. Geralmente, esses processos de destinar certos empregos aos "homens" e outros às "mulheres" não consideram as especificidades singulares de cada ser humano, como, aliás, continuam a perpetuar os estereótipos de padrões normativos de gênero.

A divisão sexual do trabalho, portanto, comporta investigações voltadas ao funcionamento do mercado de trabalho capitalista, sem desconsiderar as análises necessárias em outros espaços da vida social dos sujeitos, conforme apresentado por Bruschini.34 34 BRUSCHINI, 1994. Hirata35 35 HIRATA, 2002, p. 277. esclarece que estudar a problemática da divisão sexual do trabalho é compreender o trabalho em "caráter multidimensional", abrangendo tanto o trabalho doméstico como a atividade assalariada, suas dimensões objetivas e subjetivas, como também mencionou Linda Nicholson.36 36 Linda NICHOLSON, 1987.

Cabe analisar, diante disso, as especificidades do trabalho doméstico entre os diversos tipos de atividades feitas pelos trabalhadores, pois há significativas diferenças em termos de exigências de trabalho doméstico entre mulheres assalariadas profissionais com cursos de formação superior (white-collar workers), locadas em setores como, por exemplo, de vendas, escritórios, administrativos, e mulheres da indústria ou de atividades agrícolas (blue-collar workers), as quais desenvolvem atividades com elevada exigência de desempenho físico e contam com menores remunerações atreladas à baixa valorização social de suas atividades. Ainda existe uma perpetuação da falta de visibilidade e reconhecimento social do trabalho doméstico não remunerado, tal como declarado por Bruschini.37 37 BRUSCHINI, 2006. A autora também assinalou os impedimentos e as retrações ocorridas nas carreiras profissionais das mulheres em decorrência das obrigações domésticas. Destarte, a visibilidade do trabalho doméstico junto com esforços a aumentarem o reconhecimento social dessas atividades pode possibilitar uma transformação nos modos de os sujeitos "mulheres" se posicionarem nas tramas sociais, auxiliando-as nas negociações no âmbito familiar e propiciando modificações na sua própria atuação em relação aos seus filhos/as e a outras mulheres.

Sentidos do trabalho

Diante das ideias expostas anteriormente, é importante considerar que elas precisam ser articuladas com uma visão de sujeito que possa expressar e falar de uma singularidade humana. Assim, para isso, aqui é apresentada a categoria dos sentidos, a partir de uma visão da abordagem do construcionismo social e, adiante, será desenvolvida essa ideia de sentidos voltada à dimensão do trabalho.

O conceito de sentidos pode ser desenvolvido por diversas perspectivas teóricas da Psicologia, no entanto, como aqui se refere ao conceito a partir do construcionismo social, será feito um breve resgate dessa abordagem. Para Spink e Frezza,38 38 Mary Jane Paris SPINK e Rose Mary FREZZA, 2004. o construcionismo social desenvolvido na Psicologia brasileira ocorre a partir do intercurso de três campos do conhecimento – Filosofia, Sociologia do Conhecimento e Ciências Políticas –, de modo que se propôs a compreender a articulação dos conhecimentos psicológicos como subjetividade, grupos, práticas clínicas com o campo social analisado pela Sociologia, pela Antropologia, pelas Ciências Políticas, caracterizando-se como uma abordagem em constante diálogo com as outras teorias sociais.

Na Psicologia brasileira, o construcionismo se desenvolveu a partir de psicólogos sociais em busca de referenciais teóricos e metodológicos alternativos ao paradigma norte-americano, o qual focava seus estudos basicamente em processos cognitivos e pesquisas em laboratório. O construcionismo social objetiva entender os grupos e os sujeitos em processo juntamente com suas relações culturais, sociais e historicidades, aspectos fundamentais ao trabalho de campo da Psicologia Social brasileira. Com o construcionismo, os sentidos possibilitam compreender uma singularidade a partir das construções sociais produzidas coletivamente, de modo a serem sustentados em um entendimento da dimensão dos processos linguísticos, da compreensão histórica e do entendimento de pessoa como relação social.39 39 Mary Jane Paris SPINK e Benedito MEDRADO, 2004.

Os sentidos são compreendidos a partir da análise dos processos de construção linguístico-conceitual; os fenômenos sociais não são reduzidos à linguagem, mas compreendidos a partir de suas construções históricas; e a linguagem atua como uma forma de nomeação.40 40 SPINK e FREZZA, 2004. As falas das pessoas sobre suas vivências, as formas de elas compreenderem as questões que envolvem as suas vidas e os lugares sociais de cada sujeito são matérias a serem analisadas. Para Vivien Burr,41 41 Vivien BURR, 2003. os sujeitos podem ser analisados com ênfase macro e micro. Nas análises macro, o construcionismo compreende as forças constitutivas das posições dos sujeitos desenvolvidas por determinados discursos. Na análises micro, a preocupação é com as habilidades de as pessoas negociaram posições dentro de particulares interações. São apreciações inter-relacionadas que se propõem a discutir os processos sociais nas teias de relações. Os sentidos atribuídos ao trabalho promovem a compreensão dos discursos que atravessam esses lugares sociais.

Trabalho e suas articulações com as atividades do abatedouro

Características da investigação e da organização avícola

Neste item são apresentados o percurso do processo investigativo, os processos de coleta das informações e os modos de análise do material, as características e as informações gerais do estabelecimento de abate. Duas compreensões de pesquisa foram usadas na investigação. De um lado, o fundamento técnico-científico do construcionismo social, o qual entende os discursos produtores de sentidos e fundamenta-se na explicação dos processos por meio do relato das pessoas e das descrições sobre seus cotidianos,42 42 Mary Jane Paris SPINK e Vera M. MENEGON, 2004. privilegiando uma ênfase qualitativa. De outro lado, foi utilizada a estratégia do estudo de caso pela variedade de instrumentos usados,43 43 Robert K. YIN, 2005. como as entrevistas, as observações in loco, as observações de todo o processo produtivo, a coleta de documentos e as entrevistas com informantes-chaves.

A pesquisa se desenvolveu nas dependências do abatedouro avícola, com uma variedade de procedimentos citados e as entrevistas com oito mulheres. A escolha dessa organização deu-se devido ao grande número de mulheres, com o total de cem trabalhadores, sendo um contingente de cinquenta mulheres e cinquenta homens. Houve também uma abertura da direção da empresa e boa acolhida da pesquisadora,44 44 COUTINHO, 2000. desenvolvendo o trabalho de campo entre os meses de fevereiro e julho de 2008.

As entrevistadas foram selecionadas por indicação do encarregado responsável, conforme a possibilidade de serem substituídas ou se ausentarem da produção, como também por aceitarem participar da pesquisa. Os procedimentos éticos foram contemplados em todas as etapas da investigação. O roteiro versava sobre a identificação das trabalhadoras, o cotidiano de trabalho no abatedouro, as trajetórias de trabalho e o cotidiano de trabalho na vida doméstica. Também foram coletados depoimentos de homens trabalhadores, técnicos, veterinários, o presidente do Sindicado dos Trabalhadores da Indústria de Alimentos da localidade, o proprietário do estabelecimento, observações in loco desenvolvidas em todas as etapas do processo produtivo, desde o recebimento dos animais, o processo de abate até o transporte das carnes embaladas ao caminhão.45 45 Como as entrevistas foram desenvolvidas na própria empresa, houve a possibilidade de aliar a esse instrumento a observação do cotidiano na organização, que, conforme Nadir ZAGO (2003), é um privilégio quando o pesquisador tem a possibilidade de "entrar" nos espaços de circulação de seus entrevistados. As observações foram todas registradas em diário de campo e acompanhadas as diversas atividades laborais no espaço produtivo: dentro das câmeras frias, nos espaços de abate, na linha produtiva, nas chamadas "esteiras" que transportam os pedaços de carne, na nórea, entre outros. Nórea se refere à corrente que transporta as carcaças dos animais para a efetuação dos cortes. As observações foram efetuadas tanto nos espaços de trabalho de homens quanto de mulheres.

Para a análise das informações, essa foi primeiramente centrada na organização e no material gerado com as entrevistas, para depois ser complementada com os escritos do diário de campo e os relatos dos depoimentos. Com o fundamento do construcionismo social, a análises buscaram evidenciar os discursos construídos coletivamente sobre a atividade efetuada no abatedouro, enfatizando as relações cotidianas, as rupturas e as ressignificações na atividade no abatedouro, para assim ser possível dar visibilidade aos sentidos.

As entrevistas visavam compreender histórias de pessoas e coletivas; a análise das falas das entrevistadas, que se constitui o material discursivo, também objetivou evidenciar construções coletivas e singulares sobre a atividade laboral. Baseada nessa proposta, foram efetuadas leituras, assinalando ao final do processo dois eixos principais: a dimensão temporal associada às trajetórias das trabalhadoras e a categoria da divisão sexual do trabalho.

Este artigo apresenta a categoria chamada de "divisão sexual do trabalho", apresentando aqui aspectos discursivos das trabalhadoras e, incorporados a esses, também discursos referentes ao trabalho masculino e outros discursos sociais imbricados nessas falas. Mesmo que primeiramente tenham sido destacados temas nos discursos das mulheres, essas análises foram efetuadas de modo circunstanciadas envolvendo falas dos outros atores sociais. As análises discursivas geradas a partir da categoria da divisão sexual do trabalho evidenciaram discursos sobre o trabalho no abatedouro antigamente, o trabalho das mulheres no abatedouro (trabalho na indústria), o trabalho das mulheres no âmbito doméstico (na residência).

Diante desses esclarecimentos, agora aqui se elucidam características do abatedouro conforme os resultados da pesquisa de campo.46 46 Foi efetuada uma entrevista com o proprietário do estabelecimento para saber sobre o histórico do abatedouro. A pesquisadora também teve acesso a documentos oficiais da empresa referentes ao número total de trabalhadores/as da organização: cem trabalhadores contratados foram distribuídos por idade, sexo, escolaridade e data de admissão. Como os sentidos são entrelaçados com aspectos históricos, culturais, territoriais, é importante esclarecer como se constituiu o estabelecimento. O abatedouro era considerado uma empresa familiar da qual os filhos do fundador eram sócios. Tratava-se de uma indústria localizada em uma área semirrural, cujas instalações contavam com um galpão industrial, garagens, refeitório dos trabalhadores, escritórios da administração. Inicialmente suas atividades versavam sobre a produção de aves para a comercialização local e, posteriormente, a partir do início dos anos 1980, passou-se a efetuar o abate das aves. Em 2008, no período de trabalho de campo, a empresa abatia uma média de 18 mil aves por dia.

Conforme análises dos documentos apresentados pela organização, pode-se perceber uma considerável rotatividade dos trabalhadores/as. Dos cem trabalhadores contratados, a maioria estava na empresa há menos de dois anos. Deles, a maioria dos homens trabalhadores tinha idade entre 19 e 29 anos e a maioria das mulheres tinha idade entre 30 e 39 anos. Outra característica desse contingente de trabalhadores/as é sobre a escolaridade, pode-se identificar que tanto homens quanto mulheres em sua maioria tinham cursado somente o ensino fundamental.47 47 Esta análise ocorreu a partir dos documentos, considerando todos os trabalhadores/as da organização. Para mais detalhes, ver GRAF, 2009. Outro aspecto referente à construção de gênero na organização relaciona-se à descrição dos cargos, pois as mulheres estavam presentes em apenas três ocupações: auxiliar de evisceração (16 mulheres), auxiliar de produção (17 mulheres) e abatedor (13 mulheres). Por outro lado, os homens estavam locados em variados tipos de atividades: um operador de caldeira, um operador de empilhadeira, cinco auxiliares de expedição, oito em serviços gerais, um auxiliar administrativo, um mecânico, um pedreiro, um almoxarife, um auxiliar de evisceração, três auxiliares de produção, seis abatedores, 17 motoristas e um auxiliar de motoristas. Com essas informações, foram observados homens distribuídos em diversas atividades produtivas e mulheres em ocupações específicas, mostrando como as ocupações estavam segregadas de modo sexuado.

As construções da divisão sexual do trabalho

As análises sobre as divisões foram efetuadas a partir do material transcrito, do texto e do contexto. Assim, aqui primeiramente serão apresentadas características das mulheres entrevistadas para posteriormente efetuarmos as articulações dos discursos e das análises generificadas do trabalho, considerando as construções coletivas sobre os trabalhos considerados "masculinos" e "femininos" nesse espaço produtivo.

No desenvolvimento analítico, a partir do construcionismo social, os sentidos auxiliam nos modos de compreender os discursos das entrevistadas, suas histórias e percepções dos acontecimentos na organização durante seu percurso e suas táticas usadas como trabalhadoras, mas esses discursos sempre envolvem construções sociais e históricas em certas localidades. Essa categoria da divisão sexual assinala as demarcações de gênero no contexto do abatedouro e na vida doméstica das trabalhadoras. Com essa articulação, portanto, serão apresentadas primeiramente análises na indústria e, após, nas atividades reprodutivas, uma separação usada apenas como um recurso de escrita, pois na vida cotidiana não existe tal separação.

Para caráter de identificação das oito entrevistadas, seis delas tinham idade acima de 35 anos e duas tinham aproximadamente 20 anos. Sete mulheres eram casadas e tinham filhos. A maioria estudou até o ensino fundamental incompleto, conforme elas mesmas falavam: "estudei até a quarta série". Somente as duas mais jovens estudaram até o ensino médio, porém sem concluí-lo. A maioria também residia próximo ao abatedouro, em uma cidade de aproximadamente 30 mil habitantes no interior de Santa Catarina.

Sentidos do trabalho na indústria de abate

É importante salientar que os sentidos são produzidos por diversos fios de caráter histórico, social, subjetivos e objetivos, de modo que os sentidos atribuídos ao trabalho são compreendidos a partir dessa multiplicidade de relações, sem haver um único aspecto a ser indicado como sentido da atividade, mas sim diversos aspectos que o constituem.

Com a análise dos discursos é possível compreender os entendimentos sobre ser trabalhador "homem" e trabalhadora "mulher" naquela determinada localidade. As mesmas divisões de gênero ocorridas na sociedade também transpassam as esferas produtivas.48 48 HIRATA, 2002. A divisão sexual do trabalho, entre atividades atribuídas às mulheres e aos homens, acompanha as relações de produção e se modifica ao longo dos percursos históricos. "[...] as modalidades da divisão do trabalho entre os sexos, tanto no trabalho assalariado quanto no trabalho doméstico, evoluem no tempo de maneira concomitante às relações de produção".49 49 Hirata, 2002, p. 235.

Os resultados identificados na investigação são articulados com essas considerações apresentadas, sendo identificados dois momentos significativos na construção dos sentidos sobre as atividades laborais no abatedouro. O primeiro referente aos anos iniciais de funcionamento da empresa, um período chamado pelas trabalhadoras de "antigamente", e depois um período "contemporâneo".

No primeiro período, antigamente, as mulheres executavam todos os serviços necessários à produção e não havia diferenciação dos trabalhos desempenhados por mulheres ou por homens, pois, segundo elas, "todos faziam tudo" (sic.). O coletivo de trabalhadores/as efetuava todas as atividades necessárias ao desenvolvimento da produção, sem haver cargos ou atribuições ocupacionais masculinas e femininas diferenciadas. "Eu fazia de tudo um pouco, eu lavava os frangos, tirava às vezes as buchadas, cortava os pés" (Hortência). Recorrentes falas das entrevistadas indicavam também o sentimento agradável desse período e certo saudosismo de um tempo desvinculado do controle intenso dos processos, como ocorrido no período contemporâneo. Os relatos das entrevistadas com maior tempo de atuação na empresa, Valentina, Margarida e Hortência, revelaram como houve transformações de uma pequena granja avícola em uma indústria produtora de carne. Segundo as entrevistadas, essas mudanças ocorreram nos espaços físicos, na parte externa e interna do abatedouro, assim como em diversos aspectos do trabalho.

Mudou tudo da época do [antigo proprietário]. Mudou tudo. Tinha um escritório ali onde tem o guarda. Tinha o escritório e tinha atrás uma casa onde tinha uns rapazes que dormiam ali e trabalhavam aqui dentro. Eles dormiam ali e trabalhavam aqui. (Valentina)

As mudanças evidenciaram o processo de industrialização da organização. Anteriormente, a granja fornecia aves inteiras e vivas para uma grande indústria de processamento de aves, participando do processo avícola como produtor integrado, coadunando com o observado por Sorj, Pompermayer e Coradini50 50 Sorj, Pompermayer e Coradini, 2006. de que havia entre os produtores rurais catarinenses uma grande quantidade de estabelecimentos, predominantemente familiares, que forneciam as aves vivas para serem processadas pelas grandes indústrias. As atividades laborais eram feitas pelos membros da família, e somente algumas pessoas eram contratadas informalmente para auxiliar nas atividades, sendo essas, muitas vezes, parentes ou amigas. Os laços entre os proprietários e os contratados eram fortes, pois, embora houvesse diferenças, não havia hierarquias no processo de trabalho e de produção.

Essa construção histórica e social do abatedouro, a partir de uma leitura construcionista, evidencia como os discursos foram se constituindo, visto que o cotidiano é estabelecido por elementos históricos e sociais dessa organização. As alterações de divisões espaciais e consolidações alteraram juntamente as relações entre sujeitos, trabalhadores/as e proprietários. A partir dos relatos sobre esse processo de transição de granja à indústria de transformação, foi possível compreender não somente as alterações externas da empresa, como também o espaço interno onde eram configurados os modos de trabalho no processamento das aves.

Os frangos não tinham corrente, eles iam dentro dos cochos, com gelo, depois nós tirávamos do cocho e botava no gancho, levavam eles dentro da câmera lá dentro era tudo diferente. Tinha mais gente [...]. Porque os frangos iam por uma calha em cima da mesa e eram cortados os pés, abria e pegava puxava e caía dentro do cocho então nós levávamos no outro cocho, com água fria, para ficar mais gelado. Aí colocava na mesa, botava os miúdos e costurava, costuravam a mão [...]. Era tudo a mão sabe. (Hortência)

Naquele momento, a divisão do trabalho envolvia "as mulheres" em todas as atividades avícolas, praticamente não havia distinção entre o que era feito pelos homens ou pelas mulheres, todos praticavam tudo. Hirata51 51 HIRATA, 2002. assinalou haver mais de um tipo de divisão sexual do trabalho. Os discursos sobre o que significavam trabalhos "de mulheres" e "de homens" foram se alterando com os anos, práticas que no decorrer do tempo foram se "concretizando" nos espaços presentes.

No período chamado pelas trabalhadoras de "antigamente", no primeiro modo de divisão sexual do trabalho, as atividades laborais eram como extensões das atividades efetuadas em suas residências, pois elas lidavam com aves, consideradas animais pequenos, e estavam acostumadas a lidar com elas no âmbito doméstico. Perrot52 52 Michelle PERROT, 2007. lembra que as mulheres foram historicamente destinadas às funções da casa e outras agregadas ao cotidiano, como a criação de pequenos animais, a horta e o galinheiro. Assim, a partir de um processo histórico e social, as mulheres tornaram-se responsáveis pelo galinheiro, como também do abate das aves, objetivando o preparo da alimentação familiar. Nos primeiros anos da antiga granja, elas executavam tarefas diversificadas já socialmente associadas ao trabalho feminino, como o abate dos pequenos animais, diferentemente do manejo dos animais grandes, como os bovinos, relacionados mais ao trabalho dos homens.53 53 Florit et al., 2006.

No momento "contemporâneo", as divisões estavam mais marcadas entre o masculino e o feminino. As "mulheres" já não tinham a versatilidade de atribuições do passado, mas passaram a ocupar postos de trabalho díspares dos ocupados por "homens". A predominância feminina estava em áreas localizadas no espaço interno do abatedouro na retirada dos miúdos e nas embalagens. Os homens estavam distribuídos por diversas ocupações, desde atividades externas, como de operador de empilhadeira e mecânico. Entre as oito entrevistadas da pesquisa, quatro trabalhavam na embalagem (auxiliar de produção), três no setor de retirada dos miúdos e nos cortes (auxiliar de evisceração) das aves e uma na limpeza do estabelecimento, mostrando como se concentravam nos mesmos cargos, como a maioria das outras mulheres da organização. Com isso, é possível notar que, embora os homens e as mulheres estivessem em mesmo número na organização, as ocupações deles eram expressivamente mais variadas em relação às ocupações delas.

Quando as entrevistadas foram questionadas sobre as diferenças no trabalho de mulheres e de homens, houve um assinalamento pela maioria das entrevistadas que efetuavam atividades consideradas "mais leves" daquelas feitas por homens. "Existe diferença do trabalho do homem e da mulher. Porque o meu serviço é levezinho na embalagem. E eles vão ensacar o frango e as caixas [...], tem muita diferença da força física, tem que ser homem pra trabalhar ali" (Camila). Paulilo54 54 PAULILO, 1987b. analisou que um trabalho que era considerado leve em uma região em outra poderia ser considerado pesado. "Na verdade, qualifica-se o trabalho em função de quem o realiza: são 'leves' as atividades que se prestam à execução por mão-de-obra feminina e infantil".55 55 PAULILO, 1987b, p. 2. Cabe considerar que esse discurso vigente entre atividades consideradas leves e pesadas, ou sujas e limpas, objetiva justificar uma distribuição e valorização desigual entre as forças de trabalho masculinas e femininas na organização.

O trabalho efetuado pelas entrevistadas na linha produtiva se caracterizava por requerer sua permanência por extenso período em atividades repetitivas e acompa-nhando uma esteira elétrica, com exigência mental e física intensa. Elas necessitavam acompanhar o ritmo da máquina que transportava as aves, furando as carcaças, retirando os miúdos, corando as asas e retirando as partes internas das aves. Atividades repetitivas e fluxo contínuo, com uma acentuada exigência de concentração, podiam causar danos físicos nelas mesmas ou nas colegas de trabalho. Em geral, os descontentamentos eram referentes a dores físicas que a atividade proporcionava, a dores nas mãos, nos braços, nos dedos das mãos inchados pela atividade repetitiva e ao contato constante com a água.

Assim, a concepção de Hirata sobre a "manutenção dos privilégios masculinos"56 56 HIRATA, 2002. permanece atualizada quando menciona que nas organizações ainda há desigualdades entre os sexos, de modo que os homens ainda permanecem com os considerados "melhores" postos de trabalho, como também observado nesta investigação. Eram "deles" os postos de liderança, de técnicos, com tarefas com menores exigências físicas e mentais.57 57 Cabe destacar que a empresa não disponibilizou dados sobre as remunerações dos trabalhadores/as com o fim possibilitar uma análise da percepção de salários. No entanto, conforme o IBGE (2008), o rendimento habitual das mulheres é de 71,3% do rendimento dos homens. Essa manutenção de privilégio dos homens em relação às mulheres é fundamentada em discursos disfarçados de que essa diferença é decorrente do oferecimento de "garantias" às mulheres, como, por exemplo, desenvolver seus trabalhos em áreas limpas ou com menos exigência de força física. Os discursos sociais disfarçam as desigualdades nos espaços de trabalho, como indicar que as mulheres não tinham muitos problemas em suas atividades, pois estavam locadas nos espaços considerados "limpos". Porém, cabe salientar que nesse espaço também havia a necessidade de lidar com sangue, facas afiadas e diversos cortes nas aves necessários ao processo de trabalho.

As atividades destinadas às mulheres eram exaustivas, aceleradas e repetitivas. Uma entrevistada relatou as dificuldades em efetuar toda a sua jornada laboral em pé e empunhando uma faca afiada próxima de sua colega de trabalho, com insuficientes intervalos de 15 minutos no período matutino e vespertino. Isso mostra o quanto as atividades realizadas pelas mulheres não eram agradáveis nem leves. Eram atividades repetitivas que necessitavam de atenção e força.

Em síntese, foram mostradas as mudanças na organização durante os diferentes momentos históricos da empresa. Para isso existe uma explicação: "Antes eles faziam tudo do jeito que queriam [...]. Então é que nem, identificar cada um como um animal, ver que raça tem e colocar onde é melhor colocar" (Encarregado). Essa fala evidenciou o quanto o processo de trabalho no abatedouro passou a ser gerenciado de acordo com pressupostos tayloristas/fordistas de produção industrial.

A divisão sexual efetuada com os pressupostos tayloristas operou para impelir determinados cargos às mulheres e outros aos homens, destinando às mulheres as atividades com maior pressão de tempo, rotina e repetição de tarefas. A linha de produção ficou feminilizada, embora as mulheres considerassem "gostar" de suas atividades, visto que a maioria das mulheres narrou "eu gosto do meu trabalho [...] mas", com as seguintes continuidades: "antigamente era melhor", ou "se eu não trabalhar aqui, trabalharei onde?", ou "não tenho escolaridade, não conseguirei atividade em outro lugar", ou "já tenho certa idade, por isso não conseguirei outra atividade", ou "eu não gostaria de voltar a trabalhar somente em casa".

Com as análises dos discursos, foi observada a construção da industrialização das atividades laborais na organização, cabendo destacar que tanto os trabalhadores quanto as trabalhadoras sofreram esse processo, no entanto, nessa organização, o trabalho desenvolvido pelas mulheres foi mais especificamente confinado a algumas posições, tornando-as mais precarizadas em termos de valorização e possibilidades de atuação profissional.

As vicissitudes do trabalho doméstico não remunerado

O trabalho doméstico pode se considerado como tarefas combinadas, envolvidas com os cuidados de pessoas e dentro das configurações familiares, sendo um trabalho gratuito e efetuado basicamente pelas mulheres.58 58 Dominique Fougeyrollas-Schwebel, 2007. É necessário avaliar que esse tipo de trabalho foi enraizado historicamente como uma atribuição feminina, como uma construção social da divisão sexual que relacionou o gênero ao trabalho reprodutivo. Uma construção social que nomeou de "natural" e "normal" o trabalho doméstico para as mulheres, como também uma dinâmica que consolidou esses tipos de trabalhos como completamente invisíveis aos interesses da sociedade, somente problematizados por constantes lutas feministas. Perrot59 59 PERROT, 2007. realçou que as mulheres sempre trabalharam ao longo da história, mas eram nos afazeres da ordem do doméstico, da reprodução, não valorizados e, assim, não remunerados.

Com as informações coletadas na pesquisa, foi possível compreender a perpetuação das mulheres empregadas no abatedouro como as principais responsáveis pelas atividades domésticas em suas residências. Na manutenção econômica familiar, seis entre as oito entrevistadas relataram participar igualitariamente com o marido na renda familiar. Já em relação ao trabalho doméstico, sete entrevistadas relataram ser as principais responsáveis pelas atividades e somente duas delas recebiam colaborações dos maridos.

O trabalho doméstico não remunerado, desenvolvido nas residências, ainda permanece majoritariamente com as mulheres, conforme afirma Cristina Bruschini.60 60 BRUSCHINI, 2006. Essas atribuições independem da camada econômica das mulheres, embora haja diferenças nos modos de realizá-las. "Eu faço todo o serviço de casa. Tu vês, minha casa é grande e eu dou conta sozinha de limpar a casa, de limpar a casa sozinha [...]. Eu chego em casa à noite, tenho que fazer tudo em casa" (Valentina). As entrevistadas eram responsáveis pelas atividades domésticas como a limpeza, cuidados com crianças, a alimentação familiar, como a fabricação de pães, cuidados com jardins; devido à baixa renda familiar e à residência no contexto semirrural, elas apresentavam dificuldades de acessar produtos industrializados.

A necessidade de cuidados com crianças pequenas, a responsabilidade pela alimentação da família e outros serviços são atividades laborais que se sobrepõem às atividades efetuadas no mercado de trabalho, mas são desconsideradas e desqualificadas socialmente. Essas mulheres tiveram trajetórias de trabalho marcadas pela descontinuidade e variadas mudanças de empregos, bem como não havia um plano ou objetivo de carreira em alguma profissão. Muitas vezes elas ficavam como ajudante dos maridos. "Trabalhei fora sempre, só quando eu ganhava as crianças é que eu ficava em casa até eles terem dois anos" (Margarida, com quatro filhos). Bruschini61 61 BRUSCHINI, 2006. observou que as mães de crianças pequenas trabalham mais horas no ambiente familiar do que aquelas com filhos maiores, situação também observada na presente pesquisa.

Eu faço [as atividades da casa]. Meu marido ajuda. Só quando ele quer [...]. Ele ajuda a lavar a louça, mas quem lava a roupa sou eu. Sempre deixo para lavar a roupa sábado, pois lavo tudo de uma vez, pois a pequena vai para a creche e dá bastante roupa, assim eu lavo, passo e cozinho. Quando eu chego em casa, eu nem como nada, tenho que chegar e pegar ela, senão ela fica andando chorando atrás de mim, logo eu pego ela para dar banho, dar de mamar, fazer alguma comida, alguma coisa [...]. (Letícia, uma filha)

As trabalhadoras executavam as atividades que se caracterizam por um continuum62 62 HIRATA, 2002. sem interrupção entre os trabalhos realizados na indústria e os feitos em suas residências. As participantes necessitavam continuar no trabalho, tanto nos espaços produtivos quanto nos reprodutivos, sem intervalos. As atividades eram bastante variadas: limpar a residência, lavar e passar as vestimentas, preparar a alimentação da família, cuidar dos filhos, entre outras. Elas narraram que faziam pão, plantavam legumes e verduras, retiravam leite dos animais. As mulheres necessitavam elaborar as refeições das suas famílias com pouco acesso aos alimentos industrializados ou semi-industriais.

Outro aspecto identificado na narrativa das entrevistadas relaciona-se à falta de tempo livre, por ocuparem seus tempos fora do abatedouro com o trabalho doméstico. "A vida da gente também não é assim chegar em casa e descansar. Eu lavo a roupa e limpo a casa. Pão a minha sogra faz, mas a casa e as roupas são comigo, no domingo e no sábado é tudo comigo" (Acácia). A ausência de tempo livre é presente na situação de outras trabalhadoras, como daquelas do setor informal63 63 Adriana SALVITTI et al., 1999. e do âmbito da ruralidade, sendo um privilégio mais dos homens, do âmbito masculino, por não estarem atrelados aos serviços domésticos como as mulheres.64 64 Valmir Luiz Stropasolas, 2006.

Os resultados apresentados aqui salientaram as mulheres empregadas na organização avícola como as responsáveis pelo trabalho doméstico não remunerado em suas residências, mesmo participando efetivamente no trabalho produtivo e no sustento familiar. Essa carga de trabalho doméstico atribuído às mulheres perpetua trajetórias de trabalho/empregos descontínuas, mal remuneradas, e a dificuldade de estabelecer um projeto profissional em longo prazo.

Considerações finais

Este artigo buscou evidenciar as articulações entre a divisão sexual do trabalho e os sentidos do trabalho por meio dos discursos das trabalhadoras e profissionais de uma organização avícola sobre os cotidianos laborais do trabalho masculino e feminino, mostrando o âmbito produtivo, de um lado, as diferenças encontradas no ambiente de trabalho derivadas das mudanças estratégicas da organização e, de outro lado, como os sujeitos a partir de suas singularidades compreendem seus espaços na organização. O texto, diante disso, sinalizou que são as trabalhadoras na indústria avícola as responsáveis pelas atividades domésticas, atribuição recorrentemente destinada às mulheres em diversas outras categorias profissionais.

Os sentidos atribuídos ao trabalho foram caracterizados pelos discursos das trabalhadoras sobre suas vivências e suas atividades, nesse caso no trabalho do abatedouro, de modo que foi possível compreender as diferenciações na organização "antes" e "depois" do processo de industrialização. No primeiro, as atividades eram feitas de modo mais artesanal, em que havia mais trabalhadores e as mulheres executavam todas as atividades no contexto produtivo. Segundo os sujeitos da pesquisa, isso era um ganho, pois não precisavam permanecer "paradas" durante a longa jornada de trabalho. O termo parado, com mais um sentido, também pode ser relacionado aos poucos cargos ocupados por elas depois do processo de industrialização da organização. No período "posterior" ao processo de industrialização, as mulheres tiveram uma intensificação e precarização dos seus exercícios laborais. O trabalho feminino foi atrelado a guetos, a alguns cargos dentro do contexto produtivo, bem como a escassas possibilidades de gestão do trabalho.

A análise dos trabalhos desenvolvidos por mulheres e homens no contexto produtivo da avicultura se mostrou necessária por mostrar modificações no percurso histórico e social da organização referente ao emprego da força de trabalho masculina e feminina. Como se evidenciou, o emprego da força feminina foi usado estrategicamente pela organização nos processos mais exigentes e dificultosos da produção avícola, que eram os trabalhos de desmonte do animal e embalagem dos produtos, em que havia a necessidade de a trabalhadora acompanhar o ritmo da máquina. Hirata65 65 HIRATA, 2002. distinguiu o quanto as mulheres possuem uma educação familiar direcionada para submissão e obediência, e, no abatedouro, isso também se fez evidente, por não conseguirem se posicionar diante das mudanças na empresa.

Com as análises dos sentidos do trabalho relacionados com a divisão sexual, foi possível compreender que as mulheres exerciam atividades no abatedouro mais desvalorizadas, no entanto elas não compreendiam desse modo, mas sim como posições "naturais" de homens e mulheres dentro de uma organização. Em geral, os discursos das trabalhadoras evidenciaram uma apropriação das relações objetivas vivenciadas no abatedouro, no entanto em alguns momentos outros discursos emergiam, em parte, como dores sentidas no corpo e, em outra parte, nas falas de mais resistência, como a insatisfação com os baixos salários, a vontade de conquistar outro emprego para as mais jovens e aposentadoria para as mais idosas.

Essas análises foram efetuadas em uma pequena organização avícola, mas cabe refletir, em relação à significativa produção de carne avícola ocorrida no Brasil, que tanto os homens trabalhadores quanto as trabalhadoras sofrem com excessivas cargas de trabalho exigidas em uma organização industrial como essa. No entanto, como mostrou esta investigação, o trabalho das mulheres ainda é mais precarizado por meio da guetorização delas na organização, deixando-as especialmente atreladas a atividades repetitivas e contínuas, sendo esses grandes causadores de incapacitações e doenças profissionais.

[Recebido em 10 de fevereiro de 2011 reapresentado em 5 de dezembro de 2011 e aceito para publicação em 8 de março de 2012]

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  • 1
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  • 2
    Marcelo MIELE e Ademir Francisco GIROTTO, 2005.
  • 3
    CENTRO DE SOCIOECONOMIA E PLANEJAMENTO AGRÍCOLA, 2008.
  • 4
    Alcides GOULARTI FILHO, 2007.
  • 5
    Bernardo Sorj, Malori J. Pompermayer e Odacir Luis Coradini, 2006.
  • 6
    O sistema de integração, de acordo com Maria Ignez PAULILO (1987a, p. 1), refere-se a uma forma de articulação vertical entre as empresas da agroindústria e dos pequenos produtores agrícola, de modo a se caracterizar por um processo produtivo organizado de modo industrial, com o uso de tecnologia e capital.
  • 7
    Também chamada de indústria de "desmontagem animal", ver discussão em Luciano Félix FLORIT et al., 2006.
  • 8
    FLORIT et al., 2006.
  • 9
    FLORIT et al., 2006; Paulo de Andrade JACINTO, 2005; e Leny SATO e Francisco Antonio de Castro LACAZ, 2000.
  • 10
    Patricia ALLEN e Carolyn SACHS, 2007.
  • 11
    Esta pesquisa é parte dos resultados da dissertação de mestrado elaborada pela primeira autora, com orientação da segunda (Laila Priscila GRAF, 2009).
  • 12
    Helena HIRATA, 2001.
  • 13
    HIRATA, 2001; e Joan Wallach SCOTT, 1999.
  • 14
    Laís ABRAMO, 2007.
  • 15
    Heleieth I. B. SAFFIOTTI, 1976, p. 57.
  • 16
    SAFFIOTTI, 1976.
  • 17
    ABRAMO, 2007.
  • 18
    Paula Viviane CHIES, 2010.
  • 19
    Maria Chalfin COUTINHO, Maria Fernanda DIOGO e Ricardo MONTEIRO, 2007.
  • 20
    Noala Invernizzi, 2002.
  • 21
    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2008.
  • 22
    Tal como esclarecido por Joan Wallach SCOTT (1998) quando se refere à necessidade de compreender como as relações entre os sexos foram construídas em determinados momentos históricos e sociais, quais as razões dessas construções e em quais contextos políticos. Há a necessidade de historicizar a ideia de homem/mulher, as ideias e os conceitos referentes às diferenças sociais apresentadas.
  • 23
    HIRATA, 2002.
  • 24
    Ricardo ANTUNES, 2002.
  • 25
    PAULILO, 2004.
  • 26
    Maria José CARNEIRO, 1998.
  • 27
    CARNEIRO, 1998.
  • 28
    PAULILO, 2004.
  • 29
    Carmen Diana DEERE e Magdalena LEON, 2002.
  • 30
    Eva Alterman BLAY, 2001.
  • 31
    Cristina BRUSCHINI, 1994.
  • 32
    BRUSCHINI, 1994, p. 21.
  • 33
    HIRATA, 2002.
  • 34
    BRUSCHINI, 1994.
  • 35
    HIRATA, 2002, p. 277.
  • 36
    Linda NICHOLSON, 1987.
  • 37
    BRUSCHINI, 2006.
  • 38
    Mary Jane Paris SPINK e Rose Mary FREZZA, 2004.
  • 39
    Mary Jane Paris SPINK e Benedito MEDRADO, 2004.
  • 40
    SPINK e FREZZA, 2004.
  • 41
    Vivien BURR, 2003.
  • 42
    Mary Jane Paris SPINK e Vera M. MENEGON, 2004.
  • 43
    Robert K. YIN, 2005.
  • 44
    COUTINHO, 2000.
  • 45
    Como as entrevistas foram desenvolvidas na própria empresa, houve a possibilidade de aliar a esse instrumento a observação do cotidiano na organização, que, conforme Nadir ZAGO (2003), é um privilégio quando o pesquisador tem a possibilidade de "entrar" nos espaços de circulação de seus entrevistados. As observações foram todas registradas em diário de campo e acompanhadas as diversas atividades laborais no espaço produtivo: dentro das câmeras frias, nos espaços de abate, na linha produtiva, nas chamadas "esteiras" que transportam os pedaços de carne, na nórea, entre outros. Nórea se refere à corrente que transporta as carcaças dos animais para a efetuação dos cortes. As observações foram efetuadas tanto nos espaços de trabalho de homens quanto de mulheres.
  • 46
    Foi efetuada uma entrevista com o proprietário do estabelecimento para saber sobre o histórico do abatedouro. A pesquisadora também teve acesso a documentos oficiais da empresa referentes ao número total de trabalhadores/as da organização: cem trabalhadores contratados foram distribuídos por idade, sexo, escolaridade e data de admissão.
  • 47
    Esta análise ocorreu a partir dos documentos, considerando todos os trabalhadores/as da organização. Para mais detalhes, ver GRAF, 2009.
  • 48
    HIRATA, 2002.
  • 49
    Hirata, 2002, p. 235.
  • 50
    Sorj, Pompermayer e Coradini, 2006.
  • 51
    HIRATA, 2002.
  • 52
    Michelle PERROT, 2007.
  • 53
    Florit et al., 2006.
  • 54
    PAULILO, 1987b.
  • 55
    PAULILO, 1987b, p. 2.
  • 56
    HIRATA, 2002.
  • 57
    Cabe destacar que a empresa não disponibilizou dados sobre as remunerações dos trabalhadores/as com o fim possibilitar uma análise da percepção de salários. No entanto, conforme o IBGE (2008), o rendimento habitual das mulheres é de 71,3% do rendimento dos homens.
  • 58
    Dominique Fougeyrollas-Schwebel, 2007.
  • 59
    PERROT, 2007.
  • 60
    BRUSCHINI, 2006.
  • 61
    BRUSCHINI, 2006.
  • 62
    HIRATA, 2002.
  • 63
    Adriana SALVITTI et al., 1999.
  • 64
    Valmir Luiz Stropasolas, 2006.
  • 65
    HIRATA, 2002.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Dez 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2012

    Histórico

    • Recebido
      10 Fev 2011
    • Aceito
      08 Mar 2012
    • Revisado
      05 Dez 2011
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