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Posicionamentos, Diretrizes e Normatizações. Veículos de Auxílio à Prática Médica

Palavras-chave
Prática Clínica Baseada em Evidências; Assistência à Saúde; Guias de Prática Médica como Assunto

Em um campo tão complexo e com rápidas mudanças como a cardiologia, as Diretrizes de Prática Clínica são ferramentas importantes para a aplicação de uma medicina baseada em evidências no atendimento ao paciente. Devemos, porém, ressaltar que a aderência às mesmas varia muito, e que, alguns médicos têm preocupações acerca de que estes instrumentos caracterizem uma prática rígida ou simplificada da medicina. Portanto, a implementação apropriada de diretrizes de atenção à saúde é de grande interesse para organizações nacionais, sociedades profissionais, prestadores de cuidados à saúde, responsáveis políticos, para o campo jurídico voltado à medicina, pacientes e o público em geral. Dada a importância do tema, várias ferramentas têm sido desenvolvidas para avaliar a credibilidade das diretrizes existentes,11 Qaseem A, Forland F, Macbeth F, Ollenschläger G, Phillips S, van der Wees P; Board of Trustees of the Guidelines International Network. Guidelines International Network: toward international standards for clinical practice guidelines. Ann Intern Med. 2012;156(7):525-31. doi: 10.7326/0003-4819-156-7-201204030-00009.
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e orientações têm sido elaboradas passo a passo para a concretização de um documento prático e confiável.22 Schunemann HJ, Wiercioch W, Etxeandia I, Falavigna M, Santesso N, Mustafa R, et al. Guidelines 2.0: systematic development of a comprehensive checklist for a successful guideline enterprise. CMAJ. 2014;186(3):E123-42. doi: 10.1503/cmaj.131237.
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A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) tem publicado, sistematicamente, desde 1992, diretrizes sobre os temas mais relevantes da especialidade.33 Afiune Neto A, Zago AJ, Pereira Barreto AC, Guimarães AC, Brito AH, Brandão AP, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Relatório da Sub-comissão de Título de Especialista e Educação Médica Continuada e Política Científica dos Congressos. Arq Bras Cardiol.1992;59(4):1-8. Todavia, foi registrada falta de discernimento no tocante a três conceitos importantes44 Douketis JD, Weitz JI. Guidance, guidelines, and communications. J Thromb Haemost. 2014;12(10):1744-5. doi: 10.1111/jth.12708.
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na intenção de realizar diretrizes por parte dos departamentos que compõem a SBC: a) “Diretriz” - termo que deve ser reservado para o documento que sumariza, formalmente, as evidências nas áreas de diagnóstico e terapêutica de patologias; b) “Comunicação” (ou “Normatização”- deve ser empregado para os manuscritos que informam a metodologia laboratorial e as definições de desfecho clínico e, c) “Orientação Clínica” (ou “Posicionamento”) - que deve ser utilizado para impressos oficiais que fornecem aconselhamento especializado sobre desafios na condução de pacientes.

Torna-se imperativo que os documentos emitidos pela SBC se apresentem com titulação e fundamentação adequadas para que seja evitada, por parte do leitor, confusão na diferenciação dos termos e, consequentemente, desinteresse na leitura dos mesmos.

Portanto, o objetivo principal desta publicação é o de estabelecer de forma simplificada e objetiva o significado destas terminologias, visando padronizar a emissão de Posicionamentos, Diretrizes e Normatizações por parte da SBC.

Documento de posicionamento

Estes documentos visam abordar um determinado tópico (diagnóstico, terapêutico ou laboratorial) de reconhecido interesse clínico, para o qual não existem (ou é improvável que venham a existir) evidências de qualidade substancial ou, notadamente aquelas surgidas de ensaios clínicos randomizados. Tais documentos são complementares às diretrizes e são elaborados por uma equipe de profissionais com experiência estabelecida no tema.

Como exemplo, poderíamos citar o uso dos anticoagulantes diretos em pacientes gestantes.55 Ginsberg JS, Crowther MA. Direct oral anticoagulants (DOACs) and pregnancy: a plea for better information. Thromb Haemost. 2016;116(4):590-1. doi: 10.1160/TH16-08-0602.
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Em geral, as orientações contidas nestes documentos permanecem ancoradas nas melhores evidências disponíveis; todavia, incorporam, frequentemente, a opinião pessoal dos especialistas.

Diretriz clínica

A diretriz clínica está constituída por afirmações sistematicamente desenvolvidas para auxiliar profissionais de saúde e pacientes na tomada de decisão sobre a forma mais adequada de cuidado com a saúde em condições específicas.66 Institute of Medicine (US) Committee to Advise the Public Health Service on Clinical Practice Guidelines ; Field MJ, Lohr KN, editors. Washington (DC): National Academies Press (US); 1990. Ao contrário de um documento de orientação, uma diretriz aborda um tópico em que há evidências de moderada a alta qualidade, geralmente provenientes de ensaios randomizados com um número satisfatório de integrantes, para transmitir as práticas clínicas mais adequadas.

Na sua elaboração é utilizado um processo para resumir as evidências (ou seja, revisão sistemática) e fornecer um método padronizado para expressar os graus de recomendações com os seus respectivos níveis de evidências. Para produzir uma diretriz, recomenda-se que seja cumprida uma lista rigorosa de verificação, composta de 146 itens.22 Schunemann HJ, Wiercioch W, Etxeandia I, Falavigna M, Santesso N, Mustafa R, et al. Guidelines 2.0: systematic development of a comprehensive checklist for a successful guideline enterprise. CMAJ. 2014;186(3):E123-42. doi: 10.1503/cmaj.131237.
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Portanto, estes documentos raramente abordam prática médica onde as evidências são escassas. Eles são projetados para apoiar os processos de tomada de decisão na assistência ao paciente; o seu conteúdo é baseado em uma revisão sistemática da evidência clínica.

Documento de normatização

Estes dispositivos diferem dos acima relacionados uma vez que abordam tópicos primariamente direcionados para padronização de práticas clínicas, laboratoriais e de metodologias de pesquisa. Como exemplo, poderíamos citar a comunicação do Subcomitê de Controle de Anticoagulação da Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia para medir a atividade anticoagulante dos inibidores do fator Xa.77 Baglin T, Hillarp A, Tripodi A, Elalamy I, Buller H, Ageno W. Measuring oral direct inhibitors of thrombin and factor Xa: a recommendation from the Subcommittee on Control of Anticoagulation of the Scientific and Standardization Committee of the International Society on Thrombosis and Haemostasis. J Thromb Haemost. 2013 Jan 24. [Epub ahead of print]. doi: 10.1111/jth.12149.
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Portanto, trata-se de ferramenta útil à disposição dos departamentos da SBC.

O movimento em direção aos cuidados de saúde baseados em evidências vem ganhando terreno rapidamente nos últimos anos, motivado por clínicos, políticos e gestores preocupados com a qualidade, consistência e custos da assistência médica.

Assim, os documentos acima mencionados, baseados nas melhores práticas padronizadas, desde que redigidos de forma prática e objetiva, podem ser capazes de promover melhorias na qualidade e consistência dos cuidados com a saúde.

  • Fontes de financiamento
    O presente estudo não teve fontes de financiamento externas
  • Vinculação acadêmica
    Não há vinculação deste estudo a programas de pós-graduação

References

  • 1
    Qaseem A, Forland F, Macbeth F, Ollenschläger G, Phillips S, van der Wees P; Board of Trustees of the Guidelines International Network. Guidelines International Network: toward international standards for clinical practice guidelines. Ann Intern Med. 2012;156(7):525-31. doi: 10.7326/0003-4819-156-7-201204030-00009.
    » https://doi.org/10.7326/0003-4819-156-7-201204030-00009
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    Schunemann HJ, Wiercioch W, Etxeandia I, Falavigna M, Santesso N, Mustafa R, et al. Guidelines 2.0: systematic development of a comprehensive checklist for a successful guideline enterprise. CMAJ. 2014;186(3):E123-42. doi: 10.1503/cmaj.131237.
    » https://doi.org/10.1503/cmaj.131237
  • 3
    Afiune Neto A, Zago AJ, Pereira Barreto AC, Guimarães AC, Brito AH, Brandão AP, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Relatório da Sub-comissão de Título de Especialista e Educação Médica Continuada e Política Científica dos Congressos. Arq Bras Cardiol.1992;59(4):1-8.
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    Douketis JD, Weitz JI. Guidance, guidelines, and communications. J Thromb Haemost. 2014;12(10):1744-5. doi: 10.1111/jth.12708.
    » https://doi.org/10.1111/jth.12708
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    Ginsberg JS, Crowther MA. Direct oral anticoagulants (DOACs) and pregnancy: a plea for better information. Thromb Haemost. 2016;116(4):590-1. doi: 10.1160/TH16-08-0602.
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    Institute of Medicine (US) Committee to Advise the Public Health Service on Clinical Practice Guidelines ; Field MJ, Lohr KN, editors. Washington (DC): National Academies Press (US); 1990.
  • 7
    Baglin T, Hillarp A, Tripodi A, Elalamy I, Buller H, Ageno W. Measuring oral direct inhibitors of thrombin and factor Xa: a recommendation from the Subcommittee on Control of Anticoagulation of the Scientific and Standardization Committee of the International Society on Thrombosis and Haemostasis. J Thromb Haemost. 2013 Jan 24. [Epub ahead of print]. doi: 10.1111/jth.12149.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Out 2017

Histórico

  • Recebido
    14 Jun 2017
  • Revisado
    19 Jun 2017
  • Aceito
    19 Jun 2017
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