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Incidência e Preditores de Complicações Cardiovasculares e Óbito após Cirurgia Vascular Arterial

Resumo

Fundamento:

Pacientes submetidos à cirurgia vascular arterial são considerados de risco aumentado para complicações no pós-operatório.

Objetivo:

Avaliar incidência e preditores de complicações e óbito, assim como o desempenho de dois modelos de estratificação de risco, em cirurgia vascular.

Métodos:

Em pacientes adultos, determinou-se a incidência de complicações cardiovasculares e óbitos em 30 dias. Comparações univariadas e regressão logística avaliaram os fatores de risco associados com os desfechos, e a curva ROC (receiver operating characteristic) examinou a capacidade discriminatória do índice de risco cardíaco revisado (RCRI) e do índice de risco cardíaco do grupo de cirurgia vascular da New England (VSG-CRI).

Resultados:

141 pacientes (idade média 66 anos, 65% homens) realizaram cirurgias de: carótida (15), membros inferiores (65), aorta abdominal (56) e outras (5). Complicações cardiovasculares e óbito em até 30 dias ocorreram em 28 (19,9%) e em 20 (14,2%) pacientes, respectivamente. Os preditores de risco foram: idade, obesidade, acidente vascular cerebral, capacidade funcional ruim, cintilografia alterada, cirurgia de aorta e alteração de troponina. Os escores RCRI e VSG-CRI apresentaram AUC (area under the curve) de 0,635 e 0,639 para complicações cardiovasculares precoces e 0,562 e 0,610 para óbito em 30 dias.

Conclusões:

Nesse grupo pequeno e selecionado submetido à cirurgia vascular arterial, a incidência de eventos adversos foi elevada. Para complicações em até 30 dias, os índices de avaliação de risco RCRI e VSG-CRI não apresentaram boa performance.

Palavras-chave:
Doenças Cardiovasculares/complicações; Doenças Vasculares/cirurgia; Mortalidade; Complicações Pós Operatórias; Medição de Risco; Cuidados Pós Operatórios/mortalidade

Abstract

Background:

Patients undergoing arterial vascular surgery are considered at increased risk for post-operative complications.

Objective:

To assess the incidence and predictors of complications and death, as well as the performance of two models of risk stratification, in vascular surgery.

Methods:

This study determined the incidence of cardiovascular complications and deaths within 30 days from surgery in adults. Univariate comparison and logistic regression assessed the risk factors associated with the outcomes, and the receiver operating characteristic (ROC) curve assessed the discriminatory capacity of the revised cardiac risk index (RCRI) and vascular study group of New England cardiac risk index (VSG-CRI).

Results:

141 patients (mean age, 66 years; 65% men) underwent the following surgeries: carotid (15); lower limbs (65); abdominal aorta (56); and others (5). Cardiovascular complications and death occurred within 30 days in 28 (19.9%) and 20 (14.2%) patients, respectively. The risk predictors were: age, obesity, stroke, poor functional capacity, altered scintigraphy, surgery of the aorta, and troponin change. The scores RCRI and VSG-CRI had area under the curve of 0.635 and 0.639 for early cardiovascular complications, and 0.562 and 0.610 for death in 30 days.

Conclusion:

In this small and selected group of patients undergoing arterial vascular surgery, the incidence of adverse events was elevated. The risk assessment indices RCRI and VSG-CRI did not perform well for complications within 30 days.

Keywords:
Cardiovascular Diseases/complications; Vascular Diseases/surgery; Mortality; Postoperative Complications; Risk Assessment; Postoperative/mortality

Introdução

São realizadas, no mundo, 250 milhões de cirurgias maiores a cada ano, com 1% de mortalidade e 5% de morbidade. Pacientes que sobrevivem às complicações pós-operatórias comumente evoluem com limitações funcionais e redução na sobrevida1Weiser TG, Regenbogen SE, Thompson KD, Haynes AB, Lipsitz SR, Berry WR, et al. An estimation of the global volume of surgery: a modeling strategy based on available data. Lancet. 2008;372(9633):139-44.

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-4Jhanji S, Thomas B, Ely A, Watson D, Hinds CJ, Pearse RM. Mortality and utilization of critical care resource..

Pacientes que serão submetidos à cirurgia vascular são considerados de risco aumentado para eventos adversos cardiovasculares no pós-operatório devido a: muitos dos fatores de risco que contribuem para a doença vascular também contribuem para doença arterial coronariana (DAC), como diabetes e tabagismo; os sintomas de DAC podem ser obscurecidos por baixa capacidade funcional; e cirurgias vasculares podem ser associadas com flutuação significativa na volemia e na trombogenicidade5Eagle KA, Coley CM, Newel JB, Brewster DC, Darling RC, Strauss HW, et al . Combining clinical and thallium data optimizes preoperative assessment of cardiac risk before amongst high-risk surgical patients in a large NHS trust. Anaesthesia. 2008;63(7):695-700. major vascular surgery. Ann Intern Med. 1989;110(11):859-66.

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-7Fleisher LA, Eagle KA, Shaffer T, Anderson GF. Perioperative and long-term mortality rates after major vascular surgery: the relationship to preoperative testing in the medicare population. Anesth Analg. 1999;89(4):849-55..

Há, ainda, dúvidas em como fazer uma avaliação de risco mais precisa desses pacientes8Goldman L, Caldera DL, Nussbaum SR, Southwick FS, Krogstad D, Murray B et al. Multifactorial index of cardiac risk in noncardiac surgical procedures. N Engl J Med. 1977; 297(16):845-50.

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11 Monaco M, Stassano O, Di Tommaso L, Pepino P, Giordano A, Pinna GB, et al. Systematic strategy of prophylactic coronary angiography improves long-term outcome after major vascular surgery in medium- to high-risk patients: a prospective, randomized study. J Am Coll Cardiol. 2009;54(11):989-96.
-1212 Bertges DJ, Goodney PP, Zhao Y, Schanzer A, Nolan BW, Likosky DS et al. The vascular study group of New England cardiac risk index (VSG-CRI) predicts cardiac complications more accurately than the Revised Cardiac Risk Index in vascular surgery patients. J Vasc Surg. 2010; 52(3):674-83..

Dois estudos (Tabela 1) validaram os modelos de avaliação de risco mais usados em nossa prática: o índice de risco cardíaco revisado (RCRI), derivado de uma população heterogênea de pacientes, na qual apenas uma pequena porcentagem foi submetida à cirurgia vascular; e o índice de risco cardíaco do grupo de estudo vascular da New England (VSG-CRI), específico para cirurgia vascular. Ambos não abordaram, em seus desfechos, mortalidade1212 Bertges DJ, Goodney PP, Zhao Y, Schanzer A, Nolan BW, Likosky DS et al. The vascular study group of New England cardiac risk index (VSG-CRI) predicts cardiac complications more accurately than the Revised Cardiac Risk Index in vascular surgery patients. J Vasc Surg. 2010; 52(3):674-83.,1313 Lee TH, Marcantonio ER, Mangione CM, Thomas EJ, Polanczyk CA, Cook EF, et al. Derivation and prospective validation of a simple index for prediction of cardiac risk of major non-cardiac surgery. Circulation. 1999; 100(10)(5):1043-9..

Tabela 1
Índice de Risco Cardíaco Revisado (RCRI)1313 Lee TH, Marcantonio ER, Mangione CM, Thomas EJ, Polanczyk CA, Cook EF, et al. Derivation and prospective validation of a simple index for prediction of cardiac risk of major non-cardiac surgery. Circulation. 1999; 100(10)(5):1043-9. e Índice de Risco Cardíaco do Grupo de Cirurgia Vascular da "New England" (VSG-CRI)1212 Bertges DJ, Goodney PP, Zhao Y, Schanzer A, Nolan BW, Likosky DS et al. The vascular study group of New England cardiac risk index (VSG-CRI) predicts cardiac complications more accurately than the Revised Cardiac Risk Index in vascular surgery patients. J Vasc Surg. 2010; 52(3):674-83.

Este estudo foi desenhado para avaliar as características epidemiológicas e a evolução clínica de uma coorte de pacientes submetidos à cirurgia vascular, identificando possíveis preditores de eventos adversos.

Métodos

Analisamos prospectivamente uma amostra de pacientes internados no período de agosto de 2008 a janeiro de 2010, na enfermaria de cirurgia vascular do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Os pacientes incluídos deveriam ter acima de 18 anos, eram de ambo os sexos, sendo a internação eletiva para cirurgia vascular arterial de doença aterosclerótica oclusiva ou doença aneurismática degenerativa, aberta ou endovascular.

Foram excluídos pacientes com necessidade de procedimento cirúrgico de emergência, cirurgia de varizes, tromboembolectomia, formação de acesso vascular e os que não concordaram em fornecer o consentimento informado por escrito.

O estudo passou pela aprovação da Comissão de Ética.

Os objetivos primários foram:

a) avaliar a incidência de complicações cardiovasculares, óbito por qualquer causa e desfecho combinado (complicações cardiovasculares e/ou óbito) em até 30 dias da cirurgia;

b) identificar possíveis preditores para esses eventos adversos;

c) analisar se o RCRI e o VSG-CRI têm boa acurácia para estimar a ocorrência de complicações cardiovasculares e morte total.

Definimos complicações cardiovasculares como: infarto do miocárdio não fatal, insuficiência cardíaca descompensada, arritmia significativa e acidente vascular cerebral.

Os objetivos secundários foram:

a) verificar as causas de óbito, estratificando em cardiovascular e não cardiovascular;

b) avaliar a incidência das complicações não cardiovasculares: infecção de ferida operatória, choque séptico, choque hemorrágico, insuficiência renal grave, complicações respiratórias, tromboembolismo venoso, amputação e reoperação.

Os pacientes foram classificados em: cirurgia de carótida, cirurgia de membros inferiores, cirurgia de aorta abdominal e outras cirurgias.

Registramos as variáveis relacionadas ao paciente (anamnese, exames físico, laboratoriais, eletrocardiográficos e de imagem), ao procedimento cirúrgico realizado e à ocorrência de desfechos adversos em até 30 dias.

Análises estatísticas

Para examinar os fatores de risco, fizemos comparações bivariadas das variáveis selecionadas nos pacientes que apresentaram e nos que não apresentaram desfechos. Realizamos regressão logística, e calculamos o odds ratio (OR) e o intervalo de confiança (95%) para o risco do desfecho em questão.

A capacidade discriminatória dos modelos de avaliação de risco RCRI e VSG-CRI foi examinada por meio da curva ROC (receiver operating characteristic). Utilizou-se SPSS, versão 17.

Resultados

Variáveis clínicas pré-operatórias

Foram analisados 141 pacientes, cuja idade média foi de 66 anos. Notamos que 62 pacientes tinham 70 anos ou mais, 92 pacientes eram do sexo masculino. A prevalência encontrada de doenças prévias está registrada na Tabela 2.

Tabela 2
Características clínicas da amostra

Quase metade dos indivíduos tinha insuficiência renal, definida como clearance de creatinina inferior a 60 mL/min, e 19 pacientes (13%) tinham clearancemenor ou igual a 40 mL/min. O NT pró-BNP foi menor que 100 ng/L em 30%, e maior que 500 ng/L em 30% dos pacientes.

Observou-se alguma alteração considerada significativa no eletrocardiograma de 59 (42%) pacientes, assim como radiografia de tórax sugestiva de insuficiência cardíaca em 57 (40%).

Dos 68% que fizeram ecodoplercardiograma, 86% tinham fração de ejeção acima de 50%, e 7% abaixo de 40%.

Dos 73% que realizaram cintilografia, quase 40% tinham alguma alteração, sendo hipocaptação persistente em 33 deles, hipocaptação transitória em 13, e hipocaptação transitória extensa em 2.

Quanto à avaliação de risco perioperatório, 132 pacientes (93,6%) foram considerados ASA II e 9 (6,4%), ASA III.

O RCRI definiu 6 pacientes (4,3%) como de baixo risco, 63 (44,7%) como de moderado risco e 72 (51%) como de alto risco. Segundo o VSG-CRI, 34 (24,1%) pacientes foram classificados como de baixo risco, 44 (31,2%) como de moderado risco e 63 (44,7%) como de alto risco.

Variáveis relacionadas à cirurgia realizada

Dos 141 pacientes, 15 (10,6%) foram submetidos a cirurgia de carótida, 65 (46,1%), de membros inferiores, 56 (39,7%), de aorta abdominal e 5 (3,5%) foram submetidos a outras cirurgias.

A cirurgia foi aberta em 58% e endovascular em 42%. A anestesia foi geral ou combinada em 91,5%. O tempo médio de anestesia foi de 330 min. O tempo médio de intubação orotraqueal foi de 875 min. Hemoderivados foram necessários a 61 pacientes (43,3%) e droga vasoativa, a 57 pacientes (40,4%). Em 128 (90,8%), coletou-se troponina, que se mostrou alterada em 31 pacientes (22%).

Eventos no pós-operatório em até 30 dias

Observaram-se complicações cardiovasculares em 28 pacientes (19,9%), sendo que 20 (14,2%) evoluíram a óbito nesse período. Complicações combinadas ocorreram em 39 pacientes (27,7%).

As complicações cardiovasculares precoces encontradas foram: infarto do miocárdio, 18 pacientes; insuficiência cardíaca descompensada, 12; acidente vascular cerebral, 3; e arritmia, 6.

Dos 20 pacientes que evoluíram para óbito precocemente, 5 tiveram causa cardiovascular entre as principais causas de óbito (infarto do miocárdio e/ou choque cardiogênico). Dezoito pacientes apresentaram causa não cardiovascular entre as principais causas de óbito e, em 15 pacientes, a causa não cardiovascular foi a principal. Diagnosticou-se choque séptico em 10 pacientes, choque hemorrágico em 10 e complicações pulmonares em 4. Assim, apenas 25% dos óbitos tiveram uma causa cardiovascular e, para 75%, a não cardiovascular foi a principal causa de óbito.

As complicações não cardiovasculares ocorreram em 55 (39%) pacientes como se segue: pulmonares, 15; insuficiência renal, 15; choque séptico, 16; infecção de ferida operatória, 19; tromboembolismo venoso, 3; e reoperações, 27.

Preditores de eventos

As variáveis encontradas com p < 0,05 foram:

  • para complicação cardiovascular precoce:idade (p = 0,028), acidente vascular cerebral (0,045), obesidade (0,025), cintilografia com alteração transitória (0,021), cirurgia aberta (p=0,024), tempo de anestesia (p = 0,08) e uso de hemoderivado (p = 0,045);

  • para morte: capacidade funcional ruim (p = 0,026), alteração de troponina (p = 0,002), tempo de anestesia (p = 0,010) e tempo de intubação (p = 0,019). Presença de insuficiência arterial periférica sintomática foi fator correlacionado inversamente com esse desfecho (p = 0,026).

  • para complicação combinada precoce: idade (p = 0,044), tempo de anestesia (p = 0,000), tempo de intubação (p = 0,018), uso de hemoderivado (p = 0,005), uso de droga vasoativa (p = 0,029) e cirurgia de aorta (p = 0,01). Cirurgia de membros inferiores (p = 0,003) correlacionou-se inversamente com esse desfecho.

Avaliação da acurácia dos índices RCRI e VSG-CRI nessa amostra

As AUCs do RCRI e do VSG-CRI foram, respectivamente: para complicações cardiovasculares precoces, 0,635 e 0,639 (Figura 1); para mortalidade total, 0,562 e 0,610; e para complicação combinada precoce, 0,618 e 0,622.

Figura 1
Curva ROC para o desfecho complicações cardiovasculares. RCRI: Índice de risco cardíaco revisado; VSG-CRI: Índice de risco cardíaco do grupo de cirurgia vascular da “New England”.

Discussão

Características clínicas da amostra

Na Tabela 3, comparamos as características clínicas encontradas nos estudos de Parmar e cols.1414 Parmar CD, Torella F. Prediction of major adverse cardiac events in Vascular Surgery: are cardiac risk scores of any practical value? Vasc Endovasc Surg. 2010;44(1):14-9. ., Bertges e cols.1212 Bertges DJ, Goodney PP, Zhao Y, Schanzer A, Nolan BW, Likosky DS et al. The vascular study group of New England cardiac risk index (VSG-CRI) predicts cardiac complications more accurately than the Revised Cardiac Risk Index in vascular surgery patients. J Vasc Surg. 2010; 52(3):674-83., Eagle e cols.5Eagle KA, Coley CM, Newel JB, Brewster DC, Darling RC, Strauss HW, et al . Combining clinical and thallium data optimizes preoperative assessment of cardiac risk before amongst high-risk surgical patients in a large NHS trust. Anaesthesia. 2008;63(7):695-700. major vascular surgery. Ann Intern Med. 1989;110(11):859-66. e Meltzer e cols. 1515 Meltzer AJ, Graham A, Connoly PH, Metzer EC. The comprehensive risk assessment for Bypass (CRAB) facilitates efficient perioperative risk assessment for patients with critical limb ischemia. J Vasc Surg. 2013;57(5):1186-95. em cirurgia vascular, e com o estudo de Lee e cols.1313 Lee TH, Marcantonio ER, Mangione CM, Thomas EJ, Polanczyk CA, Cook EF, et al. Derivation and prospective validation of a simple index for prediction of cardiac risk of major non-cardiac surgery. Circulation. 1999; 100(10)(5):1043-9. em cirurgia geral5Eagle KA, Coley CM, Newel JB, Brewster DC, Darling RC, Strauss HW, et al . Combining clinical and thallium data optimizes preoperative assessment of cardiac risk before amongst high-risk surgical patients in a large NHS trust. Anaesthesia. 2008;63(7):695-700. major vascular surgery. Ann Intern Med. 1989;110(11):859-66.,1212 Bertges DJ, Goodney PP, Zhao Y, Schanzer A, Nolan BW, Likosky DS et al. The vascular study group of New England cardiac risk index (VSG-CRI) predicts cardiac complications more accurately than the Revised Cardiac Risk Index in vascular surgery patients. J Vasc Surg. 2010; 52(3):674-83.

13 Lee TH, Marcantonio ER, Mangione CM, Thomas EJ, Polanczyk CA, Cook EF, et al. Derivation and prospective validation of a simple index for prediction of cardiac risk of major non-cardiac surgery. Circulation. 1999; 100(10)(5):1043-9.

14 Parmar CD, Torella F. Prediction of major adverse cardiac events in Vascular Surgery: are cardiac risk scores of any practical value? Vasc Endovasc Surg. 2010;44(1):14-9. .
-1515 Meltzer AJ, Graham A, Connoly PH, Metzer EC. The comprehensive risk assessment for Bypass (CRAB) facilitates efficient perioperative risk assessment for patients with critical limb ischemia. J Vasc Surg. 2013;57(5):1186-95..

Tabela 3
Principais preditores de morbimortalidade perioperatória

Notamos semelhanças com os estudos de Parmar e cols.1414 Parmar CD, Torella F. Prediction of major adverse cardiac events in Vascular Surgery: are cardiac risk scores of any practical value? Vasc Endovasc Surg. 2010;44(1):14-9. ., Bertges e cols.1212 Bertges DJ, Goodney PP, Zhao Y, Schanzer A, Nolan BW, Likosky DS et al. The vascular study group of New England cardiac risk index (VSG-CRI) predicts cardiac complications more accurately than the Revised Cardiac Risk Index in vascular surgery patients. J Vasc Surg. 2010; 52(3):674-83. e Eagle e cols.5Eagle KA, Coley CM, Newel JB, Brewster DC, Darling RC, Strauss HW, et al . Combining clinical and thallium data optimizes preoperative assessment of cardiac risk before amongst high-risk surgical patients in a large NHS trust. Anaesthesia. 2008;63(7):695-700. major vascular surgery. Ann Intern Med. 1989;110(11):859-66. com relação às variáveis idade, gênero e comorbidades (acidente vascular cerebral, doença pulmonar obstrutiva crônica, diabetes e insuficiência renal)5Eagle KA, Coley CM, Newel JB, Brewster DC, Darling RC, Strauss HW, et al . Combining clinical and thallium data optimizes preoperative assessment of cardiac risk before amongst high-risk surgical patients in a large NHS trust. Anaesthesia. 2008;63(7):695-700. major vascular surgery. Ann Intern Med. 1989;110(11):859-66.,1212 Bertges DJ, Goodney PP, Zhao Y, Schanzer A, Nolan BW, Likosky DS et al. The vascular study group of New England cardiac risk index (VSG-CRI) predicts cardiac complications more accurately than the Revised Cardiac Risk Index in vascular surgery patients. J Vasc Surg. 2010; 52(3):674-83.,1414 Parmar CD, Torella F. Prediction of major adverse cardiac events in Vascular Surgery: are cardiac risk scores of any practical value? Vasc Endovasc Surg. 2010;44(1):14-9. ..

Ao compararmos com a média dos quatro estudos em cirurgia vascular, tivemos: maior prevalência de insuficiência arterial periférica sintomática, de insuficiência cardíaca e de hipertensão arterial; menor prevalência de revascularização miocárdica prévia; e taxa elevada de utilização de ácido acetilsalicílico, estatina e betabloqueador.

Mais da metade da nossa amostra foi classificada como capacidade funcional ruim (58%), similar à população de Eagle e cols.5Eagle KA, Coley CM, Newel JB, Brewster DC, Darling RC, Strauss HW, et al . Combining clinical and thallium data optimizes preoperative assessment of cardiac risk before amongst high-risk surgical patients in a large NHS trust. Anaesthesia. 2008;63(7):695-700. major vascular surgery. Ann Intern Med. 1989;110(11):859-66., mas superando a taxa do estudo de Meltzer e cols.1515 Meltzer AJ, Graham A, Connoly PH, Metzer EC. The comprehensive risk assessment for Bypass (CRAB) facilitates efficient perioperative risk assessment for patients with critical limb ischemia. J Vasc Surg. 2013;57(5):1186-95..

A maioria dos nossos pacientes foi considerada de risco alto ou moderado pelos escores RCRI e VSG-CRI.

Tivemos mais cirurgias endovasculares, fator que potencialmente reduziria o nosso risco de eventos1616 Prinssen M, Buskens E, Blankensteijn JD. The Dutch Randomised Endovascular Aneurysm Management (DREAM) trial. Background, design and methods J Vasc Surg. 2002;43(3):379-84.,1717 Brosi P, Dick F, Do D et al. Revascularization for chronic critical lower limb ischemia in octogenarians is worthwhile. J Vasc Surg. 2007;46(6):1198-207.. Porém, a escolha da intervenção endovascular em detrimento da cirurgia aberta pode ter sido baseada num risco operatório estimado elevado.

Outro fator que aumentou a complexidade da nossa amostra foi o menor número de cirurgias de carótida, considerada de risco intermediário1010 Fleisher LA, Beckman JA, Brown KA, Calkins H, Chaikof MD, Fleischmann KE, et al . Cardiac risk stratification for noncardiac surgery: update from the American College of Cardiology/American Heart Association 2007 Guidelines. Cleve Clin J Med. 2009;76(Suppl 4): S9-S15., e predomínio dos procedimentos mais complexos envolvendo aorta e membros inferiores.

Nossa prevalência de cintilografia miocárdica com isquemia foi menor do que a relatada por Eagle e cols.5Eagle KA, Coley CM, Newel JB, Brewster DC, Darling RC, Strauss HW, et al . Combining clinical and thallium data optimizes preoperative assessment of cardiac risk before amongst high-risk surgical patients in a large NHS trust. Anaesthesia. 2008;63(7):695-700. major vascular surgery. Ann Intern Med. 1989;110(11):859-66.

Devido à natureza dos nossos pacientes, com elevada prevalência de doenças crônicas e evidência clínica de isquemia grave de membros inferiores, além de capacidade funcional ruim, não podemos generalizar nossos achados para toda a população de pacientes submetidos à cirurgia vascular.

Eventos cardiovasculares e/ou morte em até 30 dias

Tivemos uma taxa elevada de eventos precoces, superior à esperada pela literatura.

Eventos cardiovasculares em até 30 dias

Em até 30 dias, a nossa taxa de complicação cardiovascular de 20% foi muito maior que a de 2,5% relatada por Lee e cols.1313 Lee TH, Marcantonio ER, Mangione CM, Thomas EJ, Polanczyk CA, Cook EF, et al. Derivation and prospective validation of a simple index for prediction of cardiac risk of major non-cardiac surgery. Circulation. 1999; 100(10)(5):1043-9.para cirurgia geral e de 6,3% por Bertges e cols.1212 Bertges DJ, Goodney PP, Zhao Y, Schanzer A, Nolan BW, Likosky DS et al. The vascular study group of New England cardiac risk index (VSG-CRI) predicts cardiac complications more accurately than the Revised Cardiac Risk Index in vascular surgery patients. J Vasc Surg. 2010; 52(3):674-83. para cirurgia vascular. Essa taxa foi equivalente à encontrada em cirurgia de aorta abdominal aberta (19,3%-22,6%) no estudo de Bertges e cols.1212 Bertges DJ, Goodney PP, Zhao Y, Schanzer A, Nolan BW, Likosky DS et al. The vascular study group of New England cardiac risk index (VSG-CRI) predicts cardiac complications more accurately than the Revised Cardiac Risk Index in vascular surgery patients. J Vasc Surg. 2010; 52(3):674-83..

A incidência de 12% de infarto superou a taxa de 4,5% de Eagle e cols.5Eagle KA, Coley CM, Newel JB, Brewster DC, Darling RC, Strauss HW, et al . Combining clinical and thallium data optimizes preoperative assessment of cardiac risk before amongst high-risk surgical patients in a large NHS trust. Anaesthesia. 2008;63(7):695-700. major vascular surgery. Ann Intern Med. 1989;110(11):859-66., cuja amostra tinha alta prevalência de isquemia no exame cintilográfico, mas esse estudo não contava com a troponina como critério diagnóstico de infarto, o que pode ter subestimado o número de eventos encontrados.

Morte total em até 30 dias

No pós-operatório de cirurgia não cardíaca, a prevalência de morte total é baixa em populações não selecionadas e em cirurgia geral, variando de 0,02% a 2,3%. Mas esse número é maior quando a complexidade do paciente ou da cirurgia aumenta, chegando-se a 4% para colectomia, 2,9% para revascularização de membros inferiores e até 70% para cirurgia geral em paciente considerado ASA V 8Goldman L, Caldera DL, Nussbaum SR, Southwick FS, Krogstad D, Murray B et al. Multifactorial index of cardiac risk in noncardiac surgical procedures. N Engl J Med. 1977; 297(16):845-50.,1515 Meltzer AJ, Graham A, Connoly PH, Metzer EC. The comprehensive risk assessment for Bypass (CRAB) facilitates efficient perioperative risk assessment for patients with critical limb ischemia. J Vasc Surg. 2013;57(5):1186-95.,1818 Gupta PK, Gupta H, Sundaram A. Development and validation of a risk calculator for prediction of cardiac risk after surgery. Circulation. 2011;124(4):381-7. .,1919 Gawande AA, Kwaan MR, Regenbogen SE, Lipsitz SA, Zinner MJ. An Apgar Score for Surgery. J Am Coll Surg. 2007;204(2):201-8..

Em relação à mortalidade total, nossos 14% superaram o esperado. Estudos prévios estimam mortalidade de 1,5% para cirurgia de carótida, 4,1%-7% para cirurgia de membros inferiores e 3,9%-9% para cirurgia de aorta7Fleisher LA, Eagle KA, Shaffer T, Anderson GF. Perioperative and long-term mortality rates after major vascular surgery: the relationship to preoperative testing in the medicare population. Anesth Analg. 1999;89(4):849-55.,2020 Krupski WC, Layug EL, Reilly LM, Rapp JH, Mangano DT. Comparison of cardiac morbidity rates between aortic and infrainguinal operations: two-year follow-up. Study of perioperative ischemia research group. J Vasc Surg. 1993;18(4):609-15.,2121 Birkmeyer JD, Siewers AE, Finlayson EV, et al. Hospital volume and surgical mortality in the United States. N Engl J Med. 2002;346(15):1128-37..

Num grande estudo (6.839 pacientes) com população com características semelhantes às da nossa, a mortalidade em 30 dias após amputação de membros inferiores variou entre 9% e 12%2222 Karam J, Shepard A, Rubinfeld I. Predictors of operative mortality following major lower extremity amputations using the National Surgical Quality Improvement Program public use data. J Vasc Surg. 2013;58(5):1276-82..

Nosso achado em termos de mortalidade total pode refletir a gravidade da amostra e também a alta taxa de complicações cardíacas apresentada. A mortalidade após eventos pós-operatórios é elevada: Gupta e cols.1818 Gupta PK, Gupta H, Sundaram A. Development and validation of a risk calculator for prediction of cardiac risk after surgery. Circulation. 2011;124(4):381-7. . relataram que 61% dos pacientes que desenvolveram parada cardíaca ou infarto morreram em 30 dias.Da mesma forma, essa taxa de mortalidade geral também pode ter sido reflexo da elevada incidência de complicações não cardiovasculares (27,7%) em até 30 dias. Em Meltzer e cols.1515 Meltzer AJ, Graham A, Connoly PH, Metzer EC. The comprehensive risk assessment for Bypass (CRAB) facilitates efficient perioperative risk assessment for patients with critical limb ischemia. J Vasc Surg. 2013;57(5):1186-95., a taxa de mortalidade para pacientes com complicações foi alta: 19% para as infecciosas, 33% para as cardíacas e 42% para as pulmonares.

Desfecho morte cardíaca

Tivemos 3,5% de morte cardíaca, superior à taxa estimada para cirurgia geral em pacientes não selecionados (0,54%‑1,8%). Goldman e cols.8Goldman L, Caldera DL, Nussbaum SR, Southwick FS, Krogstad D, Murray B et al. Multifactorial index of cardiac risk in noncardiac surgical procedures. N Engl J Med. 1977; 297(16):845-50.observaram que essa taxa pode ser muito elevada a depender das características clínicas do paciente, chegando a 56% para aquele classificado como classe IV8Goldman L, Caldera DL, Nussbaum SR, Southwick FS, Krogstad D, Murray B et al. Multifactorial index of cardiac risk in noncardiac surgical procedures. N Engl J Med. 1977; 297(16):845-50.,1818 Gupta PK, Gupta H, Sundaram A. Development and validation of a risk calculator for prediction of cardiac risk after surgery. Circulation. 2011;124(4):381-7. ..

Desfecho morte cardíaca e/ou complicação cardíaca

Encontramos 33 pacientes (23,4%) com esse desfecho. Estudos que avaliaram morte cardíaca e/ou complicação cardíaca em pacientes com fatores de risco para doença cardíaca isquêmica ou pacientes com cardiopatia conhecida e cirurgia geral encontraram valores entre 7,9% e 18%9Detsky AS, Abrams HB, McLaughlin JR, Drucker DJ, Sasson Z, Johnston N, et al. Predicting cardiac complications in patients undergoing non-cardiac surgery. J Gen Intern Med. 1986;1(4):211-9.,2323 Mangano DT, Browner WS, Hollenberg M, London MJ, Tubau JF, Tateo IM. Association of perioperative myocardial ischemic with cardiac morbidity and mortality in men undergoing noncardiac surgery: the study of preoperative ischemic research group. N Engl J Med. 1990,323(26):1781-8..

Morbidade não cardiovascular em 30 dias

A taxa de quase 30% de complicações não cardíacas foi superior aos 22% encontrados no estudo com colectomia de Gawande e col., cirurgia conhecida por ter elevada incidência de complicações, e aos 19% relatados em cirurgia de revascularização de membros inferiores por Meltzer e cols.1515 Meltzer AJ, Graham A, Connoly PH, Metzer EC. The comprehensive risk assessment for Bypass (CRAB) facilitates efficient perioperative risk assessment for patients with critical limb ischemia. J Vasc Surg. 2013;57(5):1186-95.,1919 Gawande AA, Kwaan MR, Regenbogen SE, Lipsitz SA, Zinner MJ. An Apgar Score for Surgery. J Am Coll Surg. 2007;204(2):201-8..

Khuri e cols.2424 Khuri SF, Henderson WG, De Palma RG, Mosca C, Healey NA, Kumbhani DJ. Determinants of long-term survival after major surgery and the adverse effect of postoperative complications. Ann Surg. 2005;242(3):326-41., em 2005, realizaram um estudo multicêntrico e prospectivo com quase 106.000 pacientes e demonstraram que eventos adversos no pós-operatório foram mais importantes do que as variáveis pré- e intraoperatórias na determinação da sobrevida após cirurgia geral. A ocorrência de uma complicação dentro dos primeiros 30 dias do pós-operatório, independentemente do risco pré-operatório do paciente, reduziu a sobrevida em 69%. Nesse estudo, a ocorrência de complicação pulmonar reduziu a sobrevida a longo prazo em 87%, tendo a complicação na ferida operatória reduzido a sobrevida em 42%2424 Khuri SF, Henderson WG, De Palma RG, Mosca C, Healey NA, Kumbhani DJ. Determinants of long-term survival after major surgery and the adverse effect of postoperative complications. Ann Surg. 2005;242(3):326-41..

Esse importante achado mostra a repercussão a longo prazo da morbidade no pós-operatório. Quando as complicações são cardiovasculares, é intuitivo imaginar que essas afetarão a sobrevida a longo prazo. No entanto, para as complicações não cardiovasculares, como infecções de ferida e complicações pulmonares, aventa-se a hipótese da ocorrência de um estado inflamatório exacerbado persistente como fator redutor da sobrevida2424 Khuri SF, Henderson WG, De Palma RG, Mosca C, Healey NA, Kumbhani DJ. Determinants of long-term survival after major surgery and the adverse effect of postoperative complications. Ann Surg. 2005;242(3):326-41..

Assim, é preciso o desenvolvimento de estratégias para estimar o risco, monitorar e prevenir também as complicações não cardiovasculares, não subestimando sua importância, a despeito do menor número de estudos e índices preditores disponíveis até o momento para esse desfecho.

Preditores de eventos em 30 dias

Em relação às variáveis relacionadas ao paciente, os seguintes preditores aqui encontrados são compatíveis com dados prévios da literatura: idade; acidente vascular cerebral; capacidade funcional ruim; e cintilografia com hipocaptação transitória5Eagle KA, Coley CM, Newel JB, Brewster DC, Darling RC, Strauss HW, et al . Combining clinical and thallium data optimizes preoperative assessment of cardiac risk before amongst high-risk surgical patients in a large NHS trust. Anaesthesia. 2008;63(7):695-700. major vascular surgery. Ann Intern Med. 1989;110(11):859-66.,8Goldman L, Caldera DL, Nussbaum SR, Southwick FS, Krogstad D, Murray B et al. Multifactorial index of cardiac risk in noncardiac surgical procedures. N Engl J Med. 1977; 297(16):845-50.,1212 Bertges DJ, Goodney PP, Zhao Y, Schanzer A, Nolan BW, Likosky DS et al. The vascular study group of New England cardiac risk index (VSG-CRI) predicts cardiac complications more accurately than the Revised Cardiac Risk Index in vascular surgery patients. J Vasc Surg. 2010; 52(3):674-83.,1313 Lee TH, Marcantonio ER, Mangione CM, Thomas EJ, Polanczyk CA, Cook EF, et al. Derivation and prospective validation of a simple index for prediction of cardiac risk of major non-cardiac surgery. Circulation. 1999; 100(10)(5):1043-9.,1515 Meltzer AJ, Graham A, Connoly PH, Metzer EC. The comprehensive risk assessment for Bypass (CRAB) facilitates efficient perioperative risk assessment for patients with critical limb ischemia. J Vasc Surg. 2013;57(5):1186-95.,1818 Gupta PK, Gupta H, Sundaram A. Development and validation of a risk calculator for prediction of cardiac risk after surgery. Circulation. 2011;124(4):381-7. .,2525 Bartels C, Bechtel JF, Hossmann V, Horsch S. Cardiac risk stratification for high-risk vascular surgery. Circulation. 1997;95(11):2473-5..

26 Reilly DF, McNeely MJ, Doerner D, Greenberg DL, Staiger TO, Geist MJ, et al. Self-reported exercise tolerance and the risk of serious perioperative complications. Arch Intern Med. 1999;159(18)(2):2185-92.

27 Older P, Hall A, Hader R. Cardiopulmonary exercise testing as a screening test for perioperative management of major surgery in the elderly. Chest. 1999;116(2):355-62.
-2828 Bradbury AW, Adam DJ, Bell J, Forbes JF, Fowkes FG, Gillespie I et al. BASIL trial Participants. Bypass versus Angioplasty in Severe Ischemia of the leg (Basil) trial: a survival prediction model to facility clinical decision making. J Vasc Surg. 2010;51(5):52S-68S..

A variável obesidade necessitará de estudos prospectivos e maiores para confirmar sua relação com esse desfecho. De modo diverso do que encontramos, Bradburry e cols. identificaram uma menor sobrevida em dois anos em pacientes de baixo peso, com doença arterial periférica e indicação cirúrgica2828 Bradbury AW, Adam DJ, Bell J, Forbes JF, Fowkes FG, Gillespie I et al. BASIL trial Participants. Bypass versus Angioplasty in Severe Ischemia of the leg (Basil) trial: a survival prediction model to facility clinical decision making. J Vasc Surg. 2010;51(5):52S-68S..

A variável insuficiência arterial periférica sintomática teve correlação negativa com óbito em 30 dias, diferentemente do esperado1515 Meltzer AJ, Graham A, Connoly PH, Metzer EC. The comprehensive risk assessment for Bypass (CRAB) facilitates efficient perioperative risk assessment for patients with critical limb ischemia. J Vasc Surg. 2013;57(5):1186-95.,2828 Bradbury AW, Adam DJ, Bell J, Forbes JF, Fowkes FG, Gillespie I et al. BASIL trial Participants. Bypass versus Angioplasty in Severe Ischemia of the leg (Basil) trial: a survival prediction model to facility clinical decision making. J Vasc Surg. 2010;51(5):52S-68S. e independentemente do tipo de cirurgia (aberta ou endovascular).

Observamos tendência à menor ocorrência de eventos combinados em pacientes submetidos à cirurgia de membros inferiores e maior ocorrência daqueles eventos em pacientes submetidos à cirurgia de aorta abdominal. Vários estudos prévios demonstraram a relação de cirurgia de aorta com risco de eventos adversos no pós-operatório8Goldman L, Caldera DL, Nussbaum SR, Southwick FS, Krogstad D, Murray B et al. Multifactorial index of cardiac risk in noncardiac surgical procedures. N Engl J Med. 1977; 297(16):845-50.,9Detsky AS, Abrams HB, McLaughlin JR, Drucker DJ, Sasson Z, Johnston N, et al. Predicting cardiac complications in patients undergoing non-cardiac surgery. J Gen Intern Med. 1986;1(4):211-9.,1313 Lee TH, Marcantonio ER, Mangione CM, Thomas EJ, Polanczyk CA, Cook EF, et al. Derivation and prospective validation of a simple index for prediction of cardiac risk of major non-cardiac surgery. Circulation. 1999; 100(10)(5):1043-9.,1818 Gupta PK, Gupta H, Sundaram A. Development and validation of a risk calculator for prediction of cardiac risk after surgery. Circulation. 2011;124(4):381-7. .. É possível que a menor taxa de eventos encontrada no grupo de cirurgia de membros inferiores tenha sido reflexo da inclusão de cirurgias de complexidades heterogêneas (amputação, revascularização, aneurisma de poplítea).

Os fatores relacionados ao procedimento cirúrgico que se correlacionaram com complicações cardíacas e com óbito refletiram a magnitude do estresse cirúrgico e da injúria tecidual, de forma independente das doenças de base e do tipo de cirurgia realizado, mas interdependentes entre si: tempo de anestesia, necessidade de uso de hemoderivados e droga vasoativa, e tempo de intubação.

Vários índices consideram a magnitude da cirurgia na avaliação de risco de morte pós-operatória, entre eles o Possum (1998), o SRS (The Surgical Risk Scale) (2002) e o escore ISIS – Identification of Risk in Surgical Patients (2010)2828 Bradbury AW, Adam DJ, Bell J, Forbes JF, Fowkes FG, Gillespie I et al. BASIL trial Participants. Bypass versus Angioplasty in Severe Ischemia of the leg (Basil) trial: a survival prediction model to facility clinical decision making. J Vasc Surg. 2010;51(5):52S-68S.,2929 Prytherch DR,Whiteley MS, Higgins B, Weaver PC, Prout WG, Powell SJ. Possum and Portsmouth Possum for predicting mortality. Br J Surg. 1998:85(9):1217-20.,3030 Liebman B, Strating RP, Van Wieringen W, Mulder W, Oomen JLT, Engel AF. Risk modeling of outcome after general and trauma surgery (the IRIS study). Br J Surg. 2010;97(1):128-33..

O tempo de anestesia pode ter sido um preditor e marcador de eventos, refletindo a complexidade do procedimento em si e possíveis intercorrências intraoperatórias que prolongaram aquele tempo.

Estudos mostram a importância da estabilidade hemodinâmica no intraoperatório. O escore Apgar utilizou três parâmetros: frequência cardíaca, pressão arterial e perda de sangue.1919 Gawande AA, Kwaan MR, Regenbogen SE, Lipsitz SA, Zinner MJ. An Apgar Score for Surgery. J Am Coll Surg. 2007;204(2):201-8. É possível que as variáveis droga vasoativa e hemoderivados tenham sido marcadores dessas alterações hemodinâmicas.

Como já demonstrado antes, troponina correlacionou‑se com óbito em 30 dias. Devereaux e cols.3131 Devereaux PJ, Chan MT, Alonso Coello et al. Association between postoperative troponin levels and 30-day mortality among patients undergoing noncardiac surgery. J Am Med Assoc. 2012;307(21):2295-304. mostraram uma elevação na taxa de mortalidade em 30 dias de 1,9% (com troponina negativa no pós-operatório) para 9,3% (com troponina maior ou igual a 0,30 ng/mL).

Acurácia dos escores de risco RCRI e VSG-CRI

A acurácia do RCRI em discriminar pacientes de alto e baixo risco para eventos perioperatórios cardíacos é considerada moderada (AUC de 0,74) para cirurgia geral. No entanto, sua performance foi considerada baixa no subgrupo de pacientes submetidos à cirurgia vascular no estudo original (AUC de 0,54 para cirurgia aberta de aorta abdominal)1313 Lee TH, Marcantonio ER, Mangione CM, Thomas EJ, Polanczyk CA, Cook EF, et al. Derivation and prospective validation of a simple index for prediction of cardiac risk of major non-cardiac surgery. Circulation. 1999; 100(10)(5):1043-9.,3232 Ford MK, Beattie WS, Wijeysundera DN. Systematic review: prediction of perioperative cardiac complications and mortality by the Revised Cardiac Risk Index. Ann Intern Med. 2010;152(1):26-35..

Em revisão sistemática realizada por Ford e cols.3232 Ford MK, Beattie WS, Wijeysundera DN. Systematic review: prediction of perioperative cardiac complications and mortality by the Revised Cardiac Risk Index. Ann Intern Med. 2010;152(1):26-35., a performance do RCRI para cirurgia geral foi similar à do estudo original (AUC de 0,75), porém também não foi um índice com boa capacidade discriminatória entre pacientes submetidos à cirurgia vascular (AUC de 0,64).

De forma similar, nosso estudo mostrou uma baixa capacidade discriminatória do RCRI para prever eventos cardiovasculares em até 30 dias (AUC de 0,635).

Uma limitação de Lee e cols.1313 Lee TH, Marcantonio ER, Mangione CM, Thomas EJ, Polanczyk CA, Cook EF, et al. Derivation and prospective validation of a simple index for prediction of cardiac risk of major non-cardiac surgery. Circulation. 1999; 100(10)(5):1043-9., e também do nosso estudo, foi a de avaliar a performance preditiva de um índice apenas por meio da AUC3232 Ford MK, Beattie WS, Wijeysundera DN. Systematic review: prediction of perioperative cardiac complications and mortality by the Revised Cardiac Risk Index. Ann Intern Med. 2010;152(1):26-35..

O VSG-CRI é considerado superior ao RCRI como preditor de eventos cardiovasculares após cirurgia vascular (AUC de 0,71). No entanto, não mostrou boa performance em nosso estudo (AUC de 0,639)1212 Bertges DJ, Goodney PP, Zhao Y, Schanzer A, Nolan BW, Likosky DS et al. The vascular study group of New England cardiac risk index (VSG-CRI) predicts cardiac complications more accurately than the Revised Cardiac Risk Index in vascular surgery patients. J Vasc Surg. 2010; 52(3):674-83..

O uso de qualquer índice preditivo requer que esse se mantenha discriminativo em diferentes populações, localizações geográficas e tempo. Precisaremos aguardar os próximos estudos para concluir sobre o valor do VSG-CRI em nosso meio.

O RCRI e o VSG-CRI também não foram bons preditores de óbito precoce e complicações combinadas (cardiovascular e/ou óbito) precoces em nosso estudo.

Serão necessários estudos mais robustos para testar novos índices que incluam variáveis como: idade, índice de massa corpórea, magnitude da insuficiência arterial periférica, capacidade funcional e cintilografia miocárdica.

Além de um índice pré-operatório mais acurado para avaliação do risco clínico do paciente, poderíamos utilizar também um segundo escore logo após a cirurgia, como foi sugerido por Gawande e col. em sua proposta de construção de um escore Apgar1919 Gawande AA, Kwaan MR, Regenbogen SE, Lipsitz SA, Zinner MJ. An Apgar Score for Surgery. J Am Coll Surg. 2007;204(2):201-8..

O escore Apgar considera a maior frequência cardíaca e a menor pressão arterial, além da quantidade de perda de sangue no intraoperatório, mostrando boa correlação com complicações cardíacas e não cardíacas e óbito em 30 dias1919 Gawande AA, Kwaan MR, Regenbogen SE, Lipsitz SA, Zinner MJ. An Apgar Score for Surgery. J Am Coll Surg. 2007;204(2):201-8..

A partir dos dados encontrados nesse estudo, poderíamos sugerir, para estudos futuros, um escore pós-operatório imediato, que incluísse também os seguintes dados: tempo de anestesia, tempo de intubação, e necessidade de hemoderivados e de droga vasoativa.

Portanto, como os fatores relacionados ao paciente não são os únicos responsáveis pelos eventos adversos, é possível que uma avaliação perioperatória de risco em dois tempos, no pré-operatório e ao final da cirurgia, possa trazer melhor acurácia na identificação dos pacientes que necessitam de maior atenção, monitoração e exames no pós-operatório.

Conclusões

Nessa amostra de pacientes selecionados, encontramos taxa elevada de eventos cardiovasculares e óbito total em até 30 dias.

Observamos mais mortes não cardiovasculares do que cardiovasculares e muitas complicações não cardiovasculares.

Idade, acidente vascular cerebral, obesidade, cintilografia miocárdica com alterações isquêmicas, cirurgias de aorta, baixa capacidade funcional e alterações de troponina foram identificados como fatores de risco para eventos em até 30 dias. Os índices de avaliação de risco RCRI e VSG-CRI não foram bons preditores de eventos.

  • Fontes de financiamento
    O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.
  • Vinculação acadêmica
    Este artigo é parte de tese de Doutorado de Luciana Andrea Avena Smeili pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Set 2015
  • Data do Fascículo
    Nov 2015

Histórico

  • Recebido
    25 Mar 2015
  • Revisado
    27 Maio 2015
  • Aceito
    28 Maio 2015
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