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Teses

DISSERTAÇÕES E TESES

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Título:O caráter perturbador da verdade em Psicanálise

Autora: Aline Vieira Friedman

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco

Data de defesa: julho/2014

O objetivo desta tese é refletir sobre a noção de verdade na psicanálise, tomando como base os textos de Freud e o ensino de Lacan. Começamos por nossa aposta numa verdade cuja função seria a de circunscrever o campo psicanalítico, conferindo-lhe sua especificidade e o afastando de outras formas de clínica. A fim de por à prova nossa proposta, partimos da advertência de Freud (1937/2004) aos analistas quanto ao amor à verdade, no sentido em que ao instaurar e sustentar o vínculo analítico, esse amor se constitui ao mesmo tempo como o obstáculo para o término de uma análise. Buscamos com Lacan (1970) elucidar essa referência freudiana ao amor, e depreendemos como direção, para tratar nosso tema, o que o psicanalista francês chamou de uma "impotência da verdade" (Lacan, p. 191) dada por sua articulação com o Real (die Wirklichkeit) como impossível. Em seguida, investigamos a relação entre verdade e real à luz do mito - como o "enunciado do impossível" (Lacan, p. 145) -, passando antes por uma revisão da função do mito juntamente às críticas de Lacan (1954-5, 1960-1) ao saber epistêmico. Estudamos a importância do mito de Édipo com as contribuições do estruturalismo de Lévi-Strauss e como Lacan s'en sert pour s'en passer (Melman, 2003). Assim, pudemos passar à relação entre verdade e saber, apoiados no uso lacaniano de algumas teses da matemática referentes ao número de Äuler, assim como ao entrecruzamento de verdade, o Outro e gozo seguindo o caminho de Lacan dentro do materialismo de Sade e da mais-valia de Marx. Chegamos numa função da verdade como objeto a, determinada a posteriori (Nachträglich) pela castração e pelo furo do sexual. Por fim, trabalhamos com a importância de considerar uma verdade atravessada pelo sexual, isto é, insistir num lugar dado ao sexual que o faz, desde Freud, funcionar como verdade, como o que instaura para o sujeito o que é da diferença sexual e que determina sua subjetividade. Desprovida de conteúdos reveladores e alardeantes, mais afeita ao cômico e à babaquice (connerie), chegamos a uma verdade como a morada onde se instala o segredo do sexo. Como resposta ao assexualismo e ao unissex, que têm seu ápice na contemporaneidade, defendemos a importância de retomar o problema da verdade na clínica psicanalítica. Tendo em vista a especificidade dessa noção, procuramos justificar o seu papel na permanência da psicanálise e de sua radicalidade em não abdicar do enfrentamento de um sexual que secciona e reinstaura a cada vez o mal-estar do sujeito na cultura.

Título: O lugar do analista na clínica atual: da fixidez da fantasia à mobilidade psíquica

Autora: Ana Bárbara de Toledo Andrade

Orientadora: Regina Herzog

Data de defesa: julho/2014

O objetivo central da tese é o de examinar a especificidade do papel do analista na clínica contemporânea, abordando uma problemática comum aos casos difíceis com os quais nos deparamos na clínica atual. O fantasiar penoso de desvalia narcísica revela-se uma problemática que não só dificulta a mobilidade psíquica do sujeito, como também coloca obstáculos à própria mobilidade da prática psicanalítica. Indicamos que a fixidez da fantasia decorreria de uma relação traumática de submissão absoluta ao objeto primário. A esta questão articula-se uma fantasia materna que buscaria manter intocável e imodificável o estado psíquico de indiferenciação eu-outro. Diante das dificuldades impostas por esses pacientes no âmbito da condução do tratamento, empreendemos uma discussão a respeito da particularidade da dinâmica transferencial, visando compreender como essa configuração subjetiva inscreve-se no contexto clínico. Deste modo, desenvolvemos uma reflexão teórico-clínica a propósito da condução do tratamento analítico com os casos difíceis. Propomos uma dialética temporal e rítmica para o manejo transferencial e para o movimento interpretativo em análise.

Titulo: TDAH: Novo sintoma da criança ou a criança como um novo sintoma da contemporaneidade?

Autora: Ana Carolina Duarte Lopes

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: julho/2013

Este trabalho busca refletir sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em crianças à luz da psicanálise, tendo como referencial o arcabouço teórico de Freud e Lacan. O TDAH é reconhecido como doença nos compêndios médicos e é o transtorno infantil mais frequente na atualidade. O Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM) caracteriza as manifestações do transtorno em torno de três sintomas básicos: desatenção, hiperatividade e impulsividade. De acordo com o manual, esses sintomas devem ser mais intensos e frequentes do que o tipicamente observado em crianças no mesmo nível de desenvolvimento. A neuropsicologia define o TDAH como uma disfunção no sistema perceptivo central localizado no córtex pré-frontal. A disciplina tem como objetivo estudar as relações entre a atividade cerebral, a cognição e o comportamento utilizando diversos instrumentos de avaliação. Para tratar os déficits cognitivos observados em crianças com TDAH, a neuropsicologia faz uso do processo de reabilitação cognitiva. Sabemos que a abordagem psicanalítica e neuropsicológica são incomparáveis sob o ponto de vista teórico e epistemológico - fato que não impede o trabalho paralelo e colaborativo entre as duas disciplinas. Dessa maneira, propomos uma articulação da teoria do advento do eu com o funcionamento comprometido do sistema neurológico. Na clínica psicanalítica com crianças, situamos o TDAH com relação ao desejo da mãe e o nome do pai. Marcamos que no TDAH há uma enorme carência do significante nome do pai. A partir dessa constatação, relacionamos o TDAH e a fobia, já que ambos são sintomas típicos da infância, podendo ainda ser pensados como a busca por um agente organizador, uma hipótese que aproximaria tais sintomas do campo subjetivo.

Título: Trauma e prática clínica: um percurso entre Freud e Ferenczi

Autor: André Soares Pereira Avelar

Orientador: Joel Birman

Data de defesa: julho/2013

O presente trabalho propõe uma investigação a respeito do tema do trauma. Entendemos como traumático o que transcende os limites da representação. Fizemos inicialmente uma incursão ao pensamento freudiano, com o intuito de dar relevo a uma concepção do traumático estreitamente ligado ao pulsional. Em um segundo momento, utilizamos as contribuições de Sandor Ferenczi, para esboçar uma prática clínica sintonizada com a problemática da compulsão à repetição. Nosso objetivo é enfocar o "sentir" do analista como o modo encontrado pelo autor para constituir uma prática clínica capaz de abarcar aquilo que comparece como puro excesso, carente de simbolização. Entendemos que o sentir do analista pode ser tomado como um índice para o esboço de uma estratégia clínica sintonizada com o específico e singular sofrimento psíquico endereçado ao analista. Nesse sentido, estamos enfatizando o exercício de uma sensibilidade cujo propósito é criar condições de possibilidade para a inclusão no campo discursivo daquilo que é, por excelência, da ordem do traumático.

Título: Domínio e culpa na neurose obsessiva: marcas da destrutividade

Autora: Camila Peixoto Farias

Orientadora: Marta Rezende Cardoso

Data de defesa: fevereiro/2013

O objetivo central desta tese é promover um aprofundamento do estudo da neurose obsessiva sob uma nova perspectiva a partir da qual se destaca a sua dimensão destrutiva. O traumático é um fator relevante na gênese dessa patologia, tendo em vista o caráter violento de seu sistema defensivo, indicativo de que sua análise foi determinante para a emergência da pulsão de morte na obra de Freud. O modo singular de relação com o objeto na neurose obsessiva é um dos tópicos essenciais desta investigação. São analisados os elementos traumáticos envolvidos na sua etiologia a partir do plano da relação primária, e de seu entrecruzamento com o plano edipiano. A noção de domínio é o articulador principal desta reflexão sobre a relação eu/outro nos registros intrapsíquico e intersubjetivo. Quanto à dimensão de alteridade interna na neurose obsessiva, o foco de análise incide sobre as modalidades compulsivas de resposta psíquica diante do constante vivido de ameaça de transbordamento pulsional. São respostas que implicam complexa articulação entre ato e pensamento em cujo eixo há a compulsão à repetição e a onipotência narcísica, conduzindo a uma compulsão à síntese, destrutiva, por seu caráter fechado, de imobilismo. O pensamento ganha, neste caso, valor de ato, abrindo a discussão sobre a natureza das violentas autoacusações, em suma, da problemática da culpa. Explora-se o acirrado combate entre ego e superego para se demonstrar que a ferocidade do sentimento de culpa na neurose obsessiva já constitui uma primeira tentativa egoica de "dominação" do excesso pulsional.

Título: Imperativo de gozo na obesidade: sobre a função da angústia e da identificação na clínica psicanalítica

Autora: Cristiane Marques Seixas

Orientador: Joel Birman

Data de defesa: julho/2013

O presente trabalho aborda a problemática da obesidade no campo psicanalítico, circunscrevendo a questão da compulsão por comer a partir da metapsicologia freudiana e da psicanálise lacaniana. Visa-se delimitar em que medida a compulsão por comer está relacionada à angústia e ao imperativo de gozo superegoico para situar a função da dialética das identificações na clínica com os pacientes ditos obesos. Tendo em vista as duas principais diferenciações da compulsão na psicanálise, a saber, a compulsão na neurose obsessiva e a compulsão à repetição, trabalha-se a questão da angústia na teoria freudiana e lacaniana articulada ao conceito de gozo para verificar se a incidência das exigências superegoicas estaria diretamente relacionada à manutenção do sintoma e ao aumento da angústia, devido a uma falha na operação simbólica que regula as relações entre ideal do eu, supereu, gozo e desejo. Numa perspectiva clínica, a dialética das identificações e o trabalho do luto cujo correlato é a análise são pensados como o que permite a construção de recursos para lidar com o excesso pulsional, circunscrevendo as possíveis formas de responder ao imperativo superegoico. Por fim, retomam-se as observações sobre a angústia sinal, a angústia traumática, a culpa e a identificação para elaborar considerações sobre a clínica e a direção do tratamento com pacientes ditos obesos.

Título: Reflexões sobre a questão do poder na teoria freudiana: da pulsão de domínio à pulsão de destruição

Autora: Cynthia Cristiane Guerreiro Baldi

Orientador: Joel Birman

Data de defesa: julho/2013

Este trabalho tem por objetivo pesquisar de que forma Freud pensou a questão do poder nos diferentes momentos de sua obra que propusemos dividir em duas fases, passando por um período de transição. No primeiro momento de seu pensamento, tentamos mostrar de que forma a primeira parte da teoria se articulava com o poder. Em seguida, sublinhamos os momentos que eram indicativos de que uma mudança começava a se produzir em seus escritos e, nesse sentido, a eclosão da Primeira Guerra Mundial, bem como os efeitos do pós-guerra, também parecem ter contribuído significativamente para a mudança de paradigma que aconteceria nos anos seguintes em seu pensamento. Finalmente, com a postulação da pulsão de morte, diversos efeitos foram produzidos no que concerne à questão do poder e da política em sua relação com a guerra. De forma que, no final de sua obra, suas reflexões acerca do poder tomaram rumos bastante diversos de suas reflexões iniciais.

Título: As concepções da parceria analítica no ensino de Lacan

Autor: Douglas Nunes Abreu

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: julho/2013

Esta tese parte de alguns impasses e questões pertinentes à prática do analista no século XXI, tais como a prática analítica na era das avaliações, no campo da saúde mental e diante das novas apresentações sintomáticas. Elenca as perspectivas lógicas que podem melhor orientar a configuração da prática psicanalítica em cada momento da clínica lacaniana. Essa divisão lógica serve de eixo para o desenvolvimento das parcerias analíticas em Lacan. Desenvolve a ideia do parceiro-imago na teoria do imaginário como momento antecedente da prática propriamente lacaniana. Trabalha as parcerias do analista a partir do axioma do inconsciente estruturado como uma linguagem, na lógica do inconsciente transferencial: o analista como parceiro-símbolo na máquina significante e o analista como parceiro-objeto a na clínica da fantasia. Desenvolve a parceria analítica na clínica do real, balizada pelo axioma da não relação sexual, na lógica do inconsciente real, onde a parceria analítica é descrita como a de parceiro-sintoma. Ao final do trabalho, discutem-se as parcerias analíticas na perspectiva de alguns casos clínicos da literatura psicanalítica, visando às considerações finais sobre o tema.

Título: O real da ciência e o real da psicanálise

Autor: Fabiana Mendes Pinheiro de Souza

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: fevereiro/2013

Esta pesquisa parte do axioma lacaniano: "O sujeito sobre o qual a psicanálise opera só pode ser o sujeito da ciência" (Lacan, 1965-66, p. 873). Abordamos o advento do real da ciência a partir da epistemologia francesa tendo como referência, os autores, Canguilhem, Bachelard, Koyré e Milner. Diferentemente da epistemologia bachelardiana, centrada no conceito de corte epistemológico, Foucault situou sua leitura arqueológica no limiar da epistemologização. Neste nível a cientificidade não serve como norma. Demonstramos a partir de Machado (2009) que na história arqueológica o que se tenta revelar são as práticas discursivas na medida em que elas dão lugar a um saber. Foucault não considerou pertinente a distinção entre ciência e ideologia. Ao não estabelecer os critérios de demarcação entre uma e outra, situou a arqueologia como uma história do saber. Para Foucault todo conhecimento, seja ele científico ou ideológico, só pode existir a partir de correlações de força que constituem tanto o sujeito quanto os domínios do saber. Com base em Machado (2009), destacamos a passagem de arqueologia do saber (1969b) para a genealogia do poder de Michel Foucault, quando a investigação do saber dá lugar aos estudos sobre o poder. Este último se exerce, é luta, correlações de força que resultam uma estratégia sem sujeito. A epistemologia está assentada no conceito de corte epistemológico, conceito bachelardiano, que sustenta o primeiro eixo desta pesquisa. Acompanhamos a homologia estrutural proposta por Milner entre o teorema de Kojève de que "há entre o mundo antigo e o universo moderno um corte" e o teorema de Koyré de que "entre a episteme antiga e a ciência moderna existe um corte". Esses cortes correspondem a momentos logicamente superpostos à constituição do sujeito. A posição subjetiva moderna só foi possível a partir do advento da ciência moderna. A partir do advento do real da ciência, o real da psicanálise foi delineado com base nas discussões de Lacan com Hyppolite em 1953-54. Este real é delimitado a partir de uma primeira constituição de um externo não simbolizado, por meio da operação da Austossung, expulsão primordial. Trabalhamos o conceito de pulsão de morte, o automatismo da repetição (Wiederholungszwang), e sua relação com a ordem simbólica. A pulsão de morte foi definida por Lacan (1954-55) como a ordem simbólica enquanto muda. A pulsão de morte é a máscara da ordem simbólica. Demonstramos que o conceito de real equivaleria à definição de das Ding proposta por Lacan em 1959-60. Tendo como referência o período de 1962-63, quando a angústia foi definida como sinal do real, retomamos a tese de Coelho dos Santos de que angústia automática (Automatischeangst) é a legítima representante da pulsão de morte no aparelho psíquico e analisamos sua relação com a definição lacaniana de que a angústia é o sinal do real. Encerramos nosso percurso retomando a tese lacaniana de que a angústia é a única tradução subjetiva do objeto a. Logo, este último, é o nome do real neste período do ensino de Lacan.

Título: A impossibilidade revelada pela psicanálise diante do enigma da diferença sexual

Autora: Jamille Lima dos Santos

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco

Data de defesa: julho/2013

A presente tese parte da concepção de sexualidade proposta por Freud e sustenta que a diferença entre os sexos não implica uma simetria ou completude entre eles. Recorre aos desenvolvimentos de Lacan para demonstrar como o conceito de falo é o referente, tanto da inscrição do sujeito em uma posição sexuada, quanto do seu posicionamento diante do encontro com o outro sexo. Tomando como parâmetro a lógica fálica, problematiza a vinculação entre o falo e o atributo e evidencia que, na sua vinculação com os quantificadores, o falo opera como função fálica. É por essa referência que o sujeito se inscreve em uma das duas posições sexuadas. Para o homem, a função fálica é o referente da sua inscrição na sexuação e se articula na relação entre o todo e a exceção; para a mulher, a função fálica não permite sua inscrição como um todo. Isto é, a lógica que rege a posição feminina é não-toda referida à função fálica. Nessa perspectiva, é a partir da lógica que rege cada posição sexuada que o sujeito tem que se fazer valer no encontro com o outro sexo. Ou seja, a assunção de uma posição sexuada não está dada de uma vez por todas, só podendo se fazer por referência ao semblant. Desse modo, circunscreve e caracteriza o conceito de sexualidade para a psicanálise e indica que diante da impossibilidade estrutural imposta pelo sexual, o encontro entre os sexos se dá pela via do semblant e se faz através da articulação entre o cômico e o amor. Nesse contexto, é ressaltado que é próprio do sujeito neurótico recuar diante do real desvelado pelo sexual e conclui que ao revelar ao mundo essa impossibilidade, a psicanálise demonstra que a assunção de uma posição sexuada não é da ordem de uma natureza, nem uma questão de opção - é um fato de estrutura.

Título:Da falta à perda: a tarefa analítica

Autor: Jorge Gonçalves dos Santos

Orientadora: Fernanda Costa-Moura

Data de defesa: fevereiro/2013

O trabalho aborda a passagem da falta à perda do objeto, no percurso denominado por Lacan (1967-8) como "a tarefa analítica". Trata-se de examinar quais são os limites da análise diante da demanda de cura que o neurótico endereça ao analista, uma vez que a descoberta freudiana apontou as satisfações pulsionais que o sintoma representa, e das quais Lacan demarcou sua presença real e encadeamento simbólico. Partindo do exame da determinação significante do sujeito e da montagem pulsional, discerne-se a dimensão da falta de objeto último para o desejo, aberta pela castração, que institui o estatuto da demanda no campo do sujeito. Na medida em que o registro da demanda, em lugar de implicar a existência de um objeto que a satisfaça, reenvia o sujeito à metonímia significante que é sempre incessante como tal, observa-se que a circunscrição da operação da castração definida somente em referência ao registro da falta oblitera qualquer saída efetiva para o impasse com que Freud se deparou na análise da neurose sob a forma do "rochedo da castração". Delimita-se assim a operação de extração e perda do objeto a, como o ato que possibilita cernir, e ir além, da impossibilidade de transposição do rochedo da castração enquanto limite. Para abordá-lo discute-se o problema do limite da interpretação e a noção freudiana de "regressão pulsional" com base na análise realizada por Lacan dos significantes acéfalos da gramática pulsional, a fim de localizar a perda implicada no objeto, como um momento lógico anterior à falta sintomática do mesmo. Expõe-se, por fim, a castração como limite colocado em cada demanda, em cada modalidade de satisfação pulsional, ao examinar o ato de perda e cessão do objeto a no que Lacan denomina a "regressão analítica", bem como no que é apresentado no tetraedro balizador da análise, construído no seminário O ato psicanalítico (1967-8). O que aí se representa podendo aparecer ao final como sendo da ordem de uma báscula que se abre para o sujeito como passagem ética da falta à perda, na medida mesmo e na vigência dos limites constitutivos do processo analítico.

Título: A psicanálise e o cuidado de si: entre a sujeição e a liberdade

Autor: Rodrigo Cardoso Ventura

Orientador: Joel Birman

Data de defesa: julho/2013

A presente tese de doutorado tem como principal objetivo pensar a psicanálise na atualidade como uma prática inscrita na tradição do cuidado de si (epiméleia heautoû), a partir da articulação entre o discurso freudiano, a obra do filósofo francês Michel Foucault e a filosofia antiga, em torno das figuras de Sócrates e Diógenes, o cínico. A motivação desta tese é problematizar as condições de possibilidade da transformação subjetiva na experiência psicanalítica, que aponta para a constituição de novos modos de vida. O que nos interessa neste trabalho é pensar a prática psicanalítica como um espaço de liberdade visando à experimentação de outras formas de ser e de acontecer na vida. Um grande desafio, porém, se coloca. E quem nos coloca este desafio é Foucault. Em sua genealogia do poder, ele afirma que os efeitos de sujeição das relações de poder-saber, que normalizam as subjetividades e sufocam os espaços possíveis de liberdade, também estão presentes na experiência psicanalítica. Para encontrar as saídas frente às questões colocadas por Foucault, este trabalho de pesquisa vai refletir acerca da tensão presente no setting analítico entre a sujeição e a liberdade das subjetividades. Para tal, nossa aposta é buscar na própria filosofia de Foucault, quando esse autor se volta para a Antiguidade greco-romana para estudar a noção de cuidado de si, os elementos que nos permitam encontrar na obra freudiana, tão rica em possibilidades de leitura, uma psicanálise comprometida com a produção de modos de vida singulares, menos normalizados e submissos. Considerando que o cuidado de si é composto por um conjunto de práticas ascéticas e eróticas, que visam à transformação da própria maneira de se viver, e trazendo para o primeiro plano do discurso psicanalítico as noções de trabalho (áskesis) e Eros, acreditamos ser possível estabelecer uma leitura da psicanálise que retome aspectos fundamentais da tradição do cuidado de si. Conjugando estas duas noções, nos arriscaremos a pensar a prática psicanalítica como uma ascese erótica, ou melhor, como um trabalho erótico, cujo objetivo terapêutico se deslocaria para o trabalho de si sobre si e para o exercício de novos modos de existência, a partir da constituição de destinos eróticos para a pulsão. Essa é a nossa hipótese de pesquisa. Para desenvolvê-la, tentando estabelecer uma ponte entre a prática psicanalítica e as técnicas do cuidado de si, realizaremos uma leitura da psicanálise com as lentes da dimensão econômica do aparelho psíquico, que implica a inscrição desta no registro das intensidades e a concepção do psiquismo como aparelho de captura e domínio das forças pulsionais. Nesse sentido, a experiência psicanalítica, enfrentando o risco de sujeição que paralisa e inviabiliza qualquer pretensão de transformação subjetiva, estaria comprometida com o exercício da liberdade, entendida como espaço de mobilidade pulsional, em um processo de erotização e afirmação da vida. Da sujeição à liberdade, é a direção que pretendemos seguir nesta tese, buscando, no cerne da psicanálise atual, os elementos fundamentais da tradição do cuidado de si.

Título:Os efeitos subjetivos da pobreza material e consequências materiais do empobrecimento psíquico

Autora: Valéria Wanda da Silva Fonseca

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: julho/2013

O objetivo desta pesquisa foi delimitar quais pressupostos teóricos na psicanálise a serem considerados nas estratégias clínicas de atendimento dos brasileiros oriundos da população de baixa renda, pouco escolarizada e não familiarizada com o discurso psicanalítico. O acesso dessa população ao tratamento psicanalítico ainda é restrito aos poucos serviços públicos e ou privados de caráter ambulatorial. A ampliação da oferta desses atendimentos exige mapeamento dos efeitos subjetivos da pobreza entre os cidadãos brasileiros. Refletiu-se a respeito da constituição do laço social, da força da religião e da ciência e seus reflexos na organização da sociedade, e, em particular, nas famílias brasileiras, e ainda, sobre a constituição do sujeito na contemporaneidade. Identificamos a importância do conceito de eu na obra freudiana, e dos estudos sobre as relações entre o empobrecimento do eu e o empobrecimento econômico e social. A ação humana, particularmente a satisfação das necessidades, desenrola-se na rede da linguagem, em discurso, e no campo da ética. O universo simbólico é transmitido por meio dos enunciados primordiais, dos códigos e das leis. As necessidades nunca se apresentam em estado puro, já que não se tem acesso à ordem natural. Elas precisam ser faladas, e sempre perpassadas pelo desejo e pela demanda. Para Lacan, o que tem status de necessidade e torna possível a existência do homem é a diferença sexual: masculino e feminino. O complexo de castração é o motor da renegação, que institui o conflito constitucional do eu. Demanda-se a outro, outro do laço social que cuide, alimente e transmita as regras do pacto civilizatório, ou seja, que ame! Contudo, quanto maior as exigências pulsionais associadas à precariedade dos recursos externos provindos da civilização, maiores as dificuldades na eficácia da renúncia pulsional, e consequentemente maior 'debilidade' do eu. Essa precariedade seria fator de adoecimento psíquico, presente nas neuroses e na melancolia. Uma característica peculiar da melancolia é o medo do empobrecimento. Freud alertou-nos sobre a pobreza que se alastra nas cidades, tal como uma epidemia social. Faz-se necessário analisar e diagnosticar quem são os sujeitos que vivem nos diversos estágios da pobreza, inclusive os pobres que vivem entre os ricos, ou seja, todos os sujeitos que se não forem protegidos pelas benesses do Estado e ou das famílias abastadas, padecerão de uma total incompetência para gerir a própria vida. Ao atualizar a condição ser da falta, o sujeito pobre desmascara a precariedade do outro social, que geralmente, por ser marcado pela castração, vacila na transmissão do saber sobre o que fazer com a falta que nos é constitucional. Desde sempre, consideramos como estratégia na direção do tratamento aprender a contornar os impasses mediante a experiência da castração e da partilha dos sexos, ambos por serem a base da constituição psíquica.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 2014
Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Instituto de Psicologia UFRJ, Campus Praia Vermelha, Av. Pasteur, 250 - Pavilhão Nilton Campos - Urca, 22290-240 Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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