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AÇÃO “IN VITRO” DE FUNGICIDAS NO CRESCIMENTO MICELIAL E GERMINAÇÃO DE CONÍDIOS DE ALTERNARIA SOLANI, AGENTE CAUSAL DA PINTA PRETA DO TOMATEIRO

IN VITRO ACTION OF FUNGICIDES ON MYCELIAL GROWTH AND CONIDIUM GERMINATION OF ALTERNARIA SOLANI, CAUSAL AGENT OF TOMATO EARLY BLIGHT

RESUMO

Testes “in vitro” foram realizados visando avaliar a ação inibitória de 16 fungicidas sobre o crescimento micelial e germinação de conídios de Alternaria solani, agente causal da pinta preta do tomateiro. Os fungicidas foram testados nas concentrações de 0, 1, 10 e 100 µg.mL-1 para ambos os critérios, sendo utilizadas as técnicas de diluição do fungicida em meio de cultura e do celofane (NEELY, 1978NEELY, D. Laboratory and greenhouse procedures methods for evaluation fungicides, nematicides and bactericides. Minessota: American Phytopathological Society, 1978, 140p.), respectivamente. Os maiores níveis de inibição foram obtidos com fungicidas específicos que mostraram ação diferenciada sobre as diferentes fases do ciclo de vida do fungo. Os fungicidas iprodione, cyprodinil, procymidone, fluazinam, e pyrimethanil apresentaram elevados níveis de inibição para ambos critérios. Metconazole, tebuconazole, difenoconazole e prochloraz proporcionaram elevada inibição do crescimento micelial e parcial com relação à germinação de conídios. Kresoxim methyl, azoxystrobin, pyraclostrobin+methiram, fenamidone e famoxadone+mancozeb apresentaram comportamento inibitório intermediário com relação ao crescimento micelial e inibição completa da germinação de conídios a partir de 1 µg.mL-1. Chlorothalonil e mancozeb promoveram os menores níveis de inibição, porém apresentaram comportamento sempre superior à testemunha.

PALAVRAS-CHAVE:
Fungo; inibição; Lycopersicon esculentum Mill.

ABSTRACT

In vitro tests were carried out with the aim of evaluating the inhibitory action of 16 fungicides on the mycelial growth and conidium germination of Alternaria solani, causal agent of tomato early blight. The fungicides were tested in the concentrations of 0, 1, 10 and 100 µg.mL-1 to both criteria, using the fungicide dilution in culture media and the cellophane techniques (NEELY, 1978NEELY, D. Laboratory and greenhouse procedures methods for evaluation fungicides, nematicides and bactericides. Minessota: American Phytopathological Society, 1978, 140p.), respectively. The best inhibition levels were obtained with specific fungicides that showed differential action on the different stages of the fungus life cycle. The fungicides iprodione, cyprodinil, procymidone, fluazinam, and pyrimethanil presented elevated inhibition levels for both criteria. Metconazole, tebuconazole, difenoconazole and prochloraz provided elevated inhibition of the micelial growth and partial inhibition in relation to conidium germination. Kresoxim methyl, azoxystrobin, pyraclostrobin+methiram, fenamidone and famoxadone+mancozeb presented intermediary inhibitory behavior of the growth micelial and complete inhibition of conidium germination starting from 1 µg.mL-1. Chlorothalonil and mancozeb promoted the minor inhibition levels, however their action was always superior to the control.

KEY WORDS:
Fungi; inhibition; Lycopersicon esculentum Mill.

INTRODUÇÃO

O fungo Alternaria solani (ELL. & Martin) Jones & Grout), agente causal da pinta preta do tomateiro, caracteriza-se por ser um dos principais patógenos desta solanácea sob condições de alta umidade e temperaturas entre 25 e 30º C (KUROZAWA & PAVAN, 1997KUROZAWA, C. & PAVAN, M.A. Doenças do tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.). In: KIMATI, H.; AMORIN, L.; BERGMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M. (Eds.). Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 3.ed. São Paulo: Ceres, 1997. v.2, p.690-719.; VALE et al., 2000VALE, F.X.R.; ZAMBOLIM, L.; PAUL, P.A.; COSTA, H. Doenças causadas por fungos em tomate In: ZAMBOLIM, L.; VALE, F.X.R.; COSTA, H. (Eds) Controle de doenças de plantas - Hortaliças. Viçosa:UFV, 2000. p.699-755.).

A doença apresenta elevado potencial destrutivo, evidenciado por intensa redução de área foliar, declínio no vigor das plantas, quebra de hastes e depreciação de frutos (SHERF & MACNAB, 1986SHERF, A.F. & MACNAB, A.A. Vegetable disease and their control. Wiley Intercience Publication, 1986. 728p.; JONES et al. 1993JONES, J.B.; STALL, R.E.; ZITTER, T.A. Compedium of tomato diseases. St. Paul: APS, 1993. 73p.). De maneira geral, a suscetibilidade a infecção está condicionada pela idade das plantas, amadurecimento dos tecidos e ao início do período de frutificação. Os primeiros sintomas são observados nas folhas mais velhas, que posteriormente evoluem para as partes mais novas da planta (MESSIAEN et al., 1995MESSIAEN, C.; B LANCARD, D.; RUXEL, F.; L AFON, R. Enfermedades de las hortalizas. Madrid: Ediciones Mundi Prensa, 1995. 576 p.; TELLO MARQUINA & DE LA VEGA, 1995TELLO MARQUINA, J.C.; DE LA VEGA, J.D M. Enfermedades no víricas del tomate. In: NUEZ, F. (coord.). El cultivo del tomate. Madrid: Ediciones Mundi-Prensa. p.523-563, 1995.).

A pinta preta pode apresentar elevados níveis de severidade, sob condições de alta temperatura e umidade, podendo atingir 60% da área foliar, bem como, causar podridão e reduções no tamanho e número de frutos comerciais (BASU, 1974BASU, P.K. Measuring early blight, it progress and influence on fruit losses in nine tomato cultivars. Can. Plant Dis., v.54, p.45-51, 1974.). Ataques severos da doença podem causar destruição generalizada da área foliar expondo os frutos a queimaduras do sol (KUROZAWA & PAVAN, 1997KUROZAWA, C. & PAVAN, M.A. Doenças do tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.). In: KIMATI, H.; AMORIN, L.; BERGMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M. (Eds.). Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 3.ed. São Paulo: Ceres, 1997. v.2, p.690-719.).

No Brasil, a doença tornou-se importante a partir dos anos 50, quando houve a primeira grande expansão da cultura, sendo necessária a aplicação de fungicidas para o seu controle (BOFF, 1988BOFF, P. Epidemiologia e controle químico da mancha de estenfílio (Stemphylium solani Weber) e da pinta preta (Alternaria solani (Ellis, Martin) Jones, Grout) em dois sistemas de condução do tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill). Viçosa: 1988. 192p. [Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Viçosa].). Avanços no desenvolvimento de fungicidas, ao longo dos últimos anos, tem proposto novos produtos para o controle da pinta preta. Tais fungicidas caracterizam-se por apresentarem perfil técnico diferenciado e pertencerem aos mais variados grupos químicos tais como: os ditiocarbamatos, as ftalonitrilas, os triazóis, as novas estrobilurinas entre outros (LACROIX & MERCER, 2001Lacroix, G. & MERCER, R. Fungicide Fenomen. Technical Bulletin, 2001. 35p.; UESUGI, 1998UESUGI, Y. Fungicides classes. Chemistry, uses and mode of action. In: HUTSON D. & MYAMAMOTO, J. Fungicidal activity. 1998. p.23-53.; GASZTONYI & LYR, 1995GASZTONYI, M. & LYR, H. Micellaneous fungicides. In LYR, H. (Ed) Modern Selective Fungicides. Jena: Gustaf Fisher, 1995. p.389-414.).

O conhecimento do potencial de inibição de fungicidas nas diferentes fases do ciclo de vida do patógeno visa esclarecer o modo de ação particular de cada produto, bem como, pode definir as estratégias de uso de um determinado produto. Devido à importância do controle químico no manejo da pinta preta do tomateiro o presente trabalho, teve por objetivo caracterizar a ação “in vitro” de diversos grupos fungicidas sobre o crescimento micelial e a germinação de conídios de A. solani.

MATERIAL E MÉTODOS

Obtenção dos isolados e produção de conídios

Os isolamentos foram realizados a partir de folhas e haste com sintomas típicos da doença, coletadas em diferentes regiões produtoras de tomate do Estado de São Paulo. A caracterização dos diferentes isolados encontra-se descrita na Tabela 1.

A metodologia utilizada para a produção de conídios de A. solani foi a mesma adotada por TÖFOLI & KUROZAWA (1993)TÖFOLI, J.G.; KUROZAWA, C. Efeito de três meios de cultura e duas temperaturas na produção de conídios de Alternaria solani. Summa Phytopat., Jaboticabal, v.19, p.41, 1993.. Os diferentes isolados foram cultivados em placas de Petri (Pyrex Cornor) contendo meio de cultura V8 (TUITE, 1969TUITE, J. Plant pathological methods. Minneapolis:Burguess Publishing Company, 1969. 239p.) por 7 a 10 dias no escuro a 25° C. Em seguida, as colônias foram submetidas à raspagem do micélio, com auxílio de pincel e água destilada estéril, e incubadas sob fotoperíodo de 12 horas com luz negra (F-30 12/LN Sylvânia) distanciada 40 cm das placas, e temperatura de 18°C por 72 horas.

Ação de fungicidas no crescimento micelial

Discos de 0,5 cm de diâmetro dos isolados AST01, AST-02, AST-03, AST-04 e AST-05 foram retirados dos bordos de colônias com sete dias de idade e transferidos para o centro de placas de Petri (nove cm de diâmetro) contendo BDA + fungicidas nas concentrações finais de 0, 1, 10 e 100 µg.mL-1. Os fungicidas testados encontram-se caracterizados na Tabela 2. Os produtos foram incorporados no meio de cultura fundente, por meio de diluições em série. Após as repicagens, as placas foram incubadas em fotoperíodo de 12 horas, a 25º C por um período de oito dias.

A avaliação foi realizada por meio da medição dos diâmetros (cm) das colônias em dois sentidos perpendiculares entre si, tomando-se como valor de crescimento a média das duas medidas. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado com 4 repetições por concentração, sendo cada repetição representada por uma placa de Petri. Os dados foram analisados estatisticamente pela análise da variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.

Ação de fungicidas na germinação de conídios

A ação de fungicidas sobre a germinação dos conídios foi realizada por meio de adaptação da metodologia descrita por NELLY (1978).

Discos de papel de filtro, com diâmetro de 0,8 cm, foram embebidos em suspensão de fungicidas nas concentrações de 0, 1, 10 e 100 µg.mL-1 de ingrediente ativo e transferidos para placas de Petri. Posteriormente, foi colocado um disco de celofane semi-permeável de mesmo diâmetro sobre cada disco de papel tratado, sobre o qual foi depositado 10 mL de uma suspensão contendo 103 conídios de A. solani/mL dos isolados AST-01, AST-03 e AST-04. As placas foram mantidas em câmara tipo BOD por 24 horas a 25o C e ausência de luz. Em seguida, os discos de celofane inoculados foram transferidos para lâminas de vidro e avaliados em microscópio óptico, quanto à inibição da germinação dos conídios. Foram considerados conídios germinados aqueles que apresentassem tubos germinativos iguais ou superiores ao comprimento do conídio analisado. As contagens foram realizadas em 30 discos, provenientes de três placas de Petri com 10 discos/concentração em cada tratamento. Os dados foram transformados em porcentagens de inibição da germinação de conídios em relação à testemunha.

Tabela 1
Origem, cultivar/híbrido, órgão, época de isolamento e designação de isolados de A. solani empregados nos experimentos. São Paulo, 2001.
Tabela 2
Caracterização geral dos 16 fungicidas utilizados nos diferentes experimentos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os diferentes fungicidas e misturas apresentaram comportamento diferenciado quanto aos critérios: inibição do crescimento micelial e germinação de conídios de A. solani, sendo sempre superiores à testemunha, independente da concentração utilizada (Fig. 1 e Fig. 2). Os maiores níveis de inibição foram observados para os produtos com maior fungitoxicidade e especificidade, em detrimento dos fungicidas de contato e múltiplos sítios de ação. Em geral, os fungicidas apresentaram potenciais de inibição crescente em função do aumento da concentração do ingrediente ativo, não sendo observadas diferenças significativas entre um determinado fungicida e os diferentes isolados testados (Tabelas 3, 4, 5, 6, 7, 8).

Os fungicidas tebuconazole, difenoconazole, fluazinam, iprodione, prochloraz, procymidone, pyrimethanil, e metconazole apresentaram as maiores porcentagens inibitórias do crescimento micelial atingindo de 70 a 80% a partir de 1 µg.mL-1 e inibição total a 100 µg.mL-1, para todos os isolados testados. Cyprodinil proporcionou níveis de inibição média de 63,4 e 92,4% nas concentrações de 1 e 100 µg.mL-1 , respectivamente.

Kresoxim methyl, azoxystrobin, fenamidone, pyraclostrobin+methiram e famoxadone + mancozeb proporcionaram comportamento intermediário de inibição. Os fungicidas kresoxim methyl, azoxystrobin e famoxadone + mancozeb, pertencentes ao grupo dos inibidores do processo respiratório, proporcionaram uma faixa de 40 a 50% de inibição a 1 µg.mL-1 e média de 75% a 100 µg.mL-1, evidenciando-se baixo incremento na inibição pelo aumento da concentração do ingrediente ativo. A mistura pyraclostrobin+methiram e fenamidone, apesar de apresentarem comportamento intermediário, apresentaram melhores respostas ao aumento da concentração do ingrediente ativo atingindo uma faixa de 76% de inibição a 100 µg.mL-1. Mancozeb e chlorothalonil proporcionaram os menores níveis de inibição do crescimento micelial, sendo porém sempre superiores à testemunha.

Quanto ao isolado AST-05, proveniente de haste, verificou-se que os fungicidas apresentaram menor potencial inibitório, entretanto, a mesma tendência de inibição observada para os isolados de folha (Tabela 7).

Os fungicidas fluazinam, iprodione, procymidone, kresoxim methyl, azoxystrobin, pyrimethanil, cyprodinil, fenamidone e as misturas pyraclostrobin + methiram e famoxadone + mancozeb apresentaram inibição total da germinação de conídios a partir de 1 µg.mL-1 (Tabela 8, Fig. 2).

Tebuconazole, difenoconazole, metconazole e prochloraz proporcionaram inibição parcial neste critério, sendo observada a emissão de tubos germinativos em todas as concentrações estudadas. No entanto, verificou-se significativa redução no crescimento destes em função do aumento da concentração fungicida, atingindo 100% de inibição a 100µg.mL- 1. Chlorothalonil e mancozeb apresentaram comportamento semelhante ao observado para o critério crescimento micelial.

Os fungicidas fluazinam, iprodione, cyprodinil, procymidone e pyrimethanil apresentaram elevado nível de inibição para ambos critérios avaliados. Os fungicidas inibidores do processo respiratório (kresoxim methyl, azoxystrobin, fenamidone, pyraclostrobin + methiram, e famoxadone + mancozeb) apresentaram significativa superioridade para o critério germinação de conídios, enquanto que os inibidores da síntese de esteróis (tebuconazole, difenoconazole, metconazole e prochloraz) destacaram-se em relação ao critério crescimento micelial. Chlorothalonil e mancozeb apresentaram potencial de inibição semelhante para os dois tipos de inóculo.

Parte destes resultados obtidos neste trabalho estão de acordo com as observações de alguns autores. CHOULWAR et al. (1989)CHOULWAR A.B.; DATAR, V.V.; KURUNDAKAR, B.P. Efficacy of fungitoxicants on the mycelial growth of Alternaria solani. Pestology, v.13, p.17-19, 1989. e BOVEDA (1986)BOVEDA, R.R.V. Morfologia, patogenicidade, esporulação e sensibilidade a fungicidas in vitro de Alternaria solani e Alternaria alternata. Piracicaba: 1986. 106p. [Dissertação (Mestrado) - Universidade de São Paulo]. verificaram elevado efeito inibitório do crescimento micelial de A. solani com os fungicidas procymidone e iprodione, entre outros. BRIGNANI NETO & OLIVEIRA (1980)BRIGNANI NETO, F. & OLIVEIRA, D.A. Influência de diferentes fungicidas sobre o crescimento de Alternaria solani (Ell, Martin) Jones, Grout, “in vitro”. O Biológico, São Paulo, v.46, p.101-106, 1980. observaram inibição menos acentuada de A. solani por chlorothalonil em relação a outros fungicidas como propineb, hidantoína (iprodione), captafol e oxicloreto de cobre. Estudo realizado por FANCELLI (1991)FANCELLI, M.I. Comparação patogênica, cultural, serológica e eletroforética entre isolados de Alternaria solani do tomate e da batata e variabilidade patogênica de Alternaria solani f. sp. lycopersici N. F. Piracicaba: 1991. 80p. [Tese (Doutorado) - Universidade São Paulo]. verificou elevados níveis de inibição do crescimento micelial de isolados de Alternaria solani de tomate e batata com os fungicidas tebuconazole, difenoconazole e iprodione. O alto poder inibitório do fungicida pyrimethanil a partir de 10 µg.mL-1, observado para os diferentes critérios estudados também é destacado por GASZTONYI & LYR (1995)GASZTONYI, M. & LYR, H. Micellaneous fungicides. In LYR, H. (Ed) Modern Selective Fungicides. Jena: Gustaf Fisher, 1995. p.389-414..

Com exceção de fluazinam, as maiores porcentagens de inibição do crescimento micelial e germinação de conídios de Alternaria solani, quer conjuntas ou isoladas, foram obtidas com fungicidas específicos caracterizados por apresentar sistemicidade, alta fungitoxicidade e elevado poder inibitório em baixas concentrações de ingrediente ativo.

Os fungicidas mancozeb e chlorothalonil, típicos fungicidas de contato, apresentaram os menores níveis de inibição devido à sua baixa fungitoxicidade inerente. O fluazinam, apesar de apresentar ação de contato, apresentou elevado potencial inibitório do crescimento micelial e germinação de A. solani a partir de 1 µg.mL -1, sendo superior a mancozeb e chlorothalonil. Tal fato pode ser justificado pelo diferente modo de ação apresentado por estes fungicidas. Enquanto, fluazinam atua como desacoplador da fosforilação oxidativa (processo de respiração), os fungicidas mancozeb e chlorothalonil, atuam a nível enzimático (GHINI & KIMATI, 2000GHINI, R. & KIMATI, H. Resistência de fungos a fungicidas. Jaguariúna: EMBRAPA Meio Ambiente. 2000. Mecanismo de ação dos fungicidas, p.31-36.).

A menor sensibilidade apresentada pelo isolado de haste (AST-05) aos fungicidas testados, sugere a ocorrência de variabilidade na população de A. solani. BRIGNANI NETO & OLIVEIRA (1980)BRIGNANI NETO, F. & OLIVEIRA, D.A. Influência de diferentes fungicidas sobre o crescimento de Alternaria solani (Ell, Martin) Jones, Grout, “in vitro”. O Biológico, São Paulo, v.46, p.101-106, 1980. verificaram fato semelhante com isolados de A. solani de batateira, obtidos a partir de diferentes de órgãos da planta.

A diferença de inibição entre crescimento micelial e germinação de conídios, observada nos fungicidas inibidores do processo respiratório deve-se, provavelmente, ao mecanismo de ação destes fungicidas. As estrobirulinas, oxazolidinedionas e imidazolinonas atuam por meio da inibição da respiração mitocondrial, bloqueando a transferência de elétrons entre o citocromo b e o citocromo c1 (Complexo III) impedindo a formação de ATP e conseqüentemente a produção de energia (LEROUX, 1996LEROUX, P. Recent developments in the mode action of fungicides. Pesticide Science , v.47, p.191-197, 1996.; YPEMA & GOLD, 1999YPEMA, H.L., GOLD, R.E. Kresoxim methyl: modification of a naturally occuring compound to produce a new fungicide. Phytopatology,v.83, p. 4-19, 1999.). Os conídios para germinarem demandam alta energia que é obtida pelas vias respiratórias convencionais inibidas por estes fungicidas. O micélio, por sua vez, além das vias respiratórias convencionais pode gerar energia por vias alternativas e por glicolise. A energia gerada pelas vias alternativas é limitada, no entanto pode ser suficiente para que o micélio cresça por algum espaço de tempo, mesmo após o contato com o fungicida.

O fato dos inibidores da síntese de ergosterol apresentarem ação parcial sobre a germinação de conídios, não compromete a ação destes produtos, pois possíveis penetrações do patógeno em tecidos tratados podem ser prontamente inibidas em função das características sistêmicas e ação curativa destes fungicidas.

Fig. 1
Porcentagem média de inibição do crescimento micelial de Alternaria solani (Isolados AST-01, AST-02, AST-03, AST-04, AST-05) por diferentes fungicidas.

Fig. 2
Porcentagem média de inibição do crescimento micelial de Alternaria solani (Isolados AST-01, AST-02, AST-03, AST-04, AST-05) por diferentes fungicidas.

Tabela 3
Ação de concentração final de fungicidas no crescimento micelial de A. solani (isolado AST-01), avaliado por meio do diâmetro das colônias (cm) e porcentagem de inibição aos 7 dias após a repicagem.
Tabela 4
Ação de concentração final fungicidas no crescimento micelial de A. solani (isolado AST-02), avaliado por meio do diâmetro das colônias (cm) e porcentagem de inibição aos 7 dias após a repicagem.
Tabela 5
Ação de concentração final de fungicidas no crescimento micelial de A. solani (isolado AST-03), avaliado por meio do diâmetro das colônias (cm) e porcentagem de inibição aos 7 dias após a repicagem.
Tabela 6
Ação de concentração final de fungicidas no crescimento micelial de A. solani (isolado AST-04), avaliado por meio do diâmetro das colônias (cm) e porcentagem de inibição aos 7 dias após a repicagem.
Tabela 7
Ação de concentração final de fungicidas no crescimento micelial de A. solani (isolado AST- 05), avaliado por meio do diâmetro das colônias (cm) e porcentagem de inibição aos 7 dias após a repicagem.
Tabela 8
Porcentagens de inibição da germinação de conídios de A. solani dos isolados AST- 01, AST- 03 e AST- 04, frente a 4diferentes grupos fungicidas nas concentrações de 1, 10 e 100 µg.mL-1.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2003

Histórico

  • Recebido
    19 Mar 2003
  • Aceito
    23 Set 2003
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