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OS VERBOS DE DIZER COMO ESTRATÉGIA PARA TRANSEDIÇÃO NAS TRADUÇÕES DO LE MONDE PARA O PORTUGUÊS VIA SITE DA AGÊNCIA RFI: UMA ANÁLISE BASEADA EM CORPUS

RESUMO

Este estudo analisa o discurso relatado como um componente dos procedimentos de tradução da agência de notícias RFI para o jornal Le Monde . Examinamos a frequência do uso de verbos em um corpus comparable-cum-parallel (Francês Europeu (FE) ↔ Português Brasileiro (PB)) denominado Le Monde Journalistic Corpus (JOSTLE), baseado em Linguística de Corpus, Estudos de Tradução Baseados em Corpus e princípios de Tradução Jornalística. Identificamos os verbos mais comumente usados em ambas as línguas. Quaisquer discrepâncias no uso entre os verbos de reportagem e outros verbos empregados nessa função discursiva foram identificadas aplicando o software Sketch Engine . Além disso, observou-se a maior frequência desse recurso discursivo em PB, com os seguintes verbos apresentando a maior incidência estatística no corpus: “dizer” (106), “lembrar” (55), “afirmar” (42), “escrever” (35) e “apontar” (33). Nossa análise descobriu que esses verbos são usados em partes de gatekeeping que tradutores e jornalistas escolhem, sugerindo uma expansão, compressão e elisão dos Textos Fonte (TF) ao longo do processo de transedição .

PALAVRAS-CHAVE
Discurso Jornalístico; Estudos de Tradução Baseados em Corpus; Tradução Jornalística; Transedição; Verbos de Dizer

ABSTRACT

This study looks at reported speech as a component of the RFI news agency’s translation procedures for the newspaper Le Monde . We examined the frequency of verb usage in a comparable-cum-parallel corpus (European French (EF) ↔ Brazilian Portuguese (BP)) named Le Monde Journalistic Corpus ( JOSTLE ), which was based on Corpus Linguistics, Corpus-based Translation Studies, and Journalistic Translation principles. We identified the most commonly used verbs in both languages. Any discrepancies in usage between the reporting verbs and other verbs employed in this discursive function were identified by applying the computer program Sketch Engine. Furthermore, a higher frequency of this discursive resource was observed in BP, with the following verbs having the highest statistical incidence in the corpus: dizer (106), lembrar (55), afirmar (42), escrever (35), and apontar (33). Our analysis discovered that these verbs are used in gatekeeping portions that translators and journalists choose, suggesting an expansion, compression, and elision of Source Texts (ST) throughout a t ransediting process.

KEYWORDS
journalistic discourse; corpus-based translation studies; journalistic translation; transediting; reporting verbs

Introdução

A tradução de notícias, também conhecida como tradução para imprensa e/ou mídia digital, emergiu recentemente como um foco nos Estudos da Tradução ( Holland, 2006HOLLAND, R. Language(s) in the global news: Translation, audience design and discourse (mis)representation. Target, p.229-259, 2006. ; Bielsa, 2007BIELSA, E. Translation in global news agencies. Target. International Journal of Translation Studies, v.19, n.1, p.135-155, 2007. ; Bielsa; Bassnett, 2009BIELSA, E.; BASSNETT, S. Translation in Global News. London/New York: Routledge, 2009. ). Como resultado, diversas técnicas jornalísticas, como a transedição , têm sido amplamente empregadas para avaliar a tradução em notícias específicas e textos jornalísticos ( Hursti, 2001HURSTI, K. An insider's view on transformation and transfer in international news communication: An English-Finnish perspective. The electronic journal of the Department of English at the University of Helsinki , p.1-8, 2001. ; Van Doorslaer, 2009VAN DOORSLAER, L. How language and (non-)translation impact on media newsrooms. The case of newspapers in Belgium. Perspectives , p.83-92, 2009. , 2010VAN DOORSLAER, L. Journalism and translation. In: GAMBIER, Y.; VAN DOORSLAER, L. (ed.). Handbook of Translation Studies. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2010. p.180-184. ). A transedição é um conceito nos Estudos da Comunicação intimamente relacionado com a prática do gatekeeping . Ambos os conceitos se preocupam com os diversos agentes envolvidos na seleção e transmissão de notícias, tanto nacionais quanto internacionais ( White, 1950WHITE, D. M. The 'gatekeeper: A case study in the selection of news. Journalism Quarterly , v.27, p. 383-390, 1950. ). Esses agentes incluem o gatekeeper, o portão ( gate ) e as forças que influenciam os portões, além dos canais pelos quais a informação flui e secciona-se na mídia, tais como coleta de informações, leitura de mensagens, edição, gráficos e aprovação final ( Shoemaker; Riccio, 2015SHOEMAKER, P. J.; RICCIO J. R. Gatekeeping.The International Encyclopedia of Political Communication, Wiley-Blackwell, p.1-5, 2015. , p. 1).

As teses de Henningham (1979)HENNINGHAM, J. P. Kyodo gatekeepers: a study of Japanese news flow. Gazette, Leiden/, Netherlands, v.25, n.1, p.23-30, 1979. Disponível em: https://doi.org/10.1177/001654927902500103 . Acesso em: 12 set. 2022.
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e Fujii (1988FUJII, A. News translation in Japan. Meta, v.33, n.1, p.32-37, 1998. Disponível em: https://id.erudit.org/iderudit/002778ar . Acesso em: 13 set. 2022.
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) representaram trabalhos pioneiros sobre fluxos de notícias internacionais, explorando o papel da tradução no contexto do gatekeeping . Esses estudos sugeriram que os tradutores desempenham um papel crucial ao gerenciar, modificar, aprimorar e reorganizar mensagens. Como resultado, Hernández Guerrero (2009)HERNÁNDEZ GUERRERO, M. J. Traducción y periodismo [Translation and journalism]. Bern: Peter Lang, 2009. destaca que várias estratégias ou abordagens de tradução ( Bassnett, 2004BASSNETT, S.; BUSH, P. (ed.). Writing and translating. The translator as writer. London and New York: Continuum, 2006. p.173-183. ; Fujii, 1988FUJII, A. News translation in Japan. Meta, v.33, n.1, p.32-37, 1998. Disponível em: https://id.erudit.org/iderudit/002778ar . Acesso em: 13 set. 2022.
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; ValdeonVALDEÓN, R. A. On the use of the term "translation" in journalism studies. Journalism: Theory, Practice & Criticism , v.19, n.2, p.252-269, 2018. , 2012, 2015; Van Leeuwen, 2006VAN LEEUWEN, T. Translation, adaptation, globalization: The Vietnam News. Journalism , v.7, n.2, p.217-237, 2006. ) emergem na Tradução Jornalística (TJ), incluindo amplificação, compressão e elisão.

No contexto atual, examinamos os aspectos linguístico-discursivos desses procedimentos (Hernandéz Guerrero, 2006). Estabelecemos conexões entre os conceitos mencionados e as teorias da Linguística de Corpus (LC) ( BakerBAKER, P. Using Corpora in Discourse Analysis. London: Continuum, 2006. ; Hardie; McEneryMCENERY, T.; ANDREW. W. Corpus Linguistics. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1996. , 2006) e dos Estudos de Tradução Baseados em Corpus ( Baker, 1999BAKER, M. Linguística e Estudos Culturais: paradigmas complementares ou antagônicos nos Estudos da Tradução? In: MARTINS, M. A. P. (org.). Tradução e multidisciplinaridade. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999. p.15-34. , 2000BAKER, M. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target , v.12:2, p.241-266, 2000. ; Laviosa, 1998LAVIOSA, S. The Corpus-based Approach: A New Paradigm in Translation Studies. Meta: journal des traducteurs/ Meta: Translators' Journal, v.43, n.4, p.474479, 1998. , 2002LAVIOSA, S. Corpus-based Translations Studies: Theory, Findings, Applications. Amsterdam: Rodopi, 2002. , 2004LAVIOSA, S. Corpus-based translation studies: Where does it come from? Where is it going? TradTerm, n.10, p. 29-57, 2004. ). Nosso objetivo é criar um corpus composto por textos em Francês Europeu (FE) ↔ Português Brasileiro (PB) originados do jornal Le Monde e suas traduções correspondentes pelo portal de notícias brasileiro RFI 3 3 Original: “ However, news agencies tend to employ something other than translators as such. This is because translation is not conceived as separate from other journalistic tasks of writing up and editing and is mainly assumed by the news editor, who usually works as part of a desk where news reports are edited and translated, and sent to a specific newswire ” ( Bielsa; Bassnett, 2009 , p. 57). . Este corpus , denominado Le Monde Journalistic Corpus [JOSTLE], consiste em textos coletados entre janeiro e novembro de 2020. Posteriormente, utilizamos o programa computacional Sketch Engine ( Killgariff et al., 2014KILGARRIFF, A. et al. The Sketch Engine: ten years on. Lexicography, v.1, n.1, p.7-36, 2014. ) e usamos duas de suas funcionalidades, frequência e concordância , para analisar os dados compilados.

Consequentemente, nossa pesquisa foca na identificação dos padrões emergentes e na análise da frequência absoluta de verbos de dizer no JOSTLE, usando a ferramenta WordList . Notamos uma ocorrência significativa desse tipo de verbos em PB, como “dizer” (106), “lembrar” (55), “afirmar” (42), “escrever” (35) e “contar” (29). Esses verbos foram consistentemente usados por tradutores/jornalistas, servindo como um “parâmetro” que se alinha aos princípios delineados por Hernández Guerrero (2009)HERNÁNDEZ GUERRERO, M. J. Traducción y periodismo [Translation and journalism]. Bern: Peter Lang, 2009. . Esta observação reforça os conceitos de transedição e gatekeeping na prática da escrita jornalística.

O uso de ideias diversas, frequentemente vistas em notícias, sugere que os tradutores escolhem alguns verbos de dizer (ou dicendi ) mais frequentemente do que outros. Esta preferência está intimamente ligada aos mecanismos de gatekeeping , que regulam a seleção de informações dos Textos Fonte (TF) e contribuem para a técnica de transedição da elisão nos Textos Meta (TM).

Vale ressaltar que Hernández Guerrero (2008HERNÁNDEZ GUERRERO, M. J. La traducción de la información científica en la prensa española: el diario El Mundo. Sendebar , v.19, p.167-187, 2008. , 2010bHERNÁNDEZ GUERRERO, M. J. Las noticias traducidas en el diario “El Mundo”: el trasvase transcultural de la información. In: VALDEÓN, R. A. Translation information. Ovedo: Universidad de Oviedo, 2010b. ) foi pioneira ao estabelecer a conexão entre elisão e transedição . Compreendemos, assim, que a seleção de verbos de dizer desempenha um papel estratégico no gatekeeping , facilitando o processo planejado de transedição pela RFI e permitindo a gestão do discurso da plataforma de acordo com o público-alvo das notícias. Além disso, investigamos os padrões de uso do discurso relatado nos TMs, utilizando as ferramentas Concordance e N-Grams para explorar o comportamento desses verbos no contexto de materiais jornalísticos traduzidos por uma agência de notícias. Adicionalmente, avaliamos como a repetição de estruturas verbais e de combinações linguísticas idênticas podem ser analisadas utilizando a LC, a fim de demonstrar a manifestação da elisão na criação de artigos transeditados.

A escolha do Le Monde é sustentada por seu status como um dos principais jornais de língua francesa de renome internacional. Além disso, sua provisão única de traduções para o Português Brasileiro posiciona-o como um canal indispensável de notícias globais para os falantes de português. O processo de tradução é confiado à RFI, uma agência de notícias brasileira selecionada e devidamente autorizada para esta tarefa, garantindo um padrão de fidelidade linguística compatível com os valores jornalísticos da publicação.

Adicionalmente, o regime de tradução do Le Monde abrange um protocolo rigoroso caracterizado por um meticuloso escrutínio de características linguísticas delineadas por Hernández Guerrero (2009HERNÁNDEZ GUERRERO, M. J. Traducción y periodismo [Translation and journalism]. Bern: Peter Lang, 2009. , 2011) como parte integral do paradigma de tradução jornalística. Entre essas características, os fenômenos de elisão e transedição são sujeitos a uma análise criteriosa, visando preservar tanto a coerência textual quanto a equivalência semântica na tradução. Notavelmente, a integração inovadora de metodologias baseadas em corpus para informar tais avaliações tradutórias sinaliza uma abordagem progressiva dentro do campo da tradução jornalística, emblemática de um compromisso com o rigor acadêmico e a excelência tradutória na comunicação intercultural.

Portanto, a presente pesquisa está fundamentada nas teorias de tradução jornalística e nas análises empíricas baseadas em corpora no contexto brasileiro, especialmente em relação a textos originados da língua francesa. Além disso, visa examinar como os verbos de dizer são empregados nos processos de gatekeeping e transedição , influenciando as escolhas dos tradutores quanto aos segmentos a serem traduzidos dos TFs e como são apresentados nos TMs. Esta investigação contribuirá para o aprimoramento das teorias de tradução jornalística, ampliando a compreensão dos conceitos propostos por Gambier (2009GAMBIER, Y.; VAN DOORSLAER, L. (ed.). The Metalanguage of Translation. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2009. ) e Bassnett (2006BASSNETT, S.; BUSH, P. (ed.). Writing and translating. The translator as writer. London and New York: Continuum, 2006. p.173-183. ).

Transedição e Gatekeeping

No campo dos Estudos da Tradução, os textos jornalísticos frequentemente foram ofuscados por outras categorias textuais, como literatura, textos acadêmicos e escritos especializados. Apesar das extensas pesquisas sobre a linguagem do jornalismo, há uma necessidade significativa de reconhecer a importância da tradução na produção de notícias ( Palmer, 2009PALMER, J. News gathering and dissemination. In: BAKER, M.; SALDANHA, G. (ed.). Routledge Encyclopedia of Translation Studies. 2nd ed. London & New York: Routledge, 2009. p. 186-189. , p. 186). Consequentemente, mais recentemente, o estudo da Tradução Jornalística (TJ) ganhou reconhecimento como um ramo distinto nos Estudos da Tradução ( McLaughlin, 2013MCLAUGHLIN, M. News translation as a source of syntactic borrowing in Italian. The Italianist , v.33, n.3, p.443-463, 2013. ).

A TJ envolve várias ações, como cortar, editar, reformular, esclarecer e adaptar para adequar-se às preferências estilísticas internas ( BassnettBAKHTIN, M./VOLOCHÍNOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2004. p.31-38. , 2006). Inclui regularmente a modificação de títulos, a remoção de informações desnecessárias, a adição de novas informações, a alteração da ordem dos parágrafos e o resumo do conteúdo ( Van Doorslaer, 2010cVAN DOORSLAER, L. Journalism and translation. In: GAMBIER, Y.; VAN DOORSLAER, L. (ed.). Handbook of Translation Studies. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2010. p.180-184. ). Procedimentos como reorganização, exclusão, adição e substituição ( Schäffner, 2012aSCHÄFFNER, C. Rethinking transediting. Meta, v.57, p.866-883, 2012a. Disponível em: https://id.erudit.org/iderudit/1021222ar . Acesso em: 13 set. 2022.
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), síntese, omissão e generalização ( TsaiTSAI, C. News translator as reporter. In: SCHÄFFNER, C.; BASSNETT, S. (ed.). Political Discourse, Media and Translation. Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing, 2010. p.178-197. , 2006) são comumente empregados na tradução de notícias.

O termo transedição tem sido usado por alguns estudiosos para descrever o tipo de modificações textuais que ocorrem durante o processo de tradução ( Gambier, 2009GAMBIER, Y.; VAN DOORSLAER, L. (ed.). The Metalanguage of Translation. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2009. ; Hernández Guerrero, 2009HERNÁNDEZ GUERRERO, M. J. Traducción y periodismo [Translation and journalism]. Bern: Peter Lang, 2009. , 2011). Este conceito foi inicialmente proposto por Karen Stetting em 1989STETTING, K. Transediting - A new term for coping with the grey area between editing and translating. In: GRAHAM, C.; HAASTRUP, K.; ARNT, L. J. et al. (ed.). Proceedings from the Fourth Nordic Conference for English Studies. Copenhagen: University of Copenhagen, 1989. p.371-382. . Embora o uso do termo por Stetting não se limitasse ao contexto jornalístico, ela forneceu uma lista de quatro exemplos de transedição na TJ, incluindo:

  1. Condensar seções do texto em subtítulos;

  2. Adaptar um discurso político com material idiomático e organizá-lo de acordo com dados culturais;

  3. Limpar manuscritos rascunhados;

  4. Compor novos textos de jornalistas redigindo material em várias línguas.

Stetting (1989)STETTING, K. Transediting - A new term for coping with the grey area between editing and translating. In: GRAHAM, C.; HAASTRUP, K.; ARNT, L. J. et al. (ed.). Proceedings from the Fourth Nordic Conference for English Studies. Copenhagen: University of Copenhagen, 1989. p.371-382. categorizou a transedição em três ações: ajuste, trânsito situacional e trânsito cultural. O ajuste refere-se à adaptação da expressão para atender aos padrões de eficiência; o trânsito situacional envolve ajustar TM de acordo com sua função pretendida, e o trânsito cultural consiste em adaptar o texto para atender às necessidades e convenções da cultura alvo (p. 377). Desde então, o termo transedição tem sido usado pela autora para distinguir processos de TJ da tradução convencional . Outros autores argumentam que esse tipo de reescrita traduzida, não limitado apenas à tradução de notícias, vai além da tradução literal e sugere que, na reescrita do TF, há casos em que o próprio TF é reorganizado ( Schrijver et al., 2016SCHRIJVER, I. et al. The impact of writing training on transediting in translation, analyzed from a product and process perspective. Perspectives , v.24, n.2, p.218-234, 2016. ).

De acordo com Bielsa e Bassnett (2009)BIELSA, E.; BASSNETT, S. Translation in Global News. London/New York: Routledge, 2009. , a transedição é considerada desnecessária, ao assumir a existência de uma forma distinta de tradução de notícias. No entanto, Schäffner (2012aSCHÄFFNER, C. Rethinking transediting. Meta, v.57, p.866-883, 2012a. Disponível em: https://id.erudit.org/iderudit/1021222ar . Acesso em: 13 set. 2022.
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) argumenta que a tradução já abrange atividades de transedição . A autora sustenta que, similarmente aos termos transadaptação , usado em tradução de tela/audiovisual ( GambierGAMBIER, Y. The position of audiovisual translation studies. In: MILLÁN, C.; BARTRINA, F. (ed.). The Routledge Handbook of Translation Studies. 1st. ed. London: Routledge, 2013. , 2003), e transcriação , usado em tradução de marketing e publicidade ( Pedersen, 2014PEDERSEN, D. Exploring the concept of transcreation – transcreation as “more than translation””. The Journal of Intercultural Mediation and Communication, Transcreation and the Professions, v.7, p.57-71, 2014. ), a transedição destina-se a enfatizar processos que vão além de meras mudanças linguísticas. Schäffner afirma que o termo não abrange uma definição mais ampla ao restringir a tradução ao seu sentido convencional de reescrita interlinguística literal.

Além disso, como afirma Zanettin (2021)ZANETTIN, F. News media translation. Cambridge: Cambridge University Press, 2021. , a tradução nos contextos de notícias envolve reescrita interlinguística, comumente conhecida como tradução “propriamente dita” na linguagem geral. Isso ocorre porque o processo de edição e tradução estão entrelaçados. Na redação de notícias, a fronteira entre tradução interlingual e intralingual torna-se turva, e a tradução é melhor compreendida como um procedimento de mudança textual, em vez de buscar uma equivalência textual estrita, já que muitas fontes substituem frequentemente o TF.

Esses conceitos e o princípio de gatekeeping formam a base do que Vuorinen (1997)VUORINEN, E. News translation as gatekeeping. In: SNELL-HORNBY, M.; JETTMAROVA, Z.; KAINDL, K. (ed.). Translation as Intercultural Communication. Selected papers from the EST Congress - Prague. Amsterdam: John Benjamins, 1997. p.161-171. descreve como operações de gatekeeping na tradução de notícias. Essas operações abrangem exclusão, adição, substituição e reorganização, e devem ser reconhecidas como componentes integrais das operações textuais regulares realizadas durante a tradução, particularmente na tradução de notícias ( Vuorinen, 1997VUORINEN, E. News translation as gatekeeping. In: SNELL-HORNBY, M.; JETTMAROVA, Z.; KAINDL, K. (ed.). Translation as Intercultural Communication. Selected papers from the EST Congress - Prague. Amsterdam: John Benjamins, 1997. p.161-171. ). Além disso, Perrin et al. (2017PERRIN, D.; EHRENSBERGER-DOW, M.; ZAMPA, M. Translation in the newsroom: Losing voices in multilingual news flows. Journal of Applied Journalism & Media Studies , v.6, n.3, p.463-483, 2017. , p. 468) entendem que a disponibilidade ou a falta de especialistas em tradução também pode ser considerada uma forma de mecanismo de gatekeeping . ValdeónVALDEÓN, R. A. On the use of the term "translation" in journalism studies. Journalism: Theory, Practice & Criticism , v.19, n.2, p.252-269, 2018. (2020, p. 6) propõe uma diferenciação entre papéis de gatekeeping nos primeiros e segundos níveis de tradução, onde o primeiro nível se refere à seleção de notícias e o segundo nível relaciona-se à transformação das notícias.

Por fim, Shoemaker e Riccio (2015)SHOEMAKER, P. J.; RICCIO J. R. Gatekeeping.The International Encyclopedia of Political Communication, Wiley-Blackwell, p.1-5, 2015. observam que o modelo linear de gatekeeping que surgiu após a Segunda Guerra Mundial se transformou em um modelo complexo, multidirecional e transnacional. Nesse modelo em evolução, os canais de gatekeeping se intersectam e se estendem mundialmente, criando uma estrutura em forma de teia. Além disso, o processo de seleção e transmissão de notícias agora envolve muitas pessoas, em vez de um pequeno grupo de jornalistas.

Com o aumento dos dispositivos móveis como o principal meio de acesso à informação, gigantes digitais como Google, Facebook e Twitter estão substituindo os jornais como canais de consumo de notícias. À medida que algoritmos personalizados pelos usuários moldam e filtram o conteúdo das notícias, criando o que Pariser (2011)PARISER, E. The Filter Bubble: What the Internet Is Hiding from You. New York: The Penguin Press, 2011. chama de bolhas de filtro ao redor dos usuários de notícias, há uma crescente preocupação de que os jornalistas possam perder seu papel tradicional como gatekeepers , conforme destacado por Marantz (2020)MARANTZ, A. Big swinging brains and fashy trolls: How the world fell into a clickbait death spiral The Guardian Retrieved. 2020. Disponível em: www.theguardian.com/ technology/2020/feb/07/big-swinging-brains-fashy-trolls-clickbait-death-spiralinternet-media. Acesso em: 13 set. 2022.
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Estudos de Tradução Jornalística

Conforme destacado por Palmer (2009)PALMER, J. News gathering and dissemination. In: BAKER, M.; SALDANHA, G. (ed.). Routledge Encyclopedia of Translation Studies. 2nd ed. London & New York: Routledge, 2009. p. 186-189. , a seção News gathering and dissemination , na segunda edição da Routledge Encyclopedia of Translation Studies , ressalta a importância do estudo da Tradução Jornalística. Este campo pode ser compreendido como um tipo de discurso que engendra diversos efeitos.

Astirbei (2011)ASTIRBEI, C. E. Particularités de la traduction du texte de presse: le problème du titre journalistique. Traduire: revue française de La traduction, Paris, v.225, p.33-48, 2011. Disponível em: http://traduire.revues.org/85 . Acesso em: 20 ago. 2022.
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levanta um ponto intrigante no contexto dos Estudos de TJ. O autor observa que não há consenso sobre a definição de TJ em si, pois muitas pessoas não consideram as “adaptações” vistas na imprensa escrita como traduções. O processo de produção de notícias envolve múltiplas etapas, desde a coleta de dados até a publicação, abrangendo várias ações, como adaptação, adição, expansão, explicação, resumo, reformulação e recontextualização. Diferentes termos têm sido usados na literatura para descrever esse empreendimento. Stetting (1989STETTING, K. Transediting - A new term for coping with the grey area between editing and translating. In: GRAHAM, C.; HAASTRUP, K.; ARNT, L. J. et al. (ed.). Proceedings from the Fourth Nordic Conference for English Studies. Copenhagen: University of Copenhagen, 1989. p.371-382. , p. 371) referiu-se a isso como uma estratégia de tradução pragmática envolvendo edição, enquanto Snell-Hornby (2006)SNELL-HORNBY, M. The Turns of Translation Studies. Amsterdam & Philadelphia: John Benjamins, 2006. o descreveu como modificação de tradução ou adaptação de tradução, com o TF sendo visto como matéria-prima com objetivos específicos.

Na tradução de notícias, BassnettBASSNETT, S.; BUSH, P. (ed.). Writing and translating. The translator as writer. London and New York: Continuum, 2006. p.173-183. (2004) aponta que o papel do tradutor envolve resumir ou adaptar o conteúdo para atender aos leitores-alvo, remodelando, editando ou sintetizando o fluxo de informações entre diferentes culturas. Por sua vez, Van Doorslaer (2010)VAN DOORSLAER, L. Journalism and translation. In: GAMBIER, Y.; VAN DOORSLAER, L. (ed.). Handbook of Translation Studies. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2010. p.180-184. afirma que o contexto específico da tradução de notícias traz uma perspectiva distinta em comparação com a tradução tradicional. Envolve uma constante remodelação e reescrita tanto dos TFs quanto dos TMs, abordando questões além das considerações linguísticas e estendendo-se aos domínios de integração e desintegração do status dos TFs. Essa modulação influencia o potencial para construir a realidade. Embora o material jornalístico internacional exija tradução, os textos jornalísticos em línguas estrangeiras são utilizados como fontes para a produção de notícias, em vez de serem tratados como textos jornalísticos que precisam de tradução. Hernández Guerrero (2016HERNÁNDEZ GUERRERO, M. J. Traducción y opinión pública global: el caso de Project Syndicate. In: MARTÍN RUANO, M. R.; CLARAMONTE, Á. V. (ed.). Traducción, medios de comunicación, opinión pública. Granada: Comares, 2016. p.53-72. , p. 72, tradução própria) apoia ainda mais essa noção ao dizer que:

A tradução desempenha um papel cada vez mais importante na produção de novas informações, não apenas em textos traduzidos, mas também em um número infinito de trabalhos informativos nos quais a atividade do tradutor é utilizada como fonte de informação; o produto resultante, intercalado ou não com outros textos ou fragmentos de textos, gera novas informações integradas à produção da cultura receptora. Esses diversos tipos complexos de reescrita atendem às demandas de informação das organizações de notícias e cumprem seu objetivo final: a entrega de informações.2 2 Original: “ La traducción desempeña un papel cada vez más importante en la producción de nueva información y no sólo en textos traducidos que gozan de dicho estatus, sino también en una infinida de textos informativos en los que se recurre a la actividad traductora como fuente generadora de informacíon; el producto resultante, entremezclado o no con otros textos o fragmentos de textos, da lugar a nueva información que se integra en la producción propia de la cultura receptora. Estos tipos de reescritura, variados y complejos, vienen a cubrir las necessidades informativas de las empresas periodísticas y sirven a su fin último: la transmisión de la información ” ( Hernández Guerrero, 2016 , p. 72).

Embora a autora não aborde explicitamente as vantagens do conceito de gatekeeping, sua perspectiva está alinhada com as propostas apresentadas por Bell (1991)BELL, A. The Language of News Media . Oxford: Blackwell, 1991. e van DijkVAN DIJK, T. A. News as Discourse. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates, 1988. (1985). Esses estudiosos veem a tradução como um meio de controlar o fluxo de informações mediante canais de comunicação. Os gatekeepers desempenham um papel crucial nesse processo, selecionando quais comunicações ou dados devem ser permitidos a fluir por esses canais e determinando o conteúdo e a apresentação das mensagens.

Há uma tendência crescente de contratar jornalistas em vez de tradutores na indústria de mídia, embora a tradução sempre tenha sido uma parte integral dos serviços de produção e propagação de notícias. Segundo Bielsa e Bassnett (2009BIELSA, E.; BASSNETT, S. Translation in Global News. London/New York: Routledge, 2009. , p. 57, tradução própria):

No entanto, as agências de notícias tendem a empregar algo diferente de tradutores como tal. Isso ocorre porque a tradução não é concebida como separada de outras tarefas jornalísticas de redação e edição, sendo principalmente assumida pelo editor de notícias, que geralmente trabalha como parte de uma equipe onde os relatórios de notícias são editados e traduzidos, e enviados para uma agência de notícias específica.3 3 Original: “ However, news agencies tend to employ something other than translators as such. This is because translation is not conceived as separate from other journalistic tasks of writing up and editing and is mainly assumed by the news editor, who usually works as part of a desk where news reports are edited and translated, and sent to a specific newswire ” ( Bielsa; Bassnett, 2009 , p. 57).

A falta de atribuição a um especialista responsável pelas traduções sublinha uma tendência significativa. Hernández Guerrero (2010HERNÁNDEZ GUERRERO, M. J. Translated interviews in printed media: A case study of the Spanish daily El Mundo. Across Languages and Cultures , v.11, n.2, p.217-232, 2010a. , p. 68-69) observa o apagamento do produtor de notícias na imprensa, com o nome do tradutor sendo notavelmente ausente. Essa ausência de identificação é comumente vista quando a autoria é considerada um esforço coletivo e erroneamente associada à responsabilidade pelo conteúdo gerado ( Bielsa; Bassnett, 2009BIELSA, E.; BASSNETT, S. Translation in Global News. London/New York: Routledge, 2009. , p. 70). Consequentemente, os jornalistas que assumem tarefas de tradução estão ampliando seu papel.

Em seu trabalho, Hernández Guerrero (2021) explica que tradutores/jornalistas empregam várias estratégias para personalizar o material para seu público-alvo durante as etapas de transformação e manipulação da tradução de notícias. Em seu ensaio “Técnicas específicas de la traducción periodista”, a pesquisadora revisita o tema dos métodos de tradução e os define como procedimentos, frequentemente expressos verbalmente, que se tornam evidentes no resultado da tradução. Esses métodos são apresentados de três maneiras diferentes:

  1. Amplificação linguística

  2. Compressão linguística

  3. Elisão

A amplificação linguística envolve adicionar informações que não estão presentes no TF. Esta técnica é comumente usada na tradução jornalística devido às circunstâncias mutáveis da recepção do texto. Por outro lado, a compressão linguística refere-se à combinação de elementos linguísticos.

Esses métodos reconhecem os novos requisitos do canal-alvo e o formato em que o material traduzido será apresentado. Esse cenário de comunicação frequentemente exige o uso de estratégias para reduzir o conteúdo textual, já que o espaço disponível é determinado pela editoração digital. Cada artigo tem um comprimento fixo atribuído e os editores sabem o espaço destinado à sua composição. As assimetrias surgem quando um texto originalmente destinado a um meio é publicado em um canal diferente, afetando tanto o manuseio do material quanto o espaço a ele alocado. Por exemplo, uma notícia nacional amplamente coberta no veículo cultural de saída pode ser condensada em um breve relato internacional no veículo cultural de entrada.

Hernández Guerrero (2006)HERNÁNDEZ GUERRERO, M. J. Técnicas específicas de la traducción periodística. Quaderns. Revista de traducción , n.13, p.125-139, 2006. aponta que a aplicação dessas técnicas tem efeitos discursivos, já que o texto difere significativamente do original. Esses efeitos podem variar desde a seleção de passagens específicas em um texto até casos em que a variedade textual foi alterada.

Por fim, há a técnica da elisão. Quando o TM tem espaço limitado em comparação com o TF, o tradutor emprega técnicas de síntese, omissão ou elisão linguística. A elisão é uma prática comum que influencia vários gêneros no jornalismo, embora em graus variados. Em pesquisas anteriores (Hernández Guerrero, 2004), a autora observa que, nos gêneros jornalísticos, os textos originais servem como base para a criação de um novo texto que serve como notícia para um público diferente e adere a novas normas textuais. Não é surpreendente que certas seções do texto sejam omitidas, já que não são mais consideradas essenciais para o leitor contemporâneo. Essas estratégias são necessárias para as notícias operarem efetivamente no novo contexto de comunicação.

Nesta pesquisa, vemos essas estratégias como intercambiáveis e originárias da mesma prática de tradução: a remoção deliberada de partes do TF por razões editoriais e ideológicas, influenciadas tanto pelo tradutor quanto pelo meio através do qual as traduções são disseminadas aos leitores. Para implementar essas estratégias, como mencionado anteriormente, argumentamos que tradutores/jornalistas empregam verbos de dizer como uma “ferramenta” para condensar ou eliminar seções dos TMs, fornecendo evidências de suporte para os fatos noticiosos selecionados por meio do gatekeeping . Através da análise de Linguística de Corpus, podemos identificar os verbos mais frequentemente usados no corpus JOSTLE. Em seguida, observamos como o processo de transedição se desdobra em textos jornalísticos, considerando o comprimento do texto, a transformação dos fatos e as omissões intencionais que se alinham com os objetivos da RFI .

Verbos de dizer e suas construções linguísticas

Os verbos de dizer são frequentemente utilizados em artigos de jornais para introduzir ou referenciar discursos previamente mencionados de forma indireta. Vários manuais de redação e estilo para autores no Brasil, como o Manual de redação e estilo do Estado de S. Paulo (1990) e o Manual de redação e estilo do Globo (1992), fornecem listas desses verbos para marcar o início de declarações e evitar o “jargão jornalístico”. No entanto, há discordância entre linguistas quanto ao valor e uso dos verbos de dizer, especialmente no gênero de notícias, pois esses possuem qualidades polifônicas e intertextuais e fazem parte do discurso relatado. Diante disso, os conceitos de polifonia e intertextualidade devem ser considerados no jornalismo ( Koch, 2013KOCH, I. V. O texto e a construção dos sentidos. 10. ed. 2. reimpr. São Paulo: Contexto, 2013. ). Teorias de comunicação sugerem que todo texto, incluindo notícias, é influenciado pelas vozes de múltiplos enunciadores, às vezes concordantes e às vezes discordantes, destacando a natureza dialogada e polifônica inerente da linguagem humana.

Koch, Bentes e Cavalcante (2012) chamam a atenção para um conjunto de características compartilhadas em termos de estrutura, escolha lexical, uso de tempos verbais, advérbios e outros elementos dêiticos. Esses elementos podem ser identificados em sequências específicas em gêneros literários como narrativo, descritivo e explicativo.

Na tradução de notícias, a transedição frequentemente resulta em indicar explicitamente a fonte de intertextualidade nos TMs jornalísticos. Isso é alcançado referenciando os TFs e gerando conexões intertextuais. O uso de verbos de dizer aprimora a tradução ao enfatizar que o apresentador é o jornal original, e não o tradutor/jornalista ou a agência de notícias.

Maingueneau (1996)MAINGUENEAU, D. Elementos da linguística para o texto literário. Tradução Maria Augusta Bastos de Mattos. São Paulo: Martins Fontes, 1996. explica que identificar passagens intertextuais envolve diferenciar entre discurso relatado e fragmentos citados. Os verbos de dizer, que introduzem discurso direto e indireto, incorporam os elementos mencionados dos TFs nos TMs. Para entender melhor seu papel no discurso jornalístico, Nascimento (2009)NASCIMENTO, E. P. Jogando com as vozes do outro: argumentação na notícia jornalística. João Pessoa: Editora da UFPB, 2009. classifica os verbos de dizer em não-modalizadores e modalizadores. Segundo o autor, os verbos não-modalizadores transmitem o discurso de outros sem adicionar qualquer julgamento pessoal ou avaliação, como dizer, falar, indagar, responder e concluir. Por outro lado, os verbos modalizadores apresentam o discurso de outra pessoa enquanto implicam uma avaliação, modificação ou direção pelo falante, como acusar, afirmar, protestar e declarar. O autor explica que os verbos de dizer modalizadores podem ser tanto epistêmicos, indicando o nível de convicção do produtor sobre o discurso escrito, quanto avaliativos, emitindo um julgamento de valor sobre o discurso relatado e orientando sua interpretação.

No contexto da modalização de verbos de dizer, é pertinente revisitar as investigações conduzidas por Costa e Freitas (2019)COSTA, B. F. S.; FREITAS, C. Um léxico de verbos do dizer para tradutores-e considerações sobre a classificação dos verbos de elocução. Calidoscópio , v.17, n.3, 2019. . As pesquisadoras oferecem uma taxonomia sistemática de verbos de ato de fala na língua portuguesa, com o objetivo de fornecer um padrão estruturado que facilite a compreensão e análise de discursos verbais. Inicialmente, onze categorias primárias são delineadas, cada uma delimitando funções comunicativas distintas dos verbos mencionados.

A categoria “declaração” encapsula verbos que inauguram qualquer forma de enunciação, enquanto a categoria “pergunta” é designada para aqueles que instigam inquirições. Posteriormente, a categoria “resposta” engloba verbos que introduzem respostas a inquirições ou declarações. A categoria “destaque” concede ênfase ou relevância ao conteúdo, enquanto a categoria “continuidade/conclusão” sinaliza a progressão ou conclusão do discurso. A categoria “emoções/exclamações” articula os sentimentos ou emoções do falante, enquanto a categoria “ordem/solicitação/sugestão” transmite um tom imperativo, solicitatório ou sugestivo. A categoria “hesitação/consideração” denota contemplação ou indecisão em relação ao discurso proferido, enquanto a categoria “concordância/desacordo” situa o falante a favor ou contra uma ideia ou interlocutor. A categoria “suposição/certeza” expressa conjecturas, incertezas ou certezas. Por fim, a categoria “outros” engloba verbos que não se alinham com as classificações anteriores. Essa taxonomia sistemática visa fornecer um instrumento valioso para a análise linguística, tradução e compreensão de discursos verbais em contextos diversos.

Dado o exposto e considerando a análise de corpus desta pesquisa, podemos observar padrões de estrutura verbal predefinidos em textos jornalísticos, um fenômeno linguístico identificado na LC. Esse fenômeno envolve um único item sendo acompanhado por múltiplos elementos que reagem a diferentes componentes sintáticos.

Estudiosos como Firth (1957)FIRTH, J. R. Papers in linguistics 1934-1951. Londres: Oxford University Press, 1957. e Sinclair (1991)SINCLAIR, J. Corpus, concordance, collocation. Oxford: Oxford University Press, 1991. defendem a abordagem baseada em frequência, que consideram a coocorrência de palavras em uma determinada proximidade como uma concordância. Havu e McLaughlinHAVU, E.; MCLAUGHLIN, M. Le discours rapporté et l'agentivité du journaliste dans les dépêches d'agences de presse. Synergies Pays Riverains de la Baltique , v.15, article 5, p.65-82, 2022. Disponível em: http://gerflint.fr/Base/Baltique15/havu_mclaughlin.pdf . Acesso em: 27 jun. 2024.
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(2021) apoiam esse conceito examinando um corpus de traduções jornalísticas do inglês para o francês. Demonstram duas sequências de discurso relatado conectadas por um verbo de transferência na forma inacabada em -ant (particípio presente ou gerúndio). Os autores notaram que as agências de notícias, como a RFI , frequentemente utilizam discurso relatado indireto e empregam padrões linguísticos comuns ao inglês e ao francês. Embora não analisem especificamente os verbos de dizer, suas descobertas contribuem para nossa análise ao enfatizar frases comuns e padrões de uso de verbos predefinidos na tradução jornalística.

Linguística de Corpus: tradução jornalística como estudo de caso

Nos Estudos de Tradução Baseados em Corpus, vale a pena revisitar os conceitos fundamentais relativos a corpus . Baker, Hardie e McEneryBAKER, M. In other Words: A Coursebook on Translation. London & New York: Routledge, 1992. (2006) introduziram a noção de corpus como uma coleção de textos armazenados em um banco de dados eletrônico. Os corpora consistem em conjuntos extensos de textos legíveis por máquina contendo centenas de milhões de palavras. Esses textos são cuidadosamente selecionados para representar uma variação linguística ou um gênero específico, servindo como uma referência confiável.

Nos Estudos de Tradução, Mona Baker (1995) propôs três tipos de corpora para investigação. Corpora comparáveis consistem em duas coleções distintas de textos no mesmo idioma: uma contém textos originais no idioma analisado. Ao mesmo tempo, a outra contém traduções para esse idioma a partir de um idioma ou idiomas de origem específicos. Os corpora paralelos , por outro lado, consistem em textos no idioma de origem (idioma A) e suas versões traduzidas correspondentes no idioma de destino (idioma B). Por fim, os corpora multilíngues compreendem dois ou mais corpora monolíngues em idiomas diferentes, desenvolvidos na mesma instituição ou em instituições diferentes, de acordo com critérios de design semelhantes.

A aplicação da LC nos Estudos de Tradução tem uma história notável, com Baker (1996BAKER, M. Corpus-based translation studies: the challenges that lie ahead. In: SOMERS, H. (ed.). Terminology, LSP, and translation studies in language engineering, in honour of Juan C. Sager. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 1996. p. 175-186. , 1999BAKER, M. Linguística e Estudos Culturais: paradigmas complementares ou antagônicos nos Estudos da Tradução? In: MARTINS, M. A. P. (org.). Tradução e multidisciplinaridade. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999. p.15-34. , 2000BAKER, M. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target , v.12:2, p.241-266, 2000. ) e Laviosa (1998LAVIOSA, S. The Corpus-based Approach: A New Paradigm in Translation Studies. Meta: journal des traducteurs/ Meta: Translators' Journal, v.43, n.4, p.474479, 1998. , 2002LAVIOSA, S. Corpus-based Translations Studies: Theory, Findings, Applications. Amsterdam: Rodopi, 2002. , 2004LAVIOSA, S. Corpus-based translation studies: Where does it come from? Where is it going? TradTerm, n.10, p. 29-57, 2004. ) como contribuintes críticos para o campo. No entanto, até cerca de uma década atrás, era necessário fazer mais pesquisas sobre tradução de notícias dentro dessa estrutura, pois tal tradução não era amplamente reconhecida como uma forma textual significativa que merecia uma análise aprofundada.

Tem havido, no entanto, pesquisas consideráveis utilizando a LC no contexto dos processos de JT, conforme destacado por autores como Caimmoto e Gasparini (2018CAIMOTTO, M. C.; GASPARI, F. Corpus-based study of news translation: Challenges and possibilities. Across Languages and Cultures , v.19, n.2, p.205-220, 2018. ), Valdeón (2018)VALDEÓN, R. A. On the use of the term "translation" in journalism studies. Journalism: Theory, Practice & Criticism , v.19, n.2, p.252-269, 2018. e Davier e Van Doorslaer (2018)DAVIER, L.; VAN DOORSLAER, L. Translation without a source text: Methodological issues in news translation. Across Languages and Cultures , v.19, n.2, p.241-257, 2018. . Por exemplo, Laviosa (2002)LAVIOSA, S. Corpus-based Translations Studies: Theory, Findings, Applications. Amsterdam: Rodopi, 2002. investiga o uso e as expressões relacionadas à Europa, como Europe, European Union, UE e Union , e seus vários equivalentes em inglês. O objetivo do estudo é explorar como a identidade britânica é retratada nos discursos políticos originais e traduzidos em inglês.

De acordo com Baker (1995), pesquisas anteriores nesse campo utilizaram principalmente corpora comparáveis . No entanto, Zanettin (2014) introduz o conceito de comparable-cum-parallel corpus , destacando que, em contextos digitais, a criação de corpus envolve diversos comportamentos, como textos traduzidos e hibridizados. Consequentemente, um artigo traduzido geralmente combina conteúdo traduzido com material novo e independente. Isso significa que um grande corpus de textos jornalísticos, que consiste tanto em TFs quanto em TTs, pode ser considerado comparável e paralelo (de acordo com o conceito de comparable-cum-parallel ). Ele contém conteúdo especializado que é semelhante, mas nem sempre idêntico em tamanho.

Além disso, estudos que utilizam tais corpora possuem um banco de dados constantemente atualizado com novos textos adaptados às exigências de publicação e dos pesquisadores. Como exemplo, Gaspari (2013)GASPARI, F. A Phraseological Comparison of International News Agency Reports Published Online: Lexical Bundles in the English-language Output of ANSA, Adnkronos, Reuters and UPI. In: HUBER, M.; MUKHERJEE, J. (ed.). Corpus Linguistics and Variation in English: Focus on Non-native Englishes. Proceedings of ICAME 31. VARIENG: Studies in Variation, Contacts and Change in English, v.13, 2013. Disponível em: www.helsinki.fi/varieng/series/ volumes/13/gaspari/. Acesso em: 27 jun. 2024.
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conduziu um estudo fraseológico de textos de agências de notícias internacionais publicados em um ambiente virtual. Sua pesquisa é baseada em material existente em inglês, parcialmente traduzido de fontes originais italianas, às vezes por jornalistas, produzidas desde o início por aqueles cuja língua materna não é o inglês, e ocasionalmente como parte de resumos interlinguísticos. O tradutor também realiza edição ou correção em casos em que há um foco significativo das notícias na Itália, informações explicativas ou preliminares são frequentemente fornecidas para o benefício dos leitores estrangeiros. Como resultado, surgem textos mediados ( Gaspari, 2013GASPARI, F. A Phraseological Comparison of International News Agency Reports Published Online: Lexical Bundles in the English-language Output of ANSA, Adnkronos, Reuters and UPI. In: HUBER, M.; MUKHERJEE, J. (ed.). Corpus Linguistics and Variation in English: Focus on Non-native Englishes. Proceedings of ICAME 31. VARIENG: Studies in Variation, Contacts and Change in English, v.13, 2013. Disponível em: www.helsinki.fi/varieng/series/ volumes/13/gaspari/. Acesso em: 27 jun. 2024.
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), representando um corpus que é ao mesmo tempo comparável e paralelo.

Métodos

Foi realizada a seleção de 43 textos4 4 Ressaltamos que o corpus compreende 43 textos, pois esses foram os materiais traduzidos durante a fase de coleta de dados de nossa pesquisa. É importante ressaltar que as plataformas de disseminação de notícias são baseadas em assinaturas. do Le Monde , conceituado jornal francês conhecido por seu foco em análise e opinião, atendendo a um público além dos leitores francófonos. Embora tradicionalmente não seja orientado para produção de registros, o Le Monde se popularizou por oferecer análises e opiniões perspicazes. Portanto, o Le Monde Journalistic Corpus (JOSTLE) também consiste em uma coleção de artigos de jornal em francês e suas correspondentes traduções para o português. Esses textos foram selecionados entre janeiro e novembro de 2020 e obtidos a partir da agência RFI , uma estação de rádio de notícias francesa que transmite notícias em francês e em vários outros idiomas pelo mundo. O corpus foi analisado utilizando o software Sketch Engine . A Tabela 1 fornece informações detalhadas sobre os componentes do JOSTLE.

Tabela 1
– Dados estatísticos obtidos usando o Sketch Engine

Iniciamos o processo de análise inserindo textos jornalísticos da RF1 e do Le Monde no Sketch Engine . Usando este software , examinamos os textos e geramos uma lista de palavras ( WordList ) contendo os verbos mais frequentemente utilizados tanto em francês quanto em português. A Tabela 2 apresenta vinte e cinco exemplos dos verbos mais comuns nos TFs e suas correspondentes traduções (TMs) extraídas do banco de dados de Frequência Absoluta. A frequência, também referida como número de ocorrências ou hits , representa quantas vezes uma palavra ou frase aparece no corpus . Por exemplo, uma frequência de 10 indica que o item foi encontrado ou existiu 10 vezes e permanece como um número fixo. Não há uma fórmula específica utilizada para calculá-la.

Tabela 2
– Verbos mais frequentes de acordo com o Sketch Engine

Além disso, durante nossa análise, buscamos instâncias dos cinco verbos de dizer mais frequentemente usados dentro do subcorpus de Português Brasileiro (PB). Para isso, utilizamos as ferramentas Concordance e N-grams no Sketch Engine para localizar as seções correspondentes nos TFs do Le Monde . Subsequentemente, fornecemos amostras das traduções e dos trechos não traduzidos dos TMs.

A ferramenta N-grams no Sketch Engine gera listas de sequências de palavras ou expressões. Pesquisamos combinações de duas a seis palavras para nossos propósitos de pesquisa, aplicando um limiar mínimo e máximo de frequência para refinar os resultados. N-grams com baixa frequência são automaticamente excluídos da lista. Expressões regulares podem ser usadas para definir critérios complexos para incluir N-grams específicos na lista de frequência. Expressões regulares tratam o N-gram inteiro como uma sequência contínua de letras, incluindo espaços. Dois filtros podem ser aplicados: um para filtrar caracteres individuais (letras) que aparecem em qualquer lugar dentro de um N-gram e outro para filtrar palavras completas ou o conteúdo entre dois espaços.

Em seguida, examinamos as listas do Concordance para observar como as palavras identificadas são usadas em seus respectivos contextos. A ferramenta Concordance oferece múltiplas possibilidades de busca. Ela pode localizar palavras, frases, tags , documentos, tipos de texto ou estruturas de corpus e exibir os resultados em concordância, mostrando o contexto da palavra. Os resultados da concordância podem ser ordenados, filtrados, contados e processados para obter o resultado desejado. No entanto, ao lidar com grandes corpora , a concordância pode gerar resultados significativos, tornando demorado examiná-los e interpretá-los, apesar de ser uma estratégia eficaz.

Na seção a seguir, apresentamos as estatísticas da Tabela 2 , que inclui os verbos mais frequentemente utilizados em Francês Europeu (EF) e Português Brasileiro (BP):

A distribuição dos verbos mais frequentes difere entre os dois subcorpora. Essa discrepância pode ser atribuída a dois fatores. Primeiramente, nos textos do Le Monde , os verbos de dizer são utilizados para transmitir discurso relatado de maneira consistente com outras fontes de informação. Portanto, a frequência e a recorrência desses verbos são influenciadas pelo comprimento do texto. Em outras palavras, textos mais longos tendem a conter um número maior de verbos.

Por outro lado, a agência de notícias RFI baseia sua escrita em verbos de dizer. Ela inclui trechos transcritos de discurso relatado do Le Monde , que são selecionados por meio de gatekeeping e passam por transedição . Essa duplicata do discurso relatado leva a um aumento na ocorrência de verbos de dizer em Português Brasileiro (PB). Consequentemente, identificamos cinco verbos estreitamente associados ao discurso relatado e com a maior frequência no subcorpus português. Além disso, incluímos os verbos franceses e suas frequências para facilitar a interpretação e apresentação.

Há uma diferença notável no tamanho dos corpora , com o JOSTLE compreendendo 61.053 palavras em francês e o subcorpus em PB contendo 27.399 palavras. Essa discrepância de 33.654 palavras indica o alto uso de compressão e/ou elisão nas traduções. Além disso, o uso de verbos em PB como equivalentes ao francês ocorre em situações diferentes das encontradas nos TFs. Isso implica que o tamanho dos TMs pode ter sido reduzido, pois representam uma nova forma de produção onde a informação é transeditada por meio de elisão facilitada pelas decisões de gatekeeping feitas pelo tradutor/jornalista.

Examinando o uso dos verbos de dizer apresentados na Tabela 3 , podemos observar que o verbo “dizer” aparece 25 vezes mais frequentemente no subcorpus em PB, apesar de seu tamanho ser inferior em comparação com o subcorpus em FE. Isso indica que os verbos em PB são usados em uma gama mais ampla de contextos do que simplesmente traduzidos das seções originais do Le Monde . Assim, torna-se evidente o uso de técnicas como a elisão, conforme destacado por Hernández Guerrero (2009)HERNÁNDEZ GUERRERO, M. J. Traducción y periodismo [Translation and journalism]. Bern: Peter Lang, 2009. , para transformar e condensar o texto para melhor atender às demandas do público.

Tabela 3
– Verbos mais comuns usados como verbos de dizer no subcorpus em PB, assim como seus correspondentes franceses nos textos fonte em EF

O quadro 2 traz exemplos específicos de como o verbo é empregado em frases que se desviam do uso no corpus em FE.

Quadro 2
– Exemplos de verbos de dizer em seções não traduzidas do subcorpus de PB

Levando isso em consideração, analisamos os padrões de sentença comumente utilizados na construção da tradução de fragmentos selecionados obtidos por meio de gatekeeping no subcorpus de TMs. O objetivo é identificar as técnicas linguísticas empregadas nesses casos utilizando verbos de dizer. O quadro 3 apresenta as estruturas de sentença frequentemente empregadas apresentando o verbo “dizer”, que é o mais utilizado no subcorpus em PB, conforme demonstrado pela ferramenta N-grams .

Quadro 3
– Trechos presentes nas traduções da RFI que utilizam o verbo dizer

As estruturas de sentença mais comumente utilizadas são:

1. verbo base + sujeito

2. verbo base (verbo transitivo direto [dizer]) + pronome relativo [que] + complemento (objeto direto)

O quadro 4 apresenta cinco exemplos do verbo em contexto, extraídos da ferramenta Concordance , bem como os trechos dos TFs que originaram o discurso relatado:

Quadro 4
– Exemplos de uso do verbo dizer no subcorpus em BP da RFI e fragmentos dos TFs

A utilização do discurso relatado nas ocorrências A, B e C pode ser observada, cujo conteúdo é derivado da tradução de trechos do jornal Le Monde . A referência direta ao nome da publicação é a base para a expressão. Além disso, apresentamos exemplos de versões de referência, que aumentam a credibilidade do texto jornalístico ao indicar a fonte de informação ao leitor e manter o fluxo do texto. Isso é alcançado por meio de várias nominalizações referentes ao jornal diário.

Nos exemplos D e E, encontramos outra aplicação significativa de verbos de dizer, onde o discurso é gerado usando a estrutura de um verbo transitivo direto (verbo de dizer [dizer]) + pronome relativo [que] + complemento (objeto direto ou indireto). Em outras palavras, essa estrutura representa uma oração subordinada com as traduções dos TFs como objeto. É importante observar que os TMs passam por um processo de tradução que os condensa, como visto nas ocorrências no Gráfico 3, resultando em textos significativamente mais curtos em comparação com os TFs. Por exemplo, na versão em francês, encontramos a frase “ voire à accrocher des rubans rouges aux portes des personnes refusant de retourner au travail... ”, que não é traduzida na publicação da RFI . Isso indica uma instância de elisão no processo de transedição jornalística.

Este fragmento foi omitido porque, como essas notícias dizem respeito a preocupações políticas no Brasil, as notícias locais seriam menos informativas do que o artigo do Le Monde . Afinal, a população brasileira já está familiarizada com esse contexto e seus eventos.

Ao considerar a utilização do verbo “dizer” e sua função modalizadora, pode-se afirmar que ele se alinha com a modalidade de “declaração”, abrangendo verbos que iniciam qualquer forma de enunciação (cf. Costa; FreitasCOSTA, B. F. S.; FREITAS, C. Verbos de elocução em português: um estudo descritivo com base em grandes corpora e motivado pela linguística computacional. Fórum Linguístico , v.14, n.3, p.2266-2285, 2017. , 2009).

O segundo verbo mais recorrente no corpus é o “lembrar”, que aparece 64 vezes. Embora nem sempre seja usado como um verbo de dizer, o conteúdo da RFI contém sua função de relato (55 ocorrências). A seguir, apresentamos cinco exemplos do JOSTLE:

A noção de “lembrar” existe na formulação do discurso relatado, e também possui estruturas de sentença semelhantes ao verbo “dizer”, como visto no quadro 6:

Quadro 6
– Trechos presentes nas traduções da RFI que utilizam o verbo “lembrar”

Como podemos observar, as seguintes estruturas são utilizadas com o verbo lembrar:

1. Verbo base + sujeito

2. Sujeito base + verbo

3. Sujeito base + verbo + preposição [a] + complemento

4. Verbo base (verbo transitivo direto [lembrar]) + pronome relativo [que] + complemento (oração como objeto direto)

5. Sujeito base + verbo (transitivo direto [lembrar]) + pronome relativo [que] + complemento (oração como objeto direto)

Chamamos a atenção para os exemplos A e B do Quadro 4 , onde as fontes traduzidas correspondentes não puderam ser localizadas. Isso reforça a estratégia de elisão empregada pelas agências de notícias por meio do gatekeeping , que envolve a seleção e a transedição de múltiplos textos em línguas estrangeiras para criar uma única notícia. No entanto, não está especificado ou indicado quais textos são traduções, mesmo que sejam traduções parciais.

Considerando a estrutura nas ocorrências C, D e E, observamos que esses casos envolvem orações subordinadas que incorporam traduções de artigos do jornal Le Monde. Todavia, o produto final desse processo precisa ser explicitamente apresentado ao leitor como tal, assim como ocorre com o verbo dizer. No campo da modalização, os usos do verbo “lembrar” situam-se na classificação de “hesitação/consideração” de Costa e Freitas (2009), sugerindo um nível discernível de incerteza ou deliberação em relação à enunciação anterior. O verbo de relato afirmar, que aparece 42 vezes no subcorpus de português brasileiro da RFI , é classificado como um verbo que transmite a fala de outra pessoa sem expressar um julgamento de valor ( Neves, 2000NEVES, M. H. M. Gramática de usos do português. São Paulo: Unesp, 2000. ). Em contraste, os outros verbos mais frequentemente utilizados carregam orientações ideológicas específicas, embora seu uso apresente as notícias de maneira “neutra”. O quadro 7 fornece exemplos adicionais:

Quadro 7
– Uso do verbo de dizer “afirmar”

No exemplo A, observamos a formulação de um discurso relatado utilizando conteúdo traduzido, em que o nome da fonte jornalística, especificamente o jornal Le Monde , é explicitamente referenciado. A sentença consiste nos seguintes elementos:

1. Sujeito base + verbo (verbo transitivo direto [afirmar]) + pronome relativo [que] + complemento.

O sujeito das sentenças que contêm o verbo “afirmar” geralmente se refere ao jornal Le Monde ou a qualquer outra menção a ele. Essa abordagem é consistente com o padrão observado no quadro 7 . Exemplos adicionais dessaEm contraste, é viável formar sentenças na ordem do verbo base + sujeito ao empregar este verbo. Essa estrutura de sentença enfatiza o conteúdo da afirmação, em vez de destacar o tema em discussão. O uso do verbo “afirmar” dentro da categoria de “declaração” ( Costa; FreitasCOSTA, B. F. S.; FREITAS, C. Um léxico de verbos do dizer para tradutores-e considerações sobre a classificação dos verbos de elocução. Calidoscópio , v.17, n.3, 2019. , 2009) deve-se à sua função de inaugurar a enunciação em nossos exemplos. O quadro 9 apresenta várias instâncias desse padrão específico de sentença:

Quadro 9
– Exemplos do verbo “afirmar” na estrutura verbo base + sujeito

Da mesma forma, as fontes ou referências do TF, incluindo o jornal, são reconhecidas. Como ilustração, examinamos as estruturas de sentença apresentadas no quadro 10 , selecionadas utilizando a ferramenta N-grams:

Quadro 10
– Sentenças nas traduções da RFI que usam o verbo afirmar

O verbo “escrever” enquadra-se na categoria de verbos de dizer quando usado em contextos específicos. É observado 35 vezes no subcorpus de PB do JOSTLE. O quadro 11 apresenta os dados obtidos a partir da ferramenta N-grams:

Quadro 11
– Sentenças nas traduções da RFI que usam o verbo “escrever”

No caso do verbo “escrever”, a estrutura escolhida por tradutores/jornalistas permanece relativamente consistente. As seguintes sequências são observadas nas três instâncias em que é usado como verbo de dizer:

Verbo base + sujeito
Sujeito base + verbo

O quadro 12 apresenta alguns exemplos:

Quadro 12
– Exemplos do verbo escrever na estrutura verbo base + sujeito

estrutura de sentença podem ser encontrados no quadro 8:

No que diz respeito à modalização, os usos do verbo escrever listados acima enquadram-se na categoria de “destaque”, qualificando o conteúdo como enfático ou relevante. Por outro lado, observamos uma tendência irregular de associar conteúdo a jornais, especificamente em relação ao verbo apontar. Este verbo apresenta a maior frequência (33) no subcorpus analisado nesta pesquisa e é utilizado para construir discurso relatado. Na proposta de Costa e Freitas, o uso de apontar no discurso relatado enquadra-se na categoria de “hesitação/consideração”, sendo entendido como uma indicação de reflexão ou indecisão em relação ao que foi dito, já que não implica qualquer juízo de valor sobre a informação acadêmica referida, como demonstrado no quadro 13 .

Quadro 13
– Sentenças nas traduções da RFI que usam o verbo “apontar”

Portanto, observamos as estruturas:

1. verbo base + sujeito

2. sujeito da base + verbo (verbo transitivo direto [apontar]) + pronome relativo [que] + complemento.

Abaixo, podemos verificar alguns exemplos em contexto:

O corpus JOSTLE abrange várias características, incluindo supressão, reformulação, elisão e compressão. Ao examinar o processo de tradução do francês para o português, enfatizamos os aspectos exclusivos do gênero notícia e o papel ampliado do tradutor/jornalista, que vai além das noções convencionais de tradução. O tradutor/jornalista tem a liberdade de modificar a tradução, produzindo um novo texto que seleciona partes específicas dos TFs por meio do gatekeeping. Esse processo envolve a reorganização, a reformulação, a omissão e a transedição do discurso jornalístico para criar os TMs.

Conclusões

A abordagem do LC é atualmente utilizada para analisar vários textos de jornais e se aplica ao estudo da tradução de textos jornalísticos. Por exemplo, as técnicas de Hernández Guerrero (2006HERNÁNDEZ GUERRERO, M. J. Técnicas específicas de la traducción periodística. Quaderns. Revista de traducción , n.13, p.125-139, 2006. , 2009HERNÁNDEZ GUERRERO, M. J. Traducción y periodismo [Translation and journalism]. Bern: Peter Lang, 2009. , 2010) podem ser examinadas em termos de materialidade linguística usando a LC. No entanto, é essencial reconhecer que essas técnicas também podem ser refutadas, pois cada corpus representa apenas uma fração da produção linguística geral, e não de todo um gênero linguístico analisado.

Com base na estrutura teórica apresentada e em nossa análise de dados, observamos não apenas uma mudança da mídia impressa para a digital, mas também um aumento da demanda por informações de veículos de notícias, conforme evidenciado por Bassnett (2006), Valdeón (2018)VALDEÓN, R. A. On the use of the term "translation" in journalism studies. Journalism: Theory, Practice & Criticism , v.19, n.2, p.252-269, 2018. , Davier e Van Doorslaer (2018)DAVIER, L.; VAN DOORSLAER, L. Translation without a source text: Methodological issues in news translation. Across Languages and Cultures , v.19, n.2, p.241-257, 2018. e Laviosa (2002)LAVIOSA, S. Corpus-based Translations Studies: Theory, Findings, Applications. Amsterdam: Rodopi, 2002. . Isso exige uma nova perspectiva sobre o jornalismo, dada a audiência global. Esses textos passam por mudanças significativas quando comparados com os TFs. O processo começa com a seleção de passagens específicas de um ou mais artigos e pode até resultar em uma variação textual extrema ( Hernández Guerrero, 2006HERNÁNDEZ GUERRERO, M. J. Técnicas específicas de la traducción periodística. Quaderns. Revista de traducción , n.13, p.125-139, 2006. ).

Nossa investigação revelou que a elisão foi a estratégia de tradução mais empregada entre as técnicas de Hernández Guerrero. Essa constatação corrobora a teoria de que a agência de notícias RFI utiliza o texto do jornal Le Monde como fonte para novas histórias em vez de fornecer traduções “integrais” dos textos técnicos. Isso pode explicar o fato de a agência publicar esses textos sem o envolvimento ou a aprovação de um tradutor no processo de elaboração das reportagens.

Os verbos de dizer nas traduções de textos jornalísticos têm importância crucial por dois motivos. Em primeiro lugar, de uma perspectiva linguística, esses verbos aparecem consistentemente com complementos de informações transcritas nos TMs, independentemente de os textos serem atribuídos a tradutores específicos. Quando esses verbos são contextualizados nos TTs, eles revelam o envolvimento de um ou mais profissionais na criação e disseminação de notícias digitais.

A análise dos verbos de dizer nos TTs revela que os tradutores-jornalistas se envolvem em um processo de gatekeeping em que selecionam seções dos TFs para incorporar em seus textos. Depois que os fragmentos informativos são selecionados, eles passam pelo processo de tradução e transedição , que é moldado pelos interesses dos jornalistas-tradutores ou, em alguns casos, pela política editorial.

Consequentemente, os verbos de dizer constituem o material linguístico por meio do qual os fatos documentados são apresentados, lançando luz sobre partes dos TFs que foram transeditadas durante a produção dos TMs. Essa abordagem justifica os ajustes e as modificações feitos nos TMs, resultando em atos independentes de transformação. Portanto, o uso da elisão pode ser facilmente identificado como uma das estratégias recomendadas por Hernández Guerrero, pois envolve a reconstrução de fatos relatados com base em verbos de dizer.

Quando utilizamos ferramentas como o Sketch Engine para analisar a frequência dos verbos de dizer na construção dos TTs e sua relação com o contexto circundante, observamos um alinhamento com os princípios de transedição e gatekeeping . Os verbos de dizer são um recurso linguístico para os jornalistas-tradutores selecionarem informações para compor o texto jornalístico e uma base linguística para orientar a compreensão das notícias pelos leitores.

Por essas razões, o exame minucioso dos verbos de dizer no âmbito da tradução jornalística, com ênfase especial em sua função modalizadora no discurso, é imperativo para a obtenção de uma compreensão profunda e criteriosa das composições textuais. Essa abordagem metodológica não apenas aumenta nossa compreensão dos mecanismos de tradução e da disseminação de informações, mas também nos dá a oportunidade de elucidar as orientações político-ideológicas implícitas das agências de notícia, que geralmente defendem a imparcialidade e a neutralidade.

Ao elucidar as nuances linguísticas inerentes às decisões de tradução relativas aos verbos de dizer, esta análise apresenta uma contribuição substancial para o domínio da linguística aplicada e dos estudos de tradução, uma vez que defende um exame diferenciado da natureza e das repercussões da tradução do discurso jornalístico no meio social contemporâneo.

Quadro 1
– As estruturas mais comuns com verbos de dizer

Quadro 5
– Exemplos do verbo “lembrar” no subcorpus de TMs da RFI e fragmentos dos TFs em EF

Quadro 8
– Exemplos do verbo “afirmar” na estrutura sujeito base + verbo (verbo transitivo direto [afirmar]) + pronome relativo [que] + complemento

Quadro 14
– Exemplos de “apontar” como um verbo de dizer no contexto do subcorpus de PB

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  • 1
    É imperativo ressaltar que as traduções feitas pela RFI não elucidam definitivamente se o processo de tradução é executado por agentes humanos, inteligência artificial ou por meio de sua assistência colaborativa. No entanto, essa faceta específica não constituiu o foco principal desta pesquisa e pode justificar uma exploração mais aprofundada em esforços acadêmicos subsequentes.
  • 2
    Original: “ La traducción desempeña un papel cada vez más importante en la producción de nueva información y no sólo en textos traducidos que gozan de dicho estatus, sino también en una infinida de textos informativos en los que se recurre a la actividad traductora como fuente generadora de informacíon; el producto resultante, entremezclado o no con otros textos o fragmentos de textos, da lugar a nueva información que se integra en la producción propia de la cultura receptora. Estos tipos de reescritura, variados y complejos, vienen a cubrir las necessidades informativas de las empresas periodísticas y sirven a su fin último: la transmisión de la información ” ( Hernández Guerrero, 2016HERNÁNDEZ GUERRERO, M. J. Traducción y opinión pública global: el caso de Project Syndicate. In: MARTÍN RUANO, M. R.; CLARAMONTE, Á. V. (ed.). Traducción, medios de comunicación, opinión pública. Granada: Comares, 2016. p.53-72. , p. 72).
  • 3
    Original: “ However, news agencies tend to employ something other than translators as such. This is because translation is not conceived as separate from other journalistic tasks of writing up and editing and is mainly assumed by the news editor, who usually works as part of a desk where news reports are edited and translated, and sent to a specific newswire ” ( Bielsa; Bassnett, 2009BIELSA, E.; BASSNETT, S. Translation in Global News. London/New York: Routledge, 2009. , p. 57).
  • 4
    Ressaltamos que o corpus compreende 43 textos, pois esses foram os materiais traduzidos durante a fase de coleta de dados de nossa pesquisa. É importante ressaltar que as plataformas de disseminação de notícias são baseadas em assinaturas.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    02 Out 2023
  • Aceito
    26 Out 2023
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