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Olarias, escravidão e a dinâmica da produção, circulação e consumo de vasilhames cerâmicos em Campos dos Goytacazes no século XIX1 1 Os autores agradecem à Michelle Caroline Oliveira Santos pela imensurável ajuda na formatação do presente artigo. Graças a sua generosidade, paciência e determinação, este artigo se tornou possível.

Pottery workshops, slavery, and the dynamics of production, circulation, and consumption of ceramic vessels in Campos dos Goytacazes in the 19th century

RESUMO

O presente estudo tem por objetivo analisar o trânsito da cultura material de Campos dos Goytacazes Oitocentista, a partir do cotejamento de duas fontes de áreas do conhecimento distintas: os vestígios arqueológicos e as manuscritas. Assim, partiremos das pesquisas arqueológicas feitas na Fazenda do Colégio entre 2012 e 2016, considerando o material cerâmico (louças importadas e cerâmicas locais) presente nos espaços do solar e das senzalas. Há claras diferenças entre os dois espaços, que nos permitem entender que o consumo de louças e cerâmicas estava diretamente relacionado à posição econômica e social dos agentes responsáveis pela formação desses depósitos. Posteriormente, nos debruçaremos sobre os anúncios e notícias presentes no periódico Monitor Campista, entre 1834 e 1887, período da escravidão na região. Nessa documentação, será possível averiguar informações relativas ao fabrico, circulação e consumo de cerâmicas utilitárias feitas tanto em âmbito local quanto também regional, assim como as louças importadas. De modo igualmente caro à pesquisa, serão examinadas as entradas sobre olarias e oleiros, na tentativa de tentar desvendar minimamente as técnicas e os trânsitos culturais existentes em Campos dos Goytacazes no período em tela. Desse percurso metodológico, serão confrontadas as fontes historiográficas (Monitor Campista) e a materialidade (vestígios arqueológicos) a fim de entender com o entrelaçamento entre as duas o consumo de cerâmicas utilitárias de grupos livres da elite, sobretudo, e os escravizados; e as circulações materiais e imateriais que orbitavam as louças e cerâmicas da região.

PALAVRAS-CHAVE:
Vasilhames cerâmicos; Produção cerâmica; Campos dos Goytacazes oitocentista; Monitor Campista; Escravidão; Consumo

ABSTRACT

This article addresses the circulation of material culture in Campos dos Goytacazes in the 19th century through the analysis of archaeological and written sources. The archaeological data concern the domestic ceramics (imported and locally-produced) exhumated from the planter´s house and slave quarters of the Fazenda do Colégio between 2012 and 2016. The remarkable differences between the assemblages found in these contexts indicate that the ceramic consumption was linked to the social and economic position of the agents who conformed these archaeological deposits. Next, we address the news and announcements in the newspaper Monitor Campista between 1834 and 1887 to characterize the production, circulation, and consumption of both locally and regionally-made pottery and imported wares. We also examine the Monitor Campista´s entries on pottery workshops and pottery-makers to discuss the pottery-making cultural exchanges in Campos dos Goytacazes in the nineteenth century. The final section confronts historiographic and archaeological sources to first address the ways in which they differentially inform the ceramic consumption between elite and subordinated, particularly enslaved, groups; and then the material and immaterial circulations orbiting the domestic ceramics in Campos dos Goytacazes.

KEYWORDS:
Ceramic vessels; Pottery production; 19th century Campos dos Goytacazes; Monitor Campista; Slavery; Consumption

INTRODUÇÃO

Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, foi uma das regiões mais proeminentes em termos econômicos durante, praticamente, todo o período do Brasil Império. A partir da atividade açucareira, desenvolveu-se uma sociedade ligada à plantation canavieira e escravocrata. Aos grandes engenhos chegavam levas cada vez maiores de pessoas escravizadas vindas da África e de outros rincões do Império. Esses escravizados garantiam a plantação e a colheita da cana-de-açúcar, com o consequente enriquecimento dos “barões do açúcar”. Em função de um enriquecimento rápido e que parecia duradouro, a sociedade campista se transformou em uma consumidora assídua de produtos importados, sobretudo aqueles de luxo. Contudo, ressaltamos que os engenhos eram, praticamente, autossuficientes, mantendo famílias escravizadas, que poderiam garantir a reprodução natural de uma parcela dos municípios da região, gado para consumo interno e para a tração dos equipamentos e olarias, que estrategicamente suportavam as necessidades internas por cerâmicas tanto construtivas, como telhas e tijolos, quanto utilitárias, como vasilhames utilizados para transporte, armazenamento, serviço e consumo de alimentos.

Pesquisas arqueológicas realizadas na Fazenda do Colégio - um estabelecimento canavieiro-pastoril fundado em meados do século XVII pelos jesuítas - permitiram traçar um perfil da materialidade doméstica vinculada aos proprietários e aos escravizados desse estabelecimento desde o começo do século XVIII. Os vestígios arqueológicos exumados de três setores de uma quadra de senzala que chegou a abrigar cerca de 2 mil pessoas escravizadas, em seu ápice, e de uma área de deposição de refugo dos habitantes do solar demonstram que as cerâmicas utilitárias de distintas composições e qualidades - cerâmicas artesanais, torneadas sem vidrado e vidradas, faianças, faianças finas e porcelanas - compuseram a esmagadora maioria da tralha doméstica desses grupos. Essas categorias cerâmicas podem ser subdivididas em dois grupos: as de produção local/regional, englobando as artesanais, torneadas sem vidrado e torneadas vidradas; e as importadas, englobando as faianças, faianças finas e porcelanas. Ao se contrastar a popularidade dessas categorias entre o contexto de deposição dos habitantes do solar e aqueles dos espaços da senzala, verificou-se uma distribuição inversa entre esses dois grupos sociais, com as cerâmicas de produção local ou regional muito mais populares nos espaços da senzala do que nos do solar, onde fortemente predominaram as importadas.

Dentre as cerâmicas da senzala, figuram proeminentemente as torneadas sem vidrado, que se mantêm como a categoria dominante desde o contexto mais antigo, referente ao começo do século XVIII, até os mais recentes, do final do século XIX e início do XX. Trata-se de uma categoria material que, diferentemente das cerâmicas artesanais, tem sido raramente contemplada na produção arqueológico-histórica nacional, e, assim, que ainda estava carente de um estudo sistemático.

Essa relação entre os vasilhames cerâmicos torneados e os grupos escravizados da Fazenda do Colégio, que provavelmente pode ser extrapolada para outros contextos de plantation da região, suscitou várias questões que nos estimularam a escrever este trabalho, tais como: de que modo essa esfera do consumo dos escravizados se articulou com a esfera da produção? Ou, em outras palavras, como se dava a participação dos elementos escravizados na produção e no consumo dessa categoria material? Era essa categoria produto de uma produção local, nas olarias dos engenhos da região, ou entraram nesses estabelecimentos via comércio intermunicipal ou inter-regional? Como esses itens entraram no espaço das senzalas? Quais as funções que cumpriram e de que modo se articularam com o sistema de objetos presentes nesses espaços?

Visando responder essas questões foi realizada uma ampla pesquisa documental com base, sobretudo, no jornal Monitor Campista, publicado entre os anos de 1834 e 1887. Deste conjunto documental extraiu-se informações relativas à produção, circulação e consumo de cerâmicas utilitárias de produção local e regional, e de louças importadas em Campos dos Goytacazes. Foram, assim, analisados anúncios de vendas e de leilões de louças; notícias sobre olarias e oleiros - presentes nos anúncios de vendas de fazendas, na divulgação de fatos ocorridos nas olarias (como crimes, fugas e incêndios) e nos anúncios dos produtos vendidos nas olarias -; anúncios de vendas, compras, aluguéis e fugas de escravizados oleiros; anúncios de “precisa-se” de mestres oleiros escravizados, forros e livres; e anúncios de ofertas de trabalhos de mestres oleiros livres. Essas informações foram confrontadas com os dados arqueológicos servindo para demonstrar, por um lado, como a materialidade associada com os grupos subalternos tende a ser subdimensionada nas fontes historiográficas frente à materialidade vinculada com os segmentos médios e altos da sociedade, e, por outro, a forte correlação entre as cerâmicas torneadas e os grupos escravizados nas esferas vinculadas à produção e ao consumo. Consideramos, por fim, a cerâmica torneada sem vidrado como uma categoria relacional, de modo que seus usos e significados são melhor apreendidos quando se analisa a sua integração com as demais categorias cerâmicas com as quais ela interagiu, seja em termos de competição ou de complementaridade.

A ECONOMIA DOS ENGENHOS EM CAMPOS DOS GOYTACAZES

A cidade de Campos dos Goytacazes está situada na região Norte Fluminense e se localiza na fronteira entre as províncias de Minas Gerais e do Espírito Santo. O nome se deve aos “naturais que possuíam estes campos e com a entrada dos antigos paulistas se destruíram uns e outros foram reduzidos à nossa santa fé pelos missionários jesuítas, que os aldearam junto a Cabo Frio, na margem da Lagoa de Araruama […]”.4 4 Reis (2011, p. 49).

Malgrado as primeiras tentativas de colonização tenham ocorrido no Quinhentos, foi apenas no século XVII que a região começou a ser habitada por portugueses e por luso-brasileiros.5 5 Lamego (2016, p. 22-29). De acordo com Rafaela Ribeiro, a partir desse momento chegam as primeiras cabeças de gado na região e as primeiras iniciativas de fomentar a cultura canavieira no Norte Fluminense.

Retornando ao Rio de Janeiro, após viagem de restauração à Angola, no ano de 1651, Salvador Correia manda levantar em Campos no ano de 1652 engenho com moendas de madeira, movido à força animal a ser abastecido por escravos que tinha trazido da África. No ano de 1677, é instituído seu morgado na já então Capitania da Parahyba do Sul, vinculando a ele “cinquenta currais e oito mil vacas parideiras”, embora desde antes já fosse possível verificar a existência de algumas engenhocas e das culturas criatórias e de subsistência dos beneditinos e jesuítas.6 6 Ribeiro (2012, p. 31).

Independente do “conturbado processo de ocupação dos Campos dos Goytacazes”,7 7 Soares, Márcio (2009a, p. 33, 2009b, p. 89). fato é que já no século XVIII a cultura canavieira era a base econômica da região,8 8 Lara (1988, p. 132). fazendo surgir uma das mais fabulosas concentrações de escravizados de todo o Brasil.9 9 Ao analisar as estimativas da população campista, entre 1785 e 1850, Soares afirma que “[...], as cifras proporcionais revelam uma das maiores concentrações de escravos que se tem notícia no Brasil até 1850” Soares (2009a, p. 35). A esse respeito, Flávio Gomes afirma que

Com o desenvolvimento açucareiro, Campos alcançaria o índice de 52% dos engenhos do Rio de Janeiro colonial, concentrando 43,6% da população de escravizados. Nos derradeiros anos dos setecentos existiam 324 engenhos, mais da metade dos 616 engenhos de açúcar de toda a Capitania.10 10 Gomes (2019, p. 30).

No Oitocentos, Campos dos Goytacazes se encontrava entre as regiões de economia mais dinâmicas do país, possuindo um pouco menos de 32 mil escravizados e com 4.859 unidades produtivas.11 11 Soares, Eugênio (2018, p. 70). Reflexo do poderio econômico, a Câmara dos Deputados de São Salvador, atual Campos dos Goytacazes, investia-se de pedidos e de apoios a D. Pedro II no período da Independência.12 12 Ibid., p. 140-153.

A força econômica e os laços políticos com o Rio de Janeiro, possivelmente, outorgaram a Campos uma efetiva participação política na Corte e um território vastíssimo dentro da Província. Ainda arraigada nas plantations da cana-de-açúcar, a economia campista era baseada na dupla “cana-escravizado”.

É bem sabido que a cultura canavieira campista passou por três fases: “1750 a 1830 - engenhos de tração animal; 1830 a 1880 - engenhos a vapor; e a partir de 1880 - usinas, tendo o vapor como força motriz, o que faz com que a inicial dispersão da propriedade fundiária, comece a se retrair”.13 13 Lamego (2016, p. 33-34).

Em 1834, ano de fundação do jornal O Campista, havia quatro engenhos a vapor em Campos; 56 em 1852 e, já para 1861, a quantidade chegou a 68.14 14 Soares, Eugênio, op. cit., p. 71. Um ano depois, a Vila de São Salvador é elevada à condição de cidade. A partir desse momento, os rolos de madeira e ferro, típicos dos antigos engenhos, são substituídos pelas moendas de ferro e se inicia a substituição do “Senhor de Engenho” pela figura do “Usineiro”. Com a modernização tecnológica, as importações de aparelhagens vindas da Europa e dos Estados Unidos aumentam.15 15 Chagas (2010, p. 27).

Para além disso, a entrada de novas técnicas de fabrico de açúcar e de capitais fizeram com que alguns engenhos fossem transformados em centrais ou em usinas, aumentando a produção açucareira. Para se ter uma ideia, em 1828, a exportação de açúcar era de 11.998 caixas e em 1836, com a modernização dos engenhos em andamento, pulou para 16.000 caixas.16 16 Paranhos (2002, p. 101).

Parece que o crescimento da produção açucareira não impulsionou apenas a modernização dos engenhos ou o aumento das usinas, mas também a de olarias.17 17 Segundo consta em Lamego (1945, p. 148), a primeira olaria de Campos foi construída em 1692, pelo Visconde de Asseca. Em 1785, Campos produzia cerca de 128.580 arrobas de açúcar, tinha algo em torno de 218 currais com 55.672 mil cabeças de gado bovino e 13.201 mil de gado cavalar. Produzia também arroz, feijão, farinha, milho e algodão, além da existência de 51 olarias.18 18 Gomes, op. cit., p. 30. No ano de 1885, portanto cem anos depois, havia mais de cem olarias que exportavam tijolos para outros centros.19 19 Chagas, op. cit., p. 29.

Devido à sua importância econômica, Campos recebeu uma grande quantidade de africanos escravizados, sobretudo nos séculos XVIII e XIX. A grande maioria dos africanos (90% a 97%) provinha da África Central e os demais das Áfricas Ocidental e Oriental.20 20 Cf. Soares, Márcio, 2009a. A grande maioria desses centro-africanos, por sua vez, era oriundo de Angola, com outras nações expressivas, nas primeiras décadas do século XIX, sendo Benguela, Congo, Cabinda, Rebolo e Cassange.21 21 Ibid., p. 2-34. Com relação à estrutura de posse de escravizados, Gomes22 22 Ibid. p. 37-38. observa que esta era menos concentrada em grandes e médias propriedades do que outras regiões açucareiras coloniais, como Pernambuco, Bahia e São Paulo. Até o final do século XVIII, somente cinco engenhos mantinham mais do que cem escravizados, incluindo a Fazenda do Colégio e a Fazenda dos Beneditinos, e outros cinco mantinham entre cinquenta e cem escravizados. As demais propriedades mantinham menos de cinquenta pessoas escravizadas, com uma média de 15 por estabelecimento. Em 1826, essa população escravizada compunha 52,5%, atingindo 73,8% quando incluídos os pardos e pretos livres.23 23 Ibid., p. 38.

Com relação ao Colégio dos Jesuítas, este foi fundado em meados do século XVII pelos padres da Companhia de Jesus, que desenvolveram, inicialmente, a atividade criatória de gado, e, posteriormente, o cultivo e processamento da cana de açúcar. Também conhecida como Fazenda de Nossa Senhora da Conceição e Santo Inácio - ou Fazenda do Colégio -, era a maior propriedade existente em Campos (Figura 1).24 24 Guglielmo (2011, p. 3-27). Com a expulsão dos jesuítas da colônia, em 1759, a propriedade passou para o controle da coroa portuguesa. Em 1781, o comerciante português Joaquim Vicente dos Reis arrematou a propriedade. Nesta época, a fazenda mantinha quase 1.500 pessoas escravizadas. Com a sua morte, em 1818, o seu genro, Sebastião Gomes Barroso, herdou a propriedade, mantendo-a até a sua morte, em 1843.25 25 Inventário de Sebastião…, 1843. A partir de então a fazenda foi passada de pai para filho, tendo os seguintes proprietários: o tenente-coronel Francisco de Paula Gomes Barroso (1822-1892), João Baptista de Paula Barroso, e João Batista Barroso. Este último viveu na fazenda até a sua morte, em 1980.26 26 Lamego (1934, p. 37).

Figura 1
Reconstituição hipotética do monastério, quadra da senzala, casa de recreio (no centro da quadra), engenho (atrás do monastério à direita) e olaria (à esquerda do monastério) da Fazenda do Colégio. Fonte: Elaborada por Geraldo Pereira de Morais Júnior.

No ano de 1795, Couto Reis notificava que a propriedade de Joaquim Vicente dos Reis mantinha 1.482 pessoas escravizadas, sendo 765 crianças, 340 homens e 377 mulheres.27 27 Reis (1997). Esse perfil é condizente com um padrão de reprodução natural, sem a introdução de novos escravizados pelo tráfico, algo atestado pela alta taxa de legitimidade - de pais casados perante a Igreja - dessa comunidade, 77% no ano de 1782.28 28 Faria apud Guglielmo, op. cit., p. 29. Portanto, no final do século XVIII a senzala da Fazenda do Colégio estava organizada por arranjos familiares. Estes se mantiveram ao longo do século XIX, apesar de ocorrer um sensível declínio no número de escravizados, listados em 1.500 por Saint-Hilaire,29 29 Saint-Hilaire (1941, p. 416-417). em 1819, e em 1.111 no inventário de Sebastião Gomes Barroso, datado de 1843. Neste ano, a senzala era composta por 579 mulheres e 532 homens. Há uma ausência total de africanos neste documento, indicando a não introdução de novas pessoas escravizadas via tráfico atlântico. De fato, as informações disponíveis sugerem que não houve aquisição de africanos na fazenda desde a expulsão dos jesuítas. Isto significa que essa população, já no final do século XVIII, era essencialmente crioula, no sentido de nascida no seio da própria comunidade, sobretudo em arranjos familiares.

As próximas informações sobre a demografia e composição da comunidade escravizada - então já liberta - do Colégio provém do relato de Arrigo Zetirry, em reportagens publicadas no Jornal do Commércio de 1984.30 30 Gomes, op. cit., p. 51-52. Ele observa que no dia da abolição viviam na fazenda 68 homens e 80 mulheres escravizadas. Já no ano de 1894 essa população de libertos, agora vivendo como agregada, havia aumentado para 242 pessoas, consistindo em sua maior parte, de ex-escravizados e ex-escravizadas da própria fazenda, aos quais haviam se juntado os de outros proprietários da região, além de um menor número de homens e mulheres que já haviam nascido livres.

A ANÁLISE ARQUEOLÓGICA E DOCUMENTAL

Antes de detalhar o conteúdo das fontes e os procedimentos empregados na investigação, é necessário caracterizar as seis categorias cerâmicas abordadas na pesquisa documental e arqueológica: artesanal, torneada sem vidrado, torneada vidrada, faiança, faiança fina e porcelana (Figura 2).

Figura 2
Categorias cerâmicas dos contextos arqueológicos da Fazenda do Colégio - a) cerâmica artesanal (senzala); b) cerâmica torneada (senzala); c) cerâmica vidrada (senzala); d) faianças (senzala); e) faianças finas impressas (solar); f) porcelanas europeias (solar). Foto: Luis Symanski.

Cerâmicas artesanais

Dizem respeito às peças, sobretudo vasilhames, geralmente de produção doméstica, em que são utilizadas técnicas de manufatura variadas, predominando o acordelado, seguido do modelado, moldado e paleteado, podendo ainda ocorrer combinações entre essas técnicas. As cerâmicas artesanais históricas foram inicialmente enquadradas em uma ampla tradição, denominada Neobrasileira, que realçava o fato de se tratarem de um desenvolvimento do período colonial, com influências indígenas e, posteriormente, reconhecendo-se a influência africana.31 31 Chmyz (1976) e Dias Junior (1988). A percepção deste material como enquadrado em uma única tradição vem sendo questionada desde o início dos anos 2000, sobretudo pelo fato de uniformizar contextos caracterizados por diferentes gradientes de diversidade cultural e desconsiderar a complexidade dos processos de transculturação que envolveram europeus, africanos e grupos indígenas.32 32 Morales (2001) e Zanettini (2005). Nos últimos anos, esse material tem de fato servido de base para uma diversidade de discussões, sobretudo relacionadas ao seu papel nos processos de crioulização e na reconfiguração de identidades africanas,33 33 Souza (2015), Souza e Agostini (2012), Souza e Symanski (2009) e Symanski e Hirooka (2013). e em seu envolvimento em processos mais amplos de trânsito cultural que incluíram agentes não-africanos da sociedade.34 34 Agostini (2010) e Zanettini, op. cit.

Cerâmicas torneadas sem vidrado

Trata-se dos vasilhames cerâmicos produzidos com o uso da roda de torno, uma tecnologia que foi desenvolvida no Velho Mundo há cerca de 6 mil anos e que permitiu não somente acelerar o processo de manufatura, mas também produzir vasilhames mais uniformes. O torno consiste em uma roda compacta “[…]colocada horizontalmente sobre um eixo vertical, sobre a qual era pousada a massa a ser modelada, roda essa que era impulsionada com uma das mãos enquanto a outra procedia à modelagem”.35 35 Brancante (1981, p. 6). Esta tecnologia chegou às Américas com os colonizadores europeus no século XVI, e foi utilizada massivamente para atender às demandas dos engenhos de açúcar e das populações dos núcleos coloniais.36 36 Brancante, op. cit., p. 5, García Lopéz (1939) e Roux e Jeffra (2015).

Cerâmicas torneadas vidradas

Esta categoria difere da anterior pela aplicação de uma camada de substância vítrea à base de sílica que, durante o segundo processo de queima, funde-se ao objeto cerâmico. Esta aplicação, embora aparente um caráter decorativo, tem por propósito impermeabilizar o vasilhame, viabilizando o armazenamento, preparo e consumo de líquidos.37 37 Lima, N. (2017, p. 44).

Faianças

Também conhecidas como majólicas, trata-se de cerâmicas feitas de terracota coberta de esmalte estanífero branco opaco, sendo, a seguir, pintadas ou esmaltadas com vidrado transparente plumbífero ou alcalino.38 38 Bandeira (2013, p. 111). A argila empregada na sua produção é de grande plasticidade e queimada à temperatura reduzida. Tem origem em Faenza, no ano de 1460, porém com base técnica provinda da Pérsia, tendo sido introduzida na Europa pelos árabes. Em Portugal, este tipo de louça começou a ser produzido no século XVI.39 39 Brancante, op. cit., p. 69-70, 108. Foi popular no Brasil durante todo o período colonial, porém rapidamente perdendo espaço para as faianças finas após a abertura dos portos, em 1808.40 40 Cf. Lima et al. (1989).

Faianças finas

Consistem em louças de pasta permeável, opaca, de textura granular e quebra irregular, cobertas com esmalte para garantir a impermeabilidade. São queimadas entre temperaturas que variam entre 600°C e 1150°C.41 41 Worthy (1982, p. 334). Essa louça surgiu na segunda metade do século XVIII, a partir da adição de novos elementos à pasta da faiança tradicional, como sílex calcinado, caulim, ossos calcinados e giz. O esmalte também foi melhorado, com a substituição do até então vigente sal marinho por óxido de chumbo.42 42 Brancante, op. cit., Hume (1991) e Miller (1980). O valor das faianças finas variava em função da complexidade da técnica de aplicação da decoração, em uma escala ascendente tendo como base as brancas não decoradas, seguidas pelas minimamente decoradas, pintadas à mão, e impressas.43 43 Miller (1980, 1991).

Porcelanas

São louças brancas, vitrificadas e translúcidas, que começaram a ser produzidas na China durante a dinastia Tang (618-906 d.C).44 44 Brancante, op. cit., p. 156. A alta temperatura de queima, entre 1300°C e 1450°C elimina o limite entre a pasta e o esmalte.45 45 Worthy, op. cit., p. 337. Na Europa, começaram a ser produzidas na segunda metade do século XVIII. Era, em termos gerais, a categoria de louças de valor mais elevado, apesar de também terem sido produzidas na China, sobretudo no século XIX, peças de baixo custo, designadas por “Macaus de navegação”.46 46 Brancante, op. cit., p. 653.

A análise documental

O Monitor Campista é uma das fontes mais importantes sobre a história de Campos dos Goytacazes, abarcando, praticamente, todo o período Imperial e o século XX inteiro. Este periódico foi fundado em 31 de março de 1840, através da fusão de dois outros jornais da região: o Campista, de 4 de janeiro de 1834, e o Monitor, que surgiu em 4 de julho de 1838.47 47 Feydit (2004, p. 398). O Monitor Campista faz parte de uma leva de jornais que desde a criação da Imprensa Régia, em 1810, apresentou ao público textos científicos. Só para se ter uma ideia, durante o Oitocentos, cerca de 7 mil periódicos surgiram no Brasil. Muitos dos quais tendo conteúdos científicos Massarani e Moreira (2002, p. 44-46).

Para o presente estudo, foi analisada a coleção do Monitor Campista que se encontra no Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho, pertencente ao município de Campos dos Goytacazes.48 48 De agora em diante utilizaremos a sigla APMWPC para identificar o Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho. Optou-se, para efeitos metodológicos e para privilegiar a escravidão em Campos dos Goytacazes, abordar o período que vai de 1834, momento de fundação do jornal O Campista, portanto, um periódico do qual o Monitor Campista é herdeiro e que foi publicado durante alguns anos da década de 1830, até o ano de 1887, momento final da escravidão na região.

A abrangência do jornal, no entanto, apresenta lapsos para o Oitocentos Campista. No Quadro 1 observa-se uma certa concentração do jornal na segunda metade do século XIX; já no que diz respeito às primeiras décadas de sua existência, há lacunas que alcançam um terço dos anos da década de 1830 e quase toda a década de 1840, ao passo que, a partir de 1850, tem-se a ausência de apenas três anos (1852, 1853 e 1874).

Quadro 1
Distribuição do Jornal Monitor Campista entre os anos de 1834 e 1887.

Acrescentamos ainda um segundo dado que favoreceu a concentração do Monitor Campista para a metade final do Oitocentos em nossa amostra: o fato de ter se tornado diário em 1875.49 49 Soares, Orávio (2005, p. 170). O corolário disso é que nestes doze anos (1875 a 1887) há um número maior de publicações de jornais do que, por exemplo, as décadas de 1834 e de 1840 reunidas. Antes desse período, o Monitor Campista tinha suas tiragens resumidas a uma ou duas vezes semanais.

Na Tabela 1, temos a real noção da concentração das notícias do Monitor Campista para o período entre 1851 e 1887. Observa-se que do total de 1.857 notícias encontradas, 1.733 (93,32%) foram localizadas entre 1851 e 1887, e apenas 124 (6,68%) para a primeira metade do século XIX. Dentre as notícias analisadas neste trabalho, 75,50% (1.402) eram sobre louças, 12,33% (229) se referiam a olarias e 12,17% (226) sobre oleiros. Das louças, 96,15% (1.348) foram encontradas entre 1851 e 1887, ao passo que 3,85% (54) estavam no período anterior; para os oleiros, seguiu-se caminho semelhante: 93,81% (212) para a segunda metade do século XIX e apenas 6,19% (14) entre 1834 e 1850; já para as olarias, o percentual de concentração foi menor do que as duas variáveis anteriores: 75,55% (173) contra 24,45% (56).

Tabela 1
Números absolutos e relativos das notícias referentes à louça, olaria e ao oleiro contidas no Monitor Campista, entre 1834-1887.

A escolha por estes três verbetes (Louça, Olaria e Oleiro) permitiu ter uma maior abrangência da circulação, produção e uso dos itens cerâmicos em Campos dos Goytacazes Oitocentista. Assim, as notícias sobre as olarias informam sobre o estabelecimento de uma indústria local, sobretudo com relação às louças de barro, que, conforme já informado, são a categoria dominante nas amostras cerâmicas da senzala da Fazenda do Colégio. Com relação aos oleiros, foi possível levantar informações sobre as técnicas que possuíam e suas origens, permitindo considerar, assim, os trânsitos culturais existentes. Neste sentido, tentaremos qualificar as informações retiradas a partir de um processo de quantificação com usos de exemplos retirados do próprio jornal Monitor Campista.

No que concerne às louças, nos debruçaremos com mais afinco nas questões relativas às categorias identificáveis nessa fonte, como consta no Quadro 2. Isso é importante para entendermos a diversidade desses itens em Campos dos Goytacazes e confrontarmos com os padrões de consumo da senzala da Fazenda do Colégio.

Quadro 2
Categorias cerâmicas presentes no Monitor Campista, entre 1834 e 1887.

Outro ponto a ser aventado aqui, refere-se às louças classificadas como genéricas. Acreditamos que parte substancial delas poderia se tratar, na realidade, de louças de barro, o que, porém, não pode ser comprovado devido à ausência de informações mais específicas sobre a composição delas.

Retornando aos verbetes escolhidos, destacamos que as olarias se fazem presentes nas sessões de anúncios ou de notícias. Embora várias vezes sejam mencionadas de forma incidental, na maioria das vezes ocorrem de maneira acidental, como em leilões, notícias de crimes, fuga de animais etc. No caso dos oleiros, há uma gama mais abrangente de anúncios e notícias, como fugas de escravizados, vende-se, precisa-se, procura-se mestres oleiros que fazem este ou aquele tipo de trabalho e outros. Para os oleiros, julgamos desnecessário demonstrar as informações sobre suas condições legais (escravizado, forro ou livre), ficando apenas as relativas às origens (“brasileiros”, “africanos”, “pretos” e “sem informações”) e as de gênero (homem e mulher). As louças, por sua vez, estão presentes em anúncios e notícias de vendas, leilões, hipotecas, compras, carregamentos e assim por diante. Desse modo, além de quantificarmos todos esses registros, trataremos das questões e hipóteses levantadas a partir de exemplos retirados do próprio periódico na intenção de demonstrarmos as dinâmicas e as riquezas da cultura e do trânsito cultural existentes em Campos dos Goytacazes.

A pesquisa arqueológica

As pesquisas arqueológicas no Colégio dos Jesuítas foram realizadas em três etapas nos anos de 2012, 2014 e 2016.50 50 Symanski (2019, p. 61-67). Na etapa inicial (2012SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira; GOMES, Denise Maria Cavalcante. Mundos mesclados, espaços segregados: cultura material, mestiçagem e segmentação no sítio Aldeia em Santarém (PA). Anais do Museu Paulista , São Paulo, v. 20, n. 2, p. 53-90, 2012. DOI: 10.1590/S0101-47142012000200003.
https://doi.org/10.1590/S0101-4714201200...
), foram contemplados dois setores: um de deposição de refugo referente aos ocupantes do solar, situado a cerca de 45 metros a noroeste dessa edificação; e o outro a 80 metros a norte do mesmo, referente à extremidade noroeste da senzala em conformação de U situada de frente para a sede, com cerca de 160 x 230 metros (Figura 3). Nesse segundo setor, foram abertas duas áreas de escavação, uma referente a um espaço de uso cotidiano atrás da linha da senzala (unidade leste, NW8.1), na qual foi evidenciada uma estrutura de combustão, e a outra (unidade oeste, NW8.3) consistindo em um espaço destinado exclusivamente à deposição de refugo, o qual era regularmente coberto com fragmentos de telhas. O descarte de refugo, na área de deposição do solar, ocorreu de forma contínua entre o começo e o final do século XIX. Já nas duas áreas da senzala, a deposição concentrou-se entre o final do século XVIII e o terceiro quartel do XIX. A similaridade do material entre essas duas áreas da senzala NW demonstra que o descarte foi realizado pela mesma unidade social, provavelmente um grupo doméstico.

Figura 3
Planta do Colégio dos Jesuítas, com indicação das áreas escavadas. Fonte: Elaborada por Luis Symanski (2022).

Na segunda etapa (2014), foi aberta uma área de escavação imediatamente atrás do arruamento da senzala a sudeste do solar, denominada SE8.8. Nesta área foi evidenciada, aos 50 centímetros de profundidade, uma estrutura de deposição (denominada mancha preta), escavada no sedimento argiloso e preenchida com refugo, incluindo uma grande quantidade de material orgânico. Esta estrutura foi preenchida durante o segundo quarto do século XIX. Os dois níveis imediatamente acima dessa estrutura (30-50 cm) foram preenchidos durante o terceiro quarto do século XIX, enquanto os 30 centímetros iniciais foram bastante alterados pelo arado, apresentando material que se estende cronologicamente, do século XVIII à década de 1980, razão pela qual não foi adicionado nesta análise.

Na última etapa (2016), foi aberta uma área a cerca de 150 metros a nordeste do solar, denominada como área NE. Tratou-se de outra área de deposição, com cinco lençóis de refugo sucessivamente cobertos por telhas quebradas, no mesmo padrão daquele presente na área NW8.3. Esses lençóis de refugo foram depositados entre começo do século XVIII e o começo do XX, consistindo, assim, na área com deposição mais temporalmente recuada e de maior longevidade.

Essas três áreas da senzala apresentaram uma significativa amostra arqueológica, composta por 48.392 fragmentos de ossos de animais, e 27.648 fragmentos de artefatos cerâmicos representados por porcelanas, louças finas, faianças, cerâmicas torneadas simples e vidradas, e vidros.51 51 Ibid., p. 67-68. Fragmentos de itens de ferro e de cobre foram também recuperados. A predominância dos restos faunísticos é indicativa de atividades domésticas centradas no preparo e consumo de alimentos.52 52 Cf. Symanski e Morais Junior (2016). Ornamentos de vidro, ossos e metal compuseram uma categoria pouco representativa, porém altamente significativa em termos dos valores e da estética mantidas por esses grupos.53 53 Cf. Suguimatsu (2019).

Com relação à metodologia de análise, o primeiro aspecto a considerar é a questão da atribuição de temporalidade às amostras. Nesse sentido, a análise levou em conta o princípio da sobreposição, considerando que, em contextos que não sofreram alteração pós-deposicional, os níveis inferiores foram conformados anteriormente aos superiores. Em áreas sem uma estratigrafia evidente, como a NW, o material foi separado por níveis arbitrários que se estenderam da superfície até a base do depósito arqueológico, cuja profundidade variou entre 50 e 60 centímetros. Devido à ação do arado sobre o nível superior, este foi rebaixado em 20 centímetros, e os demais de dez em dez centímetros. Os intervalos de deposição de cada nível foram estipulados com base nas características das louças que apresentam períodos bem definidos de datação, considerando a data de produção inicial mais recente de cada tipo de louça em cada nível/camada/feição/estrutura como a mais próxima ao início da deposição. Já a data de deposição terminal levou em conta a data de produção inicial da louça mais recente do nível/camada/feição/estrutura imediatamente acima. A análise para cada contexto demonstrou uma notável coerência cronológica, com os tipos sendo sucessivamente mais recentes à medida que os níveis se aproximavam da superfície. Este padrão somente não se repetiu nos 30 centímetros superiores da área SE, provavelmente devido às alterações intensas promovidas pelo arado na porção superior do solo desta área. A Tabela 2 apresenta os intervalos estipulados de formação dos níveis/camadas/feições/estruturas das áreas da senzala.

Tabela 2
Intervalos de deposição aproximados dos contextos de senzala.

Outro ponto importante diz respeito aos procedimentos de análise do material arqueológico adotados para este trabalho. As amostras da Fazenda do Colégio já foram discutidas em diversas publicações, monografias e dissertações de mestrado.54 54 Cf. Symanski e Gomes (2019). Neste artigo, trabalhamos, contudo, com dados inéditos, os quais dizem respeito à representatividade quantitativa das seis categorias cerâmicas aqui abordadas, tendo como foco principal a cerâmica torneada sem vidrado, a qual ainda não havia sido contemplada nos estudos prévios, diferentemente das faianças finas e porcelanas,55 55 Cf. Symanski (2019). cerâmicas artesanais56 56 Azevedo (2019), Hepp, Azevedo e Monteiro (2019). e cerâmicas torneadas vidradas.57 57 Lima, N., op. cit. Em adição, neste trabalho adotou-se um procedimento metodológico diferenciado, que foi considerar, antes do número de fragmentos de cada categoria, o seu respectivo peso em gramas. A adoção deste procedimento levou em consideração o fato de que o número de fragmentos pode superdimensionar ou subdimensionar uma amostra, dado que as dimensões, e consequente peso, dos fragmentos variam amplamente. Nesse sentido, o peso torna-se uma variável mais objetiva do que o número de fragmentos. Um aspecto que deve ser considerado diz respeito à questão do estabelecimento de números mínimos de peças (NMP), os quais são definidos a partir das especificidades nas combinações de atributos dentro de cada categoria, referindo-se ao número de fragmentos identificáveis que compõem vasilhames individuais. O uso deste critério de quantificação poderia fornecer uma projeção mais aproximada da representatividade de cada tipo morfológico cerâmico nas amostras, ao reduzir as mesmas a um número mínimo das peças que constituem cada categoria. Destacamos, contudo, que embora este procedimento seja fundamental para análises focadas na variabilidade morfológica de louças e vasilhames cerâmicos, o foco recairá na significância da presença física de cada categoria em termos de volume. Assim, a predominância das cerâmicas torneadas simples sobre as demais categorias relaciona-se ao fato de que se tratavam, em sua maioria, de vasilhames de dimensões significativamente maiores do que as peças das outras categorias, sobretudo as de faiança, faiança fina e porcelana, que tendem a ter dimensões reduzidas.

Dada esta opção metodológica, cabe destacar que os dados quantitativos aqui apresentados não correspondem aos de análises prévias, que adotaram como procedimento metodológico o número de fragmentos.58 58 Como é o caso do trabalho de Hepp, Azevedo e Monteiro, op. cit. e Symanski (2019). Por fim, pelo fato de, neste trabalho, considerarmos a significância relacional das categorias cerâmicas abordadas, julgamos desnecessário detalhar as especificidades morfológicas das categorias cerâmicas de cada amostra, somente destacando as morfologias dominantes no interior de cada categoria, de modo a discutir como essas se articulam em termos de complementação funcional ou como competem entre si.

Considerando que, conforme será discutido mais adiante, a materialidade das senzalas da Fazenda do Colégio é massivamente constituída pelas categorias cerâmicas utilitárias acima descritas é fundamental caracterizar a questão da oferta e circulação desses bens materiais em Campos dos Goytacazes, conforme será discutido a seguir.

CIRCULAÇÃO DE LOUÇAS E CERÂMICAS EM CAMPOS DOS GOYTACAZES

A análise da circulação das louças e cerâmicas utilitárias em Campos dos Goytacazes foi realizada com base nas notícias de leilões, hipotecas, impostos, e, em menor escala, de lojas que anunciavam seus produtos no Monitor Campista. Desse modo, restringe-se ao período de circulação deste jornal no século XIX, entre 1834 e 1887. Pela Tabela 3, percebemos que das 1.402 entradas sobre essas categorias, 57,63% (808) apareceram em notícias, ao passo que as 42,37% (594) restantes em anúncios.

Tabela 3
Números absolutos e relativos das matérias envolvendo louças e cerâmicas no Monitor Campista, entre 1834-1887.

Nos anúncios, sobressaíram aqueles gerais, como o seguinte:

Sa’Freire & Irmão

26 A Rua da Quintanda 26 A

Recentemente chegados do Rio de Janeiro participão a seus amigos e freguezes e ao publico em geral, que reformárão o seu bastante conhecido estabelecimento com um variado e completo sortimento de seccos, molhados, louça, porcellanas, vidros, chrystaes, ferragem e armarinho, comprado nas principaes casas d’aquella praça e que vendem por preços sem competência.59 59 Monitor Campista (1837, n. 242, p. 4).

Em outro estabelecimento comercial era anunciado, em 1839, “loiça branca e pintada”.60 60 Id., 1839, n. 057, p. 3. Dois anos antes do anúncio anterior, havia um com os seguintes dizeres: “- No armasem da rua do Conse ha para vender os seguintes generos: vinho de Lisboa, boa serveja do reino, paios, amendoas, velas macete, fumo, vidros, louça, &c., por preço commodo”.61 61 Id., 1837, n. 220, p. 3. Ainda em 1837, outro comércio anunciava uma louça da Índia.62 62 Id., 1837, n. 242, p. 4. Na rua do Conselho, n. 76, havia em estoque para vender, no ano de 1839, “chicaras de porcellana muito finas de aza e sem aza. velhos de louça para beber agoa, […]”.63 63 Id., 1839, n. 54, p. 4.

Os poucos exemplos acima são importantes para o nosso entendimento do mercado pulsante de louças em Campos dos Goytacazes e os trânsitos culturais que se faziam presentes na cidade, através dessas mercadorias que eram provenientes de inúmeras paragens do mundo.

Com relação à composição dessas peças, no entanto, há uma lacuna nos anúncios e nas notícias dos jornais, sobretudo, pelo uso exacerbado de termos genéricos, como pode ser visto na Tabela 4.

Tabela 4
Distribuição das categorias cerâmicas encontradas no Monitor Campista, entre 1834 e 1887.

Observa-se que a grande maioria das entradas nos anúncios e notícias do jornal referentes às louças e cerâmicas, em percentual superior a 88% (1.236), não fornecem informações mais específicas sobre a composição desses itens. O segundo grupo com o maior percentual, mesmo assim bastante inferior, foi o das faianças finas, com 6,21% (87). A estas, seguem-se as louças de barro, compondo somente 3,50% (49). Cabe destacar que elas não são categorizadas de acordo com a técnica de produção - artesanal ou torneada - porém, por serem produtos circulando nos estabelecimentos comerciais é bastante provável que, em sua maioria, fossem oriundas das olarias locais, tratando-se, portanto, de vasilhames cerâmicos torneados, simples e vidrados. As demais categorias somadas não alcançaram sequer 3,00% das entradas sobre louças e cerâmicas. É bastante provável que a categoria “Genérico” enquadre, na maioria dos casos, as chamadas “louças de barro”, dado que, conforme o Quadro 2, apresentam-se, nessa categoria, itens descritos como “louça de uso”, “louça de serviço” e “louça para beber água”.

Essa ausência de detalhes nas descrições das louças noticiadas e anunciadas no Monitor Campista, a nosso ver, está diretamente ligada ao fato de haver um valor cobrado pelo jornal por linhas publicadas, o que poderia inibir que os comerciantes fizessem matérias detalhadas e, também, pelo fato de existir uma grande diversificação de louças vendidas nos estabelecimentos comerciais, o que dificultaria ao anunciante a exposição de todos os produtos.

Quando observamos a distribuição das categorias cerâmicas de acordo com o período, assim como ocorreu com as olarias e os oleiros, verificamos uma concentração enorme na segunda metade do século XIX, de acordo com a Tabela 5.

Tabela 5
Distribuição das categorias cerâmicas de acordo com os períodos analisados no Monitor Campista, entre 1834 e 1887.

O período entre 1834-1850 apresentou apenas 3,85% (54) das categorias cerâmicas de todo o século XIX, enquanto que entre 1851-1887 o percentual alcançou a casa dos 96,15% (1.348). Essa maior concentração na segunda metade do século XIX, como já foi aludido, deve-se ao fato da ausência de vários anos de publicações do jornal para a década de 1840, sobretudo, e pelo fato do jornal se tornar diário a partir de 1875. Com relação à primeira parte dessa centúria, das 54 categorias apresentadas, 62,97% (34) eram genéricas, 29,63% (16) foram descritas como pertencentes aos grupos das faianças finas e 3,70% (2) como, respectivamente, porcelana e louça de barro. Para as 1.348 entradas anunciadas entre 1851 e 1887, 89,17% (1.202) foram inseridas no grupo de “Genérico”, 5,27% (71) eram faianças finas, 3,48% (47) louças de barro, 1,04% (14) louça de metal, 0,74% (10) porcelana e 0,4% não identificada.

Chama a atenção no período entre 1851 a 1887 o aparecimento das “louças de metal”, muito provavelmente referentes à categoria das louças de ferro esmaltado. Poderia tratar-se de louças importadas ou mesmo produzidas no Brasil, podendo fazer parte, nesse sentido, da diversificação dos vasilhames utilitários aludida por Brancante para os Oitocentos.64 64 Brancante, op. cit., p. 314.

A Tabela 6 apresenta a distribuição das categorias cerâmicas de acordo com suas variações de preço.

Tabela 6
Distribuição das categorias cerâmicas de acordo com os preços (valores encontrados, variações e as médias) no Monitor Campista, entre 1834 e 1887.

Observa-se que, em um universo de 1.402 entradas, o valor das louças e cerâmicas se faz presente em somente 5,56% (78) dos casos. Dessas 78 entradas, 62,82% (49) foram descritas de forma genérica, 16,67% (13) eram faianças finas, 11,54% (9) de metal, 5,13% (4) de barro e 3,84% (3) não identificadas (louça da ladia).

Com relação à variação do preço, temos que levar em consideração as mudanças dos valores cobrados pelas louças entre 1834 e 1887. No caso da variação do preço das faianças finas, está provavelmente relacionado tanto às variações morfológicas quanto às decorativas, dado que, por exemplo, uma sopeira com decoração impressa era dezenas de vezes mais cara que um prato branco. Já no caso das louças de metal e das não identificadas, estaríamos diante de preços dessas louças em anos muito próximos, senão os mesmos. No que concerne aos valores das genéricas, houve uma variação de grandes proporções: entre $2 e $500 réis. Isso indica que nesta categoria estavam cerâmicas diversas - provavelmente variando da louça de barro a porcelana.

Ao analisarmos os valores médios, há uma clara hierarquização dentre essas categorias. As faianças finas foram vendidas em média pelo preço de $361,54, as “não identificadas” - ladia - por $300, as de metal por $200, as genéricas por $172,55 e as de barro, cujo preço médio era o mais baixo de todos, por $5. Da variação dos preços médios, chegamos a duas conclusões: as louças de ladia, sobre cuja composição não obtivemos informações, estavam dentre as de valores mais elevados no mercado campista, tratando-se, assim, muito provavelmente, de louça importada. Por outro lado, as de barro eram, devido ao seu baixo preço, destinadas ao consumo sobretudo da população menos abastada, o que é bastante consistente com a sua predominância nas amostras dos espaços da senzala da Fazenda do Colégio.

Uma análise sobre as louças de barro será feita a partir da (Tabela 7). Nela dispomos as cerâmicas simples, de acordo com as categorias que apareceram (barro, vidrada, da Bahia e vidrada da Bahia) pelos dois períodos analisados até o momento: 1834-1850 e 1851-1887. Assim, partirmos do pressuposto que as de barro e as vidradas seriam produzidas localmente, enquanto que as da Bahia e as vidradas da Bahia teriam suas origens na Província de mesmo nome.

Tabela 7
Distribuição das louças de barro (cerâmicas simples), segundo suas categorias no Monitor Campista, entre 1834 e 1887.

No período entre 1834 e 1850 foram encontrados apenas dois anúncios no Monitor Campista: um referente à vidrada e o outro à louça da Bahia. Para o interregno posterior foram localizadas 47 entradas, sendo que as louças de barro representaram 87,23% (41), as vidradas 8,51% (4) e as da Bahia e seu homônimo vidradas, 2,13% (1) cada. Esses dados podem significar que a produção local de cerâmicas simples não necessariamente cresceu, mas que a busca no mercado por este tipo de louça pode ter aumentado, apesar da já discutida distorção dos dados (Quadro 1). Talvez, no entanto, o crescimento da entrada das louças de barro fabricadas em Campos no mercado consumidor que aparece no Monitor Campista reflita a ideia do aumento das usinas, o que pode ter levado ao decréscimo de uso de olarias, como também no aumento da população, sobretudo a pobre, que pode ter ocasionado a amplificação da procura por vasilhames baratos. Essa situação é expressa no anúncio de 1884: “Capitolio. Compra-se trastes, christaes, louça e tudo mais que guarnece uma casa de família. Rua dos Voluntários da Pátria, n. 4. Fábrica de torrar café”.65 65 Monitor Campista (1884, n. 186, p. 5). Ao que parece, o mercado campista de louça se dinamizou no decorrer do século XIX, abrindo lojas específicas de compra e venda, informando assim, que as louças, mesmo as de barro, tinham um mercado consumidor em Campos.

Com relação às louças da Bahia e à vidrada da Bahia, outrossim, pensamos que os dados retirados do Monitor Campista não refletem a realidade. Brancante66 66 Brancante, op. cit. ressalta que havia um mercado de louças da Província baiana para a do Rio de Janeiro, sobretudo, após a transferência da Capital daquela para essa região, em 1763. De acordo com esse autor: “Sobre a Bahia, já pelos idos do século XVIII em 1779, que a sua louça se fazia presente no mercado carioca, pois é consignado que naquele ano existiam ‘dezesseis lojas de varejo de louça da Bahia”.67 67 Monitor Campista (1839, n. 54, p. 436). Desse modo, é possível imaginar que para a centúria seguinte essas importações tenham aumentado, mas nunca ultrapassando as produzidas localmente.

Com relação à produção local do Rio de Janeiro conjugada à da Bahia, ainda na primeira metade do Setecentos, Brancante escreveu:

A categoria cerâmica produzida na terra, que caracteriza a centúria é ainda a do barro cozido, com a incidência da produção da louça vidrada e a descoberta da porcelana no final do século. […]. A produção baiana nessa primeira metade do século XVIII, revela-se de porte, pois como vimos linhas atrás, era a única a constar da pauta dos artigos recebidos nos portos do Rio de Janeiro.68 68 Ibid., p. 314.

Ou seja, pode ser que a quantidade de louças oriundas da Bahia em Campos dos Goytacazes fosse bem superior à recolhida nas matérias jornalísticas do Monitor Campista. Em um anúncio exemplar, datado de 1839, está escrito o seguinte: “- Na rua Beira Rio, n. 133, vende-se carne secca muito superior e por preço commodo, línguas em salanoura, tamaras, côcos da Bahia de comer, sapatos de Sra a 800 rs, o par, e louça da Bahia que tudo se vende por commodos preços”.69 69 Id., 1839, n. 125, p. 4. Em um leilão de “seccos e molhados”, datado de 1877, dentre vários produtos havia “louça branca, pintada e da Bahia”.70 70 Id., 1877, n. 66, p. 3.

Assim, as louças de barro, aparentemente, tiveram maior procura ou aumentaram seus anúncios no Monitor Campista durante o século XIX. O mercado consumidor de Campos dos Goytacazes se diversificava e isso se refletia na oferta e procura de louças na região. A seguir vamos adentrar nos contextos do solar e da senzala da Fazenda do Colégio, visando caracterizar a dinâmica do consumo desses itens cerâmicos com base no material recuperado nas pesquisas arqueológicas realizadas nesse sítio.

LOUÇAS E CERÂMICAS DA FAZENDA DO COLÉGIO E A DINÂMICA DA VIDA MATERIAL NA SENZALA

Para fins de simplificar a terminologia empregada, a partir de agora utilizaremos o termo “louças” para nos referir às categorias importadas industrializadas ou semi-industrializadas - faiança, faiança fina e porcelana - e cerâmica para os vasilhames de barro produção local/regional - cerâmica artesanal, torneada sem vidrado e torneada vidrada.

Em primeiro lugar, devemos considerar as funções principais em que se enquadram cada categoria cerâmica. Isto é importante para se avaliar quais as categorias que funcionalmente se complementam e quais competem entre si. As louças importadas atuaram, predominantemente, como peças de servir e de consumir alimentos. O repertório morfológico inclui pratos, malgas, tigelas, peças de serviço de jantar (sopeiras, molheiras e travessas), xícaras, pires, peças de serviço de chá (bules e açucareiros), jarras e canecas. A faiança fina e a porcelana têm, contudo, exclusividade nos serviços de chá e de café, cujas peças somente começam a aparecer nos contextos da senzala, como se observará à frente, a partir do segundo quarto do século XIX. A faiança portuguesa é representada, sobretudo, por pratos e almofias (espécie de prato fundo, similar a um alguidar), e, em proporções reduzidas, tigelas, jarros e potes.

Com relação às cerâmicas, as três categorias abordadas tendem a exercer funções complementares no sistema dos objetos domésticos. Para o caso da cerâmica torneada sem vidrado predominam fortemente nas amostras os grandes vasilhames para estocagem, embora ocorram algumas peças de serviço e consumo como pratos, tigelas e alguidares e, possivelmente, panelas (Figura 4). A cerâmica artesanal é representada sobretudo por vasilhames destinados à cocção de alimentos, embora o universo morfológico possa incluir outras peças, como tigelas e potes de armazenagem. Em uma análise da funcionalidade dos vasilhames artesanais da área NW, Hepp e colegas71 71 Hepp, Azevedo e Monteiro, op. cit., p. 126. verificaram que 71,25% das peças identificáveis eram destinadas à cocção de alimentos, 15% ao preparo de alimentos, 11,25% ao serviço e consumo e somente 2,50% à armazenagem/transporte. Essas proporções, contudo, variam espacial e temporalmente. Azevedo em sua análise sobre a variabilidade da cerâmica artesanal da Fazenda do Colégio, observa que as formas associadas ao consumo de alimentos somente emergem, e em baixas proporções, a partir dos contextos da virada do século XVIII para o XIX.72 72 Azevedo, op. cit., p. 117. Desse modo, esta categoria se manterá, em todos os contextos, como predominantemente vinculada à cocção de alimentos. A cerâmica vidrada, por sua vez, é representada por vasilhames pequenos e médios relacionados, sobretudo, ao serviço e consumo de alimentos, incluindo pratos, malgas, tigelas, potes, bacias, jarras e garrafas. Lima, em um estudo sobre a morfologia das peças dessa categoria da área NW, observou a predominância de tigelas (37%), seguidas por pratos (29%) e malgas (16%).73 73 Lima, N., op. cit., p. 51. Quando tigelas e malgas são agrupadas, como recipientes côncavos destinados ao preparo e consumo de alimentos, elas compõem 53% dessa categoria, consistindo, assim, na maioria da amostra. Nesse sentido, as cerâmicas vidradas competiam, morfologicamente, com as três categorias de louças importadas.

Figura 4
Fragmentos de vasilhames cerâmicos torneados dos contextos de senzala da Fazenda do Colégio. Foto: Geraldo Pereira de Morais Júnior.

Portanto, quando consideramos as categorias cerâmicas locais/regionais presentes nas amostras da Fazenda do Colégio, todas de baixo valor econômico, notamos que elas competem pouco entre si, tendendo muito mais a exercer funções complementares. Desse modo, as artesanais eram predominantemente empregadas para cozinhar alimentos, as vidradas para servir e consumir, e as torneadas não vidradas para armazenar alimentos e líquidos. Esta dicotomia funcional entre vasilhames cerâmicos artesanais e torneados foi também observada nos contextos domésticos setecentistas e oitocentistas urbanos de Santarém, Pará,74 74 Symanski e Gomes (2011, p. 75-76, 2015, p. 208-209). demonstrando que essa variação pode ter sido comum nas regiões do Brasil onde essas categorias cerâmicas coexistiram. Já as louças importadas competiam entre si e com as cerâmicas vidradas nas funções de serviço e consumo, exceto pelo consumo do chá ou café, reservados, conforme exposto acima, às porcelanas e faianças finas.

A variabilidade cerâmica na Fazenda do Colégio

Vamos proceder a análise considerando as variações das categorias cerâmicas nos quatro contextos trabalhados - lixeira do solar, senzala NW, senzala NE e senzala SE. Após esse detalhamento discutiremos as tendências gerais dessas variações e o que informam sobre a dinâmica da vida material na comunidade de senzala da Fazenda do Colégio entre o começo do século XVIII e o final do século XIX.

A lixeira do solar

A amostra referente à lixeira do solar se estende entre o começo e o final do século XIX, consistindo em um padrão de deposição regular do refugo durante todo o século XIX. Diferentemente das áreas de senzala, não foi possível definir intervalos deposicionais mais discretos no contexto em questão. A variação cerâmica pode ser observada na Figura 5.

Figura 5
Variação das categorias cerâmicas no solar da Fazenda do Colégio (T=2.289g). Fonte: Elaborada por Luis Symanski (2022).

Observa-se, em primeiro lugar, o forte predomínio da faiança fina (57,18%), seguida pela porcelana (16,81%) e pela cerâmica torneada simples (15,64%). Conforme colocado acima, as faianças finas competem, em termos de função, com as porcelanas, sendo que essas últimas, devido ao seu valor mais elevado, atuam como marcadores mais proeminentes de status, sendo, assim, mais utilizadas para a exibição em eventos sociais. Desse modo, nesse contexto, a competição entre essas duas categorias é relativa, pois tendem a exercer funções sociais distintas, com a faiança fina tendo sido provavelmente empregada para refeições de cunho mais íntimo e a porcelana para eventos sociais com convidados. De fato, a comparação entre os padrões morfológicos dessas duas categorias demonstra que as peças destinadas ao consumo do chá compõem 60% da amostra de porcelanas e 27% daquela de faianças finas. Considerando a significância social do consumo do chá entre as classes mais abastadas da corte no século XIX,75 75 Cf. Lima, T. (1997). esta variação entre as duas categorias é provavelmente indicativa de seu uso em esferas de interação social diferentes, com a primeira mais vinculada às refeições de cunho íntimo e a segunda a eventos de sociabilidade com convidados.

A faiança portuguesa, por sua vez, é a categoria menos expressiva da amostra (2,27%), consistindo em peças velhas e fora de moda nesse contexto de deposição oitocentista. Trata-se de peças que foram provavelmente utilizadas pelos escravizados domésticos, que também as usaram, no mesmo período, nos três espaços da senzala. As cerâmicas vidrada e artesanal outrossim se apresentam em proporções bastante reduzidas (3,84% e 4,23%, respectivamente). Do mesmo modo que as faianças portuguesas, as peças de cerâmica vidrada foram, provavelmente, empregadas pelos escravizados domésticos para o consumo de alimentos. Já as cerâmicas artesanais devem ter sido recorrentes no espaço da cozinha do solar para a cocção de alimentos, estando, portanto, também vinculadas às esferas de atividades dos escravizados domésticos. Sua baixa representatividade nessa amostra pode dever-se à possibilidade de os resíduos da cozinha terem sido descartados em um local diferenciado do terreno, sobretudo se levarmos em conta o fato de que a cozinha, na maioria das residências coloniais e oitocentistas das classes mais abastadas, situava-se em uma área anexa dos fundos, e assim afastada dos recintos da habitação.76 76 Lemos (1993, p. 97). Por fim, a cerâmica torneada sem vidrado se apresenta em uma proporção bastante significativa frente às três prévias categorias de baixo valor econômico e deve ter sido empregada com o propósito de estocar produtos perecíveis no espaço da cozinha ou na despensa do solar.

A variação observada nas categorias cerâmicas do solar é indicativa das fronteiras sociais entre a família proprietária e os escravizados domésticos, materialmente expressa, neste contexto, pela relação proprietários/porcelanas/faianças finas x escravizados/cerâmica artesanal/cerâmica vidrada/faiança. A cerâmica vidrada, por competir morfologicamente com as faianças finas e porcelanas, se torna incoerente para compor a mesa dos proprietários, porém adequada para as refeições dos escravizados, junto com as peças velhas de faiança portuguesa. A cerâmica torneada sem vidrado, por sua vez, teria simplesmente uma função utilitária, servindo para armazenar alimentos nos espaços não sociais do solar.

A senzala NE

A área NE consiste no contexto de senzala com maior profundidade temporal. A deposição se estende desde o começo do século XVIII (talvez final do XVII) até por volta de 1930. Os contextos de deposição estão selados por capas de fragmentos de telhas e, com exceção do mais superficial (0-20 cm), tiveram pouco revolvimento. Assim, trata-se de uma diacronia muito consistente. Embora o contexto tardio (0-20 cm) avance nas primeiras décadas do século XX, a grande maioria do material presente nesta camada é oitocentista. A Figura 6 apresenta a variação diacrônica das categorias cerâmicas nos contextos NE, SE e SW.

Figura 6
Gráficos com as variações cerâmicas nos contextos NE (T=67.919g), SE (T=19.079g) e NW(T=33.253g) da senzala da Fazenda do Colégio. Fonte: Elaborada por Luis Symanski (2022).

O primeiro aspecto que se destaca nos gráficos da área NE é a forte predominância da cerâmica torneada sem vidrado, que se mantém com baixas variações durante todo o intervalo dessa série que se estende por mais de duzentos anos, oscilando entre 67,32% no contexto mais temporalmente recuado para 58,53% no mais recente. A mesma situação ocorre com a cerâmica artesanal, que se mantém como a segunda categoria mais popular, oscilando entre 20,26% e 15,74%. A baixa variação observada entre essas duas categorias indica que elas não competem entre si nesse contexto - o que também é indicado por seguirem curvas de popularidade similares -, tendendo a exercer funções complementares no domínio doméstico.

As variações são mais nítidas nas três demais categorias, todas, por sinal, majoritariamente destinadas à esfera do serviço e consumo de alimentos. A tendência mais evidente diz respeito à curva da cerâmica vidrada, com o pico no centro da série (1800-1825), a qual é acompanhada pela curva da faiança portuguesa. Ambas as categorias aumentam suas proporções entre o primeiro e o terceiro período, à medida que a torneada sem vidrado e a artesanal declinam, sugerindo um aumento da diversidade morfológica nas peças de serviço e consumo de faiança e cerâmica vidrada através do tempo vão ocupando o lugar de peças torneadas sem vidrado e artesanais. Por fim, as faianças e cerâmicas vidradas declinam a partir da emergência das faianças finas no quarto período da série, as quais passam a ocupar o lugar das peças de serviço e consumo dessas duas outras categorias.

A senzala SE

Na senzala SE foram analisadas as amostras dos dois contextos não afetados pela ação do arado e que apresentam uma diacronia consistente. O mais antigo (mancha preta) diz respeito a um buraco de lixo provavelmente preenchido entre 1835 e 1850. Os níveis 4 e 5 consistem na camada imediatamente superior a este buraco, com deposição mais concentrada entre 1850 e 1870. Os níveis 1 a 3 tinham muito material do século XX misturado com materiais mais antigos e dizem respeito a um intervalo de deposição que se estende entre 1870 e 1980, que é muito amplo para podemos empregar neste tipo de análise.

A variação das categorias cerâmicas demonstra, como no caso da senzala NE, a forte predominância da cerâmica torneada sem vidrado, que vai de 53,47% no contexto mais antigo para 62,86% no mais recente (Figura 5). Outra tendência similar à observada na área NE diz respeito ao aumento simultâneo entre as torneadas sem vidrado e as cerâmicas artesanais, sendo que, porém, as artesanais apresentam um aumento mais dramático neste caso, indo de 9,21% no primeiro período para 22,63% no segundo. Este aumento na proporção da cerâmica artesanal é acompanhado pela queda radical na proporção da faiança fina, de 25,56% para 6,93%, e da faiança portuguesa, de 6,01% para 2,72%. É interessante observar que essa é a única área na qual se observa um declínio da faiança fina através do tempo. Também se observa a duplicação da proporção das vidradas, que vão de 2,18% para 4,58%. Essa variação material indica que, durante o terceiro quarto do século XIX, os ocupantes da senzala SE substituíram uma grande proporção das louças importadas por correlatos locais, compostos por peças vidradas, torneadas e artesanais.

A senzala NW

Na área da senzala NW a deposição se concentrou nos três primeiros quartos do século XIX. Apresenta, assim, uma acentuada contemporaneidade com o depósito do solar. O material provém de dois contextos de escavação adjacentes, vinculados à mesma unidade de habitação e afastados cerca de 10 metros um do outro. O contexto 8.3 diz respeito a uma área exclusiva de deposição (lixeira). O contexto 8.1 a uma área de atividades no entorno de uma fogueira no lado externo da habitação. Visando dar coerência diacrônica às amostras, os dois contextos tiveram seus níveis organizados cronologicamente em uma mesma série (Figura 5).

A variação material nessa área da senzala difere em aspectos significativos daquela da NE, sobretudo a partir dos três períodos terminais da série. Enquanto os três iniciais apresentam uma certa correspondência com os três contextos mais tardios da NE, expressa, sobretudo, na maior popularidade das cerâmicas torneadas sem vidrado e das artesanais, estas últimas se apresentam em uma proporção bem mais significativa do que as presentes naquela área, oscilando entre 18,36% e 38,13% (Figura 5). Observa-se ainda, nos quatro primeiros conjuntos, uma curva inversa entre essas duas categorias, indicativa de um certo grau de competição entre elas. Isto significa que as artesanais estão tomando o lugar das torneadas sem vidrado em várias funções, diferentemente das áreas NE e SE, nas quais ambas as categorias tendem a seguir curvas de popularidade análogas. De fato, em seu estudo sobre a variabilidade da cerâmica artesanal dos contextos de senzala, Azevedo observa um gradual aumento no repertório morfológico das cerâmicas artesanais através do tempo, que vão de três formas básicas no começo do século XVIII a 25 ao longo do século XIX, sobretudo a partir de 1825.77 77 Azevedo, op. cit., p. 124. E é justamente na área NW que se observa a maior variabilidade desta categoria, concentrada sobretudo nos contextos que se iniciam no segundo quarto do século XIX.78 78 Ibid., p. 125. Desse modo, morfologias antes vinculadas com as torneadas sem vidrado podem ter sido, com o tempo, adotadas na produção ceramista artesanal e os escravizados da área NW começaram a optar por cerâmicas artesanais para cumprir funções antes predominantemente atribuídas às cerâmicas torneadas simples. Esta variação, provavelmente relaciona-se a mudanças nas possibilidades de consumo e de participação no mercado por parte deste grupo, conforme será discutido adiante.

PRODUÇÃO E AQUISIÇÃO DE CERÂMICAS NA SENZALA DA FAZENDA DO COLÉGIO

Os dados discutidos acima provêm de treze contextos de senzala e um da casa-grande. A tendência dominante nas três áreas de senzala é o forte predomínio da cerâmica torneada simples, próximo ou superior a 50%, em dez desses. Esse predomínio se mantém do começo do século XVIII ao final do XIX, exceto pelos contextos tardios da área NW, que merecem ser melhor discutidos. É necessário, primeiramente, discutir as formas como os escravizados da Fazenda do Colégio tiveram acesso a esses artefatos cerâmicos.

Os registros históricos disponíveis informam que o primeiro proprietário da Fazenda do Colégio, Joaquim Vicente dos Reis, sustentava e vestia os escravizados, além de dar-lhes um dia da semana e o domingo para trabalharem visando o seu próprio sustento.79 79 Guglielmo, op. cit., p. 31. Isto significa que havia duas rotas para a entrada de bens na senzala: a primeira via a redistribuição de produtos, como roupas e alimentos, pelos proprietários; e a segunda, a partir de recursos obtidos por meio do próprio trabalho das pessoas escravizadas nos dias livres, tais como pelo cultivo em suas próprias roças, ou, no caso daqueles com ofícios especializados - a exemplo dos diversos pedreiros, alfaiates, cozinheiros, serralheiros, carpinteiros e oleiros existentes nessa comunidade de senzala - pela oferta de seus serviços no mercado local. O caso do pardo Antônio Francisco Granjeiro, analisado por Guglielmo, é um exemplo dessa possibilidade.80 80 Ibid., p. 44-49. Antônio Granjeiro era um escravizado com ofício de alfaiate da Fazenda do Colégio, no período de Joaquim Vicente dos Reis. Visando obter sua liberdade para se livrar dos “violentos tratos” do proprietário, ele conseguiu acumular, por meio de seu ofício e contando com o auxílio de sua esposa, uma quantia suficiente para comprar a sua alforria. A sua história, contudo, não teve um bom desfecho, pois não somente ele teve o pedido de sua liberdade negado, como ainda foi doado por Joaquim dos Reis à Santa Casa de Misericórdia de Angola.

O material arqueológico presente nos contextos da senzala é, portanto, produto de ambos os processos: o recebimento via redistribuição centralizada pelo proprietário e a aquisição própria. A análise do material permite inferir como algumas categorias materiais entraram na senzala. Os restos faunísticos, por exemplo, caracterizam-se pelo grande predomínio das patas de bois e de porcos em todos os contextos. Tratavam-se, muito provavelmente, de cortes provenientes da produção pecuária da própria fazenda, que mantinha grandes rebanhos bovinos e suínos e que foram destinados como ração para as famílias da senzala. Por outro lado, as práticas da caça e da pesca estão indicadas pela onipresença, nesses contextos de senzala, de ossos de animais silvestres, como jacarés e gambás, e de peixes, demonstrando atividades autônomas realizadas pelos escravizados para a complementação da ração de proteína animal em sua dieta.81 81 Morais Junior e Symanski (2019).

Com relação ao material cerâmico, um processo similar pode ser inferido. A análise comparativa das faianças finas e porcelanas entre os contextos da senzala e do solar indicou uma alta diversidade tipológica e um baixo grau de compartilhamento de tipos. Isto significa que cada área de senzala manteve tipos exclusivos de louças, apesar de ocorrer preferências estéticas comuns às áreas NW e SE da senzala, a exemplo das louças policrômicas spongeware e spatterware.82 82 Symanski (2019, p. 88-89). Essa diversidade fortemente sugere que os escravizados adquiriram suas louças no mercado, dado que, se tivessem obtido pela redistribuição senhorial, se esperaria um alto grau de uniformidade entre as amostras.83 83 Ibid. A análise arqueométrica realizada nas amostras das cerâmicas artesanais, contrastando as mesmas com as fontes de argila locais, indica que essas cerâmicas não foram produzidas na fazenda,84 84 A análise foi realizada por Cheila Sumenssi (2021) no Laboratório de Física Nuclear Aplicada da Universidade Estadual de Londrina, sob a orientação de Carlos Appoloni e Renato Ikeoka. Os resultados constam em sua dissertação de mestrado. Foi utilizada a técnica de fluorescência de raios X por dispersão de energia. Na análise quali-quantitativa foram medidos os elementos Al, Si, P, S, K, Ca, Ti, V, Mn, Fe, Cu, Zn, Rb, Sr, Y, Zr e Nb. tendo sido provavelmente produzidas em possíveis núcleos produtores locais e adquiridas pelos escravizados através do comércio, seja em feiras ou de comerciantes ambulantes (Figura 7).

Figura 7
Huma história; H. Chaberlain, 1822CHABERLAIN, Henry. Uma História, 1822. Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3z2hu5q . Acesso em: 11 jan. 2022.
https://bit.ly/3z2hu5q...
; aquarela; 28,90x20,30cm. Nesta gravura observa-se um vendedor ambulante de vasilhames cerâmicos, provavelmente na cidade do Rio de Janeiro. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira, 2022.

Por outro lado, as cerâmicas torneadas sem vidrado e vidradas foram, muito provavelmente, produzidas na olaria da própria fazenda, tratando-se, assim, de uma produção local controlada pelos proprietários e, a exemplo das rações e peças de roupa, distribuídas na comunidade. A Fazenda do Colégio contava com uma olaria desde o tempo dos jesuítas.85 85 Leite (1945, p. 88). Além de cerâmica construtiva, como telhas e tijolos, a olaria também produzia vasilhames cerâmicos, conforme indica a descrição de Araújo, na qual o autor se refere à olaria em questão como uma fábrica de louça.86 86 Araújo (1820, p. 111).

Retornando à questão dos três contextos tardios da área NW, que, conforme discutido acima, são os únicos em que as cerâmicas torneadas simples não compõem a categoria dominante, sendo superadas inicialmente pelas cerâmicas artesanais e, no último período da série, pelas faianças finas, o entendimento dessa variação passa por uma análise mais detalhada dessa última categoria. Avariação das louças importadas nessa área foi interpretada como relacionando-se a conquistas de espaços de autonomia e maior participação no mercado por parte desses grupos durante o segundo quarto do século XIX, a qual é expressa pelo maior investimento em louças importadas mais diversificadas e de maior valor, incluindo louças de servir de jantar e chá e faianças finas impressas. Uma situação similar ocorreu neste mesmo intervalo no contexto inicial da área SE (Figura 5), em que as faianças finas destacam-se como a segunda categoria dominante. A conquista desses espaços de autonomia enquadra-se, temporalmente, no período em que o genro de Joaquim Vicente, Sebastião Barroso, assumiu a propriedade da fazenda - entre 1818 e 1843 - e diz, assim, respeito a possíveis mudanças nas estratégias de negociação social entre o proprietário e as pessoas escravizadas. Considerando que as cerâmicas artesanais também foram adquiridas no mercado, é possível que a opção do grupo da área NW por esta categoria em detrimento das torneadas produzidas na olaria da Fazenda e reditribuídas para a senzala, consistisse em outra forma de expressão da autonomia conquistada por este grupo. Cabe, nesse sentido, lembrar que a cerâmica artesanal desses contextos tardios da área NW caracteriza-se, justamente, pela maior diversidade morfológica,87 87 Azevedo, op. cit., p. 125. demonstrando uma maior especialização funcional dessas peças, que se coadunava com a maior diversidade das louças importadas nesse contexto.

Por fim, é bastante provável que a maior popularidade das cerâmicas torneadas simples na grande maioria dos contextos da senzala da Fazenda do Colégio deva-se, como exposto acima, à maior acessibilidade decorrente da produção na olaria local, seguida pela redistribuição dessas peças para as famílias escravizadas, provavelmente em um processo de economia interna da Fazenda. No ano de 1843 trabalhavam, na olaria, as seguintes pessoas escravizadas: Manoel Pedro, crioulo, de cinquenta anos; Feliciano, cabra, de quarenta anos, Simão, pardo, de 45 anos; José, crioulo, de trinta anos; os irmãos José e Ignácio, crioulos, de respectivamente quarenta e 28 anos; José da Cruz, de quarenta anos; Bartholomeu, crioulo, de trinta anos; Francisco Bichinha, de quarenta anos; e Nicácio, crioulo, de 32 anos. Observa-se, assim, que a produção oleira da Fazenda consistia em uma prerrogativa masculina, diferentemente da produção de cerâmica artesanal, tida tradicionalmente como um ofício feminino, tanto entre as populações indígenas quanto africanas e mestiças do Brasil.88 88 Agostini, op. cit. e Symanski (2006, p. 149). Outro aspecto que chama a atenção é a forte predominância dos escravizados categorizados como “crioulos” - de ascendência africana direta por parte de pai e mãe - nessa produção, consistindo em oito dentre os dez oleiros. Essa proporção é superior àquela dos escravizados descritos como crioulos na totalidade população da senzala em 1843, que compuseram 56,37%89 89 Symanski (2019, p. 94). e assim demonstra que o ofício de oleiro foi mais comum entre os escravizados ditos crioulos do que entre aqueles categorizados como cabras e pardos.

A grande popularidade das cerâmicas produzidas em torno nos espaços da senzala da Fazenda do Colégio sugere que esses vasilhames tiveram uma alta significância no cotidiano doméstico dos grupos escravizados e de baixa renda do norte fluminense e, talvez, de outras regiões do Rio de Janeiro e do Sudeste (Figuras 8 e 9). Cabe, portanto, nos debruçarmos mais detalhadamente sobre essa categoria material, considerando a questão dos espaços em que comumente foi produzida e dos agentes envolvidos em sua produção com base nas informações obtidas do Monitor Campista.

Figura 8
Market slaves; Charles Landseer, 1825-26; grafite sobre papel; 13x24,7cm; 1796. Fonte: Acervo de Iconografia/Instituto Moreira Salles.

Figura 9
Família pobre em sua casa; J. Baptiste Debret, 1827; aquarela; 16x22cm. Fonte: Bandeira e Lago (2008BANDEIRA, Julio; LAGO, Pedro Corrêa (org.). Debret e o Brasil. Rio de Janeiro: Editora Capivara, 2008, p. 182., p. 182).

Nesta imagem observa-se a presença, no canto inferior direito, de um pote de estocagem produzido em torno, conforme demonstram as linhas paralelas em seu interior, que, embora quebrado, prosseguia em utilização.

OLARIAS E OLEIROS EM CAMPOS DOS GOYTACAZES: PRODUÇÃO LOCAL E CIRCULARIDADE DAS TÉCNICAS

Em 1883, na seção “Noticiário”, o Monitor Campista anunciava uma “Nova Opera de Carlos Gomes” na cidade de Campos dos Goytacazes. Essa ópera descrevia os três atos em que um escravizado aparecia:

O escravo tem três actos. A seção da primeira passa se em um olaria perto de Lorena; a da segunda na caza de uma elegante duqueza hespanhola de Nictheroy, devendo o fondo da cena representar a magestosa bahia; a do terceiro, às margens do rio Parahyba, perto de Rezende.90 90 Monitor Campista (1883, n. 59, p. 1).

À primeira vista parece que a ópera em si não tenha uma informação de grande relevância para o presente trabalho. No entanto, traz duas possibilidades importantes: a primeira, da conexão entre olarias e pessoas escravizadas; e a segunda, a importância que a referência a uma olaria poderia ter naquela sociedade. Segundo Vieira, as olarias serviam para abastecer as necessidades internas das vilas e das cidades de tijolos, de telhas e de louças mais comuns, ficando os objetos mais refinados por conta de importações pelos cidadãos mais abastados.91 91 Vieira (2016, p. 49-51).

A mera referência a uma olaria em uma ópera remonta toda uma estrutura existente na sociedade campista e brasileira oitocentista: olarias e oleiros escravizados. Lima nos informa que era comum na configuração das grandes fazendas construídas pelos jesuítas haver olarias, “que eram mantidas com a intenção de suprir as diversas necessidades internas que este tipo de estabelecimento poderia demandar, sendo assim, eles possuíam suas próprias olarias visando assegurar com regularidade as obras internas dos Colégios”.92 92 Lima, N., op. cit., p. 24-25. Mesmo em lugares em que os jesuítas não estavam presentes, as olarias eram importantes. Brancante afirma que nas Minas Gerais setecentistas era comum haver olarias para suprir as necessidades por tijolos, telhas e vasilhames utilitários.93 93 Brancante, op. cit., p. 239.

Alberto Lamego descreve a atividade ceramista em São Fidélis, região próxima à Campos dos Goytacazes. De acordo com ele, em 1811, havia na cidade 3.896 pessoas, quatro engenhos de açúcar, duas serrarias e mais duas olarias no curato, cujo “[…] principal comércio era de telhas, tijolos, louça de barro e tecido de algodão grosso”.94 94 Lamego (1963, p. 268).

A referência de Campos dos Goytacazes enquanto um tradicional polo de produção ceramista do estado do Rio de Janeiro atual, não se deve apenas à relação com as atividades desenvolvidas nos antigos engenhos dos “barões do açúcar”, nos solares construídos pelas ordens religiosas e nas usinas, mas ao fato da existência de argila em abundância, que é retirada do rio Paraíba do Sul.95 95 Azevedo, op. cit., p. 74.

Em suma, poderíamos dizer que, para além de uma economia açucareira e escravista, Campos dos Goytacazes tinha uma produção interna de cerâmica, fruto dos trabalhos fomentados no interior de suas olarias, que remontam às primeiras levas de jesuítas e beneditinos na região.

Pela Tabela 8, observa-se uma quantidade relativamente alta de olarias que apareceram no Monitor Campista, entre 1834 e 1887. Ao todo, encontramos 229 matérias envolvendo olarias, sendo 56 (24,45%), entre 1834 e 1850, e 173 (75,55%) para a segunda metade do século XIX.

Tabela 8
Números absolutos e relativos dos tipos de notícias sobre olarias no Monitor Campista, entre 1834-1887.

Dentre os tipos de matérias observadas, também houve a predominância para os anos entre 1851 e 1887. Contudo, os anúncios tiveram 68,15% (107) e as notícias chegaram a 91,67% (66). Além disso, os totais de anúncios foram maiores em termos absolutos nos dois períodos e ao todo. Entre 1834 e 1850, os anúncios representaram 89,29% (50) das 56 matérias sobre olarias e 61,85% (107) do total de 173 no período posterior, ao passo que as notícias tiveram percentuais bem menores: 10,71% (6) e 38,15% (66), respectivamente. No total, os anúncios chegaram a 68,56% (157), ao passo que as notícias somaram 31,44% (72).

As matérias sobre olarias, como já frisamos, são esparsas e, geralmente, indiretas. Exemplo disso pode ser retirado do anúncio abaixo:

- Vende-se a fasenda da Barra do Lagamal na margem do Sul do rio Ururahy com 300 braças de testada ao mesmo rio, fazendo correspondentes, e matos, em terras próprias: 2 corpos d’Engenho, moendas de ferro, e caldeiras novas, com alambique, e olaria; tendo muito bom barro, e um canavial de 40 caixas em estado de moer: quem pretender dirija-se a mesma fasenda.96 96 Id., 1837, n. 237, p. 4.

Na venda da fazenda do Lagamal, também podem ser visualizadas as relações que estamos explicando desde o início do presente artigo: engenhos e olarias. Parece ser uma relação sine qua non a existência de olarias nas áreas em que há engenhos. Além disso, o anúncio de venda acima também demonstra a importância de haver barro nas fazendas com olarias. Isso seria a garantia da produção para suprir as necessidades locais de telhas e de tijolos, mas também de vasilhames utilitários.

Em outra notícia, datada de dois anos após a anterior, Felipe Carlotino da Gama anunciava a venda de sua fazenda, que, entre outras coisas, possuía uma olaria.97 97 Id., 1839, n. 118, p. 4. Em 1877, havia um anúncio intitulado “Telhas francezas”, com o seguinte destaque:

Recommendamos ao publico e especialmente aos mestres de obras, as telhas denominadas - francesas, fabricadas na olaria pertencentes aos herdeiros do finado Dr. Joaquim Manhães Barreto, situada à margem do rio Ururahy. Em nada se differenção-se essas telhas das fabricadas em Marseille, pois tem a mesma fórma e peso, e cobrem, senão superior, ao menos igual superfície que aquellas. O barro é de excelente qualidade […].98 98 Id., 1877, n. 059, p. 2.

Este último anúncio indica bem a versatilidade da produção de cerâmica local. Capaz de fabricar telhas e, possivelmente, outros artefatos de barro da mesma qualidade que aqueles importados da Europa. No caso, as telhas imitam em forma e em peso as produzidas em Marseille, França.

Na notícia a seguir, datada de 1878, aparece uma denúncia de uma olaria que se encontrava “dentro da cidade e não paga[va] direitos à Câmara”.99 99 Id., 1878, n. 230, p. 2. Em outra notícia, era publicado que havia sido furtado um “bonito cavallo alazão” da olaria do Sacco.100 100 Id., 1878, n. 286, p. 3. Um ano depois, foi noticiado um “[…] incêndio no forno da olaria do Sr. Antonio da Silva Malhães, no bairro das Covas d’Arêa”.101 101 Id., 1879, n. 10, p. 2. Em 1881, ocorreu o aparecimento de duas onças “[…] nas proximidades da olaria de Lohmann, no morro da Boa-Vista, e na estrada da serra”.102 102 Id., 1881, n. 178, p. 2.

Pelos dados retirados acima e pelos exemplos indicados, aparentemente, as olarias tiveram uma significativa presença na sociedade campista do século XIX. Muitas delas estavam ocupadas na fabricação de louças, telhas e tijolos para o mercado local, havendo, também, algumas em que a produção era semelhante às cerâmicas construtivas europeias. Tendo isso em mente, passaremos a explorar os anúncios e notícias sobre os oleiros.

No total, encontramos 226 matérias no jornal Monitor Campista entre 1834 e 1887, que envolveram oleiros (Tabela 9). Destas, 52,21% (118) se referiam a notícias e 47,79% (108) a anúncios. Dentre os períodos analisados, o de 1834 a 1850 teve apenas 6,19% (14), sendo 100% em anúncios. Ao passo que entre 1851 e 1887, o percentual alcançou 93,81% (212). Os anúncios responderam por 44,34% (94) do total de matérias para a segunda metade do XIX e as notícias por 55,66% (118).

Tabela 9
Números absolutos e relativos dos tipos de notícias sobre oleiros no Monitor Campista, entre 1834-1887.

Em relação aos anúncios, foi muito comum encontrar procuras como a seguinte: “- Preciza-se de um mestre oleiro que entenda de enfornar e caldiar; quem se achar nestas circunstancias dirija-se a olaria de José Cardozo Guimarães na estrada do Saco, ou a rua Direita n. 31. O mesmo tem algumas vacas boas de leite para vender e outras para o corte”.103 103 Id., 1839, n. 97, p. 4. O anúncio traz a procura por um mestre oleiro sem necessariamente passar pela aquisição de um escravizado em si. Isso parece ter sido um fator importante na sociedade Campista da época, de modo que as matérias do Monitor Campista parecem ser sintomáticas disso.

Em outro número do jornal, datado de 1884, estava assim: “Preciza-se de trabalhadores livres ou escravos na olaria de S. Martinho, perto do matadouro”.104 104 Id., 1884, n. 186, p. 4. Contudo, o fato de haver anúncios com “precisa-se” de mestre oleiro, indiferente da condição legal, não implicava necessariamente a não existência de uma gama de pessoas escravizadas, cujo ofício não fosse exatamente o de oleiro. Em 1880, por exemplo, chegou ao jornal a seguinte notícia:

Escravo fugido

Está fugido o escravo de nome Cornelio da fazenda de Santa Rosa no Muhiahé, mais de quarenta annos, baixo, magro, pouca barba, olhos fundos, é oleiro e alfaiate, desconfia-se que esteja trabalhando em alguma olaria nos arredores da cidade ou fora; quem do mesmo der notícias certas ou apprehende-lo será generosamente gratificado, protesta-se com todo rigor da lei contra quem o tiver acoutado; para mais informações em casa do Sr. Sampaio, Rocha & Cª. Na rua Direita n.67.105 105 Id., 1880, n. 100, p. 3.

A notícia acima é interessante, pois, além de informar que se tratava de um escravizado “oleiro e alfaiate”, trazia também a sua descrição. Esses detalhamentos nos possibilitaram fazer uma espécie de mapeamento das origens e do gênero dos oleiros em Campos dos Goytacazes, entre 1834 e 1887, como consta na Tabela 10.

Tabela 10
Números absolutos e relativos dos oleiros, segundo as origens e o sexo, encontrados no Jornal Monitor Campista, entre 1834-1887.

Em relação ao gênero dos oleiros que aparecem na Tabela 10, todos foram informados como do sexo masculino. Isso pode demonstrar que o ofício era uma prática exclusiva dos homens, conforme já indicado pelo caso da olaria da Fazenda do Colégio, bem como reforçar a tendência de que trabalhos especializados, no período analisado, estavam circunscritas ao universo masculino.106 106 Godoy e Paiva (2010, p. 161-191). Há, assim, uma dicotomia de gênero entre a produção cerâmica nas olarias, vinculada à esfera masculina, e a produção cerâmica artesanal doméstica, vinculada à esfera feminina. Na documentação consultada, há uma única menção a uma oleira, a escravizada Maria, “de nação”, listada na “Relação Registro de Hipoteca”, em 18 de setembro de 1848, que fez o seu proprietário João Machado de Oliveira e Silva, juntamente com mais 203 pessoas escravizadas. Dos 204 escravizados listados, apenas Maria e José Caboio, que era “oleiro de telhas” e, também, “de nação”, portanto, vindo da África, tinham o ofício de oleiros.107 107 Relação Registro de…, (1844-1851, f. 268). É possível que Maria produzisse vasilhames artesanais, dado que a designação de oleira/oleiro poderia remeter primeiramente ao trabalho com o barro antes do que às atividades em oficinas de cerâmica. Não obstante, esse caso é importante, pois nos demonstra que esse ofício estava atrelado à origem africana entre os escravizados, malgrado não se restringisse a eles. Assim, as técnicas que se faziam presentes nas olarias eram dinâmicas e, em termos geográficos, extensíssimas, transformando essas construções do trabalho no barro em verdadeiros laboratórios culturais.

Para estabelecer critérios mínimos de averiguação das origens dos oleiros que apareceram no jornal Monitor Campista, dividimos estas em quatro categorias: “africanos”, “brasileiros”, “pretos” e “sem informações” (S/I).108 108 Embora uma parte importante da historiografia afirme que o termo “preto” identificasse um escravizado africano para o período colonial e em boa parte do Imperial, separamos os oleiros encontrados sob essa nomenclatura, pois para a segunda metade do Oitocentos, fica difícil saber se preto era sinônimo de africano ou era um termo geral para a população negra. Para essa discussão, cf. Rezende (2022). Os “africanos” e os “pretos” eram todos escravizados fugidos, ao passo que os “brasileiros” e os “S/I” se dividiram entre as condições legais de livres e pessoas escravizadas.

Para as origens dos oleiros, quase 72% não tiveram essa variável assinalada, o que pode ser sintomático da ideia de que ou se conhecia o indivíduo na região e ser desnecessário informar sua origem, ou de se tratar, muitas vezes, de anúncios de trabalho (precisa-se ou procura-se por emprego). Os 47 africanos representaram 20,80% dos oleiros, demonstrando, dentre os escravizados, o apego pelas técnicas advindas da África e o conhecimentos sobre olaria que estes indivíduos possuíam.

Assim, é possível que essa ideia do conhecimento dos africanos tenha pesado bastante nos ofícios praticados pelos escravizados em Campos dos Goytacazes. Além disso, os “pretos” representaram 5,75% (13), ao passo que os “brasileiros”, todos mulatos, consistiram somente em 1,77% (4) dos oleiros no Monitor Campista, entre 1834 e 1887.

Resumindo os achados até aqui: nem todos os oleiros eram pessoas escravizadas, isso quer dizer que o ofício em si poderia ser rentável para uma parte da população, que estava desprovida do acesso direto à terra; e, entre os escravizados, muitos eram de origem africana. Com isso, havia uma circularidade e uma reinvenção das técnicas ceramistas em Campos dos Goytacazes no período em apreço.

Em um anúncio muito interessante que pode demonstrar o que acabamos de afirmar, no Monitor Campista de 1837, estava assim:

- Quem precisar de um homem (já de idade), bom mestre Oleiro, tendo este um escravo tambem mestre do mesmo officio, os quaes trabalhão mui bem em louça vidrada, assim como talhas, moringues, quartinhas, & e.: os mesmos morão em a Cidade de Nictheroy em casa de José de Sousa Pais Medeiros: quem os pretender pode os mandar procurar em dita Cidade de Nictheroy.109 109 Monitor Campista (1837, n. 218, p. 4).

Esse anúncio possui várias possibilidades de análises: a primeira delas é que havia um trânsito físico entre os oleiros, pelo menos no interior da Província Fluminense. Este “bom mestre Oleiro” residia em Nictheroy e estava anunciando os seus serviços a qualquer parte da Província. A segunda é que o ofício não era apenas destinado a pessoas escravizadas, embora fosse possível que boa parte dos oleiros estivessem sob essa condição legal naquele momento ou tivessem sido escravizados. Poderíamos conjecturar que o próprio “bom mestre Oleiro” em algum momento regresso tivesse sido um escravizado e que no momento do anúncio fosse um forro. Além disso, este “homem (já de idade)” possuía “um escravo tambem mestre do mesmo officio”. Ou seja, o ofício de oleiro poderia garantir a algumas pessoas escravizadas a possibilidade de conseguir suas alforrias.

Na Tabela 11 estão dispostos os oleiros de origem africana listados no Monitor Campista entre 1834 e 1887. Dos 47 indivíduos apresentados, mais de 90% (43) tiveram suas origens africanas listadas como “De nação”, um pouco mais de 5% (2) como benguela e um percentual pouco significativo para os “africanos” e os moçambiques.

Tabela 11
Origens africanas dos oleiros no Monitor Campista (1834-1887).

Em parte, a Tabela 11 está em sintonia com os dados apresentados sobre as origens africanas dos escravizados para a região Sudeste do Brasil, assim como para Campos dos Goytacazes, em particular, no período em apreço. Segundo Gomes, a maior parte das pessoas escravizadas era da África Centro-Ocidental, sobretudo denominados de angola, cabinda e congo, havendo poucos da África Oriental (moçambiques) e alguns da África Ocidental (os chamados minas).110 110 Gomes, op. cit., p. 31-33.

Assim, considerando as análises de Gomes, boa parte daqueles denominados de “De nação” que aparecem na documentação podem ter suas origens na África Centro-Ocidental. Desse modo, a mão de obra utilizada em grande medida nas fazendas e nas olarias de Campos dos Goytacazes era de indivíduos dessa região africana, os quais podem ter exercido influência sobre as técnicas produtivas oleiras tradicionalmente europeias, como o uso do torno. Tanto o caso do Engenho Velho, abordado por Azevedo,111 111 Azevedo, op. cit., p. 42-43. quanto da Fazenda do Colégio, cujas senzalas eram exclusivamente compostas por escravizados nascidos localmente, permitem-nos inferir que essas técnicas eram passadas de geração em geração, podendo ser seguidamente transformadas, incorporando novos elementos.

Estamos, na verdade, falando de uma circulação de conhecimentos e de técnicas de grandes alcances. As pessoas escravizadas do Colégio passavam seus conhecimentos aos seus descendentes, adquiriam novas técnicas ao rumarem para outros lugares em que as pessoas alugavam seus trabalhos e ao se encontrarem com indivíduos que migravam para Campos dos Goytacazes, fossem eles africanos escravizados ou de alhures sob as condições legais de livres e de forros.

Um anúncio de 1879 do Monitor Campista pode ser ilustrativo da circularidade das técnicas existentes em Campos dos Goytacazes e de como esse fenômeno incidia diretamente na produção das louças, telhas e tijolos da região.

Telhas e tijollos

Os proprietarios da olaria da Penha, situada à margem do rio Ururahy, tendo feito acquisição de um excellente oleiro americano, tem para vender, em grandes e pequenas quantidades, telhas francezas e nacionais, ladrilhos e tijollos, tudo de qualidade superior a que até hoje têm apresentado no mercado. As amostras podem ser vistas e examinadas em casa dos Srs. Luiz Antonio Tavares, Sebastião de Souza Pessanha e Antonio Teixeira da Costa. Para tratar, na mesma olaria, na fazenda do Cupim, ou n’esta cidade, na rua Direita predio n.169.112 112 Monitor Campista (1879, n. 105, p. 2).

A importância do anúncio acima está justamente no fato de apresentar a questão da circularidade e da mestiçagem de técnicas sobre os artefatos cerâmicos produzidos em Campos dos Goytacazes no século XIX. Assim, não estaríamos aqui falando de um conhecimento vindo de uma parte da África apenas, ou de algo produzido pelas trocas fomentadas entre os escravizados e os livres, mas que foi transformado paulatinamente por indivíduos vindos de inúmeros rincões do mundo. Nesse sentido, estudos dos padrões morfológicos e decorativos das cerâmicas torneadas em diferentes contextos espaço-temporais do norte fluminense podem vir a esclarecer como se deu essa dinâmica cultural.

A produção oleira local caracterizou-se, portanto, pela ativa participação de agentes escravizados africanos e de ascendência africana. Considerando que, conforme discutido anteriormente, o conteúdo material presente nas senzalas da Fazenda do Colégio é massivamente composto por essas categorias cerâmicas localmente produzidas - artesanais, torneadas vidradas e, sobretudo, torneadas simples -, essa variação deve ser entendida em termos das escolhas desses grupos. Essas escolhas podem ter sido parcialmente pautadas por fatores econômicos, como o baixo preço desses itens locais; outros fatores contudo, como apreciação estética e identificação cultural, podem também ter sido relevantes, dada a participação direta dos grupos escravizados na produção desses bens.

As fontes documentais, além de fornecerem um contexto para uma melhor compreensão do material arqueológico, podem, ainda ser diretamente confrontadas com estes últimos, visando explorar o potencial interpretativo das ambiguidades que podem emergir deste contraste entre aquilo que foi escrito e os resíduos daquilo que foi feito. Trata-se de uma terceira via de análise, que apresenta um grande potencial para a produção de conhecimento sócio-histórico.113 113 Leone e Crosby (1987) e Lima, T. (2002, p. 12). Seguindo esta direção entraremos no último item deste artigo.

LOUÇAS E CERÂMICAS ENTRE O REGISTRO ARQUEOLÓGICO E O DOCUMENTAL: A VISIBILIDADE DA CULTURA MATERIAL DOS GRUPOS DOMINANTES E SUBALTERNOS NO MONITOR CAMPISTA E NA FAZENDA DO COLÉGIO

Visando contrastar a significância das categorias cerâmicas aqui analisadas nos dois tipos de registros analisados - o arqueológico representado pelo material do solar e das três áreas de senzala e o documental representado pelos anúncios e notícias presentes no Monitor Campista - selecionamos somente as amostras dos contextos arqueológicos que pudessem ser enquadrados no espectro temporal do período de publicação do referido jornal (1834-1887). Foram, assim, selecionadas as amostras da área de deposição de refugo do solar, que foi gradualmente formada entre 1800 e 1900, e dos contextos de senzala com deposição inicial entre 1825 e 1850. Nesses casos o período final de deposição pode ter sido variável, porém concentrando-se na segunda metade do século XIX. As amostras da senzala referem-se aos seguintes contextos: NW8.1n.1 (c. 1840-1870), NW8.1n.2 (c. 1835-1850), NW8.3n.1 (c. 1850-1875), SE mancha preta (c. 1835-1850), SEn.4/5 (c. 1850-1870), NE feição 1 inferior (c. 1825-1850) e NE n.0-20 (c. 1850-1930). Dado que as similaridades e diferenças entre esses contextos foram previamente discutidas, optamos, neste momento, em analisar essas amostras como um único conjunto, expressivo da materialidade dos espaços da senzala como um todo no período de operação do jornal Monitor Campista. Embora a amostra da NE n. 0-20 extrapole o período do jornal, destacamos que a grande maioria dessa amostra é referente à segunda metade do século XIX, enquadrando-se, assim, no espectro cronológico do referido jornal.

Com relação ao Monitor Campista foram selecionadas somente as entradas que mencionavam a composição das peças cerâmicas, quais sejam: faiança fina, porcelana e louça de barro. Conforme já discutido, o nível de detalhamento presente no jornal tem pouca correspondência com aquele do registro arqueológico, o que é especialmente evidente na não caracterização das técnicas de produção das louças de barro, se artesanais ou torneadas, e poucas vezes diferenciando as cerâmicas vidradas das não vidradas. A alternativa, nesse sentido, foi trabalhar com a categoria mais ampla da louça de barro como incluindo as três categorias arqueologicamente discerníveis (artesanal, torneada simples e torneada vidrada). Para fins analíticos de comparação, portanto, as amostras das três referidas categorias foram igualmente agrupadas como constituintes da categoria louça de barro.

A Figura 10 apresenta a variação das três categorias cerâmicas em questão no Monitor Campista, na sede da Fazenda do Colégio e nos contextos de senzala acima descritos.

Figura 10
Incidência de faianças finas, porcelanas e louças de barro no Monitor Campista (T:148 anúncios), no solar da Fazenda do Colégio (T: 2.237g) e nos contextos de senzala (T: 71.609g). Fonte: Elaborada por Luis Symanski (2022).

O primeiro aspecto que chama a atenção na Figura 10 é a similaridade nas proporções das faianças finas entre o Monitor Campista (58,78%) e o solar (58,51%), ao passo que na senzala a proporção dessa categoria é mais do que quatro vezes inferior (14,48%). Com relação às porcelanas, sua presença no solar (17,21%) é superior ao dobro do que a das entradas no Monitor, enquanto, nas senzalas, essa categoria se faz quase que inexistente (0,55%). Por fim, as louças de barro são muito mais populares no espaço das senzalas (84,95%) do que nos anúncios do Monitor (33,1%) e no solar (24,27%).

Apesar das diferenças nas proporções da faiança fina e da louça de barro entre os anúncios do Monitor Campista e as amostras do solar, é bastante claro que há muito mais similaridades na distribuição das três categorias cerâmicas nesses dois contextos do que entre o Monitor Campista e as amostras da senzala. Esta similaridade relaciona-se ao fato de que o público-alvo do jornal consistia naqueles segmentos médios e altos da sociedade que detinham poder de consumo - como os consumidores do próprio jornal e dos produtos nele anunciados; ou seja, o jornal e os anunciantes davam mais visibilidade ao que seria consumido por estes segmentos. Um segundo aspecto diz respeito ao fato de que o solar da Fazenda do Colégio era ocupado por membros da elite não apenas campista, mas fluminense, e assim que detinha um poder aquisitivo muito acima da média mesmo dos segmentos altos da corte. O alto consumo de bens de luxo, como porcelanas, servia para expressar a posição social e o habitus de classe desse grupo. Essa desproporção de porcelanas entre as duas fontes é indicativa, nesse sentido, dessa posição de elite mantida pela família ocupante do solar. Em suma, os anúncios do Monitor Campista destinavam-se, primeiramente, aos segmentos médios e altos da sociedade campista e, por este motivo, davam mais visibilidade aos produtos que seriam favorecidos por este público, como era o caso das louças importadas. Nesse sentido os itens baratos, que seriam mais amplamente consumidos pelos segmentos economicamente desfavorecidos, incluindo os escravizados, a exemplo das louças de barro, tinham uma visibilidade bem menor nesse veículo.

O aspecto central que se torna evidente com esta análise, portanto, é que a cultura material dos grupos subalternos apresenta bem menos visibilidade nas fontes documentais do que aquela destinada aos segmentos médios e altos da sociedade. Nesse sentido, qualquer caracterização da vida material, e consequentemente do cotidiano, desses grupos que seja exclusivamente baseada em fontes escritas tenderá a fornecer um quadro impreciso e lacunar. Por outro lado, não há nenhuma novidade no postulado de que o registro arqueológico tem o potencial de revelar aspectos da vida dos grupos subalternos que são ausentes ou escassos nas fontes escritas, conforme já enfatizava Scott em 1994, na introdução da coletânea Those of Little Note: Gender, Race and Class in Historical Archaeology.114 114 Scott (1994). Para o caso da senzala da Fazenda do Colégio, a comunidade escravizada manteve como principal suporte material de suas práticas domésticas as chamadas louças de barro. Essas louças, como a enorme maioria dos bens materiais produzidos e consumidos pelos escravizados, apresentam uma baixa visibilidade documental, a qual está longe de corresponder à sua significância no cotidiano dos grupos subalternos. Considerando que os segmentos escravizados e livres de baixa renda compunham a grande maioria da população do Brasil oitocentista e colonial, é fato que essa cultura material de baixa visibilidade documental era extremamente popular, quantitativamente superando em muitas vezes, como bem exemplificado pelo caso da senzala da Fazenda do Colégio, os bens importados de alta visibilidade documental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos sobre a cultura material não se revelam pacíficos e simples de serem fomentados, sobretudo quando as investigações são feitas sob a luz da interdisciplinaridade. Neste trabalho, buscamos analisar a significância das cerâmicas utilitárias encontradas na Fazenda do Colégio para consumo dos personagens de época que viviam em espaços distintos: o solar e a senzala. Percebemos que havia diferenças entre as louças das duas áreas. Aquela apresentou vestígios de louças importadas e/ou destinadas às elites da época, ao passo que esta tinha um trânsito de vasilhames feitos localmente e, por isso, prevalecendo as louças de barro, mas também louças importadas, a maioria das quais provavelmente compradas pelos próprios escravizados no mercado local. Com isso, ao cotejarmos os dois espaços, verificamos que havia uma ligação intrínseca entre condições sociais e materialidade, a qual se revela, sobretudo, nas distribuições inversas entre louças importadas e cerâmicas locais entre os dois contextos.

Esses dados foram importantes para compararmos com os anúncios fomentados no jornal Monitor Campista, entre 1834 e 1887, pois denotamos que estes eram destinados aos segmentos mais abastados da sociedade, embora, no decorrer do século XIX, existisse espaço, mesmo que ainda tímido, para os grupos menos favorecidos da sociedade, dada a presença de anúncios de louças de barros e, até mesmo, de locais especializados na aquisição de louças desse material já utilizadas. Assim, os anúncios do Monitor Campista apresentaram um perfil bastante similar àquele do consumo da família que vivia no Solar, embora contemplasse, em casos raríssimos, os segmentos subalternos, como era o caso da comunidade da senzala da Fazenda do Colégio.

Neste sentido, tornou-se evidente, em nosso estudo, que fontes documentais, tais quais a do jornal Monitor Campista, subestimam a cultura material dos denominados grupos subalternos, sendo necessário a investigação a partir de outras fontes, sobretudo, de outras áreas do conhecimento, como é o caso da Arqueologia. Em suma, não teríamos como analisar os padrões de consumo de cerâmicas utilitárias dos escravizados e das escravizadas tão-somente com as fontes documentais empregadas aqui.

Entretanto, o Monitor Campista trouxe outras informações significantes para o presente estudo: a importância das olarias para a região; os trânsitos imaterial e material existentes em Campos dos Goytacazes, com indivíduos e louças de várias regiões do globo; as origens dos oleiros e a procura por estes na localidade, havendo anúncios de precisa-se, compra-se, vende-se, fugas etc.; as condições legais dos oleiros, que eram, muitas vezes, livres; e a relação entre engenhos, usinas e olarias.

Estes aspectos, confrontados com os achados arqueológicos, nos permitiram traçar um perfil bem mais preciso sobre o universo social no qual se enquadravam as cerâmicas utilitárias de Campos dos Goytacazes do século XIX. Assim, mais do que uma diferença fomentada pela condição legal dos indivíduos, sabemos que havia um trânsito cultural e técnico na fabricação dos vasilhames cerâmicos produzidos nas olarias. Homens e mulheres escravizados tinham acesso a um conhecimento que não existia em suas regiões de origens, especialmente na África Centro-Ocidental, mas também, conseguiam aplicar as técnicas por eles conhecidas na feitura desses vasilhames. Desse modo, malgrado os estudos sobre a cultura material pareçam ser pacíficos, há ainda um campo fértil a ser desvendado, sobretudo, quando analisados pela questão imaterial, da qual são tributários.

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  • 4
    Reis (2011REIS, Manuel Martins do Couto. Manuscritos de Manoel Martins do Couto Reis 1785: descrição geográfica, política e cronográfica do Distrito dos Campos dos Goytacazes. 2. ed. Campos dos Goytacazes: Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima , 2011., p. 49).
  • 5
    Lamego (2016LAMEGO, Alberto Ribeiro. A terra goitacá. Campos dos Goytacazes: Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, 2016., p. 22-29).
  • 6
    Ribeiro (2012RIBEIRO, Rafaela Machado. O negro e seu mundo: vida e trabalho no pós-Abolição em Campos dos Goytacazes (1883-1893). 2012. Dissertação (Mestrado em Sociologia Política) - Centro de Ciências do Homem, Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, 2012., p. 31).
  • 7
    Soares, Márcio (2009aSOARES, Márcio de Sousa. A remissão do cativeiro: a dádiva da alforria e o governo dos escravos nos Campos dos Goitacases, c. 1750-c. 1830. Rio de Janeiro: Apicuri, 2009a., p. 33, 2009bSOARES, Márcio de Sousa. Manumissão e mobilidade social em Campos dos Goitacazes: 1750-1830. In: BOTELHO, Tarcísio Rodrigues; VAN LEEUWEN, Marco (org.). Mobilidade social em sociedades coloniais: Brasil e Paraguai, séculos XVIII e XIX. Belo Horizonte: Veredas e Cenários, 2009b., p. 89).
  • 8
    Lara (1988LARA, Sílvia Hunold. Campos da violência. São Paulo: Paz e Terra, 1988., p. 132).
  • 9
    Ao analisar as estimativas da população campista, entre 1785 e 1850, Soares afirma que “[...], as cifras proporcionais revelam uma das maiores concentrações de escravos que se tem notícia no Brasil até 1850” Soares (2009aSOARES, Márcio de Sousa. A remissão do cativeiro: a dádiva da alforria e o governo dos escravos nos Campos dos Goitacases, c. 1750-c. 1830. Rio de Janeiro: Apicuri, 2009a., p. 35).
  • 10
    Gomes (2019GOMES, Flávio. Planícies Goitacazes, séculos XVIII e XIX: da escravidão africana atlântica ao campesinato no imediato pós-abolição. In: SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira; GOMES, Flávio (org.). Arqueologias da escravidão e liberdade: senzalas, cultura material e pós-emancipação na Fazenda do Colégio, Campos dos Goytacazes, séculos XVIII e XIX. Curitiba: Brazil, 2019, p. 29-58., p. 30).
  • 11
    Soares, Eugênio (2018SOARES, Eugênio. Vivendo em tempos de tirania: Vila de São Salvador de Campos dos Goytacazes, tão perto do Rio de Janeiro, tão longe do Espírito Santo (1808-1832). Rio de Janeiro: Autografia, 2018., p. 70).
  • 12
    Ibid., p. 140-153.
  • 13
    Lamego (2016LAMEGO, Alberto Ribeiro. A terra goitacá. Campos dos Goytacazes: Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, 2016., p. 33-34).
  • 14
    Soares, Eugênio, op. cit., p. 71.
  • 15
    Chagas (2010CHAGAS, Humberto Neto das. Arquitetura solarenga rural de Campos dos Goytacazes no séc. XIX: Uma análise histórica e tipológica. 2010. Dissertação (Mestrado em Artes) - Programa de Pós-Graduação em Artes, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2010., p. 27).
  • 16
    Paranhos (2002PARANHOS, Paulo. O açúcar em Campos dos Goytacazes na segunda metade do século XIX. Revista da ASBRAP, São Paulo, n. 9, p. 101-108, 2002., p. 101).
  • 17
    Segundo consta em Lamego (1945LAMEGO, Alberto Ribeiro. O homem e o brejo. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do I.B.G.E., 1945., p. 148), a primeira olaria de Campos foi construída em 1692, pelo Visconde de Asseca.
  • 18
    Gomes, op. cit., p. 30.
  • 19
    Chagas, op. cit., p. 29.
  • 20
    Cf. Soares, Márcio, 2009aSOARES, Márcio de Sousa. A remissão do cativeiro: a dádiva da alforria e o governo dos escravos nos Campos dos Goitacases, c. 1750-c. 1830. Rio de Janeiro: Apicuri, 2009a..
  • 21
    Ibid., p. 2-34.
  • 22
    Ibid. p. 37-38.
  • 23
    Ibid., p. 38.
  • 24
    Guglielmo (2011GUGLIELMO, Mariana Gonçalves. As múltiplas facetas do vassalo “mais rico e poderoso do Brasil”: Joaquim Vicente dos Reis e sua atuação em Campos dos Goytacazes (1781-1813). 2011. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2011., p. 3-27).
  • 25
    Inventário de Sebastião…, 1843INVENTÁRIO de Sebastião Gomes Barroso (1843). Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho de Campos dos Goytacazes. 1843..
  • 26
    Lamego (1934LAMEGO, Alberto Ribeiro. A planície do solar e da senzala. Rio de Janeiro: Livraria Católica, 1934., p. 37).
  • 27
    Reis (1997REIS, Manuel Martins do Couto. Manuscritos de Manoel Martinz do Couto Reys, 1785. Rio de Janeiro: Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, 1997.).
  • 28
    Faria apud Guglielmo, op. cit., p. 29.
  • 29
    Saint-Hilaire (1941SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagens pelo distrito dos diamantes e litoral do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941., p. 416-417).
  • 30
    Gomes, op. cit., p. 51-52.
  • 31
    Chmyz (1976CHMYZ, Igor et al. Terminologia arqueológica brasileira para a cerâmica. Cadernos de Arqueologia. Paranaguá, v. 1, n. 1, p. 119-148, 1976.) e Dias Junior (1988DIAS JUNIOR, Ondemar. A cerâmica neo-brasileira. Arqueo-IAB, Textos Avulsos. Rio de Janeiro, n. 1, p. 3-13, 1988.).
  • 32
    Morales (2001MORALES, Walter Fagundes. A cerâmica “neo-brasileira” nas terras paulistas: um estudo sobre as possibilidades de identificação cultural através dos vestígios materiais na vila de Jundiaí do século XVIII. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, n. 11, p. 165-187, 2001. DOI: 10.11606/issn.2448-1750.revmae.2001.109416.
    https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750....
    ) e Zanettini (2005ZANETTINI, Paulo Eduardo. Maloqueiros e seus palácios de barro: o cotidiano doméstico na casa bandeirista. 2005. Tese (Doutorado em Arqueologia) − Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.).
  • 33
    Souza (2015SOUZA, Marcos André Torres. When All Bases are Flat: Central Africans and Situated Practices in the Eighteenth-Century Brazil. In: FUNARI, Pedro Paulo Abreu; ORSER, Charles (org.). Current Perspectives on the Archaeology of African Slavery in Latin America. New York: Springer Briefs in Archaeology, 2015, p. 77-97.), Souza e Agostini (2012SOUZA, Marcos André Torres; AGOSTINI, Camilla. Body Marks, Pots, and Pipes: Some Correlations Between African Scarifications and Pottery Decoration in Eighteenth-and Nineteenth-Century Brazil. Historical Archaeology , [s. l.], v. 46, n. 3, p. 102-123, 2012.), Souza e Symanski (2009SOUZA, Marcos André Torres; SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira. Slave Communities and Pottery Variability in Western Brazil: The Plantations of Chapada dos Guimarães. International Journal of Historical Archaeology , [s. l.], v. 13, n. 4, p. 513-548, 2009.) e Symanski e Hirooka (2013SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira; HIROOKA, Suzana. Engenho Bom Jardim: cultura material e dinâmica identitária de uma comunidade escravizada do Mato Grosso. Vestígios: Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica , Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p. 23-72. 2013. DOI: 10.31239/vtg.v7i1.10613.
    https://doi.org/10.31239/vtg.v7i1.10613...
    ).
  • 34
    Agostini (2010AGOSTINI, Camilla. Panelas e paneleiras de São Sebastião: um núcleo produtor e a dinâmica social e simbólica de sua produção nos séculos XIX e XX. Vestígios: Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica. Belo Horizonte, v. 4, n. 2, p. 125-144, 2010. DOI: 10.31239/vtg.v4i2.10668.
    https://doi.org/10.31239/vtg.v4i2.10668...
    ) e Zanettini, op. cit.
  • 35
    Brancante (1981BRANCANTE, Eldino da Fonseca. O Brasil e a cerâmica antiga. São Paulo: Cia Litográfica Ypiranga, 1981., p. 6).
  • 36
    Brancante, op. cit., p. 5, García Lopéz (1939GARCÍA LOPÉZ, Marcelino. 1939. Manual completo de cerámica o fabricación de toda clase de objetos de tierra cocida. Madrid: Librería de Luis Santos, 1939.) e Roux e Jeffra (2015ROUX, Valentine; JEFFRA, Caroline. The Spreading of the Potter’s Whell in the Ancient Mediterranean: ASocial Context-dependent Phenomenum. In: GAUSS, Walter; KLEBINDER-GAUSS, Gudrun; VON RUDEN, Constance (ed.). The Transmssion of Technical Knowledge in the Production of Ancient Mediterranian Pottery. Viena: Österreichisches Archäologisches Institut Sonderschriften v.54, 2015, p. 165-182.).
  • 37
    Lima, N. (2017LIMA, Nathália. Em torno da senzala: a variabilidade da cerâmica vidrada em uma senzala oitocentista. 2017. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Antropologia) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017., p. 44).
  • 38
    Bandeira (2013BANDEIRA, Beatriz. A faiança portuguesa entre os séculos XVIII e XIX. Vestígios: Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica . Belo Horizonte, v. 7, n. 2, p. 109-144, 2013. DOI: 10.31239/vtg.v7i2.10608.
    https://doi.org/10.31239/vtg.v7i2.10608...
    , p. 111).
  • 39
    Brancante, op. cit., p. 69-70, 108.
  • 40
    Cf. Lima et al. (1989LIMA, Tania Andrade; FONSECA, Marta; SAMPAIO, Ana; FENZL-NEPOMUCENO, Andrea; MARTINS, Antônio. A tralha doméstica em meados do século XIX: reflexos da emergência da pequena burguesia do Rio de Janeiro. Dédalo, São Paulo, v. 1, p. 205-230, 1989.).
  • 41
    Worthy (1982WORTHY, Linda. Classification and Interpretation of Late Nineteenth and Early Twentieth-Century Ceramics. In: DICKENS JR. Roy Selman. (org.). Archaeology of Urban America. The Search for Patterns and Process. Nova York: Academic Press, 1982, p. 329-360., p. 334).
  • 42
    Brancante, op. cit., Hume (1991HUME, Ivor Noel. A Guide to the Artifacts of Colonial America. New York: Vintage Books, 1991.) e Miller (1980MILLER, George Logan. Classification and Economic Scaling of 19th Century Ceramics. Historical Archaeology , [s. l.], v. 14, n. 1, p. 1-40, 1980.).
  • 43
    Miller (1980MILLER, George Logan. Classification and Economic Scaling of 19th Century Ceramics. Historical Archaeology , [s. l.], v. 14, n. 1, p. 1-40, 1980., 1991MILLER, George Logan. A Revised Set of CC Index Values for Classification and Economic Scaling of English Ceramics from 1787 to 1880. Historical Archaeology, [s. l.], v. 25, n. 1, p. 21-45, 1991.).
  • 44
    Brancante, op. cit., p. 156.
  • 45
    Worthy, op. cit., p. 337.
  • 46
    Brancante, op. cit., p. 653.
  • 47
    Feydit (2004FEYDIT, Julio. Subsídios para a História dos Campos dos Goytacazes. São João da Barra: Gráfica Luartson, 2004., p. 398). O Monitor Campista faz parte de uma leva de jornais que desde a criação da Imprensa Régia, em 1810, apresentou ao público textos científicos. Só para se ter uma ideia, durante o Oitocentos, cerca de 7 mil periódicos surgiram no Brasil. Muitos dos quais tendo conteúdos científicos Massarani e Moreira (2002MASSARANI, Luísa; MOREIRA, Ildeu de Castro. Aspectos Históricos da Divulgação Científica no Brasil. In: MASSARINI, Luisa; MOREIRA, Ildeu de Castro; BRITO, Fátima (org.). Ciência e público: caminhos da Divulgação científica no Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Ciência - Centro Cultural da Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fórum de Ciência e Cultura, 2002, p. 44-64., p. 44-46).
  • 48
    De agora em diante utilizaremos a sigla APMWPC para identificar o Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho.
  • 49
    Soares, Orávio (2005SOARES, Orávio de Campos. A imprensa na Velha Província 170 anos do “Monitor Campista”. O terceiro jornal mais antigo do país e a morte misteriosa do jornalista Francisco Alypio. In: CAMPOS DA COMUNICAÇÃO, Covilhã, 2005. Actas do III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO - volume IV, Covilhã: Universidade da Beira Interior, 2005,p. 167-175., p. 170).
  • 50
    Symanski (2019SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira. Cerâmicas, linhas de cor e a negociação do espaço social no Colégio dos Jesuítas. In: SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira.; GOMES, Flávio (org.). Arqueologias da escravidão e liberdade: senzalas, cultura material e pós-emancipação na Fazenda do Colégio, Campos dos Goytacazes, séculos XVIII a XX. Curitiba: Brazil , 2019, p. 69-104., p. 61-67).
  • 51
    Ibid., p. 67-68.
  • 52
    Cf. Symanski e Morais Junior (2016SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira; MORAIS JUNIOR, Geraldo Pereira de. Alimentação, socialização e reprodução cultural na comunidade escravizada do Colégio dos Jesuítas de Campos dos Goytacazes (RJ). In: SOARES, Fernanda Codevilla (org.). Comida, cultura e sociedade: arqueologia da alimentação no Mundo Moderno. Recife: Editora Universitária UFPE, 2016, p. 95-112.).
  • 53
    Cf. Suguimatsu (2019SUGUIMATSU, Isabela. Para além de algemas e grilhões: os objetos de vestuário e ornamentação dos escravos. In: SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira; GOMES, Flávio (org.). Arqueologias da escravidão e liberdade: senzalas, cultura material e pós-emancipacão na Fazenda do Colégio, Campos dos Goytacazes, séculos XVIII a XX. Curitiba: Brazil , 2019, p. 155-192.).
  • 54
    Cf. Symanski e Gomes (2019SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira; GOMES, Flávio (org.). Arqueologias da escravidão e liberdade: senzalas, cultura material e pós-emancipacão na Fazenda do Colégio, Campos dos Goytacazes, séculos XVIII a XX. Curitiba: Brazil , 2019.).
  • 55
    Cf. Symanski (2019SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira. Cerâmicas, linhas de cor e a negociação do espaço social no Colégio dos Jesuítas. In: SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira.; GOMES, Flávio (org.). Arqueologias da escravidão e liberdade: senzalas, cultura material e pós-emancipação na Fazenda do Colégio, Campos dos Goytacazes, séculos XVIII a XX. Curitiba: Brazil , 2019, p. 69-104.).
  • 56
    Azevedo (2019AZEVEDO, Paula de Aguiar Silva. Do barro às panelas de cozer: variabilidade das cerâmicas artesanais na senzala da Fazenda do Colégio dos Jesuítas, Campos dos Goytacazes-RJ. 2019. Dissertação (Mestrado em Antropologia) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2019.), Hepp, Azevedo e Monteiro (2019HEPP, Maurício; AZEVEDO, Paula de Aguiar; MONTEIRO, Victor Gomes. Práticas e usos da cerâmica artesanal na senzala do Colégio dos Jesuítas. In: SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira; GOMES, Flávio (org.). Arqueologias da escravidão e liberdade: senzalas, cultura material e pós-emancipação na Fazenda do Colégio, Campos dos Goytacazes, séculos XVIII e XIX. Curitiba: Brazil , 2019, p. 135-154.).
  • 57
    Lima, N., op. cit.
  • 58
    Como é o caso do trabalho de Hepp, Azevedo e Monteiro, op. cit. e Symanski (2019HEPP, Maurício; AZEVEDO, Paula de Aguiar; MONTEIRO, Victor Gomes. Práticas e usos da cerâmica artesanal na senzala do Colégio dos Jesuítas. In: SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira; GOMES, Flávio (org.). Arqueologias da escravidão e liberdade: senzalas, cultura material e pós-emancipação na Fazenda do Colégio, Campos dos Goytacazes, séculos XVIII e XIX. Curitiba: Brazil , 2019, p. 135-154.).
  • 59
    Monitor Campista (1837MONITOR CAMPISTA. São Salvador de Campos: Typographia Patriotica, n. 218, 1837., n. 242, p. 4).
  • 60
    Id., 1839MONITOR CAMPISTA . Campos dos Goytacazes: Typographia Imparcial, n. 54, 1839., n. 057, p. 3.
  • 61
    Id., 1837MONITOR CAMPISTA . São Salvador de Campos: Typographia Patriotica , n. 220, 1837., n. 220, p. 3.
  • 62
    Id., 1837MONITOR CAMPISTA . São Salvador de Campos: Typographia Patriotica , n. 237, 1837., n. 242, p. 4.
  • 63
    Id., 1839MONITOR CAMPISTA . Campos dos Goytacazes: Typographia Imparcial , n. 57, 1839., n. 54, p. 4.
  • 64
    Brancante, op. cit., p. 314.
  • 65
    Monitor Campista (1884MONITOR CAMPISTA . Campos dos Goytacazes: Typographia do Monitor Campista , n. 186, 1884., n. 186, p. 5).
  • 66
    Brancante, op. cit.
  • 67
    Monitor Campista (1839MONITOR CAMPISTA . Campos dos Goytacazes: Typographia Imparcial , n. 97, 1839., n. 54, p. 436).
  • 68
    Ibid., p. 314.
  • 69
    Id., 1839MONITOR CAMPISTA . Campos dos Goytacazes: Typographia Imparcial , n. 125, 1839., n. 125, p. 4.
  • 70
    Id., 1877MONITOR CAMPISTA . Campos dos Goytacazes: Typographia do Monitor Campista , n. 66, 1877., n. 66, p. 3.
  • 71
    Hepp, Azevedo e Monteiro, op. cit., p. 126.
  • 72
    Azevedo, op. cit., p. 117.
  • 73
    Lima, N., op. cit., p. 51.
  • 74
    Symanski e Gomes (2011, p. 75-76, 2015SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira; GOMES, Denise Maria Cavalcante. Material Culture, Mestizage, and Social Segmentation in Santarém, Northern Brazil. In: FUNARI, Pedro Paulo Abreu; SENATORE, Maria Ximena (org.). Archaeology of Culture Contact and Colonialism in Spanish and Portuguese America. New York: Springer, 2015, p. 199-217., p. 208-209).
  • 75
    Cf. Lima, T. (1997LIMA, Tania Andrade. Chá e simpatia: uma estratégia de gênero no Rio de Janeiro oitocentista. Anais do Museu Paulista , São Paulo, v. 5, p. 93-127, 1997. DOI: 10.1590/S0101-47141997000100003.
    https://doi.org/10.1590/S0101-4714199700...
    ).
  • 76
    Lemos (1993LEMOS, Carlos. Transformações no espaço habitacional ocorridas na arquitetura brasileira no século XIX. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 1, p. 95-106, 1993., p. 97).
  • 77
    Azevedo, op. cit., p. 124.
  • 78
    Ibid., p. 125.
  • 79
    Guglielmo, op. cit., p. 31.
  • 80
    Ibid., p. 44-49.
  • 81
    Morais Junior e Symanski (2019MORAIS JUNIOR, Geraldo Pereira de; SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira. Identidades y Prácticas Alimentarias en la Comunidade Esclavizada del Colegio de los Jesuitas de Campos dos Goytacazes (Rio de Janeiro). Revista de Arqueología Histórica Argentina y Latinoamericana, Buenos-Aires, v. 1, n. 13, p. 33-55, 2019.).
  • 82
    Symanski (2019SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira. Cerâmicas, linhas de cor e a negociação do espaço social no Colégio dos Jesuítas. In: SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira.; GOMES, Flávio (org.). Arqueologias da escravidão e liberdade: senzalas, cultura material e pós-emancipação na Fazenda do Colégio, Campos dos Goytacazes, séculos XVIII a XX. Curitiba: Brazil , 2019, p. 69-104., p. 88-89).
  • 83
    Ibid.
  • 84
    A análise foi realizada por Cheila Sumenssi (2021SUMENSSI, Cheila. Estudo de cerâmicas de senzalas dos séculos XVIII e XIX de Campos dos Goytacazes - RJ por EDXRF e análise multivariada. 2021. Dissertação (Mestrado em Física) - Centro de Ciências Exatas, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2021.) no Laboratório de Física Nuclear Aplicada da Universidade Estadual de Londrina, sob a orientação de Carlos Appoloni e Renato Ikeoka. Os resultados constam em sua dissertação de mestrado. Foi utilizada a técnica de fluorescência de raios X por dispersão de energia. Na análise quali-quantitativa foram medidos os elementos Al, Si, P, S, K, Ca, Ti, V, Mn, Fe, Cu, Zn, Rb, Sr, Y, Zr e Nb.
  • 85
    Leite (1945LEITE, Serafim. História da companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1945. t. 4., p. 88).
  • 86
    Araújo (1820ARAÚJO, José de Souza. Memorias historicas do Rio de Janeiro e das provincias annexas à jurisdicção do Vice-Rei do Estado do Brasil. Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1820. t. 3., p. 111).
  • 87
    Azevedo, op. cit., p. 125.
  • 88
    Agostini, op. cit. e Symanski (2006SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira. Slaves and Planters in Western Brazil: Material Culture, Identity and Power. 2006. Tese (Doutorado em Antropologia) - University of Florida, Gainesville 2006., p. 149).
  • 89
    Symanski (2019SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira. Cerâmicas, linhas de cor e a negociação do espaço social no Colégio dos Jesuítas. In: SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira.; GOMES, Flávio (org.). Arqueologias da escravidão e liberdade: senzalas, cultura material e pós-emancipação na Fazenda do Colégio, Campos dos Goytacazes, séculos XVIII a XX. Curitiba: Brazil , 2019, p. 69-104., p. 94).
  • 90
    Monitor Campista (1883MONITOR CAMPISTA . Campos dos Goytacazes: Typographia do Monitor Campista , n. 59, 1883., n. 59, p. 1).
  • 91
    Vieira (2016VIEIRA, Edileine Carvalho. “O barro cinzento paulista”: produção em barro cozido nas olarias do Tijucusú e de Pinheiros. Ordem de São Bento em São Paulo entre o século XVI e XIX. 2016. Dissertação (Mestrado em Filosofia - Culturas e Identidades Brasileiras) − Instituto de Estudos Brasileiros, Universidade de São Paulo, 2016., p. 49-51).
  • 92
    Lima, N., op. cit., p. 24-25.
  • 93
    Brancante, op. cit., p. 239.
  • 94
    Lamego (1963LAMEGO, Alberto Ribeiro. O homem e a serra. Rio de Janeiro: Edição da Divisão Cultural, 1963., p. 268).
  • 95
    Azevedo, op. cit., p. 74.
  • 96
    Id., 1837, n. 237, p. 4.
  • 97
    Id., 1839MONITOR CAMPISTA . Campos dos Goytacazes: Typographia Imparcial , n. 118, 1839., n. 118, p. 4.
  • 98
    Id., 1877MONITOR CAMPISTA . Campos dos Goytacazes: Typographia do Monitor Campista, n. 59, 1877., n. 059, p. 2.
  • 99
    Id., 1878MONITOR CAMPISTA . Campos dos Goytacazes: Typographia do Monitor Campista , n. 230, 1878., n. 230, p. 2.
  • 100
    Id., 1878MONITOR CAMPISTA . Campos dos Goytacazes: Typographia do Monitor Campista , n. 242, 1878., n. 286, p. 3.
  • 101
    Id., 1879MONITOR CAMPISTA . Campos dos Goytacazes: Typographia do Monitor Campista , n. 10, 1879., n. 10, p. 2.
  • 102
    Id., 1881MONITOR CAMPISTA . Campos dos Goytacazes: Typographia do Monitor Campista , n. 178, 1881., n. 178, p. 2.
  • 103
    Id., 1839, n. 97, p. 4.
  • 104
    Id., 1884, n. 186, p. 4.
  • 105
    Id., 1880MONITOR CAMPISTA . Campos dos Goytacazes: Typographia do Monitor Campista , n. 100, 1880., n. 100, p. 3.
  • 106
    Godoy e Paiva (2010GODOY, Marcelo de Magalhães; PAIVA, Clotilde de Andrade. Um estudo da qualidade da informação censitária em listas nominativas e uma aproximação da estrutura ocupacional da província de Minas Gerais. REBEP. Rio de Janeiro, v. 27, n. 1, p. 161-191, 2010., p. 161-191).
  • 107
    Relação Registro de…, (1844-1851RELAÇÃO Registro de Hipoteca. Livro de Registro Geral, n. 4. f. 268. Arquivo Público de Campos dos Goytacazes. Registro em: 7 fev. 1844-27 fev. 1851., f. 268).
  • 108
    Embora uma parte importante da historiografia afirme que o termo “preto” identificasse um escravizado africano para o período colonial e em boa parte do Imperial, separamos os oleiros encontrados sob essa nomenclatura, pois para a segunda metade do Oitocentos, fica difícil saber se preto era sinônimo de africano ou era um termo geral para a população negra. Para essa discussão, cf. Rezende (2022REZENDE, Rodrigo Castro. Qualidades na historiografia: notas sobre as hierarquias das qualidades usadas para designar os chefes praticantes das atividades manuais e mecânicas nos Mapas Populacionais de Minas Gerais, 1831-1832. História Unisinos, São Leopoldo, v. 26, n. 1, p. 39-53, 2022. DOI: 10.4013/hist.2022.261.04.
    https://doi.org/10.4013/hist.2022.261.04...
    ).
  • 109
    Monitor Campista (1837MONITOR CAMPISTA . São Salvador de Campos: Typographia Patriotica , n. 242, 1837., n. 218, p. 4).
  • 110
    Gomes, op. cit., p. 31-33.
  • 111
    Azevedo, op. cit., p. 42-43.
  • 112
    Monitor Campista (1879MONITOR CAMPISTA . Campos dos Goytacazes: Typographia do Monitor Campista , n. 105, 1879., n. 105, p. 2).
  • 113
    Leone e Crosby (1987LEONE, Mark; CROSBY, Constance. Middle-Range Theory in Historical Archaeology. In: Spencer-Wood, Suzanne (org.). Consumer Choice in Historical Archaeology. New York: Plenum, 1987, p. 397-410.) e Lima, T. (2002LIMA, Tania Andrade. Os marcos teóricos da arqueologia histórica, suas possibilidades e limites. Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. 28, n. 2, p. 7-23, 2002. DOI: 10.15448/1980-864X.2002.2.23799.
    https://doi.org/10.15448/1980-864X.2002....
    , p. 12).
  • 114
    Scott (1994SCOTT, Elizabeth (ed.). Those of Little Note: Gender, Race, and Class in Historical Archaeology . Tucson: University of Arizona Press, 1994.).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Out 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    14 Jan 2022
  • Aceito
    26 Maio 2022
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