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Análises de livros

Análises de livros

CEREBRAL CIRCULATION. W. Luyendijk, editor. Um volume com 511 páginas. Volume n.° 30 da série "Progress in Brain Research". Elsevier Publishing Co., Amsterdam-London-New York, 1968.

Neste livro foram reunidos 73 relatórios e comunicações apresentados ao III Congresso Neurocirúrgico Europeu (Madrid, abril de 1967), sobre a circulação cerebral. A anatomia e a embriologiasão estudadas por R. Van Den Berg e H. V. Becken que salientam o significado funcional dos grandes troncos da base do encéfalo, assim como das pequenas artérias leptomeníngeas pois, da eficiência dessa circulação, depende a gravidade das perturbações cérebrovasculares residuais decorrentes de oclusões arteriais. A circulação intracerebral foi examinada no que concerne à irrigação do parênquima encefálico, à segmentação em áreas vasculares e à vascularização colateral profunda, aspectos que se revestem da maior importância na cirurgia estéreotaxica. Laborthes e col. estudam a arquitetura vascular do córtex cerebral, assim como suas implicações no fluxo sangüíneo cortical regional. A medida do fluxo sangüíneo foi feita mediante injeções locais de gás inerte radioativo, processo que permite confirmar as grandes diferenças existentes no fluxo sangüíneo da substância branca e da substância cinzenta. Salamon e col. relatam estudo micro-radiográfico da circulação cerebral arterial mediante perfusões lentas de solução de micropaque em encéfalos removidos os quais, a seguir, foram fixados e radiografados.

No tocante à fisiologia, Capon e col. investigam os diferentes métodos para a medida do fluxo sangüíneo cerebral, no animal e no homem. A aplicação destas medições em clínica foi relatada por W. B. Jennet, e A. M. Harper na estenose e endarterectomia da carótida e na recuperação dos ictos encefálicos. Ingvar, em trabalho de grande valor pelas suas implicações clínicas, estudou o fluxo sangüíneo cerebral regional em doenças cérebro-vasculares: mediante depuração de isótopos detectada por diferentes colimadores, foi demonstrado existir, na fase aguda de lesões cérebrovasculares oclusivas discretas, pequena região com fluxo muito rápido correspondendo à sede das alterações angiográficas; este fluxo dentro da área do enfarte segue passivamente as variações da pressão arterial, demonstrando a inexistência de auto-regulação. Por outro lado, quando era provocada vasodilatação cerebral geral, ocorria diminuição do fluxo na região hiperêmica por diminuição da pressão de perfusão nas colaterais destinadas ao enfarte; disso é inferido que drogas vasodilatadoras podem não ser úteis para beneficiar a irrigação dentro da área enfartada, provocando, pelo contrário, nociva redução do fluxo sangüíneo. Nas grandes lesões cérebrovasculares Ingvar observou outro tipo de motificação do fluxo sangüíneo regional; nessas ocasiões pode ser delimitada uma área isquêmica, correspondente às anormalidades angiográficas (oclusão de grande vaso ou sinais de processos expansivos); o fluxo sangüíneo cerebral regional é, em geral, bastante reduzido, mesmo nas partes que não são primariamente comprometidas pela lesão. Além desses dois tipos com anormalidades no fluxo sangüíneo cerebral regional, Ingvar descreveu um terceiro tipo no qual não foram encontradas isquemia ou hiperemia focais; nestes casos o exame clínico mostra déficits neurológicos focais, mas a investigação hemodinâmica, talvez por ter sido feita tardiamente, muito tempo após a instalação do processo vascular, mostrou haver redução do fluxo sangüíneo de maneira uniforme em todas as áreas cerebrais. Lindsay Symon propõe um processo de investigação para o vaso-espasmo cerebral experimental, descrito correntemente após roturas de aneurismas intracranianos. Lundberg e col. mostraram, mediante registro contínuo da pressão do líquido ventricular em pacientes com hipertensão intracraniana, haver tendência a rápidas variações dos níveis tensionais, as quais freqüentemente seguem padrões bem definidos e dos quais três podem ser distinguidos: dois, com características rítmicas, são correlacionados com a respiração periódica do tipo de Cheyne-Stokes e com as ondas de Traube-Hering-Mayer da pressão sangüínea sistêmica e podem ser atribuídos à atividade dos centros bulbares liberados da influência inibldora de centros superiores; o terceiro tipo, com características diferentes, ocorre com intervalos, amplitude e duração variáveis, é registrável graficamente como andas em "plateau", freqüentemente acompanhadas por sintomas transitórios (cefaléias, náuseas, vómitos, vasodilatação facial, distúrbios da consciência, confusão mental, respiração forçada, rigidez tônica dos membros, mioclonias). Hulme e Cooper estudam o fluxo sangüíneo cerebral durante o sono, em pacientes com hipertensão intracraniana, desenvolvendo técnica para o controle prolongado, mediante dispositivos de detectação inseridos no crânio; concomitantemente são controladas a oferta cortical de oxigênio, a impedância elétrica e o fluxo sangüíneo. Com este método os autores conseguiram acompanhar as variações da pressão intracraniana em diferentes condições fisiológicas ou mediante a ação de fármacos, salientando, ao final, a influência benéfica dos esteróides que determinam redução contínua da pressão intracraniana média, assim como acentuada diminuição na freqüência e na amplitude das ondas de pressão. McDowall Jenner e Barker estudaram o efeito do halothane e do tricloroetilenio verificando que estes fármacos, além de dilatar os vasos cerebrais, aumentam o fluxo sangüíneo encefálico, desde que a pressão sangüínea sistêmica não esteja muito diminuída e causam depressão considerável no consumo cerebral do oxigênio. Zwetnow e col. estudam o fluxo sangüíneo cerebral durante a vigência de hipertensão intracraniana correlacionada à hipóxia tissular e à acidóse nos fluídos cerebrais extracelulares, comprovando que a redução da pressão da perfusão cerebral provoca hiperemia reativa e se acompanha também de diminuição do fluxo sangüíneo cerebral com aumento da concentração de lactatos, assim como aumento proporcional na relação lactato-piruvato no líquido céfalorraqueano. A correlação entre o pH extracelular no encéfalo e o fluxo sangüíneo cerebral foi estudada por Siesjö e col. que demonstram que o fluxo sangüíneo cerebral varia diretamente com o pH extracelular, desde que seja mantida uma tensão constante de C02. Betz registra seus estudos sobre o resultado do pH cortical extracelular na regulação do fluxo sangüíneo no córtex cerebral, demonstrando que a resistência vascular cortical varia sempre na mesma direção que o pH cortical extracerebral e que o fluxo sangüíneo cerebral reage em sentido contrário às alterações do pH cortical, desde que a tensão arterial se mantenha constante. Shalit e col. procuram estudar o mecanismo de ação do dióxido de carbono na regulação do fluxo sangüíneo cerebral, admitindo, ao final, que a resposta da circulação cerebral às modificações na tensão de C02 arterial não seria devida a efeito direto deste gás sobre os músculos lisos das paredes cerebrais arteriais, mas dependeria de um mecanismo reflexo que pode ser interrompido ou comprometido por lesões em determinados níveis do tronco do encéfalo. Waltz e Sundt, investigam a influência da pressão arterial sistêmica no fluxo sangüíneo cerebral e a microcirculação do córtex cerebral isquémico. Raudam e col. estudam as alterações do metabolismo gazoso em pacientes com doenças cérebrovasculares oclusivas. Lassen estuda a relação do fluxo sangüíneo cerebral em doenças encefálicas, considerando em especial o quadro a que denominou de "luxury perfusion syndrome" que se distingue por hiperemia, relativa ou absoluta, do tecido cerebral.

No tocante aos recursos complementares para o diagnóstico, Fischgold e col. revêm os métodos radiológicos quantitativos e qualitativos da avaliação do fluxo sangüíneo cerebral, entre os quais a angiografia cerebral se destina à mensuração do tempo de trânsito cerebral e ao diâmetro dos vasos, fornecendo informações morfológicas de valor, Ziedses Des Plantes mostras as vantagens do processo de subtração fotográfica, aplicando-o à angiografia cerebral. O. Carvalho salienta o valor dos aspectos eletrencefalográficos em diferentes condições clínicas. A gamaencefalometria é estudada por Oeconomos nos acidentes isquémicos e hemorrágicos. Devlieger estuda o valor da ecoencefalografia em casos de alterações da circulação cerebral. Barcia-Goyanes e Barcia-Salorio apresentam seus resultados com a palencefalografia, processo pelo qual são registradas variações na pressão intracraniana mediante um microfone colocado na superfície do crânio. Wackenheim discorreu sobre a termografia, método de investigação que não redunda em qualquer desconforto ou risco para o paciente mas que ainda não está padronizado. A utilização da reoencefalografia esteve a cargo de Jankner que, após uma revisão geral, salientou as indicações e limitações. Interessante trabalho experimental com modelos em vasos rígidos, foi empreendido por Himwich e Clark que conseguiram estudar as diferentes alterações de fluxo e de pressão.

Zülch estuda a neuropatologiadas hemorragias intracranianas, propondo uma classificação que serviria de base para ulteriores discussões: hemorragias devidas a causas localizadas (traumatismos com sangramentos epidurals ou subdurals, hemorragias subaracnóideas e hemorrafias intracerebrais; malformações e doenças orgânicas de vasos intracranianos, tais como angiomas, malformações, aneurismas saculares; tumores, enfartes cerebrais e deslocamentos de massas intracranianas) e hemorragias devidas a fatores extracranianos (hemorragias hipertensivas estriadas, hemorragias cerebrais atípicas, paquimeningose hemorrágica, sangramentos devidos a perturbações congênitas ou iatrogênicas no sistema de coagulação). Yates estuda a neuropatologia da doença cérebro-vascular oclusiva, realçando a importância da estenose das artérias que se destinam ao encéfalo, ainda em nível tóraco-cervical.

M. David e col. estudam as estenoses e tromboses vértebro-basilares. E. Tolosa estuda as lesões vasculares cerebrais oclusivas, salientando o papel da artéria meníngea média na circulação colateral para compensação de oclusões da artéria carotida interna e de seus ramos. Vick e Dicke analisam as indicações e as técnicas, assim como os resultados das intervenções cirúrgicas vasculares na terapêutica de processos oclusivos extracranianos. Capítulo muito interessante se refere à cirurgia microvascular ("microangeional surgery"), termo que indica a cirurgia realizada sobre vasos sangüíneos com menos de 4 mm de diâmetro (Donaghy e Yasargil). Richardson analisa a história natural dos casos em que ocorreu rotura de aneurismas intracranianos, procurando salientar os dados úteis para o prognóstico. Sachs e col., após investigação anatômica macroscópica dos aneurismas arteriais intracranianos, mostram que os angiogramas não podem fornecer sempre dados precisos sobre o colo, tamanho, forma e relações das malformações aneurismáticas. Govaert e Walker, após estudo anátomo-patológico de aneurismas, aventam que, embora as anormalidades congênitas das artérias possam ser responsáveis por ulteriores alterações degenerativas em determinadas topograrias, é improvável que estas alterações sejam os fatores causais da dilatação aneurismática. Estudos da circulação cerebral mediante processo isotopológico foram realizados em 90 pacientes, após hemorragias subaracnóideas, por Taylor e Kak que assinalaram aumento do tempo de circulação, nitidamente correlacionado com a ocorrência de espasmo arterial e, também, com a morbidade e mortalidade pós-operatórias. Em interessante capítulo sobre os aneurismas da artéria comunicante anterior, Norlén analisa os resultados em 93 pacientes operados mediante abordagem intracraniana direta. Guidetti estuda as diferentes técnicas cirúrgicas indicadas no tratamento de aneurismas da artéria comunicante anterior. Kunc estuda os aneurismas da artéria carótida e da artéria comunicante posterior. Maspes e Marini relatam sua experiência cirúrgica em 159 casos de ataque direto intracraniano a aneurismas saculares da artéria carótida interna e de seus ramos. Laine estuda os aneurismas arteriais vértebro-basilares. Stepien registra sua experiência no tratamento de reforço dos aneurismas intracranianos por plásticos aderentes, de acordo com o método de Silverstone, com resultados bastante favoráveis. Os aneurismas artériovenosos são estudados por Verbiest que se dedicou àqueles localizados na fossa posterior, enquanto que as demais anomalias artério-venosas são discutidas por Kunicki. As possibilidades operatórias dos angiomas artériovenosos localizados no parênquima encefálico são estudadas por Zoltán. As fístulas artériovenosas e angiomatosas em crianças constituem a participação de R. Carrea e M. Girado, segundo os quais os aneurismas fistulados artériovenosos são muito mais freqüentes em crianças do que em adultos e podem ser tratados com sucesso pela ligadura das artérias aferentes, pois metade dos aneurismas artériovenosos angiomatosos em crianças são aptos à radical remoção cirúrgica. Arutiunov e col. se encarregaram do estudo do tratamento cirúrgico das fístulas carótido-cavernosas. Riechert propõe novo processo cirúrgico para o tratamento do exoftalmo pulsátil, mediante trombose do seio cavernoso pela compressão por placa de tântalo.

Diversos outros trabalhos constituem a parte final do livro onde o editor reuniu vários assuntos referentes a perturbações da circulação encefálica. Dentre eles mencionamos a colaboração de Margolis e col. que aventam interessante hipótese patogênica para a hemorragia intracerebral hipertensiva, baseada em duas premissas: a) não seria a hipertensão arterial em si mas sim uma reação tônica dos vasos a este "stress" que causaria um traumatismo vascular amplo na vigência da hipertensão; b) as propriedades estruturais e funcionais da vasculatura cerebral colocam-na em desvantagem, na vigência de elevações tensionais, tornando-a particularmente susceptível a ser lesada.

R. Melaragno Filho

ÉLÉMENTS DE NEUROLOGIE. SÉMIOLOGIE ANALYTIQUE ET SYNDROMES. F. CONTAMIN e O. Sabouraud. Um volume (18x24) com 617 páginas, 91 figuras. Editions Médicales Flammarion, Paris, 1968.

Este livro reflete a experiência clínica e didática dos autores, adquiridas especialmente na Clínica das Moléstias do Sistema Nervoso (Salpêtriere), na qualidade de discípulos e colaboradores do Professor Th. Alajouanine. Divide-se a obra em três partes. Na primeira são expostas noções gerais sobre anatomia e fisiología do sistema nervoso e os métodos de exame, clínicos e instrumentais, em Neurologia. A segunda é dedicada à semiología analítica e consta de 9 capítulos nos quais são, sucessivamente, descritas as funções motoras e tônicas, as perturbações do equilíbrio e da coordenação, a sensibilidade, a semiologia das funções sensorials e do sistema nervoso vegetativo, os distúrbios tróficos e as funções encefálicas gerais, síndromes encefálicas topográficas e dos nervos cranianos, síndromes neurológicas próprias da infância, síndromes medulares, radiculares focais, tronculares e periféricas gerais. Numerosas ilustrações e um índice alfabético integram o volume no qual os clínicos, especializados ou não, encontrarão uma visão global e atualizada dos temas abordados. No prefácio o Prof. Alajouanine faz referência à ausência de bibliografia. Efetivamente, a apresentação de referências bibliográficas enriqueceria o texto e seria sumamente instrutiva, visto que permitiria ao leitor conhecer, mais profunda e especialmente, a enorme contribuição fornecida pela escola neurológica franceza ao estudo de questões de semiótica e de patologia do sistema nervoso. Ainda assim o livro de Contamin e Sabouraud, pela grande soma de conhecimentos que encerra, pelo método e clareza da exposição, inscreve-se entre os melhores textos existentes sobre prodedêutica do sistema nervoso, ramo no qual os neurologistas franceses sempre foram mestres.

O. Freitas Julião

SEROTONIN. Irvine H. Page. Um volume (14x22) com 143 páginas. Year Book Medical Publishers Inc., Chicago, 1968.

O livro inicia-se com ligeiro esboço histórico sobre a descoberta da serotonina, feita há cerca de vinte anos por Page, Rapport e Green. Como sói acontecer, a descoberta da 5-hidroxitriptamina, provocou uma onda de estudos farmacológicos, facilitada pela síntese feita, em 1951, por Hamlin e Fischer. Embora não traga novas revelações, o livro de Page prima pela clareza e ausência de sofisticação. O primeiro capítulo trata da bioquímica da serotonina, desde sua determinação quantitativa até a descrição das várias etapas do seu metabolismo intermediário, passando por breve citação das estruturas em que ela pode ser encontrada. Aliás, ao longo dos 20 anos decorridos desde sua descoberta, a serotonina já foi identificada no intestino e pele de muitos animais e no cérebro de todas as classes de vertebrados, assim como no organismo de numerosos invertebrados e vegetais. O segundo capítulo trata dos aspectos fisiológicos da 5-HT mas apesar de ser esse objetivo explícito, Page só menciona os efeitos da serotonina sobre as funções neurais num capítulo à parte, o terceiro, no qual trata minuciosamente da possibilidade de ser ela um mediador sináptico. O quarto capítulo relaciona-se com o papel da serotonina como droga psicotrópica sendo, pois, de especial interesse para neurologistas e psiquiatras. O quinto capítulo trata dos estados patológicos em que é provável a participação da serotonina. Estranhamente, os quadros psiquiátricos correspondentes não foram incluídos neste capítulo e sim no quarto. Ao discutir a possibilidade de uma perturbação do metabolismo da serotonina na esquizofrenia, Page prudentemente esfria o entusiasmo dos autores que aventaram essa hipótese.

Em suma, o livro de Page constitui leitura muito útil para os neurologistas e psiquiatras, uma vez que não só expõe o que há de importante a respeito de serotomia mas, também porque, para situar essa substância entre as demais aminas biológicamente ativas, discute breve e elegantemente seu significado biológico. Selecionada bibliográfica, de poucas centenas de referências escolhidas entre milhares, permite o acesso a trabalhos originais de extrema utilidade a quem deseje desenvolver investigações sobre os diversos aspectos da serotonina.

Cesar Timo-Iaria

METABOLISM OF CATECHOLAMINES IN THE CENTRAL AND PERIPHERAL NERVOUS SYSTEM. Jan Jonason. Monografia (16x24) com 50 páginas e 6 ilustrações. Suplemento n.° 320 de Acta Physiologica Scandinavica. Elanders Boktryckeri Aktiebolag, Göteborg, 1969.

As catecolaminas estão assumindo importância crescente para a explanação das funções do sistema nervoso. Conseqüentemente, seu papel na elaboração de esquemas para explicação de muitas disfunções neurais também está assumindo proporções inconcebíveis até alguns anos atrás. No presente trabalho o autor estudou experimentalmente alguns aspectos básicos do metabolismo dessas substâncias. Mediante a técnica de incubação de fatias de tecido (glândula salivar de rato, córtex cerebral e núcleo caudado de coelho) in vitro,foi possível estudar a localização celular e a importância das diversas enzimas envolvidas no metabolismo das catecolaminas, bem como comparar o metabolismo da dopamina (DA) e noradrenalina (NA) nos neurônios adrenérgicos periféricos e centrais. Incubando fatias de glândulas salivares normais, atrofiadas e simpatectomizadas com DA redioativa e isolando a NA e seus catabolitos, foi possível verificar que a maior parte da DA-b-hidroxilase, enzima que catalisa a reação da DA em NA, está contida nos nervos adrenérgicos. Nos três tipos de tecidos usados foi verificado que o metabolismo da DA é muito mais rápido do que o da NA. A quantidade de NA sintetizada a partir da DA na glândula salivar de rato foi 4-5 vezes maior do que no córtex cerebral de coelho, o que coincide com os níveis endógenos de NA nesses tecidos. Incubando fatias de núcleo caudado com DA não foi detectada NA, o que indica que a sua síntese nesse tecido é negligencíável. No processo da desaminação da DA e NA no cérebro pela monoamino-oxidase (MAO), o aldeído formado segue vias metabólicas diferentes conforme se trate de uma ou outra substância. No caso da DA, o aldeído é oxidado pela enzima aldeído-desidrogenase a um ácido altamente ionizável no pH fisiológico, de modo que não passa imediatamente através da barreira hemoencefálica. No caso da NA, o aldeído é reduzido pela enzima aldeído-redutase a um glicol, que é um componente lipossolúvel, não havendo, pois, dificuldade de passagem para a corrente circulatória. Por esse motivo, não havia sido possível até então detectar no cérebro os produtos da desaminação da NA.

Ainda não são conhecidas as causas das diferenças no metabolismo do aldeído proveniente da DA e NA. Os dados obtidos indicam que a NA formada intraneuronalmente ou acumulada por aplicação exógena é inicialmente desaminada pela MAO, 30% da qual se localiza dentro dos nervos adrenérgicos sendo, depois, O-metilada pela catecol-O-metil transferase (COMT) extraneuronal. A concentração de aminas dentro dos nervos adrenérgicos se faz à custa de uma bomba situada na membrana celular e este processo é muito importante no metabolismo da NA, tanto periférica como centralmente, como demonstraram as experiências em que esta bomba foi bloqueda pela protriptilina. No núcleo caudado, entretanto, essa droga não alterou o nível dos produtos desaminados nem a capacidade de reter DA ou NA, provavelmente por ser a bomba da membrana dos neurônios dopaminérgicos resistente à protriptilina. A síntese de NA nos neurônios adrenérgicos centrais e periféricos é inibida por esse bloqueador, sendo esse efeito muito mais pronunciado nos neurônios periféricos do que nos centrais. Muitos dados indicam que a maior atividade da enzima COMT se localiza fora dos neurônios. A 3-0-metilação tem papel muito importante no metabolismo das catecolaminas tanto periférica como centralmente.

Massako Kadekaro

EXPERIMENTAL BRAIN CONCLUSSION BY INTRACRANIAL INPUT OF FLUID. Lennart Rindee. Monografia (16x24) com 31 páginas e duas ilustrações. Orstadius Boktryckeri Aktiebolag, Gõteborg, 1969.

O presente trabalho representa a introdução de nova técnica para o estudo dos traumatismos crânio-encefálicos experimentais: a de percussão-concussão. Os resultados são baseados em 280 experimentos realizados em coelhos, nos quais foi feita a adaptação de um êmbolo hidrostático na porção mais alta do calvário. Os impactos da coluna líquida à dura-mater exposta podiam, assim, ser precisamente controlados em seus parâmetros e os efeitos comparados aos estudos prévios de traumatismos e experimentais que utilizavam as técnicas de percussão e aceleração-concussão. Trata-se de importante contribuição ao estudo dos mecanismos dos traumatismos cranianos, elucidando muitas questões sobre as alterações mecânicas do sistema nervoso central durante a produção das lesões. Dados importantes são fornecidos em relação ao deslocamento do conteúdo craniano em direção ao foramen magno, variações da pressão intracraniana, alterações da permeabilidade vascular cerebrospinal, instalação de edema cerebral. Conseqüências vasomotoras, respiratórias e reflexas são também analisadas. O estudo do extravasamento vascular de sôro-albumina marcada, assim como o controle anatômico e histológico, completam as sólidas bases experimentais do presente trabalho. As referências bibliográficas são das mais atuais e completam o conteúdo do texto para os que se interessam pelo estudo experimental dos traumatismos crânio-encefálicos.

Raul Marino Jr.

MIND AS A TISSUE. Charles Rupp, editor. Um volume encadernado (15x23) com 368 páginas e 117 ilustrações. Hoeber Medical Division Harper & Row Publishers, 1968.

Este livro resultou da 5.ª Conferência Internacional de Pesquisas, realizada no Hospital Lankenau (Philadelphia, Penn., USA) em novembro de 1966. São reuniões bienais, destinadas a discutir os progressos da fisiologia dos tecidos, independentemente de sua aplicação clínica imediata ou futura. Assim, as quatro conferências anteriores ocuparam-se de "O osso como tecido", de "A gordura como tecido", de "O músculo como tecido" e de "O nervo como tecido". No prefácio, Charles Rupp, editor do livro, justifica o título rebarbativo ("A mente como tecido") em parte por coerência com a linha escolhida e ainda porque "a psiquiatria vem sendo prejudicada de há muito, em virtude de exagerada preocupação com os aspectos psicodinâmicos do comportamento". Os objetivos se cristalizam, pois, do título para o prefácio, como reação organicista ao expansionismo das correntes psicológicas — velha luta deste Hipócrates e Galeno — cuja última batalha ainda está longe de ser travada. Certas vitórias efêmeras vem oscilando entre os dois grupos, parecendo esta época de certas vantagens para os homens "cerebrais".

O livro tem os acertos e defeitos dos registros de simpósios em geral. Nomes ilustres, apertados nos regulamentos e presos ao ritual opressivo das reuniões, ora são superficiais, ora incompletos. Além disto, o livro saiu em 1968 reportando relatórios e discussões de dois anos antes, envolvendo estas, material e experiência pelo menos um ano mais velhos. Ora, precisamente a vantagem que leva nos dias atuais a corrente "neuropsicofisiologista" deflue da rapidez com que os achados de laboratório vão sendo acumulados, sobretudo no plano da neuroquímica. Essa informações surgem nas revistas especializadas e, com freqüência, desatualizam trabalhos da mesma equipe, publicados pouco antes.

O grupo de relatores é, no campo, o "nec plus ultra" — Krech, Rosenzweig, Reid, Broide, Abramson, Gottlieb, Dement, Cleghorn, Braceland — representando alguns dos Institutos de Pesquisas dedicados ao estudo do Homem, do mais alto gabarito existentes no mundo ocidental. Tais elementos credenciam o livro como fonte segura de consulta, mas não lhe tira o aspecto de colcha de retalhos, feita de tecido — vá lá — de primeira qualidade, quiçá um pouco curta, ou mesmo larga demais. Aliás, num dos capítulos ("Brain chemistry and anatomy: Implications for behavior therapy") David Krech conta a história da moça muito econômica e organizada que tinha, entre os seus guardados, uma caixa com o rótulo "pedaços de barbante pequenos demais para servirem". Os tópicos sobre "Neurophysiological mechanisms underlying behavior" (1.ª parte) estão neste caso. Bons subsídios surgem em "Psychopharmacology (2.ª parte) e em "Biophysiological studies in psychoses" (3.ª parte), esta última a mais importante do livro. As referências bibliográficas, em que pese a defazagem de três anos, constituem ponto alto porque são abundantes e multo idôneas. Sente-se até o dedo cuidadoso do editor, pois que não se repetem apesar de virem ao fim de cada relatório e serem de autores diferentes, muitas vezes tratando de assunto correlatos.

Enfim, é mais um importante documento de uma atitude e de uma época, em face do intrincado problema do comportamento humano. Deve, obrigatoriamente, figurar nas bibliotecas especialisadas como obra de consulta.

Clóvis Martins

HANDBUCH DER KINDERHEILKUNDE. H. Opitz e F Schmidt, editores. Volume VIII, Parte 1: NEUROLOGIE-PSYCHOLOGIE-PSYCHIATRIE. F. Schmidt e H. Asperger, editores. Um volume encadernado (19,5x27,5) com 1060 páginas e 332 ilustrações, algumas coloridas. Springer Verlag, Berlin-Heidelberg-New York, 1969.

Procurando reunir em compêndio tudo o que é necessário saber em presença de afeções e disfunções que comprometem, direta ou indiretamente, o funcionamento do sistema nervoso central e o psiquismo de crianças de todas as idades, os editores juntaram, neste volume que constitui parte de uma obra de grande alcance atinente à Pediatria, as bases para o esclarecimento diagnóstico e para ação terapêutica ou preventiva em casos de neuropatologia, de psiquiatria e de psicopatologia. Uma equipe de 34 especialistas conjugou esforços para condensar, dentro dos amplos campos de ação visados, os ensinamentos indispensáveis para que os clínicos gerais, pediatras e neurologistas, assim como os psiquiatras e psicólogos tenham à mão e deles possam dispor facilmente, os elementos básicos para o diagnóstico e terapêutica e, também, para a eventual indicação de medidas profiláticas. Excelente documentário ilustrado mediante fotografias de notável nitidez, boa disposição do material, coordenação e uniformização do texto graças à intervenção redatorial dos editores que procuraram sanar divergências de conceituação, constituem alguns dos méritos deste livro que deve integrar as bibliotecas médicas, especializadas ou não. Bem cuidado índice remissivo final facilita a consulta, sendo também proporcionada aos leitores uma lista básica de referências bibliográficas para os que desejarem maior aprofundamento em assuntos de particular interesse. Dada a amplitude do material não cabe, aqui, uma análise pormenorizada do conteúdo do livro, bastando, para os fins visado nesta apresentação, referir a ordenação de suas partes e enumerar os seus numerosos capítulos.

Na primeira parte — Neurologia— sob o título de "Bases Gerais da Neuro-Pediatria" são considerados os exames neurológico, psiquiátrico e psicológico das crianças, sendo valorizados os exames complementares de maior alcance (A. Rett), seguindo-se proveitoso capítulo sobre o desenvolvimento morfo-biológico do cérebro complementado por elementos essenciais de neuropatologia fetal e peri-natal (F. Seitelberger) e minucioso estudo do desenvolvimento do crânio complementado por uma sistematização das discefalias (F. Schmidt). A seguir são consideradas as deformações cranianas por defeitos do desenvolvimento (K. D. Ebel), as anomalias e doenças pré e peri-natais configurando as chamadas paralisias cerebrais infantis (A. Matthes), as oligofrenias (H. Mautner) e as malformações crânio-raqueanas e encéfalo-medulares (H. D. Pache). As afecções degenerativas mereceram vários capítulos: esclerose cerebral difusa (J. Martinius) degenerações cérebro-retinianas (J. Martinius), facomatoses (F. Seitelberger), teleangiectasias (A. Matthes), afecções dos gânglios basais (O. Jacobl), epilepsia progressiva mioclônica (A. Matthes), miopatias (R. Beckmann) cujo estudo é complementado pela análise de resultados eletromiográficos {A. Struppler). Extenso capítulo é dedicado às afecções inflamatorias, ficando a cargo de W. Kramer e de F. Schmidt a parte semiológica clinico-laboratorial introdutória, sendo o material disposto na seguinte ordem: infecções bacterianas (F. Hummert e F. Schmidt), eneefalites e encefalomielites purulentas (W. Kramer e F. Schmidt), tuberculose (K. Wechselberg), meningo-encéfalomielites virais (C. Simon e H. R. Wiedemann) ou possivelmente virais (H. Doose e H. R. Wiedemann), afecções parasitárias e micóticas (H. Radi), aracnoidites e ependimites (R. Kruse), polineurites (G. Neuhãuser) e polyradiculoneurites (H. Würstlein). As afecções cérebro-vasculares foram estudadas por Fr. Koch. Importante capítulo analisa as lesões do sistema nervoso determinadas por agentes físicos, sendo considerados não só os traumatismos crânio-vertebrais como as conseqüências neuropatológicas das queimaduras, das fulgurações e dos choques elétricos. O capítulo seguinte cuida da bio-eletro-patologia da epilepsia e de suas variadas formas e manifestações (Ph. Bamberger). No último capítulo da primeira parte do livro são apresentadas as bases anatomo-fisiológicas e discutido o diagnóstico das afecções do sistema nervoso vegetativo (H. M. Heinisch). Na segunda parte — Psicologia e Psiquiatria— os capítulos têm a seguinte seqüência: Psicologia do desenvolvimento (S. Bayr-Klimpfinger): Indicações e avaliações dos testes psicológicos (E. G. Huber); Doutrina da motivação (H. Asperger); Problemas e fases do amadurescimento psíquico (H. Harbauer); Psicopatologia da linguagem (F. G. Stockert); Condicionamento orgânico de distúrbios psíquicos (H. Asperger); Psicoses endógenas e exógenas (H. Stutte); Causas e prevenção dos problemas de conduta (O. Aba); Tratamentos psico-pedagógicos (H. Asperger); Psicoterapia (G. Biermann); Erros e desatenções na orentação da educação psico-pedagógica (U. Köttgen); Influência da imaginação e da sugestão nas afirmativas e nos testemunhos de crianças (H. Asperger); Situação psicológica de crianças hospitalizadas (G. Biermann).

O. Lange

Livros recebidos

Nota da Redação — A notificação dos livros recentemente recebidos não implica em compromisso da Redação da revista quanto à publicação de uma apreciação. Todos os livros recebidos são arquivados na Biblioteca do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

HlPNOANALISIS. Lewis R. WOIBERG. Um volume encadernado (16x23) com 388 páginas. Versão castelhana. Editorial Paidós, Buenos Aires, 1968.

PSICOLOGIA DE LA MOTIVACIÓN. G. ryle e outros. Um volume tipo pocket-book (10,5x17,5) com 273 páginas contendo compilações de trabalhos de vários autores. Primeira edição castelhana. Editorial Paidós, Buenos Aires, 1968.

EL SENTIMIENTO DE SOLEDAD. Melanie Klein. Um volume tipo pocket-book (10x17,5) com 201 páginas. Primeira edição castelhana. Editorial Paidós, Buenos Aires, 1968.

PSICOLOGIA PROFUNDA DEL CARATER. Otto Fenichel e outros. Um volume tipo pocket-book (10,5x17,5). Com 233 páginas. Primeira edição castelhana. Editorial Paidós, Buenos Aires, 1968.

LE SYNDROME DE KORSAKOFF. Jean Delay e Serge Brion. Um volume encadernado (17x25) com 170 páginas, 31 figuras e 6 tabelas. Masson & Cie, Paris, 1969. Preço: 60 F.

SOZIALPSYCHIATRIE. N. Petrilowitsch e H. Flegel, editores. Dois volumes (17,5x25), respectivamente com 205 e 170 páginas: 1) Parte geral; 2) Parte especial. Volumes n.° 141 e 142 da série Bibliotheca Psychiatrica et Neurológica. S. Karger AG, Basel-New York, 1969. Preço US 23.75.

HANDBUCH DER KINDERHEILKUNDE. H. Opitz e F. Schmidt, editores. Volume VIII, Parte 1: NEUROLOGIE-PSYCHOLOGIE-PSYCHIATRIE. F. schmidt e H. Asperger, editores. Um volume encadernado (19,5x27,5) com 1060 páginas e 332 ilustrações, algumas coloridas. Springer Verlag, Berlin-Heidelberg-New York, 1969. Preço: DM 385,- ou US$ 96,25.

EPILEPSY AND 3 PER SECOND SPIKE AND WAVE PHYTHMS. M. A. Dalby. Monografia (16x24) com 183 páginas, 30 figuras e 54 tabelas. Suplemento n.° 40 de Acta Neurologica Scandinavica. E. Munksgaard, Copenhagen, 1969.

EPIDEMIOLOGICAL, CLINICAL AND ETIOLOGICAL ASPECTS OF MULTIPLE ESCLEROSIS. Martin Panelius. Monografia (16x24) com 82 páginas, 5 figuras e 26 tabelas. Suplemento n.° 39 de Acta Neurológica Scandinavica. E. Munksgaard, Copenhagen, 1969.

DISSEMINATED VASCULOMYELINOPATHY. Charles M. Poser. Monografia (16x 24) com 44 páginas e 5 tabelas. Suplemento n.° 37 de Acta Neurológica Scandinavica. E. Munksgaard, Copenhagen, 1969.

LA SINDROME DEL SENO CAROTIDEO. V. Poli. Monografia (17x24) com 122 páginas, 15 figuras e duas tabelas. Suplemento n.° 8 de Omnia Medica et Therapeutica. Edizione Omnia Medica, Pisa, 1969.

LES CONSULTATIONS JOURNALIÈRES EN PSYCHIATRIE. PIERRE LÔO. Um volume (16,5x21) com 166 páginas. Volume 19 da série "Consultations Journalièrs". Masson et Cie., Paris, 1969.

NEUROLOGIA CLINICA. Israel S. Wechsler. Um volume encadernado (15,5x24) com 704 páginas e 179 figuras. Tradução castelhana da 9.ª edição original, feita pelo Dr. Alberto Folch y Pi. Editorial Interamericana S.A., México D.F., 1969.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Abr 2013
  • Data do Fascículo
    Set 1969
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