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Lipoma de célula fusiforme do triângulo anterior do pescoço: uma entidade rara

CASE REPORT

IM.S., Residente Sênior

IIM.S., Professor

IIIM.S., Professor

IVM.S., Professor e chefe

Endereço para correspondência

Palavras-chave: imunoistoquímica, lipoma, pescoço.

INTRODUÇÃO

Lipomas solitários representam o tipo mais comum de tumor de partes moles. O termo lipoma inclui uma gama de subtipos. O lipoma de células fusiformes (LCF) representa uma entidade distinta, contabilizando aproximadamente 1,5% de todos os lipomas1. O diagnóstico de LCF é histológico, e deve-se fazer um estudo cuidadoso para diferenciá-lo do lipossarcoma.

RELATO DE CASO

Um homem de 48 anos relatou passado de edema na região cervical esquerda desde os dois anos, que progressivamente aumentou com o passar do tempo. Foi localizada massa firme e móvel de 4x4 cm no triângulo anterior do pescoço. O exame otorrinolaringológico estava normal.

A citologia do aspirado por agulha fina mostrou células fusiformes soltas em meio a uma matriz mixóide, sugestiva de lesão em partes moles. Sob a tomografia computadorizada, foi localizada massa de densidade mole de 3,2x4,2 cm próxima ao lobo superficial da parótida esquerda, com pequenas hipodensidades de atenuação de gordura na periferia. A lesão se estendeu anteriormente para o músculo esternocleidomastóideo, deslocando o platisma. O uso de contraste destacou heterogeneidade.

O paciente foi submetido à excisão cirúrgica da massa. A massa estava no subcutâneo, era bem definida e encapsulada, e foi excisada completamente. O exame histopatológico do tumor mostrou que o mesmo era predominantemente composto de células fusiformes que eram uniformes, com núcleo alongado e nucléolo imperceptível. As células estavam organizadas em curtos feixes paralelos. O fundo era composto de matriz mucóide misturada a feixes de fibras colagenosas longas. Também foram vistos adipócitos maduros. Sob imunohistoquímica, o antígeno CD 34 estava positivo e o foi feito o diagnóstico de lipoma de células fusiformes.

Com um ano de pós-operatório não há sinais de recidiva.

DISCUSSÃO

Enzinger e Harvey fizeram o primeiro relato de LCF em 19752. A doença afetava predominantemente homens idosos. As regiões mais comuns foram a cervical posterior, ombros e costas; entretanto, em nosso caso a área afetada foi o triângulo cervical anterior.

A aparência radiológica não é patognomônica. A variação no coeficiente de células fusiformes e gordura causa o amplo espectro de características de imagens. A ressonância magnética ponderada em T1 mostrou lesão isointensa no tecido adiposo subcutâneo. A ressonância ponderada em T2 com supressão de gordura revelou um componente lipomatoso hipointenso e um componente hiperintenso de células fusiformes que se destacaram sob o contraste3.

Histologicamente, o LCF consiste de uma mistura de células fusiformes insípidas e adipócitos maduros. A matriz é composta de variadas quantidades de material mucóide e colágeno. As células fusiformes possuem pouco citoplasma, núcleos alongados e estão organizadas em arranjos paralelos curtos. As células fusiformes são CD34+ve e S100-ve4.

O lipoma pleomórfico, considerado uma variante altamente pleomórfica, foi primeiro descrito por Shmookler e Enzinger, uma vez que ambos têm citogenética semelhante e são considerados uma única entidade5.

É importante diferenciar o LCF do lipossarcoma. Esses últimos são caracterizados por terem maior quantidade de células fusiformes, presença de pleomorfismo nuclear e amplificação MDM-21. O estroma mixoide pode, algumas vezes, ser visto no LCF, quando mimetiza lipossarcomas mixóides. Entretanto, a localização superficial e o fato da lesão ser circunscrita ajudam a diferenciar o LCF do último. Também, o padrão vascular, o pleomorfismo e a atividade mitótica devem ser avaliados6. Os outros diagnósticos diferenciais incluem dermatofibrosarcoma protuberante, tumor fibroso solitário do tipo mamário e o miofibroblastoma.

O tratamento envolve a excisão cirúrgica e as recidivas são extremamente raras, mesmo em casos de excisão incompleta.

CONCLUSÃO

O lipoma de células fusiformes é uma variante extremamente rara do lipoma comum. A lesão é benigna e uma cuidadosa investigação é necessária para se evitar erro diagnóstico com sua variante maligna. O tratamento é baseado em excisão cirúrgica e praticamente não há recidivas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • 1. Fletcher CDM, Bates M. Spindle cell lipoma: a clinicopathological study with some original observations. Histopathology.1987;11:803-17.
  • 2. Enzinger FM, Harvey DA. Spindle cell lipoma. Cancer.1975;36:1852-9.
  • 3. Laura WB, Krans MJ, Peters JJ. Imaging characteristics of spindle cell lipoma. AJR.2003;181:1251-4.
  • 4. Immunoreactivity for the human haematopoeitic progenitor cell antigen (CD 34) in lipomatous tumors. Am J Surg Pathol.1997;21:195-200.
  • 5. Shmookler BM, Enzinger FM. Pleomorphic lipoma: a benign tumor simulating liposarcoma. A clinicopathological analysis of 48 cases. Cancer.1981;47:126-33.
  • 6. French CA, Mentzel T, Kutzner H, Fletcher CDM: intradermal spindle cell / pleomorphic lipoma. A distinct subset. Am J Dermatopathol.2000;22:496-502.
  • Lipoma de célula fusiforme do triângulo anterior do pescoço: uma entidade rara

    Smita UpadhyayI; Arpit SharmaII; Shashikant MhashalIII; Jyoti P DabholkarIV
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Ago 2011
    • Data do Fascículo
      Jun 2011
    Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Sede da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial, Av. Indianópolia, 1287, 04063-002 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (0xx11) 5053-7500, Fax: (0xx11) 5053-7512 - São Paulo - SP - Brazil
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