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Terapias não farmacológicas para analgesia no pós-parto: uma revisão sistemática

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:

Dor abdominal e pélvica são condições prevalentes entre as puérperas no período pós-parto. As terapias não farmacológicas nesses casos são de grande importância, tendo em vista a ausência de efeitos adversos sistêmicos, tais como sonolência, irritabilidade e modificações no leite materno. O objetivo deste estudo foi identificar e avaliar a eficácia das terapias analgésicas não farmacológicas utilizadas no puerpério imediato na dor abdominal e pélvica.

CONTEÚDO:

Realizou-se buscas nas principais bases de dados, no período de setembro a outubro de 2017, utilizando-se as combinações: "treatment" AND "pain" AND "postpartum"; "treatment" AND "pain" AND "postpartum" AND "analgesics" AND "non-pharmacological". Foram incluídos ensaios clínicos controlados e randomizados, publicados no período de janeiro de 2007 a agosto de 2017, nos idiomas português, inglês e espanhol. Dos 1.737 estudos encontrados nas bases de dados, 42 foram selecionados pelo título. De acordo com os critérios de elegibilidade, incluiu-se 13 estudos. O tamanho total das amostras dos estudos variou entre 21 e 266. Nos grupos com intervenção, a amostra variou entre 11 e 126 mulheres que foram submetidas a crioterapia, estimulação elétrica nervosa transcutânea, LASER, acupuntura e auriculoterapia.

CONCLUSÃO:

As práticas intervencionistas como a eletroestimulação elétrica nervosa transcutânea e a crioterapia apresentaram dados significativos relevantes na redução da dor abdominal e pélvica. As técnicas de acupuntura e auriculoterapia ainda apresentam dados inconclusivos. Apesar de provocar alívio da dor perineal, a laserterapia não mostrou efeito estatisticamente significativo para alívio da dor quando comparada com o grupo placebo.

Descritores:
Analgesia; Cesariana; Dor; Fisioterapia

ABSTRACT

BACKGROUND AND OBJECTIVES:

Abdominal and pelvic pain is a prevalent condition among women in the immediate postpartum period. Non-pharmacological therapies are of great importance for the treatment of this condition since they do not cause systemic side effects, such as drowsiness, irritability, and changes in the composition of breast milk. This article aims to identify and evaluate the efficacy of non-pharmacological analgesic therapies used in the immediate puerperium in abdominal-pelvic pain.

CONTENTS:

Searches were carried out in the main databases from September to October 2017 using the following descriptors "treatment" AND "pain" AND "postpartum"; "Treatment" AND "pain" AND "postpartum" AND "analgesics" AND "non-pharmacological". Controlled and randomized clinical trials published between January 2007 and August 2017, in Portuguese, English, and Spanish were included. Of the 1737 studies found in the databases, 42 were selected by the title. According to the eligibility criteria, 13 studies were included. The total sample size of the studies ranged from 21 to 266. In the intervention groups, the sample ranged from 11 to 126 women who underwent cryotherapy, transcutaneous electrical stimulation, LASER, acupuncture and ear acupressure.

CONCLUSION:

Interventional practices such as transcutaneous electrical nervous stimulation and cryotherapy presented significant data relevant to the reduction of abdominal and pelvic pain. The techniques of acupuncture and ear acupressure still present inconclusive data. Despite the relief of perineal pain, laser therapy showed no statistically significant effect on pain relief when compared to the placebo group.

Keywords:
Analgesics; Cesarean section; Pain; Physiotherapy

INTRODUÇÃO

No puerpério imediato, a dor abdominal e pélvica são condições prevalentes entre as mulheres11 Woods AB, Crist B, Kowalewski S, Carroll J, Warren J, Robertson J. A cross-sectional analysis of the effect of patient-controlled epidural analgesia versus patient controlled analgesia on postcesarean pain and breastfeeding. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs. 2012;41(3):339-46.,22 Mathias AE, Pitangui AC, Vasconcelos AM, Silva SS, Rodrigues PS, Dias TG. Perineal pain measurement in the immediate vaginal postpartum period. Rev Dor. 2015;16(4):267-71.. Estudo de coorte realizado com 1.288 mulheres submetidas à cesariana e a parto vaginal22 Mathias AE, Pitangui AC, Vasconcelos AM, Silva SS, Rodrigues PS, Dias TG. Perineal pain measurement in the immediate vaginal postpartum period. Rev Dor. 2015;16(4):267-71., identificou prevalência de dor de 10,9% nas primeiras 36 horas após o parto. A literatura mostra que as mulheres submetidas à cesariana relataram 2,4 mais queixas de dor em comparação às mulheres submetidas ao parto vaginal33 Mascarello KC, Matijasevich A, Santos ID, Silveira MF. Early and late puerperal complications associated with the mode of delivery in a cohort in Brazil. Rev Bras Epidemiol. 2018;21:e180010. [English, Portuguese; Abstract available in Portuguese from the publisher].. Outra pesquisa realizada no Brasil mostrou que mulheres que tiveram parto normal tiveram 82% menos chances de sentir dor intensa no puerpério imediato44 Cardoso PO, Alberti LR, Petroianu A. [Neonatal and maternal morbidity related to the type of delivery]. Cien Saude Colet. 2010;15(2):427-35.. Outro estudo revela que a dor do pós-parto pode persistir até um ano, sendo mais comum após a cesariana55 Kainu JP, Sarvela J, Tiippana E, Halmesmäki E, Korttila KT. Persistent pain after caesarean section and vaginal birth: a cohort study. Int J Obstet Anesth. 2010;19(1):4-9..

No pós-parto vaginal observou-se dor perineal devido à episiotomia ou trauma espontâneo perineal que desencadeiam um processo inflamatório local com a presença de dor aguda66 Christianson LM, Bovbjerg VE, McDavitt EC, Hullfish KL. Risk factors for perineal injury during delivery. Am J Obstet Gynecol. 2003;189(1):255-60.. Já nas cesarianas, a dor na ferida operatória é considerada a queixa principal nas mulheres77 Çitak Karakaya I, Yüksel I, Akbayrak T, Demirtürk F, Karakaya MG, Ozyüncü Ö, et al. Effects of physiotherapy on pain and functional activities after cesarean delivery. Arch Gynecol Obstet. 2012;285(3):621-7. que dificulta a funcionalidade no puerpério imediato. Independente da via de parto e do trauma tecidual local, a dor abdominal também pode estar presente na maioria das mulheres em decorrência das contrações uterinas11 Woods AB, Crist B, Kowalewski S, Carroll J, Warren J, Robertson J. A cross-sectional analysis of the effect of patient-controlled epidural analgesia versus patient controlled analgesia on postcesarean pain and breastfeeding. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs. 2012;41(3):339-46..

O desconforto ocasionado pelo quadro álgico compromete a qualidade de vida, mobilidade, autocuidado, amamentação e funções eliminatórias das puerpéras77 Çitak Karakaya I, Yüksel I, Akbayrak T, Demirtürk F, Karakaya MG, Ozyüncü Ö, et al. Effects of physiotherapy on pain and functional activities after cesarean delivery. Arch Gynecol Obstet. 2012;285(3):621-7.,88 Buhagiar L, Cassar OA, Brincat MP, Buttigieg GG, Inglott AS, Adami MZ, et al. Predictors of post-caesarean section pain and analgesic consumption. J Anaesthesiol Clin Pharmacol. 2011;27(2):185-91.. O tratamento farmacológico é frequentemente prescrito para a analgesia, favorecendo a recuperação da paciente, reduzindo a angústia materna e aumentando as interações da mãe com o recém-nascido88 Buhagiar L, Cassar OA, Brincat MP, Buttigieg GG, Inglott AS, Adami MZ, et al. Predictors of post-caesarean section pain and analgesic consumption. J Anaesthesiol Clin Pharmacol. 2011;27(2):185-91.,99 Abbaspoor Z, Akbari M, Najar S. Effect of foot and hand massage in post-cesarean section pain control: a randomized control trial. Pain Mang Nurs. 2014;15(1):132-6..

Apesar dos avanços quanto ao conhecimento da fisiopatologia, tratamento para dor e a disponibilidade de novos sistemas de fármacos, ainda é possível encontrar pacientes que são impossibilitados de fazer uso de fármacos, tornando essa terapêutica inviável11 Woods AB, Crist B, Kowalewski S, Carroll J, Warren J, Robertson J. A cross-sectional analysis of the effect of patient-controlled epidural analgesia versus patient controlled analgesia on postcesarean pain and breastfeeding. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs. 2012;41(3):339-46.. Além disso, Steen et al.1010 Steen M, Cooper K, Marchant P, Griffiths-Jones M, Walker J. A randomized controlled trial to compare the effectiveness of icepacks and Epifoam with cooling maternity gel pads at alleviating postnatal perineal trauma. Midwifery. 2000;16(1):48-55. descreveram que o uso isolado de fármaco não tem sido suficiente para promover analgesia nessas mulheres. É possível identificar na literatura diversas terapias analgésicas não farmacológicas utilizadas em processos agudos de traumas teciduais, discutindo o baixo custo para aplicação e a ampla possibilidade de indicações.

Diante dos sintomas dolorosos em regiões distintas como abdômen e pelve decorrentes do processo de parturição, seja por parto vaginal ou cesariana, presente nos primeiros dias do puerpério, se faz necessário identificar e avaliar a eficácia das terapias analgésicas não farmacológicas utilizadas nesse período, para melhor guiar a prática clínica e científica dos profissionais da saúde que trabalham diretamente na assistência obstétrica.

CONTEÚDO

Este estudo foi caracterizado como uma revisão sistemática, realizada nas principais bases de dados Pubmed, LILACS, Ovid EMBASE, Scielo, CAPES, IBECS, SCOPUS, SCIENCE DIRECT e banco de teses da CAPES. As buscas foram realizadas no período de setembro a outubro de 2017, utilizando as combinações: "treatment" AND "pain" AND "postpartum"; "treatment" AND "pain" AND "postpartum" AND "analgesics" AND "non-pharmacological".

Os critérios de inclusão foram artigos completos e publicados no período de janeiro de 2007 a agosto de 2017 nos idiomas português, inglês e espanhol; estudos com delineamento metodológico de ensaio clínico controlado e randomizado apresentando análise quantitativa do desfecho dor; artigos que apresentaram no título e resumo abordagem de intervenção não farmacológica para analgesia no puerpério imediato. Nos casos em que o título e o resumo não foram esclarecedores, a busca do artigo foi realizada na íntegra para evitar a não inclusão de estudos importantes.

Os artigos identificados pela estratégia de busca inicial foram avaliados de forma independente e encoberta por dois autores, obedecendo rigorosamente aos critérios de elegibilidade definidos no protocolo de pesquisa, e avaliados metodologicamente com base na escala PEDro1111 Verhagen AP, de Vet HC, de Bie RA, Kessels AG, Boers M, Bouter LM, et al. The Delphi list: a criteria list for quality assessment of randomised clinical trials for conducting systematic reviews developed by Delphi consensus. J Clin Epidemiol. 1998;51(12):1235-41.. Foram excluídos estudos em duplicidade nas bases de dados.

A revisão sistemática foi realizada de acordo com as diretrizes do Manual do Revisor Cochrane e as orientações do PRISMA1212 Moher D, Liberati A, Tetzlaff J, Altman DG. The PRISMA Group. principais itens para relatar revisões sistemáticas e meta-análises: a recomendação PRISMA. Epidemiol Serv Saúde. 2015;24(2):335-42. (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis). As etapas da pesquisa estão demonstradas no fluxograma (Figura 1), de acordo com o procedimento metodológico proposto no estudo.

Figura 1
Fluxograma das etapas da revisao sistematica recomendada pela PRISMA

Seleção dos estudos

Os resultados da pesquisa são mostrados na figura 1. Inicialmente foram encontrados 1.737 estudos nas bases de dados, sendo 13 selecionados de acordo com os critérios de elegibilidade.

Características dos estudos

O tamanho total da amostra dos estudos variou de 21 a 266 com o tamanho do grupo de intervenção variando entre 11 e 126 mulheres1313 Olsén MF, Elden H, Janson ED, Lilja H, Stener-Victorin E. A comparison of high- versus low-intensity, high-frequency transcutaneous electric nerve stimulation for painful postpartum uterine contractions. Acta Obstet Gynecol Scand. 2007;86(3):310-4.,1414 Kwan WS, Li WW. Effect of ear acupressure on acute postpartum perineal pain: a randomised controlled study. J Clin Nurs. 2014;23(7-8):1153-64.. Na avaliação da qualidade metodológica foi verificada uma pontuação média de 7 (variação de 5 a 10) como mostrado na tabela 1.

Tabela 1
Características dos artigos incluídos

Os recursos encontrados foram crioterapia1515 Lu YY, Su ML, Gau ML, Lin KC, Au HK. The efficacy of cold-gel packing for relieving episiotomy pain - a quasi-randomised control trial. Contemp Nurse. 2015;50(1):26-35.

16 Oliveira SM, Silva FM, Riesco ML, Latorre Mdo R, Nobre MR. Comparison of application times for ice packs used to relieve perineal pain after normal birth: a randomised clinical trial. J Clin Nurs. 2012;21(23-24)3382-91.

17 Leventhal LC, de Oliveira SM, Nobre MR, da Silva FM. Perineal analgesia with an ice pack after spontaneous vaginal birth: a randomized controlled trial. J Midwifery Womens Health. 2011;56(2):141-6.
-1818 Morais I, Lemos A, Katz L, Melo LF, Maciel MM, Amorim MM. Perineal pain management with cryotherapy after vaginal delivery: a randomized clinical trial. Rev Bras Ginecol Obst. 2016;38(7):325-32., TENS1313 Olsén MF, Elden H, Janson ED, Lilja H, Stener-Victorin E. A comparison of high- versus low-intensity, high-frequency transcutaneous electric nerve stimulation for painful postpartum uterine contractions. Acta Obstet Gynecol Scand. 2007;86(3):310-4.,1919 Kayman-Kose S, Arioz DT, Toktas H, Koken G, Kanat-Pektas M, Kose M, et al. Transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS) for pain control after vaginal delivery and cesarean section. J Matern Fetal Neonatal Med. 2014;27(15):1572-5.

20 Pitangui AC, Araújo RC, Bezerra MJ, Ribeiro CO, Nakano AM. Low and high-frequency TENS in post-episiotomy pain relief: a randomized, double-blind clinical trial. Braz J Phys Ther. 2014;18(1):72-8.

21 Pitangui AC, de Sousa L, Gomes FA, Ferreira CH, Nakano AM. High-frequency TENS in post-episiotomy pain relief in primiparous puerpere: A randomized, controlled trial. J Obstet Gynaecol Res. 2012;38(7):980-7.
-2222 Lima, LE, Lima AS, Rocha CM, dos Santos GM, Bezerra AJ, Hazime AF, et al. High and low frequency transcutaneous electrical nerve stimulation in post-cesarean pain intensity. Fisioter Pesqui. 2014;21(3):243-8., laserterapia2323 Santos JdeO, de Oliveira SM, da Silva FM, Nobre MR, Osava RH, Riesco ML. Low-level laser therapy for pain relief after episiotomy: a double-blind randomised clinical trial. J Clin Nurs. 2012;21(23-24):3513-22.,2424 Santos JdeO, Oliveira SM, Nobre MR, Aranha AC, Alvarenga MB. A randomised clinical trial of the effect of low-level laser therapy for perineal pain and healing after episiotomy: A pilot study. Midwifery. 2012;28(5):e653-9., auriculoterapia1414 Kwan WS, Li WW. Effect of ear acupressure on acute postpartum perineal pain: a randomised controlled study. J Clin Nurs. 2014;23(7-8):1153-64. e acupuntura2525 Marra C, Pozzi I, Ceppi L, Sicuri M, Veneziano F, Regalia AL. Wrist-ankle acupuncture as perineal pain relief after mediolateral episiotomy: a pilot study. J Altern Complement Med. 2011;17(3):239-41. e estão descritos na tabela 2.

Tabela 2
Recursos analgésicos não farmacológicos para alívio da dor abdominal-pélvica no puerpério imediato

Recurso não farmacológico

1) Estimulação elétrica nervosa transcutânea - TENS

Dos estudos encontrados, cinco (38,4%) abordaram a TENS como terapêutica eficaz para o alívio da dor abdominal e pélvica em puérperas1313 Olsén MF, Elden H, Janson ED, Lilja H, Stener-Victorin E. A comparison of high- versus low-intensity, high-frequency transcutaneous electric nerve stimulation for painful postpartum uterine contractions. Acta Obstet Gynecol Scand. 2007;86(3):310-4.,1919 Kayman-Kose S, Arioz DT, Toktas H, Koken G, Kanat-Pektas M, Kose M, et al. Transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS) for pain control after vaginal delivery and cesarean section. J Matern Fetal Neonatal Med. 2014;27(15):1572-5.

20 Pitangui AC, Araújo RC, Bezerra MJ, Ribeiro CO, Nakano AM. Low and high-frequency TENS in post-episiotomy pain relief: a randomized, double-blind clinical trial. Braz J Phys Ther. 2014;18(1):72-8.

21 Pitangui AC, de Sousa L, Gomes FA, Ferreira CH, Nakano AM. High-frequency TENS in post-episiotomy pain relief in primiparous puerpere: A randomized, controlled trial. J Obstet Gynaecol Res. 2012;38(7):980-7.
-2222 Lima, LE, Lima AS, Rocha CM, dos Santos GM, Bezerra AJ, Hazime AF, et al. High and low frequency transcutaneous electrical nerve stimulation in post-cesarean pain intensity. Fisioter Pesqui. 2014;21(3):243-8.. Desses, três analisaram a dor na região abdominal e em ferida operatória pós-cesariana1313 Olsén MF, Elden H, Janson ED, Lilja H, Stener-Victorin E. A comparison of high- versus low-intensity, high-frequency transcutaneous electric nerve stimulation for painful postpartum uterine contractions. Acta Obstet Gynecol Scand. 2007;86(3):310-4.,1919 Kayman-Kose S, Arioz DT, Toktas H, Koken G, Kanat-Pektas M, Kose M, et al. Transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS) for pain control after vaginal delivery and cesarean section. J Matern Fetal Neonatal Med. 2014;27(15):1572-5.,2222 Lima, LE, Lima AS, Rocha CM, dos Santos GM, Bezerra AJ, Hazime AF, et al. High and low frequency transcutaneous electrical nerve stimulation in post-cesarean pain intensity. Fisioter Pesqui. 2014;21(3):243-8. e dois em região de episiotomia2020 Pitangui AC, Araújo RC, Bezerra MJ, Ribeiro CO, Nakano AM. Low and high-frequency TENS in post-episiotomy pain relief: a randomized, double-blind clinical trial. Braz J Phys Ther. 2014;18(1):72-8.,2121 Pitangui AC, de Sousa L, Gomes FA, Ferreira CH, Nakano AM. High-frequency TENS in post-episiotomy pain relief in primiparous puerpere: A randomized, controlled trial. J Obstet Gynaecol Res. 2012;38(7):980-7..

Dois desses estudos avaliaram a eficácia da aplicação da TENS em alta frequência1919 Kayman-Kose S, Arioz DT, Toktas H, Koken G, Kanat-Pektas M, Kose M, et al. Transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS) for pain control after vaginal delivery and cesarean section. J Matern Fetal Neonatal Med. 2014;27(15):1572-5.,2121 Pitangui AC, de Sousa L, Gomes FA, Ferreira CH, Nakano AM. High-frequency TENS in post-episiotomy pain relief in primiparous puerpere: A randomized, controlled trial. J Obstet Gynaecol Res. 2012;38(7):980-7.. Um1313 Olsén MF, Elden H, Janson ED, Lilja H, Stener-Victorin E. A comparison of high- versus low-intensity, high-frequency transcutaneous electric nerve stimulation for painful postpartum uterine contractions. Acta Obstet Gynecol Scand. 2007;86(3):310-4. avaliou também a alta frequência comparando diferentes intensidades. Os outros dois estudos2020 Pitangui AC, Araújo RC, Bezerra MJ, Ribeiro CO, Nakano AM. Low and high-frequency TENS in post-episiotomy pain relief: a randomized, double-blind clinical trial. Braz J Phys Ther. 2014;18(1):72-8.,2222 Lima, LE, Lima AS, Rocha CM, dos Santos GM, Bezerra AJ, Hazime AF, et al. High and low frequency transcutaneous electrical nerve stimulation in post-cesarean pain intensity. Fisioter Pesqui. 2014;21(3):243-8. compararam a eficácia da alta e baixa frequência para a redução da dor. Os protocolos utilizados em cada estudo estão detalhados na tabela 2. A partir desses estudos fica evidenciado que a TENS apresenta resultado satisfatório no controle da dor em puérperas, sendo as duas intensidades capazes de produzir benefícios na redução do quadro álgico.

É possível encontrar descrito na literatura diferentes tipos de TENS, por exemplo: convencional, burst, acupuntura e breve-intensa. De acordo com a frequência, alta (10 a 200Hz) ou baixa (2 a 4Hz), sua aplicação é indicada para dores agudas ou crônicas, respectivamente2626 Han JS, Chen XH, Sun SL, Xu XJ, Yuan Y, Yan SC, et al. Effect of low- and high-frequency TENS on Met-enkephalin-Arg-Phe and dynorphin A immunoreactivity in human lumbar CSF. Pain. 1991;47(33):295-8..

O uso da TENS de alta frequência está fundamentado na teoria das comportas da dor, proposta por Melzack e Wall em 19652727 Melzack R, Wall PD. Pain mechanisms: a new theory. Science. 1965;150(3699):971-9.. Essa teoria explica que o estímulo elétrico emitido pelo aparelho provoca uma excitação das fibras nervosas Ab-aferentes no corno posterior da medula espinhal e inibe, de forma rápida, as transmissões dos impulsos dolorosos pelas fibras nervosas condutoras da dor, através da medula espinhal. Por isso, sua indicação no controle de dor aguda como em pós-operatório pode ser justificada, à medida que quanto maior a intensidade da corrente da TENS mais unidades de fibras receptoras serão recrutadas. Por sua vez, o uso da TENS de baixa frequência atua na estimulação da liberação de opioides endógenos pelo cérebro para promover o efeito analgésico. Nesse caso é mais recomendada para condições clínicas crônicas2828 Mello LF, Nóbrega LF, Lemos A. Estimulação elétrica transcutânea no alívio da dor do trabalho de parto:revisão sistemática e meta-análise. Rev Bras Fisioter. 2011;15(3):175-84..

Na literatura pode ser encontrado um estudo que compara a aplicação da TENS no pós-operatório imediato de cirurgia ginecológica com o uso de opioides. Nesse estudo2929 Platon B, Mannheimer C, Andréll P. Effects of high-frequency, high-intensity transcutaneous electrical nerve stimulation versus intravenous opioids for pain relief after gynecologic laparoscopic surgery: a randomized controlled study. Korean J Anesthesiol. 2018;71(2):149-56., as mulheres foram divididas aleatoriamente em dois grupos, nos quais foram submetidas à intervenção de redução da dor após cirurgia. Um grupo recebeu a TENS de alta frequência e o outro grupo, opioides. Os dois grupos apresentaram resultados satisfatórios no alívio da dor (p<0,001), o que indica que a terapêutica não farmacológica é uma excelente alternativa para essas pacientes, minimizando os efeitos adversos e sistêmicos dos recursos farmacológicos.

2) Laserterapia

Dois estudos (15,5%) investigaram a laserterapia de baixa intensidade (LBI) para analgesia em região de episiotomia em puérperas. Na avaliação intragrupo foi encontrada diferença estatística antes e após a intervenção. No entanto, não foi encontrada diferença na comparação entre grupo intervenção e placebo2323 Santos JdeO, de Oliveira SM, da Silva FM, Nobre MR, Osava RH, Riesco ML. Low-level laser therapy for pain relief after episiotomy: a double-blind randomised clinical trial. J Clin Nurs. 2012;21(23-24):3513-22.,2424 Santos JdeO, Oliveira SM, Nobre MR, Aranha AC, Alvarenga MB. A randomised clinical trial of the effect of low-level laser therapy for perineal pain and healing after episiotomy: A pilot study. Midwifery. 2012;28(5):e653-9..

É possível que essa diferença nos resultados tenha ocorrido devido aos protocolos utilizados nos estudos em questão. O primeiro estudo publicado2424 Santos JdeO, Oliveira SM, Nobre MR, Aranha AC, Alvarenga MB. A randomised clinical trial of the effect of low-level laser therapy for perineal pain and healing after episiotomy: A pilot study. Midwifery. 2012;28(5):e653-9. foi um piloto utilizado como base para o segundo artigo2323 Santos JdeO, de Oliveira SM, da Silva FM, Nobre MR, Osava RH, Riesco ML. Low-level laser therapy for pain relief after episiotomy: a double-blind randomised clinical trial. J Clin Nurs. 2012;21(23-24):3513-22.. Santos et al.2424 Santos JdeO, Oliveira SM, Nobre MR, Aranha AC, Alvarenga MB. A randomised clinical trial of the effect of low-level laser therapy for perineal pain and healing after episiotomy: A pilot study. Midwifery. 2012;28(5):e653-9., apresentaram resultados que não forneceram informações exatas sobre o efeito da LBI na episiotomia utilizando parâmetros com comprimento de onda de 660nm, dose de 3,8J/cm2 em três sessões com intervalo de 20 a 24h entre elas. Os autores concluíram que o efeito pode não ter ocorrido devido à aplicação da laserterapia, uma vez que o grupo controle também apresentou resultados significativos. Posteriormente, mais um grupo foi adicionado ao estudo utilizando uma dosagem de 8,8J/cm2; os grupos com diferentes comprimentos de onda (660nm e 780nm) foram comparados ao grupo placebo2121 Pitangui AC, de Sousa L, Gomes FA, Ferreira CH, Nakano AM. High-frequency TENS in post-episiotomy pain relief in primiparous puerpere: A randomized, controlled trial. J Obstet Gynaecol Res. 2012;38(7):980-7.. Os autores identificaram que independente do comprimento de onda aplicado, o desfecho primário não foi diferente entre os grupos. Acredita-se que o resultado pode ser justificado pelo processo natural de recuperação tecidual favorecendo a melhora dos sinais flogísticos/dor, como também pelo fenômeno de Hawthorne, no qual há uma mudança na percepção dos pacientes devido à atenção especial dispensada pela equipe no momento da pesquisa2323 Santos JdeO, de Oliveira SM, da Silva FM, Nobre MR, Osava RH, Riesco ML. Low-level laser therapy for pain relief after episiotomy: a double-blind randomised clinical trial. J Clin Nurs. 2012;21(23-24):3513-22.,2424 Santos JdeO, Oliveira SM, Nobre MR, Aranha AC, Alvarenga MB. A randomised clinical trial of the effect of low-level laser therapy for perineal pain and healing after episiotomy: A pilot study. Midwifery. 2012;28(5):e653-9..

Apesar dos resultados estatisticamente não significativos da laserterapia na redução da dor em trauma perineal de puérperas apresentado pelos estudos2323 Santos JdeO, de Oliveira SM, da Silva FM, Nobre MR, Osava RH, Riesco ML. Low-level laser therapy for pain relief after episiotomy: a double-blind randomised clinical trial. J Clin Nurs. 2012;21(23-24):3513-22.,2424 Santos JdeO, Oliveira SM, Nobre MR, Aranha AC, Alvarenga MB. A randomised clinical trial of the effect of low-level laser therapy for perineal pain and healing after episiotomy: A pilot study. Midwifery. 2012;28(5):e653-9., há um artigo2929 Platon B, Mannheimer C, Andréll P. Effects of high-frequency, high-intensity transcutaneous electrical nerve stimulation versus intravenous opioids for pain relief after gynecologic laparoscopic surgery: a randomized controlled study. Korean J Anesthesiol. 2018;71(2):149-56. que já demonstra resultado promissor, indicando a eficácia da laserterapia na recuperação perineal e redução da dor aguda. Um estudo experimental3030 Kymplová J, Navrátil L, Knízek J. Contribution of phototherapy to the treatment of episiotomies. J Clin Laser Med Surg. 2003;21(1):35-9. demonstrou o efeito analgésico após a aplicação da laserterapia. Espera-se que a aplicação do LBI promova alterações na permeabilidade da membrana celular, cicatrização de feridas, relaxamento muscular, modulação do sistema imunológico e regeneração nervosa. Além disso, também espera-se que no meio intracelular ocorra um estado de hiperpolarização celular que possa inibir a transmissão de estímulos dolorosos para o sistema nervoso central3131 Bertolini GR, Silva TS, Ciena AP, Trindade DL. Efeitos do laser de baixa potência sobre a dor e edema no trauma tendíneo de ratos. Rev Bras Med Esporte. 2008;14(4):362-6..

Como consequência da mudança de polaridade adicionada à liberação de histamina, serotonina, bradicinina e de prostaglandinas, haverá a redução do processo inflamatório e alívio da dor3232 Chow RT, Johnson MI, Lopes-Martins RA, Bjordal JM. Efficacy of low-level laser therapy in the management of neck pain: a systematic review and meta-analysis of randomised, placebo and active-treatment controlled trials. Lancet. 2009;374(9705):1897-908.. Para que tais efeitos ocorram, tem sido sugerido comprimentos de onda entre 600 e 1000nm e potências de 1mW a 5W/cm2. Os autores ressaltam ainda que potências muito baixas (2,5 W/cm2) ou muito elevadas (25 W/cm2), podem ocasionar efeitos inversos3333 Huang YY, Chen AC, Carroll JD, Hamblin MR. Biphasic dose response in low level light therapy. Dose Response. 2009;7(4):358-83..

Poucos estudos abordam a LBI na fase do puerpério imediato com o intuito de analgesia. Assim, é prudente sugerir a realização de novos estudos com diferentes comprimentos de onda, tempo e duração de aplicação, dose e potência, antes de se estabelecer quaisquer direcionamentos sobre a eficácia do LASER no tratamento da dor em região de episiotomia em puérperas.

3) Crioterapia

Dos estudos encontrados sobre recursos analgésicos para puérperas, quatro (30,7%) investigaram o uso da crioterapia para o alívio da dor perineal após o parto vaginal. Desses, três1515 Lu YY, Su ML, Gau ML, Lin KC, Au HK. The efficacy of cold-gel packing for relieving episiotomy pain - a quasi-randomised control trial. Contemp Nurse. 2015;50(1):26-35.

16 Oliveira SM, Silva FM, Riesco ML, Latorre Mdo R, Nobre MR. Comparison of application times for ice packs used to relieve perineal pain after normal birth: a randomised clinical trial. J Clin Nurs. 2012;21(23-24)3382-91.

17 Leventhal LC, de Oliveira SM, Nobre MR, da Silva FM. Perineal analgesia with an ice pack after spontaneous vaginal birth: a randomized controlled trial. J Midwifery Womens Health. 2011;56(2):141-6.
-1818 Morais I, Lemos A, Katz L, Melo LF, Maciel MM, Amorim MM. Perineal pain management with cryotherapy after vaginal delivery: a randomized clinical trial. Rev Bras Ginecol Obst. 2016;38(7):325-32. apresentaram resultados estatisticamente significativos do efeito analgésico enquanto apenas um mostrou a não efetividade do uso do gelo para o alívio da dor em puérperas1818 Morais I, Lemos A, Katz L, Melo LF, Maciel MM, Amorim MM. Perineal pain management with cryotherapy after vaginal delivery: a randomized clinical trial. Rev Bras Ginecol Obst. 2016;38(7):325-32..

A divergência do resultado encontrado por Morais et al.1818 Morais I, Lemos A, Katz L, Melo LF, Maciel MM, Amorim MM. Perineal pain management with cryotherapy after vaginal delivery: a randomized clinical trial. Rev Bras Ginecol Obst. 2016;38(7):325-32. em relação aos demais estudos é explicada ao longo do próprio estudo. Os autores destacaram que inicialmente as pacientes apresentaram níveis baixíssimos de dor devido à ausência de lesão tecidual, o que pode ter interferido no resultado estatístico final. Os demais estudos1515 Lu YY, Su ML, Gau ML, Lin KC, Au HK. The efficacy of cold-gel packing for relieving episiotomy pain - a quasi-randomised control trial. Contemp Nurse. 2015;50(1):26-35.

16 Oliveira SM, Silva FM, Riesco ML, Latorre Mdo R, Nobre MR. Comparison of application times for ice packs used to relieve perineal pain after normal birth: a randomised clinical trial. J Clin Nurs. 2012;21(23-24)3382-91.
-1717 Leventhal LC, de Oliveira SM, Nobre MR, da Silva FM. Perineal analgesia with an ice pack after spontaneous vaginal birth: a randomized controlled trial. J Midwifery Womens Health. 2011;56(2):141-6. avaliaram pacientes que apresentaram algum grau de lesão perineal, e que, consequentemente, desenvolveram um quadro inflamatório, gerando incialmente maiores escores de dor.

A forma de aplicação da crioterapia variou entre os estudos. Três utilizaram compressa de gelo1616 Oliveira SM, Silva FM, Riesco ML, Latorre Mdo R, Nobre MR. Comparison of application times for ice packs used to relieve perineal pain after normal birth: a randomised clinical trial. J Clin Nurs. 2012;21(23-24)3382-91.

17 Leventhal LC, de Oliveira SM, Nobre MR, da Silva FM. Perineal analgesia with an ice pack after spontaneous vaginal birth: a randomized controlled trial. J Midwifery Womens Health. 2011;56(2):141-6.
-1818 Morais I, Lemos A, Katz L, Melo LF, Maciel MM, Amorim MM. Perineal pain management with cryotherapy after vaginal delivery: a randomized clinical trial. Rev Bras Ginecol Obst. 2016;38(7):325-32. e um aplicou compressas geladas com temperatura variando entre 12ºC e 15ºC1515 Lu YY, Su ML, Gau ML, Lin KC, Au HK. The efficacy of cold-gel packing for relieving episiotomy pain - a quasi-randomised control trial. Contemp Nurse. 2015;50(1):26-35.. Todos os artigos aplicaram a crioterapia na região perineal. Quanto ao tempo de terapia, três1515 Lu YY, Su ML, Gau ML, Lin KC, Au HK. The efficacy of cold-gel packing for relieving episiotomy pain - a quasi-randomised control trial. Contemp Nurse. 2015;50(1):26-35.,1717 Leventhal LC, de Oliveira SM, Nobre MR, da Silva FM. Perineal analgesia with an ice pack after spontaneous vaginal birth: a randomized controlled trial. J Midwifery Womens Health. 2011;56(2):141-6.,1818 Morais I, Lemos A, Katz L, Melo LF, Maciel MM, Amorim MM. Perineal pain management with cryotherapy after vaginal delivery: a randomized clinical trial. Rev Bras Ginecol Obst. 2016;38(7):325-32. estudos utilizaram 20 minutos de aplicação e um1616 Oliveira SM, Silva FM, Riesco ML, Latorre Mdo R, Nobre MR. Comparison of application times for ice packs used to relieve perineal pain after normal birth: a randomised clinical trial. J Clin Nurs. 2012;21(23-24)3382-91. comparou diferentes tempos: 10', 15' e 20'. Oliveira et al.1616 Oliveira SM, Silva FM, Riesco ML, Latorre Mdo R, Nobre MR. Comparison of application times for ice packs used to relieve perineal pain after normal birth: a randomised clinical trial. J Clin Nurs. 2012;21(23-24)3382-91. identificaram que não houve diferença nos efeitos provocados pela crioterapia com o tempo de aplicação de 10', 15' e 20', ou seja, a partir dos 10' de aplicação, o efeito foi o mesmo para os três grupos. No entanto, entende-se que o tempo de 20' é bem estabelecido na literatura, trazendo os benefícios esperados da crioterapia sobre a dor perineal1515 Lu YY, Su ML, Gau ML, Lin KC, Au HK. The efficacy of cold-gel packing for relieving episiotomy pain - a quasi-randomised control trial. Contemp Nurse. 2015;50(1):26-35.,1717 Leventhal LC, de Oliveira SM, Nobre MR, da Silva FM. Perineal analgesia with an ice pack after spontaneous vaginal birth: a randomized controlled trial. J Midwifery Womens Health. 2011;56(2):141-6.,1818 Morais I, Lemos A, Katz L, Melo LF, Maciel MM, Amorim MM. Perineal pain management with cryotherapy after vaginal delivery: a randomized clinical trial. Rev Bras Ginecol Obst. 2016;38(7):325-32..

Quanto à frequência de aplicação, nos estudos de Lu et al.1515 Lu YY, Su ML, Gau ML, Lin KC, Au HK. The efficacy of cold-gel packing for relieving episiotomy pain - a quasi-randomised control trial. Contemp Nurse. 2015;50(1):26-35. e Morais et al.1818 Morais I, Lemos A, Katz L, Melo LF, Maciel MM, Amorim MM. Perineal pain management with cryotherapy after vaginal delivery: a randomized clinical trial. Rev Bras Ginecol Obst. 2016;38(7):325-32. as participantes foram encorajadas a aplicarem compressas pelo menos 3 vezes por dia. O objetivo desses estudos foi investigar o efeito a longo prazo e há divergências entre os resultados, diferentemente dos estudos de Leventhal et al.1717 Leventhal LC, de Oliveira SM, Nobre MR, da Silva FM. Perineal analgesia with an ice pack after spontaneous vaginal birth: a randomized controlled trial. J Midwifery Womens Health. 2011;56(2):141-6. e Oliveira et al.1616 Oliveira SM, Silva FM, Riesco ML, Latorre Mdo R, Nobre MR. Comparison of application times for ice packs used to relieve perineal pain after normal birth: a randomised clinical trial. J Clin Nurs. 2012;21(23-24)3382-91. que investigaram o efeito imediato e encontraram resultados significativos para o alívio da dor após a realização de uma única aplicação.

Semelhante ao estudo de Morais et al.1818 Morais I, Lemos A, Katz L, Melo LF, Maciel MM, Amorim MM. Perineal pain management with cryotherapy after vaginal delivery: a randomized clinical trial. Rev Bras Ginecol Obst. 2016;38(7):325-32., Lu et al.1515 Lu YY, Su ML, Gau ML, Lin KC, Au HK. The efficacy of cold-gel packing for relieving episiotomy pain - a quasi-randomised control trial. Contemp Nurse. 2015;50(1):26-35. também avaliaram a paciente 24h após o parto e não encontraram redução significativa da dor nesse momento, no entanto, demonstraram um bom resultado 48h após o parto. Sabe-se que nas primeiras horas após a lesão tecidual o processo inflamatório é maior, provocando aumento do metabolismo local, liberação de fatores inflamatórios e maior quadro álgico1616 Oliveira SM, Silva FM, Riesco ML, Latorre Mdo R, Nobre MR. Comparison of application times for ice packs used to relieve perineal pain after normal birth: a randomised clinical trial. J Clin Nurs. 2012;21(23-24)3382-91.. Nesse contexto, acredita-se que a aplicação única da crioterapia, apesar de diminuir o metabolismo local, não seja capaz de diminuir o quadro de dor após 24 horas de parto. Porém, a utilização de diversas compressas nas primeiras horas pós-parto1515 Lu YY, Su ML, Gau ML, Lin KC, Au HK. The efficacy of cold-gel packing for relieving episiotomy pain - a quasi-randomised control trial. Contemp Nurse. 2015;50(1):26-35.,1818 Morais I, Lemos A, Katz L, Melo LF, Maciel MM, Amorim MM. Perineal pain management with cryotherapy after vaginal delivery: a randomized clinical trial. Rev Bras Ginecol Obst. 2016;38(7):325-32. pode provocar um aumento do limiar de dor da paciente devido à diminuição do metabolismo e diminuição da sensibilidade das terminações nervosas3434 Knight KL. Cryotherapy in Sport Injury Management. Champaign: Human Kinetics; 1995., fato esse que justifica a analgesia a longo prazo (48h).

De acordo com a revisão realizada por Malanga, Yan e Stark3535 Malanga GA, Yan N, Stark J. Mechanisms and efficacy of heat and cold therapies for musculoskeletal injury. Postgrad Med. 2015;127(1):57-65., a crioterapia atua na diminuição da dor após lesão por diversos mecanismos de ação. Inicialmente promove uma diminuição da temperatura local, provoca o reflexo simpático de vasoconstrição com consequente diminuição da circulação local que culmina com a diminuição dos agentes inflamatórios e redução da hipóxia secundária. A redução da temperatura local provoca, ainda, uma anestesia localizada através de uma neuropraxia induzida pela diminuição do limiar de ativação dos nociceptores e diminuição da velocidade de condução do sinal doloroso; um bom resultado da crioterapia para pós-operatórios.

Com base nos dados descritos fica evidente que a crioterapia traz bons resultados no alívio momentâneo da dor perineal no pós-parto imediato, sendo, portanto, um bom recurso para ser usado no tratamento da dor de puérperas. Ainda é importante ressaltar que as compressas devem ser feitas por um tempo aproximado de 20 minutos e repetidas vezes ao longo do dia, tendo em vista seu efeito fisiológico local.

4) Acupuntura e auriculoterapia

Dois estudos (15,3%) analisaram os efeitos das técnicas da medicina Chinesa, a acupuntura2323 Santos JdeO, de Oliveira SM, da Silva FM, Nobre MR, Osava RH, Riesco ML. Low-level laser therapy for pain relief after episiotomy: a double-blind randomised clinical trial. J Clin Nurs. 2012;21(23-24):3513-22. e a auriculoterapia1212 Moher D, Liberati A, Tetzlaff J, Altman DG. The PRISMA Group. principais itens para relatar revisões sistemáticas e meta-análises: a recomendação PRISMA. Epidemiol Serv Saúde. 2015;24(2):335-42. sobre a redução da dor em puérperas.

Segundo a revisão realizada por Murakami, Fox e Dijkers3636 Murakami M, Fox L, Dijkers MP. Ear Acupuncture for immediate pain relief-a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Pain Med. 2016;18(3):551-64. a auriculoterapia tem apresentado bons resultados imediatos na redução da dor, apresenta poucos efeitos adversos, é de rápida e fácil aplicação, além de ser uma terapia de baixo custo, que deve, portanto, ser estimulada para uso e pesquisa por parte dos profissionais de saúde.

No estudo de Kwan e Li1414 Kwan WS, Li WW. Effect of ear acupressure on acute postpartum perineal pain: a randomised controlled study. J Clin Nurs. 2014;23(7-8):1153-64., após análise ajustada dos dados, foi visto um resultado significativo da auriculoterapia na redução da dor 36h pós-parto, porém não houve redução após 12 e 24h. Os dados do estudo não são conclusivos acerca da eficácia da auriculoterapia no tratamento da dor, não sendo encontrada diferença estatística em relação ao consumo de paracetamol e análise da dor através do Verbal Descriptive Pain Scale (VPDS) nos grupos placebo e intervenção. Assim, mais estudos sobre a aplicação da auriculoterapia em puérperas são recomendados.

A auriculoterapia é um método de tratamento de disfunções físicas e psicossomáticas que age através da estimulação de pontos específicos na orelha, promovendo repercussões nos reflexos neurológicos, nos neurotransmissores, nas citocinas, no sistema imunológico e em processos inflamatórios3737 Hou PW, Hsu HC, Lin YW, Tang NY, Cheng CY, Hsieh CL. The History, mechanism, and clinical application of auricular therapy in traditional Chinese medicine. Evid Based Complement Alternat Med. 2015;2015:495684.. De acordo com uma revisão3737 Hou PW, Hsu HC, Lin YW, Tang NY, Cheng CY, Hsieh CL. The History, mechanism, and clinical application of auricular therapy in traditional Chinese medicine. Evid Based Complement Alternat Med. 2015;2015:495684., a técnica apresenta bons resultados no controle da dor em diferentes situações, porém, a analgesia após procedimentos operatórios ainda tem seu efeito controverso. Esse dado corrobora o estudo de Kwan e Li1414 Kwan WS, Li WW. Effect of ear acupressure on acute postpartum perineal pain: a randomised controlled study. J Clin Nurs. 2014;23(7-8):1153-64. que alega que o parto vaginal com episiotomia pode ser considerado um tipo de intervenção cirúrgica.

Em relação à acupuntura, um estudo2525 Marra C, Pozzi I, Ceppi L, Sicuri M, Veneziano F, Regalia AL. Wrist-ankle acupuncture as perineal pain relief after mediolateral episiotomy: a pilot study. J Altern Complement Med. 2011;17(3):239-41. utilizou a região de punho-tornozelo para o tratamento da dor perineal após o parto vaginal com episiotomia e os resultados se mostraram significantes. Os estímulos foram realizados em região 1 do tornozelo direito, local referente a dores localizadas na parte inferior do corpo. O estudo apresentou resultado significativo na redução da dor perineal avaliada através da redução do uso de analgésico oral. Apesar do resultado positivo, o estudo não apresentou dados quantitativos sobre a dor em região perineal, desfecho primário do estudo. O uso de analgésico durante o período puerperal pode estar associado a outras queixas como dor uterina ou mamária. Dessa forma, apesar do estudo apresentar bons resultados, é prudente realizar mais estudos analisando o efeito da técnica sobre a dor perineal.

CONCLUSÃO

Diversos recursos/métodos analgésicos não farmacológicos utilizados na assistência à puérpera no pós-parto imediato foram avaliados nesta revisão sistemática. Desses, apenas a TENS e a crioterapia apresentaram dados bem estabelecidos quanto ao efeito significativo na redução da dor abdominal/pélvica em puérperas.

  • Fontes de fomento: não há.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2019

Histórico

  • Recebido
    09 Jul 2018
  • Aceito
    20 Dez 2018
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