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O futuro da sociedade: reflexões sobre o bem comum

Neste número publicamos trabalhos que versam sobre o mercado financeiro; sustentabilidade; e inserção de minorias no trabalho.

O Cadernos EBAPE.BR já dedicou artigos a uma minoria muitas vezes esquecida: mulheres heterossexuais, mães, que trabalham fora e têm problemas em conciliar o trabalho e a criação dos filhos, enfrentando, com isso, dificuldades na questão das promoções em suas carreiras, mesmo contando com a ajuda do marido; são também, muitas vezes, mulheres divorciadas, solteiras ou viúvas, que criam os filhos sozinhas. Diversos trabalhos científicos sobre o tema foram escritos e publicados.

Neste número, outras minorias vão ter expressão também em artigos embasados em pesquisas com metodologia consistente.

Em se tratando do trabalho do Prof. Dr. Istvan Karoly Kasnar e seu orientando Ivandro de Almeida Oliveira, agora Mestre em Administração pela FGV EBAPE, tem-se um estudo profundo sobre o mercado financeiro brasileiro, que mostra o quão fundamental é para o futuro do país que as empresas visem ao lucro no longo prazo - e não apenas no curto prazo -, desenvolvendo inovações e tecnologia. Por isso se questiona a participação de empresas financeiras em empresas não pertencentes ao setor financeiro, pois este último tem em vista prioritariamente lucros no curto prazo, e, para que um país possa crescer e se desenvolver, é fundamental que suas empresas tenham uma visão de longo prazo e que a taxa de juros favoreça o seu crescimento.

Para a compreensão sobre o futuro da sociedade mundial, e também da economia digital, e de questões ligadas ao meio ambiente e à economia, nós editores sugerimos fortemente a leitura do livro de Jean TiroleTIROLE, J.; RENDALL, S. Economics for the common Good. New Jersey: Princeton University Press, 2017., Economics for the Common Good. O autor, prêmio Nobel de Economia em 2014, junto com o coautor Steven Rendall, traduzem em inglês acessível e claro as suas reflexões sobre o futuro de nossa sociedade e do mundo.

Estes são os pontos que gostaríamos de reforçar neste editorial.

O artigo 1, “O efeito das participações de empresas financeiras em não financeiras no Brasil”, de Istvan Karoly Kasnar e Ivandro de Almeida Oliveira, apresenta os principais resultados da pesquisa de mestrado, cujo objetivo foi o de analisar o efeito das participações, diretas ou indiretas, de bancos em empresas não-financeiras, no Brasil, o ambiente regulatório em que estas participações estão inseridas, traçando um paralelo com o ambiente regulatório norte-americano, por ser, mundialmente, um dos mercados financeiros mais desenvolvidos, com a bolsa de valores de maior volume negociado e o pais pioneiro nas criações dos instrumentos financeiros mais sofisticados, e, ainda, ter historicamente o tratamento regulatório específico em relação a estas participações.

No artigo 2, “O Impacto do BNDES na eficiência da indústria siderúrgica: aplicação do modelo Malmquist de dois estágios”, Ricardo Kalil Moraes e Peter Fernandes Wanke, utilizando o modelo Malmquist de análise envoltória de dados (Data Envelopment Analysis - DEA) de dois estágios, buscam avaliar como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) impacta o desempenho da indústria siderúrgica.

O artigo 3, “Leitura do institucionalismo organizacional a partir da teoria do organizar de Karl Weick”, de Fábio Grigoletto e de Mário Aquino Alves, tem como objetivo central evidenciar as possibilidades de uso da teoria do organizar de Karl Weick como microfundamento para o institucionalismo organizacional, considerando que essa abordagem da ação se mostra mais adequada do que aquelas predominantes nos estudos institucionalistas.

O artigo 4, “Por uma compreensão do mundo material: uma biografia da marca Apple”, de Georgiana Luna Batinga, Marcelo de Rezende Pinto e Ludmila de Vasconcelos Machado Guimarães, apresenta uma reflexão sobre como as coisas ou os objetos, enquanto atores não humanos fundamentais nas experiências de consumo da vida cotidiana, que conectam os humanos mediante suas funções e simbolismos, podem ser caracterizados como predicados da cultura de um grupo ou país.

O artigo 5, “Capitalismo consciente: uma análise netnográfica em grupos da rede social LinkedIn”, de Sergio Begnini, Silvia Spagnol Simi dos Santos, Simone Sehnem, Carlos Eduardo Carvalho e Hilka Pelizza Vier Machado, mostra que o capitalismo consciente (CC), estruturado por John Mackey e Raj Sisodia Sisodia, tem base nos princípios do propósito maior: a integração dos stakeholders, a liderança consciente e a cultura e a gestão consciente - entendendo que o capitalismo pode ser uma força tanto para a economia e para o bem-estar social quanto para o meio ambiente.

O artigo 6, “Discurso gerencial no controle de docentes em instituições de Ensino Superior privadas: uma análise crítica”, de Bárbara Novaes Medeiros e Marcus Vinicius Soares Siqueira, trata-se de um estudo que tem por objetivo analisar o discurso gerencial no controle de docentes em instituições de Ensino Superior (IES) privadas. Neste artigo, pretende-se verificar características do poder gerencialista e indivíduos que influenciam a produção do discurso gerencial, apreender os mecanismos de sua promoção nas organizações pesquisadas, além de compreender como os gerentes simbolizam e subjetivam o papel gerencial exercido no âmbito da ideologia gerencialista das IES.

O artigo 7, “O conceito do ócio vicário no filme ‘Que Horas Ela Volta?’: revisitando Thorstein Veblen em uma perspectiva dos fenômenos socioeconômicos”, de Rui Fernando Correia Ferreira, Reynaldo Maia Muniz e Lívia Almada, tem como objeto teórico a construção teórica do ócio vicário de Veblen (1989), tendo conceitos veblenianos como fatores precedentes. Já o objeto empírico deste estudo é o filme brasileiro Que Horas Ela Volta?, da roteirista e diretora brasileira Anna Muylaert, que foi premiado no Sundance Film Festival e no Film Festival Internacional de Berlim, ambos de 2015.

O artigo 8, “Ensaio teórico sobre as avaliações de políticas públicas”, de Lilian Ribeiro de Oliveira e Claudia Souza Passador, mostra que, uma vez identificada a atual e crescente demanda por serviços públicos de maior qualidade, eficácia e eficiência, torna-se cada vez mais indispensável a avaliação de políticas públicas. Sublinha-se neste artigo a importância dessa etapa do ciclo político, referente ao exercício da avaliação como ferramenta crucial para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento da gestão de políticas públicas, principalmente as de caráter multidimensional.

O artigo 9, “Construção de uma narrativa hegemônica sobre a adoção das IFRS no Brasil”, de Paulo Frederico Homero Junior, destaca que a convergência das normas contábeis brasileiras às Normas Internacionais de Contabilidade (International Financial Reporting Standards - IFRS) foi impulsionada pela criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), em 2005, e pela Lei n. 11.638/2007. Entretanto, os aspectos políticos desse processo, tais como o papel da academia na legitimação das IFRS, têm sido pouco explorados.

No artigo 10, “A jornada exaustiva e a escravidão contemporânea”, de Maiara Oliveira Marinho e Fernando de Oliveira Vieira, discute-se o termo jornada exaustiva diante de dissensos jurídicos e administrativos em situações de trabalho análogo à escravidão. Defende-se que a jornada exaustiva é composta pela imbricação da intensidade e da extensividade do trabalho, aumentando as exigências de produtividade do trabalhador para se ajustar às demandas do capital.

O artigo 11, “Ressocialização, trabalho e resistência: mulheres encarceradas e a produção do sujeito delinquente”, de Eloisio Moulin de Souza, Alessandra de Sá Mello da Costa e Beatriz Correia Lopes, revela que nos últimos anos o acelerado crescimento da população carcerária brasileira desperta atenção para as políticas públicas voltadas à recuperação e ressocialização de apenados. Assim, adotando o conceito de dispositivo como norteador, neste artigo são analisadas as práticas prisionais relativas à constituição do sujeito delinquente e as formas de resistência a essa constituição por mulheres encarceradas que participam do programa de ressocialização pelo trabalho.

O artigo 12, “O self no armário: uma teoria fundamentada sobre o silêncio de gays e de lésbicas no ambiente de trabalho”, de Romulo Gomes e Bruno Felix, aponta que estudos sugerem que a ocultação da orientação homossexual no trabalho pode levar a sentimentos de inautencidade, baixo comprometimento e depressão. Ao analisar estes estudos, demonstra como esta minoria se sente quase sempre injustiçada no ambiente de trabalho.

O artigo 13, “Saúde, estética e eficiência: relações entre práticas de consumo de alimentos das mulheres e seus corpos”, de João Felipe Rammelt Sauerbronn, Camila dos Santos Teixeira e de Marluce Dantas de Freitas Lodi, indica que pesquisas sobre alimentação e corpo na sociedade de consumo apresentam crescente interesse entre acadêmicos de diversas áreas. O objetivo deste estudo foi compreender as relações entre as práticas de consumo de alimentos de mulheres e seus corpos. Para tanto, os autores utilizam a perspectiva da Teoria de Prática (TP) para acessar os componentes das práticas de consumo de alimentos.

O artigo 14, “Reflexões acerca do consumo verde e sustentável na sociedade contemporânea”, de Jéssica Silva Souza, Vitor Koiti Miyazaki e Alessandro Gomes Enoque, apresenta reflexões acerca das inter-relações entre os conceitos de consumo verde e consumo sustentável. Tendo como pano de fundo um discurso ambiental amplamente disseminado em nossa sociedade, bem como a centralidade do consumo nesse mesmo universo, percebe-se a existência de dois modelos totalmente opostos no que diz respeito às formas de pensar e agir. No artigo são analisados estes aspectos.

O artigo 15, “Intenção de consumo verde no contexto das características egoístas ou altruístas do produto versus a consciência ambiental do usuário”, de Emílio José Montero Arruda Filho, Bruno Lobato Cardoso e Marina Nascimento Lemos Barboza, traz uma análise sobre a relação entre as diferentes motivações do consumo verde no contexto de um produto com características egoístas e/ou altruístas, dados os diferentes níveis de consciência ambiental e seu impacto no comportamento do consumidor. Para tal foi realizada uma pesquisa explicativa, de caráter quantitativo, que utilizou como método a realização de um experimento do cenário dos valores sociais e da consciência do indivíduo.

Desejamos a todos uma excelente leitura dos artigos!

EDITORES

PROFA. DRA. ISABELLA FRANCISCA FREITAS GOUVEIA DE VASCONCELOS

PROF. DR. HÉLIO ARTHUR REIS IRIGARAY

REFERÊNCIA

  • TIROLE, J.; RENDALL, S. Economics for the common Good. New Jersey: Princeton University Press, 2017.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Maio 2019
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2019
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