Resumo
Este artigo argumenta que Organizações da Sociedade Civil (OSCs) associadas ao trabalho imaterial podem ser alternativas favoráveis aos modos de trabalhar e de viver de refugiados. Apresentou-se e analisou-se a atuação de três OSCs - voltadas ao teatro, artesanato e gastronomia -, direcionadas à integração social e laboral de refugiados, tendo por base a valorização de seus savoir-faire e background étnico. Adotou-se o método cartográfico para a pesquisa exploratória qualitativa. A produção e colheita de dados remeteram à interação com gestores, refugiados, produtos e serviços das OSCs. Consideraram-se três eixos de análise: (i) apresentação do território cartografado; (ii) modos de atuação de OSCs - aprender/ensinar, (co)produzir/expor(-se); e (iii) (re)inventar(-se) (co)operando em rede. Os resultados indicam que, em que pesem novas formas globais de sujeição, as OSCs associadas ao trabalho imaterial forjam e sustentam uma rede de cooperação social, afetiva, produtiva e emancipatória. Essa rede protege o trabalho da vampirização do capital e desdobra-se em oportunidades para refugiados em que trabalho e vida se entrelaçam.
Palavras-chave: Refugiado; Trabalho imaterial; Organização da sociedade civil
Abstract
This article argues that Civil Society Organizations (CSOs) associated with immaterial labor can be favorable alternatives to refugee ways of working and living. We present and analyze the performance of three CSOs - in the areas of theater, handicraft, and gastronomy - aimed at the social and labor integration of refugees, based on the valorization of their savoir-faire and ethnic background. The cartographic method was adopted for qualitative exploratory research. The production and collection of data took place through interaction with managers, refugees, and products and services of the CSOs. Three axes of analysis were considered: (i) presentation of the mapped territory; (ii) CSOs modes of action - learning/teaching, (co)producing/exposing (oneself); (iii) (re)invent (oneself) by (co)operating in a network. The results indicate that, despite new global forms of subjection, CSOs associated with immaterial labor, forge and sustain a network of social, affective, productive, and emancipatory cooperation. This network protects work from the vampirization of the capital and becomes opportunities for refugees in which work and life are intertwined.
Keywords: Refugee; Immaterial labor; Civil Society Organization
Resumen
En este artículo se sostiene que las organizaciones de la sociedad civil (OSC) asociadas con el trabajo inmaterial pueden ser alternativas favorables a las formas de trabajo y de vida de los refugiados. Se presentó y analizó la actuación de tres OSC - en las áreas de teatro, artesanía y gastronomía -, orientadas a la integración social y laboral de los refugiados. El método cartográfico se adoptó para la investigación exploratoria cualitativa. La producción y recopilación de datos se refería a la interacción con gestores, refugiados, productos y servicios de las OSC. Se consideraron tres ejes de análisis: (i) presentación del territorio cartografiado; (ii) modos de actuación de las OSC - aprender/enseñar, (co)producir/exponer(se) -; y (iii) (re)inventar(se) (co)operando en red. Los resultados indican que, a pesar de las nuevas formas mundiales de subordinación, las OSC asociadas al trabajo inmaterial forjan y sostienen una red de cooperación social, afectiva, productiva y emancipadora. Esta red protege la mano de obra de la vampirización del capital y se despliega en oportunidades para los refugiados para los cuales el trabajo y la vida están entrelazados.
Palabras clave: Refugiado; Trabajo inmaterial; Organización de la sociedad civil
INTRODUÇÃO
Este artigo assume como contexto o modus operandi da sociedade contemporânea alinhado ao conceito de mal líquido, apresentado por Bauman e Donskis (2019). O mal líquido se caracteriza pela sua forma descentralizada, liquefeita e pulverizada de operar, isto é, aquele que “avança disfarçado de ausência e impossibilidade de alternativas, [tem] surpreendente capacidade de fluir em torno dos obstáculos que aparecem em seu caminho, [faz com que] todos os modos de vida alternativos pareçam implausíveis, até irreais, [tornando a resistência a si] uma tarefa ainda mais formidável” (Bauman & Donskis, 2019, p. 9).
A massa de indivíduos vítimas de guerras, despotismos, violências e brutalidades que se movimenta em busca de refúgio e vem aumentando demasiadamente nos últimos anos, resulta do mal líquido. Ela ilustra a liberdade restringida pelo enfraquecimento das relações humanas e pela atuação do Estado que a persegue em vez de protegê-la (Bauman, 2017), apresentando-se na perspectiva de que não há alternativa (Bauman & Donskis, 2019), senão refugiar-se (Agier, 2016; Bauman, 2017). Essa massa soma 70 milhões de indivíduos, conforme divulgado em 2018 pela Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (United Nations High Commissioner for Refugees [UNHCR], 2018). Diante disso, surgem inúmeros e diversos atores - Estados, movimentos ativistas, igrejas, organizações locais/internacionais, públicas/privadas/da sociedade civil - levando à ideia de produção de meios de acolhimento em diversas frentes (Aparna & Schapendonk, 2020), inclusive a do trabalho em contexto intercultural (Chanlat & Pierre, 2018).
Estudos apontam a relevância de Organizações da Sociedade Civil (OSCs) na integração social e na inserção no mercado de trabalho de indivíduos em deslocamento forçado (Aparna & Schapendonk, 2020; Comité Economique et Social Européen [CESE], 2017; Kalogeraki, 2019; Meyer & Simsa, 2018), mas nem todas as iniciativas relativas a trabalho apresentam resultados favoráveis. As práticas de contratação de refugiados por empresas, por vezes, não levam em consideração suas competências, habilidades profissionais ou background étnico (Knappert, Kornau & Figengül, 2018) e, historicamente, são condizentes com exclusão, exploração e precariedade no emprego (Agier, 2016; Bauman, 2017; Knappert et al., 2018). Assim, tais práticas se configuram apenas como uma roupagem de estratégia de diversidade nas organizações (Ortlieb & Sieben, 2013), mas com capacidade de serem percebidas como algo benéfico para os refugiados, forma esta que vai ao encontro da operacionalização do mal líquido na sociedade (Bauman & Donskis, 2019).
Diante disso, argumenta-se que OSCs que fomentam um trabalho que mobiliza e se vale de capacidades, habilidades, aptidões e saberes combinados entre si no sentido da experimentação, criação e produção de outros conhecimentos, fazeres e redes de cooperação, podem ser alternativas favoráveis para refugiados frente ao mal líquido. Tais características que valorizam o savoir-faire e o background étnico dos refugiados remetem ao conceito de trabalho imaterial (Gorz, 2005; Lazzarato & Negri, 2001), aquele que “precisa da vida como nunca, e seu produto afeta a vida numa escala sem precedentes” (Pelbart, 2000, p. 37). O trabalho imaterial aponta tanto à sujeição por meio de sutis modos de controle, quanto à emancipação por meio do acolhimento de experiências singulares dos indivíduos.
Assim sendo, indagou-se: num cenário em que o mal líquido se disfarça de ausência de alternativas, como atuam OSCs condizentes com a noção de trabalho imaterial e especificamente voltadas à integração social e laboral de refugiados? Objetivou-se apresentar e analisar a atuação dessas organizações a partir de uma cartografia cujo percurso incluiu três OSCs situadas em Paris/França, voltadas às áreas de teatro, artesanato e gastronomia. A produção de dados resultantes do ato de cartografar adveio da interação com participantes gestores e refugiados, e produtos e serviços disponibilizados pelas OSCs.
Na sequência, encontram-se o referencial teórico, o método adotado, e a apresentação e análise dos resultados. Por último, as considerações finais a confirmarem que, apesar de novas formas globais de sujeição, as OSCs associadas ao trabalho imaterial contemplam alternativas a modos de trabalhar e de viver de refugiados.
Refúgio e Trabalho Imaterial
Refugiado é o indivíduo que fugiu de seu país devido a fundado temor de perseguição por motivo de raça, religião, nacionalidade, grupo social, opinião política ou devido a grave e generalizada violação de direitos humanos (UNHCR, 2018). Muitas dessas pessoas refugiadas orgulhavam-se de seus lares, sua educação, seus trabalhos e suas posições na sociedade, algo que vem a se mostrar uma incógnita nas mãos de desconhecidos (Bauman, 1999, 2017).
Aos olhos de nativos, imigrantes e refugiados podem ser vistos como “os outros” (Bauman, 2017; Berry & Bell, 2012; Chanlat & Pierre, 2018), termo carregado de menosprezo para demarcar que eles pertencem ao lado de fora do país em que se encontram (Jones, 2008). Isso denota o determinismo de que o que lhes resta é uma vida sem alternativas, ilustração do mal líquido “impregnado no tecido da vida cotidiana e[...] entranhado em seu próprio cerne” (Bauman & Donskis, 2019, p. 9).
Em países que permitem visto e trabalho para refugiados, o espaço que se destina a eles comumente são fábricas, construções, restaurantes e setor de serviços, empresas que oferecem empregos de muitas horas de trabalho e baixos salários (Bauman, 2017). Outro destino frequente é o mercado de trabalho informal (Knappert et al., 2018), que pode oferecer melhor rendimento financeiro mediante mais horas de trabalho e falta de proteção. Em consonância com Agier (2016), atualmente o refugiado é aquele que se encontra sempre em fronteira - diferenciando-se da figura do trabalhador imigrante outrora voltado à lógica do trabalho material. No país de acolhimento ou de trânsito, é aquele que se encontra em posição menos estável e em diferentes ancoragens precárias como inserções parciais e provisórias também condizentes com a lógica do trabalho imaterial.
Para compreender o conceito de trabalho imaterial é preciso resgatar a ideia da qual ele se diferencia, a produção capitalista no período fordista, que estruturava-se pelos regimes disciplinares e de acumulação dirigida essencialmente pelos lucros gerais da cooperação planejada e estabelecida dentro das fronteiras do trabalho material. No período pós-fordista, ao contrário, há a tendência de hegemonia do trabalho imaterial (Lazzarato & Negri, 2001), em que os conhecimentos produtivos e as capacidades sociais de cooperação se difundem na totalidade do tecido social. Assim, o capital explora as formas emergentes da força de trabalho de maneira nova, extraindo a riqueza social produzida em comum (Negri, 2018).
Atuais configurações do trabalho e de organizações demandam um trabalhador autônomo, polivalente, flexível, mobilizado e engajado na tarefa, gestor de si diante da nova relação produção-consumo que vem a caracterizar o trabalho imaterial como aquele exigente da subjetividade (Gorz, 2005; Lazzarato & Negri, 2001). Mais especificamente, ele se refere ao “conjunto de atividades corporais, intelectuais, criativas, afetivas e comunicativas inerentes ao trabalhador, atualmente valorizadas e demandadas como norma impositiva que torna o trabalhador sujeito ativo do trabalho e como condição indispensável à produção” (Grisci, 2011, p. 456). O ciclo de produção do trabalho imaterial tem em seu cerne o imaterial propriamente dito, isto é, a subjetividade que ativa e organiza a sinergia da relação produção-consumo. Esta ativação ocorre por meio de um processo comunicativo seja da rede de cooperação produtiva (com as mais diversas organizações e indivíduos que participam do ciclo de produção), seja da relação social (de inovação/produção/consumo) do produtor com o consumidor que, por sua vez, torna-se também comunicador. O produto ou serviço, resultante de diferentes tipos de savoir-faire e de novas formas de (auto)exposição, gera essencialmente conteúdo informativo e cultural e, nesse entrelace entre produtor-consumidor, gera também valor econômico (Lazzarato & Negri, 2001).
Trata-se de uma força de trabalho social e autônoma, sob formas coletivas, de redes, de fluxos e de cooperação que explica a entrada de trabalhadores “em processo de produção com toda a bagagem cultural que eles adquirem nos jogos, nos esportes de equipe, nas lutas, disputas, nas atividades musicais, teatrais, etc.” (Gorz, 2005, p. 19). Da mesma forma é valorizada a diversidade de capacidades heterogêneas, “o julgamento, a intuição, o senso estético, o nível de formação e de informação, a faculdade de apreender e de se adaptar a situações imprevistas” (Gorz, 2005, p. 29).
O trabalho imaterial toma a vida em diversas proporções uma vez que “ora a vida é vampirizada pelo capital - chame-se ele mercado, mídia ou sistema de arte -, ora a vida é o capital [reinventando suas coordenadas e fazendo variar suas formas], isto é, fonte de valor, e é sempre tênue a fronteira entre um caso e outro” (Pelbart, 2003, p. 149). O trabalho imaterial se constitui, então, uma rede de cooperação produtiva através da vida que, nas OSCs, pode evidenciar certo modo de expressão.
Organizações da Sociedade Civil
A falta de preparo de Estados e de líderes para lidar com fluxos migratórios maciços tem levado OSCs a desempenharem papéis centrais em resposta às necessidades de indivíduos em deslocamento forçado (Kalogeraki, 2019). O Comitê Econômico e Social Europeu (CESE, 2017) reconhece o trabalho de OSCs em diferentes frentes de atuação, bem como sua capacidade de mudar positivamente o cenário das regiões onde refugiados estão concentrados.
UNHCR e OSCs fornecem assistência gratuita a refugiados em diversos temas: acesso à informação e orientação sobre procedimentos de refúgio, moradia, alimentação, saúde, educação, documentação, cursos de idiomas, inserção no mercado de trabalho, etc. (Meyer & Simsa, 2018; UNHCR, 2018). Em relação à inserção laboral, em geral, as iniciativas das OSCs se centram em auxiliar na confecção da documentação trabalhista, ensinar o idioma local e intermediar a comunicação entre o trabalhador refugiado e a empresa privada. Contudo, as posições de trabalho ofertadas a refugiados estão em desvantagem em comparação aos nativos (CESE, 2017; Knappert et al., 2018; Meyer & Simsa, 2018).
Estudo de Knappert et al. (2018) com refugiados sírios na Turquia - país com mais refugiados no mundo (UNHCR, 2018) - aponta que, para suprir à urgência pela sobrevivência, eles assumem vagas (que os nativos não querem) de empregos de baixa qualificação em áreas que não tinham experiência. Deste modo, ao trabalharem longas jornadas, eles não têm tempo para aproveitar as formações oferecidas pelas OSCs. Além disso, devido ao grande volume de refugiados, as OSCs não os alcançam em sua totalidade ao chegarem no país de acolhimento, o que direciona muitos deles à informalidade (Knappert et al., 2018).
Ortlieb e Sieben (2013), em seu estudo sobre minorias étnicas nas organizações, argumentam que a valorização do background étnico e das competências desses trabalhadores, inclusive os refugiados, é o fator-chave para esses indivíduos escaparem da precarização e exploração e para as organizações moldarem boas práticas de gestão da diversidade. Embora esta pesquisa tenha sido desenvolvida em âmbito de organizações privadas, em linha com os indicadores da CESE (2017), de Chanlat e Pierre (2018) e de Knappert et al. (2018), defende-se que as OSCs devem buscar aumentar seus esforços para assegurar um tratamento justo e em direção à valorização das competências dos refugiados.
Aparna e Schapendonk (2020) valorizam tais características em um estudo sobre a “Universidade do Asilo”, um projeto realizado em um campo de refugiados que visou desenvolver atividades artísticas, aulas de idiomas e compartilhamento de experiências. A interação entre pesquisadores, estudantes, refugiados/imigrantes e residentes locais permitiu-lhes navegar ativamente em mudanças nas relações sociais entre os anfitriões nativos e os recém-chegados estrangeiros, criando espaços intermediários, (i)mobilidades, travessias de fronteira, emoções entrelaçadas em uma rede emaranhada de hospitalidade. Tal implementação coproduziu ações, comunicações e relações com os atores favorecendo a expansão para outros campos de refugiados.
Os resultados da pesquisa de Aparna e Schapendonk (2020) apresentaram indícios de possível aproximação das características de operacionalização do ciclo de produção do trabalho imaterial, e abrem caminhos para pesquisas adicionais sobre OSCs voltadas a refugiados.
Método Cartográfico
A cartografia “é um desenho que acompanha e se faz ao mesmo tempo que os movimentos de transformação da paisagem” (Rolnik, 2006, p. 23). Sendo assim, ela propõe o registro das transformações no território e o acompanhamento de percursos. Cabe salientar que não se trata de um território geográfico, mas sim de um território existencial, com sujeitos e paisagens em constante processo de produção (Alvarez & Passos, 2015). O método cartográfico utiliza pistas como “referências que concorrem para a manutenção de uma atitude de abertura ao que vai se produzindo e de calibragem do caminhar no percurso da pesquisa” (Passos, Kastrup & Escóssia, 2015, p. 13). Contou-se com pistas para a realização da cartografia, dentre elas: indissociar pesquisa e intervenção; acompanhar processos e movimentos-funções de dispositivos na prática; atentar a coletivos de forças como plano de experiência cartográfica; habitar um território existencial e promover mudanças nas práticas de narrar.
Ao partir da associação teórica inicial - refúgio e trabalho imaterial, iniciou-se um percurso cartográfico realizado em Paris-França, que levou a três OSCs. A primeira foi acessada através da rede de contatos dos pesquisadores, as demais através da rede social Facebook. Elas foram nominadas conforme sua área de atuação: Théâtre, Artisanat e Gastronomie. Buscou-se “cartografar um território que, em princípio, não se habitava. Não se trata de se deslocar numa cidade conhecida, mas de produzir conhecimento ao longo de um percurso de pesquisa, o que envolve a atenção e, com ela, a própria criação do território de observação” (Kastrup, 2015, p. 45). Ressalta-se que uma quarta OSC também participou da fase inicial da cartografia. Porém seus gestores não permitiram a realização de entrevistas, nem o acompanhamento das atividades realizadas pelos refugiados para fins acadêmicos. Por isso, esta OSC não foi contemplada neste estudo, o que exemplifica parte das dificuldades de acesso a este território de pesquisa.
As três OSCs participantes foram visitadas inúmeras vezes, entre novembro de 2018 a abril de 2019, para conhecer o local, os integrantes envolvidos e o serviço por elas prestado. A confirmação da valorização do savoir-faire e do background étnico dos refugiados como forma de atuação das OSCs se mostrou condizente à noção de trabalho imaterial e deu seguimento ao percurso cartográfico, conforme segue.
Théâtre deu-se a conhecer a partir da assistência de uma peça teatral apresentada em espaço cultural cuja agenda da semana contemplava o tema refúgio. Uma conversa sobre a cartografia com produtores, atores e equipe de apoio da peça, possibilitou a inclusão de uma das pesquisadoras em uma temporada de dez sessões de ateliê de teatro, pelo período de dois meses e meio. As sessões dominicais de aproximadamente cinco horas cada ocorreram em sala emprestada por uma organização não-governamental (ONG), e resultaram produção teatral gratuita apresentada em palco de universidade parisiense, em que uma das pesquisadoras também atuou.
Artisanat deu-se a conhecer em uma palestra ministrada por sua diretora em evento sobre refúgio e arte em uma universidade. A primeira visita possibilitou ver o espaço de realização de ateliês e exposição de produtos à venda - acessórios e vestimentas, cerâmica e tapeçaria -, bem como realizar conversas informais com funcionários, artesãos e clientes. No total foram realizadas cinco visitas à OSC de aproximadamente uma hora cada. O convite de uma funcionária francesa da organização resultou a participação de uma das pesquisadoras em ateliê de bijuteria ministrado por uma refugiada.
Gastronomie deu-se a conhecer diretamente no ateliê de massas de uma refugiada que, com a gestora dos ateliês e franceses voluntários, comandava uma turma de 15 alunos em espaço cultural com praça de alimentação independente. Nesse espaço, há, também, um restaurante que funciona diariamente comandado por um chef colombiano que, a cada seis meses, recebe um chef refugiado para preparação de refeições típicas de seu país. Foram realizadas quatro visitas de aproximadamente uma hora cada com degustação de pratos de diferentes países.
Ao longo da realização da cartografia, atentou-se para a dinâmica de atuação das OSCs, bem como para conversas informais e para fontes documentais impressas e virtuais - folders institucionais, catálogos de produtos, menu de pratos típicos que expunham a situação de refúgio na forma de divulgação e rentabilização. Facebook e Instagram serviram para acompanhar publicações em parcerias com museus, universidades e mídias, e o próprio desenrolar da vida dos refugiados. Após cada visita e ateliê realizados, houve registros em diário de bordo da cartografia. Eles restituem um texto analítico ampliado, pois imprimem ideias tanto dos pesquisadores quanto dos participantes.
A aproximação com as gestoras e os refugiados entrevistados ocorreu paulatinamente conforme a constância da presença e da interação por redes sociais da internet e e-mails por uma das pesquisadoras. Somente após os laços de confiança estabelecidos, as entrevistas foram realizadas no local de preferência de cada um. As entrevistas com cinco gestoras ocorreram nas próprias organizações, e duraram em média 45 minutos. Participaram as Gestoras de Projetos, Comunicação e Criação Artística da Théâtre, a Gestora de Ateliês da Artisanat e a Gestora de Eventos da Gastronomie. As entrevistas com cinco refugiados - em língua francesa e/ou inglesa - ocorreram em cafés, parques ou residências, e duraram em média duas horas. Uma refugiada não permitiu gravar a entrevista, algo associado à situação de refúgio. Participaram refugiados da Théâtre - professor-ator-Turquia e alunos-atores-Afeganistão e Sudão do Sul; Artisanat - joalheira-artesã-Togo; e Gastronomie - chef de cozinha-Geórgia.
A cartografia requereu constante retorno à teoria, à escuta das falas dos participantes, ao diário de bordo, e ao manuseio de materiais de divulgação a fim de, entrelaçados, produzirem diferença analítica. A análise aconteceu em todos os momentos do estudo e não somente após a produção e colheita dos dados (L. Barros & M. Barros, 2013). De forma processual, apoiou-se na teoria e prezou-se pelas experiências compartilhadas nem sempre óbvias ou instantaneamente acessíveis. Resultaram três eixos: (i) apresentação do território cartografado; (ii) modos de atuação das OSCs; e (iii) (re)inventar-se (co)operando em rede.
Apresentação do Território Cartografado
Para além de se diferenciarem de outras OSCs voltadas à assistência de refugiados em relação à moradia, alimentação e documentação, as organizações do presente estudo voltaram-se à inserção social e laboral com ênfase na valorização do savoir-faire e do background étnico desses indivíduos. Dada a sensibilidade para a situação de vulnerabilidade dos refugiados e a compreensão da capacidade transformativa da arte, as OSCs atuam nas áreas de teatro, artesanato e gastronomia. Elas apresentam semelhanças e diferenças entre si.
Théâtre promove espaços de integração e compartilhamento para conectar pessoas, histórias e culturas. A relevância atribuída a isso encontra-se na fala sensível à vulnerabilidade de refugiados frente ao mal líquido: “nós realmente concebemos um espaço para compartilhar com essas pessoas, onde elas se expressem à sua maneira. Falar, cantar, ter emoções, expressá-las por meio do teatro, porque é como um lugar onde tudo é muito seguro. Nós cuidamos do outro. Você pode ser de qualquer lugar do mundo” (GESTORA/COMUNICAÇÃO).
Théâtre é gerida por três imigrantes - colombiana, mexicana, russa - que se aproximaram como colegas de mestrado em política cultural. Elas são, respectivamente, gestoras de produção, arte e projetos. As gestoras de produção e arte foram voluntárias em um precursor projeto de teatro itinerante para refugiados iniciado em 2015. Em 2019, priorizando a manutenção dos mesmos participantes, esse projeto se desdobrou na Théâtre como atividade cultural para a universidade.
Além das gestoras e do professor de teatro, um refugiado turco, voluntários auxiliam com dicas de gestão e produção teatral. O elenco formado por refugiados altera-se semanalmente. “Começaram seis pessoas, depois 10, 20” (GESTORA/PROJETOS). Os novatos comprometem-se a permanecer até a apresentação final. Havia “afegãos, sírios, egípcios, sobretudo sudaneses. Turquia, Paquistão, Kuwait. A maioria está no processo de obtenção do status de refugiado. Para fazer teatro, não precisa já vir com visto ou ter esse status” (GESTORA/CRIAÇÃO ARTÍSTICA).
Théâtre tem página no Facebook para divulgação do trabalho oferecido e convite à participação de refugiados e voluntários, não havendo restrições ou pré-requisitos ao ingresso de fluxo de contínuo. Há, também, uma página fechada em que voluntários e refugiados acessam para postarem e compartilharem ideias, sentimentos, fotografias e vídeos. Ensaios realizados semanalmente ao longo de três meses culminam na apresentação teatral gratuita e aberta ao público no esperado “dia do show”. A plateia intervém com perguntas, leitura de poemas e falas. Cada integrante da apresentação atua conforme esquetes produzidos pelo coletivo numa ideia de teatro político. Assim, situações de refúgio são encenadas e (re)vividas em condição de segurança com tônica trágico-cômica e buscam a conscientização do público sobre as mesmas. A permanência de refugiados e voluntários na organização é variável conforme se dinamiza a vida de cada um.
Artisanat é uma organização de empreendedorismo social fundada sobre os valores de inovação e de solidariedade. Valoriza e promove a integração profissional de artesãos-refugiados e de artesãos-imigrantes. Como a Théâtre, a Artisanat busca contrapor-se ao mal líquido. Seu objetivo é “integrar e revalorizar o savoir-faire dos artesãos refugiados, para lhes colocar em uma posição mais importante e um pouco mais digna. Muitas vezes, eles perderam completamente a sua dignidade, já não têm autoconfiança” (GESTORA/ATELIÊS).
Artisanat surgiu em 2016 da identificação de sua fundadora com a causa de refugiados pois a mãe, bordadeira em seu país de origem, não vislumbrara possibilidades de manutenção do ofício na França. A equipe constitui-se de uma diretora fundadora e de funcionários e voluntários. Eles atuam com atendimento ao público, compras, estoque, venda de produtos e gestão dos ateliês de práticas artesanais como bijuteria, tapeçaria, entre outros. Uma das funcionárias é conselheira de inserção profissional, auxiliando a fazer currículo e a buscar vagas de estágio e emprego. Também conta com profissionais-referência em diferentes áreas de artesanato e com designers que auxiliam os artesãos-refugiados.
Para participar da organização é necessário passar por um processo seletivo que valoriza a experiência prévia com artesanato no país de origem e o status de refugiado regularizado. Isso é necessário para o vínculo de trabalho formal realizado como um dos objetivos da Artisanat. Seis artesãos-refugiados mantinham vínculo à época da cartografia e mais de 20 tinham sido acolhidos pela Artisanat entre 2016 e 2018. Em formação por seis meses, eles trabalham em duas frentes - produção própria e ateliê para o público em geral. São pagos por ambos, embora o foco recaia sobre a formação e divulgação do trabalho veiculado em mídia televisiva, eletrônica e impressa que surpreende pela qualidade de conteúdo e arte do material utilizado. Coleções personalizadas e em séries limitadas são vitrine do savoir-faire em nítida aproximação ao trabalho imaterial. Os objetos produzidos simbolizam a passagem entre a Artisanat e o mundo profissional, e anunciam a abertura de um novo caminho que envolve a história de vida de refugiado e um futuro como artesão na França.
Gastronomie busca, por meio da cozinha,
(1) valorizar o talento, patrimônio cultural e culinário mostrando que os refugiados têm talento, história, cultura e patrimônio muito ricos. A ideia é mudar a forma como olhamos para o status de refugiado, é sair dos discursos miseráveis, falando de algo muito positivo; (2) trabalhar na integração profissional dos refugiados através da cozinha; (3) aproximar os cidadãos, criar um compromisso em torno da mesa que é um lugar de paz e igualdade, um lugar completamente universal (GESTORA/EVENTOS).
Gastronomie foi fundada em 2016 por um casal de franceses que, em viagem pelo mundo, percebeu que em qualquer país é possível se aproximar dos outros e se comunicar por meio da comida mesmo sem conhecer a língua local. Tal percepção se tornou filosofia compartilhada pelos funcionários da organização. “Cozinhar com as pessoas, degustar e trocar para fazer comida é como uma porta de entrada para o outro, e permite que você compartilhe inúmeras coisas. É realmente algo universal e também é muito pessoal, é muito íntimo” (GESTORA/EVENTOS).
A organização proporciona quatro frentes de trabalho a chefs refugiados - um restaurante e ateliês de cozinha do país de origem situados em uma praça de alimentação, serviços de catering e festival anual em que o chef-refugiado atua com renomado chef de restaurante. Além do casal de gestores, na cozinha do restaurante há três funcionários e o chef colombiano responsável, que fez carreira na França. Também participam voluntários franceses e de outras nacionalidades com vistas à integração.
Para participar, refugiados não precisam ter sido chefs de cozinha em seu país, basta saber cozinhar e querer trabalhar na área. Como na Artisanat, é necessário ter status de refugiado. Mais de 150 chefs refugiados já participaram de alguma atividade da Gastronomie. O Festival, iniciado em 2017 somente na cidade de Paris, cresce a cada ano e em 2019 marcou presença em 15 cidades na Europa, Estados Unidos e África do Sul. Dentre os diversos cidadãos, autoridades locais, organizações e restaurantes parceiros, a ACNUR é co-organizadora do Festival. Como na Artisanat, as atividades desenvolvidas pela Gastronomie chamam a atenção de todos os tipos de mídias, o que auxilia a “evoluir o olhar para o status de refugiado”, conforme folder de divulgação.
Essas OSCs se apresentam na lógica do trabalho imaterial tendo na mobilização e rentabilização de si o pressuposto e a primazia da rede de cooperação como modo de funcionamento.
Modos de atuação das OSCs
Os modos de atuação das OSCs são apresentados nas composições: aprender/ensinar e (co)produzir/expor(-se). Nestas composições estão consubstanciadas as características de cooperação produtiva e de relações sociais que, por meio de um processo comunicativo, compõem o ciclo de produção do trabalho imaterial, conforme Lazzarato e Negri (2001).
Aprender/ensinar
Théâtre impressiona como “um lugar predominantemente masculino, e jovem, e em que se escuta francês, inglês, árabe, espanhol e dialetos africanos. Nesse ambiente, pessoas participam de aulas de teatro, algumas já com desenvoltura de ator, outras mais tímidas que aos poucos vão se soltando” (DIÁRIO). A principal atividade desenvolvida se refere aos ateliês artísticos de teatro. Rotineiramente, em tardes frias de domingos, após as boas vindas em francês e em inglês, “por quatro, cincos horas, a gente fazia pequenas peças, esquetes, jogos, exercícios vocais e corporais. Nos ensaios teatrais, a gente discutia assuntos diversos, dançava. A gente queria que eles, verdadeiramente, construíssem o espetáculo com suas próprias ideias” (GESTORA/COMUNICAÇÃO). O Refugiado/Turquia assumia como professor de teatro.
Os exercícios teatrais demandavam capacidade imaginativa para fazer mímica, criar e improvisar histórias; capacidade comunicativa para imitar sons, gestos e olhares reveladores de características de um personagem. A disposição corporal para sentar, levantar, pular, rastejar poderia ser vista por alguém desavisado como uma imensa bagunça. As vivências pessoais dos refugiados necessariamente imprimiam-se em seus atos na improvisação de esquetes e evidenciavam: (1) características dos países de origem - ao cumprimentar, dançar, usar véu em papéis de mulheres, negar-se a interpretar determinados papéis; (2) vivências na França - uso da polidez entendida como tipicamente francesa para ser bem atendido em um café; colocação da baguete no braço, disputa por espaço no metrô lotado; (3) situações de refúgio - idas a escritórios da polícia, solicitação de documentos, enfrentamento de barreira e violência policial por ser estrangeiro. Entrava em cena, assim, o professor-ator-refugiado fundamental à transformação daqueles momentos tensos. Ao representarem vivências pessoais, as cenas teatrais apontam para um tempo que não distingue passado-presente-futuro possibilitando, pela arte, rever, organizar, elaborar e produzir outros modos de trabalhar e viver (Lazzarato & Negri, 2001).
Apesar de nem todos os participantes do teatro falarem francês ou inglês, “vimos que estava funcionando[...] é a plasticidade do teatro que permite comunicar não só através das palavras. Então, às vezes não é necessário traduzir. É necessário para dar instruções, mas para as cenas, se a cena é boa, é bonita, funciona em árabe, fazemos em árabe” (GESTORA/PROJETOS). Isto pode ser percebido no “esquete em que o Refugiado/Sudão do Sul compra um bilhete de trem, algo que pode passar despercebido nas ações cotidianas de nativos” (DIÁRIO). Ainda que por meio de comunicação verbal na língua materna, o teatro permitiu ao ator aprender/ensinar, e ao público compreender a dimensão de dificuldades enfrentadas por refugiados. Algo que não havia ocorrido na vida não-encenada, mas que ocorreu no palco pelo trabalho de mobilização de si (Gorz, 2005) que o teatro requer e propicia.
Na Artisanat coexistem espaços acolhedores de exposição e venda de produtos, bureau de trabalho dos artesãos e salas de aula de artesanato. Ao chegar à organização o refugiado vivencia a formação em parcerias. “Na verdade, todos nós e tudo o que fazemos faz parte da formação. Os artesãos-refugiados começam com outros artesãos que são franceses: artesãos-referência. Depois chegam designers de produto, web designers, arquitetos e estilistas para trabalharem juntos. Portanto, ensinar é sempre uma troca” (GESTORA/ATELIÊS).
É comum procurar modelos de joias do país de origem na internet, para mostrar os detalhes para a artesã-referência e a designer, “no meu país eu trabalhava com ouro e prata. Aprendi assim, eu gostava mais. Aqui na Artisanat eu trabalho mais com latão e cobre. É mais difícil de manusear, mas também dá pra fazer peças bonitas” (REFUGIADA/TOGO). No processo de aprender/ensinar, a formação da Artisanat resgata a bagagem cultural adquirida ao longo da vida e colocada em ação para trabalhar (Gorz, 2005).
A formação também remete a normas sociais, culturais e do mercado de trabalho na França, e é ocasião de praticar o idioma francês. Em linha com Negri (2018) a respeito da cooperação social como trabalho imaterial, ressalta-se: “nós vamos ensinar-lhes como as coisas funcionam no mercado francês, o que fazer para se integrar na economia francesa, como falar bem francês. Os artesãos permitem-lhes praticar a língua, ter postura profissional e, assim, ensinar e transmitir algo. É isso que estamos tentando pôr para trabalhar: pequenas coisas que precisam saber fazer para desenvolver-se na profissão” (GESTORA/ATELIÊS).
Na Gastronomie o aprender/ensinar ocorre no restaurante da organização e nos restaurantes parceiros do festival entre o chef-refugiado e os chefs-referência. A ideia é incentivar o chef-refugiado a mostrar o seu background étnico, o melhor da sua própria cozinha. “Ele deve ter as ideias de cozinha, ser o líder de fato. O chef-referência só mostra como funciona, pois sabe os menus que vão ou não agradar os clientes. Às vezes tentamos algo diferente e depois mudamos, redirecionamos” (GESTORA/EVENTOS).
Esse funcionamento serve também para serviços que surgem em resposta a demandas dos refugiados. “Muitos chefs querem montar o seu próprio negócio, por isso implementamos o serviço de catering, propondo aos chefs que se testem nos nossos próprios eventos, criando um menu de catering. Que aprendam nos eventos da França para depois se lançarem” (GESTORA/EVENTOS). Preparação para o exercício da gestão de si (Gorz, 2005).
O chef-refugiado deve cozinhar a partir de suas experiências remodeladas nos gostos e na cultura do país de destino ensinados pelo chef-referência. Atividade que exige mobilização de subjetividades capaz de forjar novas combinações para o trabalho. A própria vivência doméstica e das tradições do país de origem destacam-se na preparação de uma mesa farta. Algo vivenciado por toda a vida serve para trabalhar, e manter o aprender/ensinar com o chef-referência. “Eu cozinho no restaurante como na minha casa. Acho que toda mulher georgiana pode ser chef, porque ela está acostumada a fazer eventos para 20, 300 pessoas, em casamentos, aniversários[...] Você não pode vir na minha casa e tomar só uma taça de vinho e uns aperitivos. A mesa terá que estar com 1000 tipos de comida. Fico muito feliz assim, é a minha cultura” (REFUGIADA/GEÓRGIA).
O chef-referência ensina códigos culturais da gastronomia francesa. Seu trabalho é acompanhar e formar chefs de cozinha, verificar suas necessidades de treinamento em higiene e segurança ou naquilo que necessitem saber. “Na França, existem muitos padrões a serem adotados na cozinha. Há muito controle de higiene e segurança, é necessário ter calçados e touca para cabelos, respeitar os ciclos de quente e frio. Existem regras difíceis mesmo para quem fez um curso. É preciso dizer bonjour, explicar o cardápio, se comunicar com a clientela francesa. Há muitas diferenças culturais, mostramos a eles como é cozinhar na França” (GESTORA/EVENTOS).
Aprender/ensinar é mobilização e investimento de si que, na lógica do trabalho imaterial, se dinamiza no tempo-espaço e nas redes de cooperação que nele se forjam.
(Co)produzir/expor(-se)
Produto principal da Théâtre, o show realizado em uma universidade parisiense foi coproduzido principalmente durante os ateliês por professor-alunos-atores-refugiados e voluntários. “Nós pegamos as melhores ideias que saíam dos exercícios e criamos um espetáculo com elas” (GESTORA/COMUNICAÇÃO). A participação de voluntários franceses é ressaltada no sentido de dar a conhecer os modos de ser e viver de parisienses e de redimensionar o olhar dos nativos em relação ao refugiado como “o outro” (Bauman, 2017). Em consonância ao estudo de Aparna e Schapendonk (2020), não se trata de uma relação unidirecional, paternalista da organização para com os refugiados, mas uma relação copartícipe. Esquetes, objetos cenográficos com material reciclado e a divulgação da peça teatral foram coproduzidos na Théâtre. Essa é uma organização “por, para e com refugiados” (GESTORA/PROJETOS).
A rede de sustentação ao projeto incluiu: plataforma digital de financiamento coletivo com retorno suficiente para compra de materiais de cena e lanche para os ateliês; ONG com empréstimo de local para ensaios; ator-produtor inglês com consultoria sobre artes performáticas; universidade com bilhetes de metrô para os participantes, impressão de materiais de divulgação e palco de apresentação do show. Carentes de experiência, as gestoras afirmam “o quão ingênuas nós éramos”. A coprodução foi possível devido a dispositivos tecnológicos, comunicacionais, relacionais e organizativos (Gorz, 2005; Lazzarato & Negri, 2001; Negri, 2018).
Expor o produto final da Théâtre significa fazer o show que se viabiliza pela exposição dos refugiados diante do público. O título do espetáculo estampado em materiais de divulgação remete à fênix, ave mitológica que renasce das próprias cinzas. A fênix associa-se à (re)invenção da vida de refugiados face às duras provas do mal líquido. O título remete, ainda, a um “espetáculo criado pelos refugiados”, o que de certo modo faz rentabilizar a figura de refugiado ao expor sua existência e suas dores.
Para além do palco, ser refugiado é estar em exposição constante. A ideia de fazer um espetáculo itinerante pelas ruas de Paris teve solicitação negada pela prefeitura, pois no dia do show ocorriam manifestações do movimento dos coletes amarelos.
Todos se reuniram pela manhã na ONG onde ocorriam os ateliês, fizeram um último ensaio e compartilharam o almoço. De lá saíram juntos de metrô em direção à universidade, portando sacolas com figurinos e objetos cênicos. Mostravam-se felizes, empolgados, falavam alto, cantavam. O professor-ator-refugiado e as gestoras encarregavam-se de manter o grupo unido a fim de mitigar uma preocupação característica de refugiados assim verbalizada: ‘Fulano, fala mais baixo, está cheio de polícia nas ruas, hoje tem coletes amarelos. Você quer ir preso? A gente ainda não tem os documentos definitivos’, diz o professor-ator-refugiado (DIÁRIO).
No script do show, histórias inspiradas em situações reais de busca de refúgio e do cotidiano de refugiado oscilavam em tons de tragédia e comédia - sonhos desfeitos e inalcançáveis, mortes em bombardeios, expressões censuradas, barreiras nas fronteiras, dificuldades burocráticas nos pedidos de asilo, potência do encontro de culturas e idiomas. Modos de viver em refúgio, refletidos nos personagens em cena, permitiam consumo de arte. Para o teatro não importava de que lugar o refugiado vinha, mas sim a situação de refúgio tomada como dispositivo sensibilizador encenável para o público, ilustrando uma relação vida-arte-trabalho-produto-consumo (Pelbart, 2003). Assim, (co)produtor / (co)produção / produto / exposição / consumo veem-se amalgamados na rede de cooperação afetiva que ainda busca “conseguir fazer amigos, constituir uma pequena família, poder criar uma nova vida aqui” (GESTORA/COMUNICAÇÃO).
Na Artisanat os artesanatos produzidos resultam de uma (co)produção iniciada desde o período de formação do artesão-refugiado em parceria com os artesãos-referência e os designers. “Eu explico quais os materiais que eu preciso para fazer as bijuterias e a organização providencia. A designer olha os desenhos, os tipos de joias do Togo na internet para ver bem como é lá no meu país. E a gente vai criando as peças em conjunto” (REFUGIADA/TOGO). Quando seguros, artesãos-refugiados ministram ateliês conjuntamente com a equipe da Artisanat. “Durante o ateliê de bijuterias, a artesã-referência auxiliava em torno de dez alunas com o manuseio das ferramentas e com a tradução de palavras e expressões francesas para a artesã-refugiada. Cada aluna produziu um anel e uma pulseira para uso próprio. A gestora dos ateliês recepcionava alunas e fazia registros fotográficos” (DIÁRIO). Animada, a artesã-refugiada comentou sobre a realização dos ateliês na organização e em outros espaços sociais de Paris. “Já participei de ateliês aqui na sede da organização e em museus também. Era para as pessoas que iam visitar o museu”.
Refugiados fornecem visibilidade e rentabilidade para a OSC que, em folders e na mídia eletrônica, impressa e televisiva, faz as seguintes chamadas: “Participe de um ateliê prático artesanal com um artesão refugiado”; “Tenha uma experiência única e solidária, uma viagem cultural”; “Vamos mudar o olhar e valorizar seus saberes”. O olhar da mídia retribui às OSCs com manchetes: “Refugiados regressam às suas competências artesanais”; “Fashion network: ateliers para ajudar refugiados a se inserirem”; “Organizações propõem outro olhar aos refugiados”. Assim vai se visibilizando a rede de cooperação social e produtiva pois “os artesãos, assim como o público em geral, aproveitam muito os momentos. E nós nos beneficiamos, é reconfortante saber que nossa organização está ajudando a sociedade a valorizar o savoir-faire do refugiado. Os próprios artesãos se ajudam muito, todos fizeram enormes progressos em francês” (GESTORA/ATELIÊS).
A exposição do artesanato de modo presencial e virtual, e em parcerias, promove o savoir-faire dos refugiados e estabelece contatos iniciais com empresas com potencial de contratação. O portfolio da coleção tem uma página para cada objeto. Detalha os materiais e a história de cada peça, bem como os designers colaboradores. Destaca fotografia do artesão-refugiado, seu país de origem e experiência na profissão. Cada peça é nominada na língua-mãe do artesão-refugiado de modo a identificar aspectos étnico-culturais e agregar valor. Tais aspectos configuram a assinatura de artesão-refugiado que (co)produz peças de edição limitada com valores entre 60 e 150 euros conforme divulgação em folder da coleção. Os valores arrecadados são assim distribuídos: 30% artesão, 15% matéria-prima, 20% fase experimental e 35% OSC. Artisanat divulga a existência de um ecossistema colaborativo dedicado ao artesanato. Trata-se de trabalho de cooperação que “emancipa, que produz um acréscimo do ser” (Lazzarato & Negri, 2001, p. 89), e se vê organizado de modo a contribuir para a dinâmica do tecido econômico social.
Na Gastronomie o produto principal é o prato típico do país do chef-refugiado, (co)produzido com chefs-referência. A ideia é a criação colaborativa de menu “a quatro mãos” (GESTORA/EVENTOS) em todos os formatos. “Ás vezes é carta branca para o cozinheiro refugiado convidado. É isso, a ideia é de revalorização do patrimônio culinário para recuperar a autoconfiança por meio de uma rede que possibilite pôr o pé no estribo para se inserir na cozinha da França” (GESTORA/EVENTOS).
Colaboram à (co)produção, a combinação de ideias e ingredientes preferidos dos chefs. No restaurante, observou-se uma tensão entre a comida de origem e a francesa. “Estou fazendo um novo tipo de proposta, a minha comida [...] Mas estamos vivendo na França. Então eu respeito as pessoas e adaptei meu cardápio. Não estou fazendo a comida georgiana tradicional.[...] O chef me disse: não faça isso porque agora você está fazendo não para georgianos, mas para franceses, faça assim, assim, assim” (REFUGIADA/GEÓRGIA). Tal tensão dissipou-se em ateliê em que o uso de celulares tomou conta da cozinha-sala de aula. Cada ingrediente mostrado era um flash. Cada passo executado na receita rendia um vídeo. A própria refugiada/Geórgia registrava a preparação do prato e a interação com os alunos em lives. Expor(-se) continuamente é trabalhar (Gorz, 2005), o que rende-lhe comentários elogiosos em sua rede social e legitima a rede de cooperação. Um dos comentários que lhe marejou os olhos foi o de uma conterrânea “Você é uma embaixadora da cultura do nosso país, parabéns e obrigada!”.
A Gastronomie promove um festival gastronômico itinerante que alude ao dia mundial do refugiado e propicia exposição da situação de refúgio para outros continentes. O festival segue um kit metodológico com as melhores práticas organizativas independentemente do local em que se realiza, e conta com a co-organização da UNHCR, entre outras.
Individual ou coletivamente, (co)produzir/expor(se), assim como aprender/ensinar promove uma rede de cooperação em torno da situação de refúgio, e propicia a (re)invenção de si como alternativa ao mal líquido.
(Re)inventar(-se) (Co)operando em Rede
Théatre se constitui extensão do percurso de refugiado. “Eu estou gostando do teatro, eu atuo com o coração, eu atuo a minha realidade. As pessoas aplaudem e dizem ‘você é um ótimo ator!’” (REFUGIADO/AFEGANISTÃO). “Quando meus amigos [refugiados] me falaram sobre as aulas de teatro, eu vi uma chance. Eu fui para o teatro porque eu quero ser um artista que sabe cantar, atuar” (REFUGIADO/SUDÃO DO SUL). O teatro se mostra concomitantemente modo de trabalhar e de viver. A fala a seguir é ainda mais contundente nesse sentido:
Quando você está sob estresse, algo que parece que você não pode encontrar a solução, você tem que encontrar outra coisa pra colocar no espaço, entende? Antes do Théatre eu estava como morto, como se eu não pudesse sentir minha alma no meu corpo, realmente vazio, era como se eu não tivesse nenhuma emoção no meu corpo, eu estava apenas vivendo para comer, apenas sobrevivia. Estava como um morto. Depois do Théâtre eu comecei a sorrir! É claro que eu preciso de dinheiro que é tão importante, mas o que preciso de mais importante que dinheiro é algo mentalmente, você sabe, sorrir, abraçar, compartilhar meus problemas, conversar sobre algo, saber o que estou dizendo, é por isso que eles são tão importantes para mim, não é apenas um teatro (REFUGIADO/TURQUIA).
Observa-se produção de diferença relativa a modos de trabalhar nos elogios recebidos pela atuação, e no desejo de se tornar artista; e a modos de viver na repetida sensação de “morte” que se altera pela atuação e convivência. O teatro como ensaio/encenação/repetição mostra-se, para refugiados, uma chance de enfrentamento do mal líquido enquanto “sociedade determinista, pessimista e fatalista” (Bauman & Donskis, 2019, p. 16).
(Co)produzir/expor(-se) desdobrou-se em convites e oportunidades para refugiados da Théâtre na forma de cursos de curta duração de design de moda em renomada universidade, atuação em documentários, e residência artística na Cité International des Arts de Paris. Algo relevante para quem tinha outra profissão no país de origem e passa a considerar “incluir ator, continuar atuando” (REFUGIADO/AFEGANISTÃO).
A vivência de artesão-refugiado na Artisanat mostrou-se oportunidade de recolocar o trabalho num patamar que lhe foi subtraído, o que se associa à retomada de trabalho/vida entrelaçados (Pelbart, 2003) ou à (re)invenção de modos de viver. “A joalheria é minha vida! A Artisanat me deu a oportunidade de retomar a minha vida!” (REFUGIADA/TOGO). Ainda em formação, a refugiada demonstrou interesse e viu concretamente a possibilidade de ser contratada por uma empresa de joalheria em detrimento de oportunidades de trabalhar como babá e empregada doméstica, normalmente, apresentadas a refugiadas.
Ensinar/aprender e (co)produzir/expor(-se) desdobraram-se em estágios em empresas vistos como porta de entrada ao mercado de trabalho. “Com as costureiras e bordadeiras é bem comum de isso ocorrer. Elas são contratadas pela indústria da moda” (GESTORA/ATELIÊS). A passagem pela Artisanat fomentou, também, a abertura de pequenos negócios como exemplifica a abertura de uma empresa de cursos de cerâmica, bem como a continuidade do trabalho como artesão em outras associações que auxiliam refugiados.
Continuar a trabalhar e a aprender com um chef famoso em alta gastronomia a fim de qualificar empreendimento próprio exemplifica que a rede de cooperação extrapola o tempo de passagem na Gastronomie. Entre os desdobramentos relativos à sua atuação encontram-se lançamento de chefs de cozinha empreendedores em estilos de trabalho autônomo considerados ajustados à sociedade de acolhimento de refugiados: abertura de bistrô com o próprio nome de refugiada inúmeras vezes exposta em redes sociais e mídia tradicional; oferta de serviços de catering; e participação anual em Festival que já rendeu premiação de melhor evento gastronômico em acirrada competição.
Na vivência de situações inimagináveis frente à situação de refúgio, a sensação de ter o trabalho premiado é apresentada em superlativos. “Foi como as indicações ao Oscar. Nós chegamos lá, fomos indicados, subimos ao palco. Foi absolutamente igual ao Oscar” (REFUGIADA/GEÓRGIA).
Desdobramentos da atuação das três OSCs indicaram repetição como diferença, reafirmação do savoir-faire e do background étnico, produção de fazeres inusitados e obtenção de reconhecimento não imaginado de modo a estimularem a (re)invenção de si na lógica do trabalho imaterial como alternativa a refugiados.
Redes de cooperação se forjam e se sustentam nos modos de atuação das OSCs em perspectiva social, afetiva, produtiva e emancipatória. Integrantes da rede reconhecem a situação de refúgio como causa humanitária; criam laços de amizade; reconhecem o refugiado como fonte de valor e fator rentabilizador para as próprias OSCs, universidades, museus, restaurantes, mídias, profissionais-referência, voluntários; vêem se constituírem trajetórias autônomas.
O trabalho imaterial se constitui sob formas coletivas, de fluxos e de redes de cooperação que dizem respeito à vida. “Realmente, nunca é um indivíduo, ou mesmo um grupo de indivíduos (inter-subjetividade), que trabalha, comunica ou produz. […] Bem como “nunca é o indivíduo que pensa ou que cria” (Lazzarato, 2017, pp. 43-44). O indivíduo trabalha ou produz no interior e por meio de um agenciamento coletivo, dentro de uma rede de instituições, tecnologias, fontes de financiamento, imerso em tradições de pensamentos e práticas estéticas. Assim, as redes de cooperação se veem reforçadas progressivamente até sua exploração como atividade social (Negri, 2018). Ainda que “o capital explore a vida não significa que a vida coincida com o capital” (Lazzarato, 2017, p. 237).
Redes de cooperação são imprescindíveis ao trabalho imaterial. Nas OSCs cartografadas, a rede de cooperação contempla o aprender/ensinar e o (co)produzir/expor(-se); sustentando o (co)operar e o (re)inventar(-se), de modo a ultrapassar restrições de origem, tempo-espaço e saberes, a fim de afirmar a vida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da associação refúgio, trabalho imaterial e OSCs, objetivou-se apresentar e analisar a atuação de OSCs direcionadas à integração social e laboral de refugiados, de modo a valorizar seus savoir-faire e background étnico. A cartografia que tomou três OSCs - voltadas ao teatro, ao artesanto e à gastronomia - se mostrou uma possibilidade de aproximação abrangente e adequada aos fluxos e forças que se estabelecem por consequência de deslocamentos forçados.
Como modos de atuação das OSCs, encontram-se aprender/ensinar, (co)produzir/expor(-se) sustentando o (re)inventar(-se) (co)operando em rede em contexto intercultural (Chanlat & Pierre, 2018). Tais ações se veem articuladas ativa e colaborativamente, de modo a forjar e sustentar a rede de cooperação social, afetiva, produtiva e emancipatória. Nota-se que a atuação dos indivíduos em rede de cooperação consubstanciada ao trabalho imaterial torna-se um movimento organizacional e, por sua vez, desdobra-se em movimento interorganizacional. Essa rede protege o trabalho da vampirização do capital, por meio de organizações-refúgio, e desdobra-se em oportunidades para refugiados em que trabalho e vida se entrelaçam.
Como principais contribuições do estudo, destacam-se: (i) o método cartográfico que contribui à aproximação e participação em território dinâmico, intenso e de difícil acesso; (ii) a visibilidade de rede de cooperação - social, afetiva, produtiva e emancipatória - de modo a ressaltar o trabalho imaterial nas OSCs; e (iii) num cenário em que o mal líquido se disfarça de ausência de alternativas, em que pesem novas formas globais de sujeição, as OSCs associadas ao trabalho imaterial contemplam alternativas a modos de trabalhar e de viver de refugiados.
O idioma de conversação mostrou-se uma limitação importante. Sugere-se a realização de estudo longitudinal a fim de acompanhar os desdobramentos da rede de cooperação relativa às OSCs e aos modos de trabalhar e viver de refugiados.
AGRADECIMENTOS
À CAPES/PDSE - Processo n. 88881.190579/2018-01.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
28 Jun 2021 -
Data do Fascículo
Apr-Jun 2021
Histórico
-
Recebido
18 Jan 2020 -
Aceito
15 Out 2020