Acessibilidade / Reportar erro

Adaptação transcultural do Voice-related Experiences of Nonbinary Individuals – VENI para o português brasileiro

RESUMO

Objetivo

Traduzir e adaptar transculturalmente o Voice-related Experiences of Nonbinary Individuals – VENI para o português brasileiro.

Método

Os procedimentos de adaptação transcultural foram baseados na combinação das recomendações e diretrizes da World Health Organization (WHO) Guidelines on Translation com o COnsensus-based Standards for the selection of health Measurement INstruments (COSMIN). Foram realizadas cinco etapas: a) tradução do instrumento para o Português Brasileiro (PB) por um tradutor especialista no construto e um não-especialista, nativos do PB e fluentes em inglês; b) elaboração da síntese das duas traduções por consenso; c) retrotradução por um tradutor especialista no construto e um não-especialista, nativos do inglês e fluentes em PB; d) análise de um comitê formado por cinco fonoaudiólogos especialistas em voz e elaboração da versão final; e) pré-teste com 21 pessoas da população-alvo, aplicado virtualmente.

Resultados

Na tradução houve discordância no título, instruções, chave de resposta e em 15 itens. Na retrotradução, houve discordância quanto à forma em 12 itens e ao conteúdo em 4 itens. A análise do comitê de especialistas indicou mudanças no título, instruções de resposta, uma opção da chave de resposta, e em oito itens, para atender aos critérios de equivalência. No pré-teste houve proporção significativamente maior de respostas habituais do instrumento quando comparadas com a opção não-aplicável, usada regularmente nas adaptações de instrumentos.

Conclusão

A adaptação transcultural para o português brasileiro do VENI foi bem sucedida e resultou na versão denominada “Experiências relacionadas a Voz de Pessoas Não Binárias - VENI-Br”.

Descritores:
Voz; Protocolos Clínicos; Autoavaliação; Qualidade de Vida; Identidade de Gênero; Fonoaudiologia

ABSTRACT

Purpose

This study aimed to translate and cross-culturally adapt the “Voice-related Experiences of Nonbinary Individuals” (VENI) to Brazilian Portuguese (BP).

Methods

Cross-cultural adaptation was performed based on the combined guidelines of the World Health Organization's (WHO) Translation Recommendations and the COnsensus-based Standards for the selection of health Measurement INstruments (COSMIN). The process included five stages: a) Translation of the instrument into BP by a translator specialized in the construct and a non-specialist, both native BP speakers and fluent in English; b) Synthesis of the two translations by consensus; c) Back-translation by a translator specialized in the construct and a non-specialist, both native English speakers and fluent in BP; d) Analysis by a committee of five speech-language pathologists voice specialist and the creation of the final version; e) Pre-testing with 21 individuals from the target population, conducted virtually.

Results

During the translation stage, there were disagreements regarding the title, instructions, response key, and 15 items. In the back-translation stage, there were discrepancies in the format of 12 items and the content of four items. The expert committee's analysis led to changes in the title, instructions, one option in the response key, and eight items to meet the equivalence criteria. In the pre-test, a significantly higher proportion of usual responses to the instrument was observed when compared to the non-applicable option; this is frequently observed in instrument adaptations.

Conclusion

The cross-cultural adaptation of VENI into Brazilian Portuguese was successful, resulting in the “Experiências relacionadas à Voz de Pessoas Não Binárias - VENI-Br” version.

Keywords:
Voice; Clinical Protocols; Self-Testing; Quality of Life; Gender Identity; Speech; Language and Hearing Sciences

INTRODUÇÃO

A qualidade vocal reflete aspectos da fonte do som (laringe) e dos filtros de ressonância (trato vocal), incluindo também: aspectos neuromusculares de produção e controle vocal; monitoramento auditivo; traços de personalidade; preferências pessoais e elementos culturais(11 Behlau M. The 2016 G. Paul Moore lecture: lessons in voice rehabilitation: Journal of Voice and Clinical Practice. J Voice. 2019;33(5):669-81. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2018.02.020. PMid:29567050.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2018.02....
). A voz tem um papel importante na representatividade do indivíduo como um ser único, com suas particularidades, além de ser central na socialização, identidade, experiências comunicativas e cultura; desta forma, é fundamental entender as necessidades e preferências vocais de cada pessoa(11 Behlau M. The 2016 G. Paul Moore lecture: lessons in voice rehabilitation: Journal of Voice and Clinical Practice. J Voice. 2019;33(5):669-81. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2018.02.020. PMid:29567050.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2018.02....
,22 Branski RC, Cukier-Blaj S, Pusic A, Cano SJ, Klassen A, Mener D, et al. Measuring quality of life in dysphonic patients: a systematic review of content development in patient-reported outcomes measures. J Voice. 2010;24(2):193-8. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2008.05.006. PMid:19185454.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2008.05....
).

Especificamente na população transgênero, a voz deve refletir a identidade de gênero, com grande influência nas questões sociais de inclusão, sobrevivência e qualidade de vida(33 Antoni C. Service delivery and the challenges of providing service to people who are transgender. Perspect Voice Voice Disord. 2015;25(2):59. http://doi.org/10.1044/vvd25.2.59.
http://doi.org/10.1044/vvd25.2.59...
). A identidade de gênero é um termo que indica o senso individual que uma pessoa possui de seu próprio gênero, uma vez que é experimentado em particular, na autoconsciência de estar dentro ou fora de um gênero; essa identidade pode ser masculina, feminina, não binária ou fluida(44 Matsuno E, Budge SL. Non-binary/genderqueer identities: a critical review of the literature. Curr Sex Health Rep. 2017;9(3):116-20. http://doi.org/10.1007/s11930-017-0111-8.
http://doi.org/10.1007/s11930-017-0111-8...
,55 Coleman E, Bockting W, Botzer M, Cohen-Kettenis P, DeCuypere G, Feldman J, et al. Standards of care for the health of transsexual, transgender, and gender-nonconforming people, version 7. Int J Transgenderism. 2012;13(4):165-232. http://doi.org/10.1080/15532739.2011.700873.
http://doi.org/10.1080/15532739.2011.700...
). Sexo e gênero são comumente apresentados como equivalentes, mas representam conceitos distintos. O sexo está relacionado a aspectos biológicos, como cromossomos, hormônios e órgãos reprodutivos, caracterizados como imutáveis e binários (masculino ou feminino). Convencionalmente, a identificação sexual baseia-se na configuração cromossômica XX para mulheres e XY para homens. Já o gênero incorpora traços e identidades que são construídos com base em normas sociais e culturais. Além disso, no conceito de gênero, a autoidentificação tem importância central. Todos esses aspectos permitem apreciar um espectro amplo que possibilita categorizações que excedem à proposta binária de sexo e gênero em masculino e feminino(44 Matsuno E, Budge SL. Non-binary/genderqueer identities: a critical review of the literature. Curr Sex Health Rep. 2017;9(3):116-20. http://doi.org/10.1007/s11930-017-0111-8.
http://doi.org/10.1007/s11930-017-0111-8...
).

Alguns indivíduos se identificam exclusivamente com um gênero binário atribuído ao seu nascimento e que está associado à sua genitália ao nascer; na concepção binária, é referida como homem ou mulher cisgênero. Quando não há identificação com o gênero que lhes foi associado ao nascimento, as pessoas são nomeadas homem ou mulher transgênero. Contudo, a classificação binária é apenas uma possibilidade e há um terceiro grupo de pessoas que a considera rígida e compartimentalizada, que se identifica de forma fluida com um dos gêneros binários, ambos ou nenhum. Pessoas não binárias representam uma demanda crescente da clínica fonoaudiológica(44 Matsuno E, Budge SL. Non-binary/genderqueer identities: a critical review of the literature. Curr Sex Health Rep. 2017;9(3):116-20. http://doi.org/10.1007/s11930-017-0111-8.
http://doi.org/10.1007/s11930-017-0111-8...

5 Coleman E, Bockting W, Botzer M, Cohen-Kettenis P, DeCuypere G, Feldman J, et al. Standards of care for the health of transsexual, transgender, and gender-nonconforming people, version 7. Int J Transgenderism. 2012;13(4):165-232. http://doi.org/10.1080/15532739.2011.700873.
http://doi.org/10.1080/15532739.2011.700...
-66 Shefcik G, Tsai PT. Voice-related Experiences of Nonbinary Individuals (VENI) development and content validity. J Voice. 2023;37(2):294.e5-13. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12.037. PMid:33518474.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12....
).

A importância da voz e da comunicação como identidade de gênero para pessoas de gêneros diversos justifica o crescimento da busca pela intervenção fonoaudiológica para afirmação de gênero por meio da comunicação, com foco especial sobre a voz. Diversos ajustes podem ser explorados no trabalho com essa população, como qualidade vocal neutra, variação da frequência fundamental, mudanças na ressonância, classificação, e aspectos relacionados à comunicação não verbal(77 Davies S, Papp VG, Antoni C. Voice and communication change for gender nonconforming individuals: giving voice to the person inside. Int J Transgenderism. 2015;16(3):117-59. http://doi.org/10.1080/15532739.2015.1075931.
http://doi.org/10.1080/15532739.2015.107...
).

As pessoas não binárias têm demandas comunicativas e vocais específicas, diferentes dos binários, o que merece estudo para melhor compreensão dessa realidade, tendo em vista um trabalho fonoaudiológico adequado. Essas pessoas podem buscar vozes femininas, masculinas, neutras ou expansivas em termos de gênero(66 Shefcik G, Tsai PT. Voice-related Experiences of Nonbinary Individuals (VENI) development and content validity. J Voice. 2023;37(2):294.e5-13. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12.037. PMid:33518474.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12....
,88 Quinn S, Oates J, Dacakis G. The experiences of trans and gender diverse clients in an Intensive Voice Training Program: a mixed-methodological study. J Voice. 2023;37(2):292.e15-33. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12.033. PMid:33546939.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12....
). A autopercepção das características vocais é subjetiva, baseada em comparações, envolvendo aspectos emocionais, de personalidade e experiências. A autoavaliação vocal tem grande valor clínico, pois capta a percepção do cliente em relação a sua voz e auxilia no direcionamento do trabalho fonoaudiológico(11 Behlau M. The 2016 G. Paul Moore lecture: lessons in voice rehabilitation: Journal of Voice and Clinical Practice. J Voice. 2019;33(5):669-81. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2018.02.020. PMid:29567050.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2018.02....
,22 Branski RC, Cukier-Blaj S, Pusic A, Cano SJ, Klassen A, Mener D, et al. Measuring quality of life in dysphonic patients: a systematic review of content development in patient-reported outcomes measures. J Voice. 2010;24(2):193-8. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2008.05.006. PMid:19185454.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2008.05....
).

Para compreender melhor as experiências comunicativas e a autoavaliação vocal das pessoas não binárias são necessários instrumentos específicos de avaliação(99 WHO: World Health Organization. Process of translation and adaptation of instruments. Geneva: WHO; 2016.,1010 Mokkink LB, Terwee CB, Patrick DL, Alonso J, Stratford PW, Knol DL, et al. The COSMIN study reached international consensus on taxonomy, terminology, and definitions of measurement properties for health-related patient-reported outcomes. J Clin Epidemiol. 2010;63(7):737-45. http://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2010.02.006. PMid:20494804.
http://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2010.0...
). Atualmente, o único instrumento validado que é específico para essa população é o Voice-related Experiences of Nonbinary Individuals (VENI). O VENI avalia as experiências relacionadas a voz deste grupo e contribui para o desenvolvimento de serviços de comunicação centrados no cliente e que afirmam o gênero. É composto por 17 itens que buscam, com as pontuações quantitativas, traçar estratégias, acompanhar o progresso e documentar as mudanças na autopercepção vocal(66 Shefcik G, Tsai PT. Voice-related Experiences of Nonbinary Individuals (VENI) development and content validity. J Voice. 2023;37(2):294.e5-13. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12.037. PMid:33518474.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12....
). Esse é o único instrumento especificamente desenvolvido para essa população, elaborado e validado em inglês. Dessa forma, faz-se necessário realizar a adaptação transcultural e validação para que possa ser utilizado em outro idioma e cultura.

A adaptação transcultural é a etapa inicial do processo de validação de um instrumento e tem como objetivo fazer com que o conteúdo e propósito dos itens originais correspondam ao contexto linguístico e cultural abordados(99 WHO: World Health Organization. Process of translation and adaptation of instruments. Geneva: WHO; 2016.

10 Mokkink LB, Terwee CB, Patrick DL, Alonso J, Stratford PW, Knol DL, et al. The COSMIN study reached international consensus on taxonomy, terminology, and definitions of measurement properties for health-related patient-reported outcomes. J Clin Epidemiol. 2010;63(7):737-45. http://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2010.02.006. PMid:20494804.
http://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2010.0...

11 Aaronson N, Alonso J, Burnam A, Lohr KN, Patrick DL, Perrin E, et al. Assessing health status and quality-of-life instruments: attributes and review criteria. Qual Life Res. 2002;11(3):193-205. http://doi.org/10.1023/A:1015291021312. PMid:12074258.
http://doi.org/10.1023/A:1015291021312...
-1212 Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine. 2000;25(24):3186-91. http://doi.org/10.1097/00007632-200012150-00014. PMid:11124735.
http://doi.org/10.1097/00007632-20001215...
). A adaptação transcultural do VENI para o português brasileiro contribuirá para o acolhimento das preocupações, experiências, percepções e voz alvo de pessoas não binárias no país, que procuram a clínica vocal, além de facilitar o planejamento da intervenção fonoaudiológica e a obtenção de melhores resultados por essa população(66 Shefcik G, Tsai PT. Voice-related Experiences of Nonbinary Individuals (VENI) development and content validity. J Voice. 2023;37(2):294.e5-13. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12.037. PMid:33518474.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12....
,88 Quinn S, Oates J, Dacakis G. The experiences of trans and gender diverse clients in an Intensive Voice Training Program: a mixed-methodological study. J Voice. 2023;37(2):292.e15-33. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12.033. PMid:33546939.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12....
).

Sendo assim, o objetivo desse estudo foi realizar a adaptação transcultural do VENI para o português brasileiro.

MÉTODO

Trata-se de um estudo de delineamento transversal e natureza metodológica, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Brasília (parecer 5.845.012). A pesquisa seguiu às orientações éticas estabelecidas pela Resolução nº 466/2012 e demais normativas legais em vigor no Brasil. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

O VENI foi desenvolvido na língua inglesa. Ele é composto por 17 itens que se dividem entre três fatores: sete itens associados às questões físicas (itens 1 a 7), oito itens associados às questões funcionais (itens 8,9,10,11,12,14,15 e 16) e dois itens associados às emocionais (itens 13 e 17). Cada item oferece uma chave de resposta com quatro opções: 1 = never or rarely; 2 = sometimes; 3 = often e 4 = usually or always. Os itens em seus respectivos fatores são pontuados por somatório simples(66 Shefcik G, Tsai PT. Voice-related Experiences of Nonbinary Individuals (VENI) development and content validity. J Voice. 2023;37(2):294.e5-13. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12.037. PMid:33518474.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12....
).

O processo de adaptação transcultural do VENI para o português brasileiro foi embasado na combinação das recomendações e diretrizes da World Health Organization (WHO) Guidelines on Translation (99 WHO: World Health Organization. Process of translation and adaptation of instruments. Geneva: WHO; 2016.) com o COnsensus-based Standards for the selection of health Measurement INstruments (COSMIN)(1010 Mokkink LB, Terwee CB, Patrick DL, Alonso J, Stratford PW, Knol DL, et al. The COSMIN study reached international consensus on taxonomy, terminology, and definitions of measurement properties for health-related patient-reported outcomes. J Clin Epidemiol. 2010;63(7):737-45. http://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2010.02.006. PMid:20494804.
http://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2010.0...
).

Para compor o grupo de juízes (tradução, retrotradução e comitê de especialistas) e de participantes do pré-teste foram seguidas as recomendações de quantitativo e qualificação recomendados pelo COSMIN(1010 Mokkink LB, Terwee CB, Patrick DL, Alonso J, Stratford PW, Knol DL, et al. The COSMIN study reached international consensus on taxonomy, terminology, and definitions of measurement properties for health-related patient-reported outcomes. J Clin Epidemiol. 2010;63(7):737-45. http://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2010.02.006. PMid:20494804.
http://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2010.0...
). Todas as etapas foram realizadas de forma virtual.

O teste foi traduzido de forma individual por dois juízes, sendo um fonoaudiólogo especialista no construto e um não-especialista, nativos no idioma alvo (PB) e fluentes no idioma e cultura fonte (inglês). O processo considerou a equivalência conceitual e evitou a tradução literal. Os juízes traduziram independentemente o título, as instruções, a chave de resposta e os itens.

Os autores elaboraram uma versão de síntese por consenso das duas traduções para o título, instruções, chave de resposta e itens, e resolveram as discordâncias entre os juízes.

Essa versão em PB foi retrotraduzida para o inglês por dois juízes, sendo um fonoaudiólogo especialista no construto e um não-especialista, fluentes no idioma e cultura alvo (português) e nativos do idioma fonte (inglês).

Um comitê formado por cinco fonoaudiólogos (tradutores, autores e especialistas) realizou a análise da versão final, por consenso, em uma reunião. O grupo comparou a retrotradução ao instrumento original e verificou a necessidade de mudanças para alcançar as seguintes equivalências:

  1. Equivalência semântica: observaram se as palavras da versão final tinham o mesmo significado da versão original;

  2. Equivalência conceitual: identificaram se havia palavras ou expressões que possuíam significado conceitual diferente entre as culturas, e substituíram tal palavra ou expressão;

  3. Equivalência idiomática: observaram se havia necessidade de reformular alguma expressão equivalente na língua-alvo quando havia expressões idiomáticas coloquiais difíceis de traduzir;

  4. Equivalência experiencial: observaram se havia necessidade de substituir algum item original por um item semelhante que existisse na cultura-alvo;

  5. Equivalência cultural: realizaram ajustes ortográficos ou gramaticais nos itens;

  6. Equivalência operacional: observaram se havia necessidade de modificar os procedimentos inerentes à aplicação do instrumento.

Todas as etapas foram documentadas em uma tabela geral que foi alimentada conforme eram concluídas.

A versão final do instrumento foi submetida ao pré-teste, que consiste em uma aplicação da versão transculturalmente adaptada do instrumento junto a população-alvo. Nessa fase foi acrescida a opção de resposta não aplicável (N/A) à chave de resposta do instrumento. Os participantes foram orientados a marcar esta opção caso o item não pudesse ser compreendido ou não se aplicasse na cultura-alvo. Caso algum item apresentasse problemas, seria revisado.

Os critérios de elegibilidade para participar do pré-teste foram: pessoas que se identificassem como não binárias, com idade entre 18 anos e 65 anos. Foram excluídas pessoas que autorreferissem problemas cognitivos que dificultassem a compreensão do instrumento.

O cálculo do tamanho da amostra foi realizado por meio do teste estatístico de intervalo de uma proporção. Os parâmetros adotados para o teste foram probabilidade de erro tipo I (α) de 5%, probabilidade de erro tipo II (β) de 10% e poder do teste (K) de 90%. Para o cálculo foi utilizada a estimativa de 1,19% de pessoas não binárias no Brasil(1313 Spizzirri G, Eufrásio R, Lima MCP, Carvalho Nunes HR, Kreukels BPC, Steensma TD, et al. Proportion of people identified as transgender and non-binary gender in Brazil. Sci Rep. 2021;11(1):2240. http://doi.org/10.1038/s41598-021-81411-4. PMid:33500432.
http://doi.org/10.1038/s41598-021-81411-...
). O tamanho da amostra calculado foi de 19 participantes. Utilizou-se o software Statistica versão 11.0. Dessa forma, foram selecionados para participar do pré-teste 21 pessoas não binárias, com média de idade de 30,71 anos (DP: 8,66).

Os participantes foram recrutados de maneira virtual, nas redes sociais e digitais, por meio da veiculação de um folder com um link de acesso para a pesquisa, ao clicar no link os participantes eram encaminhados para a plataforma Google Forms. Aqueles que atenderam aos critérios de elegibilidade e concordaram com o TCLE tiveram acesso aos instrumentos de coleta de dados, que se referiram a um questionário sobre dados de identificação dos participantes e ao VENI.

Os dados do pré-teste foram analisados com o software SPSS 25.0 por meio do Teste Qui-Quadrado para uma amostra. Foi comparada a proporção de respostas não-aplicável e a proporção de respostas habituais da chave de resposta do instrumento (1, 2, 3 ou 4) para cada item com o Teste Binomial.

RESULTADOS

Na etapa inicial da tradução, houve discordância na forma do título, instruções e chave de resposta (opções 2 e 4) entre os dois tradutores. Nos itens, houve discordância na forma de 14 itens, sendo estes 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 12, 14, 15, 16 e 17, porém, apenas no item 9 houve discordância quanto ao conteúdo.

Para a síntese das versões traduzidas, a chave de resposta e quatro itens (4, 9, 13 e 15) foram mantidos de acordo com pelo menos uma das traduções realizadas. Título, instruções e os 13 itens restantes foram modificados na forma apresentada. Inclui-se o pronome “eu” nos itens em que o início das frases exigia um pronome pessoal, devido à estrutura da frase estar na primeira pessoa do singular. O item 9 foi redefinido por consenso.

Na retrotradução, houve discordância entre os dois tradutores quanto à forma para o título, instruções, opções 3 e 4 da chave de resposta e para 12 itens (3, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 16 e 17). Os itens 6, 7, 12 e 17 indicaram discordância no conteúdo.

O comitê de especialistas realizou ajustes no título e nas instruções de resposta, alterando o substantivo “indivíduo” para “pessoa”. A única opção da chave de resposta alterada foi a 4. Mantiveram-se nove itens de acordo com a versão de síntese, e oito (3, 4, 6, 7, 9, 10, 12, 16) foram ajustados para atender aos critérios de equivalência. Após concluir a etapa com base nas alterações e ajustes do comitê, estabelece-se a versão transculturalmente adaptada do VENI (Apêndice A Apêndice A Versão final, transculturalmente adaptada do Voice-related Experiences of Nonbinary Individuals – VENI Experiências relacionadas a Voz de Pessoas Não Binárias - VENI-Br Chave de resposta: 1 = nunca ou quase nunca 2 = as vezes 3 = frequentemente 4 = quase sempre ou sempre Para cada uma das afirmações a seguir, marque a resposta que melhor representa a sua experiência como uma pessoa não binária 1. A qualidade da minha voz varia durante o dia. 1 2 3 4 2. É difícil controlar o tom (fino ou grosso) da minha voz. 1 2 3 4 3. Algumas emoções mudam o tom (fino ou grosso) da minha voz sem o meu controle. 1 2 3 4 4. Minha voz muda do nada em algumas situações. 1 2 3 4 5. O tom (fino ou grosso) da minha voz fica pior ao final do dia. 1 2 3 4 6. Eu sinto tensão para fazer com que minha voz fique do jeito que eu quero. 1 2 3 4 7. Eu faço esforço e preciso prestar atenção para a minha voz ficar como eu quero. 1 2 3 4 8. Eu falo em público menos do que eu gostaria por causa da minha voz. 1 2 3 4 9. Eu acho que não me identificam como uma pessoa não binária por causa da minha voz. 1 2 3 4 10. Eu falo menos do que eu gostaria com pessoas próximas por causa da minha voz. 1 2 3 4 11. Eu acho que as pessoas reagem negativamente a minha voz. 1 2 3 4 12. Minha voz me atrapalha para eu viver como eu sou. 1 2 3 4 13. Eu não gosto do som da minha voz. 1 2 3 4 14. Eu sinto que os outros não me levam tão a sério por causa da minha voz. 1 2 3 4 15. Eu sinto que os outros pensam mal de mim por causa da minha voz. 1 2 3 4 16. Eu me sinto desconfortável ao telefone porque podem me confundir. 1 2 3 4 17. Eu me preocupo como as pessoas estranhas percebem a minha voz. 1 2 3 4 Itens Físicos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 Itens Funcionais: 8, 9, 10, 11, 12, 14, 15, 16 Itens Emocionais: 13, 17 ). Todos os dados descritos ao longo das etapas podem ser observados no Quadro 1.

Quadro 1
Processo de adaptação transcultural do VENI para o português brasileiro

A proporção de participantes que responderam não aplicável aos itens 5, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15 e 16 foi significativamente menor que a proporção de participantes que respondem a uma das quatro opções habituais da chave de resposta do instrumento. Para os itens 1, 2, 3, 4, 6, 7 e 17, nenhum participante respondeu não aplicável. A Tabela 1 contempla a análise da comparação de proporção das respostas.

Tabela 1
Análise da comparação de proporção de respostas não-aplicáveis e de respostas da chave de resposta do VENI para cada item do instrumento por pessoas não binárias

DISCUSSÃO

Pessoas não binárias têm um lugar cada vez mais frequente na fonoaudiologia, buscando uma voz que reflita sua identidade de gênero. Deve-se desenvolver ações fonoaudiológicas específicas para essa população. Trabalhar afirmação de gênero, pode melhorar autoconfiança, resiliência, conexões sociais e conexões laborais(55 Coleman E, Bockting W, Botzer M, Cohen-Kettenis P, DeCuypere G, Feldman J, et al. Standards of care for the health of transsexual, transgender, and gender-nonconforming people, version 7. Int J Transgenderism. 2012;13(4):165-232. http://doi.org/10.1080/15532739.2011.700873.
http://doi.org/10.1080/15532739.2011.700...
), tornando o trabalho fonoaudiológico importante para a qualidade de vida dessas pessoas. Porém, trata-se de uma população com demandas de voz e comunicação específicas(66 Shefcik G, Tsai PT. Voice-related Experiences of Nonbinary Individuals (VENI) development and content validity. J Voice. 2023;37(2):294.e5-13. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12.037. PMid:33518474.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12....
). Logo, faz-se necessário que o atendimento fonoaudiológico possua instrumentos particulares que permitam compreender a percepção dessas pessoas quanto as experiências comunicativas e vocais, e assim, aprimorar o direcionamento do atendimento(11 Behlau M. The 2016 G. Paul Moore lecture: lessons in voice rehabilitation: Journal of Voice and Clinical Practice. J Voice. 2019;33(5):669-81. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2018.02.020. PMid:29567050.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2018.02....
,22 Branski RC, Cukier-Blaj S, Pusic A, Cano SJ, Klassen A, Mener D, et al. Measuring quality of life in dysphonic patients: a systematic review of content development in patient-reported outcomes measures. J Voice. 2010;24(2):193-8. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2008.05.006. PMid:19185454.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2008.05....
). Diante disso, torna-se importante adaptar transculturalmente para o PB o VENI.

As discordâncias na forma e conteúdo dos itens, chave de resposta, instruções e título, encontradas durante o processo de tradução, retrotradução e a revisão do comitê de especialistas no VENI, reforçam o quão importante é seguir etapas bem estruturadas no processo de adaptação transcultural de um instrumento. Esses dados reforçam que uma tradução literal não contempla aspectos culturais e não é recomendada(1414 Alexandre NMCCM, Coluci MZ. Validade de conteúdo nos processos de construção e adaptação de instrumentos de medidas. Cien Saude Colet. 2011;16(7):3061-8. http://doi.org/10.1590/S1413-81232011000800006. PMid:21808894.
http://doi.org/10.1590/S1413-81232011000...
).

A equivalência semântica indicou ajustes para que os itens 9, 12 e 16 em PB tivessem o mesmo significado da versão original. Para a equivalência cultural, foram realizadas adaptações gramaticais nos itens 3, 4, 6, 7, 9 e 16 contextualizando à cultura brasileira(1515 Dortas SD Jr, Lupi O, Dias GAC, Guimarães MBS, Valle SOR. Adaptação transcultural e validação de questionários na área da saúde. Braz J Allergy Immunol. 2016;4(1):26-30.). Para obter equivalência conceitual, optou-se pela troca do termo “indivíduos não binários” para “pessoas não binárias”, pois no português brasileiro, “indivíduo” é um substantivo masculino singular que frequentemente se concentra na singularidade e individualidade de uma pessoa, enquanto o termo “pessoa” é um substantivo comum que varia gênero e enfatiza o pertencimento a um grupo maior(1212 Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine. 2000;25(24):3186-91. http://doi.org/10.1097/00007632-200012150-00014. PMid:11124735.
http://doi.org/10.1097/00007632-20001215...
). Não houve necessidade de ajustes no instrumento para obtenção das equivalências conceitual, experiencial e operacional.

Na etapa do pré-teste, a proporção significativamente maior da chave de resposta habitual mostrou que todos os itens foram compreendidos e se aplicam às experiências vocais das pessoas não binárias. Apenas três itens (9, 10 e 11) apresentaram proporção de não-aplicável acima de 10%, porém mantendo-se estatisticamente significativos(1616 Reichenheim ME, Moraes CL, São R, Xavier F. Operationalizing the cross-cultural adaptation of epidemological measurement instruments. Rev Saude Publica. 2007;41(4):665-73. http://doi.org/10.1590/S0034-89102006005000035. PMid:17589768.
http://doi.org/10.1590/S0034-89102006005...
).

Esses itens sofrem ajustes em consenso, em quase todas as etapas pelo fato de a tradução apresentada não ser totalmente equivalente ao original em inglês. Os itens 9 (“Eu acho que não me identificam como uma pessoa não binária por causa da minha voz”) e 11 (“Eu acho que as pessoas reagem negativamente a minha voz”) tratam-se da opinião da pessoa não binária sobre o que ela acha da opinião e reação dos outros com ela. Já o item 10 (“Eu falo menos do que eu gostaria com pessoas próximas por causa da minha voz”) reflete algo subjetivo, visto que depende do perfil comunicativo e não somente do gênero. Os três itens referem experiências subjetivas, que não necessariamente são vivenciadas ou observadas por todas as pessoas não binárias, o que pode ter levado ao preenchimento da opção não-aplicável. Apesar disso, considerou-se que a versão adaptada para a cultura brasileira transmite a ideia geral do conteúdo do instrumento.

Dessa forma, todos foram considerados compreensíveis para a população de pessoas não binárias e traduziram possíveis experiências relacionadas à voz. Não foi necessária a realização de novos ajustes após a aplicação da versão transculturalmente adaptada na população-alvo. A adaptação transcultural realizada neste estudo foi bem sucedida e tornou o VENI aplicável e de fácil compreensão em PB. Trata-se do início do aprimoramento dos instrumentos voltados aos serviços clínicos e de pesquisa com foco na voz e comunicação das pessoas não binárias do Brasil. O instrumento deverá ser submetido à validação para confirmação da estrutura, da validade e da confiabilidade em PB.

CONCLUSÃO

O VENI foi adaptado transculturalmente para o português brasileiro, resultando na versão denominada Experiências relacionadas a Voz de Pessoas Não Binárias - VENI-Br. Pelas respostas obtidas no pré-teste, considera-se a adaptação transcultural do VENI bem-sucedida.

Apêndice A Versão final, transculturalmente adaptada do Voice-related Experiences of Nonbinary Individuals – VENI

Experiências relacionadas a Voz de Pessoas Não Binárias - VENI-Br

Chave de resposta:

1 = nunca ou quase nunca

2 = as vezes

3 = frequentemente

4 = quase sempre ou sempre

Para cada uma das afirmações a seguir, marque a resposta que melhor representa a sua experiência como uma pessoa não binária
1. A qualidade da minha voz varia durante o dia. 1 2 3 4
2. É difícil controlar o tom (fino ou grosso) da minha voz. 1 2 3 4
3. Algumas emoções mudam o tom (fino ou grosso) da minha voz sem o meu controle. 1 2 3 4
4. Minha voz muda do nada em algumas situações. 1 2 3 4
5. O tom (fino ou grosso) da minha voz fica pior ao final do dia. 1 2 3 4
6. Eu sinto tensão para fazer com que minha voz fique do jeito que eu quero. 1 2 3 4
7. Eu faço esforço e preciso prestar atenção para a minha voz ficar como eu quero. 1 2 3 4
8. Eu falo em público menos do que eu gostaria por causa da minha voz. 1 2 3 4
9. Eu acho que não me identificam como uma pessoa não binária por causa da minha voz. 1 2 3 4
10. Eu falo menos do que eu gostaria com pessoas próximas por causa da minha voz. 1 2 3 4
11. Eu acho que as pessoas reagem negativamente a minha voz. 1 2 3 4
12. Minha voz me atrapalha para eu viver como eu sou. 1 2 3 4
13. Eu não gosto do som da minha voz. 1 2 3 4
14. Eu sinto que os outros não me levam tão a sério por causa da minha voz. 1 2 3 4
15. Eu sinto que os outros pensam mal de mim por causa da minha voz. 1 2 3 4
16. Eu me sinto desconfortável ao telefone porque podem me confundir. 1 2 3 4
17. Eu me preocupo como as pessoas estranhas percebem a minha voz. 1 2 3 4
  • Itens Físicos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7
  • Itens Funcionais: 8, 9, 10, 11, 12, 14, 15, 16
  • Itens Emocionais: 13, 17
  • AGRADECIMENTOS

    Nada a declarar.

    • Trabalho realizado no Programa Associado de Pós-graduação em Fonoaudiologia, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas - João Pessoa (PB), Brasil.
    • Fonte de financiamento: FAPESQ (22210.12.573.5011.1998).

    REFERÊNCIAS

    • 1
      Behlau M. The 2016 G. Paul Moore lecture: lessons in voice rehabilitation: Journal of Voice and Clinical Practice. J Voice. 2019;33(5):669-81. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2018.02.020 PMid:29567050.
      » http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2018.02.020
    • 2
      Branski RC, Cukier-Blaj S, Pusic A, Cano SJ, Klassen A, Mener D, et al. Measuring quality of life in dysphonic patients: a systematic review of content development in patient-reported outcomes measures. J Voice. 2010;24(2):193-8. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2008.05.006 PMid:19185454.
      » http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2008.05.006
    • 3
      Antoni C. Service delivery and the challenges of providing service to people who are transgender. Perspect Voice Voice Disord. 2015;25(2):59. http://doi.org/10.1044/vvd25.2.59
      » http://doi.org/10.1044/vvd25.2.59
    • 4
      Matsuno E, Budge SL. Non-binary/genderqueer identities: a critical review of the literature. Curr Sex Health Rep. 2017;9(3):116-20. http://doi.org/10.1007/s11930-017-0111-8
      » http://doi.org/10.1007/s11930-017-0111-8
    • 5
      Coleman E, Bockting W, Botzer M, Cohen-Kettenis P, DeCuypere G, Feldman J, et al. Standards of care for the health of transsexual, transgender, and gender-nonconforming people, version 7. Int J Transgenderism. 2012;13(4):165-232. http://doi.org/10.1080/15532739.2011.700873
      » http://doi.org/10.1080/15532739.2011.700873
    • 6
      Shefcik G, Tsai PT. Voice-related Experiences of Nonbinary Individuals (VENI) development and content validity. J Voice. 2023;37(2):294.e5-13. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12.037 PMid:33518474.
      » http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12.037
    • 7
      Davies S, Papp VG, Antoni C. Voice and communication change for gender nonconforming individuals: giving voice to the person inside. Int J Transgenderism. 2015;16(3):117-59. http://doi.org/10.1080/15532739.2015.1075931
      » http://doi.org/10.1080/15532739.2015.1075931
    • 8
      Quinn S, Oates J, Dacakis G. The experiences of trans and gender diverse clients in an Intensive Voice Training Program: a mixed-methodological study. J Voice. 2023;37(2):292.e15-33. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12.033 PMid:33546939.
      » http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12.033
    • 9
      WHO: World Health Organization. Process of translation and adaptation of instruments. Geneva: WHO; 2016.
    • 10
      Mokkink LB, Terwee CB, Patrick DL, Alonso J, Stratford PW, Knol DL, et al. The COSMIN study reached international consensus on taxonomy, terminology, and definitions of measurement properties for health-related patient-reported outcomes. J Clin Epidemiol. 2010;63(7):737-45. http://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2010.02.006 PMid:20494804.
      » http://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2010.02.006
    • 11
      Aaronson N, Alonso J, Burnam A, Lohr KN, Patrick DL, Perrin E, et al. Assessing health status and quality-of-life instruments: attributes and review criteria. Qual Life Res. 2002;11(3):193-205. http://doi.org/10.1023/A:1015291021312 PMid:12074258.
      » http://doi.org/10.1023/A:1015291021312
    • 12
      Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine. 2000;25(24):3186-91. http://doi.org/10.1097/00007632-200012150-00014 PMid:11124735.
      » http://doi.org/10.1097/00007632-200012150-00014
    • 13
      Spizzirri G, Eufrásio R, Lima MCP, Carvalho Nunes HR, Kreukels BPC, Steensma TD, et al. Proportion of people identified as transgender and non-binary gender in Brazil. Sci Rep. 2021;11(1):2240. http://doi.org/10.1038/s41598-021-81411-4 PMid:33500432.
      » http://doi.org/10.1038/s41598-021-81411-4
    • 14
      Alexandre NMCCM, Coluci MZ. Validade de conteúdo nos processos de construção e adaptação de instrumentos de medidas. Cien Saude Colet. 2011;16(7):3061-8. http://doi.org/10.1590/S1413-81232011000800006 PMid:21808894.
      » http://doi.org/10.1590/S1413-81232011000800006
    • 15
      Dortas SD Jr, Lupi O, Dias GAC, Guimarães MBS, Valle SOR. Adaptação transcultural e validação de questionários na área da saúde. Braz J Allergy Immunol. 2016;4(1):26-30.
    • 16
      Reichenheim ME, Moraes CL, São R, Xavier F. Operationalizing the cross-cultural adaptation of epidemological measurement instruments. Rev Saude Publica. 2007;41(4):665-73. http://doi.org/10.1590/S0034-89102006005000035 PMid:17589768.
      » http://doi.org/10.1590/S0034-89102006005000035

    Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Maio 2024
    • Data do Fascículo
      2024

    Histórico

    • Recebido
      18 Jul 2023
    • Aceito
      25 Out 2023
    Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia Al. Jaú, 684, 7º andar, 01420-002 São Paulo - SP Brasil, Tel./Fax 55 11 - 3873-4211 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revista@codas.org.br